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Winsor McCay
Tiras Publicadas de
1905-1906
Tradução: Muraktama R. Lemos
Arte Gráfica: Jay Santana
Little Nemo in Slumberland, criado por Winsor McCay e
publicado no New York Herald de 1905 a 1911.
Ei, guri, Pare Com Essa Sonhadeira Aí
Quem nunca foi desperto de um sonho bom por um pai, mãe, ou irmão e tentou
com todas as forças voltar a dormir... voltar para o sonho. Ou em um pesadelo,
quando prestes a cair de um avião, penhasco, ou da própria cama, acorda bem a
tempo de dar de cara com o travesseiro, assustado. Aqueles que já dormiram com
outras pessoas no mesmo quarto podem ter tido a experiência de ouvir esta pessoa
falar frases desconexas enquanto dormia e depois jurar que não se lembra de nada.
O sonho é um dos fenômenos mais interessantes e misteriosos que premiam e
vitimam o ser humano. Para Freud os sonhos eram a manifestação dos desejos
ocultos do sonhador. Jung acreditava que os sonhos vinculavam mensagens para
os sonhadores sobre seus medos e conflitos emocionais. Muitas religiões antigas
e atuais consideram os sonhos visões do futuro, premonições, revelações e outras
variedades de presságios místicos. Entretanto, as muitas teorias (racionais e
espirituais) têm um aspecto em comum: nenhuma delas tem muita certeza sobre
os sonhos.
Dentro do universo das tiras de Nemo os sonhos muitas vezes se mesclam com a
realidade. Elementos da vida de Nemo vão para o Sonho ao passo que elementos
do sonho parecem surgir no mundo real (apesar de que é sempre o sonho nestes
casos). Nemo confunde seus sonhos com a sua própria realidade, que nada mais
é que um sonho de Winsor McCay traduzido em papel e tinta. Um sonho dele, e
arrisco dizer, de todos nós que lemos a tira e ficamos maravilhados com os muitos
prodígios do Sonhar.
Nemo muitas vezes parece enfrentar o mesmo dilema que o antigo mestre Zhuang,
que há mais de dois mil anos atrás acordou de um sonho em que ele encarnara
uma borboleta se perguntando se seria mesmo um sábio que sonhara ser uma
borboleta ou uma borboleta sonhando ser um sábio. Nemo não parece mesmo ter
consciência de que seus sonhos são apenas sonhos. Aparentemente para o menino
é tudo real, tudo tangível. Dormir e sonhar significa ir de fato para outra dimensão,
tão real quanto a própria realidade. E o inverso funciona para os seres da Terra dos
Sonhos: Acordar é dormir e deve ser sempre evitado.
E o Nemo está lá. Por mais de 400 tiras, há mais de um século sonhando sua própria
realidade povoada por monstros, pessoas feitas de vidro, garotos feitos de doce,
condores gigantes, dragões, reis, cavaleiros e um sem número de lugares e criaturas
que só poderiam ser mesmo reais nos devaneios de um sonhador. Realidade que
foi moldada por seu criador que mesmo morto, ainda influência uma realidade à qual
não mais pertence.
Não seria surpreendente e interessante se um dia, ao dormir, escapássemos
das versões alteradas da nossa própria realidade e evitássemos com sucesso
os pesadelos, e por engano, ou até mesmo a convite da corte do rei Morpheus,
fôssemos parar na Terra dos Sonhos?