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CÂNCER E CONTROLE SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Alexandre Vasilenskas Gil


Celia Marcia Birchler

INTRODUÇÃO
Quais fontes foram usadas na introdução?
Estabelecidos constitucionalmente pela força da mobilização do movimento
sanitário brasileiro, os conselhos de controle social na saúde foram pensados como
um canal de democratização de um projeto politicamente ambicioso: o
estabelecimento de um sistema universal, gratuito e territorializado que garantisse a
saúde enquanto direito da população.
Embora os dois grandes exemplos de controle social na saúde seja bem
anteriores à constituição de 1988, o primeiro conselho nacional data de 1937 e a 1ª
conferência de 1941, foi no processo de lutas pela redemocratização do país, no
final dos anos 70 e início dos anos 80, que foram gerados o acúmulo de forças
política e teórico que possibilitariam, anos depois a institucionalização constitucional
de uma rede de conselhos representativos da saúde civil, com função não apenas
fiscalizatória ou consultiva mas também deliberativa de co-criação de políticas
públicas.
Institucionalizados a partir da Lei nº 8142 de 1990 e das resoluções 33 e 333
de 1992 e 2003, os conselhos são órgãos obrigatórios de caráter local, regional,
estadual e nacional, com poderes constitucionais para aprovar ou não os planos
anuais de saúde, fiscalizar os orçamentos da União, Estados e Municípios e
deliberar a respeito das múltiplas políticas públicas que dizem respeito ao campo
sanitário.
Os conselhos são formados obedecendo à legislação de parietariedade entre
os segmentos de gestão e fornecedores de serviços (25%), trabalhadores da saúde
(25%) e usuários do sistema (50%). Sendo a representação dos usuários uma
miríade de movimentos sociais específicos ao campo da saúde (principalmente de
patologias) e do conjunto da sociedade (movimento negro, feminista, LGBTTs e
outros), a despeito de problemas como a burocratização e a cooptação via Estado.
Juntamente com as conferências sociais, o outro pólo democratizante do
controle social, tais instituições e os movimentos que a ela aderem, tem sido um
elemento importante de defesa do modelo universalista e gratuito de saúde
representado pelas chamadas políticas neoliberais que ascendem na arena social
juntamente com o SUS.
O presente trabalho visa realizar um recorte bem específico nessa arena de
luta política e social, onde se propõe circunscrever um conselho de saúde estadual
específico, o do estado do Rio de Janeiro, em um marco temporal que compreende
o ano de 2016 (foi ano fechado?) e boa parte do ano de 2017 (colocar o mês), e
correlacioná-los com o tema central do curso de especialização em Gestão de
Redes de Atenção à Saúde: assistência oncológica no Estado.
A escolha se justifica pelo fato do autor do trabalho atuar? como conselheiro
de saúde desde o final do ano de 2015, como representante titular do Conselho
Regional de Psicologia (5ª região) no referido órgão o que facilitaria o acesso aos
documentos necessários e a sua contextualização histórica e política, embora o
acesso a estes seja oficialmente público. Outra justificativa está relacionada a uma
dupla junção: o fato que a oncologia, especificamente os cânceres de cólon de útero
e mama, tenha sido o eixo prioritário nas atividades do curso de especialização
Rede de Atenção à Saúde com a responsabilidade do ente federal e estadual pela
prestação de serviços assistências de alta complexidade, a qual se encontra a
assistência terapêutica ao câncer.
Objetivos da pesquisa ....
CONTROLE SOCIAL E DEMOCRACIA

Embora a saúde tenha sido a matriz dos demais “modelos conferencias”, o


atual modelo de controle social data da constituição de 1988. Estabelecendo a
obrigatoriedade da criação de conselhos de controle social de caráter deliberativo
em todos os entes federativos: união, estados e municípios, objetivava um salto de
participação democrática e popular visto como condição necessária ao
estabelecimento de um modelo de saúde universal condizente com a condição
constitucional de “direito de todos e dever do Estado”.

