PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. JOSÉ AURÉLIO DA CRUZ
Exceção de Pré-Executividade no Mandado de Segurança nº 888.2003.006152-2/001
Relator: Dr. Ricardo Vital de Almeida, Juiz Convocado em substituição ao Des. José Aurélio da Cruz. Exequente: Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da polícia Militar do Estado da Paraíba. Advogado: Márcio Henrique Carvalho Garcia. Executado: Estado da Paraíba, representado por seu Procurador Deraldino Alves de Araújo Filho.
ACÓRDÃO
EXECUÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ALEGAÇÃO DE ILIQUIDEZ DO TÍTULO E INDISPONIBILIDADE FINANCEIRA. EXIGÊNCIA DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. APLICAÇÃO DO INCIDENTE DE RECURSO REPETITIVO PROFERIDO PELO STJ NO REsp 1104900-ES. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO. SUBMISSÃO DA QUANTIA DEVIDA ENTRE A DATA DA CONCESSÃO AO EFETIVO CUMPRIMENTO. PAGAMENTO DEVIDO POR MEIO DE FOLHA SUPLEMENTAR. PRECEDENTES DO STJ. REJEIÇÃO DA EXCEÇÃO. - O Superior Tribunal de Justiça, em incidente de recurso repetitivo no REsp 1104900-ES, reafirmou que é cabível a objeção de executividade quando se tratar de matérias de ordem pública ou que não exijam dilação probatória. - A argumentação apresentada, referente à iliquidez do título e indisponibilidade financeira, não é passível de análise em sede de exceção de pré-executividade, porque esta não é a
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medida adequada, até mesmo porque há fatos ensejadores à dilação probatória. − A decisão proferida nos autos está em consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que assentou a orientação de que, em sede de Mandado de Segurança, o pagamento das parcelas compreendidas entre a data da concessão até o cumprimento da decisão independe do rito do precatório previsto no artigo 730 do CPC. − As despesas originárias de decisões judiciais não são computadas para verificação do atendimento dos limites fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal.
VISTOS, relatados e discutidos os autos acima identificados.
ACORDAM os integrantes da Segunda Seção Especializada Cível do Colendo Tribunal de Justiça em rejeitar a Exceção de Pré-Executividade, à unanimidade, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl.447. RELATÓRIO Cuida-se de Exceção de Pré-Executividade ajuizada pelo Estado da Paraíba (impetração contra ato do Sr. Secretário da Administração do Estado), em face de decisão que determinou o pagamento de diferenças devidas aos associados da Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da Polícia Militar do Estado da Paraíba. Ressalta, o Estado da Paraíba, em síntese, matéria de ordem pública referente à forma de pagamento dos valores devidos nos autos do Mandado de Segurança em estudo, pois entende que o débito deve ser executado de acordo com o rito previsto no artigo 730 do Código de Processo Civil, cujo pagamento dar-se-á mediante precatório de caráter alimentar. Aduz, ainda, não possuir disponibilidade financeira a realizar os pagamentos, já que à quitação em folha suplementar implicaria num montante de 05 (cinco) milhões de reais. Relata, também, que o débito a ser pago é ilíquido e ressaltou surpresa Estatal, uma vez que a fase de execução foi determinada em desacordo com o artigo 730 do Código de Processo Civil. Ao final, pediu a declaração de nulidade da execução em cotejo, e que seja determinada nova liquidação do julgado, mediante apresentação de documentação a comprovar possuírem os associados, realmente, os cursos previstos em lei e capazes de ensejar a percepção da gratificação alvejada; assim também seja determinado o adimplemento do pagamento através da expedição de precatórios.
