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Unidade II

Unidade II
5. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO OBJETIVO A SER ALCANÇADO
PELA COMUNIDADE INTERNACIONAL.

5.1. O desenvolvimento econômico mundial.

É evidente que há uma clara preocupação mundial com o desenvolvimento econômico. Os países
buscam desenvolver-se para melhorem sua economia e com isso se tornarem fortes e poderosos. Afinal,
é o dinheiro, hoje, a mola mestra que impulsiona e movimenta o mundo.

O mundo está divido em três principais categorias de países: os desenvolvidos, os em desenvolvimento


e os subdesenvolvidos. É o que se convencionou chamar de Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo,
respectivamente. O Brasil é considerado um país em desenvolvimento, logo do Segundo Mundo.

Entende-se por desenvolvimento econômico o fenômeno que ocorre quando a renda real de um
país, decorrente de suas atividades produtivas, aumenta dentro de um dado período de tempo. Essa
renda real nacional pode ser entendida como o produto total interno de um determinado país, referente
a bens e serviços.

Temos que ter em conta, inicialmente, que, para haver desenvolvimento não basta apenas o
crescimento econômico, ou seja, o crescimento do produto interno nacional. É que o desenvolvimento
está sempre associado a aspectos qualitativos, que devem resultar do próprio processo econômico. Assim,
para se falar em desenvolvimento, devemos ter um crescimento econômico aliado a um aumento na
qualidade de vida da população, com a distribuição justa e igual da riqueza. Para se ter desenvolvimento,
o crescimento econômico deve estar atrelado à redução das desigualdades e da pobreza, a melhores
condições de trabalho e de salário, ao acesso à moradia e aos serviços sociais.

Pode-se dizer, destarte, que o desenvolvimento econômico é um processo de mudança social,


através do qual as necessidades humanas são supridas pelo resultado da produção interna. Basicamente
é processo de crescimento, decorrente da acumulação de capital, da agregação de conhecimento e
tecnologia, que resulta na melhoria do padrão de vida do povo de um determinado estado.

Esse desenvolvimento econômico é o buscado pelos sistemas de economia capitalista e envolve


a utilização de recursos naturais. Os países buscam o crescimento econômico e o consequente
desenvolvimento utilizando-se, na sua maioria, dos seus recursos naturais. Eles têm o direito de usar
esses recursos, pois todos têm direito ao desenvolvimento. O desafio é alcançar o uso sustentável
desses recursos.

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5.2. A sustentabilidade como paradigma para o século XXI.

Adotar uma postura sustentável é, hoje, uma obrigação de todos que exploram as atividades
empresariais, sejam elas pessoas jurídicas de direito privado ou público. Não há, nos dias atuais,
espaço para acumulação de riqueza nas mãos de poucos em detrimento dos bens ambientais que
pertencem a todos.

A sustentabilidade pressupõe o respeito aos valores ambientais, de sorte a não esgotá-los. Uma
atividade econômica sustentável é aquela que interage com o meio ambiente, mas protege-o e
preserva-o para as presentes e futuras gerações. Conseguir chegar a isso é o grande desafio, que impõe
uma mudança radical e significativa dos padrões e valore estabelecidos, não só por aquele que exerce a
atividade econômica, mas também por toda a sociedade.

É sempre importante que se diga que o meio ambiente não é intocável. Muito pelo contrário, ele
é um bem de uso comum do povo, de sorte que ele esta aí para ser usado. Desta forma, os recursos
ambientais podem e devem ser usados, mas desde que se faça isso de maneira sustentável.

Não podemos negar que os recursos naturais estão ligados diretamente com a produção industrial
que, de resto, é importante para o desenvolvimento econômico. Assim, como não se pode negar o
desenvolvimento, não se pode negar o uso dos recursos ambientais. O que se busca, sim, é a conciliação
desses dois paralelos.

Temos de lembrar, sim, que o desenvolvimento econômico não pode ser descontrolado. Ele deve
respeitar os valores ambientais, em todas as suas formas, sob pena de não ser legítimo.

O desenvolvimento econômico só será legítimo quando promover a proteção e a preservação dos


recursos ambientais para as presentes e futuras gerações, orientando-se pelo direito do ser humano de
habitar um planeta ecologicamente saudável, socialmente integrado e economicamente equilibrado.
As sociedades ambientalmente sustentáveis são aquelas cuja economia satisfaça três
principais condições:

1) que a proporção de uso dos recursos renováveis não supere a média de regeneração do ecossistema;

2) que a proporção de consumo ou o descarte irrecuperável de recursos não-renováveis não supere


a média de desenvolvimento e uso dos seus substitutos renováveis.

3) que a proporção de emissão de poluentes dentro do meio ambiente não supere a capacidade
média de assimilação natural do ecossistema.

Costuma-se anotar três principais objetivos que se buscam alcançar com o desenvolvimento
sustentável:

1) econômico, que se refere à utilização eficiente do dos recursos naturais e a um crescimento


quantitativo;
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2) sociocultural, referente à manutenção da vida social e cultural, e à maior igualdade e equidade


social; e

3) ecológico, que consiste na preservação dos sistemas físicos e biológicos que servem de suporte à
vida humana.

Com isso, se por um lado permite-se o desenvolvimento econômico, por outro se faz necessário um
planejamento (gestão ambiental, como vermos adiante) para que, de forma sustentável, os recursos
ambientais não se esgotem, impelindo o empresário a buscar soluções triplamente vencedoras, em
termos sociais, econômicos e ecológicos, eliminando, desta forma, o crescimento selvagem obtido ao
custo de elevadas externalidades negativas, tanto sociais quanto ambientais.

O desenvolvimento sustentável vai mirar, precipuamente, em normas capazes de instrumentalizar


políticas de desenvolvimento com base no aumento da qualidade das condições de vida da população.

Assenta-se, assim, o desenvolvimento sustentável, em três pilares básicos: desenvolvimento


econômico, desenvolvimento social e a proteção ambiental. O desenvolvimento da empresa tem uma
abordagem tríplice, que se costuma chamar de “the three P’s”: People (os seres humanos), Planet (o meio
ambiente) e Profit (a economia).

5.3. A tomada de consciência da questão ambiental e da sustentabilidade

Somente no Século XX é que tomou-se consciência mesmo de que os bens ambientais são finitos, ou
seja, eles tendem a acabar se o seu uso for descontrolado, fato que se verificou com maior intensidade
após a Revolução Industrial. Embora tenhamos relatos de manifestações ambientais nos Séculos XVIII e
XIX, eram casos isolados.

Quando a questão ambiental ganhou força, sobretudo pela ferocidade com que a economia –
então já globalizada – avançava sobre os recursos naturais, percebeu-se que os problemas ambientais
não eram setorizados, não estavam restritos apenas uma determinada região, nem afetavam apenas
uma dada população. Era um problema global, que afetava diretamente toda a humanidade. Nesse
sentido, destacam-se três etapas pelo qual esse movimento de tomada de consciência da questão
ambiental passou:

1ª) percepção dos problemas ambientais como fenômenos localizados, atribuídos à ignorância,
negligência ou dolo, motivando ações de natureza reativa, corretiva e repressiva tais como
proibições e multas;

2ª) degradação ambiental percebida como um problema generalizado, resultante das causas já citadas
na etapa anterior, acrescidas da gestão inadequada dos recursos, motivando o desenvolvimento
de instrumentos de intervenção governamental visando a prevenção da poluição e melhoria dos
sistemas produtivos como, por exemplo, os padrões de emissão e os estudos de impacto ambiental
para licenciamento de empreendimentos, e;

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3ª) difusão da consciência da degradação ambiental como um problema planetário, que atinge a
todos, amplia-se a compreensão de que as causas da degradação ambiental, além dos aspectos já
mencionados, também estão ligadas aos modelos de produção e consumo, às políticas e metas de
desenvolvimento dos estados nacionais e à visão economicista predominante nas relações entre
países ricos e pobres.

