Você está na página 1de 14

FLORIDA CRHISTIAN UNIVERSITY

CAMPUS UNIFUTURO – NÚCLEO NORDESTE


MESTRADO EM EDUCAÇÃO

FABRÍCIA KELLY GONÇALVES LIMA


GIORGI BARBOSA FONSECA
LAYSE ELAINE FEITOSA SOARES
RODRIGO
ROGERIO

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

PICOS
2014
As novas configurações familiares

Introdução

A família enquanto instituição corresponde a estruturação social, afetiva e


econômica do sujeito, quando é a partir dela que o mesmo se constrói nas relações. O
grupo familiar, dessa forma, apresenta-se na maioria das vezes como sendo o primeiro
em que o indivíduo irá iniciar a vida social e afetiva. Contudo a família será a primeira
instância que lhe transmitirá valores e ensinamentos sobre questões de papéis, formação
enquanto pessoa, moralidade e conceitos de mundo, ensinando as maneiras de se portar
diante das dificuldades entre outras situações, que depositará a família como referência para os
indivíduos em sua formação tanto pessoais, como sociais.

Tratar das configurações familiares nos dias de hoje apresenta-se como um


grande desafio, tendo em vista a complexidade do tema. Muito se fala que a família está
acabando, mas o que está acontecendo é uma profunda mudança no seu perfil. Embora o
conceito atual de família seja muito diferente do que se tinha em tempos passados, ainda
continua sendo a família o centro com que as pessoas se identificam e em que aprendem
sobre a vida.

Segundo Sarti (2007), a família vem sofrendo transformações desde a Revolução


Industrial, que separou o mundo do trabalho do mundo familiar, instituindo a questão da
privacidade na família. Outros fatores determinantes para tais mudanças são o avanço
tecnológico e as descobertas científicas no que tange, principalmente, a reprodução
humana. A partir da década de 60, um fator vem para separar a sexualidade feminina da
reprodução: a ascensão da pílula anticoncepcional. Esta, juntamente com o trabalho
remunerado da mulher, acaba por inaugurar uma fase de modificações na família
contemporânea. A década de 80 também traz novas transformações para a instituição
familiar com as tecnologias de reprodução artificial, que dissociam a relação sexual da
gravidez. Mais um fator apontado pela autora está relacionado aos testes de DNA, que
vêm para comprovar a paternidade e reivindicar que o homem cumpra o seu papel de
pai. Para Sarti, isto se tornou um recurso de proteção não só para a mulher, mas também
para a criança.
Desenvolvimento

1.Família nuclear

Família nuclear, conjugal ou elementar: pai, mãe e filhos nascidos dessa união;
os irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe; é a família ocidental moderna,
monogâmica.

Também chamadas tradicionais, que os cristãos e conservadores defendem


ardorosamente, e já não podem ser vistas como uma forma familiar em que não existem
problemas como se pensava há pouco tempo. O ideal de casamento hoje propagado pela
mídia está muito distante do real. Quando as expectativas de “casamento ideal” não são
cumpridas, muitas vezes são os filhos que sustentam o casamento, especialmente no que
se refere às mulheres. Segundo pesquisa realizada por Gláucia Diniz e Vera Coelho:
“Os filhos aparecem nesse contexto como aquelas pessoas que sustentam suas forças,
organizam seu objetivo de vida, orientam seu sentido identitário” (FÉRES-
CARNEIRO.2003).

A composição de casais com filhos ainda representa a maioria das famílias


brasileiras, apesar da queda significativa nessa fatia da população: foi registrada redução
de 63,6%, em 2000, para 54,9% em 2010.

Na prática clínica, observa se que, na sua grande maioria, os filhos preferem que
seus pais resolvam seus conflitos para ficarem juntos, porque isso minimizaria algumas
dificuldades. Mas, quando eles observam os pais cada vez mais se desentendendo, eles
cada vez mais sendo o depósito das frustrações desses adultos que deveriam protegê-los,
verbalizam: “não quero mais ver meus pais brigando, acho melhor eles se separarem”.