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Resposta à Exceção de Pré-Executividade às fls. 425/434, alegando, em síntese, que o valor executado é líquido, pois foi apresentada planilha discriminando os valores devidos e o Estado da Paraíba foi citado para opor Embargos à Execução, porém não o fez. Relata, ainda, inexistir nulidade na execução, pois o crédito de cada associado inclui-se no conceito de pequeno valor, sendo correspondente a: Soldado: R$ 244,64 (duzentos e quarenta e quatro reais e sessenta e quatro centavos); Cabo: R$ 300,83 (trezentos reais e oitenta e três centavos); 3º Sargento: R$ 401,70 (quatrocentos e um reais e setenta centavos); 2º Sargento: R$ 478,12 (quatrocentos e setenta e oito reais e doze centavos); 1º Sargento: R$ 555,97 (quinhentos e cinquenta e cinco reais e noventa e sete centavos); Aspirante/Sub. Tenente: R$ 633,76 (seiscentos e trinta e três centavos e setenta e seis centavos); 2º Tenente: R$ 722,76 (setecentos e vinte e dois reais e setenta e seis centavos); 1º Tenente: R$ 800,56 (oitocentos reais e cinquenta e seis centavos); Capitão: R$ 878,41 (oitocentos e setenta e oito reais e quarenta e um centavos); Major: R$ 937,77 (novecentos e trinta e sete reais e setenta e sete centavos); Tenente Cel.: R$ 1.043,03 (um mil e quarenta e três reais e três centavos) e Coronel: R$ 1.111,77 (um mil e cento e onze mil reais e setenta e sete centavos). Ao final, pede seja rejeitada a exceção, já que a importância executada decorre exclusivamente do período entre a concessão do mandamus (fevereiro de 2004) e o cumprimento do julgado (maio/abril de 2004). Parecer da D. Procuradoria de Justiça às fls. 440/442, pelo regular processamento do incidente, sem manifestação de mérito. É o relatório. Voto. 1 - Iliquidez do Título e Indisponibilidade Financeira. O Estado da Paraíba apresenta como um dos fundamentos da presente exceção de pré-executividade o fato do débito ser ilíquido, pugnando por uma nova liquidação do julgado, mediante apresentação de documentos capazes de comprovar que os associados possuem os cursos previstos em lei, capazes de ensejar a percepção da gratificação concedida no “writ”. Fundamenta, também, que o Estado da Paraíba não possui disponibilidade financeira a proceder ao pagamento em folha suplementar, pois os valores implica em um montante de 5 (cinco) milhões de reais. Importante, e de modo preambular, fazer a ressalva de que se admite a objeção de executividade quando, de imediato, e objetivamente, não se vislumbram os requisitos indispensáveis à executoriedade do crédito, por se tratarem de matérias de ordem pública, reconhecíveis de ofício pelo juiz, ou matérias que não exigem dilação probatória. Assim, quando a situação, para seu deslinde, reclama atividade cognitiva, cabível não é a objeção de executividade. Essa via excepcional somente
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tem sido admitida, como forma de defesa direta do devedor nos próprios autos da execução, se de plano ficar demonstrada a ausência de uma das condições da ação ou de pressupostos processuais, cujas matérias podem e devem ser conhecidas de ofício pelo juiz. A propósito, o Superior Tribunal de Justiça, em incidente de recurso repetitivo no REsp 1104900-ES, reafirmou ser cabível a objeção de executividade ao se tratar de matérias de ordem pública ou que não exijam dilação probatória: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO CPC. EXECUÇÃO FISCAL. INCLUSÃO DOS REPRESENTANTES DA PESSOA JURÍDICA, CUJOS NOMES CONSTAM DA CDA, NO PÓLO PASSIVO DA EXECUÇÃO FISCAL. POSSIBILIDADE. MATÉRIA DE DEFESA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. INVIABILIDADE.RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. A orientação da Primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido de que, se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica, mas o nome do sócio consta da CDA, a ele incumbe o ônus da prova de que não ficou caracterizada nenhuma das circunstâncias previstas no art. 135 do CTN, ou seja, não houve a prática de atos "com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos". 2. Por outro lado, é certo que, malgrado serem os embargos à execução o meio de defesa próprio da execução fiscal, a orientação desta Corte firmou-se no sentido de admitir a exceção de pré-executividade nas situações em que não se faz necessária dilação probatória ou em que as questões possam ser conhecidas de ofício pelo magistrado, como as condições da ação, os pressupostos processuais, a decadência, a prescrição, entre outras. 3. Contudo, no caso concreto, como bem observado pelas instâncias ordinárias, o exame da responsabilidade dos representantes da empresa executada requer dilação probatória, razão pela qual a matéria de defesa deve ser aduzida na via própria (embargos à execução), e não por meio do incidente em comento. 4. Recurso especial desprovido. Acórdão sujeito à sistemática prevista no art. 543-C do CPC, c/c a Resolução 8/2008 – Presidência/STJ.” (REsp 1104900/ES, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 01/04/2009) (grifei) Ainda:
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“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA FIRMADA PELA ORIGEM. NÃO CABIMENTO DA EXCEÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7/STJ. 1. Embargos de declaração que não se enquadram em nenhuma das hipóteses previstas no art. 535 do CPC, podendo ser recebidos como agravo regimental, em prestigio ao princípio da fungibilidade recursal. 2. Só é cabível exceção de pré-executividade quando atendidos simultaneamente dois requisitos, um de ordem material e outro de ordem formal: a) que a matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz; e b) que a decisão possa ser tomada sem necessidade de dilação probatória. 3. Na espécie, o Tribunal de origem expressou entendimento de que "a apreciação da lide posta a desate, neste momento, deve se cingir à análise da pertinência subjetiva da demanda, relegando-se a apuração da existência de responsabilidade a eventuais embargos à execução, por se tratar de matéria fática de fundo, sujeita à instrução probatória". 4. A revisão do entendimento referido exige o reexame do acervo fático-probatório do processado, o que é inviável na via do recurso especial, nos termos da Súmula 7/STJ. 5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.” (EDcl no AgRg no REsp 1217385/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/04/2013, DJe 19/04/2013) (grifei) “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. NÃO CABIMENTO. SÚMULA 7. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO. DECISÃO AGRAVADA MANTIDA. 1.- Não há que se falar em violação do artigo 535 do CPC, pois, apesar de rejeitados os embargos de declaração, a matéria em exame foi devidamente enfrentada pelo Colegiado de origem, que sobre ela emitiu pronunciamento de forma fundamentada, ainda que em sentido contrário à pretensão do Recorrente.
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2.- A exceção de pré-executividade não é cabível quando as questões suscitadas dependerem de prova ou da análise de disposições contratuais. 3.- No caso, para afastar a conclusão do Tribunal a quo quanto à necessidade de "dilação probatória", necessário seria o reexame de circunstâncias fáticas da causa, o que é vedado nesta sede excepcional, a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte. 4.- Quanto ao pretendido dissenso jurisprudencial, observa-se evidente deficiência na interposição do recurso, tendo em vista o disposto no artigo 541 do Código de Processo Civil e os §§ 1º e 2º (cotejo) do artigo 255 do Regimento Interno desta egrégia Corte, pois ausente o necessário cotejo analítico. 5.- Ainda que assim não fosse, o Tribunal a quo concluiu com base no conjunto fático-probatório, assim, impossível se torna o confronto entre os paradigmas e o Acórdão recorrido, uma vez que a comprovação do alegado dissenso reclama consideração sobre a situação fática própria de cada julgamento, o que não é possível de se realizar nesta via especial, por força do enunciado 07 da Súmula desta Corte. 6.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios fundamentos. 7.- Agravo Regimental improvido.” (AgRg no AREsp 297.550/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/05/2013, DJe 05/06/2013) No caso, a argumentação apresentada, referente à iliquidez do título e indisponibilidade financeira, não é passível de análise em sede de exceção de pré-executividade, porque esta não é a medida adequada, até mesmo porque há fatos a poderem ensejar a dilação probatória. Importante, ainda, ressaltar que o impetrante apresentou a liquidação dos valores nos termos da petição e planilhas de fls. 313/327, indicando o valor devido a cada militar, no período compreendido entre a concessão da ordem e o efetivo cumprimento do julgado, porém o Estado da Paraíba, apesar de ter sido regularmente citado para opor Embargos à Execução (fls. 329/333), não o fez, nos termos da certidão de fls. 335. Outrossim, ressalto que o único ponto passível de apreciação nesta sede é referente à forma de pagamento das verbas devidas que, no caso, será objeto de apreciação no próximo tópico. De resto, o pedido de iliquidez do título e indisponibilidade financeira não merece conhecimento, pois a matéria deve ser discutida em peça processual pertinente, que não a Exceção de Pré-Executividade.
