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(*)
Doutorando em Função Social do Direito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo.
Mestre em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso. Juiz do Trabalho
no TRT da 23ª Região. Autor de livros jurídicos. Coordenador Acadêmico da Pós-graduação em
Direito e Processo do Trabalho da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de Mato Grosso
nos biênios 2011 a 2013 e 2013 a 2015. Membro do Comitê Executivo do Fórum de Assuntos
Fundiários do Conselho Nacional de Justiça de 2013 a 2014. Professor das disciplinas Teoria
Geral do Processo, Direito Processual Civil, Direito Processual do Trabalho e Direito Ambiental
do Trabalho. Tem atuado ultimamente em aulas e palestras na Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT) e nas Escolas Judiciais dos TRTs da
3ª, 5ª, 6ª, 7ª, 9ª, 14ª, 15ª, 18ª e 23ª Regiões. Endereços eletrônicos:
www.facebook.com/prof.joaohumbertocesario, www.facebook.com/prof.joaohumbertocesarioII e
@joaohumbertocesario (instagram).
fungibilidade entre as medidas antecipatórias satisfativas e as cautelares (ao
depois avançado, entre outras, pela Lei 11.232-2005, que ao criar o chamado
incidente de cumprimento de sentença, amalgamou a cognição à execução).
O fato concreto, com efeito, é que pelo menos legislativamente falando,
não mais teremos um ‘processo’ propriamente cautelar no nosso ordenamento,
embora, evidentemente, as ‘medidas cautelares’ continuem a existir.
De outro viés, a primeira grande crítica que se faz à inovação, diz respeito
à terminologia empregada pelo CPC/2015, já que o termo ‘tutela provisória’,
usado como gênero, não poderia ser mais infeliz. Para a compreensão do
afirmado, temos que retomar em mãos a antiga distinção, nem sempre
percebida, entre ‘provisoriedade’ e ‘temporariedade’. Processualmente falando,
a tutela temporária é aquela que dura por um tempo suficiente à asseguração do
resultado útil almejado para um outro provimento de fundo. Assim, uma vez
desaparecido o motivo fático-jurídico que a justifica, ela própria fenece. Já a
tutela provisória é aquela que, a par de durar apenas um certo período de tempo,
será tendencialmente substituída por uma outra de idêntica natureza, mas com
visos de definitividade.
Podemos concluir, uma vez feita a distinção terminológica em questão,
que a tutela cautelar não é provisória, mas temporária, ou seja, ela somente
perdurará pelo tempo necessário à asseguração de um outro direito. Logo,
desparecida a situação fático-jurídica que a justifica, ela própria desparecerá,
sendo, no máximo, substituída por outra ontologicamente diferenciada, como
quando, por exemplo, o arresto é convolado em penhora.
De sua vez, a tutela satisfativa é que é provisória (e não temporária), pois
a par de ser concedida em cognição superficial, será tendencialmente
substituída por outra ontologicamente idêntica após a exauriência da cognição,
mas, desta feita, sob o signo de definitividade. Ilustrativamente falando, a tutela
provisória de dar quantia certa, concedida sumariamente, será definitivizada
após o esgotamento do conhecimento da matéria, feita pela amplificação da
dilação probatória (não há margem, com efeito, para se dizer que ela será pura
e simplesmente defenestrada).
Feitas estas ressalvas, esclarecemos que doravante usaremos o termo
‘tutelas provisórias’ (embora estejamos, como visto, convencidos do seu
equívoco) como gênero que engloba as espécies ‘tutela de urgência cautelar’,
‘tutela de urgência satisfativa’ e ‘tutela de evidência satisfativa’, sem nos
esquecermos, no entanto, da lição de Cássio Scarpinella Bueno quando
esclarece que “nomes são nomes e, por definição, não podem querer se
sobrepor às realidades, ainda que normativas, que eles descrevem”1.
1BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz
do novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 218.
A explicação para este último ponto é um tanto simples. Ocorre que,
antigamente, a tutela cautelar, fosse ela preparatória ou incidental, era buscada
em processo e ação autônomos, ambos ditos cautelares. Assim, nada mais
adequado, àquele tempo, do que chamar-se a providência cautelar não
incidental de preparatória, na medida em que ela, via de regra, era uma ação
que preparava, pela asseguração de um direito, o ajuizamento de uma outra
ação, de natureza cognitiva ou executiva, dita principal.
Agora, como no regime do CPC/2015 o processo cautelar perdeu a sua
autonomia, a providência cautelar não é mais preparatória, mas meramente
antecedente, já que a continuação da demanda se dará na mesma relação
processual já instaurada, por via do mero aditamento do pedido aviado. Mas
voltaremos ao tema, de modo pormenorizado, oportunamente.
provisoriedade e temporariedade. Ora, como já demonstramos, a tutela
satisfativa é provisória, mas a cautelar é temporária.
De tal arte, não se pode objetar que a tutela antecipada, provisória que é,
de fato conserva a sua eficácia na pendência do processo, como diz o artigo 296
do CPC/2015. Uma vez julgado o pleito, a medida satisfativa que era provisória
se transmuta em definitiva, cessando, assim, a eficácia da primeira, substituída
que foi pela segunda.
Mas, a tutela cautelar, temporária que é, perdurará enquanto for
proveitosa, o que poderá se dar até mesmo para além do término do processo
cognitivo, tendo em conta a sua índole assecuratória. Basta pensar, por exemplo,
que o arresto, mesmo depois de julgado o processo cognitivo, continuará a ser
eficaz, pelo menos até a sua convolação em penhora. Desconstitui-lo antes, sob
o pueril argumento de que a cognição teve fim, seria colocar em risco novamente
o resultado útil do processo.
Não custa sublinhar ao final, discussões teóricas à parte, que,
obviamente, tanto a tutela cautelar quanto a satisfativa podem a qualquer tempo
sofrer revogação ou modificação. Uma vez suprimidas ou modificadas as razões
da concessão, o magistrado evidentemente poderá, mediante fundamentação
sólida (art. 93, IX, da CRFB c/c art. 298 do CPC/2015), repensar o provimento
antes concedido, quer modificando-o ou até mesmo revogando-o. Basta pensar,
ilustrativamente falando, na desconstituição de um arresto no caso de o
patrimônio de quem o suporta vir a se recompor em bases sólidas, de modo que
o temor à falta de resultado útil ao processo venha a ser solidamente afastado.
O caput do art. 297 faz as vezes, no plano
infraconstitucional, do que, no CPC de 1973, era
desempenhado pelo ‘deve-poder geral de antecipação’
(art. 273 daquele Código) e pelo 'dever-poder geral de
cautela’ (art. 798 daquele Código). É nele que reside o
acerto de afirmação (...) de que a tutela provisória deve ser
compreendida como a reunião de técnicas aptas ao
asseguramento do direito (ou, para quem quiser, do
resultado útil do processo) e/ou, tudo a depender das
necessidades do caso concreto, à satisfação imediata de
um direito. As ‘medidas que [o juiz] considerar adequadas
para efetivação da tutela provisória’ referidas no caput do
art. 297 devem, por isto mesmo, ser entendidas
amplamente para viabilizar que, observado o ‘modelo
constitucional do processo civil’, o magistrado crie
condições efetivas para assegurar direitos e/ou satisfazê-
los de imediato (...)2.
A lição transcrita é lapidar e fala por si. Mas não é demasiado frisar o
excerto no qual ela ensina, com tintas intensas, que “as medidas que [o juiz]
considerar adequadas para efetivação da tutela provisória referidas no caput do
art. 297 devem, por isto mesmo, ser entendidas amplamente para viabilizar que,
observado o modelo constitucional do processo civil, o magistrado crie condições
efetivas para assegurar direitos e/ou satisfazê-los de imediato”.
Tal preleção, impregnada do mais alto brilhantismo doutrinário, dialoga,
em nível máximo, com a inquisitividade que orienta o Processo do Trabalho, no
qual os Juízes do Trabalho têm ampla liberdade na direção do processo,
devendo velar pelo andamento rápido das causas e determinar qualquer
diligência necessária ao esclarecimento delas (art. 765 da CLT). Tratando
especificamente da íntima relação entre inquisitividade e
2 BUENO, Cássio Scarpinella. Ibid. p. 218.
cautelaridade/satisfatividade na processualística laboral, não custa recordar os
antigos, mas ainda hoje atualíssimos ensinamentos de Coqueijo Costa:
O que o artigo 297 está a dizer é que, doravante, bastará à parte buscar
a tutela assecuratória ou satisfativa que pretender, podendo o juiz, a partir de
então, lastreado no seu poder jurisdicional, adotar com ampla liberdade a técnica
processual capaz de tutelar o bem da vida perseguido pela parte em juízo. Esta
é, a nosso ver, diga-se de passagem, a chave para a compreensão do novo
modelo processual brasileiro, que somente será bem utilizado se o enxergarmos
pela mirada da ‘técnica processual como instrumento para a tutela dos direitos’,
pela qual, sob a inspiração de Marinoni, Mitidiero e Arenhart, temos nos batido
desde o nosso ‘Técnica processual e tutela coletiva de interesses ambientais
trabalhistas’4.