{...} deverão também ser formados conselhos de saúde em níveis local,


municipal, regional e estadual, compostos de representantes eleitos pela
comunidade (usuários e prestadores de serviço), que permitam a
participação plena da sociedade no planejamento, execução e fiscalização
dos programas de saúde (BRASIL, 1987).
O chamado “movimento sanitário brasileiro” constituído por militantes de
esquerda e lideranças populares no período final do regime militar e fruto do
ascenso das lutas populares no período, buscou superar o modelo privatista e
focalista desenvolvido no regime militar, assim como também o modelo corporativo
característico do getulismo que de 30 a 64. Fonte?
A inspiração era variada: de um lado dos modelos universais de saúde
pública característicos da social-democracia que eram por sua vez adaptações
capitalistas aos modelos socialistas criados na URSS e nos demais países do Leste.
Em um contexto atualmente esquecido, onde cabia aos antigos países do bloco
socialista a defesa dos “direitos sociais” em que o acesso a saúde estava incluso
(BERLINGUER, 1988)
Do outro lado, a crítica ao regime militar também inspirou a crítica aos
modelos centralizados associados ao arbítrio de regimes autoritários. Daí a
institucionalização de espaços democráticos inspirados em algumas experiências
anteriores, como as conferências, que agora passariam a ser regulares, com poder
deliberativo e uma constituição por segmentos que garantiria a participação
majoritária de associações de usuários oriundos da sociedade civil. Fonte?
Nesse ponto o instrumental teórico variava do “eurocomunismo” italiano às
teses do “agir comunicativo” de Habbermas. O primeiro procurava atualizar as
demandas do movimento operário às sociedades ocidentais e com democracia
parlamentar de tipo liberal. Na Itália contavam com um partido operário de massas, o
Partido Comunista Italiano (PCI) capaz de se impor eleitoralmente e instituir
reformas importantes. Resgatando de forma importante o sentido original da social-
democracia sem os problemas derivados do autoritarismo dos países socialistas do
leste europeu (BERLINGUER, 1988).
Já as teses habermasianas, de Junger Habermas, fruto da chamada “terceira
geração da Escola de Frankfurt” partia do princípio de um abrandamento cada vez
maior da luta de classes decorrentes e a reorientação das lutas democráticas para o
campo de uma maior democratização do Estado através de representação
adequada da sociedade civil, os conflitos seriam de ordem iminentemente
comunicacionais (HABERMAS, 2012).
Ambos os modelos tendiam a enfatizar que a democratização dependia que
as instâncias estatais fossem cada vez mais “porosas” às demandas vindas da
sociedade civil. Tanto quanto o privatismo, o pensamento tecnocrático também era
criticado como empecilho à participação popular.
Evidentemente as dificuldades viriam com os percalços históricos pós-
constituição de 88. De duas ordens: a primeira vinda da hegemonia cada vez mais
progressiva do neoliberalismo decorridos tanto da queda do bloco socialista quanto
dos primeiros governos eleitos pelo bloco popular, Collor e Fernando Henrique
Cardoso. Se o Sistema Único de Saúde (SUS) sofreria desde a sua implantação de
um subfinanciamento crônico decorrente das opções fiscais dos primeiros governos
eleitos, o sistema de controle social também sofreria impactos decorrentes da pura e
simples não efetivação de suas decisões, a despeito de seu caráter
constitucionalmente deliberativo. fonte
A segunda, decorrente de questões conceituais e históricas do próprio
movimento sanitário. A crença de que o poder local é inerentemente “mais
democrático” que o central mostrou-se ao longo do tempo equivocada por esquecer
que os municípios e estados são historicamente o “locus” privilegiado do poder
oligárquico. O estabelecimento de um modelo universal, mas fragmentado em quase
cinco mil gestores locais, a enorme maioria de pequenos municípios mostrou-se um
obstáculo poderoso tanto a racionalidade econômica e de gestão, quanto à
participação da população, muito dependente nessas localidades do poder público
para fazer frente ao mesmo em termos de demandas democráticas.fonte
A própria denominação de um segmento “usuário”, categoria por demais
genérica em um sistema que se pretendia universal, aponta uma dificuldade no
mesmo de caracterizar com precisão o modelo de participação popular pretendida.
Trabalhos como o de Viera e Costa (2013) deixam claro os impasses onde
cada vez o caráter “representacional” dos delegados se sobrepõe ao de “liderança
popular” com o dever de socializar as decisões tomadas em tais espaços. Os
conselhos de controle social perdem sua razão de ser quando se confundem com os
problemas característicos dos espaços de representação parlamentar.