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2 - Forma de Pagamento das Verbas Devidas em Sede de Mandado de Segurança. O Estado da Paraíba alega existir matéria de ordem pública a ser enfrentada, pois a forma de pagamento dos valores devidos nos autos do Mandado de Segurança em estudo deve ser executada de acordo com o rito previsto no artigo 730 do Código de Processo Civil, cujo pagamento dar-se-á mediante precatório de caráter alimentar. A controvérsia cinge-se em verificar se existe a possibilidade de se expedir ordem ao Estado da Paraíba para efetuar o pagamento das verbas vencidas entre a concessão do “mandamus” (fevereiro de 2004) e o efetivo cumprimento do julgado (maio de 2004) através de folha suplementar. No caso em comento, tenho que a r. decisão é oriunda de execução de título judicial, constituído nos autos do Mandado de Segurança, nos termos do qual foi concedida a ordem para determinar o descongelamento da parcela denominada de Habilitação Policial Militar”, que havia sido congelada pela Lei Complementar Estadual nº 50/2003. Observo, ainda, dos autos que a impetração do “mandamus” deu-se em 13/06/03 (fl. 02); o acórdão concedendo a segurança foi publicado em fevereiro de 2004 (fl. 78), sendo certo que o efetivo cumprimento da obrigação pelo Estado da Paraíba deu-se somente em maio de 2004, como aponta a petição de fl. 313. Com efeito, o artigo 14, § 4º, da Lei nº 12.016/2009, confere ao impetrante o direito de recebê-las, nos próprios autos do Mandado de Segurança, e o faz da seguinte forma: “Art. 14 O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal, somente será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da inicial”. Assim, em razão da natureza mandamental da sentença concessiva da ordem, prescinde-se instaurar processo executivo contra a Fazenda Pública, cabendo desde logo a reparação pecuniária, a ser apurada em simples liquidação por cálculos e executada nos próprios autos (art. 1º, caput e § 3º, da lei nº 5.021/66 c/c art. 604 do CPC), sendo assim rejeitada a tese do Estado da Paraíba de violação ao princípio do “venire contra factum proprium”. Devo anotar, também que, a ser levado, como de fato e direito levo, em consideração o benefício financeiro de cada associado, cujo valor máximo é da patente de Coronel (R$ 1.111,77), seria o caso de expedição de requisitório de pequeno valor (RPV), motivo pelo qual não deveria ocorrer a expedição de precatório, em observância ao comando legal do artigo 100, § 3º da Constituição Federal, in verbis:
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“Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim. (…) § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.” No específico caso dos autos, é importante consignar: os valores determinados ao pagamento através de folha suplementar, referem-se ao período compreendido entre a concessão da segurança (fevereiro de 2004) até o efetivo cumprimento do julgado (maio de 2004). Ademais, a decisão proferida nos autos está em consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que assentou a orientação de que, em sede de Mandado de Segurança, o pagamento das parcelas compreendidas entre a data da concessão, até o cumprimento da decisão, independe do rito do precatório previsto no artigo 730 do CPC. Confira-se, a propósito, o seguinte entendimento Colegiado, in verbis: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE SEGURANÇA. RESTABELECIMENTO DE VANTAGEM PECUNIÁRIA. EXECUÇÃO. PARCELAS VENCIDAS APÓS A SENTENÇA CONCESSIVA. INCLUSÃO EM FOLHA DE PAGAMENTO. INAPLICABILIDADE DO RITO DO PRECATÓRIO (ART. 730 DO CPC). 1. A jurisprudência dominante neste Tribunal Superior é no sentido de que, tratando-se de restabelecimento de vantagem pecuniária a servidor público, não se aplica o rito do precatório, previsto no art. 730 do Código de Processo Civil, às verbas devidas entre a sentença concessiva do writ e a data de seu efetivo cumprimento. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.”(AgRg no Resp 1101895/BA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 15/02/2013)(grifei) “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE SEGURANÇA. PARCELAS VENCIDAS ANTES DA CONCESSÃO DA SEGURANÇA. SUBMISSÃO AO REGIME DE PRECATÓRIO.