Nesta perspectiva, por exemplo, o artigo 297 do CPC/2015, ora em
estudo, deve ser potencializado pela cumulação com artigo 301 do CPC/2015,
quando dita, exemplificativamente falando, que a tutela de urgência de natureza
cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens,
registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea
para asseguração do direito. Tome-se, nesta diretriz, a lição do prof. Garcia
Medina:
3 COSTA, Carlos Coqueijo. Direito processual do trabalho. 4 ed. Ver., atual. e adap. por
TRINDADE, Washington Luiz da. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 20.
4 CESÁRIO, João Humberto. Técnica processual e tutela coletiva de interesses ambientais
alienação de bem e qualquer outra medida idônea’), sem
determinar requisitos específicos (como fazia o CPC/1973,
por exemplo, em relação ao arresto, em seus arts. 813 e
814, sem correspondentes, no CPC/2015).5
5 MEDINA, José Miguel Garcia. Direito processual civil moderno. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2015, p. 452.
A resposta, naturalmente, é negativa. Para situações emergenciais,
necessitamos de respostas jurisdicionais atípicas, estando aqui mais um
exemplo eloquente daquilo que já falamos em outras obras da nossa lavra,
relativamente à possibilidade de o magistrado conformar o procedimento às
necessidades do caso concreto.
Sobre o tema das medidas de efetivação das tutelas provisórias
voltaremos à carga oportunamente, quando o trataremos mais
pormenorizadamente, para muito além das linhas gerais que agora delineamos.
3.5 COMPETÊNCIA
Será lícito exigir-se-lhe, em uma hipótese que tal, que ele se desloque até
o Estado do Pará, para apresentar ao juízo competente (art. 651 da CLT) um
pedido de arresto ou bloqueio de bens, a ser implementado em Mato Grosso por
uma burocrática carta precatória?
A resposta, truisticamente, é negativa, pois, nesta situação, os artigos 299
do CPC/2015 e 651 da CLT não estariam sendo interpretados em conformidade
com o artigo 5º, XXXV, da CRFB, que mais do que garantir o acesso formal do
jurisdicionado ao Poder Judiciário, deve outorgar-lhe o direito de acesso
substancial à jurisdição. Incidirá aqui, portanto, o velho brocardo “quando est
periculum in mora, incompetentia non attenditur”.
Tal regramento, entretanto, está longe de ser absoluto, principalmente
quando voltamos o nosso olhar para o Processo do Trabalho, ramo do direito
informado, entre outras características, pela proteção aos vulneráveis e pela
inquisitividade, a ponto de o artigo 765 da CLT dizer com cores realçadas que
os Juízes do Trabalho têm ampla liberdade na direção do processo, devendo
velar pelo andamento rápido das causas, podendo, para tanto, determinar
qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.
A questão, como se percebe, não é tão óbvia como querem fazer parecer
alguns, sendo, a bem da verdade, bastante intrincada. Calha, assim,
iluminarmos o debate com a boa doutrina. Trazemos à colação, primeiramente,
a lição do professor José Roberto dos Santos Bedaque, por ser ele um
processualista civil e, assim, insuspeito para tratar do tema, principalmente
quando recordamos a sua respeitabilidade acadêmica:
6BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e
de urgência (tentativa de sistematização). 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 371, 372, 373.
Vejamos, agora, o posicionamento de um processualista do trabalho,
professor Carlos Henrique Bezerra Leite, cuja lição, embora repouse no modelo
processual do CPC/1973 (assim como a do professor Bedaque), continua
precisa para o desate da celeuma:
com a mirada apontada para um modelo processual capaz de efetivamente
tutelar os direitos (e não de meramente proclamá-los):
satisfativas ou assecuratórias), mormente naquelas situações excepcionais de
evidente disparidade de armas em que aflore o interesse social na boa
subministração da justiça.
Dito de modo ainda mais claro e atual, ao assim agir o magistrado estará
retirando das sombras e trazendo para as luzes a norma fundamental da
paridade de armas prevista no artigo 7º do CPC/2015, que, na sua essência,
reclama do Estado-juiz um tratamento processual igual para os iguais e desigual
para os desiguais, na exata medida da desigualdade existente entre estes
últimos.
Como se não bastasse, há de se ver que no plano legal o artigo 4º da Lei
10.259-01, incidente à processualística comum e de inequívoca aplicação ao
Processo do Trabalho, assevera que “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento
das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano
de difícil reparação”.
Tal preceptivo legal merece interpretação ampliativa, realizada em
consonância com o vetor constitucional do acesso substancial e não apenas
formal à jurisdição, para se compreender que o juiz no curso do processo está
autorizado a conceder de ofício toda e qualquer medida, seja ela cautelar ou
satisfativa, necessária para se evitar dano irreparável ou de difícil reparação.
Não se pode deixar de dizer, aliás, que a interpretação preconizada no
parágrafo anterior assume importância ainda maior quando contextualizada no
prisma dos interesses ambientais-laborais, onde o que se encontra em jogo é o
bem-estar, a saúde e até mesmo a vida do cidadão-trabalhador. Pensar de modo
contrário seria o mesmo que atribuir ao julgador, em pleno Estado Democrático
de Direito, o velho e aviltante papel de mera boche de la loi ou de juge inanimé
que lhe destinava o vetusto modelo liberal de estado.
Como já vimos exaustivamente, ademais, o magistrado está autorizado,
sempre que necessário, a conformar o procedimento às necessidades do caso
concreto, bastando, para tanto, que garanta aos litigantes o contraditório e a
ampla defesa. Releva sublinhar, entretanto, que sendo essa uma possibilidade
excepcional, ela deverá ser usada com muita parcimônia pelo julgador, até
mesmo porque eventual satisfação da antecipação, obrigará o beneficiado, em
caso de reversão do provimento, a restituir o patrimônio do interessado à
situação anterior, além de indenizá-lo por prejuízos comprovadamente
suportados (inteligência do art. 302 do CPC/2015).
Uma boa indagação, a propósito, seria saber se o Estado-juiz que
concedeu a tutela de ofício, estaria solidariamente responsabilizado à
indenização advinda da reversão do provimento. A resposta, mais uma vez, está
com os professores Marinoni e Arenhart:
9 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Ibid., p. 107.
3.7 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA: POSSIBILIDADE DA
CONCESSÃO SEM OITIVA PRÉVIA DA PARTE CONTRÁRIA?
Não é por outra razão, aliás, que o § 2º do artigo 300 do CPC/2015 diz
que a tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação
prévia, disposição que é adensada pelo parágrafo único do artigo 311 do
CPC/2015 que, relativamente à tutela de evidência, diz, sem embaraços, que
nas hipóteses dos incisos II e III o juiz poderá decidir liminarmente. Demais disso,
quanto à tutela de evidência, encarada por muitos como sancionatória diante da
agressão que aquele que se defende abusivamente perpetra contra a autoridade
da jurisdição (contempt of court), parece-nos existir espaço para uma
interpretação ampliativa do parágrafo único do artigo 311 do CPC/2015, debate
que, no entanto, travaremos em outra ocasião.
O que verdadeiramente importa ficar claro ao final da presente exposição,
é que tais exceções não estão a negar ao requerido o contraditório, sempre
compreendido, na boa dicção do CPC/2015, como a possibilidade de a parte
concretamente influenciar na construção das respostas jurisdicionais. No caso
não haverá negação ao contraditório, mas a sua simples postecipação, na
medida em que o seu exercício será diferido no tempo diante da urgência ou da
evidência que justificam a concessão da tutela provisória sem oitiva prévia.
Parece existir aí, com efeito, uma situação inusitada, na qual o legislador,
para se valer do senso comum, concedeu uma benesse ao cidadão comum com
uma das mãos, para logo na sequência subtrai-la com a outra. Isto equivale a
asseverar que o Legislativo, na hipótese, disse mais do que deveria dizer. Assim
é que o preceito em questão merece interpretação restritiva, balizada, sobretudo,
pelo princípio da proporcionalidade, tomado como norma fundamental do
processo no artigo 8º do CPC/2015.
Ora, à esta altura do estudo desenvolvido, ressoa claro, por exemplo, que
não se pode deixar de amparar um direito verossímil, expondo-se o autor a
fundado receio de dano irreparável às vezes até à sua própria vida, apenas para
serem preservados os interesses patrimoniais do réu que, sem qualquer indício
palpável de razão, não raro está a exercitar abusivamente o seu direito de
defesa. Tem-se, na diretriz apontada, as palavras de Sérgio Cruz Arenhart, que
embora lavradas ao tempo do CPC/2015, calham justas ainda hoje:
10ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela inibitória da vida privada. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2000, p. 125, 126.
Afinado no mesmo diapasão, mas com os olhos voltados especificamente
para o Processo do Trabalho, assim se pronuncia Bezerra Leite:
11 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit. p. 485.
