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Leal, António; Oliveira, Fátima & Silvano, Purificação. (2018).

“Movimento ascendente e
descendente em Português Europeu: os casos dos verbos subir e descer”. In Fátima Oliveira,
António Leal, Fátima Silva & Purificação Silvano (Eds.), Para Óscar Lopes: Estudos de
Linguística. Lisboa: Afrontamento.

MOVIMENTO ASCENDENTE E DESCENDENTE


EM PORTUGUÊS EUROPEU:
OS CASOS DOS VERBOS «SUBIR» E «DESCER»

António Leal1 | Fátima Oliveira1 | Purificação Silvano1

Resumo: Neste trabalho, descrevemos diversas interpretações que os verbos


«subir» e «descer» podem assumir em Português Europeu (PE) e relacionamos essas
interpretações com as preposições que podem coocorrer nas predicações em análise.
T
Neste sentido, começamos por apresentar os dados referentes à análise das ocor-
AF

rências destes verbos em corpus jornalístico escrito, evidenciando as diversas aceções


que estes verbos podem assumir. De seguida, fazemos uma revisão do que é referido na
literatura relativamente aos verbos de modo de movimento e aos verbos de movimento
direcionado «ir/vir» (cf. Leal & Oliveira, 2008; Leal, Oliveira & Silvano, 2018). Num
R

segundo momento, concentramo-nos nos casos com «subir» e «descer» em que os SPs
D

são interpretados como Destino ou Alvo, descrevendo-os e avançando com hipóteses


explicativas. Para isso, recorremos à proposta de Bosque (2015), que defende que,
quando há movimento ascendente, o Espanhol pode apresentar três tipos distintos de
Destinos: os de tipo «upper-place», quando um movimento ascendente atinge uma
posição situada em local elevado; os de tipo «onto», quando um movimento ascen-
dente termina sobre algo; os de tipo «end-of-path», quando o movimento ascendente
ocorre ao longo de um percurso que contém o seu ponto terminal. Mostramos que esta
proposta é, em termos gerais, adequada para descrever os dados não só com «subir»,
como também com «descer» em PE.
O estudo realizado revela que há uma relação entre as leituras de Destino, ou «goal»,
e as preposições, na medida em que: (i) a preposição «a» admite as três leituras possí-
veis; (ii) as preposições «para» e «até» admitem as leituras de «upper place» e «onto»,
mas não a de «end-of-path goal».
Palavras-chave: Semântica, Verbos de movimento ascendente e descendente,
SP (Destino)

(1) Faculdade de Letras da Universidade do Porto e Centro de Linguística da Universidade


do Porto

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Para Óscar Lopes

Abstract: In this paper, we describe several interpretations that the verbs «subir»
(climb, go up) and «descer» (go down) can convey in European Portuguese (EP) and
we relate these interpretations to the prepositions that can co-occur in the predications
under analysis.
We begin by presenting the data referring to the analysis of the occurrences of these
verbs in a written journalistic corpus, highlighting the different meanings that these
verbs can assume. Afterward, we review what is said in the literature concerning verbs
of manner of motion and directed motion verbs «ir» (go) and «vir» (come) (cf. Leal
& Oliveira, 2008; Leal, Oliveira & Silvano, 2018). We, then, focus our analysis on the
cases with «subir» and «descer» in which the PPs are interpreted as Goal, describing
them and putting forward some explanatory hypotheses. To that end, we use Bosque’s
proposal (2015), which argues that, when there is upward movement, Spanish language
can have three different types of Goals: «upper-place goal», when the upward move-
ment reaches a goal located at a higher place; «onto-goal», when the upward movement
ends on top of something; «end-of-path goal», when the upward movement takes place
along a path that has an endpoint. We show that this proposal is, generally speaking,
adequate to describe the data not only with «subir», but also with «descer» in EP.
The study that we carried out reveals that there is a relation between the readings
T
of Goal and the prepositions, inasmuch as: (i) the preposition «a» allows the three
AF

possible interpretations; (ii) the prepositions «para» and «até» admit the readings of
«upper place» and «onto», but not of «end-of-path goal».
Keywords: Semantics, Verbs of upward and downward movement, PP (Goal)
R
D

1. INTRODUÇÃO

Os verbos «subir» e «descer» projetam predicações que podem assumir configu-


rações sintáticas bastante variadas. Assim, para além dos casos em que é realizado
um sintagma nominal (SN) com a função de objeto direto, encontram-se casos
de sintagmas preposicionais (SP) introduzidos por diversas preposições/locuções
prepositivas, com variadas funções semânticas, assim como casos de sintagmas de
medição ou ainda casos de «usos intransitivos» destes verbos. A esta diversidade
de configurações sintáticas corresponde uma diversidade de interpretações, que
aumenta quando se analisa com maior pormenor a contribuição de cada elemento
da predicação para a construção do significado. De facto, um SP encabeçado por
uma determinada preposição pode estar associado a diferentes interpretações,
que podem afetar toda a predicação e têm repercussão nas estruturas sintáticas
que são possíveis como paráfrases.
Este trabalho tem como objetivo contribuir para uma caracterização semântica
mais aprofundada das predicações com os verbos «subir/descer», nomeadamente

