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PermutΔç۞es

Phil Hine
CONTEÚDOS

PREFÁCIO 5
1. A MAGIA DA NECESSIDADE 7
2. DEUSES 17
3. SODOMIA COMO REALIZAÇÃO ESPIRITUAL 25
4. MEXENDO O CALDEIRÃO DO CAOS 31
LEITURA ADICIONAL 39
ON-LINE 39
Título Original: Permutations
Autor: Phil Hine (www.philhine.org.uk)
Fonte: Phil Hine (www.philhine.org.uk)
Tradução: G.T.O. — Grupo de Traduções Ocultas;
Tradutor: Leonardo M.

www.gtobr.org — Grupo de Traduções Ocultas


Agradecimentos:

Kathy Arden, Jo Crow, Paul McAndrew, Gordon the Toad, Ian Read, a Z-list, Doug
Grant, Tzimon Yliaster e a IOT USA.

Para os Xamãs Loucos

PERMUTAÇÕES
por Phil Hine 1997, versão 1.3
contato: a5e@ndirect.co.uk
ou BM COYOTE, Londres
WC1N 3XX, UK
PREFÁCIO

Permutações é uma coleção de quatro ensaios que sinto como se estivesse vomitando

diferentes perspectivas — uma ‘janela’, caso prefira assim — para forças & sentimentos

diversos que moldaram minha abordagem para o trabalho e conceitos mágicos. Os

leitores perceberão um forte element autobiográfico nestas páginas. Este é um estilo

deliberado, pois descobri que o ato de desvelar como a magia me afetou pessoalmente, é

uma chave para comunicar as idéias abstratas que muitas vezes se relacionam com os

aspectos ‘escondidos’ da magia — que muitas vezes são difíceis de carregar de um lado

para o outro em pedaços menores. Dizer simplesmente “isto é como isso-e-aquilo

devem ser feitos” e deixar por isso mesmo — não é uma abordagem que funcione para

mim. O poder mágico do de ‘ocultação’ é bem conhecido. O poder de reverlar-se,

verrugas e detalhes, é bem menos evidenciado.

Estes quatro ensaios refletem diferentes áreas de meu trabalho mágico que descobri, por

vários motivos serem, às vezes, problemáticos. Para mim, escrever é tanto um

aterramento como um exorcismo. Esta coleção não é tão ‘prática’ como os meus outros

livros são, mas mesmo assim, eu sinto que o leitor pode encontrar alguns pontos úteis

aqui, que cruzam todas as barreiras da atividade mágica.

Phil Hine, Fevereiro de 1997.

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MAGIA DA NECESSIDADE

Há uma diferença, embora sutil, entre o ‘fazer magia’ como parte de um programa de

desenvolvimento ou para testar uma idéia, um ritual e a magia que surge da — aquela

que jorra a partir do incidente. Ao longo dos anos, tenho visto uma grande diferença em

termos tanto de evento como de efeitos. Isto não é para dizer que um é de algum modo

‘melhor’ que o outro. Ritos construídos em uma idéia crua podem girar os celebrantes

em direções surpreendentes. No entanto, para o momento, eu quero concentrar na magia

da necessidade.

A necessidade pode ser o seu próprio ímpeto interno, ou ela pode surgir a partir das

circunstâncias em torno de você. O que sinto que seja importante é esta necessidade ‘te

inflame’ — que ela envolva você emocional e intelectualmente, de modo que você

‘tenha’ que fazer algo em relação a isso. Magia é muitas vezes o recurso final para a

ação quando todas as outras estradas estão fechadas ou provaram ser becos sem saída.

Quando a crise acena, muitas vezes não há tempo para sentar e planejar cuidadosamente

um ritual nítido, belo. Agir rapidamente, enquanto o momento está ardent, é mais

importante.

A Maldição da Salsicha

Alguns anos atrás aprendi uma grande lição na feitiçaria da necessidade ao observar um

adepto da arte exercer o ofício. Eu estava visitando a Alta Sacerdotisa de um coven de

bruxas locais. Enquanto olhava ociosamente o jornal noturno, ela entregou um relatório

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de um estuprador que rondava a região. Ela se levantou da cadeira, calou todos os que

estavam na sala com um olhar gelado, e, ao alcançar a mesa de jantar, limpou um

espaço nela simplesmente varrendo tudo para o chão com um forte estrondo. Ela

colocou uma fotografia idêntica do estuprador do jornal no centro da mesa, pegou uma

salsicha da geladeira, e, após furiosamente vasculhar em sua caixa de costura, começou

a metodicamente a perfurar agulhas na salsicha, murmurando furiosamente em voz

baixa sob sua respiração. A atmosfera na sala era elétrica. Após alguns minutes, ela saiu

da sala e levou a salsicha para o quintal. Ao retornar, ela sorriu gloriosamente para os

homens assustados na sala, e declarou “Eu acho que uma xícara de chá seria bom, não

é?” Ela não ofereceu explicação ou justificativa alguma para suas ações, e jamais fez

referência alguma a isso posteriormente. Uma semana depois, um estuprador foi

capturado, condenado e preso.

Foi somente anos mais tarde que eu comecei a estimar o poder desta mulher. Ela não

hesitava, nem se preocupava com a ética, a moralidade, ou se ela tinha ou não o ‘direito’

de agir desta forma. Ela não se incomodava com qualquer um dos elaborados

procedimentos do ritual mágico. Com seu olhar, e seu violento limpar de mesa, ela criou

uma atmosfera carregada que eu experimentei em ambientes mágicos mais formais.

Este é o tipo de coisa que eu estou tentando discutir. É difícil, eu acho, realizar isso no

abstrato, de modo que este discurso deverá ser, necessariamente, pontuado por relatos.

Não somente a magia que surge da necessidade é realmente útil (em termos de

resolução) in terms of resolution), ela é experiência altamente valioso por muitas outras

razões. Em primeiro lugar, realizar a magia da necessidade mostra a você que você é

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capaz de fazer quando a necessidade aparece diante de você. A necessidade também é

muito útil ao forçá-lo de volta aos seus limites pessoais — tanto em termos daquilo que

você pensa que sabe, do que você pode fazer, e, talvez, igualmente importante —

daquilo que a magia pode fazer.

Uma Visitação Noturna

Meus anos iniciais de prática mágica foram muito influenciados pelo entendimento

psicológico do que era magia como um todo. Estudar para um curso de psicologia e

explorar o simboliismo da qabalah de uma forma muito intelectual era o meu ponto de

partida. Uma das minhas primeiras experiências mágicas ‘reais’ afastou bastante — por

um instante — alguns dos limites que eu construí em minha cabeça em relação ao

trabalho mágico. Eu estava meditando no quadrado táttvico da Terra. Certa notie eu

acordei com uma sensação de esmagadora opressão. O quarto estava preenchido com

uma névoa vermelha. Parecia que alguém tinha jogado uma mala cheia de pedras na

cama. Eu não podia me mover. Estava apavorado. Não sabia o que estava acontecendo

ou o que fazer. Nada de ‘comum’ parecia funcionoar. Finalmente, eu visualizei o

pentagrama de banimento da terra, empurrando-o com força no espaço acima de mim.

Não foi difícil visualizar com olhos fechados, pois certamente eu não queria abrir os

meus olhos! Mas o pentagrama de banimento funcionou. Todas as sensações —

pressão, opressão, etc., subiram, e eu afundei num grato sono.

