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Verificação da Qualidade dos Blocos Cerâmicos de Vedação

Comercializados em João Pessoa


Quality Verification of Ceramic Seal Blocks Commercialized in João Pessoa

Eduardo Morais de Medeiros (1); Mohara Alves de Medeiros (2); Leilane de Aguiar Almeida Xavier
(3); Alvan Antas Cordeiro (4); Leylson França Quirino (5)

(1) (2) (3) (4) (5) - Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil e Ambiental, UFPB
Universidade Federal da Paraíba - UFPB, Centro de tecnologia,
Cidade Universitária, CEP: 58051-900, João Pessoa - PB

Resumo
A análise da qualidade dos blocos cerâmicos de vedação usado nas obras é de grande importância devido
a sua relação com o custo e durabilidade da obra, onde uma boa qualidade resulta em menos gastos com
reparos de manifestações patológicas e um custo final menor. O presente estudo se propõe a verificar a
qualidade dos blocos cerâmicos de vedação usados nas construções no município de João Pessoa-PB e
comparar seus resultados com os da norma NBR 15270. De maneira geral, foram analisados três
fornecedores e constatou-se que apenas um deles está de acordo com a norma, esperando assim que as
outras duas empresas fornecedoras deste material melhorem o seu produto
Palavra-Chave: Blocos cerâmico de vedação; Normatização; Qualidade dos blocos; NBR 15270;

Abstract
The quality analysis of ceramic bricks used in the construction site is extremely important due to its
relationship with the cost and durability of the work, where optimal quality results in less expenses on
pathological manifestations repairs and a lower final cost. This study aims to assess the quality of the
ceramic bricks used for construction in the city of João Pessoa-PB and compare the results with the NBR
15270. In general, three suppliers were analyzed and it was found that only one of them is in accordance
with the norm, thus hoping that the other two suppliers of this material enhance their product.
Keywords: Ceramic briks; Standardization; Quality of bricks; NBR 15270

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1 Introdução
A grande utilização de blocos cerâmicos de vedação nos mais variados tipos de obras e o
crescimento desenfreado das obras de construção civil nas últimas décadas pode causar
um problema para os fornecedores deste produto assim como também para as
construtoras que os usam, pois, por causa da grande demanda em pouco tempo, as
empresas passam a se preocupar mais com a quantidade do que com a qualidade dos
blocos fabricados, no entanto, a constante preocupação na preservação do meio
ambiente e com o custo total das obras, serve de motivação a se fazer um estudo para
saber a qualidade dos blocos que estão sendo fabricados.
Segundo a ANICER (2016), existem atualmente cerca de 6900 empresas de Cerâmicas,
Olarias no Brasil, onde 63% destas empresas estão relacionados a produção de blocos e
tijolos, representando 4,8% da indústria da construção civil brasileira.
As cerâmicas são tipicamente muito duras. Por outro lado, elas são extremamente frágeis
(ausência de ductilidade) e altamente suscetíveis à fratura. Esses materiais são
tipicamente isolantes à passagem de calor e eletricidade (possuem baixas
condutibilidades elétrica) e são mais resistentes a altas temperaturas e a ambientes
severos do que os metais e os polímeros (CALLISTER, 1991).
De maneira geral, de acordo com Bauer (2008) a preparação dos materiais cerâmicos
obedece às seguintes fases:
 Extração do barro;
 Preparo da matéria prima;
 Moldagem;
 Secagem;
 Cozimento;
 Esfriamento.
Neste trabalho, optou-se por uma análise dos blocos cerâmicos fornecidos ao município
de João Pessoa-PB, onde foram selecionados através de uma pesquisa com os
vendedores deste produto neste município, três fornecedores deste material na região,
chamados de empresa A, B e C, sendo realizados os ensaios de normatização deste
material conforme constam na NBR 15270.
A pesquisa teve como objetivo fazer um levantamento da qualidade dos blocos cerâmicos
de vedação que estão sendo utilizados nas obras deste município e comparar seus
resultados com os da norma NBR 15270, que servem de referência para este tipo de
material. Alertando assim os fornecedores e construtoras para esta atual situação da
qualidade destes blocos na região.

2 Metodologia
2.1 Coleta das amostras
Nesta primeira etapa, depois de visitar alguns pontos de vendas de blocos cerâmicos e
fazer um levantamento de quais os três principais fornecedores deste material para a
cidade de João Pessoa, denominadas de Empresa A, B e C, as amostras dos blocos
cerâmicos foram coletadas e identificadas, em seguida foram levadas e armazenadas
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dentro do Laboratório de Ensaio de Materiais e Estruturas (Labeme) na UFPB, onde
foram realizados os ensaios.