A separação – mesmo que signifique o interrompimento de brigas – gera perdas


para todos os membros da família, especialmente para os filhos: perda do ideal de
família (ter pai e mãe morando juntos); datas especiais, antes compartilhadas, tendo que
ser negociadas: “Sinto saudades da minha mãe quando viajo com meu pai, mas é
gostoso”; e, em muitos casos, a continuidade dos conflitos entre pai e mãe, mesmo com
a separação.

É comum observar crianças divididas entre pai e mãe quando estes se separam
porque, muitas vezes, esses adultos – que deveriam estar em posição de proteção –
contribuem para piorar a situação transferindo para os filhos suas frustrações e mágoas.
Sabe-se que o sentimento da criança em relação à separação depende, e muito, da
maneira como os pais e os adultos a sua volta conduzem o processo. A questão é que os
adultos também estão fragilizados e muitas vezes carentes de apoio.

É preciso compreender que o processo de separação é muito próximo ao


processo de morte: morre o sonho, morre o ideal. Há um espaço vazio em casa, há uma
cadeira vazia na mesa e os sentimentos relacionados a essa perda precisam ser
acolhidos, falando-se dele e sobre ele. A elaboração do luto da separação é fundamental
para transformar esse momento difícil em possibilidade de crescimento para todos os
envolvidos.

No modelo dito “tradicional”, homens e mulheres tinham lugares e funções bem


definidas. O pai, que trabalhava fora, dirigia o carro e passeavas com a família nos
finais de semana, -cabeça da família - era o provedor que detinha um poder
inquestionável. Os cuidados da casa – a comida, a faxina… – enfim, o necessário para
que o bem-estar de todos fosse o melhor possível, eram garantidos pela rainha do lar.
Neste arranjo, todos pareciam felizes e tudo concordava com uma ordem imutável.
Unidos para sempre, “para o melhor e para o pior”, pelos laços sagrados do matrimônio,
as desavenças do casal não constituíam ameaças à estabilidade do lar. Até hoje este
modelo é defendido por muitos como o único capaz de sustentar a ordem social e de
produzir subjetivações sadias.
As transformações mais radicais da família no ocidente provavelmente se devem
ao questionamento dos papeis masculinos/femininos na sociedade industrial; e a
revolução sexual desencadeada pelo avanço das práticas contraceptivas e por outros
fatores culturais (Ideologia do Amor e do Prazer, os Hippies)

Essas transformações acontecem num contexto de uma sociedade em mudança


no seu sistema de valores, onde se destaca, por exemplo, reconhecimento cada vez
maior das uniões homossexuais.

2.Famílias mononucleares ou monoparentais

As famílias mononucleares podem advir de produções independentes ou de


separações em que há ruptura da relação parental com um dos progenitores. Atualmente,
é grande o número de separações em casais jovens e também grande o número de
famílias monoparentais sustentadas por mulheres.

Hoje, poucas mulheres permanecem casadas por dependência financeira


(DESSEN, M. A. & COSTA JÚNIOR, 2005:117). A mulher que está insatisfeita e não
depende economicamente do marido solicita muito mais a separação do que o homem.
O preconceito com o divórcio, instituído no Brasil em 1977, ficou preso há décadas
passadas, e o desafio atual é a busca pela harmonia, sem modelos certos ou errados.
Penso que hoje se escolhe diariamente estar casado ou não, não casamos mais para
sempre. Há uma avaliação diária sobre a satisfação que a relação está trazendo para
cada membro do casal. Mas é importante lembrar que esse formato de família não é tão
recente quanto se pensa. Em todas as épocas existiram famílias regidas apenas por um
membro da parentalidade, fato que atualmente já não causa estranheza (FÉRES-
CARNEIRO (org.), 2003:19). Também não é incomum vermos famílias sendo
administradas pelo homem que, assim como a mulher, funciona como pai e mãe, tendo
os filhos sob sua única responsabilidade.

3. Famílias binucleares – guarda compartilhada

Privilegia a continuidade da relação parental após a separação, mantendo pai e


mãe responsáveis pelos cuidados cotidianos dos filhos e permitindo a estes acesso sem
dificuldades a ambos os genitores. Assim como tudo, esse modelo não deve ser imposto
como solução para todos os casos. Na prática, essa forma de relação exige que os pais
morem na mesma cidade e que conversem sobre regras comuns de educação,
alimentação e saúde dos filhos.

