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Cuiabá
2019
DENER CARDOSO FERNANDES
TÍTULO DO TRABALHO:
Cuiabá
2019
BANCA EXAMINADORA
RESUMO
Conflitos geracionais, reconhecimento de novo papéis sociais, vulnerabilidade,
violências e maus-tratos, alterações fisiológicas, cognitivas e diversas limitações,
são questões que permeiam o cotidiano de uma pessoa idosa, seus familiares e
toda sociedade. Frente a esse contexto que surge a questão do abandono de idosos
em hospitais, situação que tem chamada atenção de profissionais das áreas da
saúde, jurídica e social. Os operadores da área do direito, da assistência social e da
saúde encontrarão nesse trabalho um assunto pouco tratado, um problema que
passa despercebido no Brasil. Com a longevidade e o envelhecimento populacional
é inevitável fatos como abandono e maus-tratos. Este estudo destaca tópicos que
visualiza o conhecimento jurídico dentro do contexto sobre o abandono de idosos,
principalmente no município de Cuiabá- MT, além de dar enfoque a família e ao
fundamentos da dignidade do ser humano e os direitos da pessoa idosa Políticas
públicas se fazem urgentes para atender uma demanda crescente, tendo que ser
chamada a atenção de profissionais da área da saúde, jurídica e social.
ABSTRACT
SUMÁRIO
2. O ABANDONO FAMILIAR......................................................................................7
3. RESPONSABILIDADES E PROTEÇÃO CONTRA O ABANDONO FAMILIAR
DOS IDOSOS ............................................................................................................25
4.OS HOSPITAIS O ATENDIMENTO AOS IDOSOS................................................19
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 26
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1. INTRODUÇÃO
2. O ABANDONO FAMILIAR
tem ‘muita’ idade. A definição de ‘muita’ traz uma carga valorativa” (CAMARANO;
PASINATO, 2004, p. 5).
O Estatuto do Idoso considera como tal todo aquele com idade igual ou
superior a 60 anos, tendo assim um critério cronológico para definir e regulamentar
as garantias estatais de direitos (BRASIL, 2003). Além disso,
Debater sobre a velhice é abordar um tema que, até pouco tempo atrás, era
considerado uma questão da esfera privada e familiar, bem como da previdência
individual e das associações filantrópicas. Mas as mudanças oriundas com o
envelhecimento acabam demandando o desenvolvimento de práticas voltadas para
esses indivíduos, ou seja, com intervenções do estado, a fim de estabelecer regras e
organizar a convivência social (SCHENEIDER, 2016).
O Brasil, considerado um país até então jovem, passa por transformações,
pois:
[...] começa a dar lugar a uma realidade diferente e traz a consciência de
que a velhice existe e é uma questão social que pede uma atenção
muito grande. (ZIMERMAN, 2005, p. 24).
seguir suas vidas, diante das alterações que ocorrem nessa evolução, gerando o
abandono e desvalorização, além de causar a exclusão por não possuírem mão de
obra qualificada e adequada para o mercado de trabalho (BERTA; DUARTE, 2006).
Torna-se importante destacar também, um ponto, ainda pouco discutido,
referente aos cuidados com as pessoas idosas, ou seja, quanto à dependência, na
medida em que ocorre uma redução na capacidade laboral, influenciando
diretamente na concessão da renda.
Logo, o status de aposentado não significa uma conquista real para muitos,
pois o indivíduo acaba sendo desintegrado socialmente, tendo que se afastar,
muitas vezes, de suas finalidades anteriores, perdendo assim o sentido e prazer
pessoal, por desligar-se do trabalho.
Para um idoso viver dignamente bem, carece de condições financeiras
condizentes com a realidade na qual vive. Mas a maioria deles acaba tendo que
viver e suprir suas necessidades com apenas um salário mínimo advindo da
aposentadoria, muitas vezes sem suporte familiar ou de meios assistenciais,
limitando-se aos proveitos da vida, diante das dificuldades enfrentadas,
influenciando diretamente na sua qualidade de vida (BERTA; DUARTE, 2006).
O Estatuto do Idoso é categórico ao mencionar em seu Art. 8º que: “O
envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos
termos desta Lei e da legislação vigente. ” (BRASIL, 2003). Diante disso, é preciso
concretizar a participação social do idoso, a fim de ter-se uma sociedade mais
solidária e justa.
O ingresso do idoso em uma instituição asilar desvincula, então, o indivíduo
do seu mundo exterior e esse passa a viver sob os regramentos presentes no novo
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ambiente. Cria-se uma nova visão do mundo, associado a novos hábitos e costumes
e, o idoso acaba tendo que se readaptar com todas as mudanças e a ter uma nova
vida. Todavia, há idosos que procuram as instituições de longa permanência, sendo
aqueles que:
O idoso “[...] transfere sua vida privada para um espaço coletivo,
compartilhado com pessoas que não escolheu e que tampouco conhece. ”
(PEIXOTO, 2011, p. 342).