Uma vez estudadas, pelo menos em linhas gerais, a teoria geral das
tutelas provisórias, passaremos de agora em diante a analisar as ditas medidas
em espécie
4.1 INTRODUÇÃO
tertium genus processual, capaz de assegurar o resultado útil de um outro
processo, dito principal, fosse ele de cognição ou de execução.
A sua missão, portanto, seria a de proporcionar ao interessado um
provimento de fixação, aceleração ou regresso, hábil à asseguração do resultado
útil de outra relação processual. Ilustrando esta visão tradicionalista, cai bem a
preleção de Humberto Theodoro Júnior, citando, inclusive, um dos expoentes da
escola mineira do direito processual, que é o prof. Ronaldo Cunha Campos:
12THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. II. 16 ed. Rio de
Janeiro: Forense, 1996, p. 361.
Há outros que, ligados à tradição intelectual de Ovídio Baptista da Silva
no Brasil13, não veem a tutela cautelar como um simples instrumento do
instrumento (dupla instrumentalidade), antes enxergando nela algo que se
poderia chamar de ‘direito substancial de cautela’, justificável na própria
pretensão autônoma de segurança de um direito potencialmente realizável.
Demais disso, argumentam os partidários da mencionada visão que
existiriam processos cautelares autossuficientes, que, de tal arte, não
demandariam necessariamente o ajuizamento de uma outra ação, cognitiva ou
executiva, tida como principal.
Tal se daria, entre outros exemplos, com a exibição de documentos
(arts.844 a 845 do CPC/1973) ou com a produção antecipada de provas (arts.
846 a 851 do CPC/1973). No primeiro caso (exibição de documentos), não eram
raras as situações em que o interessado, após exercer o seu ‘direito substancial
de cautela’ (por via do processo cautelar dito preparatório), uma vez conhecido
o documento angariado pela via cautelar, se convencia da desnecessidade de
ajuizamento de uma ação dita principal. No segundo (produção antecipada de
provas), nada jamais obstou a dilação probatória antecipada, mesmo que o
direito, dito principal, ainda não fosse sequer exigível. Como ilustração
argumentativa dos adeptos da mencionada escola, trazemos a lição dos
professores Marinoni e Arenhart:
13 Vide SILVA, Ovidio Araujo Baptista. Do processo cautelar. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001.
direito ao ressarcimento, que vê o infrator se desfazer dos
seus bens para futuramente não poder ser alcançado pela
execução, tem ameaçado o seu direito à tutela
ressarcitória, e, por isto, tem direito à tutela de segurança
(cautelar) da tutela ressarcitória. (...) O direito de ação
impõe o dever legislativo de instituição de técnica
processual capaz de permitir a obtenção de tutela cautelar
exatamente porque há direito, situado no plano do direito
substancial, à tutela cautelar. O direito à tutela cautelar não
advém do processo. A tutela cautelar não se destina a
garantir a efetividade da ação e, por isto mesmo, não pode
ser pensada com uma mera técnica processual necessária
a lhe outorgar efetividade. O direito à tutela cautelar está
situado no plano do direito material, assim como o direito
às tutelas inibitória e ressarcitória. O titular do direito à
tutela do direito – por exemplo, ressarcitória – também
possui direito à tutela de segurança (cautelar) do direito à
tutela do direito.14
14MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo cautelar. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2008, p. 22 e 23.
O requerimento da tutela cautelar pode ser antecedente ou incidente. Não
é por outro motivo que o capítulo III, do livro V, da parte geral do CPC/2015 é
denominado como procedimento da tutela cautelar ‘requerida em caráter
antecedente’, sendo certo, todavia, que o art. 308, § 1º, do CPC/2015, inserto no
aludido capítulo, explica que o pedido principal pode ser formulado
‘conjuntamente com o pedido de tutela cautelar’, quando esta última, portanto,
será incidental.
fumus boni juris. Aqui, contudo, ousamos apresentar uma crítica respeitosa ao
legislador que optou por traduzir o fumus boni juris como ‘probabilidade do
direito’.
Ocorre que, como já demonstramos no nosso livro Provas no processo do
trabalho – de acordo com o novo Código de Processo Civil15, a verdade,
processualmente falando, é inatingível no seu estado de pureza bruta, razão pela
qual o juiz, ao julgar, mesmo depois de um contraditório exauriente, a rigor se
pauta por um juízo de ‘altíssima probabilidade’, mas não de ‘absoluta certeza’.
Percebe-se, pois, que a ‘probabilidade do direito’ somente é obtida depois da
exauriência do contraditório e que a certeza em estado bruto não é alcançada
no processo.
Na realidade, como também demonstramos no nosso livro Provas no
processo do trabalho – de acordo com o novo Código de Processo Civil, o tema
jurídico da verdade passa por três níveis processuais distintos, quais sejam, o
da ‘possibilidade’, o da ‘verossimilhança’ e o da ‘probabilidade’, obtidos, cada um
deles, com a intensificação do contraditório no curso do processo.
Isso equivale a afirmar que quando a pretensão do autor é apresentada
ao Estado-juiz, via de regra o magistrado no máximo a tem como possível, diante
da ausência de contraditório. A partir do momento em que este último (o
contraditório) se intensifica, a pretensão, mais que possível, pode ser tomada
por verossímil. Finalmente, somente com a exauriência do contraditório é que a
pretensão e, consequentemente, o direito do autor, poderá ser tomado como
altamente provável.
Bem-postas as coisas, a nossa crítica à opção legislativa pode agora ser
melhor desenvolvida. Parece-nos que ao dizer que a ‘probabilidade do direito’ é
um dos requisitos para a concessão da ‘tutela provisória’, o legislador estaria a
afirmar, ainda que por vias transversas, que a ‘certeza do direito’, obtida após o
esgotamento do contraditório, é que seria o requisito necessário para a
concessão da ‘tutela definitiva’. Mas isso, como já vimos, não corresponde à
realidade, pois a verdade absoluta, em essência, não é atingível dentro ou fora
do processo.
15Vide CESÁRIO, João Humberto. Provas no processo do trabalho: de acordo com o novo código
de processo civil. Cuiabá: JHC, 2015, p. 52 a 60.
Idealmente falando, o juiz, ao julgar definitivamente uma demanda,
necessita atingir com o uso da régua probatória um ponto que se distancie
quilometricamente da ‘verdade formal’ (com o perdão da contradição) e se
aproxime centimetricamente da ‘verdade real’ (com o perdão da redundância).
Esse ponto, que na realidade pode ser mais ou menos desbalanceado, mas
sequer equidistante, é o que podemos chamar de ‘verdade factível’ (ainda que a
verdade, em essência, não comporte epítetos), que, calcada em um juízo de ‘alta
probabilidade’, permite ao Estado-juiz bem distribuir a justiça, entregando
definitivamente a cada um dos litigantes o que é seu.
Em sendo assim, teria sido melhor se o legislador tivesse dito que seria a
‘verossimilhança’ e não a ‘probabilidade’ do direito que corresponderia ao fumus
boni juris. Se bem notarmos, aliás, o CPC/1973 era um tanto mais correto nesse
ponto, já que o seu artigo 273, embora exigisse daquele que requeria uma tutela
antecipada (e não medida cautelar propriamente dita) uma prova inequívoca,
esclarecia, na sequência, que ela (prova inequívoca) deveria apenas induzir à
‘verossimilhança’ da alegação.
Vale notar, superado esse ponto do debate, que para a obtenção da tutela
cautelar, será ainda necessário que o autor, segundo a dicção legal (com a qual
– já dissemos – não concordamos integralmente), demonstre que se a medida
não for concedida com urgência, a omissão jurisdicional será capaz de
comprometer o ‘resultado útil do processo’ (seria melhor, por exemplo, que a lei
falasse em ‘ameaça a um direito potencialmente realizável’), tratando, assim, do
chamado periculum in mora.
daquele que, suportando os efeitos do provimento cautelar, venha a sofrer
prejuízo.
Não é por outra razão que o artigo 302 do CPC/2015 adverte com firmeza
que, independentemente da reparação por dano processual, a parte responde
pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se:
a) a sentença lhe for desfavorável; b) obtida liminarmente a tutela em caráter
antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no
prazo de 5 (cinco) dias; c) ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer
hipótese legal; d) o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da
pretensão do autor. Seguindo tal esteira, o parágrafo único do preceito em
estudo esclarece que a indenização será liquidada nos autos em que a medida
tiver sido concedida, sempre que possível.
Há de se observar, porém, que o próprio § 1º do artigo 300 do CPC/2015
traz uma exceção à regra geral estabelecida no seu corpo, quando diz que a
caução pode ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não
puder oferecê-la. Não são poucas as vozes que criticam tal exceção, sob o
prosaico argumento de que nela a lei teria buscado o seu entusiasmo criador
naquilo que denominam como ‘socialismo processual’.
