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A vocação da Virgindade no mundo

Não há a menor duvida: a Virgindade no mundo é uma verdadeira vocação


instituída pelo próprio Deus. Foi Ele quem traçou este caminho e quem nele
introduziu um grande número de almas. A primeira pessoa a quem Deus deu esta
privilegiada vocação foi a puríssima Virgem Maria, que, saindo do asilo de paz, onde
tinha passado a sua adolescência, entrou na sociedade, onde permaneceu até a
morte. Foi no meio do mundo que se terminou essa vida tão fecunda para o bem das
almas: é com razão que a chamamos Rainha das Virgens!

Nosso Senhor Jesus Cristo consagrou, por assim dizer, este gênero de vida,
dando-nos o seu exemplo e aconselhando uma alma a imitá-lo, diante de uma
multidão considerável. Durante a sua vida pública, um moço possesso, a quem Jesus
acabara de livrar, lança-se a seus pés e “roga-lhe que o deixe seguir os seus passos”.
Jesus, porém, não o aceitou e lhe disse: “Volta para a tua casa, para junto de teus
pais, e lhes narra as grandes coisas que o Senhor fez em ti”. “Ele partiu e começou
publicar por toda a parte os favores que Jesus lhe tinha feito, e todo o povo ficava
admirado”. Foi esta vocação que Deus deu à sua fiel serva Catarina de Sena, e
teve mesmo que lutar com ela, para forçá-la a obedecer: na sua juventude,
sentindo em si uma invencível necessidade da solidão, partiu uma manhã em busca
de um deserto. Em caminho, Deus arrebatou-a num êxtase e instruía-a sobre a
Virgindade: o que faz a Virgem é o amor. Vosso esposo habita em toda parte, podeis
portanto servi-lo, amá-lo e agradá-lo em toda a parte.

Mais tarde, quando Nosso Senhor a desposou, ordenou-lhe, logo após os místicos
esponsais, “que voltasse para junto de seus pais e que se assentasse à mesa da
família. Eu quero, acrescentou Jesus, que as tuas virtudes sejam fecundas, não só
para a tua alma, mas também para a do próximo. Eu quero que te unas a mim pelos
laços da caridade para com os outros. Tu sabes que minha lei se encerra em dois
mandamentos: amor de Deus e amor do próximo. É preciso que eles te sirvam de pés
para caminhares, de asas para voares e conduzires as almas... Obedece-me, volta
para o meio dos homens, eu te acompanharei e te dirigirei”. Dócil à voz do Divino
Esposo, Catarina passou seus dias na sociedade e só Deus sabe quantas almas ela
conquistou para o seu amor. Oh! Vós todas que amais o silêncio, a paz, e que, talvez,
lançais um olhar de inveja sobre essas benditas solidões, onde muitas de vossas
irmãs servem juntas a Jesus no recolhimento e no retiro, não vos entregueis ao
desânimo!

A casa do Senhor vos atrai, mas não podeis realizar vossos desejos: talvez vossa
delicada saúde não o permita. Talvez um grande dever vos retém ainda no meio da
sociedade. Sois talvez o apoio de vossos amados pais e deveis ser o anjo de sua
velhice, como eles o foram na vossa infância. Já vo-lo dissemos: “Não vos entristeçais,
ficai alegres onde Deus vos colocou. Não é o hábito nem a grade do claustro que faz a
sua vocação, de modo que tornando a si estava decidida a voltar para a casa paterna”.

O mundo vos chama com desprezo “solteironas”, mas vos sentireis ufanas
quando, na presença do Universo inteiro, o Cristo estender para vós os braços
dizendo: “Veni, sponsa mea...!” vem, minha esposa!
Se, na solidão dos claustros, esses jardins fechados, o Esposo se apraz em cultivar
as suas mais belas flores, há outras, não menos delicadas, que ele abriga com suas
Divinas Mãos e deixa crescer sobre o solo ingrato do mundo; os perfumes de pureza e
de inocência que delas se exalam deleitam o seu Divino Coração.

Vós sois essa flor que desabrocha à beira da estrada, mas o celeste transeunte se
regozija quando encontra no seu caminho essa pobre flor isolada, e é com prazer que
Ele aspira o seu doce aroma. Marchai corajosamente na estrada da Virgindade,
seguindo Maria e uma multidão de almas puras que já gozam no Céu da recompensa
prometida às esposas de Jesus Cristo. Lembrai-vos que tanto no mundo, como no
claustro, podeis ser para Jesus uma terna e fiel esposa. Para isto basta que
sejais generosa, humildes, prudentes, e que confieis no poder infinito de Cristo,
vosso Esposo.

1. S. Marc. – V, 18, 19 e 20.


2. – Não podemos resistir ao desejo de transcrever aqui um trecho das páginas 18 e 19 da
IV conferência “O celibato e a virgindade”, do Revmo. Padre Monsabré, feita em Notre
Dame, por ocasião da Quaresma de 1887: - “Nem todas as virgens, essas ternas mães
das misérias humanas, estão nos conventos; acham-se nas inúmeras famílias que a
desgraça visitou. Vós as encontrastes, senhoras, e para elas olhastes com desdenhosa
compaixão. Foi um erro. Nem todas são, como julgais, vítimas desvalidas da natureza
ou da fortuna. Há muitas que entreviram as alegrias de uma feliz união e as doçuras da
vida religiosa, mas que imolaram suas esperanças e seus desejos para se consagrarem
a uma tarefa obscura na qual consomem a existência. Não posso pintá-las melhor do
que um grande escritor que viu de perto um desses anjos de dedicação e que dizia: Por
amor de Deus renunciaram ao amor das criaturas e mesmo ao serviço de Deus: por
caridade privaram-se das alegrias da caridade. Não têm nem a perfeita paz do claustro,
nem o cuidado dos pobres, nem o apostolado no mundo, e essas grandes almas
souberam se privar de tudo o que é grande e nobre como elas. Concentraram sua vida
no desempenho de pequenos deveres: são o arrimo de velhos pais que as atormentam
com suas exigências; mães de órfãos, e substituem os pais que foram arrebatados pelo
egoísmo ou pela morte. Dão-se inteiramente e só recebem pela metade; mocidade,
liberdade, futuro, tudo sacrificam! Oh! Virgens viúvas, religiosas sem véu, esposas sem
direitos, mães sem nome, sede benditas”.
3. Condessa de Flavgny: Vida de Sta. Catarina de Sena.
4. Vertus eucharistiques.

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