Você está na página 1de 32

DENER CARDOSO FERNANDES

ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS E SUAS


CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS

Cuiabá
2019
DENER CARDOSO FERNANDES

ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS E SUAS


CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS

TÍTULO DO TRABALHO:

SUBTÍTULO DO TRABALHO, SE HOUVER


Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à Universidade de Cuiabá UNIC, como
(Título em caixa alta, fonte Arial 14, requisito
em negrito; subtítulo
parcial paraem
a caixa alta, do
obtenção fonte Arialde
título
16,graduado
sem negrito)
em Psicologia.

Orientador: EVANILDA CUSTÓDIO


Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
à (nome da instituição), como requisito parcial
para a obtenção do título de graduado em
(nome do curso). (Fonte Arial 12)

Cuiabá
2019
BANCA EXAMINADORA

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(a). Titulação Nome do Professor(a)

Cuiabá, 06 de dezembro de 2019


Dedico este trabalho a todas as pessoas
que me incentivaram a sempre lutar pelos
meus sonhos e nunca desistir. Em
especial a minha família, pelo carinho,
amor, pela compreensão e por estarem
sempre ao meu lado, acreditando em
mim. E aos meus avós, que hoje moram
com os anjos, que sempre me motivaram
em todas as etapas de minha vida.
Obrigada por tudo, vocês são a razão de
toda minha dedicação e esforço. Eu amo
vocês!
Agradeço a todos os professores por tudo
que me ensinaram, e aos meus colegas
de turma pela amizade construída durante
esses cinco anos. Agradeço a Prof. Ilze
Maria, pelo aprendizado em suas aulas e
Evanilda custodio na orientação deste
trabalho. A família que esteve junto
durante esses cinco anos, nos dando
força, coragem para chegássemos ao
término do curso. O meu amigo Danilo
Rodrigo que em momento de desanimo,
me encorajou com palavras de incentivos
e motivação.
“Pensamos demasiadamente e sentimos
muito pouco. Necessitamos mais de
humildade que de máquinas. Mais de
bondade e ternura que de inteligência. Sem
isso, a vida se tornará violenta e tudo se
perderá.” Charles Chaplin
Cardoso Fernandes, Dener. ABANDONO AFETIVO DE IDOSOS E SUAS
CONSEQUENCIAS PSICOLOGICAS. 2019. 37páginas. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação em Psicologia) –universidade de Cuiabá UNIC, Cuiabá, 2019.

RESUMO
Conflitos geracionais, reconhecimento de novo papéis sociais, vulnerabilidade,
violências e maus-tratos, alterações fisiológicas, cognitivas e diversas limitações,
são questões que permeiam o cotidiano de uma pessoa idosa, seus familiares e
toda sociedade. Frente a esse contexto que surge a questão do abandono de idosos
em hospitais, situação que tem chamada atenção de profissionais das áreas da
saúde, jurídica e social. Os operadores da área do direito, da assistência social e da
saúde encontrarão nesse trabalho um assunto pouco tratado, um problema que
passa despercebido no Brasil. Com a longevidade e o envelhecimento populacional
é inevitável fatos como abandono e maus-tratos. Este estudo destaca tópicos que
visualiza o conhecimento jurídico dentro do contexto sobre o abandono de idosos,
principalmente no município de Cuiabá- MT, além de dar enfoque a família e ao
fundamentos da dignidade do ser humano e os direitos da pessoa idosa Políticas
públicas se fazem urgentes para atender uma demanda crescente, tendo que ser
chamada a atenção de profissionais da área da saúde, jurídica e social.

Palavras-chaves: Abandono. Direitos dos idosos. Estatuto do idoso.


Cardoso Fernandes, Dener. AFFECTIVE ABANDONMENT OF THE ELDERLY AND
THEIR PSYCHOLOGICAL CONSEQUENCES. 2019. 37 páginas. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) - universidade de Cuiabá UNIC,
Cuiabá, 2019.

ABSTRACT

Generational conflicts, recognition of new social roles, vulnerability, violence and


mistreatment, physiological, cognitive and various limitations, are issues that
permeate the daily life of an elderly person, their families and the whole society. In
the face of this context, the issue of the abandonment of elderly people in hospitals
arises, a situation that has drawn attention from professionals in the areas of health,
legal and social. Operators in the area of law, social assistance and health will find in
this work a little subject treated, a problem that goes unnoticed in Brazil. With
longevity and population aging it is inevitable facts such as abandonment and ill-
treatment. This study highlights topics that visualize legal knowledge within the
context about the abandonment of the elderly, especially in the municipality of
Cuiabá- MT, in addition to focusing on the family and the foundations of the dignity of
the human being and the rights of the elderly. the fundamental guarantee of the
dignity of human beings must be respected by the State and society. Public policies
are urgent to meet a growing demand, and the attention of health, legal and social
professionals is called.

Key-words: Abandonment. Rights of the elderly. Statute of the elderly


13

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 145

2. O ABANDONO FAMILIAR......................................................................................7
3. RESPONSABILIDADES E PROTEÇÃO CONTRA O ABANDONO FAMILIAR
DOS IDOSOS ............................................................................................................25
4.OS HOSPITAIS O ATENDIMENTO AOS IDOSOS................................................19
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26
14