Um aspecto bastante importante não pode ser negligenciado: separação conjugal


não é ruptura parental. Filhos precisam dos pais e nenhum dos dois pode negar a
existência do outro na vida de seus filhos. Nesse sentido, a guarda compartilhada pode
contribuir e muito para uma convivência filial com pai e mãe que resolveram não ser
mais marido e mulher e pode prevenir a chamada síndrome de alienação parental.
Segundo SILVA (2003), tal síndrome é um processo que consiste em programar uma
criança para que odeie um de seus genitores sem justificativa, por influência do outro
com quem a criança mantém um vínculo de dependência afetiva e estabelece um pacto
de lealdade inconsciente. Quando essa síndrome se instala, o vínculo da criança com o
genitor chamado alienado torna-se irremediavelmente destruído. O genitor alienado, que
a criança aprende a odiar por influência do genitor alienador, passa a ser um estranho
para ela, e a convivência fica impossível de acontecer porque a criança não se dispõe ao
contato, comportamento reforçado pelo genitor alienador.

Entretanto, também não podemos negligenciar a possibilidade do genitor


alienado estar comprometido numa relação de violência doméstica com este filho, que
se protege negando-se a estar com ele. De qualquer forma, meu objetivo é deixar aqui
um alerta, despertando a curiosidade para a busca de mais informações a respeito deste
tema tão novo que é a guarda compartilhada.

4. Família reconstituída

Dados do IBGE confirma um aumento de famílias reconstituídas, ou seja,


vêm acontecendo mudanças significativas na estrutura familiar no Brasil. De acordo
com o IBGE, 69,9% dos casais que se divorciam têm pelo menos um filho e o número é
crescente de segundos casamentos.

A família reconstituída é formação familiar originada do casamento ou da união estável


de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem filho ou filhos de uma relação
anterior. Em uma formulação mais sintética, é a família na qual ao menos um dos
adultos é um padrasto ou uma madrasta. Agrupam também pais viúvos ou mães viúvas
como de pais divorciados e de mães divorciadas e pais e mães solteiros.

A nova formação familiar integrado pelo novo núcleo que se configura


articulado com os vários subsistemas familiares anteriores, compreendendo o lar do
genitor guardião e o do não-guardião e os de parentes afins de cada um deles, tanto
como os parentes do padrasto e da madrasta. Assim, existem duas famílias
reconstituídas para cada criança cujos pais voltam a casar. Não é mais a partir do casal
que se caracteriza a família, mas das crianças, elas mesmas, porque é o espaço de sua
circulação que define a família reconstituída. (GUIMARÃES,1998, p. 16).

Nessa configuração ignoram-se as fronteiras que separam os lares,


conformando uma rede familiar significativa, dentro da qual se insere o novo casal
como um de seus componentes, circulando os filhos pelos diversos espaços domésticos.
De modogeral os pais biológicos crescem em seu papel parental ao mesmo tempo em
que seus filhos crescem com os quais convive desde a concepção, experiência não
vivida pelo novo marido ou companheiro da mãe ou do pai.

Quem se divorcia com filhos tem um ex-marido ou uma ex-esposa e


também uma ex-família da qual não se separa de todo já que seguem parentes de seus
filhos. Ao entrar em uma nova família integrará outra família política, multiplicando-se
o número de seus membros e a possibilidade de conflitos pessoais e institucionais.
Entendemos que as famílias reconstituídas, embora possuam as mesmas funções de
qualquer outra família, como a socialização dos filhos, a afetividade, a mútua
assistência moral e material, a proteção, possuem outras especiais, que as distingue das
famílias originárias. É uma estrutura complexa, formada por múltiplos vínculos, onde
podem existir ambiguidades nas regras, originando conflitos pela oposição entre as
atitudes manifestas e os desejos encobertos, produto da falta de clareza dos lugares,
direitos e deveres de seus integrantes.