Esta experiência me deixou em estado de choque por alguns dias. O que eu sinto que é

importante aqui, não é tanto o que aconteceu, mas o que me mostrou claramente que

magia tem o hábito de surpreender você, justamente quando você acha que você tem ela

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‘classificada’. Eu estava pensando em magia somente em termos de psicologia. De

repente, eu tive uma experiência na qual eu não poderia encaixá-la nas minhas

categorias de ‘explicação’ — a experiência ‘moveu as traves’ do que eu pensava que era

magia.

Em conseqüência, esta e outras experiências me levaram a considerar como os trabalhos

de magia são colocados em livros. A menos que alguém seja afortunado o suficiente em

obter o conhecimento de outros magos (levei cinco anos para encontrar outros magos

‘experientes’) na fase inicial do seu desenvolvimento ou aprendizado, muito de nós, em

sua grande maioria, terá que aprender com os livros. É aí que mora o problema. Há

muita coisa que você pode colocar em um livro. Muito dos livros mágicos ‘para

iniciantes’ são menores do que ‘livros de receitas’ de feitiços, ou textos pesadamente

influenciados pela psicologia moderna. Alguns autores parecem estar dispostos a dar a

impressão de que magia é fácil, e que se você seguir ‘corretamente’ as prescrições deles,

você não terá qualquer experiência desagradável e adversa. Porém, descobri que

‘experiências desagradáveis’ é uma característica essencial do desenvolvimento mágico.

Certamente eu aprendi mais sobre magia (& a vida em geral) durante estes períodos,

quando as coisas se tornavam seriamente estranhas!

Isto certamente não é novidade para os magos experientes — o que eu estou tentando

fazer aqui é chegar naquela ‘face oculta’ da magia, algumas das estranhas coisas que

pertubam, que não tendem a ser escritas em livros e artigos.

Outro ponto sobre a magia da necessidade é que ela obriga você a pensar em seus pés,

em suas bases. Em tais momentos, acredito, você realmente é confrontado entre aquilo

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que você pensa que sabe, e aquilo que você realmente sabe. Novamente, isto é algo para

o qual os livros de ‘como fazer’ realmente não te preparam. E também, uma grande

quantidade de livros mágicos é ‘datados’ como sendo do fim do século vinte, quando se

trata da necessidade deste. Na Chave Menor de Salomão, por exemplo, há demônios que

são especializados em divinar o destino de reis, que é algo muito bom, mas você não

encontrará qualquer demônio cuja incubência estaja relacionada com a depuração de um

programa em COBOL ou encontrar as lentes de contatos perdidas. A miríade de livros

sobre cura através de cristais não são de grande ajuda quando o(a) seu/sua parceiro(a)

começa a recuperar memórias enterradas de abuso sexual cometidas por um parente.

É muito fácil entrar em um estado de espírito onde (inconscientemente, talvez) uma

divisão é feita entre a atividade mágica de alguém e a vida cotidiana. Poderíamos pensar

sobre invocar um deus para ‘inspiração mágica’, mas nunca poderíamos considerar a

invocação de um deus para ajudar a resolver problemas com o juros do cheque especial.

Da mesma forma, é muito comum para as pessoas se voltarem para as cartas de Tarot ou

para as Runas em busca de ajuda para resolver um dilema, mesmo quando as ‘respostas

do mundo real’ estão berrando diante delas. Relacionado a este último caso está o

problema de quão seriamente preparados estamos para assumir os reusltados de

divinações. É muito comum para as pessoas ignorar a mensagem da divinaçãoq eu elas

não querem ouvir, da mesma forma que podemos ignorar um ‘bom conselho’ de um

amigo bem-intencionado.

Um dos problemas de se trabalhar por necessidade que eu sinto, é que isso pode se

tornar viciante — particularmente se você tomar uma grande quantidade de interesse

nos problemas daqueles que estão em torno de você. Alguns curadores alternativos que

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conheci, de uma forma similar, pareciam estar ‘viciados’ em curar. Colocar muita

ênfase no trabalho em prol de outras pessoas pode fazer com que você ignore seus

próprios problemas. Além disso, a ego-identificação de ‘ser capaz de classificar as

pessoas’ pode resultar em uma cegueira para às sutilezas de uma situação. Como

observei em Condensed Chaos (New Falcon Publications, 1995), o excesso de

confiança em uma situação pode ser tão problemática quanto a falta de confiança. Um

caso em questão é o de uma cara que eu conhecia há pouco tempo e que uma vez me

abordou para ajudá-lo com uma ‘batalha mágica’ contra um ‘mago negro’ que tinha

seduzido a namorada dele utilizando ‘forças negras’. Ó, como alguns ocultistas tornam

o amor algo tão melodramático! Agora, se eu tivesse considerado o que ele disse, eu

teria simplesmente acionado um servidor do tipo busca-e-destrói e teria enviado ele.

Sendo um pouco mais prudente neste período, eu olhei para o assunto a partir de mim

mesmo e descobri outro ângulo sobre a história, que a senhorita em questão tinha se

cansado desta postura pomposa de ‘Mago Branco’, e terminou com ele pelo outro, que

era mais charmoso, & menos preocupado em salvar o universo e cruzar o abismo antes

do café da manhã. Naturalmente, porém, o ego do Mago Branco não podia aceitar algo

tão ‘normal’ e omum, então a coisa toda se tornou uma batalha mágica entre o Bem e o

Mal.

Se você vai intervir na situação de alguém, não posso salientar o suficiente o princípio

da prudência e da importânica de (a) coleta de informação — através do Tarot,

familiares para boatos sociais, e (b), verificar sua própria motivação para se envolver

antes de tudo. O que é importante aqui — é ajudar um amigo próximo, impulsionar sua

imagem como mago local (nada de errado com isso, desde que esteja ciente disso),

testando uma nova técnica mágica, ou o que? Técnicas de análise situacional

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(novamente discutido no final da edição do Condensed Chaos da New Falcon) podem

ser úteis aqui.

Um dos problemas mais sutis relacionado a intervenções em favor de outras é a questão

da ética. Nos primeiros dias após a vinda da magia do Caos no cenário mágico do Reino

Unido, havia muita preocupação em relação à impressão sobre a perceptível ‘falta de

ética’ implícita na declaração “Nada é verdadeiro, Tudo é permitido”. A crítica sugerida

era de que ‘magos do caos’ se tornariam monstros imorais capaz de qualquer coisa, sem

algum código de ética mágica definido a ser seguido. Para mim, uma das bases do

trabalho mágico é que o senso de crítica de algo cresce de dentro. Questões de ética

sempre serão mais complexas do que os frequentemente banais ‘códigos de prática’ que

as várias denominações pagãs e mágicas demonstram de vez em quando. Especialmente

insidiosa é a maneira que magos podem ‘submeter suas éticas’ para cobrir o

comportamento de outra forma, o que não seria aceitável. Um exemplo muito ridículo é

um qabalista de meu conhecimento que, aparentemente, convenceu sua esposa que,

devido a sua ‘religião’, ele não poderia recusar qualquer mulher que cantasse ele.

Assim, ele não podia evitar dormir com qualquer mulher que mostrasse mais do mero

interesse nele. Em um caráter ‘escuro’, amaldiçoar é muito definitivamente visto como

‘Magia Negra’, exceto, claro, quando você pode justificar suas razões por fazer isso,

como os wiccanos que uma vez tentaram me atacar magicamente por eu ter escrito

sobre ‘o Caminho da Mão Esquerda’ na revista Pagan News. Eu não estou sendo

melodramático aqui. Eu (ou melhor, meu parceiro) detectou o ataque enquanto ele

estava ocorrendo e nós combatemos com sucesso (este ocorrido, em si, foi um bom

exemplo de fazer magia da necessidade — respondendo à situação ‘ao vivo’), e algumas

semanas mais tarde, eu ouvi por boatos que um wiccano em Bradford (eu estava em

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Leeds nesta época) tinha comentado sobre o ‘envio de um Manitou’ para lidar comigo.

