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Processo do trabalho - Aula do dia 15-02-19


Professora: Márcia Cruz

Unidade I- Teoria Geral do Processo do Trabalho


O processo do trabalho instrumentaliza, torna possível a reparação de
lesões ocorridas no direito material a ele vinculado, ou seja, o direito do trabalho.
Então é um ramo que nasceu para facilitar a efetivação do direito do trabalho.
Conceito de processo do trabalho:
É um ramo da ciência jurídica, com regras, princípios e teorias próprias que
tem por finalidade pacificar os conflitos de interesses de natureza trabalhista
através de uma justiça especializada (justiça do trabalho).
O processo do trabalho é autônomo em relação ao processo civil? Será que
o processo do trabalho tem existência própria? Posso afirmar que nós temos
autonomia cientifica? Sim.
O processo do trabalho é autônomo porque tem teorias e princípios
próprios e autonomia cientifica.
Nós temos leis próprias. A CLT prevê sobre o direito material, mas também
prevê sobre direito processual do trabalho. A partir do art..... da CLT você vai
estudar processo do trabalho. Lógico que como é uma consolidação, não é um
código, nós temos também legislação extravagante, com leis que
complementam a CLT. Mas aqui no processo do trabalho nós não estudamos o
código de processo civil, não. Nós estudamos na CLT. Nós podemos recorrer
volta e meia ao CPC porque é normal, porém nós não utilizamos o CPC como
fonte principal, A fonte principal é a CLT e as leis específicas do processo do
trabalho.
Autonomia didática: Sim, nós temos autonomia didática porque temos
duas cadeiras aqui e uma opção na OAB também. Se não fosse autônomo não
teria isso.
Autonomia doutrinária: Tem porque tem livros somente do processo do
trabalho.
Autonomia legislativa: Como eu disse, não é definição de autonomia, mas
agrega valor, que no caso nós temos a justiça do trabalho.
Lembrando que esses requisitos são cumulativos, não devem ser
analisados de forma isolada, a soma deles é que responde que o ramo jurídico
é autônomo ou não.
Então o processo do trabalho é autônomo em relação ao processo civil
porque ele tem autonomia:
- Cientifica;
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- Didatica: as disciplinas;
Doutrinária: livros;
Autonomia jurisdicional: Justiça do trabalho.
Autonomia:
Aqui nós temos três correntes para explicar essa autonomia:
1- Corrente monista: minoritária;
2- Corrente dualista: majoritária;
3- Corrente que defende uma autonomia relativa: isolada.

Corrente monista:
Ela é minoritária porque ela defende que o processo do trabalho é mera
decorrência do processo civil. Defende que o processo do trabalho não é
autônomo e que ele está dentro do processo civil – porque tudo aquilo que ele
trabalha parte dos institutos que são do processo civil. Essa corrente ta
equivocada porque os conceitos e institutos que são tratados aqui iguais ao
processo civil são os que vem da teoria geral do processo – TGP, que são
comuns a todos os ramos do processo: ação, procedimento e competência são
comuns a todos os ramos do processo, não é só do processo civil. Então isso
não é um bom argumento.
Temos institutos próprios: o dissídio coletivo, a sentença normativa, não
existe isso na esfera processual cível. Nós temos princípios que são só nossos.
Essa teoria não se sustenta, por isso é minoritária.

Corrente Dualista:
Diz que o processo do trabalho é autônomo em relação ao processo civil
porque tem autonomia cientifica, legislativa, didática, doutrinária e uma justiça
especializada para agregar valor.

Corrente que defende uma autonomia relativa:


Esta corrente é isolada porque só um autor a defende.
Ela diz que pelo fato de nós utilizarmos o CPC como fonte subsidiária nós
não teríamos normas suficientes para regulamentar os nossos institutos. Esse
argumento também não se sustenta porque o processo civil também utiliza
outras leis.(14:30)

A grande pergunta é se o processo do trabalho é autônomo em relação ao


processo civil (15:00).

