Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“Movimento ascendente e
descendente em Português Europeu: os casos dos verbos subir e descer”. In Fátima Oliveira,
António Leal, Fátima Silva & Purificação Silvano (Eds.), Para Óscar Lopes: Estudos de
Linguística. Lisboa: Afrontamento.
segundo momento, concentramo-nos nos casos com «subir» e «descer» em que os SPs
D
99
Para Óscar Lopes
Abstract: In this paper, we describe several interpretations that the verbs «subir»
(climb, go up) and «descer» (go down) can convey in European Portuguese (EP) and
we relate these interpretations to the prepositions that can co-occur in the predications
under analysis.
We begin by presenting the data referring to the analysis of the occurrences of these
verbs in a written journalistic corpus, highlighting the different meanings that these
verbs can assume. Afterward, we review what is said in the literature concerning verbs
of manner of motion and directed motion verbs «ir» (go) and «vir» (come) (cf. Leal
& Oliveira, 2008; Leal, Oliveira & Silvano, 2018). We, then, focus our analysis on the
cases with «subir» and «descer» in which the PPs are interpreted as Goal, describing
them and putting forward some explanatory hypotheses. To that end, we use Bosque’s
proposal (2015), which argues that, when there is upward movement, Spanish language
can have three different types of Goals: «upper-place goal», when the upward move-
ment reaches a goal located at a higher place; «onto-goal», when the upward movement
ends on top of something; «end-of-path goal», when the upward movement takes place
along a path that has an endpoint. We show that this proposal is, generally speaking,
adequate to describe the data not only with «subir», but also with «descer» in EP.
The study that we carried out reveals that there is a relation between the readings
T
of Goal and the prepositions, inasmuch as: (i) the preposition «a» allows the three
AF
possible interpretations; (ii) the prepositions «para» and «até» admit the readings of
«upper place» and «onto», but not of «end-of-path goal».
Keywords: Semantics, Verbs of upward and downward movement, PP (Goal)
R
D
1. INTRODUÇÃO
100
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
no que concerne à sua combinação com SPs com a função semântica de Destino em
Português Europeu (PE). Para isso, num primeiro momento, descrevemos suma-
riamente os contextos de ocorrência dos verbos «subir» e «descer» num corpus
de PE, para nos concentrarmos posteriormente nos casos em que estes verbos se
combinam apenas com SPs com função de Destino. Num segundo momento, após
uma breve recapitulação de alguns trabalhos anteriores, partimos da caracteriza-
ção dos verbos de movimento ascendente em Espanhol, feita em Bosque (2015),
para propor uma explicação dos dados do PE no que concerne à combinação dos
verbos «subir» e «descer» com SPs encabeçados pelas preposições a, para e até,
relacionando com as interpretações possíveis dos SPs com função de Destino
e com a interpretação de toda a predicação, nomeadamente se esta denota um
movimento físico ou não físico. Os dados usados são extraídos de jornais on-line,
mas foram feitas também manipulações de exemplos, que foram posteriormente
testados por falantes nativos do PE.
2. DESCRIÇÃO DO CORPUS
T
AF
(2) Em autores como Talmy (2000), a leitura de movimento físico corresponde à noção de
«non fictive motion», enquanto a leitura de movimento não físico corresponde aos casos de
«fictive motion» com eventos.
101
Para Óscar Lopes
(4) a. Esperou que Hillary descesse (pôs-se a arrumar papéis), cumprimentou
o jornalista e ficou ali, de pé, no palco… (MF)
b. Quando a componente sem impostos baixa, a base sobre a qual o IVA
incide também desce e a receita segue o mesmo caminho. (MNF)
(5) a. Colocam depois os eletros no doente – o mais comum é ser um de cada
lado da cabeça, mas há técnicas em que se utiliza apenas um. «Traçamos
T
uma linha imaginária do canto do olho à ponta do ouvido, definimos o meio
dessa linha e nessa zona subimos cerca de dois centímetros.» (MF)
AF
descendente.
D
Para além disso, podem ocorrer SNs objetos diretos, em predicações com lei-
tura causativa (cf. (6)) e não causativa (cf. (7)).
Podem ainda ser encontrados casos em que os verbos são acompanhados apenas
por SPs com a função semântica de Origem (cf. (8)), ou por SPs de Origem e de
Destino (cf. (9)), encabeçados por preposições/locuções prepositivas diversas.