Viver nas casas de repouso acaba tornando-se uma forma de ter proteção,
assistência e segurança, pois o asilo é considerado a modalidade mais antiga de
acolhimento para os idosos. A faixa etária, o sexo, estado civil e os indicadores de
renda são fatores, que influenciam na passagem para o asilamento. Mas, por trás da
rotina de uma clínica, as pessoas acabam esquecendo-se da realidade. Os idosos
são seres pensantes, assim como qualquer outro indivíduo e as ilustrações de uma
imagem e de estatísticas, muitas vezes, não condizem com o que a pessoa idosa
precisa (AGICH, 2008).
As necessidades dos idosos, as características e as suas particularidades,
devem ser consideradas e compreendidas no contexto do cuidado. Porém, a perda
da capacidade é assimilada como a interpretação da extinção de todos os seres
humanos, sob o entendimento do que é ser velho na sociedade.
por meio da prestação de serviços aos idosos, que não possuem condições de
optarem por outra instituição.
Essa violência compreende diferentes formas de ações e de omissões, tais
como a discriminação de classes, idade e gênero, falta de comunicação e
informações precisas, as péssimas formas de tratamentos em algumas instituições
de longa permanência, as queixas e reclamações dos serviços, diante da
desqualificação de alguns profissionais ou mesmo pela demora no atendimento, das
quais o idoso acaba sendo penalizado. (ZIMERMAN,2005)
A questão em torno da violência institucional está vinculada com os direitos
humanos, pois violam sua integridade, submetendo a situações, muitas vezes,
desumanas, e de profunda agonia (BERZINS; WATANABE, 2013). Além de serem
alvos propícios de várias formas de violência há de se destacar a psicológica,
considerada a violência que influencia na autoestima e na integridade do ser
humano. Vinculada com prática dos atos de
“[...] agressões verbais ou gestuais, com o objetivo de aterrorizar os
idosos, humilhá-los, restringir sua liberdade ou isolá-los do convívio
social.” (BERZINS; WATANABE, 2013, p.154).
O idoso requer muito mais que condições econômicas. Ele espera pelo
acompanhamento e estimulação de todos que o cercam, a fim de que ele possa ser
compreendido.
A solução, por ora, diante do abandono do idoso, é fazer um revezamento dos
cuidados entre os seus filhos, ou demais familiares. Entretanto, nem sempre ter
filhos representa a garantia para os cuidados necessários na velhice, o respeito e a
inexistência de manifestações de violência, pois os vínculos construídos nem
sempre condizem com a necessidade exigida e a realidade encarada pelo idoso
(LEMOS, 2006).
A partir da análise da figura do ser humano idoso, das formas de violência e
do abandono familiar, verifica-se a falta da proteção e condições dignas de vida a
esses indivíduos, tornando-se necessário a elaboração de políticas públicas que
favoreçam a efetivação de alternativas viáveis para que essas pessoas possam ter
seus direitos reconhecidos. Por isso, torna-se fundamental compreender os
mecanismos normativos e institucionais de proteção voltados para essa população,
bem como a corresponsabilidade da família e do Estado, o que será analisado no
próximo capítulo.
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a condição digna de vida, estabelece políticas sociais universais, que são: “[...]
dirigidas a toda a população; não contratualistas, o que significa que o cidadão não
precisa pagar por ela, por ter direito a ela, e que sejam geradas de forma solidária,
sistêmica e compulsória, por meio da captação justa de tributos.” (BORGES, 2006,
p. 84).
A Lei nº 10.741/03 engloba medidas estatais com o propósito de resguardar o
respeito e possibilitar o exercício da cidadania dos idosos, sendo-lhes assegurados
expressivos direitos, buscando a materialização para acessar a cidadania.
Representa, então: “[...] a construção da cidadania para as pessoas idosas, pois
através dessa legislação ocorre a tutela da população idosa, com vistas a incluir este
grupo socialmente, bem como possui a premissa a melhoria das condições de vida
do idoso.” (MENDES; SCHREINER, 2012, p. 144). Dessa forma, o Governo Federal:
perdendo seus papéis sociais nas diferentes sociedades antigas, quando essas
pessoas não produziam mais com o seu trabalho, e na família se tornava aquele
indivíduo inútil e um incomodo.
Lembrando que as condições de vida naquelas civilizações eram difíceis,
e aquelas sociedades descartavam, ou depositavam os idosos nas casas de abrigos
das Igrejas, conventos e nos asilos, além dos idosos serem abandonados e
negligenciados eles eram assinados clandestinamente (Goffmann).
