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PRINCIPAIS JULGAMENTOS DO STF

1º SEMESTRE DE 2011 – DIREITO ADMINISTRATIVO


(Informativos 614 a 633)

Os requisitos para ingresso nas Forças Armadas e os limites de idade são matérias que
devem ser tratadas em lei, não podendo ser previstas apenas nos regulamentos
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Observações O Estatuto dos Militares (Lei n. 6.880/80) dispõe que:
Art. 10. O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante incorporação, matrícula ou
nomeação, a todos os brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos
regulamentos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

O STF, ao analisar esse dispositivo, entendeu que a expressão “nos regulamentos da


Marinha, do Exército e da Aeronáutica” do art. 10 da Lei n. 6.880/1980 não foi recepcionada
pelo art. 142, § 3º, X da CF/88, que exige que a matéria seja tratada por lei em sentido
estrito (aprovada pelo Congresso Nacional).

Os limites de idade para ingresso nas Forças Armadas, atualmente, não estão previstos em
lei, mas sim em atos infralegais. Tais atos infralegais fundamentaram a realização de
inúmeros concursos ao longo de mais de 22 anos de existência da CF/88, sem que fossem
declarados inconstitucionais. Por essa razão, o STF declarou que a previsão desses limites
de idade em atos infralegais é incompatível com a Constituição. No entanto, por razões de
segurança jurídica, a Corte entendeu que essa decisão somente deveria produzir efeitos a
partir de 31 de dezembro de 2011, de modo que permanecem válidos todos os concursos já
realizados e que se utilizaram de tais critérios. Os próximos certames deverão obedecer
apenas aos requisitos trazidos em lei.
Dispositivo Art. 142 (...)
da CF/88 § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser
fixadas em lei, as seguintes disposições:
X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, a estabilidade e outras condições de
transferência do militar para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras
situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas
por força de compromissos internacionais e de guerra.
Processo Plenário. RE 600885/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 9.2.2011

Na análise de uma desapropriação para reforma agrária, o imóvel rural herdado, antes que
tenha havido a partilha, continua sendo considerado em sua integralidade para fins de
caracterizá-lo como grande propriedade improdutiva
Observações Ex: o proprietário de um imóvel de 10.000 hectares morre, deixando 5 herdeiros.
Está sendo examinada a possibilidade de desapropriação do imóvel para fins de reforma
agrária.
Enquanto não tenha havido a partilha, considera-se, para fins de caracterizá-lo como grande
propriedade improdutiva, que se trata de um único imóvel com 10.000 hectares e não que
se trata de 5 imóveis com 2.000 hectares cada.

MANDADO DE SEGURANÇA. DESAPROPRIAÇÃO. REFORMA AGRÁRIA. LEGITIMIDADE ATIVA. ESBULHO


POSSESSÓRIO. FAZENDA INVADIDA POR INTEGRANTES DO MST. PERÍODO POSTERIOR À REALIZAÇÃO DA
VISTORIA. TRANSMISSÃO DA PROPRIEDADE. IMÓVEL NÃO DIVIDIDO. ART. 1784 C/C ART. 1791 DO CÓDIGO
CIVIL. EXISTÊNCIA DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E INAPROVEITÁVEIS. LAUDOS CONTRADITÓRIOS.
NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. ORDEM DENEGADA.
1. Não se pode tomar como titular do domínio do imóvel uma pessoa jurídica sem existência jurídica. Consta do
registro público do distrato social da empresa a nomeação, como responsável pelos bens da sociedade, do ex-
sócio falecido. Por essa razão, os seus herdeiros têm legitimidade para impetrar o mandado de segurança.