1. INTRODUÇÃO

O trabalho em tela propõe estudar o abandono de idosos. Uma realidade no


Brasil, pois inúmeros idosos são abandonados diariamente nas portas dos asilos por
seus filhos, onde são obrigados a romper definitivamente com os vínculos familiares
e a iniciar uma nova vida, em ambientes e com pessoas desconhecidas. Com isso,
são acometidos de tristeza, mágoa, solidão e diversos outros sentimentos que irão
gerar várias doenças, agravadas pela própria idade, culminando com a diminuição
dos anos de vida. Ao perder o contato a família, de um modo geral e, principalmente
com seus filhos, esses idosos excluídos da convivência familiar, ou seja, obrigações
de assistência imaterial que os filhos têm para com seus pais e direito este,
amplamente resguardado pelo Estatuto do Idoso.
Determinando-se pela problemática, quais as consequências psicológicas
trazidas em casos de abandono afetivo de idosos?
Cujo objetivo principal é descrever como ocorre o abandono afetivo de
idosos, retratando suas causas e consequências.
A pesquisa conta ainda com os seguintes objetivos específicos:
Contextualizar as causas do abandono afetivo, analisar a situação de idosos em
instituições como lares e hospitais, descrever as consequências físicas e
psicológicas dos idosos, vítimas do abandono afetivo.
O estudo segue suas linhas de consideração propondo-se a justificar o
abandono afetivo do idoso, onde tem consequências físicas e psicológicas
importantes, podendo ocorrer com a vítima e também em instituições como lares e
hospitais. A velhice pode ser uma etapa ainda mais complicada sem uma rede de
apoio e afetividade.
Trata-se de um estudo em pesquisa qualitativa com foco no método
descritivo, uma vez que, segundo Lira (2014) essa abordagem realiza apenas
através de livros, jornais, revistas, folhetos, informativos e sites. Portanto, não busca
informação no campus e sim revisão da literatura bibliográfica, buscando
compreender, apoiado em teóricos que já estudaram a temática de modo bem mais
descritivo o fenômeno social. Goldberg (2011) acrescenta que a pesquisa auxilia a
15

refletir e propícia um "novo" olhar sobre o mundo: um olhar científico, curioso,


indagador e criativo.
O estudo fez uso de livros e da internet, a fim de buscar os veículos de
conhecimento para analisar o problema proposto e chegar a um resultado
satisfatório. Para análise e discussão dos dados, usamos ideias de cada autor,
coletando informações para agregar nesta pesquisa. Por se tratar de uma
abordagem bibliográfica, os dados analisados são advindos das ideias e
pensamentos dos autores citados.
16

2. O ABANDONO FAMILIAR

Nas sociedades pré-capitalistas, idosos que não eram detentores de bens


eram deixados às margens da sociedade, quando conseguiam chegar a idades mais
avançadas, já que devido às condições de vida, muitos morriam antes de chegar à
chamada terceira idade. Quando o idoso se encontrava nas camadas consideradas
mais abastadas da sociedade, era respeitado e tornava-se inclusive alguém de
grande influência no local onde vivia. Nossa forma de entender a velhice e de lidar
com ela é culturalmente construída. Entretanto, em seus primórdios, os estudiosos
do processo de envelhecimento conceituaram a velhice como uma enfermidade
natural, considerada fase de deterioração e ruína da existência humana.
Segundo SOUZA (2010), a única causa do abandono é a rejeição, causada
pela falta de tempo da correria da vida moderna. Quando chega um determinado
momento, o indivíduo vai perdendo seus papéis sociais como também começam a
perder o seu papel no âmbito familiar. Na verdade, existe uma série de coisas que
podem servir como justificativa.

O envelhecimento humano passou por diferentes etapas de tratamento,


diante do progresso da humanidade e das transformações ocorridas no
interior das famílias, tornando-se um sério desafio na contemporaneidade e
um crescente problema social, objeto de preocupação para toda a
sociedade, em especial dos próprios idosos. Diante disso, torna-se
fundamental melhorar a assistência prestada a essa faixa etária, bem como
ampliar a discussão em torno da velhice, para melhor compreender o
processo de envelhecimento, com o intuito de prevenir a violência e o
abandono familiar, buscando contemplar as necessidades da pessoa
idosa. (Vasconcelos, 2016, p.10)

CONDIÇÃO DO IDOSO: DEPENDÊNCIA E VULNERABILIDADE

O termo idoso, relaciona-se com a disparidade existente entre pessoas no


espaço e no tempo, interligado por atributos biológicos, considerando todo aquele
que possui uma idade significativa. Logo, “idoso, em termos estritos, é aquele que
17

tem ‘muita’ idade. A definição de ‘muita’ traz uma carga valorativa” (CAMARANO;
PASINATO, 2004, p. 5).
O Estatuto do Idoso considera como tal todo aquele com idade igual ou
superior a 60 anos, tendo assim um critério cronológico para definir e regulamentar
as garantias estatais de direitos (BRASIL, 2003). Além disso,

Idoso é a expressão cunhada pela Organização Mundial de


Saúde – OMS, em 1957, e com grande aceitação no Brasil. A
Organização Internacional do Trabalho – OIT adota o critério
cronológico e, como tal, o maior de 65 anos (Convensão n.
102). MARTINEZ, 2005, p. 22).

Debater sobre a velhice é abordar um tema que, até pouco tempo atrás, era
considerado uma questão da esfera privada e familiar, bem como da previdência
individual e das associações filantrópicas. Mas as mudanças oriundas com o
envelhecimento acabam demandando o desenvolvimento de práticas voltadas para
esses indivíduos, ou seja, com intervenções do estado, a fim de estabelecer regras e
organizar a convivência social (SCHENEIDER, 2016).
O Brasil, considerado um país até então jovem, passa por transformações,
pois:
[...] começa a dar lugar a uma realidade diferente e traz a consciência de
que a velhice existe e é uma questão social que pede uma atenção
muito grande. (ZIMERMAN, 2005, p. 24).