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

no que concerne à sua combinação com SPs com a função semântica de Destino em
Português Europeu (PE). Para isso, num primeiro momento, descrevemos suma-
riamente os contextos de ocorrência dos verbos «subir» e «descer» num corpus
de PE, para nos concentrarmos posteriormente nos casos em que estes verbos se
combinam apenas com SPs com função de Destino. Num segundo momento, após
uma breve recapitulação de alguns trabalhos anteriores, partimos da caracteriza-
ção dos verbos de movimento ascendente em Espanhol, feita em Bosque (2015),
para propor uma explicação dos dados do PE no que concerne à combinação dos
verbos «subir» e «descer» com SPs encabeçados pelas preposições a, para e até,
relacionando com as interpretações possíveis dos SPs com função de Destino
e com a interpretação de toda a predicação, nomeadamente se esta denota um
movimento físico ou não físico. Os dados usados são extraídos de jornais on-line,
mas foram feitas também manipulações de exemplos, que foram posteriormente
testados por falantes nativos do PE.

2. DESCRIÇÃO DO CORPUS
T
AF

O corpus analisado é constituído por frases extraídas de jornais portugueses


on-line no início de 2017. Este corpus contém 1418 exemplos com os verbos subir
ou descer (cf. Cordeiro, Brazdil & Leal, 2018).
R

Os exemplos encontrados correspondem, em alguns casos, a expressões lexica-


lizadas, como em (1), que não são analisadas neste trabalho. Contudo, na maioria
D

dos exemplos, os verbos em questão não fazem parte de expressões lexicalizadas


e as predicações em que se inserem descrevem situações eventivas de dois tipos:
(i) movimento físico, em que a situação corresponde a um evento em que uma
Figura se desloca, em sentido físico, de uma localização A até uma localização B
(cf. (2)); (ii) movimento não físico, em que a situação corresponde a um evento
em que uma Figura se desloca em sentido abstrato, e.g. ao longo de uma escala
(de temperatura, de valores, etc.) (cf. (3)).2

(1) Sara Sampaio foi promovida e subiu às nuvens. 


(2) Lá dentro, a chinfrineira aumentara porque o Chico topou uma escadinha
interior, desceu a galope e logo se pôs aos berros «acertei!»
(3) Psi 20 desceu ligeiramente, acompanhando a tendência das restantes
praças europeias.

(2) Em autores como Talmy (2000), a leitura de movimento físico corresponde à noção de
«non fictive motion», enquanto a leitura de movimento não físico corresponde aos casos de
«fictive motion» com eventos.

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Para Óscar Lopes

Os exemplos do corpus patenteiam grande diversidade no que diz respeito às


configurações sintáticas possíveis, independentemente de as predicações terem
interpretação de movimento físico (MF) ou não físico (MNF). Dado que não é
objetivo deste trabalho uma descrição pormenorizada dos contextos de ocorrência
das construções com «subir/descer», limitar-nos-emos a apontar alguns exemplos,
para nos concentrarmos posteriormente nos casos relevantes para este trabalho.
Assim, podem ser encontrados casos em que os verbos ocorrem sem qualquer tipo
de complemento (cf. (4)), mas também ocorrem acompanhados de um sintagma
de medição (cf. (5)).

(4) a. Esperou que Hillary descesse (pôs-se a arrumar papéis), cumprimentou
o jornalista e ficou ali, de pé, no palco… (MF)
b. Quando a componente sem impostos baixa, a base sobre a qual o IVA
incide também desce e a receita segue o mesmo caminho. (MNF)
(5) a. Colocam depois os eletros no doente – o mais comum é ser um de cada
lado da cabeça, mas há técnicas em que se utiliza apenas um. «Traçamos
T
uma linha imaginária do canto do olho à ponta do ouvido, definimos o meio
dessa linha e nessa zona subimos cerca de dois centímetros.» (MF)
AF

b. A procura superou de novo largamente a oferta, a esmagadora maioria


veio do estrangeiro e, em relação ao leilão anterior, os juros desceram 0,3
pontos a um ano e 0,7 pontos a meio ano, mantendo-se a tendência
R

descendente.
D

Para além disso, podem ocorrer SNs objetos diretos, em predicações com lei-
tura causativa (cf. (6)) e não causativa (cf. (7)).