Essa tomada de consciência ganhou força a partir da segunda metade do Século XX, quando o
mundo passou a adotar ações concretas. Isso se deu, por que a percepção da finitude dos recursos
naturais aliada ao conhecimento dos efeitos colaterais que a exploração desenfreada desses recursos
acarreta originaram nova visão do processo de desenvolvimento, não circunscrita aos aspectos
exclusivamente econômicos.

5.4. A sustentabilidade na visão de outras áreas

Falar em desenvolvimento sustentável é complicado, porque sua aplicação concreta envolve várias
outras áreas do conhecimento.

Desde que essa preocupação se manifestou, primeiramente com o ecodesenvolvimento na


conferência de Estocolmo em 1972 e, posteriormente, com a sustentabilidade propriamente dita, na
Conferência do Rio-92, foram acrescentados ao conceito de desenvolvimento econômico algumas
visões que não eram percebidas antes. O desenvolvimento era analisado, então, exclusivamente ponto
de vista da economia.

Sabemos, hoje, que qualquer processo de desenvolvimento econômico acarreta, de uma forma ou
de outra, em maior ou menor quantidade, um dano ao meio ambiente. Entender o desenvolvimento
sustentável é, primeiramente, ter noção dessa degradação ambiental.

Como tivemos oportunidade de mencionar acima, a economia, embora seja um sistema aberto,
opera dentro de um sistema fechado, que é o ecossistema. Daí se dizer que existe um limite físico para
a economia poder operar. Tal limite é determinado por esse sistema maior, fechado, dentro do qual uma
economia pode e deve funcionar.

Esse limite, como não poderia deixar de ser, impõe restrições à economia, vale dizer, ao desenvolvimento.
Por isso que, para fazê-lo sustentável, devemos olhar para além do simples desenvolvimento. Devemos
analisá-lo, principalmente, sob os aspectos econômico, social e ambiental.

5.4.1. A sustentabilidade na visão econômica

A economia é, nos dias atuais, uma importante ciência quando a questão é desenvolvimento, pois
estuda as tendências e as melhores formas de investimento. Para o conceito de desenvolvimento
sustentável, a economia vai exercer um papel fundamental.

A economia se preocupa com três principais objetivos: alocação, distribuição e escala.

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A alocação diz respeito à divisão relativa dos fluxos de recursos. Ela é considerada boa quando
disponibiliza recursos em função das preferências individuais, que são avaliadas pela habilidade de
pagar utilizando o instrumento do preço.

A distribuição se refere à divisão dos recursos entre as pessoas.

E, por sua vez, a escala volta-se ao volume físico do fluxo de matéria e energia, de baixa entropia,
retirada do ambiente em forma de matéria bruta e devolvida a esse meio como resíduos de alta entropia.

Ao longo dos tempos, a economia não tem enfrentado diretamente a questão da escala, por duas
razões, opostas: uma assume que o meio ambiente é uma fonte de recursos infinita e a outra entende
que o meio ambiente constitui depósito de resíduos de tamanho infinito em relação à escala do
subsistema econômico.

A crise surge quando o crescimento econômico se eleva de tal maneira que a demanda sobre o meio
ambiente ultrapassa seus próprios limites.

É aí que entra a ideia de sustentabilidade econômica. Ela alcança a alocação e distribuição eficientes
dos recursos naturais dentro de uma escala suportável.

O conceito de desenvolvimento sustentável, visto pelo lado da economia, encara o mundo em termos
de estoques e fluxo de capital. Mas é de se ver que essa visão não se restringe apenas ao convencional
capital monetário ou econômico, mas está aberta a considerar capitais de diferentes tipos, incluindo o
ambiental, ou natural, capital humano e capital social.

Na visão dos economistas, a questão da sustentabilidade diz respeito à manutenção do capital em


todas as suas formas. Ao contrário dos ambientalistas, eles têm uma tendência mais otimista no que
se refere à capacidade do ser humano de adaptação a novas realidades ou circunstâncias e resolver
problemas com sua capacidade técnica.

Os economistas chegam questões relativas à sociedade e meio ambiente através da discussão dos
conceitos de sustentabilidade forte e fraca. Ambas se baseiam no fato de que a humanidade deve
preservar capital para as futuras gerações. O capital natural é constituído pela base de recursos naturais,
renováveis e não renováveis, pela biodiversidade e a capacidade de absorção de dejetos dos ecossistemas.

Dentro do conceito de sustentabilidade forte, todos os níveis de recursos devem ser mantidos e não
reduzidos e no conceito de sustentabilidade fraca se admite a troca entre os diferentes tipos de capitais
na medida em que se mantenha constante o seu estoque.

Essas duas abordagens partem da premissa de que o capital natural não deve ser tratado
independentemente do sistema como um todo, mas sim como parte integrante dele.

A integração entre ambiente e economia deve ser alcançada dentro do processo decisório, dentro dos
diferentes setores como governo, indústria e ambiente doméstico, se o desejo é alcançar a sustentabilidade.
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5.4.2. A sustentabilidade na visão social.

Na visão social, a sustentabilidade deve ser alcançada em benefício da vida humana.

Na declaração do Rio-92, no princípio 1, ficou assentado que os seres humanos estão no centro da
preocupação com o desenvolvimento sustentável, tendo direito a uma vida saudável, produtiva e em
harmonia com a natureza.

O desenvolvimento sustentável, como de resto todas as normas ambientais, são voltadas para o ser
humana, numa clara visão antropocêntrica. A proteção do meio ambiente tem, como função precípua,
proteger o ser humano e garantir-lhe uma vida saudável.

Essa vida saudável, diga-se de passagem, é uma vida digna, que se faz com respeito a direitos
mínimos, como saúde, lazer, trabalho, acesso a serviços básicos, água limpa e tratada, ar puro, serviços
médicos, proteção, segurança e educação.

A sustentabilidade social refere-se a um processo de desenvolvimento que leve a um crescimento


estável com distribuição equitativa de renda, gerando, com isso, a diminuição das atuais diferenças
entre os diversos níveis na sociedade e a melhoria das condições de vida das populações.

5.4.3. A sustentabilidade na visão ambiental

É certo que os seres humanos são o centro da preocupação quando se fala em desenvolvimento
sustentável, mas não se pode deixar de lado a visão ambiental, sob pena de se não chegar a lugar nenhum.

Na visão ambiental da sustentabilidade, a principal preocupação vai se dar em relação aos impactos
das atividades humanas sobre o meio ambiente. Essa preocupação é expressa pelo que os economistas
chamam de capital natural. Nessa visão, a produção primária, oferecida pela natureza, é a base
fundamental sobre a qual se assenta a espécie humana. Foram os ambientalistas, principais atores
dessa abordagem, que desenvolveram o modelo denominado PSR (Pressure, State e Response) para
indicadores ambientais e que o defendem para as outras esferas.

A sustentabilidade ambiental deve se preocupar em aumentar capacidade do planeta por meio da


utilização do potencial encontrado nos diversos ecossistemas, ao mesmo tempo em que se mantém
um nível mínimo de deterioração desses ecossistemas, através da redução de uso de combustíveis
fósseis, da diminuição da emissão de gases e outras substâncias poluentes, com a adoção de políticas de
conservação de energia, com a substituição de recursos não renováveis por renováveis e o aumento da
eficiência em relação aos recursos utilizados.