Cuida-se de verdadeiro truísmo, todavia, que a inspiração da ressalva em
estudo não possui alicerce no decantado ‘socialismo processual’, estando
arrimada, na realidade, no acesso não apenas formal, mas sobretudo
substancial à jurisdição, prometido por um Estado que se preze como
verdadeiramente Democrático de Direito (vide, no caso brasileiro, o art. 5º,
XXXV, da CRFB).
Quem tem um mínimo de vivência no foro trabalhista sabe muito bem que
não são poucas as situações nas quais, ainda que presentes o fumus e o
periculum, se o Juiz do Trabalho se negar a conceder uma tutela de urgência ao
trabalhador, fundado no confortável argumento da falta de lastro patrimonial para
a oferta de contracautela, não estará nada mais fazendo do que negar o acesso
substancial à jurisdição ao cidadão-trabalhador.
Sobre o tema, de modo mais pormenorizado, inclusive com
exemplificação, voltaremos quando tratarmos das tutelas satisfativas de
urgência.
4.6 A DECISÃO SOBRE A TUTELA CAUTELAR PRODUZ COISA
JULGADA?
4.7 PROCEDIMENTO
(cinco) dias, contestar o pedido e indicar as provas que pretende produzir.
Seguindo tal esteira, o, artigo 307 do CPC/2015 dispõe que não sendo
contestado o pedido, os fatos alegados pelo autor presumir-se-ão aceitos pelo
réu como ocorridos, caso em que o juiz decidirá dentro de 5 (cinco) dias.
Outrossim, uma vez contestado o pedido no prazo legal, observar-se-á o
procedimento comum (parágrafo único do art. 307 do CPC/2015).
Na sequência, aduz o artigo 308 do CPC/2015 que acaso deferida e
efetivada a tutela cautelar, o pedido principal terá de ser formulado pelo autor no
prazo de 30 (trinta) dias, caso em que será apresentado nos mesmos autos em
que deduzido o pedido de tutela cautelar. Há aqui, como se percebe, ocorreu
uma mudança paradigmática, já que no CPC 1973, uma vez efetivada a medida,
o interessado teria que ajuizar uma nova ação, dita principal (art. 806 do
CPC/1973). Agora, no entanto, o pedido principal será formulado pelo autor nos
mesmos autos.
Obviamente, não apresentado o pleito cognitivo ou executivo no prazo de
trinta dias, a medida cautelar deferida e efetivada terá cessada a sua eficácia,
com a consequente extinção do processo sem resolução do mérito. Não é por
outra razão que o artigo 309 do CPC/2015 estatui que cessa a eficácia da tutela
concedida em caráter antecedente, se: a) o autor não deduzir o pedido principal
no prazo legal; b) a própria medida, ontologicamente considerada, não for
efetivada dentro de 30 (trinta) dias; c) ou o juiz julgar improcedente o pedido
principal formulado pelo autor ou extinguir o processo sem resolução de mérito.
Em todas estas hipóteses, o parágrafo único do artigo 309 do CPC/2015
esclarece que se por qualquer motivo cessar a eficácia da tutela cautelar, será
vedado à parte renovar o pedido, salvo sob novo fundamento.
Finalmente, o § 1º do artigo 308 do CPC/2015, tratando nitidamente de
hipótese de cautelar incidental, permite que o pedido principal seja formulado
conjuntamente com o pedido de tutela assecuratória. Neste caso, temos uma
tormentosa questão sobre o prazo e a natureza da resposta do réu no Processo
do Trabalho a ser desafiada. Afinal, deverá ele rebater em cinco dias (artigo 306
do CPC/2015) o pleito cautelar e também o pedido principal? A resposta parece-
nos negativa. Explicamos a seguir.
É certo que o prazo para resposta do réu no Processo do Trabalho é de
cinco dias (art. 841, caput, parte final, da CLT). Assim, nada obstaria, a princípio,
que fosse marcada audiência para ocorrer em cinco dias, na qual o réu
contestaria o pleito cautelar e o pleito cognitivo simultaneamente. Ocorre, no
entanto, que na prática são raras, senão inexistentes, as Varas do Trabalho que
têm pauta livre para a realização de audiência no quinquídio legal. Com efeito,
diante da urgência da pretensão acautelatória, parece-nos mais adequado
intimar o réu para respondê-la em cartório no prazo de cinco dias, para, ao
depois, com mais calma, marcar-se a audiência de instrução e julgamento, na
qual o requerido apresentará a sua defesa quanto ao pedido principal (art. 847
da CLT). Tal solução harmoniza, na perspectiva da concordância prática, a
necessidade de se dar resposta urgente ao requerente que almeja uma medida
cautelar, ao mesmo tempo em que garante ao réu um prazo razoável para
exercer adequadamente o contraditório e a ampla defesa.
De outro tanto, nos casos em que o pleito cautelar for apresentado no
curso do processo, por vezes em momento até mesmo posterior à audiência já
realizada, na qual o reclamado se defendeu do pedido principal, este último,
naturalmente, será intimado para, em cinco dias, apresentar a sua resposta
meramente ao pedido assecuratório, seguindo-se daí em diante, normalmente,
o trâmite cautelar.
encontrava a dizer que além dos procedimentos cautelares específicos, poderia
o juiz determinar as medidas cautelares que julgasse adequadas, quando
houvesse fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide,
causasse ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.
Agora a situação cambiou radicalmente, já que por regra as medidas
cautelares se tornaram atípicas e apenas por exceção divisamos em tese16 a
remanescência legal de cautelares típicas, como é o caso, por exemplo, da
produção antecipada de provas ou da exibição de documentos, sobre as quais
tratamos detidamente no nosso livro Provas no processo do trabalho: de acordo
com o novo código de processo civil 17, a cujo estudo remetemos o leitor.
Assim delineada a matéria no antigo regime, passemos à análise do tema
no presente. Logo de plano, devemos dizer que os elementos que justificam a
concessão de tutela de evidência estão arrolados no artigo 311 do CPC/2015,
razão pela qual serão tratados mais adiante de modo apartado, já que agora
cingimo-nos à discussão das tutelas satisfativas de urgência.
Quanto a estas últimas, o artigo 300 do CPC/2015 diz que a tutela de
urgência será conferida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo. Quando a parte final de tal preceito fala de ‘risco ao resultado útil do
processo’, está a tratar da tutela cautelar de urgência, já estudada. Assim, o que
nos interessa agora é o fragmento do preceptivo que toca no ‘perigo de dano’,
que seria o pressuposto maior da concessão antecipada de tutela satisfativa. Vai
aqui a nossa primeira crítica à redação legislativa empregada, como abaixo
explicaremos.
Como é palmar, temos hoje delineado um modelo de estado cuja principal
nótula jurídica é o privilégio da prevenção em detrimento da repressão18. Ocorre
que atualmente vivemos em uma sociedade pós-moderna, transindividualizada,
caótica, hiperconectada, de riscos e de massas, na qual os danos, quando
consumados, são de dificílima ou impossível reparação. Em uma sociedade
como a descrita, o direito, por decorrência, deve ser pensado, interpretado e
subministrado em uma perspectiva preventiva, sendo relegada a repressividade
a um segundo momento.
Dito de outro modo, as bases jurídicas devem renegar a passividade
liberal, para abraçar sem temores a proatividade do Estado Democrático de
Direito. Só assim poderemos falar em um verdadeiro ‘greening’ (esverdeamento)
dos direitos humanos, neles incluídos os de feição social-laboral. Tanto é
verdade, que temos preconizado insistentemente na nossa cátedra, que o
principal direito dos trabalhadores é aquele que lamentavelmente está esquecido
no artigo 7º, XXII, da CRFB, que afirma a fundamentalidade da redução dos
riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança.
18Vide, para uma compreensão pormenorizada do afirmado, CESÁRIO, João Humberto. Técnica
processual e tutela coletiva de interesses ambientais trabalhistas. São Paulo: LTr, 2012, p. 42 et
seq.
Bem-postas as coisas, o que desejamos dizer é que o artigo 300 do
CPC/2015 decididamente não pode ser interpretado isoladamente, sendo
necessário que o conjuguemos com o parágrafo único do artigo 497 do
CPC/2015, que se encontra a dizer que para a concessão da tutela específica
destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua
remoção, é ‘irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência
de culpa ou dolo’. Se assim não agirmos, estaremos jogando na lata do lixo, em
nome de um novo código supostamente avançado, aberto e democrático, mais
de duas décadas de construções legislativas e doutrinárias.
Assim é que, coerentes com o elemento fulcral da nossa obra doutrinária
e do nosso magistério, discorreremos, em apartado, sobre as tutelas satisfativas
de dar quantia certa (repressivas), para ao depois centrarmos a nossa atenção
nas tutelas satisfativas de fazer, não fazer ou entregar coisa (preventivas).
Prova inequívoca, muito ao contrário do que se imaginava, não era
sinônimo de prova irrefutável. Tanto isso era verdade, que o § 4º do artigo 273
estabelecia que a tutela antecipada poderia ser revogada ou modificada a
qualquer tempo em decisão fundamentada. Ora, se prova inequívoca fosse o
mesmo que prova irrefutável, não haveria margem, naturalmente, para a
reversão do decidido.