102
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
(8) a. A deusa do amor, enganada pelo gesto, desce do pedestal e resolve
investir todo o seu manancial de sedução na conquista de Hatch. (MF)
b. E foi nessa viagem que Soares desce do salto da presidência e se
transforma num português como os outros. (MNF)
(9) a. E por ali subimos, andar a andar, do armazém de sedas onde defla-
grou o incêndio ao consultório médico do Sr. Dr. (MF)
b. Segue-se Scarlett Johansson, que contracenou com Chris Evans em
Capitão América – Guerra Civil, a atriz Mila Kunis, que desceu da
segunda para a quarta posição, e Vin Diesel, que subiu da sétima
para a quinta. (MNF)
Por fim, ocorrem predicações apenas com SPs com a função de Destino enca-
beçados pelas preposições a (cf. (10)), para (cf. (11)) e até (cf. (12)), que serão
objeto de análise neste trabalho.
(10) a. Enquanto desce à terra onde a espera a desintegração, a cápsula não
T
tripulada vai servir de palco para vários incêndios controlados. (MF)
b. Mas como é que o conflito desceu a este inferno? (MNF)
AF
(11) a. Embora eu preferisse não expor aqui que se tratava de um taxista, era
realmente um taxista que subia com o carro cheio de jovens clientes para
um hostel no coração da cidade. (MF)
R
103
Para Óscar Lopes
Kennedy & McNally, 2005; Kennedy & Levin, 2008) e assumem que os verbos de
movimento, tal como os degree achievements, codificam uma estrutura escalar,
estrutura essa que, nos verbos de movimento, se encontra subespecificada no
R
104
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
(3) Veja-se, por exemplo, a caracterização dos dados do corpus feita na secção anterior: a
diversidade de contextos sintáticos em que subir e descer podem ocorrer é bastante superior
à dos verbos ir e vir.
105
Para Óscar Lopes
106
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
um SN objeto direto. Veja-se (15): (15a) ilustra a característica (i), que identifica
«onto goals»; (15b) mostra a diferença entre a interpretação de «a tu casa» (é
uma entidade que se desloca até à casa) e «tu casa» (é a entidade denotada por
«casa» que se desloca), pelo que não é possível a alternância que identifica os
«end-of-path goals».
107
Para Óscar Lopes
Sr. Dr.» («upper place goal»); em (17) essa entidade está, no fim do evento, sobre
a entidade denotada por «o palco» («onto goal»); em (18), a entidade desloca-se
ao longo de um percurso que é denotado por «um arranha-céus», percurso esse
que contém o seu ponto terminal.
(16) E por ali subimos, andar a andar, do armazém de sedas onde deflagrou o
incêndio ao consultório médico do Sr. Dr.
(17) Subiu ao palco com a bandeira portuguesa às costas…
(18) Depois, subiram a um arranha-céus tão alto, mas tão alto, que a sala
de reuniões era mais secreta do que uma cave de ladrões.
como em Bosque (2015), os sintagmas de tipo «upper place goal» são caracteriza-
dos por oposição aos restantes tipos na medida em que respondem negativamente
D
(16’) * E por ali subimos, andar a andar, o consultório médico do sr. dr.
(16’’) # E por ali subimos, andar a andar, acima do consultório médico
do sr. dr.
Por seu lado, no caso dos sintagmas de tipo «onto goal», embora não seja
possível a alternância com um SN objeto direto (cf. (17’)), é possível a alternân-
108
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
cia com um SP introduzido por «para cima de/ acima de» mantendo a mesma
interpretação (cf. (17’’)), ou seja, «ao palco», em (17), é equivalente a «para cima
do palco», em (17’’).
((cf. (19)). Da mesma forma, tanto com a preposição para, como com a preposição
até, num exemplo como (17) mantém-se a interpretação de «onto goal» (cf. (20)).
Contudo, enquanto no exemplo (18) o SP Destino com a tem uma interpretação
de «end-of-path goal», em (21), com para e com até, os SPs têm uma interpre-
tação de «upper place goal».
(19) a. E por ali subimos, andar a andar, para o consultório médico do
sr. Dr.
b. E por ali subimos, andar a andar, até ao consultório médico do sr. Dr.