2.2 Ensaios segundo a NBR 15270


A NBR 15270 é dividida em três partes e trata da normalização das características e
propriedades dos blocos cerâmicos para alvenaria estrutural e de vedação. Como neste
trabalho foi analisado apenas os blocos cerâmicos para alvenaria de vedação, só foram
usados a parte 1 (NBR 15270-1) e 3 (NBR 15270-3), onde a primeira trata dos requisitos
dimensionais, físicos e mecânicos, e a parte 3 trata dos métodos de execução dos
ensaios, que são mostrados a seguir.

2.2.1 Identificação e características visuais


Como consta na norma, inicialmente foi feito uma análise com respeito a identificação e
características visuais dos blocos, a partir de uma amostragem simples e dupla, ou seja,
da seleção aleatória de 13 e 26 blocos de cada empresa.
Na fase de identificação é feito uma amostragem a partir de 13 blocos e é avaliado se
todos os blocos possuem marcação com o nome da empresa e suas dimensões de
fabricação. Caso um desses blocos não possuam essas gravações, pode-se rejeitar este
lote. Enquanto que nas características visuais é feito uma amostragem dupla com 26
blocos e é analisado se os blocos apresentam defeitos sistemáticos, como superfícies
irregulares, deformações e quebras.

2.2.2 Identificação e características visuais


A seguir, a partir de uma amostragem simples de 13 blocos foi feito uma limpeza
superficial e em seguida foram colocados sobre uma superfície plana para a obtenção dos
valores da largura (L), altura (H) e comprimento (C), ou seja, as dimensões efetivas dos
blocos (Figura 1).

Figura 1 – Obtenção das dimensões efetivas dos blocos pela NBR 15270-3

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Posteriormente, realizaram-se as medições das espessuras (e) das paredes externas e
septos dos blocos (Figura 2), como indicado na NBR 15270-3, sempre nos locais mais
desfavoráveis, ou seja, com a menor espessura.

Figura 2 – Medições das paredes externas e dos septos dos blocos cerâmicos

E ao final mediram-se os desvios (D) em relação aos esquadros (Figura 3) e a planeza (F)
dos blocos (Figura 4).

Figura 3 – Medição do desvio em relação ao esquadro

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Figura 4 – Medição da planeza dos blocos

2.2.3 Determinação características físicas


Segundo a NBR 15270-3, a única característica física obrigatória a ser determinada para
efeito de avaliação de conformidade é o Índice de Absorção D’água (AA), já que estamos
tratando de blocos de vedação, e para este caso basta analisar 6 blocos, ao invés de 13.
Este ensaio inicia-se com a secagem em estufa dos blocos (Figura 5.a), em seguida são
pesados em determinados intervalos de tempo até que ocorra a estabilização das
pesagens, encontrando assim a Massa Seca (Ms). Depois, os blocos foram imersos
completamente em água (Figura 5.b) por 24 horas em temperatura ambiente e pesados,
encontrando assim a Massa úmida (Mu). Com esses valores, calculamos o Índice de
Absorção D’água através da Equação 1:

Mu  Ms
AA(%)  x100 (Equação 1)
Ms

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(a) (b)
Figura 5 – (a) secagem em estufa; (b) imersão dos blocos em água por 24 horas

2.2.4 Determinação das características mecânicas

O último ensaio realizado foi para encontrar a resistência à compressão dos blocos de
vedação, que também se usaram uma amostragem com 13 blocos. Para isso, os blocos
foram capeados, e depois que o capeamento endureceu foram mantidos imersos em
água por 24 horas. Após este tempo, foram levados à prensa e rompidos em condição
saturada (Figura 6).

Figura 6 – Capeamento e rompimento dos blocos cerâmicos

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3 Resultados
3.1 Identificação e características visuais
Nesta primeira análise, todas as empresas analisadas tiveram seus lotes aceitos, ou seja,
em todos os 26 blocos foram encontrados os nomes dos fornecedores, as dimensões do
bloco e não foram encontrados defeitos sistemáticos, o que torna o lote aceito do ponto
de vista deste critério de avaliação.

3.2 Determinação características geométricas


A única empresa que teve todas as características geométricas aceitas segundo os limites
da NBR 15270-1 foi a empresa C (Tabela 1). A empresa A e B tiveram dois desses
critérios rejeitados segundo os limites da norma, onde a empresa A não foi aceito nas
medidas da parede externa e da planeza dos blocos, e a empresa B teve os valores da
planeza e desvio em relação ao esquadro ultrapassando os limites estabelecidos.

Tabela 1 – Determinação das características geométricas de cada empresa


DETERMINAÇÃO CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS
PAREDE DESVIO
LARGURA ALTURA COMPRIMENTO SEPTOS PLANEZA
EXTERNA ESQUADRO
EMPRESA
A ACEITO ACEITO ACEITO REJEITADO ACEITO ACEITO REJEITADO
EMPRESA B ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO REJEITADO REJEITADO
EMPRESA C ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO

Esses valores demonstram que os blocos analisados não tem suas dimensões uniformes
com a norma, influindo nas condições de aplicação, na qualidade final dos serviços e
também no custo, pois poderá demandar mais ou menos tempo, e também argamassa,
para a execução de determinado serviço (BAUER,2008).