Como inequívoca, portanto, devia ser entendida a prova formalmente
perfeita, qualquer que fosse a sua natureza, que no âmbito da cognição sumária
convencesse o juiz sobre a verossimilhança da causa de pedir aviventada na
primígena. Isto significava dizer, por vias transversas, que a antecipação de
tutela era (e continua a ser) concedida no âmbito do conhecimento não
exauriente, com base em juízo de verossimilhança, que, de tal arte, prescindia
do pressuposto da certeza, de resto inatingível até mesmo no âmbito da
cognição exauriente. Não custa dizer, reafirmando o agora dito, que sequer o
julgamento definitivo, praticado no âmbito sentencial, se baliza pelo requisito da
verdade categórica. Não seria a antecipação de tutela, pois, que exigiria o
requisito da completa superação da dúvida19.
Complementarmente, o artigo 273, I, do CPC/2015 dispunha que para
além da prova inequívoca conducente à verossimilhança da alegação, um outro
requisito era necessário para a concessão dos efeitos antecipados da tutela de
obrigação de dar quantia certa, que era a ocorrência de fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação. Tínhamos justamente aí, no regime anterior,
a chamada tutela de urgência que agora estamos estudando, cujo tema remete
naturalmente ao antagonismo existente entre tempo e processo.
Nos termos da processualística liberal clássica, os custos do tempo no
processo sempre recaíram nos ombros do autor, vez que se partia do suposto
que o réu não poderia ser compelido a implementar uma obrigação sem a
exauriência da cognição. Isso não raro conduzia a uma situação um tanto
exótica, na qual se sacrificava o direito do autor que detinha prova inequívoca
hábil a respaldar a verossimilhança da sua alegação, em nome da preservação
sacralizada do direito de defesa do réu que aparentemente não possuía razão.
19Para aprofundamento do tema da busca da verdade no processo, indicamos o estudo de livro
da nossa autoria: CESÁRIO, João Humberto. Provas no processo do trabalho: de acordo com o
novo código de processo civil. Cuiabá: JHC, 2015, p. 52 a 60.
Pior ainda, como resultado dessa equação perversa, via de regra se consumava
uma situação de dano irreparável ao direito do vindicante.
No abalançamento dos interesses digladiantes, o direito liberal optava por
preservar a integridade patrimonial do réu, ainda que tal comportamento
custasse, por exemplo, um prejuízo irremediável à honra ou mesmo à vida do
autor. Tal constatação, diga-se de passagem, pode ser facilmente compreendida
quando contextualizada historicamente, pois, como sabemos, o direito liberal
nasce sob o signo da proteção incondicional à propriedade privada que tanto
interessava à segurança burguesa.
Já no processo formatado sob a égide do Estado Democrático de Direito,
o tema ganha novos balizamentos. Basta notar que o bem axiológico central que
emerge da vigente Constituição brasileira é a dignidade da pessoa humana e
não a defesa cega e irrestrita da propriedade. Em um contexto que tal,
obviamente, o tema do ônus do tempo no processo assume contornos
diametralmente distintos.
Não se deseja dizer aqui que a propriedade deixou de ser um direito
fundamental. Evidentemente que não. Mas o fato é que em um Estado
Democrático de Direito, o seu status de fundamentalidade depende diretamente
do cumprimento de uma função social. Isto significa dizer que a propriedade, em
um juízo de ponderação, poderá ser eventualmente sacrificada para que a
dignidade humana não seja aviltada.
É dentro desta lógica, portanto, que o CPC/1973, a partir da reforma
operada pela Lei nº 8.952-1994, passou a vaticinar que naquelas ocasiões em
que o autor detivesse prova inequívoca hábil ao convencimento da sua razão,
estando, ademais, em vias de assistir o perecimento do seu direito, ser-lhe-ia
lícito merecer do Estado-juiz a antecipação dos efeitos da tutela de mérito,
operando-se, com isso, a ‘inversão do ônus do tempo no processo’20.
Feito todo o introito anterior, que necessariamente haveria que passar
pela evolução histórica da matéria, chega o momento de analisarmos os
requisitos que o CPC/2015 impõe para que o juiz conceda a tutela satisfativa de
urgência consubstanciada em obrigação de dar quantia certa. Neste diapasão,
importa notar que o artigo 300 do CPC/2015 dispõe que a tutela de urgência (não
20Sobre a temática da inversão do ônus do tempo no processo, vide, por exemplo, MARINONI,
Luiz Guilherme. A antecipação da tutela. 7 ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 29.
importando se cautelar ou satisfativa) de obrigação de dar quantia certa será
concedida quando houver elementos que evidenciem a ‘probabilidade do direito’
e o ‘perigo de dano’.
Percebe-se daí que os requisitos no caso foram em muito abrandados, já
que agora, ao invés de ‘prova inequívoca que conduza à verossimilhança da
alegação’, o CPC/2015 impõe que o autor meramente demonstre, obviamente
que com um discurso jurídico sólido, apenas a chamada ‘probabilidade do direito’
(melhor enxergada, como vimos mais atrás, como ‘verossimilhança do direito’),
que nada mais é do que o antigo fumus boni juris da tutela cautelar. Além disso,
como a tutela ora estudada se justifica na urgência, nada mais razoável do que
o CPC/2015 exigir a demonstração do ‘perigo de dano’, que elementarmente
corresponde ao velho periculum in mora.
5.1.1 Exemplificação
Na hipótese em questão, que com um ou outro matiz distintivo vem
infelizmente vem se tornando corriqueira na Justiça do Trabalho, a probabilidade
(rectius: verossimilhança) do direito está, via de regra, demonstrada pela
emissão da CAT (quando, assim, mais do que o fumus, temos ‘prova inequívoca
que conduz à verossimilhança da alegação’), sendo mais que patente o fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação (no caso à vida do trabalhador,
diga-se de passagem).
Estabelecia o § 3º do artigo 461 do CPC/1973, que sendo relevante o
fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do
provimento final, seria lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante
justificação prévia. Estavam elencados no mencionado preceptivo, consoante se
pode enxergar nitidamente, os elementos que justificavam a antecipação dos
efeitos da tutela mandamental.
Já por outra vertente, o § 3º do artigo 461-A do Código de Processo Civil
vaticinava que o disposto nos §§ 1º a 6º do art. 461 aplicava-se à implementação
das suas próprias disposições. Os requisitos para a concessão dos efeitos da
tutela antecipada das obrigações de entregar coisa, portanto, eram os mesmos
das obrigações de fazer e não fazer.
Com efeito, na parte inicial do § 3º do artigo 461 do CPC/1973 estavam
indicados os dois principais pressupostos para a concessão da antecipação dos
efeitos da tutela mandamental de urgência, que eram o ‘relevante fundamento
da demanda’ e o ‘fundado receio de ineficácia do provimento final’.
Podia-se ver, transparentemente, que embora a tutela de urgência em
questão fosse iniludivelmente satisfativa, os pressupostos da sua concessão,
mesmo ao tempo do CPC/1973, eram os mesmos necessários para o
deferimento das medidas cautelares, quais sejam, o periculum in mora (fundado
receio de ineficácia do provimento final) e o fumus boni juris (relevante
fundamento da demanda), vez que, nesta hipótese, não se exigia uma prova
inequívoca que conduzisse à verossimilhança da alegação (ao contrário do que
ocorria na antecipação de tutela de obrigação de dar quantia certa, ex vi do art.
273, caput, do CPC/1973).
A única coisa que precisa ficar clara, reforçando o que já advertimos mais
atrás, é que o artigo 300 do CPC/2015 deve ser interpretado conjugadamente
como artigo 497, parágrafo único, do CPC/2015, quando diz que para a
concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a
continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é ‘irrelevante a demonstração da
ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo’.
Logo, embora a nova lei não seja tão clara, na verdade os requisitos para
a antecipação da tutela satisfativa de índole mandamental, destinada a inibir ou
a remover um ilícito, continuam a ser exatamente os do regime anterior, quais
sejam, o ‘relevante fundamento da demanda’ (fumus boni juris) e o ‘fundado
receio de ineficácia do provimento final’ (periculum in mora), sendo
absolutamente ‘irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo’.
Tal se dá – já dissemos e tornamos a dizer – porque temos hoje
juridicamente delineado, interna e externamente, um modelo de Estado que
denominamos como Democrático de Direito, cuja nótula jurídica primordial é o
privilégio da prevenção em detrimento da repressão. Com efeito, se nos
dispusermos a inibir ou a remover os ilícitos atempadamente, correremos
menores riscos de sofrer danos, o que é absolutamente desejável na sociedade
pós-moderna, caótica e complexa que vivemos, na qual, quando consumados,
os danos são de dificílima ou impossível reparação (basta pensarmos nos danos
ambientais, neles incluídos, obviamente, os de natureza labor-ambiental).