É, verdade.

Repelir um ataque mágico é, em si, um bom exemplo do tipo de magia da qual estou

discutindo. Agora é algo comum na cena mágica as pessoas dizerem que foram

‘amaldiçoadas’. Em alguns círculos, é quase uma qualificação de ‘status’ que, em algum

momento, alguém tenha sido magicamente atacado (geralmente por ‘magos negros’

anônimos). É muito mais raro encontrar pessoas que podem dizer, “Bem, alguém tentou

me prejudicar, mas eu consegui conter e detive’. Muitas técnicas de defesa mágica são

simplesmente ‘passivas’ no sentido de que elas te ajudam a se sentir melhor, mas elas

não ajudam quando é para ‘confirmar’ a você a realidade da situação. Uma vez eu

cometi o erro de emrpestar a um amigo o classic Auto-Defesa Psíquica de Dion Fortune,

com o resultado de que ele começou a interpreter cada evento possível (o piscar de

luzes, um poster qeu cai da parede) como evidências de um ‘ataque’. A próxima história

que vou contar não é somente um bom exemplo de resposta do ‘passar adiante’ a

‘intromissão mágica’, mas também um exemplo de séria estranheza!

Em 1984 eu me mudei para Nova York, a fim de treinar como um Terapeuta

Ocupacional. Eu pensei nisso como um period para ter um ‘descanso’ da magia e

estudar seriamente. As famosas últimas palavras! Não demorou muito para que eu

encontrasse uma mulher no mesmo curso que declarava ter um interesse em ‘bruxaria’.

Neste momento, eu estava em um coven wiccano estabelecido no Noroeste da

Inglaterra. Numa manhã, acordei e me achei muito deprimido — aquele tipo de

depressão “não-vale-mais-a-pena-se-importar-com-nada”. Fato era, eu não poderia

trabalhar — i.e. eu realmente não tinha nada relacionado com depressão —, mas eu

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sentia literalmente que minha energia era ‘drenada’. Naquela noite, eu estava deitado,

geralmente ignorando tudo, quando o telefone tocou. Era a Alta Sacerdotisa do coven.

“Eu tentei entrar em contato com você durante todo o dia”, ela disse “você não as bia

que está sob ataque mágico?” Quando admiti que não, que eu não sabia, ela disse “Bem,

você está, e aqui está o que você fará quanto a isso”. Ela me aconselhou a traçar um

círculo ao redor da cama, e, ao invés de ir dormir, ‘pairar’ em um leve transe à beira do

sono, e olhar para qualquer ‘coisa’ que surgir. Então, um pouco confuso, eu segue este

conselho. E veja só, eu vi esta ‘coisa’ como um cruzamento entre um morcego e um

gato, materializado no canto da minha cama. Seguindo o conselho da sacerdotisa, eu

tentei focar na criatura, e ter uma noção de ‘quem’ estava por trás disso. O que consegui

foi uma obscura imagem da ‘bruxaria’ da mulher em meu curso de formação. Agora

Kathy (a Alta Sacerdotisa) teve quase que me bater com o sábio conselho de que você

deve tomar qualquer experiência psíquica que envolva outras pessoas, com uma pitada

de sal — a mesmo, ou seja, que você possa ter uma confirmação por parte destas

pessoas de que elas estavam fazendo algo que elas possam ser responsáveis pela

experiência delas. Então, no dia seguinte, eu peguei o touro pelos chifres e confrontei a

bruxa sobre a minha experiência. “Eu percebi o seu familiar ontem à noite. Se você

enviar ele novamente, eu irei ‘matar’ ele, e isso irá te machucar, então eu aconselho a

você não fazer isso novamente”.

“Ó” disse a bruxa, rindo, “Eu não achava que você era avançado o suficiente para

identificá-lo”. Tudo foi muito estranho, mas o que eu realmente achei esquisito foi que

Kathy de alguma forma sabia o que estava acontecendo, mesmo a uma distância de mais

de cem milhas!

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O aspect final da ‘magia da necessidade’ com o qual quero lidar é a crise pessoal. Há

alguns anos atrás (1995) cheguei a um ‘ponto crítico’ em meu rumo mágico, por assim

dizer. Eu não exatamente o que estava acontecendo, mas eu sabia que eu não estava

feliz em minha situação atual. O estresse de tentar resolver o problema foi me torcendo

até se tornar algo podre, estragado. A situação era pelos os sentimentos pessoais,

organizacionais e relacionados aos negócios que eu sentia que seriam difíceis de fazer

uma ‘ruptura limpa’. Tudo isso atingiu o pico numa noite no Seminário. Sentindo-me

adoecido e retorcido por dentro, eu atravessei a sede local e encontrei uma árvore bem

longe do prédio principal, onde uma festa animada estava acontecendo. Sentado, eu

comecei um puja improvisado e invoquei ‘Pasupati’, a deidade tântrica que é um

pastor, cuja uma das funções é remover ‘aquilo que amarra’. Eu nunca havia trabalhado

com este deus antes, mas a intensidade emocional (nascida da esmagadora necessidade)

me permitiu alcançar o estado apropriado de bhakti, e fiquei chocado pela visão de

Pasupati, brilhando com uma luz branca, olhando para mim. Em restrospecto, foi a

intensidade cadente deste momento que me permitiu ‘livrar’ das amarras que eu sentia

me prender. O efeito não foi imediato, claro, mas que, para mim, marcou o ponto de

mudança.

Este tipo de experiência é semelhante ao ciclo iniciatório — o ‘ponto zero’ onde você

não pode afundar mais, e assim, atingir uma medida de calma resolução. Um

comentário feito por Lionel Snell vem à mente, que os momentos mais escuros da

depressão muitas vezes pressagiam as alturas do futuro vôo mágico. Nós tendemos a

aprender a sabedoria disso através da experiência difícil, mas, novamente, é algo que

tende a ser omitido em textos mágicos.

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Você não pode definir prescrições de como lidar com este tipo de coisa. Depois, isso

será diferente para cada pessoa, mas eu acho que a confiança de outro mago é altamente

valiosa — o espectro sempre presente dos cães loucos da maioria de nós vez ou outra,

por isso a medida de entendimento de um colega é muitas vezes muito útil. Este tipo de

situação é uma dos argumentos mais fortes para ter algum tipo de contato social com

outros magos, apenas para falar através de sentimentos & situações que alguém ache

difícil. Há magia suficiente para se alcançar outra pessoa, e sentir o seu calor e apoio de

fluir de volta para você.

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DEUSES

“Como partes íntimas dos deuses que somos, eles brincam conosco por esporte.”

Víbora Negra II

Basicamente, eu tenho duas formas de ‘trabalhar’ com deusas & deuses. Eu vou até

eles, ou eles vêm até mim. Soa pretensioso, não é mesom? A primeira ‘forma’ é fácil de

lidar. Há algo que você precisa, e então você abre um livro de mitologia, descobre a

entidade que parece caber na conta, e controi sua invocação ou retiro em torno dela.

