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Cacaso Poesias
Cacaso Poesias
1 Cacaso
Cacaso nasceu Antônio Carlos Ferreira de Brito em 1944 (Uberaba, MG). Aos
12 anos ganhou página inteira de jornal por causa das caricaturas de políticos
que enchiam seus cadernos escolares. Mas logo veio a poesia e antes dos 20
já estava colocando letras em sambas de amigos como Elton Medeiros e
Maurício Tapajós. Em 67 veio o primeiro livro, A Palavra Cerzida. Os outros
são Grupo Escolar (74), Beijo na Boca (75), Segunda Classe (75), Na Corda
Bamba (78) e Mar de Mineiro (82). Livros que não só revelaram uma das mais
combativas e criativas vozes daqueles anos de ditadura e desbunde, como
ajudaram a dar visibilidade e respeitabilidade à "poesia marginal", em que
militavam, direta ou indiretamente, amigos como Francisco Alvim, Heloísa
Buarque de Hollanda, Ana Cristina César, Charles Chacal, Geraldino Carneiro,
Zuca Sardhan e outros. No campo da música, os amigos/parceiros se
multiplicavam na mesma proporção: Edu Lobo, Tom Jobim, Sueli Costa,
Cláudio Nucci, Novelli, Nelson Angelo, Joyce, Toninho Horta, Francis Hime,
Sivuca, João Donato, etc. Biografia boa é assim: poesia, música e a fina flor da
amizade, que Cacaso cultivava carinhoso. Nas aventuras da vida de artista e
nas polêmicas da poesia, os companheiros se chamavam Leilah, Pedrinho,
Rosa, Paula, Vila Arêas, Davi Arrigucci, Miúcha, Cristina, Gullar, Hélio
Pellegrino, Afonso Henriques Neto, Ana Luísa, Bita Carnerio, Maurício Maestro,
etc. Em 85 veio a antologia da Brasiliense, Beijo na Boca e Outros Poemas.
Em 87 o Cacaso é que foi embora. Um jornal escreveu: "Poesia rápida como a
vida".
2 Cacaso
A Casa
As Coisas
O melão melou
A casa casou
A bola bolou
A rola rolou
O mato matou
O dia adiou
A gia giou
A pia piou
O pinto pintou
O boi boiou
O gato engatou
O pato empatou
A pomba empombou
A paca empacou
O galo galou
O ralo ralou
O calo calou
O barco embarcou
A vaca avacalhou
A banana embananou
A sombra assombrou
O raio raiou
3 Cacaso
O piru pirou
indefinição
história natural
o fazendeiro do mar
mar de mineiro é
inho
mar de mineiro é
ão
mar de mineiro é
vinho
mar de mineiro é
vão
mar de mineiro é chão
mar de mineiro é pinho
mar de mineiro é
pão
mar de mineiro é
ninho
mar de mineiro é não
mar de mineiro é
bão
mar de mineiro é garoa
mar de mineiro é
baião
mar de mineiro é lagoa
mar de mineiro é
balão
mar de mineiro é são
mar de mineiro é viagem
mar de mineiro é
arte
mar de mineiro é margem
(...)
4 Cacaso
mar de mineiro é
arroio
mar de mineiro é
zem
mar de mineiro é
aboio
mar de mineiro é nem
mar de mineiro é
em
mar de mineiro é
aquário
mar de mineiro é
silvério
mar de mineiro é
vário
mar de mineiro é
sério
mar de mineiro é minério
mar de mineiro é
gerais
mar de mineiro é
campinas
mar de mineiro é
goiás
mar de mineiro é colinas
mar de mineiro é
minas
happy end
o meu amor e eu
nascemos um para o outro
estilos trocados
5 Cacaso
sonata
estações
ah!
alquimia sensual
E naquela noite
entre suspiros
terei aguardado a hora incrível
de tirar o sutiã
busto renascentista
6 Cacaso
capa e espada
táxi
imagens I
estilos de época
Havia
os irmãos Concretos
H. e A. consanguíneos
e por afinidade D.P.,
um trio bem informado:
dado é a palavra dado
E foi assim que a poesia
deu lugar à tautologia
(e ao elogio à coisa dada)
em sutil lance de dados:
se o triângulo é concreto
já sabemos: tem 3 lados.
poética
Alguma palavra,
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.
