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ESTADO DA PARAÍBA

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GAB. DES. JOSÉ AURÉLIO DA CRUZ

Exceção de Pré-Executividade no Mandado de Segurança nº 888.2003.006152-2/001


Relator: Dr. Ricardo Vital de Almeida, Juiz Convocado em substituição ao Des. José
Aurélio da Cruz.
Exequente: Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da polícia Militar do Estado da
Paraíba.
Advogado: Márcio Henrique Carvalho Garcia.
Executado: Estado da Paraíba, representado por seu Procurador Deraldino Alves de
Araújo Filho.

ACÓRDÃO

EXECUÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
ALEGAÇÃO DE ILIQUIDEZ DO TÍTULO E
INDISPONIBILIDADE FINANCEIRA.
EXIGÊNCIA DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
APLICAÇÃO DO INCIDENTE DE RECURSO
REPETITIVO PROFERIDO PELO STJ NO
REsp 1104900-ES. IMPOSSIBILIDADE DE
APRECIAÇÃO. SUBMISSÃO DA QUANTIA
DEVIDA ENTRE A DATA DA CONCESSÃO AO
EFETIVO CUMPRIMENTO. PAGAMENTO
DEVIDO POR MEIO DE FOLHA
SUPLEMENTAR. PRECEDENTES DO STJ.
REJEIÇÃO DA EXCEÇÃO.
- O Superior Tribunal de Justiça, em incidente de
recurso repetitivo no REsp 1104900-ES,
reafirmou que é cabível a objeção de
executividade quando se tratar de matérias de
ordem pública ou que não exijam dilação
probatória.
- A argumentação apresentada, referente à
iliquidez do título e indisponibilidade financeira,
não é passível de análise em sede de exceção
de pré-executividade, porque esta não é a

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medida adequada, até mesmo porque há fatos
ensejadores à dilação probatória.
− A decisão proferida nos autos está em
consonância com a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça, que assentou a orientação
de que, em sede de Mandado de Segurança, o
pagamento das parcelas compreendidas entre a
data da concessão até o cumprimento da
decisão independe do rito do precatório previsto
no artigo 730 do CPC.
− As despesas originárias de decisões judiciais
não são computadas para verificação do
atendimento dos limites fixados na Lei de
Responsabilidade Fiscal.

VISTOS, relatados e discutidos os autos acima identificados.


ACORDAM os integrantes da Segunda Seção Especializada Cível
do Colendo Tribunal de Justiça em rejeitar a Exceção de Pré-Executividade, à
unanimidade, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl.447.
RELATÓRIO
Cuida-se de Exceção de Pré-Executividade ajuizada pelo Estado
da Paraíba (impetração contra ato do Sr. Secretário da Administração do Estado),
em face de decisão que determinou o pagamento de diferenças devidas aos
associados da Caixa Beneficente dos Oficiais e Praças da Polícia Militar do
Estado da Paraíba.
Ressalta, o Estado da Paraíba, em síntese, matéria de ordem
pública referente à forma de pagamento dos valores devidos nos autos do
Mandado de Segurança em estudo, pois entende que o débito deve ser executado
de acordo com o rito previsto no artigo 730 do Código de Processo Civil, cujo
pagamento dar-se-á mediante precatório de caráter alimentar.
Aduz, ainda, não possuir disponibilidade financeira a realizar os
pagamentos, já que à quitação em folha suplementar implicaria num montante de
05 (cinco) milhões de reais. Relata, também, que o débito a ser pago é ilíquido e
ressaltou surpresa Estatal, uma vez que a fase de execução foi determinada em
desacordo com o artigo 730 do Código de Processo Civil.
Ao final, pediu a declaração de nulidade da execução em cotejo, e
que seja determinada nova liquidação do julgado, mediante apresentação de
documentação a comprovar possuírem os associados, realmente, os cursos
previstos em lei e capazes de ensejar a percepção da gratificação alvejada; assim
também seja determinado o adimplemento do pagamento através da expedição de
precatórios.

