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FUNDAMENTAL
Resumo: Buscando articular ciência e arte, esta pesquisa de cunho qualitativo tem por
objetivo analisar os limites e as possibilidades da utilização da poesia no ensino de Ciências
no Ensino Fundamental, a partir de um estudo de caso desenvolvido em uma turma do sexto
ano em uma escola da rede municipal de ensino em Jaraguá do Sul. Adotando como
referenciais teóricos Gebara (2009), Pietrocola (2000) e Ferreira (2010) entre outros, o
desenvolvimento metodológico envolveu a elaboração e implementação de uma sequência
didática sobre o tema solo no sexto ano do Ensino Fundamental, por meio de quatro
atividades, envolvendo leitura e coleta de dados em reportagens da região, abordando
catástrofes ou novidades envolvendo o tema solo; discussões dialógicas intercalando
apresentação dos alunos sobre as reportagens e intervenções da professora sobre os
problemas abordados; elaboração de uma poesia que relacionasse a reportagem/notícia com
o que o aluno apreendeu sobre o solo e por fim, realizou-se uma avaliação escrita. Ao final,
foram realizadas entrevistas individuais com cada estudante participante. Resultados
apontam que a utilização de poesias pode potencializar a construção dos conhecimentos
relativos a ciências de acordo com a vivência pessoal dos sujeitos.
1 INTRODUÇÃO
2. DA ESCOLHA DA PROPOSTA
Esta pesquisa foi desenvolvida no primeiro semestre de 2016 durante o estágio
obrigatório do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza com Habilitação em Física. Ela
teve como base a observação das aulas e a elaboração de uma intervenção no sexto ano do
Ensino Fundamental em uma turma com 27 estudantes, dos quais 13 participaram da pesquisa
do início ao fim (com a elaboração da poesia e a participação na entrevista). A definição do
tema solo foi a partir da solicitação da professora regente de Ciências da escola por atender,
naquele período (segundo bimestre de 2016), o seu planejamento anual. Já a prática artística
de poesia foi selecionada pela falta de trabalhos que articulam o ensino de ciências pela poesia
e porque na cidade de Jaraguá do Sul em que se situa a escola, anualmente ocorre um
concurso de poesia através da Lei No 1016/1985 – Artigo 1º. Nele, podem participar diversas
pessoas, por subdivisão de idade e categorias. Todas as escolas da rede municipal participam
desse concurso, desde os centros de educação infantil até as escolas do ensino fundamental.
Entendeu-se que os estudantes do sexto ano são estimulados a essa prática artística e
esse gênero textual desde os primeiros anos da escolarização, portanto havia a expectativa que
eles já tivessem subsídios suficientes em relação à produção da poesia. Assim, se expressar
com essa forma teria potencial para intensificar o processo de aprendizagem no ensino de
ciências, visto que é mais uma linguagem1 que viabiliza o conhecimento. Essa prática artística
finalizou as aulas e foi explorada após o estudo coletivo dos temas em questão. Ela assumiu
uma postura de construção, reflexão, sistematização e avaliação, esta última concebida, de
acordo com Vasconcelos (2005), como mais uma oportunidade para se apreender.
Nesta pesquisa, optou-se por empregar uma investigação de cunho qualitativo, que de
acordo com Flick (2009) prima pelo estudo de relações complexas utilizando todas as
variáveis possíveis para entender os processos e resultados profundamente. Para isso ela não
estabelece uma regra e opera com diferentes estratégias de investigação. Para Creswell (2010)
na pesquisa qualitativa constituímos caminhos para a compreensão das a) motivações, b)
interpretações, c) comportamentos, c) opiniões e as expectativas dos indivíduos, entre outras.
O desenvolvimento metodológico envolveu a elaboração e implementação de uma
sequência didática sobre o tema solo no sexto ano do Ensino Fundamental, e ao final da
proposta didática, foi realizada uma entrevista semiestruturada individual com os estudantes.
