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Swami Kuvalayananda
Dr. S. L. Vinekar
YOGATERAPIA
Princípios e métodos básicos
1a Edição
São Paulo
2019
Swami Kuvalayananda
Diretor de Pesquisas,
Kaivalyadhama S.M.Y.M. Samiti, Lonavla
YOGATERAPIA
Princípios e métodos básicos
Tradução:
Roldano Giuntoli
Revisão técnica:
Marcos Rojo Rodrigues
Danilo Forghieri Santaella
Ilustrações
Suzana Lefevre
Aline Ferri Bertolo (capa)
19-27454 CDD-613.7046
Índices para catálogo sistemático:
Produção Gráfica
Swami Kuvalayananda
(30 de agosto de 1883 – 18 de abril de 1966)
Dr. S. L. Vinekar
(4 de julho de 1907 – 21 de dezembro de 1967)
Nota do Revisor
Prefácio do Revisor
Marcos Rojo
A parcialidade dos autores deste livro com relação ao Yoga pode ter se
refletido em seus escritos; porém, seu esforço se deu no sentido de manter
uma perspectiva objetiva, o tempo todo. Grande parte do texto trata de con-
ceitos fundamentais aplicados a fatos estabelecidos nas ciências biológicas
e, como tal, não requer documentação abundante. Sempre que a teoria de
uma determinada escola ou autor, ou algum assunto controverso, tenham sido
apresentados, o foram com referências documentadas, seja com os nomes dos
autores, ou com citações textuais. Em algumas ocasiões, os autores ousaram
introduzir novas interpretações fundamentadas em sua própria experiência e
estudos.
Ainda que ambos os autores tenham participado na revisão e na verifica-
ção de todo o texto, sempre que a posição teórica ou a tendência de um dos
autores era forte, o outro tendia a concordar com os pontos de vista do autor
responsável pelo rascunho original, uma vez que aquele era a maior autori-
dade no assunto. O texto foi preparado predominantemente pelo autor mais
jovem (Dr. S. L. Vinekar), sob a orientação direta do autor sênior (Swami
Kuvalayananda – Jagannatha Ganesa Gune).
O objetivo deste livro, como dissemos, é explicar ao público leigo, assim
como aos médicos, os princípios nos quais se baseiam os vários procedimen-
tos da Yogaterapia, o campo específico de aplicação da terapia e, por último,
porém, não menos importante, suas limitações e contraindicações. Em resu-
mo, seu propósito é apresentar um quadro abrangente do aspecto científico e
da fundamentação teórica da Yogaterapia em linguagem comum e acessível.
Em um texto como este, porém, não se pode evitar o uso de termos técnicos.
Para ajudar a entendê-los, adicionamos um glossário ao final deste livro.
Gostaríamos de agradecer ao Ministério da Saúde da União, especialmen-
te a Shri D. P. Karmarkar, Ministro da Saúde do Governo da Índia, por
nos garantir o privilégio de apresentar este interessante tópico ao público.
Devemos nossos agradecimentos também ao corpo de colaboradores do
Kaivalyadhama S. M. Y. M. Samiti, por sua ajuda e críticas construtivas e
também por sua preparação dos diagramas, gráficos e esboços que são apre-
sentados neste livro.
Kuvalayananda e Vinekar
28 de outubro de 1961
Índice
Nota do revisor............................................................................................ 6
Prefácio do revisor....................................................................................... 7
Prefácio dos autores..................................................................................... 9
Introdução.................................................................................................. 14
Epílogo.................................................................................................... 127
Apêndices
Apêndice A
Um programa de cultura física yogin para uma pessoa de saúde
mediana.............................................................................................. 130
Apêndice B
Glossário sânscrito.............................................................................. 149
Apêndice C
Glossário de termos técnicos.............................................................. 152
Apêndice D
Referências bibliográficas.................................................................... 158
Ilustrações
Yoga-Vīṇa.................................................................................................. 13
Estágios do prānāyāma.............................................................................. 78
Āsanas meditativos
Padmāsana........................................................................................ 138
Siddhāsana........................................................................................ 138
Āsanas culturais
Bhujaṅgāsana.................................................................................... 139
Śalabhāsana....................................................................................... 139
Ardha-śalabhāsana.....................................................................................140
Dhanurāsana..............................................................................................140
Halāsana.....................................................................................................141
Paścimatānāsana........................................................................................141
Ardha-matsyendrāsana...............................................................................142
Mayūrāsana................................................................................................142
Śavāsana.....................................................................................................143
Mudrās e Bandhas
Viparīta karani............................................................................................143
Sarvāngāsana.............................................................................................144
Matsyāsana.................................................................................................144
Śīrṣāsana....................................................................................................145
Yoga mudrā................................................................................................146
Uḍḍiyāna....................................................................................................146
Kriyā
Madhya nauli..............................................................................................148
Daksina nauli..............................................................................................148
Vama nauli..................................................................................................148
Figura 1 - Yoga-Vīṇa
Yoga é Harmonia
Uma vīṇa produz uma maravilhosa música celestial, desde que suas cordas
estejam adequadamente afinadas e sejam tocadas harmoniosamente. Um dos
principais significados do Yoga é saṅgati (harmonia). A felicidade da saúde
positiva depende da harmonia entre todas as funções do corpo e da mente.
Introdução
1 N. T.: Bhagavad-Gita em sânscrito significa a Canção do Senhor. Uma das principais escritu-
ras sagradas da Índia, é um poema místico-filosófico. Narra a batalha entre grupos antagônicos e
simboliza a luta interior do homem. Acredita-se que tenha sido escrito originalmente em sânscrito,
no século IV a.C (cf. José Roviralta Borrel).
Capítulo I
2 N. T.: Compilador dos Yoga Sūtras, o primeiro expoente a sistematizar a filosofia do Yoga, tal
como chegou aos dias de hoje. Há evidências de que esses Yoga Sūtras foram elaborados ao longo
de um dilatado período de tempo, de modo a haver polêmica sobre se Patañjali foi uma única
pessoa, ou uma classe de yogins seguidores de um primeiro grande mestre que o reverenciaram
assinando seus trabalhos com o nome dele, tornando difícil situar o Patañjali histórico. Normal-
mente se acredita que Patañjali tenha existido entre o séc. IV a.C e o séc. II A.D.
Capítulo II
No século XX, essa fórmula foi alterada em algumas situações. Por exem-
plo, na hipertensão essencial e na doença vascular, a fórmula foi alterada para:
3 Weiss, Edward e English, O., Spurgean, Psycho-Somatic Medicine (W. B. Saunders Co.)
4 N.R. – De fato, nos anos que sucederam a edição deste livro, muitas investigações científicas
foram realizadas no campo o exercício físico e das terapias não farmacológicas, o que fez com que
o Colegiado Americano de Ciências do Esporte (American College of Sports Medicine) publicasse
suas Diretrizes para a Prescrição de Atividades Físicas, indicando que todos, indiscriminadamen-
te, devem manter um mínimo de 30 minutos diários, contínuos ou intervalados, de atividade física
para a manutenção de um estilo de vida saudável, o que também é a recomendação da Organização
Mundial da Saúde.
5 N. T.: Termo sânscrito que denota falsa noção impressa inconscientemente na mente.
6 N. R. – Abhyasa e vairāgya (prática constante e desapego dos resultados das ações) são as
abordagens propostas por Patañjali como formas para se combater os kleśas.
Os niyamas são:
10 N. T.: Mohandas Karamchand Gandhi (2/10/1869 – 30/01/1948). Um dos maiores líderes
políticos e espirituais da Índia e do movimento de independência desse país, pioneiro da aplicação
do conceito de satyagraha (resistência à tirania através da desobediência civil, firmemente fundada
na não violência).
11 Bragdon, Claude: Yoga for You (Alfred Knopf, New York).
a maneira que Vyāsa interpreta esse aforismo. O alívio que se obtém dessa
maneira é imenso, pois o homem não é inteiramente irracional.
Freud pode não ter sido muito original na formulação de sua teoria sobre
os dois instintos, eros e thanatos, mas seguramente ela carregou consigo um
novo significado, quando considerado o pano de fundo de seus escritos ante-
riores. Sua primeira tremenda revelação foi a de que todos vivem uma outra
vida, além de seu controle. Ele mostrou como os impulsos inconscientes, os
medos e desejos ocultos nas profundezas, nos recônditos escuros da men-
te humana, influenciavam e dirigiam, de fato, nossas ações conscientes. Ele
também mostrou como o homem procurava constantemente racionalizar suas
próprias ações e opiniões que, na verdade, lhe eram impostas e determinadas
pelos processos inconscientes de sua mente; justificou de maneira racional
uma conduta nascida de dinâmicas inconscientes. Dentro dessa visão, segura-
mente, os dois instintos são inovadores.