Para Maria Berenice Dias não é suficienteque os vocábulos disponíveis para


diferenciar o par formado por quem é egresso de relacionamentos anteriores. Os filhos
de cada um também não dispõem de uma palavra que permita identificar quem seja, por
exemplo, o companheiro da mãe; o filho da mulher do pai diante de seu próprio filho, e
ainda o novo filho desta relação frente aos filhos de cada um dos pais. Claro que termos
madrasta, padrasto, enteado, assim como as expressões filho da companheira do pai ou
filha do convivente da mãe, meio-irmão e outras não servem, pois trazem uma forte
carga de negatividade, ainda resquício da intolerância social, por lembrarem vínculos
pecaminosos. (DIAS, 1999, p. 34).

Para o prof. Rolf Madaleno que a união afetiva e família têm como essência
e razão de existência a sua comunhão espiritual, onde a mulher e homem trabalham em
igualdade de direitos, princípios, valores e oportunidades, em uma atmosfera que visa
ao crescimento e à fortificação da unidade familiar (MADALENO, 2007, p. 116).

A superação da família clássica cedeu espaço para a família contemporânea


deve ser um lugar de comunhão de afeto e realização pessoal, de ajuda e esforços
mútuos entre todos os componentes daquela relação familiar (FERREIRA;
ESPOLADOR, 2009, p. 107).

5. Família homoafetiva
Família homoafetiva é caracterizada pela relação afetiva entre pessoas do
mesmo sexo, com características de uma união estável nos termos da lei. Como será
abordado adiante, tal modalidade vem sendo defendida por doutrinadores e reconhecida
em alguns precedentes jurisprudenciais.

Conceitua-se homossexualidade como sendo a atração sexual por pessoa do


mesmo sexo. O termo é etimologicamente híbrido por conter radicais advindos de duas
línguas, grego e latim, respectivamente – homos= igual + sexus= sexo. Entretanto,
mesmo estando presente no seio social humano desde os mais remotos tempos, a prática
homossexual na sociedade moderna foi, durante vários anos, caracterizada como doença
mental, constando inclusive no Código Internacional de Doenças – CID vindo mais
tarde, em 1989, a ser excluído da lista pela Organização Mundial de Saúde (MARTINS,
2010).

A homossexualidade acompanha a história do homem. Não é crime nem pecado;


não éuma doença nem um vício. Também não é um mal contagioso, nada justificando a
dificuldade que as pessoas têm de ser amigas de homossexuais. É simplesmente outra
forma de viver. A origem não se conhece. Aliás, nem interessa, pois, quando se buscam
causas, parece que se está atrás de um remédio, de um tratamento para encontrar cura
para algum mal. O termo ‘homossexualismo’ foi substituído por homossexualidade,
pois o sufixo ‘ismo’ significa doença, enquanto o sufixo ‘dade’ querdizer modo de ser
(DIAS, 2006).

Apesar do preconceito, casos entre homossexuais tornaram-se conhecidos e


praticadosdesde as antigas civilizações romanas, egípcias, gregas e assírias, incluindo
nesse rol reis e imperadores. Nessas sociedades antigas a homossexualidade não
somente era admitida como prática comum, como era por vezes aclamada e incentivada,
especialmente por aqueles que constituíam as camadas com mais destaque social, tais
como os militares e intelectuais (MARTINS, 2010).

Com o cristianismo, a homossexualidade passou a ser tida como uma anomalia


psicológica, um vício baixo, repugnante, já condenado em passagens bíblicas... Alguns
teólogos modernos associam a concepção bíblica de homossexualidade aos conceitos
judaicos que procuravam preservar o grupo étnico, e, nesta linha, toda a prática sexual
entre os hebreus só se poderia admitir com a finalidade de procriação, condenando-se
qualquer ato sexual que desperdiçasse o sêmen; entre as mulheres, por não haver perda
seminal, a homossexualidade era reputada como mera lascívia. Estava, todavia,
frequente na vida dos cananeus, dos gregos, dos gentios, mas repelida, até hoje, entre os
povos islâmicos, que têm a homossexualidade como um delito contrário aos costumes
religiosos (FERNANDES, 2010).