7 Cacaso
a fauna guerreira, a lua fria
encrustada na fria atenção.
indefinição
história natural
happy end
o meu amor e eu
nascemos um para o outro
estilos trocados
sonata
8 Cacaso
alquimia sensual
E naquela noite
entre suspiros
terei aguardado a hora incrível
de tirar o sutiã
busto renascentista
táxi
estilos de época
Havia
os irmãos Concretos
H. e A. consanguíneos
e por afinidade D.P.,
um trio bem informado:
dado é a palavra dado
E foi assim que a poesia
deu lugar à tautologia
(e ao elogio à coisa dada)
em sutil lance de dados:
se o triângulo é concreto
já sabemos: tem 3 lados.
Eu te amo
9 Cacaso
Minha vida é curta
EX (3)
A minha ex-namorada
inundou minha vida de coisas belas demais
evitava que eu tivesse qualquer aborrecimento
impedia que eu saísse no sereno
me conduzia pela mão ao atravessar a rua
velava enternecida pelo meu futuro
CINEMA MUDO IV
10 Cacaso
escorrego
para o passado.
Na falta de quem nos olhe
vamos ficando perfeitos e belos
tão belos e tão perfeitos
como a tarde quando pressente
as glândulas aéreas da noite.
INFÂNCIA (2)
POEMA
surdina
11 Cacaso
Madrigal para Cecília Meireles
Rio, 1964.
Poética
Alguma palavra,
este cavalo que me vestia como um cetro,
algum vômito tardio modela o verso.
12 Cacaso
Onde era nuvem
sabemos a geometria da alma, a vontade
consumida em pó e devaneio.
E recuamos sempre, petrificados,
com a metafísica
nos dentes: o feto
fixado
entre a náusea e o lençol.
Rio, 1965
Publicado no livro A palavra cerzida (1967). Poema integrante da série III. A Palavra de
Dois Gumes.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.132
Estilos de Época
Havia
os irmãos Concretos
H. e A. consanguíneos
e por afinidade D.P.,
um trio bem informado:
dado é a palavra dado
E foi assim que a poesia
deu lugar à tautologia
(e ao elogio à coisa dada)
em sutil lance de dados:
se o triângulo é concreto
já sabemos: tem 3 lados.
Publicado no livro Grupo Escolar (1974). Poema integrante da série 2a. Lição: Rachados e Perdidos.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.106
NOTA: Referência aos poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, signatários do
'Plano Piloto para Poesia Concreta' (1958); ao verso 'flor é a palavra flor', de João Cabral de Melo Neto
("Antiode"); Ao poema "Um Lance de Dados", de Mallarm
Jogos Florais I
13 Cacaso
vira direto vinagre.
Publicado no livro Grupo Escolar (1974). Poema integrante da série 3a. Lição: Dever de
Caça.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.110
Logias e Analogias
Publicado no livro Grupo Escolar (1974). Poema integrante da série 3a. Lição: Dever de
Caça.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.10
O Que É o Que É
In: CACASO. Grupo Escolar. Fotos de Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro. Rio de Janeiro:
Mapa Filmes, 1974. (Frenesi). Poema integrante da série 3a. Lição: Dever de Caça
As Coisas
O melão melou
A casa casou
A bola bolou
A rola rolou
O mato matou
O dia adiou
A gia giou
A pia piou
O pinto pintou
O boi boiou
O gato engatou
O pato empatou
14 Cacaso
A pomba empombou
A paca empacou
O galo galou
O ralo ralou
O calo calou
O barco embarcou
A vaca avacalhou
A banana embananou
A sombra assombrou
O raio raiou
O piru pirou
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. Poema
integrante da série Letras.
Preto no Branco
De colorida já basta
a vida
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. Poema
integrante da série Inéditos
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.84.
15 Cacaso
no espelho do toucador
dentro de mim mora um anjo
que me sufoca de amor
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série
Papos de Anjo da Guarda.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.139
Face a Face
16 Cacaso
já ia longe o combate
uma lambada me bole
uma certeza me abate
a dor querendo que eu morra
o amor querendo que eu mate
estava solta a cachorra
que mete o dente e não late
No meio daquela zorra
perdendo no desempate
girando feito piorra
até que a mágoa escorra
até que a raiva desate
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série
Papos de Anjo da Guarda.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.141-142
17 Cacaso
No meio daquela zorra
perdendo no desempate
girando feito piorra
até que a mágoa escorra
até que a raiva desate
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série
Papos de Anjo da Guarda.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.141-142
Hora e Lugar
In: CACASO. Mar de mineiro: poemas e canções. Fotos de Pedro de Moraes. Il. Malena
Barreto. Rio de Janeiro: Grafit Gráf. e Impressos, 1982. Poema integrante da série Papos
de Anjo da Guarda.