Investidos do poder outorgado pela representação, os representantes de


movimentos sociais têm dado pouca importância em discutir previamente
com suas bases os assuntos das pautas ou mesmo debater sobre as
deliberações realizadas nos conselhos (Vieira e Costa, 2013 precisa
acrescentar a pagina por ser citação direta)

No âmbito que escolhemos analisar (um conselho estadual) e um tema específico


(as políticas púbicas específicas para câncer) somam-se além dos desafios já
expostos – simplesmente a maior crise fiscal já atravessada pelo estado. Sobre esse
tema específico trataremos no próximo capítulo.

A CRISE FISCAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO sugiro retirar a parte em


amarelo

A partir de 2014 e se aprofundando muito depois de 2015, o estado do Rio de


Janeiro passou pela maior crise fiscal de sua história. As causas são múltiplas
segundo especialistas:
1) Queda acentuada do preço da principal commoditie exportada pelo estado: petróleo.
2) Interrupção de investimentos provocados pela chamada “Operação Lava Jato” que
atingiu justamente o cerne da indústria petro-química majoritariamente hospedada
no estado.
3) Endividamento do estado em dólares. (o valor da moeda americana subiu durante o
período afetando, portanto, o endividamento do ente federativo)
4) Isenções fiscais irresponsáveis que isentaram boa parte do PIB estadual não
diretamente ligado a atividade petroleira. Alvo atual de investigações judiciais

O resultado foi dramático para a arrecadação do estado. Gerando uma queda de


arrecadação brutal que afetou por completo todos os serviços públicos. Saúde
incluso. A quase totalidade dos servidores público teve a regularidade salarial
afetada (com as exceções de praxe do judiciário e segurança pública) chegando a
ficar meses sem receber. Idem para os fornecedores dos dispositivos de saúde.
Essa parte sobre a crise poderia ir para a discussão dos resultados uma vez
que pode ter influenciado a desassistência A crise financeira e fiscal ocorrida no
estado do Rio de Janeiro no período de 2014 e 2015 afetou diretamente a gestão da
saúde, o estado funcionou quase que completamente apenas com os repasses
federais zerando ou chegando bem próximo a isso todos os outros repasses. Fonte
Sobral 2017? Houve agravantes como fato de boa parte da assistência fornecida
pelo estado ter sido privatizada, entregue para entidade sem fins lucrativos
denominadas organizações sociais (OSs). Tais entidades assim que se encontravam
sem repasses cancelavam por completo o atendimento. Chegando a fechar
unidades emergenciais com tapumes. (Jornal “O Globo” dezembro de 2015). Toda
informação do parágrafo é de 2015.
O controle social foi afetado na queda de sua infraestrutura para fiscalização
de serviços e pelo fato de que boa parte dos conselheiros concentrou suas
preocupações nos serviços interrompidos em seus municípios. Na sua maioria
pequenas unidades emergenciais chamadas de UPAS (Unidades de Pronto-
Atendimento). Não entendi, os conselheiros atuam nas UPAS como servidores?

Nos dois gráficos abaixo podem ser vistos os brutais resultados da crise em termos
de arrecadação. Extraídos do artigo: “A Crise do Rio não deve ser tratada como a
crise do Rio” de Bruno Leonardo Barth Sobral. (Sobral, 2017)