Assim, as descobertas de Freud auxiliam o praticante a compreender me-
lhor o significado abrangente de termos como: prasupta (adormecido), vic-
chinna (interceptado), tanu (moderado e ineficaz) e udāra (livre ou irrestrito),
tal como aplicados aos kleśas no Yoga, principalmente raga e dveṣa (amor
e ódio). Reconhecia-se que o homem comum (sāmsārika) só era capaz de
manifestar dois estados de kleśas, ou seja, vicchinna (interceptado) e udāra
(livre). Caso não houvesse nenhuma barreira (física ou psicológica), os kleśas
encontrariam livre expressão (udāra). No entanto, os primeiros comentaristas
dos Yoga Sutras de Patañjali afirmavam que a interceptação (vicchinnatā) só
se devia a um fator temporal favorável. Assim, afirmava-se que, se um ho-
mem amasse uma determinada mulher, isso não significava que estivesse can-
sado de uma outra, mas que temporariamente, seus sentimentos encontravam
uma expressão completa em um caso, por causa de alguns fatores excitantes
favoráveis; ele poderia manifestar os mesmos sentimentos na direção da outra
mulher, sob outras circunstâncias favoráveis, em data futura. Ora, essa parece
ser uma explicação muito distorcida do que é interceptação ou vicchinnatā e
não traz consigo toda a importância do termo kleśa, cujo significado literal é
dor ou irritação. Caso se compreenda, no entanto, o conceito freudiano de
ambivalência e trabalho dos conflitos emocionais não resolvidos no campo
do subconsciente, será compreendido porque os antigos sábios consideravam
que essas propensões eram verdadeiramente dolorosas (kliṣṭa). Só nos yogins,
esses kleśas eram fracos e ineficazes (tanu), pois seu perigo havia sido neutra-
lizado por longas práticas yogins. Eles pararam, portanto, de ser um problema
12 N. T.: Ainda que o livro seja denominado Yoga Vāśiṣṭha e só trate do conhecimento (Jña-
na), foi um dos livros mais amplamente lidos na Índia. Influenciou enormemente o pensamento
filosófico indiano de maneira geral. É uma obra filosófica da Índia antiga, abrangente, profunda,
sistemática e literária. Seu nome provém do sábio Vāśiṣṭha. O lendárioVāśiṣṭha foi quem ensinou
os princípios do vedanta a seu aluno da família real, Sri Rāma, o conquistador de Ravana e herói
do épico Rāmayana.
Capítulo III
pessoa, ou seja, influenciando todas as suas reações fásicas, sejam elas inter-
nas ou externas.
Normalmente, o substrato postural se encontra em um estado relativamen-
te fluido e pode ser moldado de diversas maneiras. No entanto, caso seja de-
sintegrado por meio de estresse continuado, como numa doença progressiva,
ou devido a uma pressão mental prolongada, a pessoa se tornará progressi-
vamente mais rígida e terá respostas estereotipadas a estímulos. Às vezes, tal
como mencionado pelo Dr. Freeman em seu livro sobre Psicologia Fisiológi-
ca13, o substrato poderá até se tornar permanentemente fixo, particularmente
“quando não for oferecido o alívio adequado para algum estimulante moti-
vacional persistente”. Esse tipo de fixação postural, tal como o Dr. Freeman
ressaltou, “ajuda a explicar a perda de contato com a realidade em muitos
pacientes psicóticos”. Assim, o substrato postural tem grande importância na
determinação do comportamento, seja ele externo, seja interno (orgânico).
Quando um indivíduo nessa situação assume firmemente um determinado
curso de ação, os padrões tônicos interoceptivos dominam de maneira padro-
nizada e as influências exteroceptivas fásicas produzem pouco efeito. Dessa
forma, nenhum tipo de persuasão poderá modificar a atitude da pessoa pe-
rante a vida.
O que se entende por reações interoceptivas tônicas e exteroceptivas
fásicas?
O mecanismo neuromuscular é de natureza dual, ou seja, é capaz de rea-
gir de duas maneiras, tônica (contínua), ou fásica (intermitente). As reações
fásicas são aquelas que contribuem com o movimento e, por isso, são mais
facilmente visíveis do que as reações tônicas, porém, na verdade, estas últi-
mas formam a base sobre a qual as primeiras se desenvolvem. Uma vez que
as reações tônicas, em sua maioria, se relacionam a posturas, são frequente-
mente chamadas reações posturais, mas essa não é uma expressão feliz, pois
há muitas outras reações estáticas envolvidas nos ajustes posturais. As reações
fásicas são rápidas e localizadas. Elas apenas vêm e vão. Representam um
reajuste temporário para um tipo momentâneo de mudança de estímulo. As
respostas tônicas, por outro lado, são tipos de ajuste mais resistentes e difu-
sos, calculadas para manter uma certa continuidade na condução do organis-
mo, servindo de substrato para as reações fásicas. Admitem-se duas hipóteses
acerca da natureza dessas reações: que podem ser de natureza excludente ou
13 FREEMAN, G. L., Physiological Psychology (Dr. Van Norstrand, New York).
fases extremas de uma escala contínua. Porém, há consenso de que são distin-
tas; cada uma delas com sua própria unidade receptora, reguladora e efetora,
sendo a última, comum a ambas.
Com relação à coordenação dessas reações realizada pelo sistema nervoso,
enquanto o sistema piramidal governa as reações fásicas, o sistema extrapi-
ramidal14 prevalece sobre as tônicas. Algumas estruturas já têm seu papel na
distribuição do tônus muscular conhecido, como é o caso do cerebelo, do
tegmento, do tálamo e do corpo estriado. Eles também têm papel similar na
regulação dos reflexos posturais.
Os receptores envolvidos nos dois tipos de reações também são diferentes.
Eles são classificados de acordo com sua localização anatômica e origem de
estímulo. Genericamente, são divididos em (1) exteroceptores e (2) intero-
ceptores. Os exteroceptores são partes da superfície do corpo e recebem es-
tímulos do ambiente externo. Eles incluem os terminais sensoriais dos olhos,
dos ouvidos, do nariz, da boca e da pele. Os interoceptores, por outro lado,
encontram-se embutidos em tecidos mais profundos do corpo e recebem es-
tímulos das próprias atividades desses tecidos, ou seja, do ambiente interno.
Estes incluem as terminações nervosas sensoriais que existem nos músculos,
nos tendões, nas articulações, nos órgãos viscerais e nos canais semicircu-
lares15. Cada receptor tem sua área efetora própria no cérebro, chamada de
campo efetor, cada qual está cercado pelo que se denomina área associativa.
Enquanto os exteroceptores estimulam as reações fásicas, os interocep-
tores geram as tônicas. Esses dois influenciam mutuamente os padrões es-
pecíficos de resposta de uma maneira muito significativa. O ajuste tônico in-
14 N. T.: No homem, a motricidade é controlada por dois grandes grupos de fibras, divididos
didaticamente em sistema piramidal e extrapiramidal. O sistema piramidal é o responsável pela
motricidade voluntária e o extrapiramidal é responsável pela motricidade automática, involuntária
e de ajustes ou correções de movimentos voluntários. O sistema extrapiramidal funciona como um
sistema acessório que está associado ao córtex cerebral e ao sistema córtico-espinhal para infor-
mações de padrões complexos de movimento. Sua função é regular tônus, postura e movimentos,
sobretudo os automáticos.
15 N. A.: Órgãos como os olhos, os ouvidos e o nariz, algumas vezes, são chamados telerrecep-
tores, ou receptores à distância, reservando-se o termo exteroceptores apenas para os terminais
sensoriais da pele. Além disso, dá-se o nome de proprioceptores aos terminais sensoriais dos
músculos, dos tendões e do labirinto. Alguns reservam o termo interoceptores apenas para os
terminais sensoriais das vísceras. No entanto, é melhor e mais conveniente ater-se às classificações
genéricas anteriores. Esta distinção é feita aqui, pois mais adiante os termos proprioceptores e
propriocepção serão abordados.
Āsanas
Como seu próprio nome indica, são posturas. Por isso eles devem ser tra-
tados e executados como tais e seus feitos fisiológicos também não devem
ser considerados com base nos princípios da cinesiologia, ou seja, a fisiologia
dos movimentos, mas com base nos princípios das reações tônicas e estáticas
mencionadas anteriormente, que são características especiais das posturas.
