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A Imanência Como Lugar de Ensino de Filosofia - Rodrigo Pelloso PDF
A Imanência Como Lugar de Ensino de Filosofia - Rodrigo Pelloso PDF
Resumo
Palavras-chave
Correspondência:
Rodrigo Pelloso Gelamo
Rua Augusto Gente, 532 ap.33
17519-340 – Marilia – SP
e-mail: gelamo@gmail.com
*
Financiado pela FAPESP.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34, n.1, p. 127-137, jan./abr. 2008 127
Immanence as the “place” of the teaching of
philosophy*
Abstract
Keywords
Contact:
Rodrigo Pelloso Gelamo
Rua Augusto Gente, 532 ap.33
17519-340 – Marilia – SP
e-mail: gelamo@gmail.com
*
Sponsored by FAPESP.
128 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.34, n.1, p. 127-137, jan./abr. 2008
Considerações iniciais ceitos e o plano de imanência são correlatos,
co-existentes e co-insistentes porque são cons-
No presente artigo, partiu-se de uma truídos simultaneamente. Essa é uma caracterís-
hipótese de trabalho: a de que Deleuze e tica do fazer filosófico deleuzo-guattariano que
Guattari (1997) podem contribuir para pensar o precisa ser destacada: o construtivismo. Para
ensino de filosofia. Essa hipótese fundamenta- eles, não basta ao filósofo ser reflexivo ou co-
se no modo como os referidos autores fazem municativo. Segundo Deleuze (1992), “de fato
sua filosofia, ou seja, no modo como eles cri- o que importa é retirar do filósofo o direito à
aram vários conceitos que mudam o modo de reflexão ‘sobre’. O filósofo é criador, ele não é
olhar o mundo, melhor dizendo, de experimen- reflexivo” (p. 152). Desse modo, o filósofo pre-
tar o mundo, de fazer um recorte no mundo cisa se tornar o construtor-criador.
para entendê-lo. Existem, na obra deleuzo- Para Deleuze e Guattari (1997), “a filoso-
guattariana, vários conceitos que poderiam fia é um construtivismo, e o construtivismo tem
contribuir para se pensar o ensino de filosofia. dois aspectos complementares, que se diferem
Desses vários conceitos, foram escolhidos qua- em natureza: criar conceitos e traçar um plano”
tro que são apresentados, de forma mais pre- (p. 51). Assim, não bastaria ao filósofo criar con-
cisa, na obra O que é a filosofia?: plano de ceitos, mas também caberia a ele traçar o plano
imanência, conceito, personagem conceitual e de imanência no qual o conceito será criado.
problema. Elementos que, segundo Deleuze e Desse modo, o filósofo é o construtor-criador. A
Guattari, constituem o filosofar, ou seja, concei- ele não seria mais dado o ato de simplesmente
tos que se inter-relacionam e dão consistência contemplar a realidade para encontrar um con-
ao fazer filosófico. ceito que a expressasse, mas experimentá-la e
Para Deleuze e Guattari (1997), fazer expressá-la como e pela criação.
filosofia é criar conceitos. Talvez essa seja a A partir o exposto, poder-se-ia chegar à
frase mais repetida de suas obras. No entanto, conclusão de que ser filósofo é ser criador, e
vale ressaltar que criar conceitos não é uma filosofar é criar, traçar planos e criar conceitos?
atitude que é encontrada somente neles, mas A resposta a essa pergunta seria um tanto
como eles mesmos afirmam, toda a filosofia quanto paradoxal, já que seria sim e não. Como
tem essa função. A diferença que trazem esses poderá ser notado a seguir, o filósofo precisa
autores é o lugar de partida para que os con- traçar planos para criar conceitos. Não se pode
ceitos sejam criados. Para eles, a criação de con- fazer filosofia sem essas prerrogativas, porém a
ceitos não poderia estar fundada em um lugar de tarefa do filósofo não se limita a isso. Existem
transcendência, mas sim se dar em uma imanência, outras dimensões que o filosofar requisita no
melhor dizendo, em um plano traçado pelo filósofo ato de criação e como ato de criação. Esse outro
na imanência. Desse modo, o conceito não seria aspecto, ao qual se dá destaque, é a criação do
algo que vem de fora da imanência ou que poderia personagem conceitual. Para Deleuze e Guattari
ser aplicado à imanência, mas que pertence a ela. (1997), os personagens conceituais são os res-
Assim, uma vez criado o conceito no plano de ponsáveis por fazer os conceitos funcionarem.