Com isso, é necessário compreender que todas as mudanças exigem


métodos de adaptações, a fim de evitar as crises de identidade, as reduções dos
contatos sociais e problemas psicológicos, e a garantia dos direitos inerentes aos
idosos. O desafio é fazer com que os direitos e as necessidades dos idosos sejam
contemplados, com a efetivação de políticas e programas que ofereçam um
envelhecimento digno. Diante disso é preciso buscar a efetivação de medidas que
[...] habilitem os idosos e respaldem a continuidade deles em nossa
sociedade, estabelecendo novos papéis sociais de participação e
inclusão e promovendo o desenvolvimento da independência e
autonomia na vida social. (BERZINS, 2003, p. 20).

A maioria dos idosos não consegue acompanhar o progresso da sociedade


na qual vivem, diante das tecnologias inovadoras e o respectivo reflexo em suas
vidas. Com isso, acabam se isolando, por acharem que não possuem condições de
18

seguir suas vidas, diante das alterações que ocorrem nessa evolução, gerando o
abandono e desvalorização, além de causar a exclusão por não possuírem mão de
obra qualificada e adequada para o mercado de trabalho (BERTA; DUARTE, 2006).
Torna-se importante destacar também, um ponto, ainda pouco discutido,
referente aos cuidados com as pessoas idosas, ou seja, quanto à dependência, na
medida em que ocorre uma redução na capacidade laboral, influenciando
diretamente na concessão da renda.

É o grau de dependência que determina a melhor modalidade de cuidados


que cada indivíduo necessita. A dependência pode ser incapacitante ou
não, bem como gradual, definitiva ou reversível. No setor público, os
recursos são distribuídos ou os benefícios concedidos a partir da definição
do tipo e do grau de dependência. No setor privado, as atividades e a oferta
dos serviços são mais bem planejadas (CAMARANO; LEITÃO; MELLO,
2010, p. 23).

Diante das transformações das famílias, percebe-se que há uma dependência


entre as gerações. As autoras Grossi e Santos (2003,p.33) mencionam que:
“O rito da aposentadoria muitas vezes é associado à entrada oficial
no mundo da velhice.”

Logo, o status de aposentado não significa uma conquista real para muitos,
pois o indivíduo acaba sendo desintegrado socialmente, tendo que se afastar,
muitas vezes, de suas finalidades anteriores, perdendo assim o sentido e prazer
pessoal, por desligar-se do trabalho.
Para um idoso viver dignamente bem, carece de condições financeiras
condizentes com a realidade na qual vive. Mas a maioria deles acaba tendo que
viver e suprir suas necessidades com apenas um salário mínimo advindo da
aposentadoria, muitas vezes sem suporte familiar ou de meios assistenciais,
limitando-se aos proveitos da vida, diante das dificuldades enfrentadas,
influenciando diretamente na sua qualidade de vida (BERTA; DUARTE, 2006).
O Estatuto do Idoso é categórico ao mencionar em seu Art. 8º que: “O
envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos
termos desta Lei e da legislação vigente. ” (BRASIL, 2003). Diante disso, é preciso
concretizar a participação social do idoso, a fim de ter-se uma sociedade mais
solidária e justa.
O ingresso do idoso em uma instituição asilar desvincula, então, o indivíduo
do seu mundo exterior e esse passa a viver sob os regramentos presentes no novo
19

ambiente. Cria-se uma nova visão do mundo, associado a novos hábitos e costumes
e, o idoso acaba tendo que se readaptar com todas as mudanças e a ter uma nova
vida. Todavia, há idosos que procuram as instituições de longa permanência, sendo
aqueles que:
O idoso “[...] transfere sua vida privada para um espaço coletivo,
compartilhado com pessoas que não escolheu e que tampouco conhece. ”
(PEIXOTO, 2011, p. 342).

“[...] perderam ou nunca tiveram familiares próximos, ou vivem uma situação


familiar conflituosa, não têm autonomia física e mental para administrarem a
sua vida ou não têm condições financeiras de se sustentar [...].”
(CAMARANO, 2008, p. 18).

Viver nas casas de repouso acaba tornando-se uma forma de ter proteção,
assistência e segurança, pois o asilo é considerado a modalidade mais antiga de
acolhimento para os idosos. A faixa etária, o sexo, estado civil e os indicadores de
renda são fatores, que influenciam na passagem para o asilamento. Mas, por trás da
rotina de uma clínica, as pessoas acabam esquecendo-se da realidade. Os idosos
são seres pensantes, assim como qualquer outro indivíduo e as ilustrações de uma
imagem e de estatísticas, muitas vezes, não condizem com o que a pessoa idosa
precisa (AGICH, 2008).
As necessidades dos idosos, as características e as suas particularidades,
devem ser consideradas e compreendidas no contexto do cuidado. Porém, a perda
da capacidade é assimilada como a interpretação da extinção de todos os seres
humanos, sob o entendimento do que é ser velho na sociedade.

O IDOSO E A VIOLÊNCIA: FORMAS DE MANIFESTAÇÃO


A violência, recorrente na vida das pessoas idosas, é considerada as ações
mais desafiadoras, pois os idosos estão sujeitos a esta prática, por serem
considerados seres com pouca significância e serventia pelos indivíduos que os
cercam. Logo, a prática da maioria das violências encontra-se relacionada com as
relações sociais, polícias e econômicas, sendo que diariamente:
“[(...] fatos cada vez mais violentos e aterrorizantes são noticiados
na mídia, exortando as autoridades a buscarem incessantes
soluções para esse problema, seja de forma repressiva, ou mesmo
preventiva”) FRANÇA; SILVA, 2006, p. 118).
20

Independentemente do tipo de violência empregada contra os idosos, por


mais insignificante que seja, possui elementos tão expressivos, que chegam a
comparar-se às agressões físicas, em alguns casos, diante das consequências
advindas.
A violência contra o idoso, em alguns casos, “[...] trata-se de algo unicamente
social, algo que é parte das marcas agressivas do tratamento que uma sociedade dá
a sua população de idosos. ” (MOTTA, 2006, p. 66). Nesse sentido, fala-se nos
efeitos da violência que:

Causa danos físicos, mentais e morais nas relações individuais, sociais,


interpessoais e institucionais, etárias, de gênero, de grupos e de classes. A
violência contra o idoso é toda situação não acidental que ocasiona danos
físicos, psíquicos, econômicos ou privação de suas necessidades básicas.
Resulta de ato ou omissão daquele que convive com o idoso (cônjuge, filho,
companheiro, irmão, amigo, cuidador e outros). Compreender o significado
de violência e acidentes é fundamental, pois lesões que poderiam num
primeiro olhar ser atribuídas a acidentes são, sem dúvida, frutos de violência
e negligência. (CHAIMOWICZ, 2013, p.139). Em alguns casos os idosos
são agredidos pelp proprios cuidadores, sem paciência, sem até mesmo
preparo e cursos de cuidadores.