Infelizmente, o homem está tão acostumado a se movimentar e tão obce-
cado com a ideia de que o exercício deve consistir de esforço e movimentos,
que ele não consegue encarar os āsanas, senão desse ponto de vista. Não
apenas o homem comum, mas até mesmo alguns dos assim chamados espe-
cialistas da área, os tratam como meros exercícios musculares e ressaltam seu
componente de movimento! Na maioria das demonstrações feitas em públi-
co, devido principalmente às exigências da limitada disponibilidade de tempo
e talvez para adicionar um toque exibicionista de agilidade e graça, as apre-
sentações se dão numa sucessão muito rápida e apressada de posturas, com
movimentos abruptos e pulos, que devem ser escrupulosamente evitados em
toda prática de Yoga (caso seja verdadeiramente uma prática de Yoga). Deve-
-se compreender que uma postura estável não se limita a uma cessação da ati-
vidade neuromuscular, mas tal como ressalta Sherrington em seu Integrative
Action of Nervous System16: “... A inervação e a coordenação são tão exigidas
na manutenção de posturas, quanto na execução de movimentos”. Em uma
análise superficial, pode parecer que as reações estáticas e tônicas envolvidas
na manutenção de uma postura indicam apenas um nível mais baixo de con-
tração do que aquele das reações fásicas envolvidas nos movimentos, mas a
diferença entre os dois (posturas e movimentos) não reside apenas no grau
de contrações. Existe uma base neural separada para cada uma delas, que se
estende até nada menos que o mais elevado órgão neural, o cérebro. De fato,
em todos os āsanas e, nesse sentido, em todas as práticas de Yoga, a preocu-
pação é com os impulsos tônicos-interoceptivos, delineados anteriormente,
que não são apenas mais econômicos quanto ao gasto calórico, mas tal como
já foi ressaltado, possuem uma importância psicofisiológica de grande alcance
sobre o comportamento do homem.
No entanto, para a obtenção dos efeitos acima mencionados, os āsanas
precisam ser executados em uma determinada maneira. Nesse sentido, Pa-
tañjali e seu comentarista Vyāsa, as duas maiores autoridades neste assunto,
serão amplamente citados neste livro.
A seu modo, caracteristicamente conciso, mas convincente, Patañjali, em
três aforismos muito breves, lida com os princípios dos āsanas, seus objetivos
e efeitos e o mecanismo pelo qual eles são obtidos:
1. sthira-sukhamĀsanam;
2. prayatna-śaithilyānanta-samāpattibhyām e
16 SHERRINGTON, C. S., The Integrative Action of Nervous System (Yale University) (Silliman
Memorial Lectures)
3. tato dvandvānabhighātah.
(PYS II-46, 48)
padrões são muito antigos, foram gerados com a evolução das espécies
(filogênese17) e do próprio praticante (ontogênese18).
• Grande parte dos movimentos chamados voluntários são na verdade
automáticos e inconscientes e isso se aplica especialmente aos ajustes
posturais e às várias partes do corpo que os acompanham.
• O sistema nervoso central utiliza seus centros inferiores de integração
para a manutenção da postura e do equilíbrio. Esses centros de inte-
gração estão no bulbo, na ponte, no cerebelo, no mesencéfalo e nos
gânglios da base; quando eles são liberados da influência restritiva dos
centros superiores, especialmente da córtex, segue-se uma atividade
reflexa postural anômala; esses padrões posturais liberados são típicos
e estereotipados e envolvem todos os músculos da parte afetada ou,
algumas vezes, do corpo todo.
17 N R.: Classificações filogenéticas pretendem traduzir a posição de cada organismo em relação
aos seus antepassados, bem como as relações genéticas entre os diferentes organismos atuais.
18 N. R.: Em termos gerais, ontogenia é definida como a história das mudanças estruturais de
uma determinada unidade - que pode ser uma célula, um organismo ou uma sociedade de organis-
mos -, sem que haja perda da organização que permite a existência daquela.
Esses três pontos podem explicar as razões que estão por trás da maioria
dos padrões posturais singulares que são encontrados no sistema de āsanas e
também a razão pela qual deve haver um alívio do esforço na sua execução. O
que é ainda mais interessante, explicam como e porque, uma vez que se tenha
assumido as posturas, com suas várias chaves e travas que contribuem para
a sua manutenção, deve-se tirar toda atenção delas e focalizá-la em alguma
entidade infinita, isto é, recorrer a ananta-samāpatti. O esforço implica numa
atividade dos centros superiores e aqui deseja-se particularmente evitá-la, de
modo a permitir a livre atuação dos centros inferiores. Até mesmo quando o
esforço é aliviado, a simples consciência de que se está em uma postura fora
do normal é suficiente para acarretar a atuação e interferência dos centros
superiores, quer se queira ou não! É por essa razão que Patañjali recomenda
que se retire a mente da postura e que se foque em algum outro ponto, isto é,
que se procure praticar ananta-samāpatti.
Alguém pode perguntar por que Patañjali sugeriria especificamente essa
tentativa de entrar em sintonia com o infinito, em lugar de qualquer outra
coisa? Primeiramente, qualquer outro pensamento provavelmente conduzirá
a um efeito emocional e isso fará com que os centros superiores influenciem
os inferiores imediatamente. Em segundo lugar, essa tentativa, por si só, con-
tribui para o relaxamento. Esse processo é também chamado mahāhradānu-
sandhāna, meditando (anusandhāna) sobre o oceano, ou lago muito grande
(mahāhrada). Enquanto o praticante está praticando dessa maneira, ele se
sente relaxado, flutuando sobre a superfície de um vasto lençol de água, mais
ainda, sente que ele é apenas uma ondulação, ou uma gota, do próprio oce-
19 N. A.: Os centros inferiores e superiores, aqui mencionados, referem-se apenas aos centros
do cérebro. Os superiores são os da córtex e os inferiores são sub-corticais.
ano, ondulando sobre ele, sendo sua própria parte integrante. Na literatura
mística, isso é conhecido como uma sensação oceânica. O praticante só pre-
cisa experimentar essa sensação para saber o quanto é relaxante.
Da argumentação anterior, pode-se facilmente concluir que:
Uma terceira tradição pede que o praticante recorra àquilo que se denomi-
na prānadhārana nessas ocasiões. Isto se faz por meio da observação do fluxo
respiratório, da inspiração e da expiração, procurando sentir sua passagem em
uma parte do próprio nariz. Inicia-se esse processo pela observação inicial
da ponta do nariz. Durante a inspiração, sente-se o ar fresco, mais frio que
o corpo e aquecido ao expirar. Ao fazer isso, o praticante acaba conseguin-
do respirar um pouco mais profunda e ritmicamente. Isso também contribui
20 N. T.: Uma antiga espécie de acrobacias circenses, consistindo de exercícios que o praticante
executa enquanto pendurado por uma corda.
21 N. T.: Antiga arte marcial indiana, o karela é similar ao caratê, executado com o acompanha-
mento de música instrumental e vocal.
EXERCÍCIO
(A) (B)
Passivo (massagem e Ativo
manipulação dos múscu-
los por terceiros)
Exercícios de:
Higiênico Recreativo
(caminhada, trilha,
natação, jogos etc.)
Definição de postura
Postura pode ser definida como uma atitude adotada pelo corpo seja com
apoio (durante atividade muscular), seja por meio da ação coordenada de vá-
rios músculos que trabalhem em conjunto para manter a estabilidade, ou para
formar uma base essencial a qualquer movimento, adaptando-se, constante-
mente, essa base ao tipo do movimento que se sobrepõe a ela.
A) Posturas inativas
B) Posturas ativas
Podem tanto ser estáticas quanto dinâmicas. Só podem ser mantidas por
meio da ação integrada de muitos músculos.
i) Posturas estáticas
22 N. T.: Posturas deitadas, a primeira com o ventre e o rosto voltados para cima (decúbito dor-
sal) e as duas últimas com o ventre e o rosto voltados para o chão (decúbito ventral).
• Aspecto muscular
• Controle nervoso
Em geral, supõe-se que uma postura estável signifique uma atitude em que
há um mínimo de atividade neuromuscular. Que isto não seja assim, já foi
indicado anteriormente, quando no início do tópico dos āsanas. Sherrington
foi citado para dar suporte a esse argumento.
A manutenção e a adaptação posturais se deve a diversas coordenações
neuromusculares delicadas e automáticas. Os vários grupos musculares são
controlados por meio de um sistema de atividade reflexa muito complexo.
Este é o ponto mais importante e crucial para a compreensão do mecanismo
dos āsanas. Os leitores precisam perdoar o autor por insistir muito sobre este
comportamento reflexo, mas este é um aspecto fundamental para a compre-
ensão dos āsanas e de sua diferenciação frente aos exercícios como compre-
endidos no Ocidente. Esse comportamento reflexo não é importante apenas
nos āsanas, mas em todas as outras práticas de Yoga, bem como na compre-
ensão do comportamento emocional. De fato, ao longo de toda a discussão
das práticas de Yoga, será dada ênfase naqueles que, às vezes, são conhecidos
como reflexos tônicos, que não são apenas mais econômicos em termos de
energia, mas que possuem importância psicofisiológica, de grande alcance no
comportamento do ser humano.