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Resposta à Exceção de Pré-Executividade às fls. 425/434,
alegando, em síntese, que o valor executado é líquido, pois foi apresentada
planilha discriminando os valores devidos e o Estado da Paraíba foi citado para
opor Embargos à Execução, porém não o fez.
Relata, ainda, inexistir nulidade na execução, pois o crédito de cada
associado inclui-se no conceito de pequeno valor, sendo correspondente a:
Soldado: R$ 244,64 (duzentos e quarenta e quatro reais e sessenta e quatro
centavos); Cabo: R$ 300,83 (trezentos reais e oitenta e três centavos); 3º
Sargento: R$ 401,70 (quatrocentos e um reais e setenta centavos); 2º Sargento:
R$ 478,12 (quatrocentos e setenta e oito reais e doze centavos); 1º Sargento: R$
555,97 (quinhentos e cinquenta e cinco reais e noventa e sete centavos);
Aspirante/Sub. Tenente: R$ 633,76 (seiscentos e trinta e três centavos e setenta e
seis centavos); 2º Tenente: R$ 722,76 (setecentos e vinte e dois reais e setenta e
seis centavos); 1º Tenente: R$ 800,56 (oitocentos reais e cinquenta e seis
centavos); Capitão: R$ 878,41 (oitocentos e setenta e oito reais e quarenta e um
centavos); Major: R$ 937,77 (novecentos e trinta e sete reais e setenta e sete
centavos); Tenente Cel.: R$ 1.043,03 (um mil e quarenta e três reais e três
centavos) e Coronel: R$ 1.111,77 (um mil e cento e onze mil reais e setenta e sete
centavos).
Ao final, pede seja rejeitada a exceção, já que a importância
executada decorre exclusivamente do período entre a concessão do mandamus
(fevereiro de 2004) e o cumprimento do julgado (maio/abril de 2004).
Parecer da D. Procuradoria de Justiça às fls. 440/442, pelo regular
processamento do incidente, sem manifestação de mérito.
É o relatório.
Voto.
1 - Iliquidez do Título e Indisponibilidade Financeira.
O Estado da Paraíba apresenta como um dos fundamentos da
presente exceção de pré-executividade o fato do débito ser ilíquido, pugnando por
uma nova liquidação do julgado, mediante apresentação de documentos capazes
de comprovar que os associados possuem os cursos previstos em lei, capazes de
ensejar a percepção da gratificação concedida no “writ”.
Fundamenta, também, que o Estado da Paraíba não possui
disponibilidade financeira a proceder ao pagamento em folha suplementar, pois os
valores implica em um montante de 5 (cinco) milhões de reais.
Importante, e de modo preambular, fazer a ressalva de que se
admite a objeção de executividade quando, de imediato, e objetivamente, não se
vislumbram os requisitos indispensáveis à executoriedade do crédito, por se
tratarem de matérias de ordem pública, reconhecíveis de ofício pelo juiz, ou
matérias que não exigem dilação probatória.
Assim, quando a situação, para seu deslinde, reclama atividade
cognitiva, cabível não é a objeção de executividade. Essa via excepcional somente

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tem sido admitida, como forma de defesa direta do devedor nos próprios autos da
execução, se de plano ficar demonstrada a ausência de uma das condições da
ação ou de pressupostos processuais, cujas matérias podem e devem ser
conhecidas de ofício pelo juiz.
A propósito, o Superior Tribunal de Justiça, em incidente de
recurso repetitivo no REsp 1104900-ES, reafirmou ser cabível a objeção de
executividade ao se tratar de matérias de ordem pública ou que não exijam
dilação probatória:
“PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SUBMETIDO À
SISTEMÁTICA PREVISTA NO ART. 543-C DO CPC. EXECUÇÃO
FISCAL. INCLUSÃO DOS REPRESENTANTES DA PESSOA
JURÍDICA, CUJOS NOMES CONSTAM DA CDA, NO PÓLO
PASSIVO DA EXECUÇÃO FISCAL. POSSIBILIDADE. MATÉRIA DE
DEFESA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. EXCEÇÃO
DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. INVIABILIDADE.RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO.
1. A orientação da Primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido
de que, se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica,
mas o nome do sócio consta da CDA, a ele incumbe o ônus da
prova de que não ficou caracterizada nenhuma das circunstâncias
previstas no art. 135 do CTN, ou seja, não houve a prática de atos
"com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos".
2. Por outro lado, é certo que, malgrado serem os embargos à
execução o meio de defesa próprio da execução fiscal, a
orientação desta Corte firmou-se no sentido de admitir a
exceção de pré-executividade nas situações em que não se faz
necessária dilação probatória ou em que as questões possam
ser conhecidas de ofício pelo magistrado, como as condições
da ação, os pressupostos processuais, a decadência, a
prescrição, entre outras.
3. Contudo, no caso concreto, como bem observado pelas
instâncias ordinárias, o exame da responsabilidade dos
representantes da empresa executada requer dilação probatória,
razão pela qual a matéria de defesa deve ser aduzida na via própria
(embargos à execução), e não por meio do incidente em comento.
4. Recurso especial desprovido. Acórdão sujeito à sistemática
prevista no art. 543-C do CPC, c/c a Resolução 8/2008 –
Presidência/STJ.” (REsp 1104900/ES, Rel. Ministra DENISE
ARRUDA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe
01/04/2009) (grifei)
Ainda:

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“PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-
EXECUTIVIDADE.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA FIRMADA PELA
ORIGEM. NÃO CABIMENTO DA EXCEÇÃO. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 7/STJ.
1. Embargos de declaração que não se enquadram em nenhuma
das hipóteses previstas no art. 535 do CPC, podendo ser recebidos
como agravo regimental, em prestigio ao princípio da fungibilidade
recursal.
2. Só é cabível exceção de pré-executividade quando atendidos
simultaneamente dois requisitos, um de ordem material e outro
de ordem formal: a) que a matéria invocada seja suscetível de
conhecimento de ofício pelo juiz; e b) que a decisão possa ser
tomada sem necessidade de dilação probatória.
3. Na espécie, o Tribunal de origem expressou entendimento de que
"a apreciação da lide posta a desate, neste momento, deve se cingir
à análise da pertinência subjetiva da demanda, relegando-se a
apuração da existência de responsabilidade a eventuais embargos à
execução, por se tratar de matéria fática de fundo, sujeita à
instrução probatória".
4. A revisão do entendimento referido exige o reexame do acervo
fático-probatório do processado, o que é inviável na via do recurso
especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
5. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao
qual se nega provimento.” (EDcl no AgRg no REsp 1217385/SP,
Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado
em 16/04/2013, DJe 19/04/2013) (grifei)
“AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. NÃO CABIMENTO.
SÚMULA 7. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO. DECISÃO
AGRAVADA MANTIDA.
1.- Não há que se falar em violação do artigo 535 do CPC, pois,
apesar de rejeitados os embargos de declaração, a matéria em
exame foi devidamente enfrentada pelo Colegiado de origem, que
sobre ela emitiu pronunciamento de forma fundamentada, ainda que
em sentido contrário à pretensão do Recorrente.

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2.- A exceção de pré-executividade não é cabível quando as
questões suscitadas dependerem de prova ou da análise de
disposições contratuais.
3.- No caso, para afastar a conclusão do Tribunal a quo quanto à
necessidade de "dilação probatória", necessário seria o reexame de
circunstâncias fáticas da causa, o que é vedado nesta sede
excepcional, a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte.
4.- Quanto ao pretendido dissenso jurisprudencial, observa-se
evidente deficiência na interposição do recurso, tendo em vista o
disposto no artigo 541 do Código de Processo Civil e os §§ 1º e 2º
(cotejo) do artigo 255 do Regimento Interno desta egrégia Corte,
pois ausente o necessário cotejo analítico.
5.- Ainda que assim não fosse, o Tribunal a quo concluiu com base
no conjunto fático-probatório, assim, impossível se torna o confronto
entre os paradigmas e o Acórdão recorrido, uma vez que a
comprovação do alegado dissenso reclama consideração sobre a
situação fática própria de cada julgamento, o que não é possível de
se realizar nesta via especial, por força do enunciado 07 da Súmula
desta Corte.
6.- O agravo não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a
conclusão do julgado, a qual se mantém por seus próprios
fundamentos.
7.- Agravo Regimental improvido.” (AgRg no AREsp 297.550/RJ,
Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em
14/05/2013, DJe 05/06/2013)
No caso, a argumentação apresentada, referente à iliquidez do
título e indisponibilidade financeira, não é passível de análise em sede de
exceção de pré-executividade, porque esta não é a medida adequada, até mesmo
porque há fatos a poderem ensejar a dilação probatória.
Importante, ainda, ressaltar que o impetrante apresentou a
liquidação dos valores nos termos da petição e planilhas de fls. 313/327, indicando
o valor devido a cada militar, no período compreendido entre a concessão da
ordem e o efetivo cumprimento do julgado, porém o Estado da Paraíba, apesar de
ter sido regularmente citado para opor Embargos à Execução (fls. 329/333), não o
fez, nos termos da certidão de fls. 335.
Outrossim, ressalto que o único ponto passível de apreciação nesta
sede é referente à forma de pagamento das verbas devidas que, no caso, será
objeto de apreciação no próximo tópico.
De resto, o pedido de iliquidez do título e indisponibilidade
financeira não merece conhecimento, pois a matéria deve ser discutida em
peça processual pertinente, que não a Exceção de Pré-Executividade.