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1. Por preponderar carga de eficácia mandamental na sentença concessiva de segurança, é cabível a adoção de medidas coercitivas imediatas, dispensando o processo de execução autônomo para cumprimento da ordem ali concedida, bem como o trânsito em julgado da sentença, que pode ser executada provisoriamente, conforme previsão da própria Lei n. 12.016/90, art. 14, § 3º. Nessa seara, o pagamento dos vencimentos e demais vantagens pecuniárias devidos ao servidor público, atinentes ao interstício de tempo compreendido entre a data da decisão concessiva da segurança e a data do efetivo cumprimento, é feito mediante inclusão em folha suplementar de pagamento, não se aplicando o regime do precatório, na forma prescrita no art. 100, caput, da Constituição Federal c.c. o art.730 do Código de Processo Civil. Precedentes: AgRg no REsp 1.200.890/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 04/02/2011; AgRg nos EDcl no Ag 814.919/GO, 5.ª Turma, Rel. Min. JORGE MUSSI, DJe de 13/09/2010. 2. Por outro lado, relativamente aos efeitos financeiros pretéritos, o fato de constar na parte dispositiva a determinação imediata do ressarcimento dos vencimentos e demais vantagens, ainda que possa gerar alguma dúvida quanto ao seu alcance, significa tão somente que fica dispensado o processo autônomo de execução, além de prescindir do trânsito em julgado da decisão. Isso porque, em virtude da norma constitucional expressa acerca do pagamento de débitos pela Fazenda Pública, os pagamentos devem ser adimplidos com a estrita observância do sistema de precatório. Nesse sentido, é firme a orientação desta Corte no sentido de que "o cumprimento do julgado se submete ao inarredável regime constitucional de precatório para os débitos da Fazenda Pública, nada importando eventual natureza alimentar e o fato do débito ser derivado de sentença concessiva de segurança." (Rcl 4924 / DF, relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe 10/02/2012) 3. Agravo regimental não provido.” (AgRg no MS 17.499/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 18/04/2013)(grifei) Feitas essas considerações, clara está a posição jurisprudencial quanto ao pagamento das parcelas compreendidas entre a decisão concessiva do “writ” e a data de seu efetivo cumprimento (implantação do benefício), que deve ser realizado por folha suplementar. Importante observar, ainda, que o pagamento dos valores por força de decisão judicial não extrapolará o limite exigido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, pois o artigo 19, § 1º, da Lei Complementar nº 101/2000, é claro ao determinar que:
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"Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados: § 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste artigo, não serão computadas as despesas: (...) IV - decorrentes de decisão judicial e da competência de período anterior ao da apuração a que se refere o § 2º do art. 18;" No mesmo sentido, entendendo que as despesas originárias de decisões judiciais não são computadas para verificação do atendimento dos limites fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal, eis as seguintes decisões do colendo Superior Tribunal de Justiça:
"DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PRETERIÇÃO NA ORDEM CLASSIFICATÓRIA. ILEGALIDADE RECONHECIDA. EFEITOS FINANCEIROS E FUNCIONAIS DEVIDOS DESDE A DATA DA IMPETRAÇÃO. PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. DESNECESSIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELO ESTADO DE GOIÁS E POR EDUARDO DE SOUSA LEMOS E OUTRO REJEITADOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA E OUTRO ACOLHIDOS. 1. Nos termos dos arts. 1º da Lei 5.021/66 e 14, § 4º, da Lei 12.016/09, o pagamento de vencimentos e vantagens concedidos a servidor público em mandado de segurança serão realizados relativamente às prestações que se vencerem a partir da data da impetração. 2. As restrições sobre as despesas com pessoal, previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, não incidem quando decorrerem de decisões judiciais, nos termos do art. 19, § 1º, IV, da LC 101/00. 3. Reconhecida a ilegalidade do ato que impediu a nomeação dos embargantes no cargo de Auditor do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás, são devidos todos os direitos do cargo, financeiros e funcionais, a partir da data da impetração do mandamus. 4. Embargos de declaração opostos pelo ESTADO DE GOIÁS e por EDUARDO DE SOUSA LEMOS e OUTRO rejeitados. Embargos de declaração opostos por MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA e