A manutenção do tônus muscular, sem dúvida, é altamente essencial para
qualquer funcionamento muscular eficiente. De modo a produzir desempenho
motor suave e intencional, o músculo precisa permanecer num determinado
nem de longe podem ser apropriadas para um tônus muscular adequado. Es-
tresses econômicos e a agitação sociopolítica do dia a dia também contribuem
para esse desequilíbrio de maneira significativa. É verdade que exercícios ao
ar livre e práticas recreativas, tais como caminhadas rápidas, jogos e ginásti-
ca, ajudam muito a contrabalançar as deficiências. Porém, com todas as suas
vantagens, não se pode afirmar que essas atividades abordem o problema do
cultivo de um tônus muscular adequado de maneira sistemática e proposi-
tada. Não resta dúvida que todo exercício de contração implica em alonga-
mento recíproco dos músculos antagonistas, colocando em ação o reflexo de
estiramento. Porém, isso não é feito de uma maneira racional e intencional.
Aqui também é preciso ter em mente que neles há muito mais movimenta-
ção de extremidades (braços e pernas) e os movimentos do tronco são ape-
nas secundários. De maneira geral, trata-se principalmente da atividade de
grandes grupos musculares. Os pequenos músculos profundos extensores da
coluna vertebral (paravertebrais intrínsecos), que no seu conjunto formam
uma grande massa de tecido muscular, raramente são solicitados de maneira
sistemática em qualquer dessas atividades. Particularmente depois de uma
certa idade, a saúde e a flexibilidade dependem mais do tônus desses múscu-
los profundos dos que daqueles das extremidades e membros. Se todos esses
pontos forem levados em consideração, pode-se compreender facilmente a
importância da maneira sistemática com que eles são trabalhados pelos āsa-
nas culturais. Durante sua prática, toda a coluna vertebral é tratada como uma
cadeia de inúmeros elos, com elementos musculares entre cada par e cada
região é submetida sistematicamente a alongamentos e torções direcionadas.
E assim, também são trabalhados os vários músculos da parede abdominal. É
verdade que se imprime maior atenção ao tônus do tronco do que àquele das
extremidades. Porém, há fortes razões para isso. Os músculos das extremida-
des também são muito solicitados ao realizar a sustentação do peso corporal
e para equilibrar os estresses antigravitacionais, o que contribui para um tônus
ideal, sem que haja grande necessidade de fortalecimento extra. Portanto, os
āsanas tonificam o sistema esquelético como um todo, maravilhosamente. É
claro que o efeito não é tanto o de aumento de massa muscular, como pre-
domina na maioria das academias modernas. Porém, o mundo científico de
hoje reconhece que músculos grandes e protuberantes não são um sinal de
saúde e disposição. Nesta era de mecanização científica, não há muito espaço
para esse desenvolvimento muscular extraordinário. Adicionalmente, esses
músculos hiperdesenvolvidos só atuam como parasitas à medida que o corpo
25 N. R.: Costumo orientar meus alunos para que encontrem o limiar entre o desconforto e a dor.
Nesse ponto, o desconforto diminui com a permanência e o relaxamento muscular e mental vai to-
mando espaço, possibilitando uma progressiva desidentificação do praticante enquanto realizador
da postura; por outro lado, além dele, a dor vai se intensificando, o desconforto aumentando e a
pessoa se identifica cada vez mais com ela.
Mudrās e bandhas
27 N. R.: Embora tenha sido uma hipótese bastante comum, a influência de alterações mecânicas
advindas ou não das práticas de Yoga, levando a alterações pressóricas internas no organismo,
não surtem efeito no sistema endócrino, uma vez que se sabe atualmente que este só altera seus
níveis de secreção por estímulos: nervosos, hormonais ou de alteração volêmica (Guyton e Hall,
2010 – Ed. Guanabara). Por outro lado, as alterações pressóricas podem e têm influência no
funcionamento das glândulas exócrinas, como as do estômago e parte do pâncreas. Vale ressaltar
que, ainda hoje, as investigações acerca dos efeitos das práticas de Yoga sobre o sistema endó-
crino são insipientes e muitas afirmações ganham status de verdadeiras sem serem confirmadas
laboratorialmente.
crianças. Eles podem ser praticados a partir dos estágios finais da adolescên-
cia (a partir dos quinze ou dezesseis anos de idade, para os garotos e, doze
ou treze anos no caso das garotas). Porém, como é de conhecimento comum,
a adolescência depende de variáveis raciais, climáticas, individuais e sociais.
Os mudrās utilizados durante os processos de prāṇāyāma são denominados
bandhas, na medida em que eles auxiliam a travar e/ou orientar as pressões
em uma determinada direção.
De fato, experimentos realizados nos laboratórios de Kaivalyadhama
constataram a geração de pressões negativas na cavidade abdominal de até
-80 mmHg durante uḍḍiyāna e -120 mmHg durante nauli.
Alguns mudrās e bandhas são apresentados ao final deste livro, com ins-
truções específicas quanto à sua execução.
Prāṇāyāma
Os vários tipos de prāṇāyāma, tais como são praticados nos dias de hoje
(e há muitos deles), constituem um controle voluntário da respiração e, como
tal, poderiam ser denominados exercícios respiratórios, mas há uma diferen-
ça: a ênfase não se dá sobre a respiração profunda e na concentração de
oxigênio, tal como é comum nos exercícios similares que predominam em
países ocidentais. No prāṇāyāma, a ênfase recai mais sobre o desenvolvi-
mento do estado de kumbhaka, isto é, a fase de suspensão temporária da
respiração. Portanto, na realidade, pode-se considerar que kumbhaka englobe
toda a conotação do termo prāṇāyāma. De fato, no Haṭha Yoga, os prāṇāyā-
mas são conhecidos pelo nome de kumbhaka (āsanaṃ kumbhakaṃ citraṃ
mudrākhyaṃ karaṇaṃ tathā, tato nādānusandhānaṃ haṭhā bhyase kramo
mataḥ, H.Y.P. I-56-57)28.
Os kumbhakas são de três tipos:
28 N. T.: A tradução do sânscrito seria: “Esta é a sequência correta na prática do Haṭha (Yoga):
āsanas, diferentes tipos de kumbhakas, práticas denominadas mudrās, nādānusandhāna.
3) Kevala kumbhaka
Suspensão da respiração em um estágio intermediário, mantendo-se a
pressão intrapulmonar igual à atmosférica. Espera-se que esta última ocorra
automaticamente, depois de uma boa prática das duas primeiras.
(B) Capacidades: Cada um destes termos inclui dois ou mais dos volumes primordiais apresen-
tados acima.
1. Capacidade pulmonar total: é a quantidade de ar nos pulmões após a inspiração máxima.
2. Capacidade vital: é o volume máximo de ar que os pulmões podem expelir, por meio de
esforço intenso, após uma inspiração máxima.
3. Capacidade inspiratória: é o volume máximo de ar que pode ser inspirado, a partir do final
da expiração normal.
4. Capacidade residual funcional: é o volume de ar que permanece nos pulmões, após o final
da expiração normal.
(A posição de descanso do final da expiração varia menos do que a posição do fim da inspiração.
Por isso, prefere-se utilizar a primeira como uma linha de referência, em lugar da última).
30 N. T.: Os elementos que formam o diafragma pélvico são o músculo elevador do ânus e os
músculos coccígeos. Juntos, o diafragma pélvico e o diafragma urogenital, compõem o períneo,
ou assoalho pélvico, que é um conjunto de partes moles que fecham inferiormente a pelve óssea.
Eles têm como função o controle da micção, da defecação, dos esfíncteres vesicais e anais durante
tosse e espirro, além de sustentar as vísceras intrapélvicas.
i) Pūraka
Fase da inspiração controlada, contrariamente a śvāsa que é o termo uti-
lizado para o processo automático ou não controlado da inspiração. Embora
na maioria dos casos pūrakas sejam praticados lentamente, com o objetivo
de prolongar sua duração e reduzir a força inspiratória (sendo esses dois in-
versamente proporcionais), há alguns prāṇāyāmas em que se solicita que o
praticante faça o contrário, ou seja, que inspire rapidamente, bem como ex-
pire rapidamente, de modo que o ciclo todo dure meio segundo, tal como no
primeiro estágio de bhastrikā.
ii) Kumbhaka
Aplica-se este termo à fase da suspensão controlada da respiração.
iii) Recaka
É a fase da expiração controlada, mantida por uma duração pro-
longada e com alguma pressão interna. O termo praśvāsa é utilizado
para a expiração automática e normal. Em geral, recomenda-se que o
praticante proporcione a esta fase, o dobro do tempo concedido à fase
de inspiração. Como relatado acima, há ocasiões em que se solicita que
o praticante inspire e expire rapidamente, por exemplo, no primeiro
estágio de bhastrikā.
iv) Śūnyaka
É a suspensão da respiração após a expiração completa. (Kumbhaka
e śūnyaka, por vezes, são respectivamente chamados pūrna ou ābhyan-
tara kumbhaka e, śūnya ou bāhya kumbhaka).