Salienta-se, então, que a violência possui alguns motivos, dentre os quais,


podem-se citar os conflitos e desentendimentos existentes nas relações familiares,
as limitações do cuidador, dificuldades financeiras ou dependência do idoso,
desgaste emocional, o descaso, o egoísmo e a própria vulnerabilidade na qual a
vítima se encontra, a qual necessita de outra pessoa para lhe auxiliar nas atividades
básicas do seu dia a dia, dentre outras causas que resultam na prática dos atos
violentos (ARANEDA, 2007). Diante das manifestações de violência cometidas
contra os idosos, destacasse de imediato, a violência física. Porém, esta não é a
única, pois há várias formas e modalidades de violência, disfarçadas/ocultas, mas
presentes no cotidiano desses indivíduos, que possuem um único ponto em comum:
o sofrimento. Além disso, verifica-se que a práticas desses atos ocorrem:
“[...] tanto no espaço doméstico, como no âmbito institucional e na gestão do
Estado.” (MOTTA, 2006, p. 69).

Pode-se citar o abuso, os maus tratos, a violência física, moral e sexual, a


negligência, a omissão, o abandono familiar, a violência financeira, entre outras,
consideradas as práticas mais comuns de violências contra os idosos. Entretanto,
muitas dessas formas de violências são acobertadas e deixam de ser percebíveis,
pois são
21

“[...] àquelas invisíveis, como um gesto, uma palavra, um olhar


agressivo.” (CHAIMOWICZ, 2013, p. 140).
Caracteriza abuso, maus tratos e violência física como atos praticados em
relação aos idosos como forma de obrigá-los a fazerem o que não desejam, por
meio de ameaças e uso de força física, refletindo em futuras consequências. Logo, é
uma das formas de violências mais evidentes, pois apresenta sequelas visíveis
(CHAIMOWICZ, 2013).
Maus tratos diretamente físicos, espancamentos e tentativas
de morte ou assassinato, são os que chegam mais claramente
ao conhecimento público, para serem combatidos e punidos,
ou venderem notícias em proveito da mídia. (MOTTA, 2006, p.
71-72).
Evidencia-se, também, a omissão e até mesmo a recusa de prestar cuidados
para o idoso, por parte dos familiares, confirmando assim a negligência. Esta é
considerada outra forma de violência acometida contra o idoso, compreendendo as
situações nas quais ocorrem indiferenças e descasos em atender as suas
necessidades básicas. Ocorre a violência sexual, na qual o idoso é aliciado, por
meio de atos ou jogos sexuais e, também, o assédio moral, no ambiente de trabalho,
fazendo com que o idoso antecipe sua saída do trabalho, por meio da
aposentadoria, sem ter a opção de continuar trabalhando, diante das situações que
acabava enfrentando (CHAIMOWICZ, 2013).
Por vezes, o fato acaba também propiciando o desenvolvimento de doenças,
pois o idoso sente-se forçado a desvincular-se da atividade, influenciando na sua
qualidade de vida (FRANÇA; SILVA, 2006). A prática de violência financeira ocorre
diante da exploração ilegal ou da utilização sem a autorização dos recursos
financeiros do idoso. Tais abusos, cometidos na maioria dos casos pelos familiares
ou por seus cuidadores, são com a intenção de forjar procurações, ter a posse de
documentos e cartão bancário, para ter acesso aos seus bens, realizar vendas em
nome do idoso, falsificar assinaturas, fazer empréstimos bancários, apoderar-se de
seu benefício previdenciário, sem o seu consentimento (MINAYO, 2005).
Outra forma de violência muito difundida, mas não correspondendo às
estatísticas da sociedade brasileira, é a institucional, que engloba “[...] aspectos
resultantes da desigualdade social, da penúria provocada pela pobreza e pela
miséria e a discriminação que se expressa de múltiplas formas. ” (MINAYO, 2005, p.
30). Essa tipologia se relaciona com as políticas estatais e instituições assistenciais,
22

por meio da prestação de serviços aos idosos, que não possuem condições de
optarem por outra instituição.
Essa violência compreende diferentes formas de ações e de omissões, tais
como a discriminação de classes, idade e gênero, falta de comunicação e
informações precisas, as péssimas formas de tratamentos em algumas instituições
de longa permanência, as queixas e reclamações dos serviços, diante da
desqualificação de alguns profissionais ou mesmo pela demora no atendimento, das
quais o idoso acaba sendo penalizado. (ZIMERMAN,2005)
A questão em torno da violência institucional está vinculada com os direitos
humanos, pois violam sua integridade, submetendo a situações, muitas vezes,
desumanas, e de profunda agonia (BERZINS; WATANABE, 2013). Além de serem
alvos propícios de várias formas de violência há de se destacar a psicológica,
considerada a violência que influencia na autoestima e na integridade do ser
humano. Vinculada com prática dos atos de
“[...] agressões verbais ou gestuais, com o objetivo de aterrorizar os
idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio
social.” (BERZINS; WATANABE, 2013, p.154).