Pensando que precisamos ter 10 paginas, sugiro retirar os gráficos abaixo


O CONSELHO ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO

O Conselho Estadual de Saúde é um órgão colegiado, deliberativo e


permanente do Sistema único de Saúde (SUS). Sua criação é baseada na Lei n°
8.142/90 mas tem data de criação do CES RJ? . A participação da sociedade é
garantida na Legislação e torna os Conselhos de Saúde uma instância privilegiada
na proposição, discussão, acompanhamento, deliberação, avaliação e fiscalização
da implementação da Política de Saúde, inclusive em seus aspectos econômicos e
financeiros.
O Conselho é composto por representantes de usuários, de trabalhadores de
saúde, do governo e de prestadores de serviços de saúde. Os Governos devem
garantir autonomia para seu pleno funcionamento, dotação orçamentária, Secretaria
Executiva e estrutura administrativa.
O atual presidente do Conselho Estadual de Saúde é o senhor Luiz Antônio
de Souza Teixeira Junior (Gestor), tendo como suplente o senhor Maurício Carlos
Ribeiro (Gestor). Acho desnecessário.
Estrutura Organizacional
Conforme informações exibidas no site do Conselho Estadual de Saúde do Rio de
Janeiro, este é organizado em Colegiado Pleno, Comissão Executiva, Secretaria e
Comissões Técnicas Permanentes e Provisórias . *Informações obtidas a partir do
site: http://www.conselhodesaude.rj.gov.br citar nas Referencias
Colegiado Pleno:
É o órgão máximo de deliberação do CES/RJ. Poderá constituir Assessorias
Técnicas, tendo por finalidade atender as necessidades para seu bom
funcionamento. A constituição das Assessorias Técnicas será estabelecida em
resolução.
Comissão Executiva:
É composta por 08 (oito) membros, eleitos pelo Colegiado Pleno, que também pode
substituir quaisquer membros da Comissão Executiva. Sua função, entre outras, é a
de elaborar a proposta orçamentária do CES-RJ, assessorar o Plenário na definição
de competências deste Conselho conforme legislação vigente, distribuir às
Comissões Permanentes, segundo suas competências, os assuntos a serem objeto
de deliberação, registrar e fiscalizar os bens patrimoniais.
Secretaria:
É a unidade de apoio administrativo e técnico do Colegiado Pleno e da Comissão
Executiva. Terá um coordenador administrativo e um corpo técnico e administrativo.
Funcionários estes, indicados pelo Secretario de Estado de Saúde. O coordenador
administrativo deve, entre outras funções, providenciar o registro em Atas das
reuniões do Plenário, providenciar a publicação das Resoluções do CES-RJ no
Diário Oficial do Estado, executar os serviços administrativos do CES-RJ,
providenciar a atualização de dados e providenciar a expedição dos documentos
pessoais de identidade dos Conselheiros, exercer outras funções correlatas que
sejam atribuídas pela Comissão Executiva ou pelo Plenário. Acho desnecessario
Reuniões e Plenárias:
A plenária ordinária reúne-se sempre na primeira terça-feira do mês. As reuniões
ordinárias acontecem sempre que haja uma determinação para tal da própria
plenária ou da executiva do conselho. Todas as reuniões são gravadas em áudio e
posteriormente transcritas.

METODOLOGIA

O presente trabalho utilizará a metodologia da “análise documental”, trata-se


de um método de pesquisa qualitativa em ciência sociais onde se procura utilizar de
fontes documentais. Entende-se documento como “...todo texto escrito, manuscrito
ou impresso em papel. Mais precisamente, consideraremos fontes primárias ou
secundárias, que, por definição, são exploradas e não criadas em um contexto de
procedimento de pesquisa”. (CELLARD, 2008, pagina)
A coleta de dados se deu a partir das atas oficiais das reuniões ordinárias e
extraordinárias produzidas pelo conselho estadual de saúde no período entre janeiro
de 2016 e setembro de 2017*. Totalizando 30 atas. O trabalho de pesquisa consistiu
em identificar nas atas a presença dos seguintes pontos:
1. O quanto à questão do tratamento de câncer foi tratado ao longo do período ;
2. A forma e o contexto em que tais discussões apareceram durante a plenária.
3. As conseqüências em termos de fiscalização e deliberação de políticas públicas
de tais discussões.
É preciso também esclarecer uma questão metodológica importante em relação ao
autor da pesquisa: trata-se também de um conselheiro. Representante titular do
Conselho Regional de Psicologia (5ª região) no referido órgão. Tal situação
apresenta simultaneamente vantagens e desvantagens.
No terreno da vantagem uma compreensão do contexto da produção de tais atas e
do momento concreto “situacional” das plenárias que são por elas oficialmente
representadas. Isso nos possibilitou com alguma vantagem esclarecer detalhes que
passariam despercebidos a um pesquisador que as tivesse lido sem tal
conhecimento. Pudemos por assim dizer “completar” as lacunas que esse tipo de
fonte primária tradicionalmente impõe.
Em termos de desvantagem – uma observação óbvia: não se trata de um agente
neutro ao que foi por elas retratado. O pesquisador é um militante declarado de uma
saúde pública universal, estatal e gratuita. Também critico aos processos de
privatização da assistência e da precarização da mão de obra que se tornaram
hegemônicos no estado ao longo dos últimos anos.
Consideramos que o esclarecimento de tais pontos servirá para prevenir prováveis
mal-entendidos nesse quesito. Se a neutralidade é epistemologicamente impossível
pode ser complementada e matizada com uma boa dose de franqueza.. sugiro
retirar, uma vez que não passamos no comitê de ética
As palavras-chave escolhidas foram: câncer, INCA, oncológico, oncologia,
radioterapia, quimioterapia e “alta complexidade”. Após a busca por tais palavras
foram transcritos os trechos específicos onde foram pronunciados, seguido de uma
análise qualitativa do contexto onde as mesmas aparecem. Isso permitirá
compreender a relação das mesmas com o restante dos discursos e destes com as
temáticas abordadas durante as plenárias.
A partir de tais análises foram extraídos os resultados possíveis e suas
conseqüências em termos de política pública de saúde envolvendo o tema