Alternativamente, pode-se sentir ‘atraído’ a um deus ou desa, sem uma razão muito

específica. Isto é uma abordagem padrão mágico-ocidental para trabalhar com

entidades. Você pode, por exemplo, decidir trabalhar na invocação do Deus Marte a fim

de ganhar confidência, ou aumentar sua proeza ‘marcial’. Ou, você pode invocar Othinn

a fim de que parte da astúcia dele possa ser passada em você, ou Freyja, para que ela

possa tocar com o multiverso para ajudá-lo na obtenção de volta por cima. Este tipo de

abordagem é fácil de ser cortada em porções digeríveis. O que engrossa é aquilo que

pedimos para que os deuses façam por nós. E isso, por si só, às vezes pode ser algo

desonesto. Para começar, isto levanta a questão de saber se acreditar que deuses e

deusas podem ter suas próprias ordens de organização — os seus próprios pontos de

vistas sobre o que fazemos ao solicitá-los que façam algo por nós, ou simplesmente

considerá-los como exagerados ‘servos’ de nossas poderosas vontandes mágicas? Será

que simplesmente ‘usamos’ os deuses, ou formamos ‘relacionamentos’ com eles?

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A forma em se molda estes problemas pode muito bem depender do ‘estilo’ da mágicka

de alguém. O pessoal da Nova Era e os Magistas do Caos ‘hard-core’ podem encontrar

uma posição comum a over que os Desues são somente ‘máscaras’ de nossos vários eus,

momentaneamente elevados. Algum seguidor da Wicca pode dizer que, certamente, os

deuses são ‘reais’, e descobrir que a verdadeira questão de sua ‘realidade’ seja um tanto

peculiar.

É fácil manter tais questões simples, enquanto você só encontra os deuses nos

‘formalizados’ ambientes ou nos rituais, sejam eles sabás ou uma cerimônia. Mas o que

acontece quando os deuses se intrometem, sem serem convidados e de forma inesperada

em nossas vidas?

Normalmente, neste tipo de situação, há muita invocação dos arquétipos de Jung e o

insconsciente coletivo a fim de ‘explicar’ como alguém repentinamente faz um contato

com uma deidade que eles não possuem conhecimento, ou interesse. Em alguns

círculos, tal evento é visto como ‘evidência’ de um chamado. Em certa medida, este

pode ser o caso. Conheço pessoas que, após uma inesperado ‘encontro’ com uma

deidade em particular, declararam-se Sumo Sacerdotes de Ísis ou Dagon e partem para

pelo caminho de promulgar os mistérios e revelações que foram reveladas a eles. Tudo

isso é bom e satisfatório, embora muitas vezes exista uma tendência para tais indivíduos

reivindicarem e exigir ‘status alto’ de todos nós, meros mortais, que não são tão

afortunados.

Minhas próprias experiências de Deusas & Deuses apenas ‘se revelando’ (geralmente

em sonhos) têm sido raro, e muitas vezes confuse, particularmente se minha

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‘consciência’ de trabalho mágico está em uma direção totalmente diferente. Lembro-me

de uma conversa com amigos, um tanto confuse, sobre a visitação intense e assustadora

da Morrigan, que surgiu durante uma acid-trip ou uma experiência com drogas

sintéticas (No momento eu estava assistindo “The Blues Brothers”), e cujo tiro de

despedida foi “da próxima vez eu retirarei vossas bolas fora”. O consenso era mais ou

menos “este é um sinal para parar de mexer com coisas com tentáculos” e, ainda, que eu

deveria ingressar nos ‘Mistérios’ celtas. Agora, nada poderia estar além da minha

mente. Além de gostar de algumas histórias celtas, e um desejo vago da moda atual para

as coisas celtas que eventualmente pode se expandir para a cena gay e se tornar um

estilo de moda (‘guerreiros’ musculosos com cabelos polidos, pintura, torques e tangas

salientes — ‘aham’), eu não tinha um interesse particular na mágicka celta. E a breve

visita da Morrigan não tinha mudado isso. Na verdade, eu tinha um forte sentiment de

‘estar me colocando no caminho correto’ não era o propósito da visita dela. Não. Ela

apenas apareceu subitamente, fez algo, e caiu fora novamente. Esta, e outras

experiências com deidades de tradições com as quais eu não tenho interesse, levaram-

me a considerar a visão de que estes deuses são ‘reais’ (mais ‘reais’ do que algumas

pessoas) e, ao tentar explicar as ações deles em relação a nós em termos de psicologia

ou algo semelhante, isto na verdade desvaloriza a experiência. Consequentemente, eu

tento tratar os deuses com respeito.

Respeito é algo com o qual devemos ter cuidado. Há uma tendência inerente dos pagãos

modernos a serem terrivelmente ‘respeitosos’ com seus deuses, de uma forma que

lembra um pouco algo remanescente do Cristianismo. Afinal, é difícil imaginar cristãos

brincando a respeito de Jeová da mesma forma que os povos nórdicos contam histórias

divertidas sobre Loki passando por cima de Thor. A idéia de que um Deus ou Deusa é

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‘sagrado’ e que ao mesmo tempo podemos rir dos feitos deles é quase um tabu em

alguns círculos pagãos modernos. Pessoalmente, eu sempre fui interessado em deuses

que gostam de uma boa risada — mesmo se, às vezes, isto seja às nossas custas. No

entanto, os mitos dos deuses ressoam com o riso de seus antigos adoradores. É difícil

não rir com o pensamento de Thor sentado em um vestido, fervendo enquanto Loki

exaltava as virtudes da ‘noiva’ para o noivo Gigante.

Como eu disse, deuses gostam de uma boa risada. Eu estive presente em sabás wiccanos

onde a deusa invocada não tinha ‘agido conforme as regras’ e entrou no vaso de

oferecimento da Alta Sacerdotisa. Não. Ela estava se manifestando a partir de um

noviço que estava no canto, e foi interessante ver quantos dos presents simpatizavam

com isso. Da mesma f orma, eu vi invocações da magia do caos onde as limitações do

lema ‘finja isso até você conseguir fazer isso’ se tornaram claramente dolorosas para

todos os presentes. E, novamente, houve rituais onde a sensação da ‘presença’ é tão

poderoso, tão avassalador, que eu me entrego em agitos, em tremores, em lágrimas que

escorrem em meu rosto em reverência. Deuses são impressionantes, deuses são terríveis.

Talvez a face ‘oculta’ de se trabalhar com Deuses é que nós permitimos que eles, ou

melhor, os convidamos, a agitar nossas almas. Ao alcançar um deus ou deusa, não

importa a quantidade de mitologia que ingerimos, nós nunca sabemos bem o que

acontecerá. Devemos mesmo contar com os deuses para conformar nossas expectativas?

Alguns anos atrás, realizei um ritual para Eris com meu parceiro mágico. Tinhamos

planejado encerrar o ritual com ‘o grande rito’, por assim dizer. Com as invocações

finalizadas, estendi a minha mão para a ‘minha’ sacerdotisa para conduzí-la para a

cama, mas Eris me espetou com um olhar tão gelado que minha ‘determinação’

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murchou imediatamente e o rito chegou a um fim um pouco diferente. Minha noção

dominante do que constite, para mim, um rito de possessão ‘efetiva’ é quando eu

começo a me preocupar se a deidade que trazemos entre nós realmente partirá quando

pedirmos a elas. Como cães de grande porte, enxame de abelhas e gorillas, os deuses

nos obrigam a andar cuidadosamente em torno deles.