5.5. Dimensões do desenvolvimento sustentável

5.5.1. Desenvolvimento

Para podermos entender o desenvolvimento sustentável em sua mais completa tradução, devemos,
antes, entender o que é desenvolvimento, o que se faz através das teorias do desenvolvimento. Teoria do
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desenvolvimento é o conjunto de formulações que visa compreender e modificar a realidade pelo exame
dos mecanismos segundo os quais os fenômenos sociais inter-relacionam-se, dos elementos principais
que respondem pela evolução da economia e das tendências seculares. Mas antes, devemos fazer uma
diferenciação entre desenvolvimento e crescimento econômico.

O crescimento econômico é um processo que se caracteriza pelo aumento quantitativo da produção,


sem alterações significativas na estrutura econômica nem na qualidade de vida da população em geral
e que compreende um período de tempo de duração média, definido como o aumento persistente
da produção ou da produtividade, sem que haja significativa alteração das condições sociais. O que
caracteriza o crescimento econômico é o seu caráter quantitativo.

Já o desenvolvimento econômico implica na alteração da estrutura de rendas, com a diminuição


das desigualdades sociais, por conta de um aumento significativo e persistente do PIB e da renda
per capita, decorrentes de alteração na estrutura produtiva, através de avanços tecnológicos
relevantes. O que caracteriza o desenvolvimento econômico, além do caráter quantitativo, é
também o qualitativo.

Quando esse desenvolvimento se dá com uma profunda mudança social, de alcance mais amplo
e geral, e maior campo de atuação das políticas sociais, temos um desenvolvimento socioeconômico.

5.5.2. Desenvolvimento econômico x desenvolvimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável, que se firma como o novo paradigma do desenvolvimento no século


XXI, vai diferir do desenvolvimento econômico padrão, porque busca a melhoria das condições sociais e
econômicas sem que haja o comprometimento das condições ambientais.

Ou seja, além da questão social – que é importante – há uma preocupação, também, com a questão
ambiental. Desta forma, vamos observar que a integração entre o desenvolvimento econômico e a
proteção do meio ambiente passou a moldar a relação entre o homem e a natureza em termos diferentes
daquela concebida desde a revolução industrial.

A evolução histórica do desenvolvimento econômico, até chegar ao paradigma da


sustentabilidade foi observada pelos cientistas, considerando os critérios econômico, social e
ambiental, na seguinte forma:

Fase 1 – crescimento selvagem, socialmente iníquo e ambientalmente degradante: é a marca da


história social;

Fase 2 – crescimento socialmente benigno, mas ambientalmente degradante: Europa, de 1945 a 1975;

Fase 3 – crescimento ambientalmente benigno, mas socialmente iníquo: representa o cenário atual;

Fase 4 – crescimento social e ambientalmente benigno: o desenvolvimento a ser alcançado.

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Para que haja, de fato, o desenvolvimento sustentável, é preciso observar se as condições gerais da
vida da população realmente melhoraram e se isso não comprometeu a qualidade ambiental. Para tanto,
é preciso observar quatro condições, que devem ocorrer em conjunto:

a) aumento persistente da renda média.

b) desconcentração na estrutura de rendas.

c) melhoria significativa dos índices sociais.

d) conservação das condições ambientais.

Não estando presente alguma dessas condições, teremos algum tipo de desenvolvimento, mas não
o almejado desenvolvimento sustentável.

O interessante é notar que a questão ambiental encerra pelo menos duas dimensões até então não
consideradas: a dimensão espacial e a dimensão temporal.

Dimensão espacial.

Na dimensão espacial, vamos observar que a questão ambiental não tem fronteiras: ela afeta todo
o planeta. Enquanto que o desenvolvimento econômico é localizado (um Estado, um País, uma região),
a degradação ambiental que resulta desse desenvolvimento é globalizada. Um dano ambiental como
aquele que ocorreu no Golfo do México em 2010 afeta não só aquela região, mas o mundo todo. O CO2
emitido na produção industrial dos países desenvolvidos atinge a atmosfera de todo o planeta.

Dimensão temporal.

A sustentabilidade é uma questão de longo prazo. O mote central do desenvolvimento sustentável é


preservar os recursos ambientais não apenas para a geração atual, mas principalmente para as futuras
gerações. No desenvolvimento econômico padrão, o imediatismo é uma característica forte. A busca por
resultados – e o aumento consequente dos lucros – é exigência que se faz para já, a todo custo, inclusive
em detrimento dos recursos naturais.

5.5.3. As dimensões do desenvolvimento sustentável.

No campo da aplicação prática do desenvolvimento sustentável, algumas dimensões devem


ser observadas:

5.5.3.1. Vida.

O desenvolvimento sustentável deve, acima de tudo, assegurar o direito à vida. Mas que fique bem
claro que a vida que propõe aqui é a vida digna, e não a simples existência. Uma vida digna é aquela
que tem garantidos um mínimo de direito básicos, como saúde, educação, segurança, lazer, trabalho,
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tudo com qualidade ambiental. O bom desenvolvimento é aquele que propicia a distribuição da riqueza.
Ao desenvolvimento, para ser sustentável, não basta proteger o meio ambiente, mas deve dar também
condições de existência digna para todos.

5.5.3.2. Coesão social.

A função principal do desenvolvimento é melhor as condições de vida das pessoas. Se isso não
ocorre, não é desenvolvimento, mas apenas crescimento econômico como vimos acima. Assim, o
desenvolvimento sustentável deve ter essa preocupação com a melhoria das condições econômicas da
população, reduzindo as desigualdades sociais.

5.5.3.3. Educação

O desenvolvimento sustentável, para acontecer mesmo, precisa do envolvimento de toda a sociedade,


e não apenas dos empresários. É preciso que haja uma comunhão entre empresários, Poder Público e
sociedade civil, engajados no mesmo objetivo. Nesse ponto, a sociedade civil tem um importante papel
a exercer, quer seja através de consumo consciente, quer seja através da fiscalização das empresas e
do Poder Público. Mas para que isso corra, o povo deve ser informado e educado. É um processo lento,
todavia, porque requer a mudança de hábitos profundamente arraigados nas pessoas. Mas a informação
ambiental é, hoje, uma necessidade, especialmente para incutir nas pessoas a ideia de consumo
sustentável. Se não houver essa mudança de postura no próprio consumidor, o desenvolvimento
sustentável não acontecerá.

6. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, A PREOCUPAÇÃO DA COMUNIDADE


INTERNACIONAL E OS TRATADOS SOBRE O TEMA.

Ao redor do globo terrestre, florestas, campos, áreas úmidas, recifes de corais e superfície do solo de
plantações continuam a desaparecer ou são degradadas pela atividade humana de maneira desmedida.

A preocupação com essa situação tornou-se uma questão mundial. Atividades humanas, tais como
a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento de florestas, mudará radicalmente o clima da Terra
durante este Século XXI, com o que poderá arruinar áreas agrícolas, modificar as reservas hídricas,
alterar e reduzir a biodiversidade e influenciar a economia de diversas partes do mundo.

Discussões sobre pesquisa em tecnologia de energias alternativas estavam presentes durante


a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada entre 3 e 14 de junho
na cidade do Rio de Janeiro em 1992, conhecida como ECO-92. O seu objetivo principal era
buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos
ecossistemas da Terra.

As equipes de trabalho da cúpula mundial procuravam abordar os vários temas ambientais que
o mundo enfrentava, elaborando no final da reunião um documento que trazia as conclusões e as
perspectivas de todas as áreas discutidas durante o encontro.