Fontes do direito Processual do trabalho

Conceito: Fontes do processo do trabalho são o local onde nasce e se


exterioriza esse ramo jurídico – processo do trabalho.
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Aqui nós temos fontes FORMAIS e Fontes MATERIAIS. Mas do ponto de


vista formal nós temos a seguinte classificação: Fontes formais direitas, fontes
formais indiretas e fontes formais de explicitação.
Fontes Formais:
- Fontes formais diretas;
- Fontes formais indiretas; e
- Fontes formais de explicitação.
As fontes materiais é o local onde nasce o direito. Por isso eu posso dizer
que as fontes materiais são antes da norma. Nenhuma norma nasce por acaso.
Ex: A reforma trabalhista trouxe a ideia de que o reclamante que faltar a
primeira audiência e não justificar, paga uma multa. Porque já tava virando moda
reclamantes desrespeitosos que ficavam brincando, aí criaram essa norma para
ver se a pessoa cria vergonha e só procure a justiça se for para realmente manter
seus argumentos.
Também no processo se entende que as partes são desiguais, por isso que
aqui o reclamante tem bastante acesso à justiça. É essa situação econômica,
social ou puramente jurídica que justifica as normas serem criadas. Eu não
poderia aplicar o processo civil aqui porque ele parte ideia de que as partes são
iguais – aqui no processo do trabalho são desiguais. Fontes materiais são
sempre antes da norma nascer.

Fontes formais:
Quando se fala em fontes formais a norma já existe, porém ela tem que se
tornar conhecida por todos nós operadores do direito. Três tipos de fontes
formais:
- Direta;
- indireta; e
- de explicitação.
Fonte formal direta: É a própria norma. Ex: A lei. Mas não é lei no sentido
strito senso, é lato senso, ou seja, são todas as normas que são utilizadas no
processo do trabalho.
Ex: Primeiramente a nossa lei maior que é a CF, CLT, CPC, cód. De defesa
do consumidor, lei 7347/85, lei da reforma 13.467/17, lei 120/09, CPP: além disso
tudo nós temos leis que são propriamente nossa que fazem parte da legislação
extravagante – lei 5584/70, lei 7701/88. Isso é fonte formal direta.
Para finalizar eu tenho uma pergunta: sabe o que é uma sumula vinculante?
O que é? É uma decisão proferida pelo STF a partir do quantitativo mínimo de
ministros que pacifica determinado assunto e que observadas as modalidades
legais ela tem força de lei. A pergunta que não quer calar: A sumula vinculante
pode ser considerada fonte formal direta? Sim, porque ela tem força de lei, só o
STF faz.
Mas é só a lei que é considerada fonte formal direta ou existe mais alguma
coisa? Existe. Nós temos como fonte formal direta também os costumes
judicializados – o que seria isso? Costumes são praticas rotineiras que ocorre
numa sociedade. Quando se compara costumes com uso, o costume é mais
amplo. Trazendo para uma relação de trabalho: costume é aquilo que ocorre
numa empresa e o uso é aquilo que ocorre entre Márcia e seu empregador.
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Ex: A empresa tem o habito de pagar os funcionários no dia 1º, a


empregada Márcia....
Mas o que torna o costume judicializado?
Qual a diferença do costume puramente para o costume judicializado?
O costume judicializado: são práticas reiteradas que apesar de não
ter previsão legal são consideradas válidas e obrigatórias pelo poder judiciário
trabalhista. Porque eles são fonte formal direta? Porque é como se fosse uma
conduta obrigatória – aquele mesmo status da norma, só que não há previsão
legal, mas são comportamentos que ocorrem que a lei considera válida ou
obrigatória.
Ex1: Protesto nos autos;
Ex2: Contestação escrita.

O que é protesto nos autos?