A análise é realizada sobre as observações, produções dos estudantes, resultados de uma
avaliação realizada pela docente e da entrevista. Para compreensão da entrevista no contexto
da pesquisa, considera-se importante explicitar primeiramente a proposta didática, o que é
feito na sequência.
1
Acredita-se que cada vez que se tem acesso a diferentes linguagens para ver o mesmo conhecimento se amplia
a visão sobre aquele saber. Jay Lemke (1998), no artigo “Multiplying Meaning: Visual and Verbal Semiotics in
Scientific Text”, aborda a combinação das linguagens objetivando uma comunicação mais eficaz.
Os recursos metodológicos didáticos utilizados foram: onze reportagens/notícias
diferentes sobre os temas supracitados, slides, experimentos e poesias. Com esses quatro
recursos, tinha-se os seguintes objetivos: 1º extrair as principais informações das
reportagens/notícias, tais como possíveis problemas e soluções; 2º associar as
reportagens/notícias com os conceitos e problemas sobre solo; 3º conceituar e sintetizar
causas e consequências das erosões, queimadas, agrotóxicos e lixo no solo; 4º sensibilizar os
estudantes para os cuidados ambientais no tema de trabalho; 5º criar poesias que ilustrem os
processos de esgotamento do solo e a manutenção da sua qualidade.
As aulas foram iniciadas em um modelo dialógico com a utilização slides. Eles
continham imagens com diferentes tipos de solo e foram exploradas com perguntas do
seguinte gênero: O que se vê? Tem diferenças entre os solos? Quais? Por que existem áreas
com cores diferentes de solo? Por que alguns estão secos?
Na continuação, cada estudante recebeu uma reportagem/notícia impressa sobre algum
problema relativo ao solo, nas proximidades de onde eles moravam. Elas se repetiam até três
vezes na turma e tratavam de conteúdos referentes aos temas. Os estudantes foram orientados
a lerem a reportagem/notícia recebida e coletarem alguns dados. Os dados principais foram o
nome da reportagem/notícia, local onde aconteceu o evento descrito na reportagem/notícia,
problemas encontrados, possíveis soluções e data da publicação. Posteriormente a esse
momento, conforme a solicitação da professora pesquisadora, os estudantes socializaram os
dados coletados intercalando os novos conceitos com a apresentação das reportagens através
de uma aula dialógica com slides.
Durante as aulas, alternando com a utilização de reportagens/notícias e slides, foram
também desenvolvidas algumas experimentações de cunho demonstrativo, previamente
preparadas para serem utilizadas em alguns momentos das aulas. Quando se falou dos
diferentes tipos de solo, por exemplo, foi apresentado aos estudantes terra vermelha, terra
escura e terra clara. Com auxílio um imã, pela atração e repulsão de acordo com o tipo de
terra, foi demonstrada a presença de ferro na terra vermelha. Já na terra escura e clara foi
discutido o que ela poderia conter para ficar com aquela cor (presença ou não de materiais
orgânicos). Outro exemplo de utilização de experimentos ocorreu na sequência das
apresentações das reportagens/notícias sobre erosão, quando foi simulando o processo de
erosão do solo e explorado o papel da vegetação para evitar tal processo.
As atividades explorando as reportagens/notícias se encerraram em conjunto com as
apresentações de slides e as discussões dos conteúdos planejados. Nesse momento foi
introduzido o processo de elaboração da poesia. Solicitou-se que os estudantes escrevessem
uma poesia ou criassem frases com rimas, que abordassem os processos de esgotamento do
solo, a manutenção da qualidade do solo, a reportagens/notícias que eles leram e, se possível,
como isso pode afetar a vida deles. Eles também podiam ilustrar ao redor da poesia, se
considerassem que fosse facilitar o procedimento. Foi oferecido um exemplo de poesia
relacionada ao tema solo e na sequência eles iniciaram a atividade em sala de aula. A seguir
apresentamos como investigamos a utilização da poesia nessa sequência de didática.