Tabela 1 – Freqüência com que as palavras-chave apareceram nas atas no


período - 2016 e 2017
Alta Complexidade 1
Câncer 0
INCA 3
Oncologia/Oncológico 1
Quimioterapia 0
Radioterapia 1
Total 6
Fonte: CES/RJ; atas das reuniões no período de 2016-2017.

RESULTADOS

No espaço de aproximadamente pouco menos de dois anos conseguimos


achar nas atas das reuniões das plenárias seis referências às palavras que remetem
ao tratamento oncológico: câncer, INCA, radioterapia, quimioterapia, oncológico,
oncologia e alta complexidade. Cinco deles no ano de 2016 e um no ano de 2017.

datas Trechos das atas

01/03/2016 “E-mail do comitê de ética em pesquisa do INCA solicita a


indicação de um representante do segmento usuário para
compor o mesmo”
03/05/2016 “O conselheiro A.M.R.S. complementado o que a conselheira
havia dito, questionou sobre a parte de radioterapia e
medicamentos nucleares”
08/11/2016 “A conselheira K.L.S. relatou sua participação e da
Conselheira M.D.O.C. no seminário da mulher em Brasília e
disse que estava no Comitê de ética do conselho do Hospital
do Cérebro e soube da reclamação do responsável do INCA
que o representante do CES não comparecia há meses”
29/11/2016 “A conselheira T.C.A.F. informou que na CIB de quinta-feira
teria sido passado o plano de oncologia do Rio de Janeiro”
18/10/2016 “A conselheira S.G.B. disse da necessidade de ser informado
à sociedade o destino das verbas de alta e média
complexidade”
05/09/2017 “Denúncia que o Hospital Cardoso Fontes tinha sido fechado
e haveria um projeto para que fosse transformado em uma
unidade do INCA”