31 N. T.: Parte superior do abdome, entre o umbigo e o arco das costelas.
32 N. R.: Embora haja a sensação de enchimento gástrico, é preciso notar que o ar NUNCA
enche o abdome durante os processos respiratórios. Essa sensação ocorre devido ao movimento
descendente do diafragma, que empurra as vísceras, as quais são comprimidas tanto pela mus-
culatura abdominal quanto pelo assoalho pélvico. O movimento de expansão abdominal ocorre,
portanto, devido a movimentos orgânicos e não do ar na cavidade abdominal. Essa explicação é
necessária, pois muitos praticante e mesmo professores de Yoga falam em levar o ar para o estô-
mago, mas, na realidade, se referem à sensação de enchimento à qual o Swami Kuvalayananda se
refere nesta parte do texto.
33 N. R.: Apesar da recomendação dos autores para que os praticantes sintam tais sensações du-
rante a prática de técnicas respiratórias, é consenso entre os professores mais experientes da atuali-
dade que tais experiências ou a busca delas possam levar a sensações muitas vezes desconfortáveis
e geradoras de desequilíbrios psicológicos, como ansiedade e humores negativos. Antigamente,
a prática de prāṇāyāma era realizada e orientada de maneira muito mais próxima entre mestre e
discípulos, sendo as impressões e sensações internas muito mais facilmente acompanhadas pelo
orientador mais experiente, de maneira que havia uma maior cautela e segurança na busca de tais
estados. Dessa forma, desaconselhamos que o praticante persiga tais sensações de maneira auto-
didata, sob risco de prejudicar sua saúde física e mental.
34 N. T.: Dr. Alvan L. Barach, consultor médico do Hospital Presbiteriano de Nova York, con-
tribuiu com inúmeros trabalhos cobrindo todas as fases do tratamento para pacientes com defici-
ências respiratórias. Destaca-se um manual ilustrado para o tratamento de pacientes com enfisema
que ele preparou, representando as experiências de uma vida e que se constituiu em uma bíblia
de terapia dirigida para os profissionais da área: A treatment manual for patients wth pulmonary
emphysema by ALVAN L . BARACH M. D., Grune and Stratton, New York and London, 1969.
35 N. T.: Os receptores de estiramento são encontrados nos brônquios e bronquíolos. São sen-
sores reflexos que inibem a inspiração, quando detectam que os bronquíolos já se estenderam até
determinado limite.
3. Por último, a parede elevada do tórax fica livre para se voltar lenta-
mente para baixo, levando a expiração até o ponto em que o praticante
sente que não pode expirar mais. [Figura 2f]
36 N. R.: Este tipo de uḍḍiyāna bandha é muito parecido com aquele que se pratica quando a
técnica é treinada independentemente, não inserida no contexto de um ciclo de pranayama, ou
seja, com os pulmões vazios. A única diferença é que aqui o tórax está em situação de expiração
máxima, com o arco costal abaixado e na técnica isolada o arco costal é expandido, pela ativação
dos músculos da inspiração forçada, que os elevam, enquanto a glote permanece fechada, evitando
que o ar entre. Dessa forma, nas duas situações se experimenta um vazio no baixo abdome, mas
ele é maior quando a prática é realizada isoladamente.
37 N. R.: Mala pode ser compreendido como toxina, que pode se expressar tanto como intoxica-
ção física, alimentar, quanto mental, relacionada a pensamentos problemáticos. Explicações mais
aprofundadas acerca desse termo podem ser obtidas nos textos tradicionais da medicina ayurvédi-
ca, como o Ashtanga Hridaya e o Charaka Samhita.
Ujjāyī prāṇāyāma
dentro dos pulmões) o trabalho deve ser feito com o tórax. O aprendiz deve
expandi-lo e o ar deve entrar automaticamente. Ao longo da inspiração, a glo-
te deve ser parcialmente fechada. Este fechamento parcial da glote produz um
som contínuo parecido com aquele que é produzido quando a pessoa chora
copiosamente e, ao ficar sem fôlego, suga o ar em uma inspiração sôfrega. A
diferença é que nessas situações o som é abrupto e quebrado, enquanto aqui
ele é contínuo38. Quando da inspiração, nem os músculos faciais, nem os do
nariz devem ser contraídos. A contração de músculos faciais não tem ne-
nhuma utilidade na inspiração. Algumas pessoas adquirem o hábito de fazer
caretas ao inspirar, o que deve ser totalmente evitado.
Tal como descrito de início, deve ser dada muita atenção aos músculos
abdominais. Eles devem ser mantidos em leve contração, que deve perdurar
ao longo de toda a inspiração. Os professores de Educação Física ocidentais
aconselham seus alunos a expandir o abdome durante a inspiração. Isto se
deve a algumas concepções errôneas acerca da fisiologia da respiração pro-
funda. Eles parecem acreditar que, expandindo o abdome, conseguem captar
uma maior quantidade de ar fresco e, portanto, de oxigênio. Entretanto, nas
evidências obtidas no laboratório do āshram, concluímos ser este um erro de
julgamento. Percebemos que o abdome controlado (mantido com um tônus
médio durante a inspiração) permite a captação de mais oxigênio do que o
abdome expandido. No que concerne à interação neuromuscular, a manu-
tenção dos músculos abdominais sob controle leva uma vantagem decisiva
em relação aos músculos abdominais relaxados. Aqui a terminologia utilizada
não é prānāyāma, mas propositadamente respiração profunda. Os efeitos fi-
siológicos do prānāyāma são enormemente diferentes daqueles da respiração
profunda. Assim, deve ficar claro que a utilização de prānāyāma e respiração
profunda como sinônimos é um erro enorme.
Todo o processo da inspiração deve ser suave e uniforme. O som que a
acompanha, em virtude da fricção proporcionada pelo fechamento parcial
da glote, também deve ser de tom baixo, suave e uniforme. Deve-se evitar
cautelosamente toda e qualquer fricção no nariz, especialmente na região ol-
fativa. Esta fricção é frequentemente responsável por distúrbios no cérebro,
causados por práticas equivocadas de prānāyāma. Quando atingido o limite
38 N. R.: Outra analogia que ajuda na compreensão deste recurso durante ujjāyī é imaginar que
se tenta embassar a lente de um par de óculos na expiração, mantendo a glote em posição seme-
lhante durante a inspiração.
39 N. R.: Uma busca atualizada no site da National Library of Health dos Estados Unidos, o
pubmed.gov, mostra que há um grande interesse atual na investigação dos efeitos psicofisiológicos
das práticas respiratórias do Yoga. Utilizando-se o termo pranayama como buscador, consegue-se
o retorno de 276 artigos; quando se utiliza pranayama e depression, por exemplo, retornam 37
artigos (busca realizada em março de 2019).
kevala-kumbhaka: afirma-se que isto faz cair o véu que encobre a luz, isto é,
que encobre a compreensão intuitiva da realidade. O prāṇāyāma é de grande
auxílio na produção de sedação nervosa.
Os antigos yogins parecem reivindicar resultados ainda maiores para o
prāṇāyāma. Eles parecem pleitear que o prāṇāyāma não contribui apenas
para o nādiśuddhi (limpeza dos nādis), mas que ele pode ainda efetuar uma
alteração nas vias pelas quais os impulsos nervosos percorrem o cérebro, re-
sultando em uma mente constantemente estável e equilibrada. Através dos
prāṇāyāmas, praticados corretamente, integra-se adequadamente todo o sis-
tema nervoso e então, os impulsos passam facilmente através de suṣumṇā,
o canal central, após eliminar a oclusão que bloqueava essa passagem. Os
impulsos que, assim, percorrem o canal central, promovem a estabilidade (e
equilíbrio) da mente. H.Y.P. II-41: “Quando o grupo dos nādis se purifica
pela prática regular de prāṇāyama, māruta (prana) pode percorrer suṣumṇā
facilmente.” e II-42: “O equilíbrio da mente ocorre quando vayu transita li-
vremente no canal central. Essa é a condição denominada manonmani, que
ocorre quando a mente se torna tranquila”.
Esses textos tradicionais afirmam que o circuito desses impulsos, normal-
mente, ocorre através das regiões laterais e que isso produz o egocentrismo
e a instabilidade da mente. Se, por outro lado, os impulsos percorressem o
circuito central, isso contribuiria para a paz e o equilíbrio mental. Assim,
as energias mentais poderiam ser facilmente controladas e canalizadas para
fins mais elevados. Normalmente, todavia, esse caminho central permanece
ocluso por kapha. Prāṇāyāma, especialmente em sua variedade bhastrikā
(H.Y.P II 59-67), ajuda a romper essas obstruções e a liberar a passagem,
isto é, ajuda a ativá-la. II-65: “Isso (bhastrikā ) destrói os distúrbios de Vata,
Pitta e Kapha e aumenta o poder digestivo (agni).” e II-66: “Esse processo
rapidamente desperta kundalini, purifica o sistema, confere prazer e é benéfi-
co. Destrói distúrbios de fleuma (muco) e impurezas acumuladas na entrada
de Brahma Nadi.” Uma vez aberto esse circuito central, gradualmente, ele se
estabelece cada vez mais, resultando em estabilidade mental cada vez maior.