3.3 Determinação características físicas


Para o valor do índice de absorção d’água, todas as empresas tiveram seus resultados
(Figura 7) dentro da faixa aceitável da norma, ou seja, dentro da faixa de no mínimo 8% e
no máximo 22%, sendo assim, todas foram aceitas com relação a este critério.
Este resultado indica que as empresas estão atentando em usar uma argila adequada e
também com relação a outros fatores, como fabricação e estocagem correta dos blocos.

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Figura 7 – Resultados obtidos para o índice de absorção d’água

3.4 Determinação características mecânicas


O último ensaio realizado, com amostragem simples, foi para determinar a resistência à
compressão (Figura 8) onde o valor mínimo admissível é de 1,5 Mpa, no entanto, apenas
a empresa C obteve seus blocos aceitos segundo os parâmetros da norma. A empresa A
teve um total de três blocos rejeitados, enquanto a empresa B teve um total de 5 blocos
rejeitados, dos 13 totais.
Percebeu-se também uma grande variação da resistência a compressão entre os blocos
da mesma empresa (Tabela 2), chegando a uma variação de até 231% entre os valores
máximo e mínimo, o que demonstra a má qualidade e falta de preocupação por parte dos
fornecedores com relação a este critério.

Tabela 2 – Variação entre os valores de resistência a compressão entre as empresas


RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO (Mpa )
MÍNIMO MÁXIMO VARIAÇÃO
EMPRESA A 1,11 3,68 231%
EMPRESA B 0,90 2,79 209%
EMPRESA C 1,50 4,28 186%

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Figura 8 – Resultados obtidos para a resistência a compressão

Vale ressaltar as consequências negativas que uma baixa resistência a compressão pode
causar a uma obra, iniciando-se com o surgimento de fissuras e posteriormente
aparecendo outras patologias, como infiltração e até ruína da alvenaria.

4 Conclusões
A Tabela 3 mostra o nível de classificação final de cada empresa para cada critério
avaliado segundo a NBR 15270-1:
Tabela 3 – Resumo de todos os critérios e ensaios avaliados
CARACTERÍSTICAS
IDENTIFICAÇÃO VISUAIS GEOMÉTRICAS FÍSICAS MECÂNICAS
EMPRESA A ACEITO ACEITO REJEITADO ACEITO REJEITADO
EMPRESA B ACEITO ACEITO REJEITADO ACEITO REJEITADO
EMPRESA C ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO ACEITO

A partir destes resultados, constata-se que apenas a Empresa C conseguiu atingir todos
os níveis estabelecidos pela norma, sendo rejeitadas as empresas A e B.
Com relação aos aspectos visuais (trincas, falhas, superfícies irregulares, deformações
dos blocos), identificação (nome da empresa e dimensões dos blocos) e ao índice de
absorção d’água, todas as empresas tiveram seus blocos aceitos, levando-se em conta
que os problemas existentes não impedem sua utilização na função especificada.
Nas características geométricas, a Empresa A foi rejeitada nas medidas da espessura da
parede externa, com 4 medidas abaixo da média de 7 mm, e na planeza das faces, com 3
medidas acima da média de 3 mm.

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Com relação a Empresa B, foram rejeitados os valores do desvio em relação ao esquadro
e também da planeza das faces, sendo 6 resultados rejeitados entre os 13 blocos
analisados, em ambos os casos.
Para o critério de resistência a compressão, novamente as empresas A e B foram
rejeitadas e a empresa C aceita, como constam os resultados na Figura 8.
Com todos estes resultados, pode-se concluir que as empresas A e B devem melhorar
seus produtos principalmente com relação às características geométricas e mecânicas,
uma maneira seria melhorando o seu processo de fabricação (processo de secagem e
queima dos produtos), selecionando uma matéria-prima adequada e também se
preocupando com o transporte e armazenamento deste material.
Uma alternativa para continuação deste trabalho é fazer uma avaliação de todos os
fornecedores de blocos cerâmicos à região de João Pessoa e avaliar todos os
fornecedores, para assim ter um total levantamento da qualidade dos blocos que estão
sendo empregados nas obras deste município.

5 Referências
ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Componentes Cerâmicos, Parte
1: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia e requisitos NBR-
15270-1. Rio de Janeiro, 2005.

ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Componentes Cerâmicos, Parte


3: Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Métodos de ensaio NBR-15270-3.
Rio de Janeiro, 2005.

ANICER. Associação Nacional da Indústria Cerâmica. Site institucional. Rio de


Janeiro,RJ. Disponível em: <http://www.anicer.com.br/>. Acesso em: ago. 2016.

BAUER, L. A. F. Materiais de construção II. LTC, Rio de Janeiro, 2008.

CALLISTER, J. W. D. Materials Science and engineering: an introduction. John Wiley


& Sons, Inc., New York, 1991.

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