3.2 Entrevistas
Uma das técnicas abrangidas pela pesquisa qualitativa é a entrevista. Boni e Quaresma
(2005) afirmam que dados subjetivos podem ser obtidos através da entrevista, afinal, eles têm
relação com os valores, as atitudes e as opiniões dos sujeitos.
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Caso 1:
No Caso 1 foram agrupadas as poesias elaboradas por estudantes que demonstraram
facilidade em se expressar com essa arte e conseguiram relacionar o tema solo, com a
reportagem/notícia recebida e suas reflexões acerca do estudado. Os pertencentes a esse grupo
tiveram uma boa nota na avaliação escrita implementada pela professora regente e tanto na
entrevista quanto na escrita da poesia apresentaram indicativos de ir além da função de
compreender o conteúdo conceitual ao refletir acerca deste no meio em que vive.
O quadro a seguir apresenta como exemplo as poesias de dois estudantes que
representam o Caso 1, além do título e data de publicação da reportagem/notícia entregue ao
estudante.
Quadro 1- Poesias criadas pelos estudantes. Fonte: Acervo das autoras.
Dados da reportagem/notícia
Estudante Exemplos de Poesias
entregue ao estudante
Esses estudantes afirmaram que o uso da poesia facilitou o seu entendimento sobre o
tema. Logo, concluiu-se que aqueles que conseguiram se expressar com essa linguagem
artística tendiam a apresentar indicativos de apropriação do conhecimento cientifico sobre o
tema. Essa apropriação do saber ocorreu de forma crítica em consonância ao defendido por
Freire (1996) de que a educação exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural,
criticidade ideológica, vontades e sentimentos; ensinar não é transferir conhecimentos, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção, sem verdades
absolutas.
Em especial, o estudante A afirmou que gostou muito de fazer a poesia porque no seu
ambiente familiar é comum uma reunião aos fins de semana, para cantarem e inventarem
melodias e músicas com rimas ao som do violão. Da mesma forma o estudante B (assim como
outros participantes deste Caso 1) demonstraram um convívio mais acentuado com a poesia,
por participarem todos os anos do concurso de declamação de poesia supracitado. Assim,
concordou-se com Vygotsky (1988), quando descreve o ensino e aprendizagem como
resultados da interação do sujeito com o meio, logo se evidencia a importância do papel da
linguagem, da cultura e da escola neste processo.
O estudante B e outros do Caso 1 afirmaram que para estudar para a prova escrita,
utilizaram a leitura do livro e todos os materiais disponíveis em sala. Portanto, a poesia pode
ter enriquecido as aulas, porém não necessariamente atuou sozinha durante o processo.
Entende-se assim que são necessárias metodologias diversificadas, pois cada sujeito tem sua
forma e ritmo de aprendizagem (ZABALA, 2010). Ainda nesses casos, a poesia
provavelmente alcançou sua potencialidade ao ser compreendida como “linguagem na sua
carga máxima de significado e de reflexão, poesia-pensante, [...] sentimento, emoção,
revolução, poesia que tem função social, poesia de caráter humanizado, ético, capaz de mudar
o mundo” (SILVA & JESUS, 2011, p. 2).
Caso 2:
No Caso 2, as produções dos alunos apresentaram uma ausência de expressão poética,
porém exibiram diferentes níveis de aprofundamento teórico conceitual acerca do tema. Nem
todos os pertencentes a esse grupo obtiveram boas notas nas provas escrita e apresentaram
dificuldades para se apropriar do conhecimento com competências que vão além das
conceituais.
O quadro a seguir apresenta poesias de dois estudantes que representam o Caso 2,
além do título e data da publicação da reportagem/notícia entregue a cada um desses
estudantes.
Dados da reportagem/notícia
Estudante Exemplos de Poesias
entregue ao estudante
Um dos problemas destacados pelo estudante D foi ele não ter seguido as orientações
acerca da produção do trabalho, por não ter feito anotações no caderno. Isso resultou em um
trabalho diferente do solicitado. O próprio estudante identificou que seu trabalho não atendia
a proposta de poesia, porém lembrou apenas depois de observar os trabalhos dos demais
colegas.
