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terça-feira 01

A UNIDADE CRISTÃ
Anderson Costa

“Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da


vocação com que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando
guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. ”
- Efésios 4:1-3.

Ao empregar a palavra “pois”, o apóstolo mostra claramente a conexão entre


a fé e a prática. Ele firmara a doutrina; agora é preciso que ela seja aplicada.
Aqui, então, no capítulo 4, o apóstolo começa a fazer um grande apelo aos
crentes efésios para que ponham em ação as coisas que lhes estivera
ensinando. Lembra-lhes as coisas que inevitavelmente se seguem como uma
consequência natural do entendimento das grandes doutrinas da fé cristã.
pois é uma conjunção que nos leva adiante, e nos indica a vida que devemos
viver à luz das doutrinas que já consideramos. Vocês verão - e isto é um
princípio geral - que em todas as Epístolas, num ponto correspondente a este,
vocês têm geralmente esta palavra “pois”.
Há sempre o perigo - e este afeta mais umas pessoas do que outras - de
esquecer que o cristianismo é, acima de tudo, um modo de vida e um modo
de viver. Naturalmente há certas pessoas que só dão ênfase a isso, e que nada
sabem de doutrina e não se interessam pela doutrina. Tais pessoas
consideram o cristianismo como um sistema de moralidade ou ética.
Algumas pessoas são naturalmente intelectuais; foram-lhes dadas por Deus
mentes acima da média, talvez, e elas gostam de ler, estudar, arrazoar e
manejar as grandes verdades e doutrinas. Seu perigo particular é passar todo
o tempo com doutrina e deter-se na doutrina. A doutrina vem primeiro,
porém não devemos deter-nos na doutrina.
Há outro grupo cujo perigo é ficar só com a experiência. Eles lêem, por
exemplo, os versículos finais do capítulo três de Efésios que descrevem a
tremenda possibilidade de conhecermos o amor de Cristo de maneira
experimental e de termos os nossos corações emocionados e arrebatados
pelas manifestações do Seu amor, e de sermos cheios da plenitude de Deus,
e eles acham que nada mais importa, que nada mais conta.
O homem que só se interessa pela doutrina, e o homem que só se interessa
pelo tipo místico de experiência, estão igualmente negligenciando esta
importante palavra “portanto”. Esta palavra nos salvaguarda de todos esses
perigos.
Vemos esta mesma verdade noutra exposição feita por Paulo em sua carta a
Tito. Ele está escrevendo acerca do Senhor Jesus Cristo e da Sua morte na
cruz, e diz: “O qual se deu a si mesmo por nós”. Mas na seqüência ele não
diz que o propósito do Senhor era que ele tivesse alguma experiência
estranha, extática, e sim “para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para
si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (2:14). Na verdade o Senhor
já dissera isso, com as palavras: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados
sois se as fizerdes” (João 13:17).
As experiências e o conhecimento estimulam, promovem e encorajam; mas
a santificação mesma não é uma experiência. É resultado da vida que recebi
e do conhecimento que tenho; é algo que, à luz disso tudo, eu devo começar
a pôr em prática. “Operai a vossa salvação com temor e tremor ; porque (por
causa do fato de que) Deus é o que opera em vós tanto o querer como o
efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:12 e 13).
Paulo lhes está rogando, está instando com eles, com o fim de os estimular.
Não lhes está dizendo apenas que tudo que eles têm que fazer agora, à luz
das grandes doutrinas, é simplesmente “olhar para o Senhor”. Ele poderia ter
concluído a sua Epístola rapidamente neste ponto, se acreditasse em tal
ensino concernente à santificação. Não haveria necessidade de mais três
longos capítulos. Simplesmente teria que escrever: “Pois bem, agora, à luz
de tudo isso, tudo que vocês têm que fazer é olhar para o Senhor e deixá-10
viver a Sua vida em vocês; é muito simples, vocês simplesmente não fazem
nada, vocês olham para o Senhor, e Ele viverá a Sua vida em vocês”.
Entretanto, não é o que o apóstolo diz; em vez disso, lemos: “Rogo- -vos,