Uma das formas rotineiras da prática da violência psicológica é o tratamento


preconceituoso e de exclusão, praticado contra as pessoas idosas, que acabam
sendo desvalorizadas.

ABANDONO FAMILIAR DE IDOSOS


Observa-se que os seres humanos se desenvolvem por meio da afetividade,
de modo que podem se unir ou, mesmo, se desapegar, com o propósito de
formarem sua identidade e vínculos básicos. Logo, os indivíduos acabam criando
suas relações afetivas com as pessoas e com as realidades vividas, que lhes dão
sentido e significado em suas vidas. Mas ficar sozinho desvincula-se da relação
afetiva criada durante a existência e quando ocorre à perda dos vínculos perde-se,
também, o sentido de sua vida e das possibilidades de realizações, influenciando na
autodestruição (MEISTER, 2003).
O abandono afetivo torna-se reflexo do abandono material e das
transformações estruturais das famílias. Entretanto, o filho que abandonar seu pai na
velhice, deixando de ampará-lo e de cumprir com as obrigações, está cometendo um
ato ilícito, além de causar danos de ordem moral. Propicia assim, o desenvolvimento
23

de diferentes sentimentos negativos que influencia na qualidade de vida do idoso,


que se fragiliza com essa rejeição. A indenização que pode haver é apenas uma
forma de punição para que os filhos estejam mais próximos de seus familiares, ou
seja, gera a responsabilidade frente ao não cumprimento do dever de cuidar
(KARAM, 2011). Caracterizando a velhice como uma aglomeração de
desigualdades, o abandono torna-se obscuro, pois deveria haver uma política mais
consistente, estabelecida entre a família e o poder público, para poder apoiar o idoso
diante das difíceis situações por este enfrentada. Dessa forma:

A criminalização do abandono é um processo paradoxal para o idoso


dependente, quando os dois níveis de garantias estão desvinculados: os
aspectos jurídicos que defendem a dignidade e as políticas sociais efetivas
que viabilizam o exercício da mesma. Tendo em vista que, nos casos das
famílias de baixa renda, o cuidado com o idoso dependente não tem como
acontecer eficazmente sem a transferência do apoio público, já que os
custos financeiros, físicos e emocionais são altos demais para os
cuidadores informais. Assim, aqueles que, teoricamente, seriam os
principais contempladores com a lei, podem vir a ser os mais penalizados,
ou seja, os próprios idosos. E, ainda por cima, tal situação contribui para
que as famílias, que realmente não disponham de condições para manter os
seus idosos juntos a si, sejam vistas como criminosas. (LEMOS, 2006, p.
58). Assim, temos que perceber as grandes dificuldades que os idosos
enfrentam, inclusive os afetos que durante a vida toda depositaram em seus
familiares. Há casos já relatados nas midias em que o idoso acaba sendo
furtada a sua aposentadoria, deixando em más situações de dificuldades,
saúde, higiene, lazer entre outros.

É característico do ser humano querer construir sua própria família, passando


a se desvincular de seus pais e, por vezes, não querer custear os gastos com os
idosos, ou achar que o pagamento de alguma necessidade é suficiente. Os filhos
são obrigados a prestar o auxílio pecuniário aos seus pais, mas é preciso entender
que isso não será capaz de suprir a saúde mental do idoso e de sua dignidade, pois
envolve também a necessidade afetiva do ser humano (ZIMERMAN, 2005).
A concepção de que a condição financeira sempre será o melhor para o idoso
é uma controvérsia, pois
“Não adianta tentar aliviar a consciência simplesmente dando ao pai, tio ou
avô o melhor tratamento médico e negar-lhe um carinho, uma visita, um
telefonema. Amor e atenção têm um grande poder de cura e prevenção de
doenças.” (ZIMERMAN, 2005, p. 40).
24

O idoso requer muito mais que condições econômicas. Ele espera pelo
acompanhamento e estimulação de todos que o cercam, a fim de que ele possa ser
compreendido.
A solução, por ora, diante do abandono do idoso, é fazer um revezamento dos
cuidados entre os seus filhos, ou demais familiares. Entretanto, nem sempre ter
filhos representa a garantia para os cuidados necessários na velhice, o respeito e a
inexistência de manifestações de violência, pois os vínculos construídos nem
sempre condizem com a necessidade exigida e a realidade encarada pelo idoso
(LEMOS, 2006).
A partir da análise da figura do ser humano idoso, das formas de violência e
do abandono familiar, verifica-se a falta da proteção e condições dignas de vida a
esses indivíduos, tornando-se necessário a elaboração de políticas públicas que
favoreçam a efetivação de alternativas viáveis para que essas pessoas possam ter
seus direitos reconhecidos. Por isso, torna-se fundamental compreender os
mecanismos normativos e institucionais de proteção voltados para essa população,
bem como a corresponsabilidade da família e do Estado, o que será analisado no
próximo capítulo.
25

3. RESPONSABILIDADES E PROTEÇÃO CONTRA O ABANDONO


FAMILIAR DOS IDOSOS

O envelhecimento passou a ser uma preocupação e o foco de muitas


pesquisas e estudos, a partir do momento que a parcela populacional com mais de
60 anos é a que está em maior crescimento no mundo, não sendo diferente no
Brasil, evidenciando que os idosos atualmente requerem novos espaços para viver
diante da realidade. Com isso, torna-se necessário que o poder público desenvolva
ciências e elabore normativas e políticas voltadas à faixa etária em questão, para
que possa haver um ajuste social, com a aceitação desse segmento etário
(BORGES, 2006). O amparo familiar e a presença de mecanismos de proteção
tornam-se fundamentais diante do processo de envelhecimento. Mas para isso, é
necessário analisar o compartilhamento de responsabilidades e a relação com os
mecanismos de proteção diante do abandono familiar de idosos.