A esta altura, é interessante notar que em 1954 o Dr. Heath da Tulane Uni-
versity e seus colegas, trabalhando com os problemas da esquizofrenia, pos-
tularam uma hipótese de dois circuitos separados no cérebro: (1) um circuito
facilitador que corre através da região do septo e, (2) um inibidor que opera
através das regiões laterais. O Departamento de Psiquiatria e Neurologia da
Tulane University realizou um grande trabalho para desenvolver essa teoria,
como em kevala kumbhaka, isto pode ser devido a esse centro. Descobriu-se,
também, que a extremidade do lobo temporal contém o centro da consciên-
cia do ego. Talvez seja a proximidade entre esses dois centros que torna o
prāṇāyāma tão importante para os yogins pois, de acordo com eles, a ces-
sação da respiração também produz a cessação da consciência do ego, que é
considerado a semente de toda a dicotomia do pensamento ou do comporta-
mento do homem. A predominância indevida de ativação dessa consciência
do ego é a responsável por muitas condições neuróticas.
Capítulo IV
• Nariz
• Jala kapālabhāti;
• Neti e
• Vāta kapālabhāti.
• Vyutkrama kapālabhāti
• Seetkrama kapālabhāti
Limpe a boca, gargarejando com água limpa uma ou duas vezes. Depois
disso, encha a boca com água, adote a mesma posição de palato e mandíbula
anteriormente descritas (abaixados). Então, curve-se um pouco para frente e
para baixo, assopre pelo nariz, empurrando, ao mesmo tempo, a água de volta
à boca (para isso, toque a parte de trás da língua na parte posterior do palato
duro, tal como se faz ao emitir um som gutural). Dessa forma, a água fluirá
para fora ao longo do assoalho nasal.
• Jalaneti moderno
Mistura-se sal à água, numa concentração que pode variar desde hipertô-
nica até hipotônica. A temperatura da água também pode variar desde morna
(de fato, suportavelmente quente) até fria. De início, entretanto, utiliza-se
água tépida (na temperatura do corpo) com salinidade normal. A concentra-
ção da solução e sua temperatura são elevadas gradualmente até hipertônica e
morna (quente) dentro de limites toleráveis e, mais tarde, abaixadas a um ní-
vel hipotônico e frio, até que finalmente se possa utilizar, para esse propósito,
água comum fria, sem irritação das membranas mucosas do nariz.
A ideia subjacente a esse processo todo não é apenas limpar o nariz, mas
aclimatar sua mucosa às variadas mudanças na temperatura e na pressão os-
mótica do ar ambiental. Um nariz assim aclimatado estará naturalmente apto
a adaptar seu ritmo vasomotor às inclemências do clima.
Este processo nada mais é do que uma rápida e repetida ação de assoprar o
nariz, sem submetê-lo a nenhum tipo de pressão contrária (como normalmen-
te se faz ao apertar levemente o nariz). Considera-se que o método comum de
assoar o nariz seja responsável por muitas das complicações da rinite crônica,
por exemplo, a sinusite, desvios do septo etc., que, por sua vez, somam-se
em um ciclo vicioso. A ação de apertar o nariz, juntamente com a mucosa
inflamada e congestionada, impede que as secreções sejam expulsas e estas,
submetidas dessa maneira a pressões de ambos os lados, são naturalmente
empurradas para os vários seios nasais, o que faz com que a infecção se alas-
tre para esses locais de difícil acesso e limpeza. Da mesma forma, a pressão
elevada que se exerce sobre a narina que está congestionada, durante esse
assopro, é aplicada ao septo central, empurrando-o para o outro lado e, caso
esse processo se repita frequentemente, produzirá um desvio.
No kapālabhāti as narinas são mantidas bem abertas. Elas devem ser pre-
viamente limpas e desobstruídas de seus materiais congestionantes através
dos netis. O praticante assopra com força, por meio da contração das partes
baixa e intermediária do abdome. No processo, o ânus e o assoalho pélvico
também são contraídos automaticamente, mas é melhor atentar para isso e
auxiliar o processo voluntariamente, contraindo a região e elevando o diafrag-
ma pélvico. Isto, por sua vez, incrementa a força de expiração e de assopro,
40 N. A.: O Gheranḍa Samhitā confere esse nome à respiração alternada descrita no tópico
prāṇāyāma. A exceção é que, nele, não há retenção da respiração. Esta acima é a forma de
kapālabhāti tradicionalmente aceita em toda a Índia.
• Faringe
ele não encontra saída, a pressão do fluido irrompe pelo tímpano ocasionando
uma secreção crônica através do ouvido (otorreia).
Este é um histórico resumido da faringite e da tonsilite (amigdalite) crô-
nicas e de suas complicações. A partir dessa descrição, é fácil concluir que a
melhor profilaxia é assegurar um bom suprimento de sangue às tonsilas, por
meio do exercício dos músculos faríngeos. O Yoga faz isso recorrendo a dois
excelentes exercícios denominados jihvā bandha e siṃha mudrā.
43 N. T.: Pó de terminalia chebula possui propriedades antibacterianas, muito utilizado na na-
turopatia indiana.
• Brahma mudrā
Esta prática recebe esse nome por simbolizar as quatro cabeças de Brahmā,
um dos deuses da trindade hinduísta. Neste exercício, vira-se a cabeça para a
esquerda, para a direita, para trás e para frente.
Lentamente, solte a cabeça para trás, estendendo o pescoço até o limite de
sua mobilidade e direcione o olhar para a ponta do nariz, pressionando firme-
mente os dentes entre si. Mantenha a cabeça relaxada nessa posição por dois
ou três segundos. Então, lentamente, leve a cabeça para baixo e pressione o
queixo contra a parede do tórax (osso esterno). Dirija o olhar para um ponto
entre as sobrancelhas (a raiz do nariz), novamente com os dentes firmemen-
te pressionados, mantenha o pescoço flexionado e relaxado por dois ou três
segundos. Traga a cabeça à posição inicial, neutra e, então, gire-a lentamente
para a direita, tanto quanto possível, procurando trazê-la por sobre o ombro,
com o pescoço ereto. Não incline a cabeça neste processo. Procure olhar
para trás pela direita, tanto quanto possível, mantendo essa posição por dois
ou três segundos. Então, retorne a cabeça lentamente para frente e repita da
mesma maneira para o lado esquerdo, isto é, dirigindo o queixo em direção
ao ombro esquerdo e o olhar para a esquerda tão para trás quanto possível.
Mantenha esta posição por dois ou três segundos e então traga a cabeça de
volta à posição inicial. Isto constitui uma rodada completa de brahma mudrā.
Para começar, três rodadas serão suficientes, adicionando uma rodada por
semana, chega-se a seis rodadas, que constituem uma dose normal.
Brahma mudrā não apenas tonifica os músculos do pescoço, mas também
descongestiona as partes que o constituem, produzindo uma boa circulação
nas regiões superiores.
Com todos esses efeitos, os netis, o kapālabhāti e os outros exercícios
mencionados anteriormente constituem um bom tratamento local para as do-
enças crônicas de ouvido, nariz e garganta.
44 N. T.: O termo anfi denota duplicidade. Em química se diz de um composto que pode agir
tanto como um ácido quanto como uma base. Por exemplo, o hidróxido de alumínio é anfotérico:
como uma base Al(OH)3 reage com um ácido formando íons de alumínio; como um ácido H3A-
lO3 reage com uma base formando aluminatos.
• Danḍa-dhauti
da água se inicie novamente. Você aprenderá a fazer isso com facilidade den-
tro de poucos dias e, a partir de então, a técnica ficará muito fácil, ainda que,
de início, pareça difícil e repugnante!
Devido ao seu calor, a água quente possui uma influência liquefaciente
reflexa sobre todas as secreções. Quando o praticante passa o tubo (danda)
pelo esôfago, isso estimula as paredes da traqueia (o tubo da respiração). A
ação esofágica se reflete na traqueia, ajudando a expelir o catarro do tórax.
Assim, este procedimento não ajuda apenas como uma lavagem gástrica, mas
também como um bom expectorante. A ânsia de vômito (reflexo) relaxa as
paredes dos brônquios e as abre de modo a permitir que as secreções saiam.
Na crise de asma, em especial, as paredes dos brônquios sofrem espasmo e
o muco obstrui a passagem de saída do ar, formando-se uma válvula que só
permite passagem em um sentido, o da entrada. Uma pessoa asmática, sen-
tindo que uma crise se aproxima, pode executar danḍa-dhauti nos primeiros
sintomas de dificuldade respiratória, de maneira a prevenir uma crise iminen-
te. Esta é uma experiência comum para os pacientes de asma, submetidos ao
tratamento yogin. (Caso o conteúdo de muco no estômago seja muito grosso
e pegajoso, melhor que uma solução meramente salina, será a utilização de
uma solução com bicarbonato de sódio. Esta substância não apenas ajuda a
dissolver o muco, mas também o gás de ácido carbônico que ele libera ajuda
a estimular as paredes gástricas, aumentando sua atividade.)