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A ECO-Rio 92 consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla


conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de responsabilidade dos
países desenvolvidos. Reconheceu-se, ao mesmo tempo, a necessidade de os países em desenvolvimento
receberem apoio financeiro e tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável.
Naquele momento, a posição dos países em desenvolvimento tornou-se mais bem estruturada e o
ambiente político internacional favoreceu a aceitação pelos países desenvolvidos de princípios como o
das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. A mudança de percepção com relação à complexidade
do tema deu-se de forma muito clara nas negociações diplomáticas, apesar de seu impacto ter sido
menor do ponto de vista da opinião pública.

No encontro, 179 chefes de Estado reuniram-se para buscar mecanismos que rompessem o
abismo entre o norte e o sul do planeta, mas preservando os recursos naturais da Terra. A intenção
era introduzir a ideia do desenvolvimento sustentável, um modelo de crescimento econômico menos
consumista e mais adequado ao equilíbrio ecológico. As bases para a Rio-92 foram lançadas em
1972, quando a ONU organizou sua primeira conferência ambiental. Talvez o efeito mais visível da
Rio-92 seja a articulação da comunidade internacional em torno da questão do aquecimento global.
O protocolo de Kyoto, por exemplo, nasceu de uma reunião dos signatários da Convenção do Clima,
firmada durante a reunião no Rio de Janeiro.

Alguns pontos surgidos durante a Conferência no Rio de Janeiro:

Convenção do Clima: este documento propunha a volta das emissões de gás carbônico aos níveis
de 1990. Sem prazos determinados, o objetivo era reduzir os gases responsáveis pelo aquecimento
da Terra. Cento e cinquenta e três países assinaram o termo, incluindo os Estados Unidos;

Convenção da Biodiversidade: a meta principal era a proteção das espécies do planeta estabelecendo
mecanismos para que países tivessem acesso pago às florestas e fontes da biodiversidade. Previa
transferência de tecnologia e reconhecimento de patentes e produtos que fossem descobertos a
partir destas espécies. Os Estados Unidos não assinaram este acordo.

Agenda 21: documento com 2.500 recomendações para implantar a sustentabilidade, sugerindo
ações ambientais para os anos seguintes ao término da conferência. Tratava de vários temas como
população, oceanos, resíduos tóxicos e desertos. Porém, o grande problema da Agenda 21 se refere à
sua execução, que demanda elevados recursos. Neste ponto os acordos não foram muito conclusivos.

A Rio+10, Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, aconteceu trinta anos depois da
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, que teve lugar em Estocolmo em 1972.

A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS), comumente chamada Rio+10,


ocorreu em Johanesburgo, na África do Sul, de 26 de agosto a 4 de setembro de 2002.

Teve como objetivo principal discutir soluções já propostas na Agenda 21 para que pudesse ser
aplicada de forma coerente não só pelo governo, mas também pelos cidadãos, realizando uma agenda
21 local, e implementando o que fora discutido em 1992.
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É importante ressaltar que o propósito maior da Conferência de Johanesburgo não era, portanto,
adotar novos compromissos, acordos ou convenções internacionais, mas sim fazer uma profunda
avaliação dos avanços e dos obstáculos com que nos deparamos ao olharmos para os compromissos
assumidos em 1992. Visava-se, então, identificar as razões pelas quais se avançou tão pouco na
implementação desses compromissos e identificar medidas que pudessem ser tomadas com o objetivo
de viabilizar a sua realização. Os resultados da Conferência seriam dois documentos a ser acordados por
todos os países pertencentes às Nações Unidas: o Plano de Implementação e a Declaração Política.

Destacamos a seguir, e a título de exemplo, algumas determinações e diretrizes do Plano de


Implementação:

- Ampliar o uso de fontes renováveis de energia, mas sem metas globais estabelecidas (como
propuseram o Brasil e os países da União Europeia como forma de amenizar o agravamento do
efeito estufa);

- Diminuir pela metade, até 2015, o número de pessoas no planeta que não têm acesso à água
potável e ao saneamento básico;

- Estabelecer áreas de proteção marinha até 2012 por decisão de caráter global, para viabilizar a
restauração de estoques pesqueiros onde for possível, em níveis sustentáveis até 2015.

É impossível negar que os interesses divergentes das nações restringem, e muito, o produto final de
conferências promovidas pela ONU. Contudo, não se pode ignorar o papel singular que cúpulas como
essa têm de promover acordos globais, além de catalisar mudanças que acontecem posteriormente em
comunidades e instituições em todo o mundo. É provável que, assim como em Estocolmo e na Rio-92,
o mundo só se dê conta das consequências da Conferência de Johanesburgo nos anos que se seguirão.

As Conferências das Partes – COP’s

As conferências das partes são as reuniões anuais da Convenção do Clima para concretizar o tratado.
A Convenção sobre Mudanças Climática estabeleceu como objetivo final o de estabilizar as concentrações
de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no
sistema climático, tentando resolver o “problema do clima”. A Convenção especifica que “esse nível
deverá ser alcançado num prazo suficiente que permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente
à mudança do clima, que assegure que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao
desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável”. Isso ressalta as preocupações principais
a respeito da produção de alimentos — provavelmente a atividade humana mais sensível ao clima — e
do desenvolvimento econômico.

Desse modo, estabeleceu-se um quadro e um processo para que os países pudessem chegar a um
acordo sobre ações específicas a serem tomadas mais adiante.

Desde de 1995, a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança de Clima estabelece as bases para os
documentos de controle de emissões de gases do efeito estufa. Veja as COP’s realizadas.
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1995: COP1 em Berlim. A COP1 iniciou a negociação de metas e prazos para a redução de emissões
de gases do efeito estufa;

1996: COP2 em Genebra, Suíça;

1997: COP3 em Kyoto, no Japão. Culminou com a adoção do Protocolo de Kyoto, que estabelece as
metas de redução para s nações ricas, chamadas países do Anexo 1;

1998: COP4 em Buenos Aires, Argentina;

1999: COP5 em Bonn, Alemanha;

2000: COP6 em Haia, na Holanda. As negociações são suspensas pela falta de acordo entre,
especificamente, a União Europeia e os Estados Unidos, em assuntos relacionados com as formas de
absorver carbono e com as atividades de mudança do uso da terra;

2001: COP6 1/2 (Bonn) e COP7 (Marrakesh). As negociações são tomadas. Mas há a saída dos EUA
da negociação, sob a alegação de que os custos para sua economia. Os EUA também discordam da
inexistência de metas para os países em desenvolvimento;

2002: COP8 em Nova Delhi, Índia;

2003: COP9 em Milão, Itália;

2004: COP10 em Buenos Aires, Argentina;

2005: COP11 em Montreal, Canadá. O protocolo de Kyoto entra em vigor com a adesão da Rússia,
com a qual se atinge a soma de nações responsáveis por 55% do total de emissões mundiais de gases
do efeito estufa. Os Estados Unidos não aceitam fixar metas e ficam fora da aplicação do protocolo;

2006: COP12 Nairóbi, Japão;

2007: COP13 em Bali, Indonésia. Pela primeira vez, a questão das florestas é incluída na decisão final.
O Mapa do Caminho de Bali estipula como chegar a um novo acordo em Copenhague. Cientistas do
IPCC afirmam que a temperatura do planeta subiu 0,76ºC no século XX e que, se o processo continuar,
as consequências podem ser dramáticas;

2008: COP14 em Poznan, Polônia;

2009: COP15 em Copenhague, Dinamarca, deveria estabelecer os rumos de um acordo internacional


que substituiria o Protocolo de Kyoto, cujo prazo de validade termina em 2012. Não se consegue chegar
a um acordo;

2010: COP16 em Cancun, no México;

2011: COP17 realizada em Durban, na África do Sul.