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2 - Forma de Pagamento das Verbas Devidas em Sede de
Mandado de Segurança.
O Estado da Paraíba alega existir matéria de ordem pública a ser
enfrentada, pois a forma de pagamento dos valores devidos nos autos do
Mandado de Segurança em estudo deve ser executada de acordo com o rito
previsto no artigo 730 do Código de Processo Civil, cujo pagamento dar-se-á
mediante precatório de caráter alimentar.
A controvérsia cinge-se em verificar se existe a possibilidade de se
expedir ordem ao Estado da Paraíba para efetuar o pagamento das verbas
vencidas entre a concessão do “mandamus” (fevereiro de 2004) e o efetivo
cumprimento do julgado (maio de 2004) através de folha suplementar.
No caso em comento, tenho que a r. decisão é oriunda de execução
de título judicial, constituído nos autos do Mandado de Segurança, nos termos do
qual foi concedida a ordem para determinar o descongelamento da parcela
denominada de Habilitação Policial Militar”, que havia sido congelada pela Lei
Complementar Estadual nº 50/2003.
Observo, ainda, dos autos que a impetração do “mandamus” deu-se
em 13/06/03 (fl. 02); o acórdão concedendo a segurança foi publicado em
fevereiro de 2004 (fl. 78), sendo certo que o efetivo cumprimento da obrigação
pelo Estado da Paraíba deu-se somente em maio de 2004, como aponta a petição
de fl. 313.
Com efeito, o artigo 14, § 4º, da Lei nº 12.016/2009, confere ao
impetrante o direito de recebê-las, nos próprios autos do Mandado de Segurança,
e o faz da seguinte forma:
“Art. 14 O pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias
assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a
servidor público da administração direta ou autárquica federal,
estadual e municipal, somente será efetuado relativamente às
prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento da
inicial”.
Assim, em razão da natureza mandamental da sentença concessiva
da ordem, prescinde-se instaurar processo executivo contra a Fazenda Pública,
cabendo desde logo a reparação pecuniária, a ser apurada em simples liquidação
por cálculos e executada nos próprios autos (art. 1º, caput e § 3º, da lei nº 5.021/66
c/c art. 604 do CPC), sendo assim rejeitada a tese do Estado da Paraíba de
violação ao princípio do “venire contra factum proprium”.
Devo anotar, também que, a ser levado, como de fato e direito levo,
em consideração o benefício financeiro de cada associado, cujo valor máximo é da
patente de Coronel (R$ 1.111,77), seria o caso de expedição de requisitório de
pequeno valor (RPV), motivo pelo qual não deveria ocorrer a expedição de
precatório, em observância ao comando legal do artigo 100, § 3º da Constituição
Federal, in verbis:

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“Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,
Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação
dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e
nos créditos adicionais abertos para este fim.
(…)
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de
precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas
em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam
fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado.”
No específico caso dos autos, é importante consignar: os valores
determinados ao pagamento através de folha suplementar, referem-se ao
período compreendido entre a concessão da segurança (fevereiro de 2004)
até o efetivo cumprimento do julgado (maio de 2004).
Ademais, a decisão proferida nos autos está em consonância com a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, que assentou a orientação de que,
em sede de Mandado de Segurança, o pagamento das parcelas compreendidas
entre a data da concessão, até o cumprimento da decisão, independe do rito do
precatório previsto no artigo 730 do CPC.
Confira-se, a propósito, o seguinte entendimento Colegiado, in
verbis:
“AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL.
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE
SEGURANÇA. RESTABELECIMENTO DE VANTAGEM
PECUNIÁRIA. EXECUÇÃO. PARCELAS VENCIDAS APÓS A
SENTENÇA CONCESSIVA. INCLUSÃO EM FOLHA DE
PAGAMENTO. INAPLICABILIDADE DO RITO DO PRECATÓRIO
(ART. 730 DO CPC).
1. A jurisprudência dominante neste Tribunal Superior é no
sentido de que, tratando-se de restabelecimento de vantagem
pecuniária a servidor público, não se aplica o rito do precatório,
previsto no art. 730 do Código de Processo Civil, às verbas
devidas entre a sentença concessiva do writ e a data de seu
efetivo cumprimento.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.”(AgRg no Resp
1101895/BA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA
TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 15/02/2013)(grifei)
“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL. SERVIDOR PÚBLICO. MANDADO DE
SEGURANÇA. PARCELAS VENCIDAS ANTES DA CONCESSÃO
DA SEGURANÇA. SUBMISSÃO AO REGIME DE PRECATÓRIO.

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1. Por preponderar carga de eficácia mandamental na sentença
concessiva de segurança, é cabível a adoção de medidas
coercitivas imediatas, dispensando o processo de execução
autônomo para cumprimento da ordem ali concedida, bem como o
trânsito em julgado da sentença, que pode ser executada
provisoriamente, conforme previsão da própria Lei n. 12.016/90, art.
14, § 3º. Nessa seara, o pagamento dos vencimentos e demais
vantagens pecuniárias devidos ao servidor público, atinentes
ao interstício de tempo compreendido entre a data da decisão
concessiva da segurança e a data do efetivo cumprimento, é
feito mediante inclusão em folha suplementar de pagamento,
não se aplicando o regime do precatório, na forma prescrita no
art. 100, caput, da Constituição Federal c.c. o art.730 do Código
de Processo Civil. Precedentes: AgRg no REsp 1.200.890/BA,
Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, DJe de 04/02/2011;
AgRg nos EDcl no Ag 814.919/GO, 5.ª Turma, Rel. Min. JORGE
MUSSI, DJe de 13/09/2010.
2. Por outro lado, relativamente aos efeitos financeiros pretéritos, o
fato de constar na parte dispositiva a determinação imediata do
ressarcimento dos vencimentos e demais vantagens, ainda que
possa gerar alguma dúvida quanto ao seu alcance, significa tão
somente que fica dispensado o processo autônomo de execução,
além de prescindir do trânsito em julgado da decisão. Isso porque,
em virtude da norma constitucional expressa acerca do pagamento
de débitos pela Fazenda Pública, os pagamentos devem ser
adimplidos com a estrita observância do sistema de precatório.
Nesse sentido, é firme a orientação desta Corte no sentido de que
"o cumprimento do julgado se submete ao inarredável regime
constitucional de precatório para os débitos da Fazenda Pública,
nada importando eventual natureza alimentar e o fato do débito ser
derivado de sentença concessiva de segurança." (Rcl 4924 / DF,
relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, DJe
10/02/2012) 3. Agravo regimental não provido.” (AgRg no MS
17.499/DF, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10/04/2013, DJe 18/04/2013)(grifei)
Feitas essas considerações, clara está a posição jurisprudencial
quanto ao pagamento das parcelas compreendidas entre a decisão concessiva do
“writ” e a data de seu efetivo cumprimento (implantação do benefício), que deve
ser realizado por folha suplementar.
Importante observar, ainda, que o pagamento dos valores por força
de decisão judicial não extrapolará o limite exigido pela Lei de Responsabilidade
Fiscal, pois o artigo 19, § 1º, da Lei Complementar nº 101/2000, é claro ao
determinar que:

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"Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da
Constituição, a despesa total com pessoal, em cada período de
apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os
percentuais da receita corrente líquida, a seguir discriminados:
§ 1o Na verificação do atendimento dos limites definidos neste
artigo, não serão computadas as despesas:
(...)
IV - decorrentes de decisão judicial e da competência de período
anterior ao da apuração a que se refere o § 2º do art. 18;"
No mesmo sentido, entendendo que as despesas originárias de
decisões judiciais não são computadas para verificação do atendimento dos limites
fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal, eis as seguintes decisões do colendo
Superior Tribunal de Justiça:

"DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO


RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
CONCURSO PÚBLICO. PRETERIÇÃO NA ORDEM
CLASSIFICATÓRIA. ILEGALIDADE RECONHECIDA. EFEITOS
FINANCEIROS E FUNCIONAIS DEVIDOS DESDE A DATA DA
IMPETRAÇÃO. PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA.
DESNECESSIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS
PELO ESTADO DE GOIÁS E POR EDUARDO DE SOUSA LEMOS
E OUTRO REJEITADOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
OPOSTOS POR MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA E OUTRO
ACOLHIDOS.
1. Nos termos dos arts. 1º da Lei 5.021/66 e 14, § 4º, da Lei
12.016/09, o pagamento de vencimentos e vantagens concedidos a
servidor público em mandado de segurança serão realizados
relativamente às prestações que se vencerem a partir da data da
impetração.
2. As restrições sobre as despesas com pessoal, previstas na
Lei de Responsabilidade Fiscal, não incidem quando
decorrerem de decisões judiciais, nos termos do art. 19, § 1º,
IV, da LC 101/00.
3. Reconhecida a ilegalidade do ato que impediu a nomeação dos
embargantes no cargo de Auditor do Tribunal de Contas dos
Municípios do Estado de Goiás, são devidos todos os direitos do
cargo, financeiros e funcionais, a partir da data da impetração do
mandamus.
4. Embargos de declaração opostos pelo ESTADO DE GOIÁS e
por EDUARDO DE SOUSA LEMOS e OUTRO rejeitados. Embargos
de declaração opostos por MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA e

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OUTRO acolhidos para, sanando a omissão apontada, esclarecer
que são devidos aos embargantes todos os direitos do cargo,
inclusive os funcionais, a partir da data da impetração." (EDcl no
RMS nº 26.593/GO - 5ª Turma - Relator: Min. Arnaldo Esteves Lima
- Julgado em 23.03.2010 - DJe de 26.04.2010) (grifo nosso)
Reforçando o entendimento supra:
"PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.
SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO. GRATIFICAÇÃO DE
ATIVIDADE TÉCNICA. EQUIPARAÇÃO COM SERVIDORES EM
ATIVIDADE. CABIMENTO. OFENSA À LEI DE
RESPONSABILIDADE FISCAL. NÃO-OCORRÊNCIA. LEI
'CAMATA'. INAPLICABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no
sentido de que não incidem as restrições sobre as despesas
com pessoal, previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal,
quando decorrerem de decisões judiciais, nos termos do art.
19, § 1º, IV, da LC 101/00.
2. Segundo o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, a Lei
'Camata', que regulamentou o art. 169 da Constituição Federal de
1988, ao fixar os limites de despesas com pessoal dos entes
públicos, não pode servir de fundamento para elidir o direito dos
servidores públicos à fruição de vantagem já assegurada por lei.
3. Recurso especial conhecido e improvido." (REsp nº 935.418/AM
- 5ª Turma - Relator: Min. Arnaldo Esteves Lima - Julgado em
19.02.2009 - DJe de 16.03.2009) (grifo nosso)
Igualmente:
"RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL.
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR ESTADUAL. INCORPORAÇÃO DE
GRATIFICAÇÃO. OFENSA AO ART. 21, I, DA LEI
COMPLEMENTAR Nº 101/2000. NÃO-OCORRÊNCIA. APLICAÇÃO
DO ART. 19, § 1º, IV, DESSE MESMO DIPLOMA LEGAL. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. AUSÊNCIA DO
NECESSÁRIO CONFRONTO ANALÍTICO.
1. Esta Casa possui orientação firme, referida na decisão
atacada (AgRg na SS 1231/SC, Rel. Min. Edson Vidigal, Corte
Especial), no sentido de que não incidem as restrições de
despesa com pessoal previstas na Lei de Responsabilidade
Fiscal quando estiver em jogo o cumprimento de decisões
judiciais, a teor do seu art. 19, § 1º, IV, 2. A falta de cumprimento
do disposto nos artigos 541, parágrafo único, do Código de
Processo Civil e 255, § 2º, do RISTJ, que determinam a realização
do cotejo analítico entre o acórdão recorrido e os paradigma trazido