A maior parte fazia referência ao INCA (instituto nacional do câncer) – o maior


dispositivo e oncologia do país e pertencente à união (fora, portanto da esfera do
conselho). Destas, duas faziam referência a participação da representação do CES
no seu conselho de ética e pesquisa. Uma solicitando tal representação do
segmento usuário e uma referência indireta a não participação do mesmo em suas
reuniões. Uma denúncia do possível fechamento do hospital Cardoso Fontes com o
intuito de ceder a unidade ao INCA, única referência de 2017.
Houve uma referência a radioterapia, quando o representante do sindicato da
vigilância sanitária questionou a gestão sobre a descentralização da mesma para os
municípios, o que, segundo este afetaria negativamente o controle sobre as clínicas
de radioterapia, atualmente sendo de responsabilidade da vigilância estadual.
Houve uma referência direta ao plano oncológico discutido pela Comissão
Intergestora Bipartite (CIB) citado pela representante da secretaria de saúde do
município de Silva Jardim. Não sendo registrado maiores desdobramentos nem
discussões a respeito deste assunto, que foi citado junto com o plano para
assistência aos portadores de demência senil não sei se cabe de deixar uma vez
que não faz correlação com o tema...
A referência a alta complexidade, que inclui o tratamento oncológico, foi feita
no dia 18/10/2016 no contexto de apresentação do sistema estadual de regulação.
Seis referências em pouco menos de dois anos é um resultado baixo para
uma instância de controle social responsável justamente pela fiscalização de um dos
entes federativos responsáveis pela alta complexidade num tema tão relevante
quanto o tratamento oncológico.
Consideramos três motivos para tal nível baixo de discussão do tema. Dois
estruturais e um de natureza conjuntural.
A primeira explicação diz respeito à realidade específica do Rio de Janeiro.
Ex-capital do país – o município conta uma extensa rede de macro-dispositivos de
saúdes pertencentes ao governo federal. Entre eles o Instituto Nacional do Câncer
(INCA) – maior instituição do país relativo ao tema. De natureza tanto assistencial
quanto de pesquisa e ensino (a comissão de ética citada na ata visa chancelar as
pesquisas realizadas na instituição avaliar se permanece, uma vez que não se
discute isso no presente trabalho). Há ainda uma extensa rede de grandes hospitais
gerais – também federais – que também cuidam parcialmente da área oncológica.
Tal situação cria um estado de coisas?muito vago... efeitos complexos... onde o
Estado tende a não se preocupar muito com a criação de dispositivos assistenciais
de alta complexidade, o que acaba por refletir nas atividades deliberativas e
fiscalizatórias do controle social. A esse respeito é digno de nota que os principais
dispositivos assistenciais criados pelo Estado nos últimos anos tenha sido uma rede
de pequenas e médias emergências: as Unidades de Pronto Atendimento (UPAS)
estimuladas pelo governo federal, mas de responsabilidade típica dos municípios.
Essas unidades aparecem enormemente nas atas devido às dificuldades de
financiamento das mesmas após a crise do Estado.
Outra motivação para a pouca discussão sobre o tratamento de câncer e a
alta complexidade em geral, pode ser de ordem estrutural, diz respeito ao momento
específico do conselho estadual de saúde do Rio de Janeiro. Estando submetido a
uma intervenção judicial há pouco menos de um ano antes do início do marco
temporal para a pesquisa nas atas. Tem algum documento que pode citar como
fonte dessa informação? Relatório? Ata? Oficio? O CES passou muito tempo
dedicando-se a dificuldades internas como o estabelecimento de um novo regimento
interno, o que levou um tempo considerável que abrangeu também o relativo à essa
pesquisa. A preocupação com a possibilidade de nova judicialização criou um clima
onde parte considerável do trabalho do referido conselho era basicamente interno
mas o CES não era pautado nesse período?.
Por último, não menos importante, a realidade conjuntural que coincidiu com
o momento pesquisado que foi a grave crise pelo qual passa o estado do Rio de
Janeiro. Uma somatória de fatores: bloqueio de investimentos decorrente da
“operação Lava-Jato”, queda abrupta do preço do barril do petróleo, principal
atividade econômica do Estado e, um excessivo número de isenções fiscais criaram
uma grave crise fiscal. Com a arrecadação em baixa, boa parte dos recursos
empenhados para a saúde foram paralisados, juntamente com a remuneração da
quase totalidade dos recursos humanos do setor. Tal situação gerou um estado de
virtual caos no setor que consumiu também uma boa parte do tempo do Conselho.
Durante o ano de 2016 foi criado um calendário especial para debater os reflexos da
crise na saúde. Boa parte dos serviços de saúde foram gravemente afetados quando
não inteiramente paralisados Tem algum documento que pode citar como fonte
dessa informação? Relatório? Ata? Oficio? .
Pode se considerar que, em tal situação, a realidade da rede de assistência
oncológica, quase inteiramente federalizada, se tornou menos agudamente grave
que o restante das áreas afetadas pela crise.
Acrescenta-se a tal quadro a realidade da composição do Conselho. Formado
majoritariamente por representantes locais do interior do estado e da região
metropolitana e/ou de representantes dos servidores públicos estaduais, no
segmento profissional) é natural que boa parte das demandas do conselho de
concentrassem nos efeitos imediatos da crise nas áreas onde se concentravam as
ações assistenciais da secretaria estadual de saúde. Daí que uma das referências a
assistência oncológico que não dizia respeito ao INCA – referia-se ao sistema de
regulação responsável pelo encaminhamento de usuários à rede assistencial. É no
interior - devido a necessidade de regulação para os dispositivos federais
localizados na capital – que boa parte das demandas nessa área são feitas para a
secretaria estadual de saúde. Esse trecho ficou bem confuso. Sugiro separar em
parágrafos e deixar sua analise mais clara.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A principal conclusão a que podemos chegar relativo aos resultados ora