pois, eu, que andeis como é digno...”.
Ele diz coisas como: “Aquele que furtava, não furte mais”, ele nos concita a
evitar “parvoíces” e “chocarrices”. Ele entra em detalhes, ele exorta os
efésios, repreende- -os, ordena-lhes, apela para eles, argumenta com eles,
lança os seus grandes imperativos. Ele o faz porque esse é o ensino do Novo
Testamento sobre a santificação. É o desenvolvimento, a vivência dinâmica,
pelo poder que Deus nos dá e que já está em nós, da doutrina em que cremos
e das experiências que temos desfrutado de Suas bondosas mãos.
No capítulo 17 de João, onde Ele ora: “Santifica-os na verdade: a tua palavra
é a verdade”, (ou, segundo a VA (versão inglesa), “Santifica- os mediante a
tua verdade; a tua palavra é a verdade”). E por meio da Palavra que nós
somos santificados. “Portanto”, é à luz da doutrina que nós devemos viver a
vida santificada.
O processo de santificação é, primeiro e acima de tudo, uma plena
compreensão das doutrinas bíblicas. Devemos compreender o meio de
salvação como esboçado nelas. Devemos ver as coisas para as quais fomos
chamados, as gloriosas possibilidades que foram abertas para nós; e quanto
mais as entendermos e as captarmos, mais prontos e deveras ansiosos
estaremos para desenvolvê-las na prática.
NÃO PODEMOS IGNORAR nas Escrituras a doutrina e a prática estão
indivisivelmente unidas. Jamais devemos separá-las. Sempre devemos
pregá-las e aplicá-las. Não devemos ficar só com a doutrina; não devemos
ficar só come experiência. Não devemos separar a justificação e a
santificação, exceto no pensamento. A salvação é um todo, e o “portanto” é
o elo que sempre mantém juntas as partes.
Jamais devemos fazer violência às Escrituras no interesse de teorias ou
métodos ou experiências particulares. Queira Deus conceder-nos graça para
entendermos o significado desta poderosa palavra “portanto”! A nossa
santificação é o resultado inevitável da doutrina e da experiência, graças à
vida de Deus em nossas almas.
O processo começa imediatamente, assim que nascemos de novo, e o que
nos compete fazer é pôr toda a nossa energia em atividade nesse processo,
para desenvolvê-lo “com temor e tremor”.
Para isso fomos chamados, e essa é a razão pela qual tudo o que nos
aconteceu, de fato nos aconteceu.
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou
com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo”. Você crê
nisso, meu amigo? Se crê, o “portanto” forçosamente virá logo à sua mente.
Tudo em você o fará ansiar por ser digno disso e por elevar-se a isso.
Você crê que o Espírito é também “o penhor da nossa herança para redenção
da possessão de Deus”? Você crê que Deus fez de você um herdeiro e co-
herdeiro com Cristo, e que você vai receber aquela gloriosa herança? Se crê,
então você concordará com a lógica do apóstolo João, como também com a
do apóstolo Paulo, e dirá: “E qualquer que nele tem esta esperança purifica-
se a si mesmo, como também ele é puro (1 João 3:3).
É na medida em que captamos a verdade da doutrina, que o desejo de sermos
santos é produzido em nós.
Se eu creio realmente que, quando eu estava “morto em ofensas e pecados”,
Deus me vivificou, enviou Seu Filho ao mundo para morrer por mim e por
meus pecados para salvar-me do inferno, e para salvar-me para o céu - se eu
creio realmente nisso, devo dizer: “Amor tão admirável, tão divino, requer a
minha alma, a minha vida, o meu tudo”. E lógico, e requer a minha alma, a
minha vida, o meu tudo. Não posso resistir a essa lógica - não devo! E assim
analisamos todas as grandes doutrinas que o apóstolo nos estivera
apresentando nos três primeiros capítulos, e lembramos que não somos mais
“estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de
Deus”. Se eu crer nessa verdade enquanto viver neste mundo, compreenderei
que não tenho direito de viver para mim mesmo. “Portanto”! É lógica
inegável, uma dedução inevitável. Porque eu creio na doutrina é que desejo
ser cada vez mais santificado. “Sede santos, porque eu sou santo”, diz o
Senhor (1 Pedro 1:16).

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