No caso deste estudante, identificou-se um avanço conceitual por ele escrever uma
leve reflexão textualmente sobre o tema. Ele foi bem avaliado na prova escrita e recordava
com clareza o conteúdo. A dificuldade encontrada estava no conceito do que é poesia.
Quando se indagou o que ele entendia por poesia, o mesmo respondeu “poesia é um texto que
tem começo, meio e fim”. Mesmo observando um exemplo, ele não tinha o domínio do
gênero textual poesia. Em relação aos contatos desse estudante com essa prática, ele
comentou que durante as aulas de português eles estudaram poesia e por isso “sabia” como
era. Das atividades propostas a que ele destacou como motivadora foi a utilização de
experimentos. Afirmou ainda, que não gostava muito de poesia.
Utilizar a poesia como uma atividade nas aulas de Ciências pode ser uma proposta
interdisciplinar, por ser um meio de entrelaçar uma enorme rede de significados que podem
potencializar a aprendizagem (BORGES, 2007). Porém o processo é dificultado se o
estudante ainda não possui os conhecimentos sobre o que é poesia. Além disso, a
identificação do estudante com este gênero/arte pode influenciar em suas produções. Embora
este estudante D tenha afirmado que não gosta de poesia, ainda assim é necessário expor os
estudantes a esta forma de expressão, assim, este momento de produção em Ciências é mais
uma oportunidade para que o estudante possa melhor se apropriar dos elementos que
caracterizam uma poesia, conhecer melhor e talvez, passar a apreciá-la.
Caso 3:
No caso 3, foram agrupadas as produções de poesias bem articuladas em forma de
arte, porém com dificuldades de expressão relacionando o formato artístico ao tema solo.
O quadro a seguir apresenta a poesia de um dos estudantes que representa o Caso 3.
Junto com ela está o título da reportagem/notícia e a data da publicação da reportagem/notícia
entregue ao estudante.
Dados da reportagem/notícia
Estudante Exemplos de Poesias
entregue ao estudante
“No mundo a planta não vê nada pois vive sempre enterrada. Data: 22/12/2014 10h35
Segundo a planta, a sua sustentação precisa de água e Título: Crotalária é boa
F alimentação. alternativa para renovação de
Além da planta respirar, ela tem uma grande função canaviais, diz entidade.
Nela bate a energia solar e ajuda em sua formação. [...].”
No caso do estudante F, a poesia conta a história de uma planta, porém ela não
menciona características de um solo mais adequado ao plantio, rico em nutrientes, ou como
cuidar deste para favorecer o processo. Quando foi perguntado ao estudante o que ele mais
gostou durante as aulas, ele apresentou dificuldades em discorrer sobre os conteúdos
relacionados ao solo e afirmou ter um problema de “esquecimento”.
Caso 4:
O inverso do anterior ocorreu no Caso 4 no qual o estudante G apresentou dificuldades
para colocar suas ideias em forma de poesia, porém expressou alguns conceitos sobre solos. O
quadro a seguir apresenta a poesia desse estudante que representa o Caso 4, o título e a data da
publicação da reportagem/notícia entregue ao estudante.
Dados da reportagem/notícia
Estudante Exemplos de Poesias
entregue ao estudante
“O solo é muito melhor com minhocas, elas ajudam a fortalecer Data: 19/01/2013 - 21h43.
G o solo e serve de arado natural” Título: Minhocas são tão
valiosas quanto o solo.
Os dados dos casos 2, 3 e 4 sugerem que a dificuldade enfrentada no uso das artes para
o ensino de ciências pode ser resultado de uma fragilidade dos conhecimentos prévios, sejam
eles da interdisciplinaridade com outra área de saber ou dos próprios conceitos científicos (e
talvez esta proposta seja mais uma oportunidade para o fortalecimento de tais conceitos).