O problema do ‘Concubinato Divino’ é algo também um pouco espinhoso. A idéia de

mortais tendo lances sexuais com deuses é tão presente na mitologia e admitada, como

em diferentes graus da mágicka contemporânea & no paganismo. Porém, novamente, é

cercado com o que são, em alguns casos, limitações inconscientes. A idéia do homem e

da mulher se tornando dues e deusa e tendo um elo sagrado é mais ou menos aceita por

todos. Mas a sugestão de que os homens podem ‘assumir’ deusas, e mulheres se

tornarem deuses, ainda é uma heresia em alguns círculos, e ainda mais a idéia de que

dois deuses, ou duas deusas possam querer chegar lá. A ímpia questão de se “Othinn

tomou na bunda” em uma palestra sobre a Tradição do Norte (que não me seja

perguntado!) foi recebida com grande horror por alguns membros da platéia. Existe uma

tendência de nós, mortais, projetarmos nossos próprios (e também, claro, nossos

próprios desejos) sobre Deusas & Deuses. Uma vez eu ouvi uma conversa sobre deuses

‘ativos’ e ‘passivos’, que basicamente chegou ao ponto de que é permitido a Pã ser um

‘ativo’, mas ele nunca deveria ser invocado se você estiver ‘fingindo ser passivo’. Uma

visão que diz muito acerca de atitudes à expressão sexual. Acho interessante que na

Bengala moderna, região nordeste da Ásia meridional, a imagem de Kali colocando sua

língua para for a é considerada como um sinal de sua expressão, sua ‘vergonha’ sobre

seu ‘comportamento inadequado’ para Shiva (ou seja, insistir em exercer o papel de

ativa na relação). Agora, eu acho que estou certo em afirmar que alguns poucos devotos

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ocidentais de Kali aceitariam esta visão deserotizada dela. Não importa o quanto

tentamos e re-criamos os ‘antigos’ ritos de adoração e invocação, ainda estamos nos

relacionado aos deuses a partir de uma perspectiva ocidental do século XX. (Eu

certamente não tentaria desvalorizar Kali — ela viria e chutaria minha cabeça, pra

começar!) Ainda há uma curiosa dicotomia em ação. Por outro lado, podemos ignorar a

adoração contemporânea de uma deusa, embora possamos nos sentir ligeiramente

desconfortáveis com a idéia de que Jacinto e Apolo poderiam trocar de lugar ou que

Astarte poderia ocasionalmente ser saciada de uma forma um pouco mais áspera. Você

deixaria os Deuses evoluírem ou acompanharem o tempo? Nós sempre consideramos

que Pã pode não se sentir como um caralho só por que queremos? (Há sempre uma

primeira vez …).

Ao longo dos anos pensei melhor par aver que se você se envolver com os deuses, é

uma boa idéia, então, dar a eles o seu melhor em termos de capacidade. Por que um

deus deveria aparecer quando você chamar por não ter se preocupado em limpar o

tapete, se tornar apresentável, ou mesmo aprender uma invocação adequada? E por que

eles deveriam se condescender em se colocar em uma aparição, como eles se sentirão se

metade das pessoas presentes reagirem, como um colega certa vez definiu, como “se

eles estivessem sendo abordados por um lunático, enquanto espera um ônibus” —

nervosamente se esquivando do ‘cavalo’. Rituais de possessão são um espetáculo — dê

o seu melhor e os deuses não só não aparecerão novamente, mas falarão tudo de você

aos seus amigos. Isto não significa, necessariamente, seguir um roteiro, mas que aquilo

que você faz, é feito genuinamente, do coração. Essas coisas, acredito, são um longo

caminho com os Deuses.

19
Tanto em Prime Chaos & Condensed Chaos [N.T.: ambos são livros do autor], dei

espaço para o problema de como nos apegamos a determinados deuses & deusas, como

eles tendem a refletir e reforçar alguns aspectos de nossa personalidade. Da mesma

forma, é interessante ver como os preconceitos se formam em torno de determinados

deuses. Jeová e Satã são provavelmente bons exemplos de dois deuses que muitas

pessoas nunca considerariam com quem entrar em um ‘relacionamento’, embora eu

tenha aprendido com ambos. Os meus próprios preconceitos sobre quais deuses eu era

‘atraído’ foi colocado em foco precisamente em 1995. Fizemos um exercício em grupo

onde todos discutiam como percebemos o outro e, em seguida, o grupo selecionava um

dues ou deusa para cada pessoa trabalhar por alguns meses. A mim foi dado Thor.

Fiquei um pouco desanimado com isso, por ter mais ou menos ganhado a impressão que

Thor era um tipo de dues caipira beberrão, & lutador — algo com o qual eu não estava

familiarizado, afinal. Para minha surpresa, eu aprendi muito sobre Thor ao longo do seis

meses ou mais, e descobri que havia muito mais sobre ele do que eu imaginava, e que

eu estava ganhando de Thor de maneiras das quais eu não tinha percebido antes. Ok, eu

nunca me senti com Thor da mesma forma que me sentia em relação à Kali ou Ísis, no

entanto, foi uma experiência valiosa. Deuses são cheios de surpresas.

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21
3

SODOMIA COMO REALIZAÇÃO ESPIRITUAL

Lembro muito bem a primeira vez que fui fodido. Exausto e relaxado após uma tarde

inteira de sexo, eu deitei na cama do meu namorado e pronunciei aquelas fatídicas

palavras “faça o que quiser comigo”. Com o canto do meu olho, eu o vi pegar uma

garrafa de vidro na forma de um unicórnio, preenchida com um líquido amarelado (óleo

de amêndoa doce), e eu sabia o que estava prestes a acontecer. Eu não tinha medo,

somente uma profunda sensação de relaxamento. Não doeu, mas no momento da

penetração, um eu morria e outro renascia. Uma ‘iniciação’, certamente, e que me deu

insights que agora tentarei reunir em um artigo coerente.

Quais sentimentos se agitam dentro de mim enquanto estou sendo fodido? Duas

palavras, talvez, descrevam-os melhor — abandon e possessão. Ao ser fodido, eu estava

abandonando minhas defesas do ego, abrindo-me para um nível mais profundo para

outra pessoa, e sendo capaz de deixar lado as ‘máscaras’ socialmente moldadas que eu

coloco para lidar com o mundo. Eu me abandono ao prazer total, e ao prazer do meu

amante. Eu sou colocado de um lado pra outro, pra frente e pra trás, entre os limites do

êxtase e da agonia, até que eu esteja gemendo e chorando incontrolavelmente; suave

fogo líquido em minha barriga e uma feroz sensação de formigamento que parece mais

perceptível nas pontas dos meus dedos. Até o momento, eu não tinha tido um orgasmo

apenas por ser fodido, entretanto, ejaculação e orgasm são duas experiências diferentes

para em grande parte do tempo, e ejaculação peniana parece insignificante, em

comparação com as sensações que ameaçam, ao que parece, dilacerar meu corpo em

pedaços quando um amante está dentro de mim. Um orgasmo de um amante dentro de

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mim traz uma sensação de paz profunda e satisfação. Eu sinto como se eu tivesse sido

revitalizado, e posso ir ao mundo com um brilho interno. Lamento profundamente,

nestes tempos de conscientes-da-AIDS, que eu não possa receber dentro de mim o

sêmen de um amante. No entanto, é como se ao me abandonar a outro alguém, reafirmo

o meu senso de indivíduo.

No mesmo momento em que eu me abandono, eu também estou em um estado de

possessão. É mais difícil escrever sobre isso, mas isso é algo que está ligado, sinto, com

um equívoco comum sobre a relação — o conceito de ‘ativo’ e ‘passivo’. Pessoalmente,

eu prefiro as palavras ‘doador’ e ‘recebedor’. Nossa condição patriarchal, miserável,

deu origem à concepção de que ‘ativo’ = masculino e ‘passivo’ = feminino. Eu tenho

cada vez mais rejeitado este tipo de pensamento. Apenas porque uma pessoa (masculina

ou feminina) tem o pênis de um amante em seu corpo, não significa necessariamente

que ela seja automaticamente ‘passiva’. Isto é claramente ilustrado nos ícones tântricos

de Shiva montado por Kali. O condicionamento social é forte o suficiente para fazer

com que alguns homens gay achem que tomar no cu é de alguma forma menos

‘masculino’ por que se entregar ao prazer não é algo apropriado para o comportamento

‘masculino’. Por que não? Pessoalmente, sinto que ser fodido é uma celebração da

minha masculinidade. Quase nunca sinto que eu cedi o meu poder pessoal ao outro (a

menos, claro, se há um encenação de ‘entrega’, como um jogo sexual).