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7. AQUECIMENTO GLOBAL E PROTOCOLO DE KIOTO

Os mineradores de carvão do século XIX levavam canários para as minas – não para apreciar seu
canto, mas para aguardar o momento em que paravam de cantar. Era dessa forma que os mineradores
percebiam a hora de sair da mina, porque o ar continha metano, que podia se inflamar e explodir.

Hoje utilizamos equipamentos sofisticados para monitorar a qualidade do ar, mas seres vivos, como
os liquens, também podem indicar a má qualidade do ar. Os liquens consistem de um fungo e de uma
alga que vivem em conjunto, em uma parceria de benefício mútuo (mutualísticas).

Essas espécies pioneiras resistentes são ótimos indicadores biológicos da poluição do ar porque o
absorvem continuamente como sua fonte de nutrição. Uma área poluída perto de uma indústria pode
não ter nenhum líquen ou ter somente liquens incrustados verde-acinzentados. Uma área com poluição
do ar moderada pode apresentar liquens alaranjados incrustados em paredes. Paredes e árvores em
locais onde o ar é razoavelmente limpo podem ter liquens frondosos.

Todos respiramos uma atmosfera global comum em que as correntes de ar e os ventos transportam
poluentes por longas distâncias. Os liquens podem nos alertar do perigo, mas, no que diz respeito a
qualquer forma de poluente, a melhor solução é a prevenção.

Vivemos na atmosfera, parte inferior da camada mais fina de gases que rodeiam a Terra.

A atmosfera é dividida em diversas camadas esféricas, cada qual caracterizada por alterações
abruptas na temperatura, resultado de diferenças na absorção da energia solar.

Cerca de 75% a 80% da massa de ar da Terra é encontrada na troposfera, camada atmosférica mais
próxima da superfície da Terra. Essa camada estende-se somente 17 quilômetros acima do nível do mar
no equador e oito quilômetros nos polos. Se a Terra fosse do tamanho de uma maçã, essa camada inferior
que contém o ar que respiramos teria não mais que a espessura da casca dessa fruta. Aproximadamente
99% do volume de ar inalado da troposfera consistem de dois gases: nitrogênio (78%) e oxigênio (21%).
O restante é formado de vapor de água, um pouco menos de 1% de argônio (Ar), 0,038% de dióxido de
carbono (CO2) e quantidades mínimas de diversos outros gases.

A troposfera também está envolvida na ciclagem química dos nutrientes vitais do planeta.

Além disso, essa fina e turbulenta camada de correntes de ar e ventos que sobem e descem é a
principal responsável pelas condições do tempo, em curto prazo, e pelo clima, em longo prazo.

A segunda camada da atmosfera é a estratosfera, que se estende de 17 a 48 quilômetros acima da


superfície da Terra. Essa camada apresenta grande quantidade de ozônio (O3). O ozônio estratosférico é
produzido quando as moléculas de oxigênio interagem com a radiação ultravioleta (UV) emitida pelo Sol
(3 O2 + 2 O3). Esse “filtro solar global” de ozônio na estratosfera impede que 95% da radiação UV nociva
a superfície da Terra.

36
DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

A radiação UV filtra o ozônio “bom” na baixa estratosfera, permitindo a nossa existência e a de outras
formas de vida; além disso, ajuda a nos proteger contra queimaduras do Sol, câncer de pele e de olhos,
catarata e danos ao sistema imunológico.

Algumas atividade humanas estão diminuindo a quantidade de ozônio “bom” ou benéfico na


estratosfera e aumentando a quantidade de ozônio “ruim” ou nocivos na troposfera – sobretudo
em algumas áreas urbanas. O ozônio nessa porção da atmosfera perto da superfície do planeta
prejudica plantas.

Há evidências científicas de que substâncias fabricadas pelo homem estão destruindo a camada
de ozônio. Em 1977, cientistas britânicos detectaram pela primeira vez a existência de um buraco na
camada de ozônio sobre a Antártida. Desde então, têm se acumulado registros de que a camada está
se tornando mais fina em várias partes do mundo, especialmente nas regiões próximas do Polo Sul e,
recentemente, do Polo Norte.

Diversas substâncias químicas acabam destruindo o ozônio quando reagem com ele. Tais substâncias
contribuem também para o aquecimento do planeta, conhecido como efeito estufa.

A lista negra dos produtos danosos à camada de ozônio inclui os óxidos nítricos e nitrosos expelidos
pelos exaustores dos veículos e o CO2 produzido pela queima de combustíveis fósseis, como o carvão
e o petróleo. Mas, em termos de efeitos destrutivos sobre a camada de ozônio, nada se compara ao
grupo de gases chamado clorofluorcarbonos, os CFCs. Depois de liberados no ar, os CFCs (usados como
propelentes em aerossóis, como isolantes em equipamentos de refrigeração e para produzir materiais
plásticos) levam cerca de oito anos para chegar à estratosfera onde, atingidos pela radiação ultravioleta,
se desintegram e liberam cloro. Por sua vez, o cloro reage com o ozônio que, consequentemente, é
transformado em oxigênio (O2). O problema é que o oxigênio não é capaz de proteger o planeta dos raios
ultravioleta. Uma única molécula de CFC pode destruir 100 mil moléculas de ozônio.

Uma série de fatores climáticos faz da estratosfera sobre a Antártida uma região especialmente
suscetível à destruição do ozônio. Toda primavera, no Hemisfério Sul, aparece um buraco na camada de
ozônio sobre o continente. Os cientistas observaram que o buraco vem crescendo e que seus efeitos têm
se tornado mais evidentes. Médicos da região têm relatado uma ocorrência anormal de pessoas com
alergias e problemas de pele e visão.

O Hemisfério Norte também é atingido: os Estados Unidos, a maior parte da Europa, o norte da
China e o Japão já perderam 6% da proteção de ozônio. O Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) calcula que cada 1% de perda da camada de ozônio cause 50 mil novos casos de
câncer de pele e 100 mil novos casos de cegueira, causados por catarata, em todo o mundo.

No final dos anos 1980, a maioria dos meteorologistas ficou aflita com a possibilidade de que
ações humanas, como o uso de combustíveis fósseis, pudessem estar contribuindo com o aquecimento
global – o aumento da temperatura da Terra. Nessa mesma época, alguns estavam tão preocupados
que chegaram a afirmar publicamente que o alerta global estava para acontecer e poderia ter efeitos
ecológicos e econômicos desastrosos.
37
Unidade II

Os gases que compõem a atmosfera retêm o calor que escapa da superfície terrestre. O problema
consiste no crescente acúmulo destes gases, como consequência da queima de combustíveis fósseis e do
acelerado processo de desmatamento das florestas, que absorvem naturalmente estes gases.

As consequências do aquecimento global são inúmeras e cada dia mais visíveis, como, por exemplo,
as inundações, tempestades e secas, que apresentam-se cada vez mais extremas, e o processo de
derretimento do gelo e das geleiras polares, que acarretam o aumento exagerado do nível das águas,
submergindo lentamente as áreas mais baixas do mundo.

As mudanças no clima do nosso planeta não são nem novas nem incomuns. Durante os últimos
4,6 bilhões de anos, o clima foi alterado por emissões de vulcânicas, mudanças na intensidade solar,
movimento dos continentes em razão do deslocamento das placas tectônicas, choques com grandes
meteoros, entre outros fatores.

