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I – Relatório
II – Fundamentação
2.1. A ACUSAÇÃO
“No dia 04 de Agosto de 2009, cerca das 15h30, o ora arguido, Militar da
Guarda Nacional Republicana, deslocou-se ao gabinete do 2º Sargento de
Infantaria B…, Comandante Interno do aludido Subdestacamento da
Guarda Nacional Republicana de Vila..., com o objectivo de solicitar
autorização de troca de serviço, a ocorrer nos dias 8 e 9 do mês de Agosto
de 2009, com o Cabo D….
O senhor 2º Sargento de Infantaria B…, Comandante Interno do aludido
Subdestacamento da Guarda Nacional Republicana de Vila..., não
autorizou tal troca de serviço.
Referindo que a troca de serviço levaria a que o Cabo D… tivesse que
trabalhar das 20h00 do dia 07 de Agosto de 2009 às 20h00 do dia 08 de
Agosto de 2009, sendo que o serviço a efectuar no dia 8 de Agosto
consistiria numa patrulha unipessoal, obrigando a um maior desgaste
pessoal por parte do Militar.
O ora arguido, dirigindo-se ao senhor Comandante Interino do Posto da
Guarda Nacional Republicana de Vila..., 2º Sargento B… e na presença
do Cabo R... C…, disse:“ não dá para trocar, então pró caralho” e de
seguida disse-lhe:” se participar de mim, depois logo falamos como
homens”.
O senhor Comandante Interino, 2º Sargento B…, ordenou-lhe que se
retirasse do seu gabinete, ao que o ora arguido retorquiu: ”guitas são
todos iguais, foda-se não valem nada, é tudo a mesma merda, se
participar de mim, você, para mim, é zero.”
O arguido agiu do modo acima descrito, bem sabendo que as expressões
que dirigia colocavam em causa a honra e a consideração que eram
devidas, enquanto pessoa ao seu superior hierárquico.
Com a conduta acima descrita, e no âmbito da mesma resolução
criminosa, o arguido, quis ainda, provocar medo e inquietação no seu
superior hierárquico.
Agiu o arguido de forma livre, voluntária e consciente, ciente que punha
em causa a autoridade, a hierarquia e a disciplinar Militar e que tal
conduta era proibida e punida por lei.” (fim de transcrição)
3. Apreciemos:
Para a primeira hipótese vale aqui, entre outros e por todos, o Acórdão
do Tribunal da Relação de Lisboa de 17 de Dezembro de 1997 (in
www.dgsi.pt) onde se expendeu em síntese que: “Integra a prática de um
crime de injúrias, qualificado em razão da qualidade profissional do
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crime de injúrias, qualificado em razão da qualidade profissional do
ofendido, subchefe da PSP, aquele que, ao dirigir-se-lhe, no exercício das
suas funções, diz "vai para o caralho".”
Deste modo, impõe-se concluir que a forma como o arguido, que é Cabo,
visou o seu Comandante Interino, um 2º Sargento, pode eventualmente
ser ético-socialmente deselegante mas não é passível de reprovação penal
militar.
As expressões dos autos são equívocas e menos próprias numa relação
hierárquica, mas estão dentro daquilo que vulgarmente se designa por
“linguagem de caserna”, tal como no desporto existe a de “balneário” em
que expressões consideradas ordinárias e desrespeitosas noutros
contextos, porque trocadas num âmbito restrito (dentro das instalações
da GNR) e inter pares (o arguido, apesar de Cabo não estava a falar com
um oficial, subalterno, superior ou general, mas com um 2º Sargento,
com quem tinha uma especial relação de proximidade e camaradagem) e
são sinal de mera virilidade verbal.
Como em outros meios, a linguagem castrense utilizada na caserna pelos
membros das Forças Armadas e afins, tem por vezes significado ou peso
específico diverso do mero coloquial. In casu, tratou-se de mero desabafo
entre amigos num quadro em que o arguido viu frustradas as suas
expectativas.
Um certo militarismo que enforma a mentalidade de alguns membros
das forças armadas e equiparadas, tende para vincar, com demasia ou
exclusivismo, os princípios da ordem, da autoridade formal, da
hierarquia, da obediência cega, da dedicação sem limites, da coragem, da
força e da destreza físicas, podendo levar a excessos. Excessos na
linguagem e na abertura de procedimentos disciplinares ou penais, como,
com o devido respeito, se nos afigura ter sucedido no contexto dos
presentes autos.
Destarte, por todo o exposto, entende-se ser a conduta do arguido não
subsumível à previsão do invocado crime, previsto e punível pelo artigo
89º, n.º 2, alínea b), do Código de Justiça Militar.
Daí que sem outras considerações se conclua que face aos elementos
constantes dos autos neste momento, não há indícios suficientes do
cometimento objectivo do crime de insubordinação militar por outras
ofensas, não havendo por essa razão qualquer possibilidade de ao
arguido vir a ser aplicada, em julgamento, uma pena ou uma medida de
segurança.
Assim, sendo, bem andou o Mmº Juiz ao não pronunciar o arguido A....
III – DECISÃO
Inserido a partir de
<http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/85e3b7ab708fb737802577dd00582b94?
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