Nos tempos atuais, o preconceito perdura, porém o fato social é mais tolerado e
aceito, sendo a condição assumida publicamente por seus adeptos, como se observa nas
famosas paradas gays, constituídas por centenas de participantes, incluindo-se, entre os
de fato assumidos (gayse lésbicas), um grupo de simpatizantes, formando os chamados
GLSs – hoje acrescidos pelos bissexuais, tornando-se a sigla BGLSs.
O legislador, com medo da reprovação de seu eleitorado, prefere não aprovar
leis que concedam direitos às minorias salvo de discriminação. Assim, restam as uniões
homossexuais marginalizadas e excluídas do sistema jurídico. No entanto, a ausência de
lei não significa a inexistência de direito. Tal omissão não quer dizer que são relações
que não mereçam a tutela jurídica. Tais manifestações ferem princípios constitucionais,
tais como o direito à igualdade, e os demais direitos da personalidade, da privacidade,
da intimidade, previstos no art. 5º da Constituição e seus incisos (DIAS, 2006).

5.1 União civil entre homossexuais no mundo


No que tange ao Direito internacional, a homossexualidade é permitida em cerca
de 128 países, tendo sua aceitação inicialmente ocorrida na Europa, em países como a
Dinamarca, (em 1989), Noruega (1993), Suécia (1995) e Holanda (1998). A tendência
começou a se espalhar pelo mundo, estando permitida hoje a união civil entre
homossexuais também na Hungria (1995), França (1999), Alemanha (2002), Bélgica
(2003), Argentina (2003), Grã-Bretanha (2005), Canadá (2005) e Espanha (2005).
Em outros países, apenas alguns estados, províncias ou municípios reconhecem
os contratos de parceria civil entre homossexuais, como nos Estados Unidos. Na África
do Sul, Polônia e Nova Zelândia, há leis que proíbem a discriminação por motivo de
orientação sexual, não chegando, porém a reconhecer as uniões homoafetivas. Por outro
lado, há nações onde ainda impera radicalmente o preconceito,os países islâmicos e
muçulmanos fazem parte do conjunto denominado de "extrema repressão", pois, ainda
hoje, em alguns deles, a pena de morte é imposta às pessoas que manifestarem qualquer
inclinação à prática homossexual. O Egito, por exemplo, enquadra-se no rol dos países
mais primitivos no cenário mundial (FERNANDES, 2010).
No Brasil, a união civil ainda não foi legalizada, merecendo destaque porém a
ação civilpública nº 2005.6118.0000286, ajuizada em 18 de janeiro de 2006 pelo
Procurador da República João Gilberto Gonçalves Filho, na Comarca de Guaratinguetá
(SP), que pretende obrigar todos os estados brasileiros e o Distrito Federal a realizarem
o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Até o momento, a ação não foi finalizada.
As comunidades gays vêm intentando outros caminhos, como o reconhecimento
das uniões homoafetivas como entidades familiares. Assim, casais homossexuais que
vivem juntos há anos de forma contínua, numa relação afetiva publicamente ostentada,
pelo esforço comum e em dependência econômica, objetivando constituir uma família,
inclusive com o desejo de se adotarem filhos, revelam uma situação similar à que é
definida como união estável, o que vem sendo reconhecido pela doutrina e
jurisprudência.