imanência, o conceito e o plano, no qual ele foi Isso porque os conceitos “[...] têm necessidade
criado, não se separariam. Não se teria nenhuma de personagens conceituais que contribuam
hierarquia entre eles nem mesmo poder-se-ia se- para sua definição” (p. 10). Assim, o filosofar
parar um do outro. exige um outro ato de criação que é criar per-
Conceito e plano estão imbricados, por- sonagens conceituais que farão o conceito fun-
que o conceito só funciona no plano em que cionar no plano. Desse modo, o personagem
foi criado, e o plano é que dá condições para conceitual é o responsável por dar mobilidade
que o conceito funcione. Desse modo, os con- ao conceito no plano de imanência.
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Personagens conceituais te questão: por que o personagem conceitual
cria conceitos? Qual a necessidade dessa criação
Existem inúmeros personagens con- de conceitos? Seria essa uma destinação?
ceituais na história da filosofia. Deleuze e Poder-se-ia buscar em uma frase de
Guattari (1997) enumeram vários deles: o idi- Deleuze (1992) uma possível resposta a isso: “É
ota, Sócrates, Zaratustra, dentre outros. Um des- filósofo quem se torna filósofo, isto é, quem se
ses personagens conceituais, que é singular- interessa por essas criações muito especiais na
mente importante e que se faz necessário de- ordem dos conceitos” (p. 39). No entanto, para
senvolver aqui, é o amigo. Este é o personagem que seja possível compreender o fragmento
conceitual por excelência para o filosofar. Para acima, é preciso retornar ao que eles entendem
Deleuze e Guattari (1997), “amigo designaria por amigo. O filósofo, como já foi dito, é o
uma certa intimidade competente, uma espécie amigo do conceito, aquele que deseja o con-
de gosto material e uma potencialidade, como ceito e que aspira ao conceito. Vale lembrar,
aquela do marceneiro pela madeira [...]” (p. 11). também, que o amigo não é alguém que está
E complementa: fora do plano, mas que está intrínseco ao pla-
no. A aspiração, ou o desejo de criação, não é um
[...] o amigo não designa mais um persona- dado que vem de fora do plano de imanência,
gem extrínseco, um exemplo ou uma cir- mas é imanente ao plano. Assim, o criador de con-
cunstância empírica, mas uma presença in- ceitos tem de ser íntimo do plano para poder
trínseca ao pensamento, uma categoria expressá-lo, para querer expressá-lo e, assim, para
viva, um vivido transcendental. (p. 11) ser problematizado pela imanência e, como res-
posta às problematizações, criar conceitos. Des-
O personagem conceitual não tem a fun- se modo, o plano de imanência problematiza o
ção de servir de exemplo, isto é, não exemplifica amigo do conceito, ataca o pensamento do per-
determinado conceito, mas mais especificamente sonagem conceitual e pede para que ele o ex-
faz o conceito funcionar nas relações de pensa- presse. Pede para o filósofo criar condições de
mento, porque é ele quem vive o acontecimento resolução para os problemas produzidos no e
filosófico. Desse modo, o personagem conceitual pelo plano de imanência e, ao mesmo tempo,
da filosofia, por excelência, é o próprio filósofo: problematiza o plano no sentido de tensioná-
aquele que é amigo do conceito, aquele que cria lo e reproblematizá-lo. O conceito, assim, é a
e faz o conceito funcionar. resposta aos problemas do plano e a condição
É preciso notar a sutileza com a qual de expressividade do plano.