Durante os últimos 900 mil anos, a temperatura média da troposfera passou por longos períodos
de resfriamento global e aquecimento global. Esses ciclos alternados de congelamento e degelo são
conhecidos como períodos glacial e interglacial (entre as eras do gelo).

Em cada período frio, o espesso gelo glacial cobriu grande parte da superfície terrestre por cerca
de 100 mil anos. Por aproximadamente 12 mil anos, tivemos a sorte de viver um período interglacial
caracterizado por um clima e temperatura média global da superfície estáveis. Em outras palavras, desde
que a agricultura começou, o clima global tem sido favorável à vida como a conhecemos. Entretanto,
mesmo durante esse período estável, os climas regionais mudaram de forma significativa.

Além da irradiação solar, um processo natural chamado efeito estufa aquece a baixa troposfera e a
superfície terrestre. O químico sueco Svante Arrhenius foi o primeiro a reconhecer esse efeito natural
de aquecimento da troposfera, em 1896. A partir de então, numerosos experimentos de laboratório
e medições das temperaturas atmosféricas em diferentes altitudes confirmaram essa relação. Hoje
ela é uma das mais aceitas teorias das ciências atmosféricas. Os dois gases de efeito estufa com as
maiores concentrações são o vapor d’água, controlado pelo ciclo hidrológico, e o dióxido de carbono
(CO2), controlado pelo ciclo do carbono. O dióxido de carbono é o principal gás de efeito estufa que
os humanos adicionam à troposfera. Há evidências científicas de que a troposfera está ficando mais
quente, em parte por causa das atividades humanas.

Em 1988, os Estados Unidos e a Organização Mundial de Meteorologia estabeleceram o Painel


Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, sigla do inglês) para documentar as mudanças
climáticas do passado e fazer projeções de mudanças futuras. O IPCC é o órgão das Nações Unidas
e reúne mais de 2 mil especialistas dedicados aos estudos sobre as mudanças climáticas. É um órgão
composto por delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre a mudança climática.

Ao longo de 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) se tornou uma
das referências mais citadas nas discussões sobre mudança climática. O órgão da Organização das
Nações Unidas (ONU) divulgou quatro capítulos que, juntos, formam um relatório completo sobre o
aquecimento global hoje.
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DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

O documento gerou tanta repercussão que, no fim do ano, o comitê de premiação do Nobel decidiu
dedicar o honroso Prêmio Nobel da Paz ao IPCC – junto com o ex-vice-presidente americano Al Gore -,
por seu trabalho de conscientização da comunidade e dos líderes internacionais para o problema e as
consequências da mudança climática. O trabalho do IPCC é publicado em quatro etapas e é produzido
por três grupos de trabalho.

O primeiro grupo é responsável pelo primeiro capítulo, que reúne evidências científicas de que a mudança
climática se deve à ação do homem; o segundo trata das consequências da mudança climática para o meio
ambiente e para a saúde humana; e o terceiro estuda maneiras de combater a mudança climática e prover
alternativas de adaptação das populações. Um quarto capítulo sintetiza as conclusões dos anteriores.

É importante notar que o IPCC não realiza pesquisas científicas, mas avalia as investigações existentes.
Os diversos governos envolvidos recebem rascunhos dos estudos com meses de antecedência, para que
façam comentários, sugiram mudanças ou aportem novos dados aos textos. Desde a criação do grupo,
os cientistas reunidos no IPCC demonstraram tanta confiança em que a mudança climática se deve à
ação humana, sobretudo através da emissão de gases como o dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso
(N2O) e metano (CH4), que causam o efeito estufa.

O IPCC concluiu ainda que a ação humana é provavelmente a maior responsável pelo
aquecimento global nos últimos 50 anos, e que os efeitos desta influência se estendem a outros
aspectos do clima, como elevação da temperatura dos oceanos, variações extremas de temperatura
e até padrões dos ventos.

Desde de 1861, as concentrações dos gases de efeito estufa - CO2, N2O, CH4 - na troposfera
aumentaram vertiginosamente, em especial desde 1950.

Embora os Estados Unidos tenham apenas 4,6% da população mundial, o país é o segundo maior
emissor de. Primeiro é a China, depois vem União Europeia (3º), Indonésia (4º), Brasil (5º).

Em seu relatório de 2001, o IPCC listou várias descobertas indicando que é muito provável (90%-
99%) que a troposfera esteja ficando mais quente:

- Primeira, o século XX foi o mais quente dos últimos mil anos;

- Segunda, desde 1861 a temperatura média global da troposfera perto da superfície terrestre elevou
0,6°C em todo o globo e cerca de 0,8°C nos continentes. A maior parte desse aumento vem
acontecendo desde 1980;

- Terceira, os 16 anos mais quentes registrados ocorreram desde 1980 e os dez mais quentes, desde 1990;

- Quarta, as geleiras e o gelo que flutua no oceano em algumas partes do mundo estão derretendo
e encolhendo. Esse processo expõe as superfícies mais escuras e menos reflexivas de água e terra,
resultando em uma troposfera mais quente. À medida que mais gelo derrete, a troposfera se torna
mais quente, fazendo derreter mais gelo e aumentando a temperatura da troposfera ainda mais;
39
Unidade II

- Quinta, os níveis dos oceanos estão aumentando. Durante o século passado, o nível médio dos oceanos
do mundo cresceu entre 0,1 e 0,2 metro, principalmente por causa do derretimento da camada de gelo
da terra e pela expansão da água do mar quando sua temperatura se eleva. O IPCC estima que até o fim
deste século a temperatura da Terra deve subir entre 1,8°C e 4°C, o que aumentaria a intensidade de
tufões e secas. Nesse cenário, um terço das espécies do planeta estaria ameaçada. Populações estariam
mais vulneráveis a doenças e desnutrição. O grupo também calcula que o derretimento das camadas
polares pode fazer com que os oceanos se elevem entre 18 cm e 58 cm até 2100, fazendo desaparecer
pequenas ilhas e obrigando centenas de milhares de pessoas a engrossar o fluxo dos chamados “refugiados
ambientais” - pessoas que são obrigadas a deixar o local onde vivem em consequência da piora do meio
ambiente. A estimativa do IPCC é de que mais de 1 bilhão de pessoas poderia ficar sem água potável
por conta do derretimento do gelo no topo de cordilheiras importantes, como o Himalaia e os Andes.
Essas cordilheiras geladas servem como ‘depósitos naturais’ que armazenam a água da chuva e a liberam
gradualmente, garantindo um abastecimento constante dos rios que sustentam populações ribeirinhas.

Para o IPCC, os países poderiam diminuir os efeitos maléficos do aquecimento global estabilizando
em um patamar razoável as emissões de carbono até 2030 – e isto custaria 3% do PIB mundial.

O IPCC procura manter seu perfil científico, mas sofre pressões políticas. Não tanto nos capítulos
científicos, mas principalmente em resumos destinados aos formuladores de políticas públicas, divulgados
junto com os pareceres.

Países como os Estados Unidos e a China, que estão entre os maiores poluidores do mundo, em geral
exercem influência para apresentar a sua versão sobre os problemas e conclusões sobre o aquecimento.
Como estes documentos também são revisados pelos governos, a síntese é, antes de tudo, um retrato
do que todos os países, indistintamente, concordam.

É difícil medir o impacto político efetivo do relatório e do processo. O que é possível afirmar é que
a repercussão das conclusões do IPCC e a ampla cobertura que a mídia em todo o mundo tem dado ao
assunto, especialmente por causa do trabalho do grupo, colocou definitivamente a mudança climática
entre as grandes questões mundiais e um dos principais temas da agenda política em diversos países.