Mesmo com várias formas de institucionalização e quando não se possui
condições de cuidados o hospital passa a ser um momento de vida do idoso, não
podemos esquecer que a primeira fonte de cuidado é da família, quando esta não
tem o suporte inclina-se para os indicados maiores que e o asilamento, ou
institucionalização de longa permanência para idosos, denominados atualmente de
ILPI, antigos asilos. Vale lembrar que todo ser humano cresce, evolui se desenvolve
e constrói sua própria família. É dentro deste núcleo que se aperfeiçoa, a proteção
da vida do idoso passa ser da responsabilidade da família (Néri et al., 2012).
Família esta que acompanha todos os momentos destes idosos, na sua formação,
no equilíbrio afetivo e no desenvolvimento emocional e principalmente físico.
Entende-se que se deve aprender com o passado, e com o senso crítico do presente
realizar uma leitura do mundo atual, então se pergunta: “será que não se está
fazendo o mesmo com os nossos idosos hoje em dia”? Simone de Beauvoir (1990,
p.154) complementa em seus descritos que a história fornece poucas informações, e
neste contexto relata um dos acontecimentos em Roma: “Cezar diz que os gauleses
matavam os doentes e as pessoas idosas que desejavam morrer”. Também
descreve que “a igreja criou, a partir do século IV, asilos e hospitais”.
idoso e a família pode ser benéfico para ambos os lados. Segundo Rodrigues e
Soares (2006),
Embora na prática nem sempre a realidade observada seja do idoso ser tratado
dignamente por sua família, tendo em vista que as relações familiares são
construídas ao longo da vida e que a convivência pode não ter sido da melhor forma,
não se pode ignorar a necessidade de um bom relacionamento entre os idosos e
seus familiares.
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5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo com a criação de uma legislação específica voltada para os idosos, muito há
de ser feito, pois a consolidação principalmente no Estatuto do Idoso esbarra no
desconhecimento do seu conteúdo por boa parte da população.
Sabemos que o Estado atua segundo os preceitos do neoliberalismo, operando sob
a lógica de políticas sociais precárias e focalizadas, abrindo espaço para que a
iniciativa privada e o ―terceiro setor‖ assumam o papel de promotor dessas
políticas. Portanto, é fundamental estimular a sociedade, com foco nos idosos, ao
conhecimento e a participação popular nos espaços de decisão política.
É nítido, sobretudo, quando falamos das instituições de longa permanência para
idosos no Brasil que a lógica privatista toma conta e predomina nessas instituições.
Quando acontece a necessidade de asilamento de um idoso nessas instituições de
longa permanência, seja por abandono, negligência ou até mesmo pelo fato da
família não possuir meios para oferecer uma condição de cuidados que o idoso
necessita, a opção para abrigá-los numa instituição pública de forma gratuita é
praticamente inexistente no país.
As lutas por direitos nutrem de possibilidades o processo de socialização da
política, ao mesmo tempo em que revelam os seus limites (BEHRING, 2009), as
políticas sociais destinadas aos idosos seguem uma trajetória de lutas da classe
trabalhadora.
O Estatuto traz muitos avanços em todas as áreas, mas só será concretizado com a
sua viabilização efetiva no cotidiano. Contrariamente, o cenário é de políticas sociais
restritas, com orçamentos reduzidos inclusive na esfera da Seguridade Social.
A ação profissional do assistente social neste espaço é mais um desafio. Os
profissionais que se comprometem nesta área, ultrapassam a mera execução de
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limites estão postos e que não há nada que possa ser feito para mudar - se ainda
menos, ter visão messiânica, achando que sozinho pode modificar não somente
aquela realidade, como também o mundo; mas ter a certeza de que com a
apropriação real das possibilidades e apoiando-se na teoria, há um campo de ação
para que sejam feitas proposições.
Necessário é tornar-se um profissional propositivo, mas também executivo,
rompendo com as correntes de atividades burocráticas e que reduzem o trabalho do
profissional a uma simples prática rotineira, visto que somos uma categoria
plenamente capaz de propor mudanças e instituir projetos juntamente às esferas
onde nos inserimos.
Destacamos enfim, com um apontamento trazido por Beauvoir (1990), ao questionar
se a velhice seria ou não a pior desgraça que poderia acontecer ao homem,
referindo-se a maneira como a mídia reconhece o idoso e o processo de
envelhecimento, em um momento de culto à beleza. Fato é que ao idoso deve ser
garantida sua dignidade de sobrevivência, de maneira a assegurar uma vida plena
não somente de direitos, mas também de afetos e de felicidade, seja no seio de sua
família ou em redes de sociabilidade em suas mais diferentes expressões.
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REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Renata Barbosa de; RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson. Direito civil:
famílias. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. E-book. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em: 17 maio 2018.
CARDIN, Valéria Silva Galdino. Dano moral no Direito de Família. São Paulo:
Saraiva, 2012. E-book. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br>.
Acesso em: 17 maio 2018.
CARVALHO, Dimas Messias de. Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. Ebook. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br>. Acesso em:
4 jun. 2018.
BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Tradução de Maria Helena Franco Monteiro. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1990;