(6) a. Desceu imediatamente a bandeira para a subir correctamente. (MF)


b. O BDP queria que o conglomerado chinês subisse o preço, mas a Fosun
não quis. (MNF)
(7) a. Atravessámos o hall, subimos a escadaria, avançámos em direcção às
janelas que dão para a varanda sobre a avenida. (MF)
b. Subiu a hierarquia da família e ganhou a confiança de Ricardo Salgado,
chegando a chief accounting officer e vice-presidente da ESFG, segundo a
Bloomberg. (MNF)

Podem ainda ser encontrados casos em que os verbos são acompanhados apenas
por SPs com a função semântica de Origem (cf. (8)), ou por SPs de Origem e de
Destino (cf. (9)), encabeçados por preposições/locuções prepositivas diversas.

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

(8) a. A deusa do amor, enganada pelo gesto, desce do pedestal e resolve
investir todo o seu manancial de sedução na conquista de Hatch. (MF)
b. E foi nessa viagem que Soares desce do salto da presidência e se
transforma num português como os outros. (MNF)
(9) a. E por ali subimos, andar a andar, do armazém de sedas onde defla-
grou o incêndio ao consultório médico do Sr. Dr. (MF)
b. Segue-se Scarlett Johansson, que contracenou com Chris Evans em
Capitão América – Guerra Civil, a atriz Mila Kunis, que desceu da
segunda para a quarta posição, e Vin Diesel, que subiu da sétima
para a quinta. (MNF)

Por fim, ocorrem predicações apenas com SPs com a função de Destino enca-
beçados pelas preposições a (cf. (10)), para (cf. (11)) e até (cf. (12)), que serão
objeto de análise neste trabalho.

(10) a. Enquanto desce à terra onde a espera a desintegração, a cápsula não
T
tripulada vai servir de palco para vários incêndios controlados. (MF)
b. Mas como é que o conflito desceu a este inferno? (MNF)
AF

(11) a. Embora eu preferisse não expor aqui que se tratava de um taxista, era
realmente um taxista que subia com o carro cheio de jovens clientes para
um hostel no coração da cidade. (MF)
R

b. As taxas euribor desceram a seis meses para um novo mínimo his-


tórico e subiram a três, nove e 12 meses em relação a sexta-feira. (MNF)
D

(12) a . O vale em frente, com o rio ladeado de pomares e hortas, assemelha-se


ao mapa do Afeganistão e diz-se que Massoud subia até ali com os seus
comandantes para planear as operações contra o exército invasor. (MF)
b. A Fitch acredita, mesmo, que mesmo que os rácios de capital não desçam
até 5,125%, poderá haver interrupção dos pagamentos de juros de cupão…
(MNF)

Sendo possíveis três preposições distintas com a mesma função semântica


(Destino), coloca-se a questão de saber se a contribuição semântica das preposições
para a construção do significado de toda a predicação é a mesma, ou se haverá
diferenças de interpretação e, em caso afirmativo, quais são e que consequências
acarretam. É este o tópico da secção seguinte.

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Para Óscar Lopes

3. OS VERBOS «SUBIR/DESCER» E SP COM FUNÇÃO SEMÂNTICA


DE DESTINO

3.1. Sobre a semântica de alguns verbos de movimento em PE e sua


relação com preposições

Tendo em conta que há alguns trabalhos sobre aspetos semânticos de verbos


de movimento, abordamos neste ponto, de forma sucinta, alguns desses estudos.
Em Leal & Oliveira (2008; 2015) foi mostrado que preposições como para e
até contribuem de forma distinta para o perfil aspetual das predicações e para a
construção do significado de frases com verbos de modo de movimento (cf. Levin,
1993) em PE.
Por seu lado, Leal, Oliveira & Silvano (2018) estendem esta análise aos verbos
de direção inerente ir e vir e referem que, com estes verbos, por exemplo, apenas
os SPs introduzidos por para (mas não por até) podem ter leituras meramente
direcionais, podem ocorrer no progressivo e podem ter leituras não culminativas.
T
Assim, os autores propõem uma explicação das diferentes leituras das predicações
com para e até que se baseia na noção de «escala de percurso» (cf. Kennedy, 2012;
AF