5.2.3 Exemplificação
trabalhadores. De outro tanto, o fundado receio de ineficácia do provimento final
é mais do que patente, pois se a tutela tiver que aguardar o trânsito para ser
implementada, muitos trabalhadores por certo serão contaminados, pagando,
com a própria vida, pela inércia do Estado-juiz, que não se dispôs a remover o
ilícito atempadamente.
Pense-se, outrossim, na hipótese (que também já desafiamos na nossa
carreira de juiz) de empregados menores estarem trabalhando em horário
noturno, ou ainda em ambiente insalubre e/ou periculoso, em claro malferimento
do disposto no artigo 7º, XXXIII, da Constituição da República.
Não é sequer necessário realçar, à espécie, a relevância do fundamento
da demanda, que tem como objetivo o estabelecimento do respeito ao
ordenamento constitucional em um ponto tão sensível como o da proteção de
menores. Como se não bastasse, o fundado receio de ineficácia do provimento
final é mais que evidente, pois até o trânsito se consumar os menores certamente
já terão atingido a maioridade, não mais remanescendo, em termos práticos, o
interesse que um dia clamou por imediata proteção.
Isto equivale a dizer que se a tutela inibitória não for concedida
antecipadamente, só restará ao jurisdicionado o caminho da sua convolação em
perdas e danos, em claro malferimento dos propósitos do Estado Democrático
de Direito, cujo compromisso inarredável é para com a satisfação plena da
proteção específica, o que decididamente não se pode alcançar com a tutela
pelo equivalente monetário.
segurança e a integridade vital do cidadão-trabalhador estão situadas acima do
mero interesse patrimonial do empregador.
Para além da perspectiva da proporcionalidade dos interesses colidentes,
não se pode deixar de sublinhar a verdade óbvia de que a concessão da tutela
antecipada destinada a inibir ou a remover o ilícito possuirá o condão de no
mínimo beneficiar o vindicado indiretamente, vez que será capaz de adequar a
sua conduta aos parâmetros impostos pelo ordenamento jurídico. Assim é que
será legítimo impor aos empregadores antecipadamente, por exemplo, os
provimentos mandamentais abaixo nominados, que são elencados,
naturalmente, sem qualquer pretensão exaustiva:
efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.
Nesta hipótese, o § 1º do mencionado preceito dispõe que para atender
ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a
imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o
desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso
necessário, requisitar o auxílio de força policial.
6.1 INTRODUÇÃO
6.2.1 Introdução
Segundo o artigo 303 do CPC/2015, nos casos em que a urgência for
contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode limitar-se ao
requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final, com a
exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do
risco ao resultado útil do processo. Cuida-se tal novidade, no dizer dos
professores Marinoni, Arenhart e Mitidiero, de uma opção do legislador brasileiro,
que “fugindo do desenho tradicional da tutela antecipada, (...) inovou ao tornar
procedimentalmente autônomo o juízo sumário que leva à concessão da tutela
antecipada”21.
Dito de outro modo, até agora tínhamos como regra a instauração de
processos exaurientes, com objetivos ligados à prestação de uma tutela
jurisdicional dita definitiva, capaz de resolver as demandas com altíssima
probabilidade de atingimento da verdade dos fatos em discussão. De agora em
diante, entretanto, abre-se a viabilidade de se resolverem os conflitos também
pela via sumária, com a possibilidade de estabilização de uma decisão tomada
em cognição não exauriente (vide, a propósito, o art. 304, caput, do CPC/2015).
Perde-se, assim, em algum grau, a chamada segurança jurídica, para se obter,
em compensação, um ganho quanto à duração do processo. Cuida-se, a toda
evidência, de um abalançamento de valores feito pelo legislador do CPC/2015.
De tal arte, a antecipação dos efeitos da tutela, que no regime processual
civil anterior detinha a nótula da interinalidade, acabou por se autonomizar em
determinados contextos do regime advindo do CPC/2015, balizados por uma
nova espécie de cognição sumária estabilizável, que somente pode ser revista
excepcionalmente por uma ação reversa de cognição plena (vide os §§ 2º e 3º
do art. 304 do CPC/2015).
No regime anterior, o único paralelo que tínhamos a este novel standard
legislativo, era a chamada ação monitória, prevista nos artigos 1.102-A a 1.102-
C do CPC/1973, na qual o juiz, com base em um juízo sumário de evidência
(prova escrita sem eficácia de título executivo), expedia um mandado de
pagamento ou entrega de coisa, que somente perdia a eficácia se o requerido
21MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo
civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. Vol. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 214.
oferecesse embargos em tempo hábil (note-se que atualmente a ação monitória
está regulada nos arts. 700 a 702 do CPC/2015).
Pela técnica monitória, como sempre se soube (pelo menos a partir do
ano de 1.995, quando ela foi inserida no ordenamento processual brasileiro), o
juiz poderia conceder ao autor uma decisão sumária de evidência, expedindo no
seu interesse um mandado de pagamento ou de entrega de coisa. Ocorria a
partir de então, por assim dizer, uma verdadeira inversão na deflagração do
contraditório, que para ser viabilizado dependeria do comportamento do réu e
não do autor.
Isso equivalia a dizer que se o réu pagasse o crédito cobrado ou
entregasse o bem custodiado, o processo teria fim sem a exauriência da
cognição, tendo por base somente um juízo sumário de evidência lavrado pelo
juízo in limine litis. De outro tanto, apenas se ele embargasse é que teríamos a
suspenção da eficácia do mandado inicial, com o consequente estabelecimento
do contraditório no curso do processo, sendo superada, a partir de então, a
autonomização sumária do procedimento, pelo rito ordinário de cognição
profunda.
O fato é que atualmente, consoante tudo o que foi dito anteriormente, nos
casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a petição
inicial poderá limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do
pedido de tutela final, com a exposição da lide, do direito que se busca realizar
e do perigo de dano (ou de ilícito, quando a tutela for mandamental). A partir de
então, o juiz poderá ou não antecipar a tutela, tomando o procedimento, por
decorrência, dois caminhos distintos. No próximo tópico falaremos do mais
simples, relativo ao indeferimento da pretensão, para somente depois tratarmos
do mais complexo, alusivo à concessão da tutela.
A matéria, naturalmente, há de ser vista no nosso caso como os
temperamentos do Processo do Trabalho. De tal arte, em um primeiro arroubo,
o juslaboralista diria que somente seria cabível o aditamento da inicial no caso
de o rito ser o ordinário, já que tal providência seria incompatível com o
procedimento sumaríssimo.
Não é este o nosso ponto de vista. Ocorre que como já explicamos um
pouco atrás, houve com o CPC/2015 uma autonomização da tutela de urgência
satisfativa sumária (tomada no sentido de não exauriente), sendo lícito, pois, o
aditamento da inicial em qualquer circunstância, pois, como já explicado, a tutela
de urgência, nesta hipótese, não é mais interinal.
Assim, qualquer que seja o rito, o Juiz do Trabalho, no caso de
compreender que não estão presentes os requisitos para a concessão de tutela
antecipada, determinará o aditamento da petição inicial em cinco dias. Caso a
parte não atenda à determinação, o processo será extinto sem exame do mérito
(parte final do § 6º do art. 303 do CPC/2015). Na hipótese de a ordem ser
obedecida, o processo passará a ter curso pelo rito normal, seja ele ordinário ou
sumaríssimo, haja vista que a tutela satisfativa de urgência pretendida, a
princípio antecedente, acabou por se interinalizar.
No Processo Civil, que nem de perto passa pela amplíssima cumulação
objetiva de pleitos característica da jurisdição laboral, contudo, a sumarização
do debate seria importante para o autor, na medida em que ele conseguiria a
tutela com máxima urgência, sem ver o seu direito perecer. Seria igualmente útil
ao réu, que diante do bom direito do autor, manter-se-ia silente, sem impugnar o
provimento antecipatório, permitindo, assim, a estabilização da tutela (art. 304,
caput, do CPC/2015), para, com isso, fazer uma gestão mais racional e eficiente
dos custos da demanda, barateando, inclusive, as despesas processuais. Os
professores Didier Jr., Sarno Braga e Rafael Alexandria, a propósito, nos dão
alguns exemplos interessantes de como ela poderia ser utilizada no Processo
Civil. Vejamos:
22DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito
processual civil. Vol. 2. 17 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 605.
igualmente haveria vantagens. Neste passo, temos como mais uma vez
importante trazermos à colação os argumentos dos professores Didier Jr., Sarno
Braga e Rafael Alexandria:
23DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Id.
24Para aprofundamento do afirmado, vide CESÁRIO, João Humberto. A importância do cadastro
de empregadores que tenham mantido trabalhadores em condições análogas à de escravo como
instrumento de cidadania: questões materiais e processuais (à luz da nova lei do mandado de
segurança). In NOCHI, Andrea Saint Pastous; VELLOSO, Gabriel Napoleão; FAVA, Marcos
Neves. (Org.). Trabalho escravo contemporâneo: o desafio de superar a negação. 2 ed. São
Paulo: LTr, 2011, p. 147 a 165.
busca realizar e do perigo de dano (que seria, por exemplo, a perda de crédito
público para o financiamento da atividade privada).