• Vastra dhauti
limpando-as e retirando o muco excedente que as reveste e que obstrui sua se-
creção natural de sucos gástricos, estimulando-as à ação peristáltica normal.
Ambas as técnicas, danḍa dhauti e vastra dhauti, possuem grande valor
ao remediar condições dispépticas.46 É de conhecimento geral que muitas das
doenças respiratórias e até mesmo algumas doenças cardíacas são agravadas
por condições dispépticas do estômago. No entanto, como afirmado de início,
a Yogaterapia não tem por costume prescrever esses dois dhautis para a hipe-
racidez estomacal, com exceção aos propósitos meramente aliviatórios. Isso
porque toda lavagem desse tipo estimula as glândulas estomacais a produzir
mais secreções, o que apenas agrava a situação em longo prazo. A utiliza-
ção de loções de bicarbonato de sódio complica ainda mais a situação, pois,
apesar de neutralizar as secreções ácidas momentaneamente, há a liberação
de ácido carbônico em forma de gás a cada vez que a pessoa ingere o bi-
carbonato, o que irrita a mucosa estomacal e agrava a tendência à secreção
ácida. Por isso, os terapeutas yogins não aprovam as lavagens gástricas como
procedimento para o tratamento de condições de hipercloridria e de úlcera
péptica. Em vez disso, eles recomendam uma dieta altamente proteica, para
a utilização dos ácidos, com um conteúdo adequado de gordura para inibir
sua secreção. Com esse propósito, leite com ghee é considerado o melhor re-
médio. As outras alternativas nesse tratamento estão todas na linha sedativa.
• Vamana dhauti
Caso o praticante não tenha recorrido a danḍa dhauti, nem a vastra dhauti
e, ainda assim, deseje passar por uma lavagem estomacal, este é o procedi-
mento que se adota para o vômito intencional.
Beba tanta água morna e salina quanto possível e então dirija-se a uma ba-
cia ou pia. Curvando-se um pouco para frente, insira os três dedos médios na
boca, friccionando o palato mole e a parede faríngea. Isso dá início à ânsia de
vômito e a água é expelida em golfadas. Com a cessação do reflexo, repita o
procedimento com os dedos para iniciar o processo novamente. Faça isso até
que sinta ter expelido a última gota. Este é um recurso comum que pode ser
adotado sempre que sentir náuseas, ou tiver uma sensação de azia. É uma boa
maneira de se obter alívio em tais ocasiões. Aqueles com maiores dificulda-
des de iniciar o reflexo do vômito podem projetar a língua para fora da boca
tentativa expiratória controlada, faz com que a água seja expulsa em um fluxo
forçado constante.
A despeito de sua aparência exibicionista, gajakaraṇi possui elevado valor
terapêutico. A pressão elevada que é criada na parte alta da cavidade abdomi-
nal exerce um efeito estimulante nas vísceras locais, como o fígado, o baço,
o pâncreas etc. Assim, este é um exercício muito bom para fígado e pâncreas
preguiçosos. Com essa finalidade, o exercício pode ser praticado sem que se
beba água.
A prática anterior, vamana dhauti, às vezes leva o nome de vyāghra-ka-
raṇi ou ação do tigre. Em línguas do norte da Índia, elas são chamadas kuñjali
e bāghi. Os nomes são muito apropriados quando se leva em consideração a
maneira como a água é expulsa em ambas as práticas. Em gajakaraṇi ou kuñ-
jali, a pressão exercida no estômago é constante e sustentada e há um maior
controle da glote, que é mantida aberta para permitir um fluxo constante de
saída da água, enquanto em vyāghra-karaṇi ou bāghi (vamana dhauti) há uma
ação de esforço de vômito intermitente e a pressão exercida no estômago não
é contínua; a glote também só abre enquanto se submete à pressão da água
expulsa em golfadas. Os tigres (gatos e, às vezes, cães) são conhecidos por ex-
pulsarem o conteúdo estomacal por esse tipo de esforço de vômito. Assim, as
técnicas poderiam ser chamadas ações elefantinas e felinas, respectivamente.
Estudos realizados em Kaivalyadhama com registros quimiográficos de-
monstram a manutenção de uma pressão positiva por aproximadamente 40
segundos em gajakarani. Em vyāghrakaraṇi, constatou-se surtos isolados de
pressão positiva, cada um de 1 a 2 segundos, por ser acompanhada da ação
da ânsia de vômito.
• Vātasāra
Lavagem e estimulação dos intestinos por meio de ar.
• Vārisāra ou śankha-prakṣālana
Lavagem e estimulação dos intestinos por meio de água.
• Agnisāra
• Vātasāra
Procure engolir tanto ar quanto possível, enchendo a boca e estimulando
voluntariamente a deglutição. Em geral, considera-se que 20 a 30 goles se-
jam suficientes. Se for apenas deglutido, o ar poderá seguir 3 caminhos: 1)
ser eliminado novamente pela boca; 2) pela extremidade do intestino ou 3)
ser absorvido pelos tecidos. Porém, caso o praticante queira passar por uma
lavagem com ar, ele deverá recorrer ao que no Yoga se denomina nauli-kriyā,
ou seja, o isolamento e a manipulação dos músculos retos e oblíquos abdo-
minais. Este procedimento gera uma pressão negativa no abdome e no canal
alimentar, que se movimenta dessa maneira por conta da manipulação da
musculatura abdominal. Isto estimula a ação peristáltica, além de permitir
que o ar circule rapidamente, sem que haja muita absorção. Essa aeração de
todo o trato gastrointestinal é considerada muito útil para a higiene alimentar.
Seus efeitos são reconhecidos também pela medicina moderna. Nos casos de
tuberculose abdominal, muitas vezes, o cirurgião se limita apenas a abrir o
abdome, arejá-lo por um tempo, para fechá-lo novamente. Descobriu-se que
isso tem um efeito muito benéfico.
suco de limão. Isto ajuda a aumentar a pressão osmótica da água e facilita sua
rápida passagem através dos intestinos, sem que haja absorção. Normalmente,
leva de meia hora até duas horas para que a água saia pela outra extremi-
dade do tubo digestivo. Porém, um praticante de Yoga acelera o processo,
recorrendo a algumas práticas específicas que ajudam a facilitar e a acelerar
a passagem da água.
Em geral, recorre-se a viparīta karaṇi (4 a 5 minutos), mayūrāsana (3
a 4 vezes) por tanto tempo quanto possível e, então, pāda-hastāsana (3 a 4
vezes). Depois disso, realiza-se nauli kriyā, mencionado anteriormente, o que
ajuda a descarga dos intestinos dentro de 5 a 10 minutos, de maneira que o
praticante sente necessidade de evacuar. Caso a pessoa não consiga executar
mayūrāsana, poderá substituí-lo por śalabhāsana. Pessoas debilitadas fisica-
mente podem utilizar o plano inclinado como substituto para viparīta karaṇi
e executar o pavana-muktāsana e o janu vaksāsana em seguida.48
O suco de limão não possui apenas uma ação laxativa sobre os intestinos,
mas é também um motivador do apetite. À medida que o praticante progride
na prática, poderá dispensar o sal e o suco de limão, e executar o kriyā apenas
com água pura e tépida. Para isso, será melhor engolir, junto com a água,
um pouco de ar. O ar que se engole nesse processo se mistura à água, ajuda
a emulsioná-la e impede sua absorção, assim como ajuda a sua evacuação
rápida. Depois dessas evacuações, o praticante recorre a vamana dhauti, de
modo a parar a hiperperistalse e também para expulsar qualquer água salina
que possa ter permanecido no estômago. Uma lavagem tradicional completa
demanda algumas horas, e deve ser executada sob orientação e supervisão.
• Agnisāra
Tal como indicado anteriormente, o nome dessa prática significa que ela
se destina a avivar o fogo gástrico e a fazê-lo queimar brilhantemente, isto é,
visa estimular a secreção de enzimas digestivas, denominadas pācaka-pitta ou
jaṭharāgni na medicina ayurvédica. Outra função dessa prática é fazer com
que tais enzimas possam digerir o material ingerido na alimentação.
• Vāta basti
Tanto para esta técnica quanto para vāri basti, a tradição do Yoga reco-
menda o uso de um tubo retal de madeira. Porém, atualmente utiliza-se um
tubo de borracha para flatulência. Os especialistas que praticam há muito tem-
• Vāri basti
Uma vez que a água seja admitida dessa maneira, o praticante passa a ma-
nipular os músculos abdominais (nauli kriyā), repetindo-o da esquerda para a
direita várias vezes, 20 a 40, e, então, novamente do mesmo modo da direita
para a esquerda. Isto deve ser feito rapidamente, demandando apenas um a
dois minutos. Isto ajuda a movimentação da água no interior do cólon, do
sigmoide ao ceco e vice-versa, e limpa todo o intestino grosso.