Lero-Lero
Sou brasileiro
de estatura mediana
gosto muito de fulana
mas sicrana é quem me quer
18 Cacaso
porque no amor
quem perde quase sempre ganha
veja só que coisa estranha
saia dessa se puder
Eu sou poeta
e não nego minha raça
faço verso por pirraça
e também por precisão
de pé quebrado
verso branco rima rica
negaceio dou a dica
tenho a minha solução
Sou brasileiro
tatu-peba taturana
bom de bola ruim de grana
tabuada sei de cor
4x7
28 noves fora
ou a onça me devora
ou no fim vou rir melhor
Diz um ditado
natural da minha terra
bom cabrito é o que mais berra
onde canta o sabiá
desacredito
no azar da minha sina
tico-tico de rapina
ninguém leva o meu fubá
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série
Sete Preto.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.154-155
19 Cacaso
Meio-Termo
A barra do amor
é que ele é meio ermo
a barra da morte
é que ela não tem meio termo
In: CACASO. Mar de mineiro: poemas e canções. Fotos de Pedro de Moraes. Il. Malena Barreto. Rio de Janeiro:
Grafit Gráf. e Impressos, 1982. Poema integrante da série Papos de Anjo da Guarda.
O Fazendeiro do Mar
Mar de mineiro é
inho
mar de mineiro é
ão
mar de mineiro é
vinho
mar de mineiro é
vão
mar de mineiro é chão
Mar de mineiro é pinho
mar de mineiro é
pão
mar de mineiro é
ninho
mar de mineiro é não
mar de mineiro é
bão
mar de mineiro é garoa
mar de mineiro é
baião
mar de mineiro é lagoa
mar de mineiro é
balão
20 Cacaso
mar de mineiro é são
Mar de mineiro é viagem
mar de mineiro é
arte
mar de mineiro é margem
(...)
Mar de mineiro é
arroio
mar de mineiro é
zem
mar de mineiro é
aboio
mar de mineiro é nem
mar de mineiro é
em
Mar de mineiro é
aquário
mar de mineiro é
silvério
mar de mineiro é
vário
mar de mineiro é
sério
mar de mineiro é minério
Mar de mineiro é
gerais
mar de mineiro é
campinas
mar de mineiro é
Goiás
Mar de mineiro é colinas
mar de mineiro é
minas
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série Postal.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.51-55
NOTA: Poema musicado por Miúcha. Referência ao livro FAZENDEIRO DO AR, de Carlos Drummond de
Andrade
Refém
21 Cacaso
só me faltou pontaria
eu nunca soube cantar
mas sempre tive mania
nunca brinquei carnaval
e nem saí da folia
nunca pulei a fogueira
e nem dancei a quadrilha
Eu nunca amei a ninguém
nunca devi um vintém
nem encontrei minha trilha
Eu me perdi muito além
sendo meu próprio refém
na solidão de uma ilha
In: CACASO. Mar de mineiro: poemas e canções. Fotos de Pedro de Moraes. Il. Malena Barreto. Rio de Janeiro:
Grafit Gráf. e Impressos, 1982. Poema integrante da série Papos de Anjo da Guarda.
Publicado no livro Mar de mineiro: poemas e canções (1982). Poema integrante da série Sete Preto.
In: CACASO. Beijo na boca e outros poemas. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.156-157
22 Cacaso
Terceiro Amor
In: CACASO. Mar de mineiro: poemas e canções. Fotos de Pedro de Moraes. Il. Malena Barreto. Rio de Janeiro:
Grafit Gráf. e Impressos, 1982. Poema integrante da série Papos de Anjo da Guarda.
NOTA: Música de Francis Hime. Referência ao poema "Consolo na Praia", do livro A ROSA DO POVO (1945),
de Carlos Drummond de Andrade
23 Cacaso
Mas só se tu, Luz da Noite,
teu delírio nesta margem
já quiseres desaguar.
Rio, 1964.
Descartes
Não há
no mundo nada
mais bem
distribuído do que a
razão: até quem não tem tem
um pouquinho
Fatalidade
24 Cacaso