MECANISMOS NORMATIVOS E INSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AO IDOSO O


exercício dos cuidados para com os idosos necessita de um enfoque global,
interdisciplinar e multidimensional, isso porque “A velhice necessita de maior
atenção, pois ainda sofre preconceitos e rejeição por parte da sociedade e
desvalorização no mercado de trabalho.” (BULLA; KAEFER, 2003, p. 74). Dessa
forma, a articulação, elaboração e implementação de normativas e de políticas
públicas que viabilizem programas de conscientização e respeito aos idosos e de
inclusão e compreensão dos (e pelos) idosos do seu espaço na sociedade, são
fundamentais.
Foi a Constituição de 1988 que estabeleceu os direitos fundamentais aos
idosos, também no âmbito internacional, até então não mencionados em outro texto
constitucional. Dessa forma “[...] tornou-se uma das mais significativas
representações da fundamentação dos direitos humanos. Ela se apresentou como
uma das mais avançadas do mundo, no que tange à matéria dos direitos e garantias
fundamentais do ser humano.” (ZARO, 2013, p. 86). Sendo a primeira a preconizar
26

a condição digna de vida, estabelece políticas sociais universais, que são: “[...]
dirigidas a toda a população; não contratualistas, o que significa que o cidadão não
precisa pagar por ela, por ter direito a ela, e que sejam geradas de forma solidária,
sistêmica e compulsória, por meio da captação justa de tributos.” (BORGES, 2006,
p. 84).
A Lei nº 10.741/03 engloba medidas estatais com o propósito de resguardar o
respeito e possibilitar o exercício da cidadania dos idosos, sendo-lhes assegurados
expressivos direitos, buscando a materialização para acessar a cidadania.
Representa, então: “[...] a construção da cidadania para as pessoas idosas, pois
através dessa legislação ocorre a tutela da população idosa, com vistas a incluir este
grupo socialmente, bem como possui a premissa a melhoria das condições de vida
do idoso.” (MENDES; SCHREINER, 2012, p. 144). Dessa forma, o Governo Federal:

Exercitou a obviedade, mas a medida se impunha diante da impossibilidade


de muitos idosos, sozinhos, alquebrados por doenças ou hipossuficientes,
às vezes abandonados pelos parentes, por esforço próprio enfrentarem as
afrontas cometidas pelos adultos, e pior ainda, até mesmo serem alvo dos
mais jovens, que deveriam respeitá-los, pelo simples fato de que, sem eles
não teriam existido; na verdade, aqueles incautos devem orar para atingir a
longevidade. (MARTINEZ, 2005, p. 13).

O artigo 3º do Estatuto dispõe sobre a responsabilidade conjunta da família, da


sociedade e do Estado. Nesse contexto,

É obrigação da família, da comunidade,


da sociedade e do Poder Público
assegurar ao idoso, com absoluta
prioridade, a efetivação do direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, à
cultura, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à
dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária. (BRASIL, 2003).

Há uma divisão para a manutenção dos direitos do idoso entre o Estado, a


família e a sociedade, de modo que o Estatuto do Idoso proporcionou uma maior
compreensão dos direitos e deveres entre o idoso e todo o corpo social que o cerca.
Mas a exclusão possui algumas peculiaridades, tais como:

A direta começa no meio familiar e no


ambiente de trabalho, retirando dos
idosos funções primordiais para a
27

dignidade humana. Já a exclusão


indireta, temos os governantes,
administrando o Estado de forma que
dificulta a participação do idoso na vida
ativa do nosso país. (SULTANI, 2010, p.
56).

Percebe-se, então, que a sociedade passou a ser o elemento fundamental, a fim de


aceitar e buscar a efetivação das mudanças sociais para evitar a exclusão do idoso,
por meio de criação de mecanismos para o seu amparo. Diante das constantes
transformações, compete a cada ser humano, nas relações sociais, “[...] tributar a
reverência devida àqueles que fazem por merecer a consideração humana, familiar
e social.” (MARTINEZ, 2005, p. 14). Torna-se inadmissível que o ser humano
considerado “velho” seja visto como um indivíduo em decadência, ou seja, “[...] que
não mais tem vontade, porque ele é sujeito de direitos como qualquer outra pessoa.
O homem só para de evoluir no momento de sua morte, e enquanto estiver vivo
sempre estará em busca de novos saberes e de afeto.” (STEFANO, 2010, p. 43).
28

4. OS HOSPITAIS E O ATENDIMENTO AOS IDOSOS

BREVE HISTÓRICOS SOBRE O ABANDONO DE IDOSOS EM HOPITAIS E


ASILOS
Esse tópico aborda um breve Histórico do abandono de idosos em Hospitais e
asilos, os documentos pesquisados poucos se referem a esse assunto os idosos são
incorporados ao conjunto dos adultos.
O surgimento de instituições e antigo e o cristianismo foi pioneiro ao amparo a
pessoa idosa. Segundo Beauvoir (1990, p.109) "estudar sobre os idosos ou também
chamados como velhos pelos tempos ou épocas, não é uma tarefa fácil. Poucos são
os documentos que fazem alusão ao tema, pelo fato de que os idosos são
englobados com os adultos".
O surgimento de instituições é antigo e o cristianismo foi pioneiro ao amparo a
pessoa idosa. Conforme Alcântara (2004, p.149), o asilo pioneiro no amparo aos
idosos “foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590) que transformou a sua casa em
um hospital para velhos” o autor também ressalta que no Brasil:

[...] o Conde de Resende defendeu que soldados velhos mereciam


uma velhice digna e descansada, em 179, no Rio de Janeiro, começou
então a funcionar a Casa dos Inválidos, não como ação de caridade, mas
como reconhecimento àqueles que prestaram serviço à pátria, para que
tivessem uma velhice tranquila. No Século XVIII, os asilos da Era
Elisabetana eram instituições que abrigavam mendigos. A partir do século
XIX, foram criados na Europa asilos grandiosos, com alta concentração de
velhos. O maior era o Salpêtrière, que abrigavam idosos em situação de
pobreza e exclusão social. No Brasil, o asilo São Luiz para a velhice
Desamparada, criado em 1890, foi a primeira instituição para idosos no Rio
de Janeiro. A instituição era um mundo à parte e ingressar nela significa
romper laços com a família e sociedade. Quando não existiam instituições
específicas para idosos, estes eram abrigados em asilos de mendicidade,
junto com outros pobres, doentes mentais, crianças abandonadas,
desempregados (ALCANTARA, 2004, P. 149).