O Protocolo de Kyoto

É um acordo assinado em 1997 por 189 nações, que se comprometeram em reduzir a emissão de
gases causadores do efeito estufa em 5,2%, na comparação com os níveis de 1990. O principal alvo é
o dióxido de carbono (CO2). Especialistas acreditam que a emissão desenfreada desse e de outros gases
esteja ligada ao aquecimento global, fenômeno que pode ter efeitos catastróficos para a humanidade
durante as próximas décadas. O Protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005 e prevê que suas metas
sejam atingidas entre 2008 e 2012, quando ele expira.

A intensidade do corte nas emissões de gases poluentes varia de país para país, e só foram obrigadas
a se enquadrar na regra as nações consideradas desenvolvidas. Em tempo: o Protocolo ganhou seu nome
em homenagem à cidade japonesa de Kyoto, onde o acordo foi assinado. Abaixo os maiores emissores
de CO2 em dois períodos: 1980 e 2007.
40
DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

Os países em desenvolvimento, como Brasil e Índia, não precisaram se comprometer com metas
específicas. Segundo o Protocolo, eles são os que menos contribuíram para as mudanças climáticas
em curso e, por outro lado, tendem a ser os mais afetados por elas. Grande parte das nações em
desenvolvimento aderiu ao documento. Como signatários, têm o dever de manter a ONU informada
sobre seus níveis de emissão e, assim como os demais, desenvolver estratégias de redução. O documento
propõe três mecanismos para auxiliar os países a cumprirem suas metas ambientais. O primeiro prevê
parcerias entre países na criação de projetos ambientalmente responsáveis. O segundo dá direito aos
países desenvolvidos comprar “créditos” diretamente das nações que poluem pouco. Por fim, o último
é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), conhecido como o mercado de créditos de carbono.

Países em desenvolvimento, como o Brasil, podem vender créditos pela sujeira que deixaram
de fazer. O mercado de créditos de carbono é operado, principalmente, entre as empresas de cada
país. Há duas maneiras de participar. Na primeira, segue-se os critérios do Protocolo de Kyoto. As
empresas criam projetos para reduzir suas emissões e os registram na ONU. Caso realmente surtam
efeito, vão render os chamados créditos de carbono: a cada 1 tonelada de CO2 que o projeto
deixar de lançar à atmosfera rende 1 crédito para a companhia. Os créditos podem ser vendidos
a empresas de países que já estabeleceram metas de redução para alguns setores industriais –
como os da União Europeia e o Japão. E essas empresas, as compradoras, utilizam o crédito para
contribuir com as metas de seu país, sem reduzir suas emissões. Na segunda opção, os créditos
são colocados à venda em bolsas independentes, como a Bolsa do Clima de Chicago ou a Bolsa de
Mercadorias e Futuros (BM&F) brasileira.

Os Estados Unidos, maior emissor de dióxido de carbono do mundo, se opuseram ao Protocolo de


Kyoto afirmando que a implantação das metas prejudicaria a economia do país. O então presidente
George W. Bush considerou a hipótese do aquecimento global bastante real, mas disse que preferia
combatê-lo com ações voluntárias por parte das indústrias poluentes e com novas soluções tecnológicas.

Um outro argumento utilizados por Bush para refutar o acordo foi a falta de exigência sobre os
países em desenvolvimento para a redução das emissões.

A Austrália e os Estados Unidos foram as únicas nações desenvolvidas que optaram por ficar de fora
do pacto. Em 2007, porém, após uma troca de governo, os australianos reviram sua posição e ratificaram
o acordo durante a Conferência da ONU em Bali. A participação do país nas emissões de gases de efeito
estufa é de apenas 2%. Mas, por outro lado, ele é o maior exportador de carvão do mundo.

8. A PARTICIPAÇÃO DAS ONG’S NA PROTEÇÃO AMBIENTAL

8.1. Introdução

Um dos importantes princípios do direito ambiental, como já vimos, é o da participação. Por conta
desse princípio, a defesa e proteção do meio ambiente é uma obrigação de todos, Estados e coletividade.
Todos têm de fazer a sua parte, para garantir que as presentes e futuras gerações possam também ter
acesso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

41
Unidade II

Infelizmente, nem todos estão se emprenhando e cumprindo com essa obrigação.

Estamos vendo que os Estados soberanos, que detém a capacidade jurídica de direito internacional
público, estão deixando a desejar nesse questão, posto não estarem cumprindo eficazmente a proposta
pela busca de um meio ambiente saudável, como preconizada na Conferência das Nações Unidas sobre
o Meio Ambiente de 1972, em Estocolmo, Suécia e conferências posteriores.

Por conta disso, a sociedade civil – ou parte dela –, insatisfeita com essa situação, e pela ineficiente
atuação do Estado, resolveu atuar positivamente para tentar reverter a situação, reunindo-se em prol
do meio ambiente em diversos países. A partir, a sociedade civil organizou-se, criando as ONG’s, que são
organizações não governamentais.

Muito embora as ONG’s não tenham capacidade jurídica para celebrar tratados internacionais, são
sujeitos influentes nas relações exteriores e se mostram cada vez mais atuantes, especialmente na defesa
do meio ambiente.

8.2. As ONG’s

Conquanto os Estados e os organismos internacionais sejam os atores principais do direito


internacional público, novos atores surgiram no cenário internacional, dentre os quais as empresas
transnacionais, as igrejas, o crime organizado, a opinião pública e o indivíduo, destacando-se as
organizações não-governamentais (ONGs) de atuação internacional.

Tais atores, anteriormente não existentes ou então de participação apenas nacional, são de extrema
relevância para a concretização do direito internacional público moderno e para os novos rumos das
Relações Internacionais.

Já sabemos que meio ambiente ecologicamente equilibrado é um dos direitos difusos e coletivos. Ele
não pertence a um único indivíduo ou grupo. E ele suplanta fronteiras. Por isso mesmo torna-se ineficaz
sua proteção quando realizada somente por um país. É preciso que o empenho seja coletivo, com todos
os países atuando positivamente. Por isso, são firmados tratados internacionais sobre meio ambiente
entre os países, maneira pela qual se verifica a consolidação do direito internacional ambiental.

Tal fato proporciona uma reflexão por parte da sociedade internacional, que embora consciente
das obrigações estatais, encontra em si uma alternativa capaz de auxiliar o Estado nas questões não
totalmente abrangidas por este, como ocorre em relação às demandas ambientais. A partir das lacunas
deixadas pela atuação estatal, membros da sociedade civil, no exercício da cidadania, uniram-se e
fundaram as organizações não-governamentais (ONGs), destacando-se aquelas relativas à defesa do
meio ambiente em esfera global.

As ONGs são associações civis, com objetivos específicos, através das quais a sociedade se organiza e
influencia os Estados a efetivarem determinadas demandas, por exemplo, a busca de um meio ambiente
saudável, podendo agir em âmbito nacional ou global.

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DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

As referidas organizações caracterizam-se por ser independentes do Estado, não possuir fins
lucrativos e perseguir objetivos bem definidos. Encontram as ONGs ambientais respaldo internacional,
pelo fato de ser a proteção do meio ambiente um fim globalmente almejado, sendo inclusive um dos
objetivos propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

8.3. A participação das ONG’s na defesa ambiental e o direito ambiental internacional

Vemos, hoje, uma atuação destacada das ONG’s na questão ambiental. Elas participam ativamente
das relações globais, exercendo alguma influência sobre Estados e Organismos Internacionais na
elaboração de tratados de proteção ao meio ambiente.