Kennedy & McNally, 2005; Kennedy & Levin, 2008) e assumem que os verbos de
movimento, tal como os degree achievements, codificam uma estrutura escalar,
estrutura essa que, nos verbos de movimento, se encontra subespecificada no
R

que concerne ao conjunto de graus (não sendo especificado um valor máximo


na escala) e à relação de ordenação dos graus. Tanto os SPs com para como com
D

até contribuem para a interpretação das predicações introduzindo o objeto de


referência que define qual o percurso relevante no evento. Contudo, os SPs com
para determinam a relação de ordenação da escala de percurso, enquanto os SPs
com até denotam o elemento máximo da escala de percurso. Por outras palavras,
estes SPs contribuem para a construção do significado das frases completando
parâmetros distintos da escala projetada pelos verbos, o que dá origem às dife-
renças na interpretação dos SPs.
Leal, Oliveira & Silvano (2017) alargam esta análise aos verbos de movimento
inerentemente direcionado subir e descer. Os autores consideram, na sua análise,
a proposta de Rappapport Hovav (2014), para o Inglês, segundo a qual os verbos
de movimento inerentemente direcionado variam na especificação escalar. De
acordo com esta autora, as escalas de percursos estão apenas parcialmente lexi-
calizadas na maior parte dos verbos de movimento inerentemente direcionado
e apenas alguns verbos, como rise e descend, lexicalizam todos os componentes
de uma escala de percurso (cf. Rappaport Hovav & Levin, 2010). Contudo, Leal,
Oliveira & Silvano (2017) argumentam que os dados do PE não sustentam com-

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

pletamente uma distinção entre subir/descer e ir/vir. Pelo contrário, as leituras


a que dão origem, nomeadamente quando combinados com SPs com para e até,
são idênticas, pelo que os autores defendem que a análise baseada na noção de
escala de percurso, proposta para os verbos ir e vir, pode ser estendida aos verbos
subir e descer.
Embora, de um ponto de vista aspetual, os verbos ir e vir, por um lado, e subir
e descer, por outro, sejam semelhantes, designadamente no que diz respeito às
leituras desencadeadas pela combinação destes verbos com SPs introduzidos por
para e até, o segundo par de verbos levanta questões que carecem de um trata-
mento autónomo3. Uma dessas questões foi apontada em Bosque (2015). Este
autor faz uma caracterização das predicações que denotam movimento ascen-
dente em Espanhol, não só do ponto de vista sintático, mas também semântico,
e identifica diferentes tipos de SP com a função de Destino. Dada a proximidade
existente entre o Espanhol e o PE, coloca-se a hipótese de a caracterização feita
em Bosque (2015) poder ser, de alguma forma, transposta para o PE. Assim, na
próxima secção, fazemos a descrição desta proposta para, a seguir, a aplicar aos
T
dados do PE.
AF

3.2. Tipos de SP com função semântica de Destino em Espanhol


R

Segundo Bosque (2015), quando as predicações denotam movimento ascen-


dente, o Espanhol pode apresentar três tipos distintos de sintagmas com a função
D

semântica de Destino («Goal») introduzidos pela preposição a: (i) os de tipo


«onto», quando um movimento ascendente termina sobre algo; (ii) os de tipo
«end-of-path», quando o movimento ascendente ocorre ao longo de um percurso
que contém o seu ponto terminal; (iii) os de tipo «upper place», quando um
movimento ascendente atinge uma posição situada em local elevado, não sendo
relevante considerar se a entidade que se deslocou se encontra, ou não, sobre algo
no final do evento.
Esta distinção tripartida tem consequências gramaticais. Assim, de acordo
com Bosque (2015), os SPs introduzidos pela preposição a (em Espanhol) com a
função de Destino do tipo «onto goal», como (subir) a una silla; (subir) encima
de una silla, apresentam um conjunto de características que os distinguem dos
restantes tipos. Em primeiro lugar, apenas este tipo de sintagmas permite a alter-
nância subir-subirse, tal como é ilustrado em (13a) (subí vs. me subí). Para além

(3) Veja-se, por exemplo, a caracterização dos dados do corpus feita na secção anterior: a
diversidade de contextos sintáticos em que subir e descer podem ocorrer é bastante superior
à dos verbos ir e vir.

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Para Óscar Lopes

disso, apenas os sintagmas Destino do tipo «onto goal» permitem a alternância


entre a preposição a e a preposição sobre, como é ilustrado em (13b). Em terceiro
lugar, os sintagmas Destino do tipo «onto goal» permitem a alternância entre a
preposição a e a preposição en. Assim, em (13c), a expressão é gramatical com
«escalera», dado que este nome denota um objeto com uma parte superior sobre
a qual pode estar situada outra entidade; o mesmo não se passa com «ermita» ou
«torre» (a não ser numa interpretação em que, no final do evento, a entidade que
sofreu o movimento se encontra por cima da ermida ou da torre). Finalmente,
apenas os sintagmas Destino do tipo «onto goal» podem ocorrer na construção
«estar» + particípio de «subir», como ilustrado em (13d). Deste modo, é possível
a ocorrência, nesta construção, de «a la silla», mas não de «a la iglesia» – a não
ser que «iglesia» não seja interpretada como um Destino situado num local ele-
vado (interpretação mais natural, de «upper place goal»), mas como o local sobre
o qual está a entidade que se deslocou previamente num movimento ascendente
(interpretação de «onto goal»).
T
(13) a. subí a una silla – me subí a una silla
b. subirse {a/sobre} el escenario
AF

c. subirse en una escalera; * subir en una ermita; * subir en una torre


d. Estaba subido {a / en} la silla; #Estaba subido a la iglesia
Bosque (2015: 86-88)
R

Quanto aos sintagmas Destino do tipo «end-of-path goal» introduzidos pela


D

preposição a, de acordo com Bosque (2015), podem ser identificados através da


possibilidade de alternância entre o SP e um SN objeto direto. De facto, apenas
estes sintagmas Destino (do tipo «end-of-path goal») permitem esta alternância,
ilustrada em (14).