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2. A invasão do imóvel por integrantes do Movimento dos Sem-Terra ocorreu em período posterior à conclusão
das vistorias realizadas pelo INCRA, de modo que não teve o condão de influenciar nos resultados encontrados
sobre a produtividade da fazenda. Precedentes.
3. O imóvel rural objeto da futura partilha entre herdeiros continua sendo único até o fim do inventário, embora
com mais de um proprietário, formando um condomínio. Precedentes.
4. Para a exclusão das áreas de preservação permanente ou de reserva legal, estas devem estar devidamente
averbadas no respectivo registro do imóvel. Não se encontrando individualizada na averbação, a reserva
florestal não poderá ser excluída da área total do imóvel desapropriando para efeito de cálculo da
produtividade.
5. A divergência de avaliações acerca das áreas aproveitáveis e inaproveitáveis demanda dilação probatória,
inviável no rito especial do mandado de segurança.
6. Ordem denegada.
(MS 24924, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno,
julgado em 24/02/2011, DJe-211 DIVULG 04-11-2011 PUBLIC 07-11-2011 EMENT VOL-02620-01 PP-00001)
Processo Plenário. MS 24924/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, 24.2.2011

O TCU assegura a ampla defesa e o contraditório nos casos em que o controle externo de
legalidade exercido pela Corte de Contas, para registro de aposentadorias e pensões,
ultrapassar o prazo de 5 anos, sob pena de ofensa ao princípio da confiança.
Nesses casos, o prazo de 5 anos deve ser contado a partir da data de chegada ao TCU do
processo administrativo de aposentadoria ou pensão encaminhado pelo órgão de origem.
Observações I – Nos termos dos precedentes firmados pelo Plenário desta Corte, não se opera a
decadência prevista no art. 54 da Lei 9.784/99 no período compreendido entre o ato
administrativo concessivo de aposentadoria ou pensão e o posterior julgamento de sua
legalidade e registro pelo Tribunal de Contas da União – que consubstancia o exercício da
competência constitucional de controle externo (art. 71, III, CF).
II – A recente jurisprudência consolidada do STF passou a se manifestar no sentido de exigir
que o TCU assegure a ampla defesa e o contraditório nos casos em que o controle externo
de legalidade exercido pela Corte de Contas, para registro de aposentadorias e pensões,
ultrapassar o prazo de cinco anos, sob pena de ofensa ao princípio da confiança – face
subjetiva do princípio da segurança jurídica. Precedentes.
III – Nesses casos, conforme o entendimento fixado no presente julgado, o prazo de 5
(cinco) anos deve ser contado a partir da data de chegada ao TCU do processo
administrativo de aposentadoria ou pensão encaminhado pelo órgão de origem para
julgamento da legalidade do ato concessivo de aposentadoria ou pensão e posterior
registro pela Corte de Contas.
IV – Concessão parcial da segurança para anular o acórdão impugnado e determinar ao TCU
que assegure ao impetrante o direito ao contraditório e à ampla defesa no processo
administrativo de julgamento da legalidade e registro de sua aposentadoria, assim como
para determinar a não devolução das quantias já recebidas.
V – Vencidas (i) a tese que concedia integralmente a segurança (por reconhecer a decadência)
e (ii) a tese que concedia parcialmente a segurança apenas para dispensar a devolução das
importâncias pretéritas recebidas, na forma do que dispõe a Súmula 106 do TCU.
Processo Plenário. MS 24781/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, 2.3. 2011.

STF julgou constitucional a contratação de pesquisadores do IBGE com base no art. 37, IX, da CF
Observações O STF afirmou que deveria ser admitida a contratação temporária para atender a
necessidade, também temporária, de pessoal suficiente para dar andamento a trabalhos
em períodos de intensas pesquisas, a exemplo do recenseamento, sem que se impusesse a
criação de cargos públicos.
Ademais, frisou-se que as circunstâncias nas quais realizadas as pesquisas não seriam
frequentes e teriam duração limitada no tempo.

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Concluiu-se que, ante a supremacia do interesse público, não seriam justificáveis a criação e
o provimento de cargos públicos com o objetivo apenas de atender demandas sazonais de
pesquisa, pois, após o seu término, não seria possível a dispensa desses servidores, o que
ocasionaria tão-somente o inchaço da estrutura da entidade.
Dispositivo Art. 37 (...)
da CF/88 IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público;
Processo Plenário. ADI 3386/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 14.4.2011.