Muitas vezes eu sinto uma sensação de poder ‘sobre’ o amante que me fode. O prazer e

ejaculação dele reafirmam meu próprio poder interno. Em algum lugar em seus diários

mágicos, Aleister Crowley disse algo no sentido de que ele gostava de pensar que

“quando o homem me fode, é porque eu sou belo”. Os registros exaustivos da opera

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sexual de Crowley (como Os trabalhos de Paris ou The Paris Working) mostram que ele

preferia mais ser o parceiro recebedor (com o perdão do trocadilho) quando se tratava

de magia sexual homossexual. No entanto, a importância de seus parceiros mágicko-

sexuais como Victor Neuburg tende a ser ignorada por aqueles que herdaram a filosofia

mágica dele. Alguma idéia do motivo?

A intensidade desses sentimentos — de abandono ao prazer e possessão pelo outro, e na

mesma instância, de ser possuído, eu encontrei em outro context; de que as tonalidades

do transe que variam desde a ofuscação de um espíritop sobre minha consciência, até a

possessão plena por um espírito durante um ritual e dança. A possessão-transe é

considerada duvidosa em relação à ocultura ocidental, assim como permitir que o pau de

outro homem esteja dentro de si é um anátema para muitos homens. De muitas

maneiras, permitir que minha psique seja penetrada por um espírito (Deusa, Deus, ou

qualquer outra coisa) desperta as mesmas sensações, como se fosse fisicamente fodido.

Parece que a chave é estar consciente ou decidido pela deslocação do ego ao outro — de

oferecer meu corpo como veículo para a transmissão de energia. Crowley deu a

entender isso em seu ensaio sobre mágicka devocional (Bhakti Yoga), Liber Astarte

(Magick, pág. 460-471). O objetivo final em Bhakti é ser associado, ingressado pelo o

espírito com que se trabalha. Durante um Beltain, eu desenhei a Deusa Eris na minha

parte superior e Pã na parte inferior — eles se encontraram em algum lugar próximo do

meio e eu perdi a consciência no clímax deles.

Jean Genet sugere que a relação homosexual ‘obriga’ os homens a descobrir elementos

‘femininos’ dentro da psique, mas que não é necessariamente “o mais fraco ou mais

jovem, ou o mais dos dois, que sucede melhor; mas o mais experiente, que pode ser o

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homem mais forte ou mais velho” (Querelle of Brest). Há um elemento de verdade

nisto, mas é igualmente verdadeiro que ambos os parceiros podem desfrutar de algo dos

aspectos femininos da psique ao mesmo tempo ou em momentos diferentes, ao permitir

o afrouxar dos freios. Aqui eu poderia muito bem discutir o conceito mágico de

‘polaridade’, que em sua forma mais simplista é a tão citada idéia do Deus e da Deusa

dentro do self. O problema da ‘polaridade’ é quando a divindade está com o

condicionamento e o que concebido como sendo qualidades ‘masculinas’ e ‘femininas’.

E então nos é dito repetidamente que o fogo é masculino e a água é feminina; que a

capacidade de demonstrar emoções e ser intuitivo é feminino e que a análise intelectual

é masculino. Quem disse? As críticas feministas do condicionamento deixam claro que

somente conhecemos o que é masculinidade e feminilidade, porque estes foram

definidos de maneiras específicas. Trabalhar além destas limitações é certamente uma

tarefa primária no processo de desenvolvimento. Portanto, muito do que se passa pelas

‘leis ocultas’ é apenas uma justificativa ‘espiritualizada’ do condionamento social e

preconceito. Para homens gay, a polaridade não precisa ser tão simplista quanto um dos

parceiros assumir um papel feminino — você pode reconhecer o feminino e ainda dar o

seu pênis para outro homem. Você pode celebrar os elementos masculinos da psique e

ainda ter o pau de outro homem dnetro de si. Deusas e Deuses não estão sujeitos às

mesmas restrições que os seres humanos — afinal, qual seria a questão se eles fossem?

A imposição de nossos próprios estreitos limites sobre eles é falhar no exercício total de

invocá-los. Eu invoco sobre mim para ir além de minhas limitações atuais — para me

unir momentaneamente com algo maior, ou fora do meu ego. Às vezes, meu amante se

torna um Deus, ou uma Deusa para mim — ou isso é muito estranho para você?

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Um dos primeiros bloqueio-condicionamentos com o qual tive que lidar era uma

afirmação errônea de um ponto de vista tântrico, de que o sexo entre homens não possui

valor. No entanto, na medida em que me tornava mais confortável com meus

sentimentos e desejos sexuais com homens, eu logo abandonei esta noção. Por

experiência, posso dizer que eu tive experiências tântricas igualmente fortes com

homens, assim como tive anteriormente com mulheres. Sensações como ‘Onda-de-

êxtase’; vendo meu amante banhjado em luz dourado; o orgasmo do corpototal e o

aumento da sensibilidade à atividade kundalini podem ser tão possíveis em uma

parceria homossexual como é em uma heteressexual. Sexo anal é uma forma muito

efetiva de estimulação do muladhara chakra, apesar do que é dito em alguns manuais

de magia sexual. Pessoalmente, eu diria que minhas experiências sexuais com outros

homens que deram origem às experiências descritas em Tantric Magick foram ainda

mais ponderosas devido ao elemento de cartase — ser capaz de realizar desejos que têm

sido reprimidos é, em geral, uma poderosa fonte de energia, que pode ser magicamente

direcionada, obviamente.

Trabalhos modernos sobre magia sexual (pós-Crowley) parecem tratar a

homossexualidade de duas formas. Há tanto uma advertência de que seja algo — ela

bloqueia seus chakras, ‘reverte’ a kundalini ou ‘cria um vórtice astral negro’, ou a visão

mais positiva de que o gênero dos parceiros não importa, e que a ‘energia’ é a mesma.

Obviamente eu prefiro a última posição, embora sinta que as coisas não sejam assim tão

simples. Os escritores que aderem a esta última visão tendem a salientar que a magia

sexual somente funciona corretamente dentro de uma relação estável, o que é verdade

até certo ponto, mas nitidamente exclui todas as facetas da cultura sexual gay, que a

correta sociedade acha tão — sexo anônimo; Sadomasoquismo, e particularmente sexo

26
grupal. Pelo o menos no Reino Unido, parece haver alguns indivíduos ou grupos que

estão tentanto escrever de forma inteligente (ou mais importante, sensivelmente) sobre

as possibilidades do Tantra relacionado ao Gay, e o único grupo que fornce suportee

abordagens mágicas específicas voltadas especialmente para os homens gay é a rede

internacional Voudou. Esperamos que, conforme a questão da espiritualidade se eleva

em seu perfil dentro da comunidade gay em geral, e mais ocultistas gay se declarando,

esta situação mudará.

Então, para concluir, atrevo-me a dizer que ser fodido é, para mim, uma experiência

intensivamente sagrada; que a espiritualidade se coloca em celebração do prazer ao

invés da negação do corpo. Dar minha pica a outro homem obviamente também é

prazeroso, mas de uma condição diferente, e as minhas reflexões sobre isto terão que

esperar por outro momento.