(14) subir una colina – subir a una colina


Bosque (2015: 86)
 
Finalmente, Bosque (2015) refere que os sintagmas Destino do tipo «upper
place goal», como subir a la cima; subir a una ermita, podem ser descritos por
oposição aos restantes tipos elencados, ou seja, evidenciam as características con-
trárias às anteriormente mencionadas. Deste modo, (i) não permitem, ao contrá-
rio dos sintagmas do tipo «onto goal», a alternância subir-subirse, a alternância
entre a preposição a e a preposição sobre, a alternância entre a preposição a e a
preposição en e a coocorrência com o verbo estar; (ii) não permitem, ao contrá-
rio dos sintagmas Destino do tipo «end-of-path goal», a alternância entre o SP e

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

um SN objeto direto. Veja-se (15): (15a) ilustra a característica (i), que identifica
«onto goals»; (15b) mostra a diferença entre a interpretação de «a tu casa» (é
uma entidade que se desloca até à casa) e «tu casa» (é a entidade denotada por
«casa» que se desloca), pelo que não é possível a alternância que identifica os
«end-of-path goals».

(15) a. ?? Me subiré a tu casa


Bosque (2015: 85)
b. subir a tu casa ≠ subir tu casa

Em suma, Bosque (2015) propõe três subtipos diferentes de «goals» para os


sintagmas preposicionais introduzidos pela preposição a em Espanhol, quando
ocorrem em predicações com verbos relacionados com movimento ascendente:
os de tipo «onto goal» são identificados por quatro propriedades gramaticais,
que não se encontram nos restantes tipos; os de tipo «end-of-path» são identifi-
cados por uma propriedade gramatical, que não se encontra nos restantes tipos;
T
os de tipo «upper place goal» não apresentam nenhuma das características dos
restantes tipos.
AF

3.3. Tipos de SP com interpretação de Destino em PE


R

3.3.1. Predicações com o verbo «subir»


D

Tal como referido anteriormente, dadas as semelhanças entre o PE e o Espa-


nhol, colocou-se a hipótese de a distinção tripartida que é proposta por Bosque
(2015) para o Espanhol ser operacional em PE. Para isso, foi feita uma análise dos
dados do PE, que não se restringiu, como em Bosque (2015), aos SPs introduzidos
por a, mas foi alargada a outras preposições que podem marcar Destino em PE,
nomeadamente as preposições para e até. Para além disso, a análise efetuada não
se limitou aos casos de movimento ascendente, com «subir», mas cobriu também
os casos de movimento descendente, com «descer».
A análise do corpus mostrou que, de facto, a distinção tripartida de Bosque
(2015) é aplicável aos dados do PE, no que diz respeito à preposição a. Deste modo,
podem ser encontrados exemplos no corpus em que o SP introduzido por a tem
uma função semântica de Destino e corresponde, na proposta de Bosque (2015)
para o Espanhol, a «upper place goal» (cf. (16)), «onto goal» (cf. (17)) e «end-o-
f-path goal» (cf. (18)). Assim, em (16), a entidade que se desloca está, no fim do
evento, numa localização elevada que é denotada por «o consultório médico do

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Para Óscar Lopes

Sr. Dr.» («upper place goal»); em (17) essa entidade está, no fim do evento, sobre
a entidade denotada por «o palco» («onto goal»); em (18), a entidade desloca-se
ao longo de um percurso que é denotado por «um arranha-céus», percurso esse
que contém o seu ponto terminal.

(16) E por ali subimos, andar a andar, do armazém de sedas onde deflagrou o
incêndio ao consultório médico do Sr. Dr. 
(17) Subiu ao palco com a bandeira portuguesa às costas… 
(18) Depois, subiram a um arranha-céus tão alto, mas tão alto, que a sala
de reuniões era mais secreta do que uma cave de ladrões.