Deleuze e Guattari elaboram a definição de ami- Nota-se que o modo deleuzo-guattariano
go. Para eles, o amigo (personagem conceitual) de pensar a filosofia é bastante complexo. Por
não é alguém que simplesmente habita o plano isso, seria preciso desenvolver cada um dos ele-
de imanência ou alguém que é colocado desde mentos que compõem o fazer filosófico — plano
fora no plano, mas alguém que é próprio ao pla- de imanência, conceito, personagem conceitual e
no; alguém que se dobrou a partir do próprio problema — de forma separada. No entanto, da-
plano. O amigo, assim, é um plano no plano re- dos o limite do presente artigo, será preciso limi-
cortado do caos1, uma desaceleração, um plano tar a exposição dos argumentos mais detidamente
criador de conceitos. O personagem conceitual, a apenas um desses elementos — o plano de
portanto, é aquele que vai dar consistência ao imanência — e na medida do possível correla-
plano. É aquele que vive o plano e cria concei- cioná-lo aos outros elementos.
tos no plano.
Nesse ponto da discussão, faz-se neces- 1. Os conceitos de plano, recorte e caos serão mais detidamente desen-
sário interpelar Deleuze e Guattari com a seguin- volvidos a seguir.
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talidade do que existe. No entanto, se a totalidade ser o lugar de produção conceitual se sua pró-
for concebida como a soma de todas as coisas pria característica é ser caótico e inominável?
existentes, não se pode dizer que seja imanência Esse questionamento encontra ressonância na
nem mesmo a totalidade de todas as coisas poderá problematização por eles feita em Mil Platôs,
ser considerada imanência. Para se entender o onde se lê: “mas como poderemos ainda iden-
conceito de imanência, teria de se suprimir todo tificar e nomear as coisas, se elas perderam os
plano de dualidade — céu-terra, imanente-transcen- estratos que as qualificavam e passaram para
dente — assim como interromper o modo de en- uma desterritorialização absoluta?” (p. 87). Para
tendimento que age como uma consciência sub- esses autores, o caos não é uma ausência total
jetiva a qual pensa um objeto que está fora dela. de determinações, mas a pura imanência com
Isso porque não haveria uma separação entre o suas velocidades, que desterritorializam a todo o
sujeito e o objeto nem mesmo entre a imanência momento suas configurações. Desse modo,
e seus habitantes (Deleuze, 2006).
Seguindo essa proposição, seria preciso O que caracteriza o caos, com efeito, é
entender a imanência como um caos, pois não menos a ausência de determinações que a
se teria mais um sujeito ou uma inteligência su- velocidade infinita com a qual elas se esbo-
perior que desse consistência à matéria primei- çam e se apagam: não é um movimento de
ra que a imanência. Desse modo, a imanência é uma a outra, mas, ao contrário, a impossi-
a própria dimensão caótica: o caos e suas velo- bilidade de uma relação entre duas determi-
cidades. Para Deleuze e Guattari (1997): nações, já que uma não aparece sem que a
outra já tenha desaparecido, e que uma não
O que caracteriza o caos, com efeito, é menos aparece como evanescente quando a outra
a ausência de determinações do que a veloci- desaparece como esboço. (p. 59)
dade infinita com a qual elas se esboçam e se
apagam: não é um movimento de uma a outra Assim, para se pensar a imanência, seria
mas, ao contrário, a impossibilidade de uma necessário criar planos que funcionassem como
relação entre duas determinações, já que uma desacelerações do caos, que funcionassem como
não aparece sem que a outra já tenha desapa- esboços que se configuram momentaneamente.
recido, e que uma aparece como evanescente Por isso, é necessário cortar o caos para que se
quando a outra desaparece como esboço. O crie consistência e, assim, possa ser pensado.
caos não é um estado inerte e estacionário, Desse modo, o plano de imanência é um recor-
não é uma mistura ao acaso. O caos caotiza, e te que se faz no caos, ou seja, na imanência
desfaz no infinito toda consciência. (p. 59) fugidia. Vale lembrar aqui que Deleuze e Guattari
estão se contrapondo ao modo platônico de
Deleuze e Guattari (1988), a exemplo de entendimento ontológico: os dois mundos de
Nietzsche, querem fazer “[...] do caos um objeto Platão. Segundo Deleuze (1975), para Platão, o
de afirmação” (p. 388). Isso quer dizer que é no mundo material não poderia ser pensado justa-
caos que os problemas se afirmam e não fora dele, mente por essa característica fugidia. A única
ou seja, não se pode supor a existência de uma coisa pensável seria o mundo das idéias pelo
consciência que teria como função problematizar fato de ser imutável.