A História mostra que o abandono de idosos em hospitais e asilos foi


uma forma de exclusão social, a partir do momento que as pessoas idosas vão
29

perdendo seus papéis sociais nas diferentes sociedades antigas, quando essas
pessoas não produziam mais com o seu trabalho, e na família se tornava aquele
indivíduo inútil e um incomodo.
Lembrando que as condições de vida naquelas civilizações eram difíceis,
e aquelas sociedades descartavam, ou depositavam os idosos nas casas de abrigos
das Igrejas, conventos e nos asilos, além dos idosos serem abandonados e
negligenciados eles eram assinados clandestinamente (Goffmann).
Mesmo com várias formas de institucionalização e quando não se possui
condições de cuidados o hospital passa a ser um momento de vida do idoso, não
podemos esquecer que a primeira fonte de cuidado é da família, quando esta não
tem o suporte inclina-se para os indicados maiores que e o asilamento, ou
institucionalização de longa permanência para idosos, denominados atualmente de
ILPI, antigos asilos. Vale lembrar que todo ser humano cresce, evolui se desenvolve
e constrói sua própria família. É dentro deste núcleo que se aperfeiçoa, a proteção
da vida do idoso passa ser da responsabilidade da família (Néri et al., 2012).
Família esta que acompanha todos os momentos destes idosos, na sua formação,
no equilíbrio afetivo e no desenvolvimento emocional e principalmente físico.
Entende-se que se deve aprender com o passado, e com o senso crítico do presente
realizar uma leitura do mundo atual, então se pergunta: “será que não se está
fazendo o mesmo com os nossos idosos hoje em dia”? Simone de Beauvoir (1990,
p.154) complementa em seus descritos que a história fornece poucas informações, e
neste contexto relata um dos acontecimentos em Roma: “Cezar diz que os gauleses
matavam os doentes e as pessoas idosas que desejavam morrer”. Também
descreve que “a igreja criou, a partir do século IV, asilos e hospitais”.

As relações entre o idoso e a família se modificam, uma das primeiras


mudanças ocorridas e/ou percebidas é a de inversão de papéis na hierarquia
familiar, geralmente ocorre que o idoso deixa de ser o ―chefe da família, aquele que
comanda as finanças até as decisões mais importantes da casa e passa a ser o
indivíduo comandado por seus familiares.
Ainda que possa ocorrer um estremecimento das relações familiares
decorrentes de tais questões evidenciadas, buscar um bom relacionamento entre o
30

idoso e a família pode ser benéfico para ambos os lados. Segundo Rodrigues e
Soares (2006),

A presença do idoso na família pode ter muito a contribuir para o grupo,


uma vez que ele, além de ter uma história pessoal a oferecer ao ambiente,
representa ainda a história da estrutura familiar em si. São eles, os
transmissores de crenças, valores que contribuem para a formação de
indivíduos conscientes de suas raízes ajudando a construir seus referenciais
sociais. (p. 16)

Embora na prática nem sempre a realidade observada seja do idoso ser tratado
dignamente por sua família, tendo em vista que as relações familiares são
construídas ao longo da vida e que a convivência pode não ter sido da melhor forma,
não se pode ignorar a necessidade de um bom relacionamento entre os idosos e
seus familiares.
31

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletindo sobre o que tratamos neste trabalho de conclusão de curso, com a


implantação do Estatuto do Idoso em 2003, a pessoa idosa viu-se legalmente
protegida, o que seria uma verdade se não fosse o contexto de retrocesso das
políticas no neoliberalismo.

Mesmo com a criação de uma legislação específica voltada para os idosos, muito há
de ser feito, pois a consolidação principalmente no Estatuto do Idoso esbarra no
desconhecimento do seu conteúdo por boa parte da população.
Sabemos que o Estado atua segundo os preceitos do neoliberalismo, operando sob
a lógica de políticas sociais precárias e focalizadas, abrindo espaço para que a
iniciativa privada e o ―terceiro setor‖ assumam o papel de promotor dessas
políticas. Portanto, é fundamental estimular a sociedade, com foco nos idosos, ao
conhecimento e a participação popular nos espaços de decisão política.
É nítido, sobretudo, quando falamos das instituições de longa permanência para
idosos no Brasil que a lógica privatista toma conta e predomina nessas instituições.
Quando acontece a necessidade de asilamento de um idoso nessas instituições de
longa permanência, seja por abandono, negligência ou até mesmo pelo fato da
família não possuir meios para oferecer uma condição de cuidados que o idoso
necessita, a opção para abrigá-los numa instituição pública de forma gratuita é
praticamente inexistente no país.
As lutas por direitos nutrem de possibilidades o processo de socialização da
política, ao mesmo tempo em que revelam os seus limites (BEHRING, 2009), as
políticas sociais destinadas aos idosos seguem uma trajetória de lutas da classe
trabalhadora.
O Estatuto traz muitos avanços em todas as áreas, mas só será concretizado com a
sua viabilização efetiva no cotidiano. Contrariamente, o cenário é de políticas sociais
restritas, com orçamentos reduzidos inclusive na esfera da Seguridade Social.
A ação profissional do assistente social neste espaço é mais um desafio. Os
profissionais que se comprometem nesta área, ultrapassam a mera execução de
32