Contudo, não é possível usar todas as características propostas em Bosque


(2015) para a distinção entre estes três tipos de sintagmas, na medida em que nem
todas essas características podem ser encontradas em PE. Propomos, por isso, a
utilização de apenas dois testes para proceder a esta distinção: (i) a (im)possibi-
lidade de alternar SP com SN objeto direto; (ii) a (im)possibilidade de alternar
T
SP com SP introduzido por «para cima de/ acima de». O primeiro teste permite
identificar sintagmas de tipo «end-of-path», na medida em que apenas estes
AF

permitem esta alternância sem alteração de significado. O segundo teste permite


identificar sintagmas de tipo «onto goal», dado que apenas estes permitem esta
alternância de preposição sem alteração no significado do SP. Finalmente, e tal
R

como em Bosque (2015), os sintagmas de tipo «upper place goal» são caracteriza-
dos por oposição aos restantes tipos na medida em que respondem negativamente
D

a ambos os testes anteriormente apresentados.


A aplicação destes testes tem os seguintes resultados. No caso dos sintagmas
de tipo «upper place goal», eles não podem ocorrer com um SN objeto direto
nem com um SP introduzido por «para cima de/ acima de» (cf. (16’)-(16’’)), sem
alteração do significado. Deste modo, (16’) é agramatical, pois não é possível a
alternância SP/SN. Por seu lado, (16’’) só é possível com uma interpretação em
que a entidade que se desloca se encontra, no fim do evento, numa localização que
já não pode ser denotada por «o consultório do Sr. Dr.» (por exemplo, no andar
de cima, ou na cobertura do prédio).

(16’) * E por ali subimos, andar a andar, o consultório médico do sr. dr.
(16’’) # E por ali subimos, andar a andar, acima do consultório médico
do sr. dr.

Por seu lado, no caso dos sintagmas de tipo «onto goal», embora não seja
possível a alternância com um SN objeto direto (cf. (17’)), é possível a alternân-

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Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

cia com um SP introduzido por «para cima de/ acima de» mantendo a mesma
interpretação (cf. (17’’)), ou seja, «ao palco», em (17), é equivalente a «para cima
do palco», em (17’’).

(17’) # Subiu o palco com a bandeira portuguesa às costas… 


(17’’) Subiu para cima do palco com a bandeira portuguesa às costas… 

Finalmente, no caso dos sintagmas de tipo «end-of-path goal», é possível a


alternância com um SN objeto direto (cf. Vilela, 1992), pelo que «a um arranha-
céus», em (18), é equivalente a «um arranha-céus», em (18’). Por seu lado, não é
possível a permuta do SP introduzido por «a» por um SP introduzido por «para
cima de/ acima de» (cf. 18’’)).

(18’) Depois, subiram um arranha-céus


(18’’) # Depois, subiram para cima de um arranha-céus
T
Note-se, no entanto, que esta tripla possibilidade de interpretação dos SPs não
está disponível em todos os casos encontrados no corpus. Na verdade,
AF

apenas a preposição a permite as três leituras em questão (cf. (16)-(18)); tanto


com a preposição para, como com a preposição até, são apenas possíveis as lei-
turas de «upper place goal» e de «onto goal». Vejamos os exemplos (16) a (18)
R

manipulados. Quando manipulado o exemplo (16), mantém-se a interpretação


de «upper place goal» tanto com a preposição para, como com a preposição até
D

((cf. (19)). Da mesma forma, tanto com a preposição para, como com a preposição
até, num exemplo como (17) mantém-se a interpretação de «onto goal» (cf. (20)).
Contudo, enquanto no exemplo (18) o SP Destino com a tem uma interpretação
de «end-of-path goal», em (21), com para e com até, os SPs têm uma interpre-
tação de «upper place goal».

(19) a. E por ali subimos, andar a andar, para o consultório médico do
sr. Dr.
b. E por ali subimos, andar a andar, até ao consultório médico do sr. Dr.
(20) a. Subiu para o palco com a bandeira portuguesa às costas… 
b. Subiu até ao palco com a bandeira portuguesa às costas… 
(21) a. Depois, subiram para um arranha-céus (≠ Depois, subiram um
arranha-céus)
b. Depois, subiram até um arranha-céus (≠ Depois, subiram um
arranha-céus)

109
Para Óscar Lopes

Note-se ainda que esta tripla possibilidade de interpretação apenas surge


quando a predicação denota um evento que corresponde a movimento físico. De
facto, as interpretações de «onto goal» e de «end-of-path goal» parecem rela-
cionadas com interpretações locativas dos objetos de referência, pelo que apenas
surgem em contextos de movimento físico. Assim, quando a situação corresponde
a movimento não físico, a única interpretação possível é a de «upper place goal».
Veja-se, a título ilustrativo, (22), em que «ao sexto lugar», por ter leitura exclusiva
de «upper place goal», não permite a alternância com um SN objeto direto (cf.
(22’)), nem com um SP introduzido por «para cima de» (cf. (22’’)).