Nesta hipótese, uma vez deferida a tutela pretendida, o Juiz do Trabalho
intimaria a União para cumprimento do decidido, e esta última, percebendo o
acerto da decisão, cumpriria o determinado sem objurgar a decisão, quando,
então, a decisão, embora sumária, tornar-se-ia estável (art. 304, caput, do
CPC/2015). Neste caso, o processo seria extinto (§ 1º do art. 304 do CPC/2015),
sem a necessidade de exaurimento da cognição.
Tal prática seria ótima para o autor, que teria conseguido o seu intento,
sem maior dispêndio de energia processual. Igualmente seria interessante para
o réu (União), que poderia concentrar a atividade da sua procuradoria em causas
mais importantes, além de eventualmente economizar no pagamento de
honorários advocatícios, que, fixados em 5% (art. 701, caput, do CPC/2015,
aplicado por analogia, ante a evidente inspiração da técnica de autonomização
sumária das tutelas de urgência no procedimento monitório), tenderiam a ser
mais baratos do que na maioria dos casos previstos no § 3º, I a V, do artigo 85
do CPC/2015 c/c artigo 791-A, caput, § 1º da CLT. Finalmente, também seria
ótima para a própria função jurisdicional do Estado, que teria um processo a
menos para a gestão judiciária do seu acervo processual.
Pense-se, outrossim, no caso de uma empregada, dispensada em estado
gestacional, quando nem ela ou o empregador sabiam do fato, que deseje ser
reintegrada ao trabalho (S. 244 do TST). Neste caso, mais uma vez, como a
urgência é contemporânea à propositura da ação, a petição inicial pode
perfeitamente limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do
pedido de tutela final (que, novamente, seria a confirmação, após cognição
exauriente, da própria tutela obtida liminarmente), com a exposição da lide, do
direito que se busca realizar e do perigo de dano (a falta de emprego para dar
uma situação de estabilidade ao nascituro). Acreditamos que em uma situação
de tal jaez, seria interessante para todos o cumprimento sem resistência à ordem
de reintegração, quando, mais uma vez, a decisão, ainda que sumária, tornar-
se-ia estável (art. 304, caput, do CPC/2015), sem a necessidade de
aprofundamento da cognição, com evidentes vantagens para todos os sujeitos
do processo.
Não temos pretensão de exaurir os exemplos, até pelo fato de que tal
tarefa seria inexequível, mas não custa lembrar que há margem para a sua
utilização em dissídios que envolvam o tratamento de saúde necessitado pelo
empregado com urgência (art. 114, I e VI, da CRFB), o exercício do direito de
greve que – realce-se - não raramente dá azo ao ajuizamento de ações
possessórias na Justiça do Trabalho25 (art. 114, II, da CRFB c/c a S.V 23 do
STF), em ações de representação sindical (art. 114, III, da CRFB), etc.
25Vide CESÁRIO, João Humberto. O direito constitucional fundamental de greve e a função
social da posse: um novo olhar sobre os interditos possessórios na Justiça do Trabalho brasileira.
Revista LTR, v. 72, p. 289-303, 2008.
Contudo, como bem ressalvam os professores Didier Jr., Sarno Braga e Rafael
Alexandria, “o prazo de resposta do réu não poderá começar a ser contado antes
da sua ciência inequívoca do aditamento da petição inicial do autor, para que se
garanta a ele, réu, o lapso temporal mínimo de quinze dias para resposta à
demanda do autor em sua inteireza”26.
Deve-se ter claro, todavia, que será o comportamento do réu que acabará
dando a diretriz para o que ocorrerá com o feito. Se ele recorrer da decisão
concessiva da tutela, ou mesmo contestar a ação aditada (como veremos), o
processo, a princípio sumário, prosseguirá normalmente, ordinarizando-se, por
assim dizer. Entretanto, se ele se mantiver inerte, a tutela, ainda que sumária,
estabilizar-se-á, e o processo será extinto sem exame do mérito (art. 304, § 1º,
do CPC/2015). A partir de agora, alguns problemas específicos devem ser
enfrentados em separado.
antecedente, o autor terá de indicar o valor da causa, que deverá levar em
consideração desde logo o pedido de tutela final.
O que ao nosso ver pareceria inviável, seria o autor cumular, nesta mesma
ação - onde ele espontaneamente buscou, sem que ninguém o obrigasse, um
procedimento de autonomização, com consequente potencial estabilizatório, de
uma tutela sumária, independentemente do aprofundamento da cognição -,
pedidos sem qualquer correspondência fática com a pretensão inicial.
Vale reproduzir na sustentação do nosso ponto de vista, a sempre
preciosa lição do professor Garcia Medina, para quem “a confirmação [da tutela
sumária] não pode implicar em que os pedidos apresentados na petição inicial e
na petição de aditamento sejam absolutamente idênticos. É imprescindível,
porém, que ambos estejam em sintonia e sejam no mesmo sentido”27.
É justamente esta restrição que, ao nosso sentir, inviabilizará, como regra,
a generalização da sumarização do procedimento satisfativo no Processo do
Trabalho, pois, neste último ramo processual, a cumulação objetiva de pedidos
é infinitamente mais intensa que no Processo Civil. Pensamos, de tal arte, que o
comum continuará a ser a interinalidade da pretensão antecipatória em ações já
definitivamente ajuizadas, com a necessidade, portanto, do exaurimento da
cognição para a transformação da tutela de sumária em definitiva.
missão de transpô-la para a processualística laboral. Cumpre indagar, afinal: a)
qual será o recurso a ser usado no Processo Civil?; b) qual será o recurso a ser
usado no Processo do Trabalho?; c) e se o réu não interpuser recurso, mas
contestar a ação, haverá estabilização?; d) quais são os pressupostos da
estabilização?; e) em havendo estabilização haverá formação de coisa julgada?
Vamos tentar responder a estas e outras dúvidas por partes.
Quanto ao recurso utilizável no Processo Civil, visando a não
estabilização da tutela, será o agravo de instrumento, no prazo de quinze dias (§
5º do art. 1.003, do CPC/2015), já que o artigo 1.015, I, do CPC/2015 diz caber
agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre
tutelas provisórias. No Processo do Trabalho, coerentes com o que dissemos
algures, o recurso será o ordinário, no prazo de oito dias, haja vista que
consideramos inadequado o contrabando do agravo de instrumento civil para a
processualística laboral.
Conforme já dissemos e agora repetimos, a par da imprecisão técnica do
artigo 895, I e II, da CLT, que diz caber recurso ordinário para a instância superior
apenas nas hipóteses de decisões definitivas ou terminativas das Varas e das
decisões definitivas ou terminativas dos Regionais em processos de sua
competência originária, jamais houve dúvida, mesmo ao tempo do CPC/1973,
que as decisões interlocutórias poderiam ser atacadas por tal recurso. A única
limitação, no caso, é que a hostilização haveria de ser veiculada protraidamente,
por força do disposto no artigo 893, § 1º, da CLT.
Ademais, não parece ser apropriada a inviabilidade da utilização de
recurso ordinário pela via autônoma antes de prolatada sentença. Tanto é
verdade que a súmula nº 214 do TST, embora não o diga expressamente, é
inequívoca ao consentir com a veiculação imediata e autônoma de recurso
ordinário, quando, por exemplo, o Juiz do Trabalho acolhe exceção de
incompetência territorial, com a remessa dos autos para Tribunal Regional
distinto daquele a que se vincula o juízo excepcionado (alínea ‘c’ da S. 214 do
TST). Temos aqui, certamente, mais uma exceção ao princípio da
irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias, que na nossa visão
acabará sendo albergada na prefalada súmula nº 214 do TST.
De outro tanto, um problema dos mais tormentosos, é de saber se na
omissão recursal do réu, mas vindo ele aos autos para contestar a ação, haverá
a estabilização. A resposta, ao que nos parece, é negativa. Cremos, assim, que
a palavra ‘recurso’, inserta na parte final da cabeça do artigo 304 do CPC/2015,
deverá ser interpretada com ampliação de sentido, para se compreendê-la como
qualquer iniciativa censória do réu hábil a demonstrar contrariedade com o
decidido. Trazemos nesta senda, entre outras que poderíamos citar (e que estão
indicadas na próxima nota de rodapé), a lição dos professores Marinoni, Arenhart
e Mitidiero:
28MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo
civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum. Vol. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 216. Vide ainda, no mesmo sentido, com pequenas variáveis, os seguintes autores: a)
BUENO, Cássio Scarpinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do
novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 233; b) DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paulo Sarno;
OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil. Vol. 2. 17 ed. rev., ampl. e
atual. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 608 e 609.
exauriência) do procedimento, com vistas à estabilização da tutela
antecipadamente alcançada29.