Aqui no processo trabalhista nunca pode recorrer de imediato de uma
decisão interlocutória. Aqui funciona da seguinte forma: O juiz de 1º grau profere
uma decisão interlocutória, eu só posso recorrer dessa decisão no recurso que
eu vou atacar a sentença de mérito (aqui é o recurso ordinário que ataca a
sentença). Então aqui como regra (mas tem exceção), por exemplo, o juiz não
admite um documento na audiência, ou rejeita uma testemunha que eu entenda
que é importantíssima para o processo – isso é uma decisão interlocutória.
Mas como regra eu não posso recorre de imediato, eu tenho que esperar o
juiz sentenciar, aí como preliminar do recurso eu ataco aquela decisão
interlocutória.
Não pode recorrer de imediato porque nós primamos pela celeridade –
quem está litigando é um desempregado que está em busca de um crédito de
natureza alimentar.

Mas aonde entra o protesto nos autos aqui?


Se o juiz profere uma decisão interlocutória, é obrigatório que na mesma
hora eu tenho que fazer protesto nos autos. Porque se eu não protestar contra
essa decisão interlocutória no momento da audiência eu perco o direito de
recorrer dela lá na frente no recurso contra a sentença. Não tem previsão em lei,
mas a jurisprudência majoritária entende que para eu recorrer eu tenho que ter
antes protestado – por isso que é um costume judicializado, porque não tem lei
mas é uma conduta obrigatória pelo judiciário trabalhista.
- art. 893, CLT, parag, 1º, CAPUT também.

Segundo exemplo de costume judicializado: CONSTATAÇÃO ESCRITA.


Aqui por lei a contestação sempre foi oral, em 20 minutos – art. 847, CLT.
A reforma acrescentou o parag, único no art. 847, lá diz que nos processos
eletrônicos a parte poderá apresentar contestação escrita. Ainda é costume
apresentarem de forma oral, sim, porque a maior parte dos processos ainda são
físicos, mas como ta normatizado agora para processo eletrônico perdeu um
pouco o sentido de ser um exemplo de costume judicializado.
Porque ta escrito ai nesse art. Que a parte “poderá” e não “deverá”, porque
eu posso chegar a audiência e fazer oralmente, ou se eu quiser fazer escrito eu
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tenho que fazer até uma hora antes por meio eletrônico – art. 847, CLT- Parag.
Único.
Resumindo: Fonte formal direta: lei e costumes judicializados.

Fontes Formais Indiretas:


São aquelas que de forma acessória tornam a norma conhecida.
Ex: Doutrina e jurisprudência. Mas não é a jurisprudência comum, é só a
jurisprudência que é convertida em sumulas e OJs. Porque a jurisprudência de
modo geral apecia casos específicos – a sumula e a OJ é que vão compreender
a norma lato senso (forma ampla).
OBS: é a doutrina e a jurisprudência convertida em sumula e OJ.

Fontes formais por explicitação:


Elas são o mesmo que fontes integrativas. O que é isso? São aquelas que
suprem lacunas. As fontes integrativas são aquelas “quando a lei for omissa o
juiz recorrerá a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. Aqui não
funciona assim. Aqui costumes são fontes diretas mas não é qualquer costume,
é se ele for judicializado. Aqui as fontes formais de explicitação são três:
a) Analogia;
b) Princípios; e
c) Equidade.
Aqui se a lei for omissa o juiz poderá recorrer a analogia, princípios e
equidade.
O que é analogia?
É quando uma lei é omissa mas eu posso pegar uma lei de outro ramo
jurídico, se for compatível e aplicar – analogia legis.
Quando não há uma lei eu posso pegar um sistema jurídico de princípios
para aplicar – analogia juris
- Analogia legis;
- Analogia juris.
O que são os princípios?
São valores, diretrizes etc, e que pode resolver uma coisa que a lei não
resolveu.
E o que é equidade?
É julgar com justiça, julgar por igual. Lembrando que o juiz não pode atacar
a lei e julgar com seus conceitos pessoais de justiça e de igualdade. Ele tem que
pegar a lei, interpretar a luz da justiça e da igualdade. Por isso que não se pode
julgar por equidade mas sim julgar com equidade.
Mas a pergunta que não quer calar: o juiz pode fazer isso quando e como
ele quiser? Aqui nós não temos previsão na CLT, nós utilizamos como fonte
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subsidiária o ART. 140 CPC que diz que o juiz só pode julgar com equidade
quando a lei autorizar.
- art. 140, CAPUT e parag, único CPC.
- Esse art. É aplicado de forma subsidiária ao processo do trabalho.
Mas quais seriam os exemplos do processo do trabalho que o juiz está
autorizado por lei a julgar com equidade?
- art. 852-I, parag. 1º, CLT – “Justa” e “equânime” – equânime é equivalente
a equidade. Esses são exemplos de equidade.