(22) André Claro, aos 43 minutos, e Fábio Pacheco, aos 85, marcaram os golos
dos setubalenses, que subiram provisoriamente ao sexto lugar, com os
mesmos 13 pontos do Estoril-Praia.
(22’) * Os setubalenses subiram o sexto lugar
(22’’) */# Os setubalenses subiram para cima do sexto lugar

3.3.2. Predicações com o verbo «descer»


T
AF

Até agora, temos considerado apenas os casos de movimento ascendente, como


o verbo subir, dado que a proposta de Bosque (2015) é feita especificamente para
este tipo de verbos em Espanhol. Contudo, coloca-se a hipótese de também os
R

verbos de movimento descendente exibirem este padrão de combinações.


A análise do corpus do PE mostrou que, nos casos de movimento físico, ocorrem
D

apenas exemplos com SPs introduzidos pela preposição a com leitura de «lower
place goal», conforme ilustrado em (23) e (24).

(23) Devido à intensidade da neve, o itinerário principal 4 (IP4), na zona do


Alto de Espinho, na Serra do Marão, chegou a estar cortado ao trânsito
durante a noite e a neve desceu também à cota da auto-estrada 4.
(«lower place goal», MF)
(24) N o dia da abertura, o Pai Natal apostou em atividades radicais e desceu
à vila a fazer rappel. («lower place goal», MF)

Contudo, parece-nos que, embora não atestados no corpus, pode haver casos
das outras duas leituras apontadas em Bosque (2015). Desta forma, em (25), o
SP «ao andaime» tem uma interpretação de «onto goal», podendo, por isso,
ser parafraseado por (25’). Já o SP «à gruta» em (26) tem uma interpretação de
«end-of-path goal», permitindo a alternância atestada em (26’).

110
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

(25) (?) O trabalhador desceu ao andaime. («onto goal»)


(25’) O trabalhador desceu para cima do andaime.
(26) O explorador desceu à gruta. («end-of-path goal»)
(26’) O explorador desceu a gruta.

Para além disso, tal como vimos com subir, também com descer há uma dimi-
nuição das interpretações possíveis quando substituímos a preposição a pelas
preposições para e até. Deste modo, os SPs introduzidos por para e até podem
ter a interpretação de «lower place goal» (a interpretação que se relaciona com
«upper place goal», com verbos de movimento ascendente), como em (27), que
são variações de (24). Para além disso, os SPs podem ter a interpretação de «onto
goal», como em (25) com a, mas também em (28), com para e até. Pelo contrário
(e tal como acontece com subir), com descer, a interpretação de «end-of-path
goal», ilustrada em (26), com a preposição a, desaparece com as preposições
para e até (cf. (29)).
T
(27) a. O Pai Natal apostou em atividades radicais e desceu para a vila a fazer
rappel. («lower place goal»)
AF

b. O Pai Natal apostou em atividades radicais e desceu até à vila a fazer


rappel. («lower place goal»)
(28) a. O trabalhador desceu para o andaime. («onto goal»)
R

b. O trabalhador desceu até ao andaime. («onto goal»)


(29) a. O explorador desceu para a gruta. («onto goal»/ «lower place goal»)
D

b. O trabalhador desceu até ao poço. («lower place goal»)

Em suma, em predicações com leitura de movimento físico, os resultados com


«descer» são equivalentes aos de «subir»: (i) as mesmas preposições apresentam
as mesmas leituras (com a mudança de «upper place» para «lower place»); (ii) a
leitura de «end-of-path goal» está limitada aos SPs encabeçados pela preposição a.
Passemos agora aos casos de movimento não físico. Novamente, no corpus,
com a preposição a apenas se encontram casos com leitura de «lower place goal»,
como em (30) e (31).

(30) São adeptos do Beira-Mar, o clube da cidade, que está a viver um forte
momento de crise – desceu à 2.ª divisão do campeonato da asso-
ciação de futebol de Aveiro.
(31) Em comparação com a lista da Forbes, Putin é destronado e desce ao 3.º
lugar.

111
Para Óscar Lopes

Tal como acontece com «subir», nos casos de MNF, também a única inter-
pretação possível é a de «lower place goal» (variante de «upper place goal»). As
interpretações de «onto goal» e de «end-of-path goal» parecem também estar
relacionadas com interpretações locativas dos objetos de referência. Vejam-se os
exemplos seguintes, que mostram que não é possível tanto a alternância com um
SN objeto direto (exemplos a) como com um SP introduzido por «para cima de»
(exemplos b).

(30’) a. * O Beira-Mar desceu a 2.ª divisão do campeonato.


b. * O Beira-Mar desceu para cima da 2.ª divisão do campeonato.
(31’) a. * Putin é destronado e desce o 3.º lugar.
b. * Putin é destronado e desce para cima do 3.º lugar.