Existem métodos de ação amplamente utilizados pelas ONGs para influenciar e pressionar os
Estados a agir na defesa do meio ambiente, que geralmente aparecem sob duas formas: a sensibilização
da opinião pública, para que essa exerça sua pressão sobre os responsáveis pela decisão e execução
de projetos e políticas, e a ação direta, que consiste muitas vezes na execução de ações nos próprios
lugares onde se desenvolvem os projetos considerados não-procedentes, que se fazem acompanhar
por uma estratégia de pressão, quer serve para influenciar decisões e também determinar o rumo das
políticas questionadas.

As ONG’s atuam através de campanhas junto à sociedade e manifestam-se na pressão sobre Governos
e organizações intergovernamentais.

Demonstra-se, dessa forma, que a independência do Estado proporciona às ONGs uma posição favorável
para participar de conferências internacionais, conscientizar a opinião pública em relação à importância da
preservação ambiental, além de questionar e até mesmo contrariar as decisões tomadas pelos entes estatais.

8.4. Exemplos específicos

8.4.1. O Greenpeace.

O Greenpeace foi fundado no Canadá, em 1971. Trata-se de uma ONG que tem como objetivo a
defesa incessante do meio ambiente. Rapidamente expandiu-se por diversos países, culminando com a
criação do Greenpeace Internacional, sediado na cidade de Amsterdã – Holanda. Sua principal função
é iniciar e gerenciar campanhas e programas a serem realizados em escala mundial, repassando-os aos
escritórios nacionais.

O Greenpeace conta, atualmente, com 2,8 milhões de colaboradores ao redor do globo, fazendo-se
presente em 41 países. Diante do apoio de técnicos e especialistas, suas equipes analisam os eventos
cometidos contra o meio ambiente, sendo que tais informações possibilitam à ONG influenciar a tomada
de decisões nas instâncias internacionais.

O Greenpeace é uma ONG que se destaca entre os demais atores não-governamentais,


principalmente por promover estratégias de ação diretas, bem como pressionar os Estados durante
conferências internacionais. Todos esses fatores, aliados a protestos constantes, sensibilizam a opinião
43
Unidade II

pública mundial, possibilitando a aderência de novos membros à organização e um interesse pelas


causas ambientalistas. O Protocolo de Madri, elaborado no ano de 1991, que dispõe sobre a proibição
de prospecção mineral na Antártida durante 50 anos, foi influenciado diretamente pelo Greenpeace,
juntamente com outras ONGs.

Ainda sobre o episódio das pressões efetuadas pelo Greenpeace, que resultou na assinatura do
Tratado de Madri, enfatiza-se também a posição de liderança assumida pela referida ONG não somente
em relação aos outros grupos ambientalistas, mas também em relação a entes estatais, pois países como
França e Austrália firmaram alianças com o Greenpeace na defesa do continente antártico.

8.4.2. A União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos (UICN).

A UICN é uma ONG que foi fundada e, 1948, na França e hoje encontra sediada na Suíça. Destaca-se
no cenário internacional por ser a única ONG a possuir como membros não só pessoas de direito privado,
como também governos e entidades públicas. Essa característica a difere das outras organizações não-
estatais, que geralmente não admitem a participação de Estados ou entes ligados a governos diretamente
em sua formação.

Uma das várias funções desempenhadas pela UICN é a possibilidade que essa organização tem
de fornecer suporte técnico aos governos para a criação de leis ambientais, assim como de sugerir
estratégias de gerenciamento dos recursos naturais. É considerada pela doutrina como um centro
internacional de estudos jurídicos de direito comparado e de direito internacional, bem como de
documentações relativos ao direito do meio ambiente. Essa referência internacional deve-se ao fato
de que a UICN armazena as legislações internas sobre proteção ambiental provenientes de diversos
Estados, o que facilita a execução de suas ações. Exerce ainda importante cargo oficial consultivo no
Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, desde o ano de 1972, conforme disposto na Convenção
Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial e Cultural.

Com a base de dados referente às legislações ambientais de vários países que dispõe, a ONG publica
textos contendo normas internacionais e sugestões de leis a ser editadas pelas entidades estatais,
competentes para tal função. Dessa forma, ao se empenhar na confecção legislativa sobre a conservação
do meio ambiente, ainda que de maneira indireta, e ao participar de conferências internacionais, a UICN
exerce sua influência no direito internacional ambiental e nas relações internacionais, além de servir
como inspiração para a opinião pública e até para outras ONGs. Nesse sentido:

Considerando sua grande estrutura e sua produção de dados e modelos de normas, a UICN tem,
certamente, influência sobre os principais acordos internacionais ambientais. Sua cooperação com os
Estados acontece em vários níveis: ela oferece proposições de artigos, como, por exemplo, na discussão
da Convenção de Aarhus, sobre o acesso à informação, à participação pública no processo decisório e o
acesso à Justiça nas questões ambientais. Ela preparou também os documentos que serviram de base às
negociações internacionais, como o primeiro projeto para a Declaração do Rio.

Assim, verifica-se a relevância que uma ONG adquire no cenário internacional, através de seu
empenho e sua dedicação em relação à proteção ambiental global. Na maioria das vezes, as autoridades
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DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

estatais não permitem que instituições não-governamentais participem de suas conferências, ainda
mais exercendo diversas funções, como é o caso da UICN. A mencionada entidade vem se afirmando
internacionalmente desde sua fundação, em 1948, como uma organização responsável e confiável,
principalmente pelo fato de estabelecer parcerias com vários governos na busca pela proteção dos
recursos naturais, o que proporciona um notável grau de credibilidade em seus projetos.

8.4.3. WWF (World Wildlife Fund).

A ONG WWF (World Wildlife Fund) foi criada em 1961, tendo sede na Suíça. Seu objetivo inicial era
o de trabalhar em conjunto com outras ONGs já existentes, tendo conhecimentos científicos como base
de suas ações na defesa do meio ambiente. Os projetos da entidade, durante as últimas quatro décadas,
alcançaram diversos países, fator que contribuiu para sua consolidação e seu reconhecimento como ator
de destaque na esfera global. Um exemplo disso é a ONG World Wildlife Fund, que nas últimas décadas
tem financiado projetos de conservação, reflorestamento ambiental e assistência técnico-sanitária em
vários países.

Desde sua fundação, a WWF desenvolve projetos relevantes na área ambiental. Sozinha ou firmando
parcerias com outras ONGs, como é o caso da União Internacional para a Conservação da Natureza e
seus Recursos, essa instituição vem realizando inúmeras ações, as quais têm por objetivo principal a
conscientização da opinião pública em relação à preservação ambiental.

A WWF Internacional é a entidade responsável pelo gerenciamento das ações a serem executadas
pelos escritórios nacionais dos diversos países em que a ONG desenvolve suas atividades. À medida
que a organização foi abrigando membros oriundos de diversos Estados, fez-se necessária sua
internacionalização, o que contribuiu positivamente para sua divulgação na mídia internacional.
Conta a instituição atualmente com o apoio de cinco milhões de associados, distribuídos em mais de
noventa países.

No ano de 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
sediada no Rio de Janeiro, a WWF pressionou os governantes de diversos países a assinar convenções
sobre biodiversidade e mudanças climáticas, obtendo resultado positivo. Desde então, a ONG pressiona
os países signatários das referidas convenções para uma efetiva aplicação das disposições acordadas, de
maneira a reforçar a importância da preservação ambiental em escala global.

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Unidade II

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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