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OUTRO acolhidos para, sanando a omissão apontada, esclarecer que são devidos aos embargantes todos os direitos do cargo, inclusive os funcionais, a partir da data da impetração." (EDcl no RMS nº 26.593/GO - 5ª Turma - Relator: Min. Arnaldo Esteves Lima - Julgado em 23.03.2010 - DJe de 26.04.2010) (grifo nosso) Reforçando o entendimento supra: "PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO. GRATIFICAÇÃO DE ATIVIDADE TÉCNICA. EQUIPARAÇÃO COM SERVIDORES EM ATIVIDADE. CABIMENTO. OFENSA À LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. NÃO-OCORRÊNCIA. LEI 'CAMATA'. INAPLICABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de que não incidem as restrições sobre as despesas com pessoal, previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, quando decorrerem de decisões judiciais, nos termos do art. 19, § 1º, IV, da LC 101/00. 2. Segundo o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, a Lei 'Camata', que regulamentou o art. 169 da Constituição Federal de 1988, ao fixar os limites de despesas com pessoal dos entes públicos, não pode servir de fundamento para elidir o direito dos servidores públicos à fruição de vantagem já assegurada por lei. 3. Recurso especial conhecido e improvido." (REsp nº 935.418/AM - 5ª Turma - Relator: Min. Arnaldo Esteves Lima - Julgado em 19.02.2009 - DJe de 16.03.2009) (grifo nosso) Igualmente: "RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTADUAL. INCORPORAÇÃO DE GRATIFICAÇÃO. OFENSA AO ART. 21, I, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 101/2000. NÃO-OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 19, § 1º, IV, DESSE MESMO DIPLOMA LEGAL. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DO NECESSÁRIO CONFRONTO ANALÍTICO. 1. Esta Casa possui orientação firme, referida na decisão atacada (AgRg na SS 1231/SC, Rel. Min. Edson Vidigal, Corte Especial), no sentido de que não incidem as restrições de despesa com pessoal previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal quando estiver em jogo o cumprimento de decisões judiciais, a teor do seu art. 19, § 1º, IV, 2. A falta de cumprimento do disposto nos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, § 2º, do RISTJ, que determinam a realização do cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os paradigma trazido
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à colação, obsta o conhecimento do recurso pela alínea 'c' do permissivo constitucional. 3. Agravo regimental improvido." (AgRg no REsp nº 757.060/PB - 6ª Turma - Relatora: Min. Maria Thereza de Assis Moura - Julgado em 12.06.2008 - DJe de 30.06.2008) (grifo nosso) Por fim: "SUSPENSÃO DE SEGURANÇA - AGRAVO REGIMENTAL - INTERVENÇÃO DO MP - NÃO OBRIGATORIEDADE - REINTEGRAÇÃO DE SERVIDORES - CONTRAPRESTAÇÃO EM SERVIÇOS -LEI DE RESPONSABILIDADE FISCALL - NÃO CONFIGURAÇÃO DA LESÃO À ECONOMIA PÚBLICA 1. É faculdade do Presidente do Tribunal oportunizar a intervenção do Ministério Público no pedido de Suspensão de Segurança; 2. A via de Suspensão de Segurança não se presta ao conhecimento de razões de mérito do Mandado de Segurança; 3. Em compensação à reintegração dos servidores, há a contraprestação do efetivo serviço por eles prestados. Ademais, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00, art. 19, § 1º, IV) excetua a restrição com gastos com pessoal quando há decisão judicial. Não há que falar, pois, em lesão à economia pública; 4. Não trouxe o Município elementos que permitam avaliar a possível influência dos agravados na condução do processo administrativo instaurado para apurar alegadas irregularidades em concurso público. 5. Agravo Regimental não provido." (AgRg na SS nº 1.231/SC - Corte Especial - Relator: Min. Edson Vidigal - Julgado em 25.10.2004 - DJ de 22.11.2004, p. 253) (grifo nosso) Portanto, não há que se falar em ofensa aos limites de gastos com pessoal imposto pela Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), eis que neles não se inserem os valores decorrentes de decisão judicial, como ocorre na hipótese em apreço.
Desse modo, deve a autoridade coatora promover o pagamento dos
valores devidos aos impetrantes, relativos às parcelas vencidas desde a data da concessão (fevereiro de 2004) até o efetivo cumprimento (maio de 2004), por meio de inclusão em folha suplementar de pagamento, não se aplicando o rito previsto no artigo 730 do CPC, por ser essa forma de execução incompatível com a estrutura constitucional do Mandado de Segurança.
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Estando a execução embasada em título executivo judicial, que reúne os requisitos legais, deve esta continuar, devendo se verificar o prosseguimento do feito em seus ulteriores termos.
Assim, rejeito a presente exceção de pré-executividade.
É como voto.
Presidiu a Sessão, com voto, o Excelentíssimo Senhor
Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira, decano, no exercício da Presidência. Relator: Dr. Ricardo Vital de Almeida (Juiz Convocado , à época, para substituir o Des. José Aurélio da Cruz). Participaram ainda do julgado os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Marcos William de Oliveira (Juiz convocado para substituir o Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides), Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho) e Maria das Graças Morais Guedes. Ausente, justificadamente, o Exmo. Sr. Des. João Alves da Silva (férias). Presente à sessão, representado o Ministério Público, o Excelentíssimo Senhor Doutor Francisco Seráfico Ferraz da Nóbrega Filho, Promotor de Justiça convocado. Segunda Seção Especializada Cível, Sala de Sessões do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, no dia 21 de agosto de 2013.
Ricardo Vital de Almeida
JUIZ CONVOCADO/RELATOR
Exceção de Pré-Executividade nº 888.2003.006152-2/001 13