políticas públicas aliando-se aos movimentos sociais na construção de um projeto


societário que garanta a cidadania. Sendo solidários na luta, devem potencializar o
protagonismo da pessoa idosa. O atendimento destinado ao idoso requer uma
abordagem multidisciplinar que congregue na consolidação de seus direitos e a ação
profissional do Serviço Social em programas direcionados aos idosos é indiscutível.
Avaliamos como uma situação árdua a vivida pela população idosa, pois os
mecanismos sociais, bem como os serviços públicos em geral, não acompanham o
constante crescimento dessa população e, para além, os benefícios disponíveis a
estes são insuficientes para uma vida digna e plena de direitos.
Cabe assim, ao Serviço Social, aproximar-se mais e de maneira mais consistente e
embasada na intervenção social junto ao idoso, considerando esse debate
contemporâneo e a necessidade de aprofundamento profissional para garantir a
autonomia do idoso. É preciso que a população idosa seja ouvida e respeitada com
relação a sua condição, seus limites e possibilidades.
Ainda que a profissão encontre-se imbricada por contradições postas pela lógica
capitalista e por conta disso, tender a moldar-se a partir de seu lócus de inserção, a
prática profissional exige capacidade de leitura da realidade, além da habilidade de
inserir-se em relações sociais. Sua relação com o usuário não pode ser prejudicada
por uma lógica verticalizada presente em uma instituição ou ainda por embates
dentro da equipe que o mesmo é participante. Visto que seu maior desafio, como
pontua Iamamoto (2007), é o de desenvolver sua capacidade de construir propostas
de trabalho criativas e que sejam capazes de preservar e efetivar direitos a partir de
demandas que venham a emergir do cotidiano.
Fato é que, necessita-se de um profissional assistente social que trabalhe na esfera
da execução, pense na formulação de políticas públicas e na gestão dessas
políticas, com vistas na garantia de direitos e condições dignas de vida e de trabalho
para seus usuários, dando ainda visibilidade de conhecimento da população aos
direitos que protegem o idoso.

Porém, exigir mudanças e promover mudanças e embates políticos, só torna-se


possíveis se a classe profissional elaborar projetos a partir de incômodos percebidos
durante sua realidade dentro da instituição que se insere. Contudo, tomando
especial atenção para não apresentar uma visão fatalista - acreditando que os
33

limites estão postos e que não há nada que possa ser feito para mudar - se ainda
menos, ter visão messiânica, achando que sozinho pode modificar não somente
aquela realidade, como também o mundo; mas ter a certeza de que com a
apropriação real das possibilidades e apoiando-se na teoria, há um campo de ação
para que sejam feitas proposições.
Necessário é tornar-se um profissional propositivo, mas também executivo,
rompendo com as correntes de atividades burocráticas e que reduzem o trabalho do
profissional a uma simples prática rotineira, visto que somos uma categoria
plenamente capaz de propor mudanças e instituir projetos juntamente às esferas
onde nos inserimos.
Destacamos enfim, com um apontamento trazido por Beauvoir (1990), ao questionar
se a velhice seria ou não a pior desgraça que poderia acontecer ao homem,
referindo-se a maneira como a mídia reconhece o idoso e o processo de
envelhecimento, em um momento de culto à beleza. Fato é que ao idoso deve ser
garantida sua dignidade de sobrevivência, de maneira a assegurar uma vida plena
não somente de direitos, mas também de afetos e de felicidade, seja no seio de sua
família ou em redes de sociabilidade em suas mais diferentes expressões.
34

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Renata Barbosa de; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson. Direito civil:
famílias. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. E-book. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em: 17 maio 2018.

BRASIL. Lei n. 10.741, de 1 de outubro de 2003. Estatuto do idoso. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 23 mar.
2018.

CALDERÓN, Ricardo. Princípio da afetividade no Direito de Família. 2. ed. Rio de


Janeiro: Forense, 2017. E-book. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em: 17 maio 2018.

CARDIN, Valéria Silva Galdino. Dano moral no Direito de Família. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br>.
Acesso em: 17 maio 2018.

CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. Ebook. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em:
4 jun. 2018.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 12. ed. São


Paulo: Atlas, 2015. E-book. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em: 21 abr. 2018.

SCHNEIDER, Elmir Jorge. Direitos Humanos, Atuação Policial e Violência. Ijuí:


Ed. Unijuí, 2016.

KARAM, Adriane Leitão. Responsabilidade Civil: O Abandono Afetivo e Material


dos Filhos em Relação aos Pais Idosos. 2011. 75f. Monografia (Especialização
em Direito de Família, Registros Públicos e Sucessões do Centro Social de Estudos
Aplicados) – Escola Superior do Ministério Público do Ceará. Fortaleça/Ceará, 2011.
Disponível em: <https://
www.mp.ce.gov.br/esmp/biblioteca/monografias/dir.familia/responsabilidade.civil.pdf/
>. Acesso em: 12 jun. 2017.

ZIMERMAN, Guite I. Velhice: Aspectos Biopsicossociais. 1. reimp. Porto Alegre:


Artmed, 2005.
35

BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Tradução de Maria Helena Franco Monteiro. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1990;

IAMAMOTO, Marilda Vilela. A questão social no capitalismo. In. Revista


Temporalis. n. 03 Jan-Jun. 2001. Brasília. 2001.

GOFFMAN, Erving. Estigma - Notas Sobre a Manipulação da Identidade


Deteriorada. Rio de Janeiro: Guanabara, 1998;

Você também pode gostar