apresentados pela pesquisa, é que a discussão e fiscalização referentes ao
atendimento oncológico não se constituiu uma das prioridades do controle social do
estado no período estudado. Embora seja justamente uma das esferas
constitucionalmente responsável pelo setor.
As causas são múltiplas, mas a principal delas é a existência de uma extensa
e historicamente importante rede de assistência e pesquisa federal para o setor,
representado em especial pela figura do Instituto Nacional do Câncer, deixando o
Estado com um papel secundário de regulação, principalmente para o interior, além
do fornecimento localizado de assistência, muitos vezes intermediado pelos
municípios.
Outro apontamento importante está relacionado à situação de caos
generalizado provocado pela crise fiscal do Estado. Em tal situação, a preocupação
dos conselheiros e da gestão tende a se concentrar nos serviços interrompidos e/ou
afetados por esta. Novamente, o fato dos principais serviços na área oncológica
serem federais tende a não estimular o foco em tal agenda no Conselho Estadual.
Por último, a pesquisa aponta para uma tendência um tanto preocupante dos
órgãos de controle social: a internalização das pautas e a meramente resposta
burocrática as demandas da secretaria de saúde. Por outro lado,
considero (e aqui levando em consideração o papel do autor de conselheiro
de saúde) que a crise do estado foi um momento importante de politização do
conselho que pôde pela primeira vez em muito tempo rediscutir alguns dos rumos
tomados pela gestão do Sistema Único de Saúde no Estado. Notadamente o papel
das Organizações Sociais (OSs) e a priorização pouco pensada do financiamento de
dispositivos de responsabilidade municipal com as Unidades de Pronto Atendimento.
É digno de nota que o plano oncológico que seria o cerne do planejamento para a
área tenha sido citado, mas não discutido pelo conselho. Novamente contribuíram
para isso a situação singular do Estado do Rio e certa cultura de não preocupação
com o tema a nível estadual.
O controle social foi uma importante conquista constitucional do movimento
sanitário brasileiro. Objetivava superar o modelo tecnocrático e autoritário herdado
do regime militar e possibilitar a democratização de um modelo universal de acesso
à saúde. Refletir criticamente sobre as quase três décadas de implantação do
mesmo é uma tarefa importante que o presente trabalho pretendeu dar alguma
contribuição numa correlação com outra temática cara ao setor Saúde brasileiro, a
assistência oncológica.

BIBLIOGRAFIA precisa certificar que toda fonte citada no texto esteja na bibliografia
e vive versa.
BERLINGUER, G. A Reforma Sanitária – Itália e Brasil. HUCITEC-CEBES. São
Paulo: 1988
BRASIL, Lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990. Brasília, 2017.
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde
(SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na
área da saúde e dá outras providências. Brasília, DF, novembro de 2017. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm. Acesso em 31 de outubro de
2017.
CELLARD, André. A análise Documental. In: A pesquisa qualitativa: Enfoques
epistemológicos e metodológicos. Ed. Vozes. Petrópolis: 2008.
COHN, Amélia. Estado e Sociedade e as Reconfigurações do Direito à Saúde.
Disponível no site: http://www.scielo.br/pdf/csc/v8n1/a02v08n1.pdf. Acessado em 31
de outubro de 2017.
COSTA, Ana Maria. Participação e controle social em saúde. Disponível no site:
http://books.scielo.org/id/98kjw/pdf/noronha-9788581100173-08.pdf. Acessado em
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DUTRA, Vânia. Controle social e participação na gestão da saúde: a experiência do
município do Rio de Janeiro. Ed. Gramma. Rio de Janeiro: 2016.
HABERMAS, Junger. Teoria do agir comunicativo. 2 v. Martins Fontes. São Paulo:
2012
SOBRAl. Bruno Leonardo. A crise no Rio não deve ser tratada como crise do Rio.
Disponível no site: http://brasildebate.com.br/wp-content/uploads/crise-no-rio.pdf
Acessado em 18 de novembro de 2017.

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