Tal fato será inequivocamente importante, aliás, até mesmo para o réu
sopesar a conveniência de hostilizar ou não o provimento antecipatório que
deverá suportar. É justamente por isso que os professores Didier Jr., Sarno
Braga e Rafael Alexandria dizem existir um outro pressuposto, tido por eles como
negativo, consistente em o autor não manifestar “a sua intenção de dar
prosseguimento ao processo após a obtenção da tutela antecipada”. Por
apreciável, transcrevemos o escólio em questão:
29É adequada, aqui, a transcrição da lição de NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC:
inovações, alterações, supressões comentadas. 2 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Método,
2015, p. 212: “Será inaplicável o art. 304 do novo CPC se o autor expressar sua vontade de que
pretende, além de concessão da tutela antecipada, pronunciamento fundado em cognição
exauriente capaz de gerar coisa julgada material. Contrariar a vontade do autor nesse sentido
seria negar o exercício pleno do seu direito de ação, em manifesta violação do princípio da
inafastabilidade da jurisdição, consagrado no art. 5º, XXXV, da CF. Conforme visto, tanto a
vontade do autor como do réu são capazes de, isoladamente, afastar a aplicação do art. 304 do
novo CPC. Ao autor basta manifestação expressa nesse sentido (ato positivo) e ao réu basta
deixar de se insurgir contra a decisão concessiva de tutela antecipada (ato omissivo). Se a
vontade unilateral das partes já é suficiente para afastar a estabilização da tutela antecipada,
com maior razão o acordo de vontade das partes, nos termos do art. 190 do novo CPC” [teríamos
aqui, dizemos agora nós, um ótimo exemplo de convenção de procedimento aceitável no
Processo do Trabalho].
expressamente declara a sua opção pelo benefício do art.
303 (nos termos do art. 305, § 5º, CPC), subentende-se
que ele estará satisfeito com a estabilização da tutela
antecipada, caso ela ocorra. Se, porém, desde a inicial, o
autor já manifesta a sua intenção de dar prosseguimento
ao processo, o réu ficará sabendo que a sua inércia não
dará ensejo à estabilização do art. 304. Não se pode
admitir que a opção pelo prosseguimento seja manifestada
na peça de aditamento da inicial (art. 303, § 1º, I, CPC).
Isso porque o prazo para aditamento – de 15 dias, no
mínimo – pode coincidir, ou mesmo superar, o prazo de
recurso [principalmente no Processo do Trabalho, no qual
ele será oito dias e não de quinze dias como no Processo
Civil]. Assim, se se admitisse manifestação do autor no
prazo para aditamento, isso poderia prejudicar o réu que,
confiando na possibilidade de estabilização, deixa de
recorrer.30
30DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito
processual civil. Vol. 2. 17 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 606 e 607. A
observação entre colchetes é nossa.
novel técnica processual de autonomização potencialmente estabilizável da
tutela satisfativa concedida em caráter antecedente. Todavia, é no mínimo
intrigante se pensar que uma decisão tomada não possa mais ser revista depois
de decorrido determinado prazo, sem que aí vejamos pelo menos um rastilho de
coisa julgada obtida travestidamente. O tema é novo, o debate ainda é incipiente,
e só o tempo será capaz de nos trazer respostas doutrinárias satisfatórias.
Vale pontuar, finalmente, que de acordo com o § 5º do artigo 304 do
CPC/2015 o direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, extingue-
se após 2 (dois) anos, contados da ciência da decisão que extinguiu o processo,
sendo tal prazo à toda evidência decadencial. Ultrapassado tal prazo, frise-se,
não haverá margem para se pensar na possibilidade de ajuizamento de ação
rescisória, vez que como visto a decisão sumária estabilizada, em que pese
todas as discussões que possamos travar, legalmente não transita em julgado31.
31Vide, no mesmo sentido, WAMBIER, Tereza Arruda Alvim; CONCEIÇÃO, Maria Lúcia Lins;
RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva; MELLO, Rogerio Licastro Torres de. Primeiros comentários
ao novo código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 513.
Nunca é demais relembrar que nos termos do artigo 187 do Código Civil,
comete um ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes. Pode-se se assentar, dito de outro modo, que se por uma
vertente é certo que o direito de defesa é fundamental, por outra não é menos
correto que ele deve ser exercitado dentro um contexto que o justifique
socialmente, pois, caso contrário, ele nada mais será do que o arremedo
maltrapilho do exercício de uma garantia constitucional.
Em uma situação como tal, com efeito, se o magistrado não estivesse
solerte para com o seu dever de prontamente repelir uma prática tão repugnante,
estaria a malferir, pela sua censurável omissão, as próprias colunas de
sustentação do Estado Democrático de Direito, ultrajando, como se não
bastasse, os princípios constitucionais da isonomia e da razoável duração do
processo, na medida em que estaria privilegiando injustificadamente o réu em
detrimento do autor e desprezando o direito deste último a um processo sem
dilações indevidas.
De tal arte, em todas aquelas ocasiões em que o requerido reiteradamente
ventilasse exceções suspensivas da marcha processual (artigo 799 da CLT)
infundadamente, apresentasse recursos desarrazoados, retivesse
indefinidamente os autos retirados em carga ou apresentasse teses defensivas
fantasiosas, estaria rendendo azo à antecipação dos efeitos da tutela
antecipatória de evidência ou sancionatória.
Dizia-se ainda, no regime anterior, que a concessão da tutela antecipada
se justificava naqueles casos em que os pleitos elencados, ou pelo menos parte
deles, se mostrassem incontroversos, como quando o réu não se desvencilhasse
do ônus da impugnação especificada dos fatos ou reconhecesse a procedência
do pedido. A base legal para tanto era o § 6º do artigo 273 do CPC/1973, quando
dizia que a tutela antecipada também podia ser concedida quando um ou mais
dos pleitos cumulados, ou parcela deles, se mostrasse incontroverso.
Já àquele tempo, havia quem criticasse esta última hipótese legal, vez
que aos olhos dos críticos mais sofisticados não estávamos no § 6º do artigo 273
do CPC/2015, a bem da verdade, diante de uma modalidade de antecipação dos
efeitos da tutela, mas sim de uma tutela definitiva (não provisória ou temporária)
da parcela incontroversa da demanda32. Tal ponto de vista, há de se enfatizar,
acabou sendo respaldado pelo CPC/2015, já que agora o seu artigo 356, I, trata
a incontrovérsia como causa não mais de antecipação de tutela, mas de
julgamento antecipado parcial do mérito. Esta é, portanto, a primeira grande
diferença entre o regime anterior e o vigente quanto às tutelas de evidência.
Demais disso, o artigo 311 do CPC/2015 detalha e amplia as hipóteses
que autorizam o magistrado a antecipar os efeitos meritórios da tutela de
evidência, sendo eles, para além do abuso do direito de defesa ou o manifesto
propósito protelatório da parte (inciso I), também as seguintes situações: a)
quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas
documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou
em súmula vinculante (inciso II); b) se tratar de pedido reipersecutório fundado
em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será
decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa
(inciso III); c) quando a petição inicial for instruída com prova documental
suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha
prova capaz de gerar dúvida razoável (inciso IV).
Há de se ficar claro, inclusive, que segundo o parágrafo único do artigo
311 do CPC/2015, nas hipóteses dos incisos II (alegações de fato que puderem
ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante) e III (pedido
reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito), o juiz poderá decidir liminarmente, sem sequer ouvir o réu
previamente, quando, assim, o contraditório será postecipado (art. 9º, II, do
CPC/2015).
Importam ainda ficar claras, antes do final do presente tópico, duas coisas.
A primeira delas é que a tutela de evidência será concedida independentemente
da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo
(art. 311, caput, do CPC/2015). Já a segunda é que ao passo que a tutela
provisória de urgência, seja cautelar ou satisfativa, pode ser concedida tanto em
caráter antecedente quanto incidental (parágrafo único do art. 294 do
CPC/2015), a tutela provisória de evidência, sempre satisfativa, somente pode
32 Vide, acerca do afirmado, MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de
processo civil: comentado artigo por artigo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 268.
ser concedida incidentalmente (entendimento que se extrai, por exclusão, da
dicção dos artigos 303 e 305 do CPC/2015).
8 BREVE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela inibitória da vida privada. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2000.
BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas
sumárias e de urgência (tentativa de sistematização). 2 ed. São Paulo:
Malheiros, 2001.
instrumento de cidadania: questões materiais e processuais (à luz da nova lei do
mandado de segurança). In NOCHI, Andrea Saint Pastous; VELLOSO, Gabriel
Napoleão; FAVA, Marcos Neves. (Org.). Trabalho escravo contemporâneo: o
desafio de superar a negação. 2 ed. São Paulo: LTr, 2011.
DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paulo Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de.
Curso de direito processual civil. Vol. 2. 17 ed. rev., ampl. e atual. Salvador: Jus
Podivm, 2015.
________; ________. Processo cautelar. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2008
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito processual civil moderno. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. II. 16 ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1996.