Em suma, a análise efetuada mostra que não existem diferenças entre os


verbos «subir» e «descer» no que à combinação com SP Destino diz respeito:
podem ser encontradas as mesmas interpretações dos SPs (com a substituição
T
de «upper place goal» por «lower place goal») e as mesmas restrições no que
concerne às paráfrases possíveis e às leituras de toda a predicação (movimento
AF

físico ou não físico).


R

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
D

A análise que efetuamos dos dados do PE mostra que a distinção entre


«upper place goal», «onto goal» e «end-of-path goal», proposta em Bosque
(2015) para verbos de movimento ascendente em Espanhol, é genericamente
apropriada para descrever os dados do PE. De facto, verificamos que, tal como
propõe Bosque (2015) para o Espanhol, é possível encontrar, em PE, testes que
permitem distinguir as diferentes leituras em questão, tendo proposto dois
testes. Será, contudo, importante aprofundar esta distinção e identificar outras
formas de caracterizar os diferentes tipos de SP. Na verdade, os critérios para
distinguir as três leituras possíveis para «goal» em PE são, neste trabalho,
menos do que em Espanhol.
Os resultados mostram também que esta distinção tripartida de SP Destino se
pode aplicar, em PE, tanto aos verbos de movimento ascendente, como descendente.
Verificou-se ainda a existência de uma relação entre as leituras de Destino,
ou «goal», e as preposições, na medida em que: (i) a preposição a admite as três
leituras possíveis; (ii) as preposições para e até admitem as leituras de «upper
place» e «onto», mas não a de «end-of-path goal».

112
Movimento ascendente e descendente em Português Europeu: os casos dos verbos «subir» e «descer»

Por fim, verificou-se a existência de uma relação entre estas leituras dos SPs
Destino e as leituras das predicações, dado que estas três leituras de «goal» dos
SPs só se atestam nos casos em que as predicações denotam eventos de movimento
físico; nos casos de movimento não físico, apenas está disponível a leitura de «upper
place goal» para «subir» e a leitura de «lower place goal» no caso de «descer».

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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In: Elisa Barrajón López, José Luis Cifuentes Honrubia, Susana Rodríguez Rosi-
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Linguística. Évora: APL, 287-298.
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113
Para Óscar Lopes

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Talmy, L. (2000) Towards a Cognitive Semantics. Volume I. Concept Structuring
Systems. Cambridge: The MIT Press.

T
AF
R
D

114
PARTICULARITÉS DU QUANTIFICATEUR
UNIVERSEL PORTUGAIS CADA

Françoise Bacquelaine1

Résumé: Le quantificateur universel (QU) portugais européen (PE) cada présente


plusieurs particularités par rapport au QU français (FR) chaque. Il lui arrive notam-
T
ment de perdre le trait de distributivité inhérent à chaque et de ne pas donner lieu au
parcours réel exhaustif individualisant, au défilement un à un typique de ce QU.
AF

L’approche contrastive est empirique. Elle se fonde sur des corpus unilingues et
alignés explorables en ligne et, essentiellement, sur les recherches de Kleiber (2012),
Oliveira (2009) et Leal (2012). Kleiber analyse les trois QU français tous les, chaque et
R

tout et identifie leurs traits communs et distinctifs. Oliveira confirme la ressemblance


entre le système de QU FR et PE (todos os, cada et todo o) et Leal définit les conditions
D

dans lesquelles cada perd son trait de distributivité.


L’exploration de divers corpus alignés (FR-PE) de langue générale et de langue de
spécialité révèle que la récurrence de cada est nettement supérieure à celle de chaque,
pour des raisons différentes selon le degré de spécialisation et le domaine couvert. Cette
différence de fréquence s’explique notamment par l’affinité exceptionnelle cada pour le
N vez. L’analyse des occurrences des deux blocs lexicaux (Biber et al. 1999), cada vez
et cada qual, dans un corpus volumineux de langue générale en PE, le CETEMPúblico
(CTP), permet d’étayer la thèse selon laquelle cada peut perdre deux traits fondamen-
taux du QU chaque, mais ce n’est pas tout. Elle montre aussi que cada vez n’est pas
autonome contrairement à chaque fois et qu’il entre dans la composition d’unités de
construction préfabriquées (UCP, Schmale 2013) de trois mots ou plus devant être
traduites en bloc : de cada vez (à la fois ou (à) chaque fois), (PREP) cada vez que ((à)
chaque fois que) et cada vez (…) COMP (de COMP en COMP et des solutions lexicales
telles que ne cesser de s’enrichir ou de s’appauvrir). Ce sont certaines occurrences de
l’UCP cada vez (…) COMP qui permettent de déduire que le QU cada perd son trait

(1) Faculdade de Letras da Universidade do Porto/Centro de Linguística da Universidade


do Porto (Portugal)

115

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