* Originalmente publicado na Chaos International #11.

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4

MEXENDO O CALDEIRÃO DO CAOS

A cultura do Caos carece de uma visão global de progressão em um futuro

compartilhado. O progresso civilizado está funcionando a todo vapor, enquanto o

pluralismo & a divergência torcem a paisagem contemporânea em uma superfície

fractal fervilhando com novas possibilidades. Fragmentos do passado & presente

rearranjados pelas mãos cegas dos novos deuses — moda, estilo, entretenimento;

roubando o passado para suportar um agora imediato. Esta é a vertiginosa dança de

MAYA. Tudo é Permitido, pois Nada é Verdadeiro. Pense sobre isso por um momento.

Sem Direção para Casa

Críticos da Magia do Caos têm apontado que a Magia do Caos não possui qualquer

objetivo definido para se empenhar. Diferente de outras filosofias mágicas, que giram

em torno de ‘Novos Aeons’, sonhos futuros, ou ainda se agarram às estruturas cripto-

transcendentalistas, o Caos não possuem, pelo o menos na superfície, qualquer objetivo

geral. Outras filosofias mágicas possuem um objetivo perceptível; seja uma progressão

‘espiritual’ ou um ideal humanístico para estimular o indivíduo adiante. Resta apenas o

constante afiar da técnica & habilidade, a recreação e recuperação dos novos

paradigmas, o teste ‘empírico’ de novas idéias, e qualquer pauta oculta que cada

praticante do Caos possa escolher defender.

Pode-se argumentar que, depois de ter despejado o conceito de futuro geral, estamos

livre para sonhar e projetar qualquer número de futuros? Daí o Pandemonaeon, um

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future do Caos, que em grande parte, já; sendo o problema, claro, que nos faltam os

sistemas cognitivos necessários para fazer a melhor adaptação de tal. Esta idéia em si,

joga toda a questão de uma ‘direção’ para a Magia do Caos em um contraste maior; as

formas pelas quais podemos lançar projeções do futuro são expressas em termos de

conhecimento presente, pontos de vistas presentes, e os padrões através dos quais

estruturamos a informação.

Na tentative de separar a magia contemporânea das armadilhas da religiosidade ou

transcendentalism, defensores da Corrente do Caos assumiram uma posição bastante

linha-dura sobre o assunto do Misticismo. Basicamente, eles não possuem nada disso.

Assim, embora seja admissível aplaudir a prática mágicka de Crowley, uma linha-dura

caoista ‘carrolliana’ é provavelmente deplorar o seu escrito mágico.

Gnose

Essa peculiar experiência de consciência conhecida como Gnose é a chave para todas as

feitiçarias práticas e mágickas. Uma boa dose de prática gira em torno de desenvolver a

habilidade de entrar em gnose, e talvez, em alguns casos, reconhecer a gnose. Gnose é

geralmente entendidade como sendo um momento de ‘pico’ de qualquer exercício

indultor ao transe, sobre o qual o desejo pode ser materializado com sucesso (i.e., a

‘não-mente’). Porém, eu question, a gnose é meramente aquilo que é obtido após meia

hora de rodopio, canto, ou masturbação sobre um sigilo? Tudo aquilo que gira apenas

por um breve, momentâneo lapso de outro lugar?

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Gnose também pode ser lida como ‘Conhecimento do Coração’ — conhecimento que é

difícil de expresser imediatamente em palavras; uma projeção gestalt que leva anos para

ser filtrada por camadas de conectividade antes de possa emergir como palavras em uma

tela. O universo mágico é, por necessidade, um espaço finito. A gnose pode muito bem

nos impulsionar, momentaneamente, para além de seus limites. E como William

Burroughs sustenta, você não pode levar palavras para o espaço.

Gnose, como o termo que é geralmente aplicado na Magia do Caos, é apenas a ponta

visível de um vasto leque de experiências numinosas que tem sido vista, além de alguns

intrépidos pesquisadores Psiconautas (Seigel, Grof, etc.), como o domínio dos místicos.

Embora seja discutível que as práticas místicas podem conduzir a todos os tipos de

palavras-vírus (tal como a religião), também é válido considerar que somente aquilo que

entra brevemente, a fim de manifestar um desejo, está uma subestimação de amplas

potencialidades desta experiência.

Trabalho e Diversão

Eu oferecerei uma distinção simples entre Mágicka e Misticismo. Mágicka se ocupa

com TRABALHO, enquanto Misticismo se ocupa com a DIVERSÃO. Não há estados

‘opostos’, mas experiências complementares. Como assim? Tomemos o exemplo de

dois atos da Magia Sexual. No primeiro caso, vemos um casal transando furiosamente,

as mentes em chamas com um sigilo, corpos suados arqueando em direção à poderosa

liberação — orgasmo — onde o desejo sigilizado é arremessado para o vazio. Segundo

caso, um casal passa horas rolando, um em torno do outro, experimentando-se

preguiçosamente, acariciando, até brincando, sem urgência especialm para o orgasmo,

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não sendo particularmente importante a questão de se o orgasmo acontecerá ou não,

afinal. Qual das duas cenas você acha mais mágica?

A primeira cena reflete a abordagem geral para a magia sexual na cultura occidental.

TRABALHO: fazer algo para obter algo. A segunda cena é mais próxima da visão

tântrica do sexo: relaxamento, sensualidade, centralização no prazer — DIVERSÃO.

Na Mágicka precisamos trabalhar. Fazer programas de treinamento, aprender os

símbolos & linguagens, aprender novas habilidades, analizar, refinar, — tudo isso é

trabalho. Tudo isso é muito necessário, pois precisamos aprender a TRABALHAR antes

que possamos aprender a DIVERSÃO, pelo o menos, na medida em que este assunto

requer. Aqui, TRABALHO e DIVERSÃO são experiências do Mundo, cada uma

complementando a outra.

Novamente, outro exemplo simples. Mais uma vez, sexo. Conversar com alguém,

relacionar a um Outro Significante, Estabelecer Relação — seja lá como você queira

chamar. Uma forma de alcançar este desejo é através do TRABALHO — que neste caso

pode ser praticando as linhas de conversação em um espelho, invocando Jontrav-Olta

como o loa patrono das máquinas-sexuais falantes, a fim de projetar o glamour

apropriado para a atração. Isto é TRABALHO, e eu espero que todos os leitores estejam

ao menos familiarizados (mesmo apenas em teoria) com este tipo de situação. O modo

DIVERSÃO aqui está em um nível simples, mas em outro, está complexo ao extremo.

Aqui, você apenas faz um contato breve com alguém, e logo você Sabe com certeza

absoluta, que em algum lugar no desdobramento do evento, dois caminhos irão

convergir e terminará na mesma cama juntos. O que é maravilhosa em relação a esta

31
experiência, como eu espero que a maioria dos leitores saiba, é que quando essa

enxurrada de certeza se projeta através de sua mente, você fica tão confidante sobre o

que aconterá após este momento inicial, que você não precisa mais TRABALHAR a

fim de fazer com que algo aconteça. Você pode permitir a si mesmo se DIVERTIR. E

uma pessoa que se diverte, que está brincando, é livre de apego à realização do desejo, e

pode, assim, assumir mais riscos que uma pessoa que anda com medo de perder sua

aparência legal e estúpida.

Há duas experiências de mundo distintas, embora não dicotômicas. Você pode

TRABALHAR para fazer as coisas acontecerem, ou se DIVERTIR e deixar que as

coisas aconteçam. Mas, infelizmente, não é assim tão simples. Ao praticar Mágicka

como TRABALHO, nós estamos nos preparamos para DIVERTIR a nós mesmos. E o

fator-chave que liga TRABALHO e DIVERSÃO é Gnose.