5.2Princípios que sustentam o reconhecimento da família homoafetiva


Embora não tenhamos uma legislação que trate especificamente desse tema,
existem alguns princípios que sustentam o reconhecimento dessas famílias. Os
princípios fundamentais têm especial relevância na indicação dos valores que devem
predominar na análise hermenêutica, ou seja, na interpretação do texto legislativo,
servindo como embasamentojurídico na discussão de matérias ainda não
regulamentadas, auxiliando juristas e magistrados em seu trabalho militante de
construções doutrinárias e jurisprudenciais quepossam suprir as lacunas da lei (art. 4º da
Lei de Introdução ao Código Civil e art. 126 do Cód. Proc. Civ.).
Assim é que, no ápice da pirâmide dos princípios, encontra-se o do respeito à
dignidade humana (art. 1º, III, Const. Fed. 1988), posto que ali implícitos encontram-se
outros preceitos importantes, como o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à honra e à
imagem das pessoas. O princípio norteador da Constituição, que serve de norte ao
sistema jurídico, é o que consagra o respeito à dignidade humana. O compromisso do
Estado para com o cidadão sustenta-se no primado da igualdade e da liberdade,
estampado já no seu preâmbulo.
Ao conceder proteção a todos, veda discriminação e preconceitos por motivo de
origem, raça,sexo ou idade e assegura o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, asegurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como
valores supremosde uma sociedade fraterna, pluralista e sempreconceitos. Mais: ao
elencar os direitos e garantias fundamentais, proclama (CF 5º): todos são iguais perante
a lei, sem distinção dequalquer natureza. Esses valores implicam dotar os princípios da
igualdade e da isonomia de potencialidade transformadora na configuração de todas as
relações jurídicas.
Em relação à chamada família homoafetiva, já se constatou que é um fato social
que vem se perpetuando através dos anos, não mais podendo o Judiciário ignorar a sua
existência e tampouco lhe negar a tutela jurisdicional. Tais uniões, embora fujam do
modelo tradicional de família, se fundam no amor e no afeto, este a mais pura
exteriorização do ser, de forma que a sua marginalização se constituiria em afronta aos
direitos humanos e, consequentemente, aos princípios do respeito à dignidade humana e
da igualdade.
Outro princípio importante na sustentação da tese do reconhecimento da família
homoafetiva é o da afetividade, que tem profunda relevância hoje no ramo do Direito de
Família. Nos dias atuais, tanto na doutrina como na jurisprudência, vem crescendo o
entendimentode que os laços de afeto e de solidariedade derivam da convivência
familiar, e não do sangue, sendo reconhecidos a partir daí novos tipos de entidades
familiares, fugindo ao modelo tradicional da família nuclear, que perde campo no
Direito brasileiro, engajado que está com os novos fatos sociais.
Assim é que o constituinte, ao conceder a tutela jurídica às uniões estáveis,
elevando-as à categoria de família (art. 226, § 3º, da Const. Federal), baseou-se na
constatação de que o afeto que une e enlaça duas pessoas é o grande alicerce do edifício
que se está construindo no seio do núcleo familiar, de onde se gerarão os filhos, dando
continuidade assim à árvore genealógica da família.