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à colação, obsta o conhecimento do recurso pela alínea 'c' do
permissivo constitucional.
3. Agravo regimental improvido." (AgRg no REsp nº 757.060/PB -
6ª Turma - Relatora: Min. Maria Thereza de Assis Moura - Julgado
em 12.06.2008 - DJe de 30.06.2008) (grifo nosso)
Por fim:
"SUSPENSÃO DE SEGURANÇA - AGRAVO REGIMENTAL -
INTERVENÇÃO DO MP - NÃO OBRIGATORIEDADE -
REINTEGRAÇÃO DE SERVIDORES - CONTRAPRESTAÇÃO EM
SERVIÇOS -LEI DE RESPONSABILIDADE FISCALL - NÃO
CONFIGURAÇÃO DA LESÃO À ECONOMIA PÚBLICA 1. É
faculdade do Presidente do Tribunal oportunizar a intervenção do
Ministério Público no pedido de Suspensão de Segurança;
2. A via de Suspensão de Segurança não se presta ao
conhecimento de razões de mérito do Mandado de Segurança;
3. Em compensação à reintegração dos servidores, há a
contraprestação do efetivo serviço por eles prestados. Ademais, a
Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/00, art. 19, § 1º, IV) excetua
a restrição com gastos com pessoal quando há decisão judicial. Não
há que falar, pois, em lesão à economia pública;
4. Não trouxe o Município elementos que permitam avaliar a
possível influência dos agravados na condução do processo
administrativo instaurado para apurar alegadas irregularidades em
concurso público.
5. Agravo Regimental não provido." (AgRg na SS nº 1.231/SC -
Corte Especial - Relator: Min. Edson Vidigal - Julgado em
25.10.2004 - DJ de 22.11.2004, p. 253) (grifo nosso)
Portanto, não há que se falar em ofensa aos limites de gastos
com pessoal imposto pela Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal), eis que neles não se inserem os valores
decorrentes de decisão judicial, como ocorre na hipótese em apreço.

Desse modo, deve a autoridade coatora promover o pagamento dos


valores devidos aos impetrantes, relativos às parcelas vencidas desde a data da
concessão (fevereiro de 2004) até o efetivo cumprimento (maio de 2004), por meio
de inclusão em folha suplementar de pagamento, não se aplicando o rito previsto
no artigo 730 do CPC, por ser essa forma de execução incompatível com a
estrutura constitucional do Mandado de Segurança.

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Estando a execução embasada em título executivo judicial, que
reúne os requisitos legais, deve esta continuar, devendo se verificar o
prosseguimento do feito em seus ulteriores termos.

Assim, rejeito a presente exceção de pré-executividade.

É como voto.

Presidiu a Sessão, com voto, o Excelentíssimo Senhor


Desembargador Romero Marcelo da Fonseca Oliveira, decano, no exercício da
Presidência. Relator: Dr. Ricardo Vital de Almeida (Juiz Convocado , à época, para
substituir o Des. José Aurélio da Cruz). Participaram ainda do julgado os
Excelentíssimos Senhores Desembargadores Marcos William de Oliveira (Juiz
convocado para substituir o Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides), Des.
Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho) e Maria das Graças Morais Guedes.
Ausente, justificadamente, o Exmo. Sr. Des. João Alves da Silva (férias).
Presente à sessão, representado o Ministério Público, o
Excelentíssimo Senhor Doutor Francisco Seráfico Ferraz da Nóbrega Filho,
Promotor de Justiça convocado.
Segunda Seção Especializada Cível, Sala de Sessões do Tribunal
de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, no dia 21 de agosto de 2013.

Ricardo Vital de Almeida


JUIZ CONVOCADO/RELATOR

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