Cada vez que você tenta manifestar o desejo como fenômeno, é necessário uma

explorsão de gnose-consciência. A gnose pode durar uma fração de segundos, ou levá-lo

a um estado (sim, algumas vezes descrito pelos Místicos, como Samadhi) de percepção

alterada que podem durar dias, semanas ou até mesmo meses. Os efeitos da gnose são

cumulativos. Ao ganhar impulso suficiente, a gnose começa a afetar você de várias

formas: iluminações, sonhos despertos, alucinações, vozes, visão clarividente, o

despertar dos Siddhis que ninguém lhe ensinou; o que não veio de um livro, embora

esteja na ponta de seus dedos. E tem mais; percepção mais aguçada do self, das

conexões entre experiências e conceitos diferentes, novas gestalts. A superfície do

conteúdo destes estados alterados não é tão significante, talvez, como o que está

acontecendo no Sistema Nervoso Central. Picos de Gnose reescrevem os caminhos

32
neurais, levando o software da mente a uma nova versão, ajustada para o processamento

de alta velocidade. Enquanto o mago permanence, em grande parte, centrado no modo

de TRABALHAR, então este processo permanece como uma pauta oculta. Na verdade,

parece que você tem que colocar uma grande quantidade de TRABALHO antes de que

você possa se familiarizar com o potencial da DIVERSÃO.

Então, aqui estou eu argumentando que o TRABALHO Mágico prepara você para a

DIVERSÃO Mística. A diferença pode ser entendida em termos de manipulação

MAYA ser uma coisa ou outra, ao invés de apreciar a dança em todas as suas formas.

O problema com o Misticismo é que o resultado da cognição, enquanto dentro de um

estado alteramente acelerado da consciência, pode ser percebida como uma Verdade

grande, universal. Além disso, é necessário que as experiências que se tem sejam re-

integradas e assimiladas com êxito, quando é inevitavelmente o caso, para se retornar a

sentido mais ‘estável’ da realidade. A gravidade abraça o psiconauta em vôo livre de

volta para o bem da Soberana Realidade. No mínimo, ao trabalhar com tal aproximação,

o magista progressivamente se torna algo diferente do humano. Este é o local onde a

experiência anterior de TRABALHO se torna importante. Os conteúdos ideacionais do

vôo Místicos são inúteis a menos que eles se relacionem com a a mentalidade existente

do mago. Se a experiência não resulta na habilidade de ir além das crenças e conceitos

anteriormente mantidos, e se não produz algo novo, então a sua validade é questionável.

Então, experiências induzidas pela gnose para a DIVERSÃO permitem ao mago

TRABALHAR mais efetivamente. Justamente por isso, precisamos ter feito certa

quantidade de TRABALHO para explorar o possível valor da DIVERSÃO. Além disso,

uma definição mais ampla de Gnose é o conhecimento ou insight que lhe impulsiona a

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agir a partir desse ponto. Talvez seja uma revelação, mas é algo que muda

significativamente sua visão do mundo. O encontro com Pasupati discutido no ensaio

‘Deuses’ poderia ser lido como um exemplo de Gnose — um evento que causou uma

mudança significativa em minha perspectiva, e também me impulsionou a agir a partir

de um novo nível de referência.

Brincado com o Caos

A abordagem do Caos para a Mágicka inverteu a visão geral de que as habilidades

mágicas são meremente os subprodutos da busca Mística. A ênfase é colocada na

manipulação de MAYA, ao invés do TRABALHO. Em alguns aspectos, a idéia do

objetivo final do Misticismo, como de superação ou transcedência de MAYA, é um

equívoco occidental de um processo que sustenta o ‘Nada é Verdadeiro, Tudo é

Permitido’. A partir da experiência da DIVERSÃO, o sucesso pode muito bem ser fácil,

mas o ‘fracasso’ certamente não é difícil.

Eu postularia, ainda, que a experiência de DIVERSÃO nos conduz a novos reinos

mágicos. Isto é, na verdade, eles provavelmente são muito antigos, apenas alguém que

os pintou de preto e arranjou-os em torno de uma Caosfera. Aqui encontramos os

mistérios de nossos próprios ciclos internos de mudança; ciclos que foram enterrados

longe das chamas da percepção; hábitos de pensamento e reação emocional —

demônios, se preferir, que até agora se infiltram silenciosamente nos celeiros da

individualidade. Aqui, podemos optar em focar a atenção naqueles ‘deuses ocultos’, em

torno dos quais grande parte de nossa experiência interpessoal está baseada — Amor,

Fidelidade, Possessão, Curiosidade — as indefiníveis palavras são repentinamente

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aliviadas e vistas a partir de novos ângulos. Sim, a DIVERSÃO pode ser utilizada para

encantamento e afins, mas somente rapidamente, assim como, em estados intensos da

DIVERSÃO, o apego a qualquer desejo particular será, no máximo, fugaz. Se tal

mágicka é feita, ela é feita a partir de uma condição do FAZER FÁCIL, FAZER

SIMPLES (vide Burroughs).

Uma das melhores utilizações do estado de DIVERSÃO que encontrei até então é a

conexão Criativa e análise de idéias. Qualquer coisa a partir das várias práticas do

TRABALHO (seja mágico ou não) em direção às áreas menos definíveis da experiência

— Desejo, hábitos cognitivos, linguagem. A relação é simples: o TRABALHO

suficiente constrói o impulso para DIVERSÃO. A DIVERSÃO salta para um estado

onde podemos radicalmente modificar nossa experiência de TRABALHO. No entanto,

o plano de fundo do TRABALHO nos ajuda a entender a dinâmica da DIVERSÃO, e

abre novas áreas para exploração.

Para retornar à questão de uma meta global para a Magia do Caos. Eu sugeriria que o

objetivo está presente, embora oculto. Magia do Caos é um processo de MUTAÇÃO.

Gnose culmulativa remapeia os caminhos neurais — Mutação. A desconstrução da

Identidade a partir do Ego sitiado pela legião de vários self somente para o Amor-

Próprio — Mutação. A busca por técnicas de TRABALHO mais efetivas e adaptativas

para que a realidade se torne efetivamente, um parque de diversão — Mutação. A

semeadura da cultura com novas idéias, estilos, modas; a reposição da Verdade com a

Permissão para fazer (Faz o que Tu queres?) — Mutação. Ah, mas mutação em que?

Bem, esta é outra história.

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LEITURA ADICIONAL

Prime Chaos de Phil Hine (Chaos International, 1993), disponível diretamente da

editora em BM Sorcery, London WC1N 3XX por U$20, incluindo o valor da postagem

(enviar dinheiro, em correspondência ou cheque em branco para o Banco Britânico

pagável para “Chaos International”.)

Condensed Chaos de Phil Hine (New Falcon Publications, 1995)

http://www.newfalcon.com

The Pseudonomicon de Phil Hine (2ª Edição) disponível pela Dagon Productions, PO

Box 17995, Irvine, CA 92713, USA.

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TRABALHOS NA INTERNET

Oven-Ready Chaos versão 1.2 — Meu primeiro panfleto introdutório sobre Magia do

Caos (originalmente intitulado “Condensed Chaos”) pode ser encontrado em TOOLS

OF CHAOS em formato Adobe PDF. http://www.crl.com/~tzimon

Veja também o CHAOS MATRIX para uma seleção de ensaios sobre vários aspectos da

mágicka:http://www.sonic.net/fenwick/

www.gtobr.org — Grupo de Traduções Ocultas

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