Logo, sempre que for utilizada uma área diferente de conhecimento no ensino de ciências é
necessário prever que os estudantes podem estar em processo de aprendizagem de conceitos
dessas diferentes áreas, e as atividades didáticas propostas devem potencializar situações de
aprendizagem que contemplem as diferentes áreas.
Caso 5:
O caso 5, composto apenas pelo estudante H, tem características exclusivas. O quadro
a seguir apresenta a sua “poesia”, o título e a data da publicação da reportagem/notícia
entregue ao estudante.
Dados da reportagem/notícia
Estudante Trabalho do estudante
entregue ao estudante
Esse estudante conseguiu explicar o conteúdo sem dificuldades, assim como seu
desenho, que sob uma primeira análise da professora-pesquisadora, parecia confuso. A
relação do desenho com a explicação foi coerente com o conteúdo em questão e criativa,
superando as expectativas. Esse estudante não fez a prova escrita, e a justificativa para essa
diferença foi um certo nível de dislexia e dificuldade em escrever. Apesar do desenho não ser
a metodologia proposta, ele também é uma forma de arte e de acordo com as falas do
estudante, fazê-lo foi importante para ele “pensar no assunto” (Estudante H).
Dessa forma, exemplifica-se que para alguns estudantes a ausência de contato com a
poesia dificultou a criação de uma ponte entre as diferentes linguagens, arte e ciência, algo
que para outros, pelo meio cultural de vivência constante dessa arte, geralmente com distintos
temas de expressões, indicou ser um potencializador para ampliar as reflexões acerca do
conteúdo de ciências exercitando a criatividade.
Vale destacar que alguns estudantes não se sentiram à vontade com a metodologia
utilizada, por isso, existe sempre a necessidade de utilizar diferentes metodologias
educacionais, uma vez que nem sempre a arte (ou a própria ciência) deve ser considerada
como um elemento motivador ou lúdico, por sua dependência da relação dos estudantes na
proposta, do contexto e da anteriormente citada subjetividade. Neste sentido, uma aula
expositiva, por exemplo, pode ser mais lúdica e motivadora do que uma aula com poesia ou
teatro, experimentação, ou o uso de jogos. Uma característica que se revelou durante as
entrevistas. Alguns estudantes apresentaram gostar e outros de não da proposta.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A poesia como uma prática artística se apresenta de forma geral como uma linguagem
que favorece o processo de ensino e aprendizagem, porém com limitações, como outros
recursos ou enfoques didático-metodológicos. Inferiu-se que a utilização dessa prática
apresentou limites (como as fragilidades dos conhecimentos prévios e os suportes para o seu
fortalecimento, as diferentes formas de expressão dos estudantes e o entendimento do
professor quanto o seu significado e as formas metodológicas de explorar os saberes) e
potencialidades (como a ampliação de ângulos pelo qual pode se observar o mesmo saber e as
novas pontes entre os conhecimentos), de acordo com a vivência pessoal de cada sujeito.
Como uma forma de arte, de expressão, de comunicação; a poesia, assim como outras
linguagens tem suas regras e características. Quanto mais o sujeito amplia o ângulo pelo qual
ele observa as ciências, melhor é a sua compreensão sobre o todo. Observar a ciência por
meio das características existentes na poesia e construir o seu olhar com auxilio dessa
linguagem/arte abre espaço para se estabelecer as conexões existentes.
As ciências estão em tudo, o tempo todo, sair da linguagem considerada mais usual da
identidade da disciplina colabora para essa percepção. Observamos isso, principalmente no
caso dos estudantes do Caso 1, no qual o contato acentuado deles com a poesia facilitou a sua
compreensão das ciências. Esses resultados permitem defender seu uso como um potencial de
grande alcance nas aulas de ciências.