HERMENEUTICA
O que é hermenêutica?
O que é hermenêutica? É a mesma coisa de interpretação? Ou são coisas
diferentes?
A hermenêutica se difere da interpretação porque ela é uma ciência, tanto
é que tem universidade que tem uma cadeira de hermenêutica.
A hermenêutica é a ciência que busca descobrir o sentido e o alcance da
norma.
Já a interpretação é um meio utilizado pela hermenêutica para descobrir o
sentido e o alcance da norma.
Conceito de Hermenêutica:
É a ciência que busca através de instrumentos específicos descobrir o
sentido e o alcance da norma jurídica. Que instrumentos são esses?
Interpretação, integração quando necessário e aplicação.
- Interpretação;
- Integração: quando necessário; e
- Aplicação.
A interpretação é um meio, a forma pela qual a hermenêutica tenta
descobrir o sentido e o alcance da norma jurídica.
No contexto da interpretação nós temos três situações:
1º- A fase de quem interpreta: classificada quanto a origem;
2º - temos os métodos que são utilizados: que é quanto ao método;
3º - E temos os resultados alcançados: que é a classificação quanto ao
resultado.
Quanto a origem: quem é que pode interpretar?
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- Ela pode ser autentica: quando o próprio legislador a interpreta;


- Ela pode ser doutrinária: quando a doutrina interpreta; e
- pode ser jurisprudencial: quando a jurisprudência faz isso.
Quanto aos métodos: Quais são os métodos que eu vou utilizar para
interpretar uma norma?
a) Literal ou gramatical: aquilo que ta escrito;
b) Método sistemático: que analisa não a norma isolada mas todo o
contexto jurídico que ela ta inserida;
c) Metodo teleológico: busca descobrir os motivos pelos quais se
implementou aquela norma.
Quanto ao resultado da interpretação pode ser:
a) Declaratória;
b) Extensiva ou ampliativa; e
c) Restritiva.

Declaratória quando a interpretação se faz estritamente com aquilo que ta


na norma. O conteúdo da norma é suficiente para dizer aquilo que ela quis dizer;
Ampliativa é quando a norma disse menos do que ela queria dizer, então
eu tenho que ampliar o horizonte da norma;
Restritiva é quando a norma disse mais do que ela queria dizer e eu tenho
que restringir.

Eu interpretei, fiz tudo isso aí, mas eu percebi que a norma não se adequa
ao caso concreto. Então para eu poder aplicar eu tenho que antes integrar.
Por isso que eu uso sempre a intepretação e a aplicação mas nem sempre
a integração.
Eu só vou utilizar a integração quando a norma que eu interpretei não for
suficiente para se aplicar ao caso concreto. Porque eu percebo que há uma
lacuna.
Pego uma norma e interpreto, se ela não se adequar ao caso concreto eu
vou integrar.
Integrar é suprir a lacuna. Para suprir a lacuna eu tenho que saber que tipo
de lacunas eu tenho.
- Lacuna normativa;
- Lacuna ontológica;
- Lacuna axiológica.
Atividade:
Diferencie as lacunas normativas das lacunas ontológicas e axiológicas.
OBS: referencia para pesquisar: bibliografia do plano de ensino.

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