(20) a. Subiu para o palco com a bandeira portuguesa às costas…
b. Subiu até ao palco com a bandeira portuguesa às costas…
(21) a. Depois, subiram para um arranha-céus (≠ Depois, subiram um
arranha-céus)
b. Depois, subiram até um arranha-céus (≠ Depois, subiram um
arranha-céus)
109
Para Óscar Lopes
(22) André Claro, aos 43 minutos, e Fábio Pacheco, aos 85, marcaram os golos
dos setubalenses, que subiram provisoriamente ao sexto lugar, com os
mesmos 13 pontos do Estoril-Praia.
(22’) * Os setubalenses subiram o sexto lugar
(22’’) */# Os setubalenses subiram para cima do sexto lugar
apenas exemplos com SPs introduzidos pela preposição a com leitura de «lower
place goal», conforme ilustrado em (23) e (24).
Contudo, parece-nos que, embora não atestados no corpus, pode haver casos
das outras duas leituras apontadas em Bosque (2015). Desta forma, em (25), o
SP «ao andaime» tem uma interpretação de «onto goal», podendo, por isso,
ser parafraseado por (25’). Já o SP «à gruta» em (26) tem uma interpretação de
«end-of-path goal», permitindo a alternância atestada em (26’).
110
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
Para além disso, tal como vimos com subir, também com descer há uma dimi-
nuição das interpretações possíveis quando substituímos a preposição a pelas
preposições para e até. Deste modo, os SPs introduzidos por para e até podem
ter a interpretação de «lower place goal» (a interpretação que se relaciona com
«upper place goal», com verbos de movimento ascendente), como em (27), que
são variações de (24). Para além disso, os SPs podem ter a interpretação de «onto
goal», como em (25) com a, mas também em (28), com para e até. Pelo contrário
(e tal como acontece com subir), com descer, a interpretação de «end-of-path
goal», ilustrada em (26), com a preposição a, desaparece com as preposições
para e até (cf. (29)).
T
(27) a. O Pai Natal apostou em atividades radicais e desceu para a vila a fazer
rappel. («lower place goal»)
AF
(30) São adeptos do Beira-Mar, o clube da cidade, que está a viver um forte
momento de crise – desceu à 2.ª divisão do campeonato da asso-
ciação de futebol de Aveiro.
(31) Em comparação com a lista da Forbes, Putin é destronado e desce ao 3.º
lugar.
111
Para Óscar Lopes
Tal como acontece com «subir», nos casos de MNF, também a única inter-
pretação possível é a de «lower place goal» (variante de «upper place goal»). As
interpretações de «onto goal» e de «end-of-path goal» parecem também estar
relacionadas com interpretações locativas dos objetos de referência. Vejam-se os
exemplos seguintes, que mostram que não é possível tanto a alternância com um
SN objeto direto (exemplos a) como com um SP introduzido por «para cima de»
(exemplos b).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
D
112
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»
Por fim, verificou-se a existência de uma relação entre estas leituras dos SPs
Destino e as leituras das predicações, dado que estas três leituras de «goal» dos
SPs só se atestam nos casos em que as predicações denotam eventos de movimento
físico; nos casos de movimento não físico, apenas está disponível a leitura de «upper
place goal» para «subir» e a leitura de «lower place goal» no caso de «descer».
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bosque, I. 2015. Inner and outer prepositions with Spanish verbs of vertical movement.
In: Elisa Barrajón López, José Luis Cifuentes Honrubia, Susana Rodríguez Rosi-
que (eds.) Verb Classes and Aspect. John Benjamins Publishing Company, 77-97.
Cordeiro, J.; Brazdil, P.; Leal, A. 2018. Empirical study of verbs and prepositions in
European Portuguese with recourse to Web/Text Mining. In: Leal, A. (Ed.). Verbs,
movement and prepositions. Porto: CLUP/FLUP, 103-122.
Kennedy, C. 2012. The Composition of Incremental Change. In: Demonte, V.; L. McNally
(eds), Telicity, Change, State: A Cross-categorical View of Event Structure. Oxford:
T
Oxford University Press, 103-121.
Kennedy, C.; McNally, L. 2005. Scale structure, degree modification, and the semantics
AF
113
Para Óscar Lopes
T
AF
R
D
114
PARTICULARITÉS DU QUANTIFICATEUR
UNIVERSEL PORTUGAIS CADA
Françoise Bacquelaine1
L’approche contrastive est empirique. Elle se fonde sur des corpus unilingues et
alignés explorables en ligne et, essentiellement, sur les recherches de Kleiber (2012),
Oliveira (2009) et Leal (2012). Kleiber analyse les trois QU français tous les, chaque et
R
115