Processo administrativo de demarcação de terras indígenas – algumas conclusões


Observações Neste julgado, a 1ª Turma do STF anotou algumas importantes conclusões sobre o processo
administrativo de demarcação de terras indígenas:
1) O prazo previsto no art. 67 do ADCT para a demarcação de terras indígenas não é
decadencial. Trata-se apenas de um prazo programático para conclusão de
demarcações de terras indígenas dentro de um período razoável;
2) O processo administrativo visando à demarcação de terras indígenas é regulamentado
por legislação própria, qual seja, a Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio) e o Decreto
1.775/1996, cujas regras já foram declaradas constitucionais pelo STF;
3) Não se aplica, subsidiariamente, às demarcações de terras indígenas, a Lei 9.784/99 (Lei
do Processo Administrativo federal) uma vez que há norma específica que regulamenta
o procedimento.
Processo 1ª Turma. RMS 26212/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 3.5.2011.

É permitida a divulgação dos vencimentos dos servidores públicos na Internet


Observações O município de São Paulo, com base em uma lei municipal, determinou a divulgação, no
sítio eletrônico da prefeitura, de lista nominal de todos os servidores públicos municipais,
contendo seu nome completo, cargo ocupado, remuneração, unidade de trabalho,
endereço e jornada de trabalho.
Contra esse ato, um determinado Sindicato e uma Associação ligados a servidores
municipais, ingressaram com mandados de segurança. Foram concedidas liminares.
O município de São Paulo apresentou, no STF, pedido de suspensão de segurança alegando
violação aos princípios da publicidade e da moralidade.
A suspensão de segurança foi concedida monocraticamente, permitindo que os dados
continuassem no sítio eletrônico da prefeitura, decisão que foi mantida pelo Plenário do STF.
Reputou-se que o princípio da publicidade administrativa, encampado no art. 37, caput, da
CF, significaria o dever estatal de divulgação de atos públicos.
Destacou-se que a gestão da coisa pública deveria ser realizada com o máximo de
transparência, excetuadas hipóteses constitucionalmente previstas, cujo sigilo fosse
imprescindível à segurança do Estado e da sociedade (CF, art. 5º, XXXIII).
Frisou-se que todos teriam direito a receber, dos órgãos públicos, informações de interesse
particular ou geral, tendo em vista a efetivação da cidadania, no que lhes competiria
acompanhar criticamente os atos de poder.
Aduziu-se que a divulgação dos vencimentos brutos de servidores, a ser realizada
oficialmente, constituiria interesse coletivo, sem implicar violação à intimidade e à
segurança deles, uma vez que esses dados diriam respeito a agentes públicos em exercício
nessa qualidade.
Afirmou-se, ademais, que não seria permitida a divulgação do endereço residencial, CPF e
RG de cada um, mas apenas de seu nome e matrícula funcional.
Processos Plenário. SS 3902 Segundo AgR/SP, rel. Min. Ayres Britto, 9.6.2011.

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O prazo do estágio probatório dos servidores públicos, assim como a estabilidade, é de 3 anos.
Observações A redação dada ao art. 41 da CF/88 pela Emenda Constitucional 47/2005 é imediatamente
aplicável. Logo, as legislações estatutárias que previam prazo inferior a 3 anos para o
estágio probatório tornaram-se incompatíveis com o Texto Constitucional. Isso porque não
há como dissociar o prazo do estágio probatório do prazo da estabilidade.
Dessa forma, o entendimento atualmente pacificado tanto no STF como no STJ é no sentido
de que os institutos da estabilidade e do estágio probatório são necessariamente
vinculados, sendo de 3 anos o prazo para ambos.
Processos 2ª Turma. AI 754802 ED-AgR/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 7.6.2011.

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