Quando os estudantes tinham dificuldade de se expressar por meio da poesia, sentiu-se
que nas aulas de ciências também seria o espaço de ajudar a preencher a lacuna dos estudantes
acerca dessa linguagem/arte (apresentado principalmente nos casos 3 e 4). Porém nem sempre
o professor de outra área de conhecimento consegue contribuir, da melhor forma, para a
construção desse conhecimento. Portanto, um elemento que pode potencializar a utilização da
poesia em trabalhos futuros seria construir essa proposta em parceria com os professores de
português e artes, assim ampliando a possibilidade de significância da proposta.
Outra sugestão para futuras implementações é a discussão das reportagens/notícias,
das poesias e dos experimentos entre os alunos antes de se discutir os conceitos com o
professor. Observou-se durante as aulas que os alunos aceitavam a fala do professor sempre
como final, por vezes eles comparavam o que o professor dizia com o seu dia-dia e citavam
exemplos, porém sem grandes argumentações ou contradições sobre o que era dito. Se antes
da discussão coletiva, os alunos interagissem entre si, em grupos menores, eles teriam uma
liberdade maior de argumentar e refletir entre os pares, visto que o professor, mesmo tendo
uma postura construtivista (com utilização de perguntas e incentivo a uma postura ativa dos
estudantes), muitas vezes ao propor suas ideias, cria um bloqueio para que os estudantes não
pensem sobre algum saber de forma argumentativa.
Tal bloqueio pode ser criado não de forma consciente ou por culpa do professor e dos
estudantes, mas como consequência de uma cultura enraizada no sistema escolar de ensino
como consciência bancária, ensino no qual, de acordo com Freire (1979), o professor ainda é
um ser superior que ensina a ignorantes. Assim o estudante recebe passivamente os
conhecimentos, como se fosse um depósito do educador. Essas atividades sugeridas seriam
uma forma de ir contra a cultura de consciência bancária. Afinal o que desejamos, com tantos
estudos e nesse em especial por meio da poesia no ensino de ciências, são indicadores para a
autonomia e emancipação do estudante a fim de que ele se perceba com o poder de contribuir
e questionar o seu meio, de fazer hipóteses, testar, interpretar os resultados, por entender mais
profundamente o seu lugar de fala e como ele pode falar.
Agradecimentos
FREIRE, P. Educação e Mudança. 12ª Edição. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979.
PORTO, P. A. Augusto dos Anjos: ciência e poesia. Química Nova na Escola, n° 11, maio
2000.
SANTOS, E. da P.; SANTOS, M. I. T. dos.; SILVA, G. B. da. A utilização de poemas como
proposta didática no ensino de química. XI Congresso Nacional de Educação DUCARE,
2013. Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba, 2013.
SILVA, C. S. da. Entre ciência e poesia: narrativa sobre uma oficina formativa.
Interdisciplinariedade e Ensino, v. 1, n. 2, 2017. Disponível em: <
http://faculdadespontagrossa.com.br/revistas/index.php/interensino/article/view/244/208 >
Acesso em: 19 jul. 2018.
SILVA, E. F. da.; JESUS, W G. de. Como e por que trabalhar com a poesia na sala de aula.
Revista Graduando, nº2 jan./jun. 2011.
Abstract: In order to articulate science and art, this work aims to analyze the limits and
possibilities of the use of poetry in the science teaching in primary education, from
a case study developed in a sixth grade class of a municipal school system in Jaraguá do Sul.
Adopting as theoretical references Gebara (2009), Pietrocola (2000) and Ferreira (2010),
among others, a didactic sequence on the soil theme was elaborated and implemented
through four activities. The first activity involved reading and collecting data in regional
news reports, addressing catastrophes or novelties involving the soil theme; the second was a
dialogic discussion interspersing the students' presentation on the reports and what current
science says about those problems; the third was the construction of poetry that related the
report read by the students with what they seized about the soil; finally, a written evaluation
was made. At the end, there was an individual interview with each student. Results suggest
that the use of poetry can enhance the construction of knowledge related to the sciences
according to their personal experience.