o caos e propor soluções desde fora dele. Para Deleuze e Guattari, ao contrário,
deve-se pensar justamente isso que, segundo
O plano de imanência Platão, não poderia ser pensado. A estratégia
criada pelos filósofos franceses é a criação de
O problema que pode ser colocado a um mapa que se traça sobre o caos para que
Deleuze e Guattari (1997) é: como pode o caos seja possível se locomover nele e, assim, poder
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uns dos outros, mas apenas entretempos, Se o plano e o conceito não estiverem,
entremomentos. (s/p) melhor dizendo, se não forem pertencentes à
imanência, tanto o plano quanto os conceitos
Pensar a imanência é pensar a vida. No funcionariam de forma dogmática, ou seja, con-
entanto, para pensar a vida, é preciso desa- ceitos e plano seriam dados a priori, seriam ela-
celerá-la, mapeá-la. Assim, a partir de Deleuze borados fora da imanência. Desse modo, ter-se-
e Guattari, pode se entender que o plano de ia um BOM plano e um BOM conceito como
imanência é o mapa do mundo. Mapa que dá princípios e a imanência teria de se adequar a
condições de locomoção para que o filósofo se esses conceitos e a esse plano. Assim, o recorte
singularize e que é o lugar no qual o filósofo do plano e os conceitos seriam apenas adequa-
problematiza a realidade, fazendo com que ela ções da imanência à transcendência. Para Deleuze
se subjetive, se dobre, de determinado modo. e Guattari (1997), “não basta mais conduzir a
Segundo Cardoso Jr. (2006), imanência ao transcendente, quer-se que ela re-
meta a ele e o reproduza, que ela mesma o fabri-
[...] cada um está ao mesmo tempo criando que” (p. 65). Desse modo, a transcendência seria
um modo de vida enquanto se constrói a detentora do modo de cortar o plano e os con-
imanência como plano próprio ao pensar, ceitos e, também, a condição do corte. Pensan-
porque o ‘construtivismo’ do pensamento é do desse modo, a imagem do plano e dos con-
também um poderoso campo de experi- ceitos já estaria elaborada sem se relacionar com
mentação. (p. 34) a imanência ou quando muito, a imanência seria
uma reprodução (adequação) da transcendência.
Desse modo, o plano de imanência é o Deleuze e Guattari (1997) afirmam que essa con-
lugar onde se cria um modo de vida, onde o fusão pode ser entendida da seguinte maneira:
pensamento é atacado, é o não pensado que
precisa ser experimentado para ser pensado. [...] em vez de um plano de imanência, ele
Por ser não pensado, o plano de ima- mesmo, construir esta matéria do Ser ou esta
nência é pré-filosófico e pré-conceitual. Isso imagem do pensamento, é a imanência que
porque ele não é pensamento, mas é a matéria seria remetida a algo que seria como um
na qual o pensamento se dobrará. Desse modo, ‘dativo’, Matéria ou Espírito. É o que se torna
o plano de imanência está antes da filosofia e evidente em Platão e seus sucessores. Em vez
antes da criação dos conceitos. Entretanto, é de um plano de imanência construir o Uno-
sobre esse plano que o pensamento se produ- Todo, a imanência está ‘no’ Uno, de tal modo
zirá. Segundo Cardoso Jr. (2006), que um outro Uno, desta vez transcendente,
se superpõe àquele no qual a imanência se
Um pensamento filosófico, porque cria con- estende ou ao qual ela se atribui [...]. (p. 62)
ceitos como seus entes fundamentais, lança-
se exatamente na construção da imanência A única coisa que poderia ser realizada,
como seu plano próprio. É justamente na assim, é a interpretação: interpretar-se-ia a
imanência que começam tanto a complexida- imanência com planos dados e com conceitos
de da filosofia quanto o jogo que os concei- dados. Segundo Deleuze (1992), “quando se in-
tos de cada pensamento joga, tendo em vista voca uma transcendência, interrompe-se o movi-
sua relação com a não-filosofia. (p. 28) mento, para introduzir uma interpretação em vez
de experimentar” (p. 182). Desse modo, a ima-
O plano de imanência, assim, é a maté- nência estaria sendo submetida à interpretação
ria do pensamento. Matéria prévia na qual o daquele que a pensa, e pensar seria apenas um
pensamento se deterá para produzir conceitos. exercício de adequação. Para esses autores,
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um eixo que suporta. A árvore articula e ar visibilidades. Criar um campo problemático
hierarquia os decalques, os decalques são que ataque o pensamento e que mova o pensar.