5.3 Legislação aplicável


Nos meios intelectuais e políticos, vem crescendo a ideia de se legalizarem as
uniões homossexuais, tornando-as uniões civis, regularizando-se de vez situações de
fato já existentes e de conhecimento público, estabelecendo-se direitos e deveres para
osenvolvidos.Em 1995, foi apresentado à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº
1.151, de autoria da então Deputada Federal Marta Suplicy, até hoje em tramitação, em
que se pretendia, a exemplo de outros países, implantar no ordenamento jurídico
nacional a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Tal união teria a natureza jurídica
de um contrato cível, regido por normas comuns a todos os contratos, com repercussão
no campo do Direito de Família no que concerne a alguns direitos e deveres dos
contraentes.
Muito embora ainda não haja o reconhecimento legal da modalidade de família,
a Lei n°11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como “Maria da Penha”, inovou na
matéria ao abordar implicitamente, em um de seus dispositivos, a união homoafetiva
entre duas mulheres como entidade familiar, in verbis:Art. 5º Para os efeitos desta Lei,
configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão
baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e
dano moral ou patrimonial:
I – omissis
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos
que
são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por
vontade
expressa;
III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação
sexual.
Diante desses dispositivos, pode-se afirmar que o reconhecimento legal da
família constituída por vontade expressa pode ser interpretado no sentido de se incluir
nessa modalidade um casal homossexual – no caso, composto por mulheres. Dessa
forma, os casais homossexuais conjugam o mesmo afeto, os mesmos planos comuns, as
mesmas vontades e os mesmos interesses que o fariam um casal heterossexual.
Constata-se, portanto, que as uniões homoafetivas são constituídas por vontade
expressa, o que as inclui na previsão legal retro citada. Inclusive, admitir de forma
contrária poderia levar ao absurdo da hipocrisia, pois uma mulher vítima de violência
familiar pela sua parceira não poderia obter a proteção legal. Ademais, nos termos do
art. 5º, III, as uniões homoafetivas, entre mulheres, também estão englobadas pela
presente lei. Isto porque esse tipo de união apresenta-se como uma relação íntima de
afeto (FERNANDES, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi apresentado no artigo sobre o tema da nova configuração
familiare suas várias modalidades, destaca-se que não existe família certa ou errada, o
que existe são famílias, diferentes em seus papéis e contextos econômicos histórico-
sociais.
Antes de compreender a família contemporânea, deve-se levar em consideração
o modelo nuclear como hegemônico, que tem papéis claramente definidos e
estabelecidos em uma estrutura familiar, modelo este que deu origem aos outros
vigentes.
Dessa forma, é necessário revalorizar a família diante do novo ciclo, faz-se
necessário a criação de órgãos que encarem a família como o todo fundamental, na qual
os sujeitos se formam e produzem a sua condição de existência. É importante olhá-la no
seu momento, enquanto instituição, que permite a vinculação dos indivíduos, a criação
dos padrões sociais e culturais e o desenvolvimento da autogestão dos seus
componentes.
Ao atentar-se para a atual questão da configuração familiar constata-se estar
diantede novos moldes, para uma família antes nuclear que hoje se sustenta de muitas
outras versões, com novos arranjos de papéis familiares e em outros contextos
socioeconômicos, que se apresenta necessitando de políticas e programas em
consonância com as mudanças no olhar para essa família, que deve ser repensada
enquanto convivência, relação intrafamiliar e na comunidade
Ao discorrer sobre essas formas de convivência familiar, espera-se ter
contribuído para alertar a todos que são elas algumas formas entre tantas. Muitas vezes
nos mantemos participantes de uma cultura que exclui as minorias. Reconhecer essas e
tantas outras formas relacionais que ainda virão é simplesmente aceitar o outro na sua
integralidade, palavra-chave para uma sociedade democrática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

MARTINS, P. U. A família homoafetiva e seu legal reconhecimento. In: Âmbito


Jurídico, Rio Grande, XIII, n. 75, abr 2010.

FERNANDES, J. G. União homoafetiva como entidade familiar: Reconhecimento no


ordenamento jurídico brasileiro. Revista de direito nº 73 - 2010
DIAS, M. B. Manual de direito das famílias. 3. ed. rev., atual. e ampl. SãoPaulo:
Revista dos Tribunais.p542. 2006.

BRASIL. Código civil. Brasília, DF, Senado, 2002. Organizado por Yussef Said Cahali.
9. ed. at. até 10 jan. 2007. São Paulo: RT, 2007.

BRASIL. Código de processo civil. Brasília, DF, Senado, 1973. Organizado por Yussef
Said Cahali. 9. ed. at. até 10 jan. 2007. São Paulo: RT, 2007.

BRUN, G. Pais, filhos & cia. ilimitada. (1999). Rio de Janeiro: Editora Record.

DESSEN, M. A. & COSTA JUNIOR, A. L. (orgs.). (2005). A ciência do


desenvolvimento humano: tendências atuais e perspectivas futuras. Porto Alegre:
Artmed.

FÉRES-CARNEIRO, T (org). (2003). Família e casal: arranjos e demandas


contemporâneas. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Ed. Loyola.

SILVA, Denise Mª P. (2003). Psicologia Jurídica no processo civil brasileiro. São


Paulo: Casa do Psicólogo.

DIAS, Maria Berenice. Sociedade de afeto: um nome para a família. Revista


Brasileira de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, v. I, n. 1, abr./jun. 1999.
FERREIRA, BreezyMiyazato Vizeu; ESPOLADOR, Rita de Cássia Resquetti Tarifa. O
papel do afeto na formação das famílias recompostas no Brasil. In: DIAS, Maria
Berenice;
GUIMARÃES, Rosamélia Ferreira. Os recasados nas famílias reconstituídas. 1998,
170 f. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, São Paulo.
MADALENO, Rolf.Repensando o Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007

Você também pode gostar