como folhas da árvore. (p. 21) Conforme foi dito anteriormente, os proble-
mas não podem ser exteriores ao plano de ima-
Deleuze e Guattari propõem como alter- nência, ou seja, o problema é uma problematização
nativa para a relação hierárquica, nos quais os do próprio plano de imanência. Deleuze e Guattari
saberes se estabelecem: o rizoma. Uma planta (1997) auxiliam a recuperar a imanência da proble-
rizomática, ao contrário da árvore, tem um sis- matização, mostrando que é preciso traçar um pla-
tema radicular complexo, com tantas conexões no de imanência para pensar nosso presente. Esse
que não se sabe em que lugar começa e em plano deve ser apresentado de modo a criar uma
que lugar termina o sistema radicular. Suas consistência problemática que dê suporte à criação
raízes se entreconectam por bulbos e radículas. de conceitos, uma vez que
As plantas rizomáticas têm raízes e caules tan-
to subterrâneos (escondidos, obscuros) quanto [...] o plano de imanência não é um concei-
aéreos (que aparecem ao olhar). Tudo (caules to pensado nem pensável, mas a imagem do
aéreos e subterrâneos, raízes aéreas e subterrâ- pensamento, a imagem que ele se dá do que
neas) está conectado com tudo, formando, significa pensar, fazer uso do pensamento,
assim, um emaranhado de caminhos, de senti- se orientar no pensamento [...]. (p. 53)
dos. Uma relação não mais hierárquica, mas em
rede. Assim, o funcionamento rizomático, em Por esse motivo, ao pensar o ensino de
vez de decalcar, cria um mapa. Isso porque, no filosofia, é necessário traçar o mapa do plano
rizoma, não há uma estrutura ou mesmo hierar- para criar os conceitos que o povoarão. Mapear
quia entre os elementos. Ele funciona com suas o lugar em que serão produzidos os conceitos,
conexões múltiplas. Por esse motivo, não há o lugar onde os conceitos filosóficos vão fun-
como estabelecer previamente as relações en- cionar/habitar. Nesse sentido, é preciso fazer
tre os elementos da rede. um mapa do problema. É no plano de ima-
nência que os conceitos serão enrolados e de-
Plano de imanência e ensino de senrolados, esse é o lugar em que os conceitos
filosofia podem funcionar (Deleuze; Guattari, 1997).
Desse modo, é necessário, antes de tudo,
Pensando com Deleuze e Guattari, pode- pensar o ensino de filosofia como uma imanência
se pensar o ensino de filosofia como o plano para que se possa mapeá-lo. Isso quer dizer que
imanente a si mesmo, como um recorte no caos, é preciso partir dos problemas do ensino de fi-
que funciona como um plano de imanência, um losofia, problematizar a própria imanência. Só
mapa que torna possível criar um campo de então se poderá penetrar em outros problemas
visibilidade, pois essa é a função do corte: cri- que são concernentes ao ensino de filosofia.
______. Espinosa e Nietzsche: elos onto-práticos para uma ética da imanência. In: SEMINÁRIO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA:
Nietzsche e o pensamento francês. WEBER, J. F.; NALLI, M. A. G. (Coord.). 1. Anais
Anais... Londrina: UEL, 2006a [CD-ROM]; ISBN
85-98196-39-8.
DELEUZE, G. Conversações
Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? 2 ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997.
PRADO JR., B. A idéia de “plano de imanência”. In: ALLIEZ, E. (Org.). Gilles Deleuze
Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34,
2000. p. 307-322.
Recebido em 04.12.06
Aprovado em 22.10.07
Rodrigo Pelloso Gelamo, licenciado em filosofia pela USC de Bauru e mestre em filosofia pela FFC (UNESP-Marilia), é
doutorando em Educação da FFC (UNESP-Marília).
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