Após a evacuação, a tradição recomenda que o praticante execute mayūrā-
sana, com as pernas flexionadas nos joelhos e afastadas. Isto ajuda na eva-
cuação completa do cólon, visto que a pressão, assim exercida, estimula mais
peristaltismo intestinal, conduzindo a água que pode ter sobrado no intestino,
de maneira que seja eliminada quando o praticante voltar à toalete.
Essa lavagem yogin do cólon possui uma vantagem decisiva sobre os ene-
mas modernos. Nos enemas, faz-se a água fluir para dentro do intestino sob
grande pressão, seja pela utilização da gravidade, seja pela do bulbo compres-
sível. Isto dilata as paredes do reto e do cólon e ajuda a limpar as extremi-
dades do tubo digestivo, o que pode ser chamado de enema baixo. É apenas
quando se sustenta a água por mais tempo que ela tende a penetrar um pouco
mais. De modo a executar uma ação de limpeza completa, um enema alto,
o praticante deve deixar a água entrar lentamente, deitado sobre seu lado
direito, de modo a deixar a água fluir gravitacionalmente em direção ao ceco.
A água deve ser retida tanto quanto o praticante possa suportar e, então,
evacuada. Mesmo assim, isso não ajuda a limpar bem o cólon. Ademais, caso
esses enemas sejam realizados com frequência, o cólon perderá seu tônus,
tornando-se ainda mais preguiçoso. Basti, por outro lado, contribui para o
tônus do cólon, pois a água entra por sucção e sofre manipulação interior,
apenas pela ação do próprio cólon.
• Ganeśa kriyā
kriyās (processos purificatórios) apenas para aqueles que têm muita tendência
à formação de muco, ou à obesidade, deixando claro que as demais pessoas
não devem recorrer a eles (H.Y.P II-2149).
Dieta yogin
49 N. T.: Aqueles que possuem excesso de gordura ou muco devem praticar de antemão os seis
processos purificatórios (dhauti, basti, neti, trātaka, nauli e kapālabhāti, isto é, antes de tentar
o kumbhaka). Aqueles nos quais os três humores (dośas) estiverem equilibrados não precisam
praticá-los. (Tradução do sânscrito de Swami Digambaraji e de Pt. Raghunatha Shastri Kokaje,
em publicação do Instituto de Kaivalyadhama).
outras práticas yogins que são realizadas mais adiante no programa dessa
autodisciplina estimulam principalmente o sistema parassimpático do corpo
e isso parece compensar este aumento da atividade simpática. Entretanto, o
metabolismo leva algum tempo para reconquistar seu equilíbrio normal, o
que ocorre após algum período de prática constante. Essas conjecturas se
baseiam nas observações empíricas que os antigos fizeram dos resultados ex-
teriores dessas práticas e nas instruções que eles emitiram de modo a anular
os efeitos indesejados. Assim, afirma-se que, nos estágios iniciais das práticas
yogins, há um decréscimo na quantidade de urina e de fezes; uma tendência a
reter sais de sódio e água no sistema; uma alta sensibilidade geral do sistema
nervoso na reação a estímulos externos e assim por diante. Como precaução
contra isso, durante os estágios iniciais das práticas yogins, recomenda-se o
seguinte:
1. Recorrer a uma dieta de baixo valor proteico, com o mínimo possível
de sal, principalmente o de sódio e abster-se de todos os artigos ali-
mentares com propriedades irritantes ou estimulantes.
2. Evitar todas as atividades extenuantes, até mesmo caminhadas longas
e aceleradas.
3. Em vista da recomendação de uma abstenção generalizada do sal,
evitar a perda de sais que já estejam no corpo. Com esse objetivo,
recomenda-se evitar permanecer perto do fogo, assim como manter
relações sexuais e realizar longas caminhadas (partindo-se do pressu-
posto que o estudante de Yoga terá evitado outros excessos), de ma-
neira a reduzir ao mínimo a sudorese.
4. Realizar o autotreinamento no cultivo de uma perspectiva impessoal
da vida, de modo a evitar irritar-se nos seus relacionamentos interpes-
soais. Devem ser evitadas todas as tendências no sentido da irritação
e do ressentimento, tal como indicado no capítulo sobre o cultivo de
atitudes psicológicas corretas, por sabê-las prejudiciais a si mesmo, no
mais longo prazo.
50 N. A.: Dukes, Sir Paul: Yoga of health, youth and joy (Cassel, London)
Capítulo V
51 N. A.: BURROW, Trigant: The neurosis of man (Routledge Kegan Paul, London).
53 N. T.: A Dra. Alfreda Galt, presidente da Lifwynn Foundation, esclarece adicionalmente
estes termos: O Dr. Burrow cunhou o termo ditenção para significar a atenção dividida de nossa
maneira normal de nos relacionarmos. Na ditenção, o interesse não flui diretamente aos objetos e
às pessoas que nos estão à volta; ela se divide de volta à nossa auto-imagem (como estou me sain-
do? será que essas pessoas gostam de mim? o que será que esperam de mim nesta situação? o que
é que estou ganhando com isto? etc.) Porém, quando esses estímulos da Eu-Persona são suspensos,
a cotenção se estabelece naturalmente, não como uma restauração de nosso estado infantil, mas,
como uma realização amadurecida de poderes orgânicos, incluindo-se aí a capacidade simbólica.
A cotenção é uma função interrelacional; ela incorpora a experiência sentida de nosso substrato
comum do sentimento e implica na continuidade fílica que une a espécie humana. “Assim como
o esqueleto ósseo é a sustentação estrutural do organismo, assim também a cotenção é o suporte
funcional do organismo. É o contra-peso do indivíduo, é a homeostase do phylum”.
Epílogo
O intuito neste livro foi delinear as linhas gerais dos vários procedimentos
utilizados na Yogaterapia, os princípios nos quais se baseiam e oferecer uma
explicação científica sobre seus efeitos. Essa terapia pode de fato ter valor
prático, desde que seus princípios não sejam misturados àqueles de qualquer
outra terapia. Mesmo em algumas das escolas modernas de Yoga, encontram-
-se fortes tendências e tentações à mistura, seja de maneira inocente, para
obter aval às suas teorias, ou para adicionar elegância às demonstrações. Pro-
fissionais da medicina, por outro lado, tendem a encarar o sistema como uma
forma de terapia por exercícios especiais. É verdade que os procedimentos
terapêuticos yogins contêm alguns exercícios, mas deve-se notar que a fisio-
logia dos exercícios comuns, violentos e dinâmicos, não pode ser aplicada
àqueles do Yoga. Todavia, a Yogaterapia não consiste de meros exercícios; é
um procedimento de tratamento composto, que dá atenção a todos os aspec-
tos da personalidade humana.
Ao encarar esses procedimentos de um ponto de vista terapêutico geral,
nota-se que esses métodos são indicados apenas para o tratamento de alguns
problemas crônicos. Ainda que a prática do Haṭha Yoga possa remediar mui-
tas disfunções metabólicas e até mesmo algumas deformidades e incapacita-
ções físicas, o verdadeiro lugar da Yogaterapia está no campo psicossomático
da medicina, onde parece possuir uma aplicação especial. Assim também,
casos de neurose vegetativa, em que a causa seja conhecida pelo paciente,
podem ser atacados diretamente por esta terapia, com considerável sucesso.
Casos de neurose de conversão podem demandar auxílio de métodos de psi-
canálise e outros recursos para uma cura completa. Caso este último seja pre-
cedido por um curso de práticas de Haṭha Yoga, como citado anteriormente,
auxiliando a desfazer tensões, o praticante pode ter sucesso até mesmo com
uma psicoterapia muito superficial e de curta duração.
A Yogaterapia, portanto, pode não ser muito útil em doenças agudas, nem
em processos infecciosos, mas como indicado anteriormente, pode prevenir
essas agressões por meio da melhoria geral da resistência e imunidade indi-
viduais. Pode também proporcionar tratamento auxiliar na reabilitação, de-
pois que a doença tenha sido tratada com sucesso pela medicina tradicional,
ajudando no restabelecimento de todas as funções fisiológicas e psicológicas
individuais, uma vez que somente quando isso ocorre pode-se afirmar que
ocorreu uma verdadeira cura das doenças. Em processos infecciosos crôni-
cos, a Yogaterapia também pode proporcionar um tratamento auxiliar eficaz.
Tudo isso, todavia, demandará um bom entendimento e cooperação entre o
médico e o yogaterapeuta.
Os āsanas e prānāyāmas são comuns a ambos, tanto ao Yoga de Patañjali
quanto ao Haṭha Yoga. Porém, no Haṭha Yoga, os processos envolvidos são
mais variáveis do que aqueles do Yoga de Patañjali. A ação mais específica
do Haṭha Yoga, todavia, repousa no emprego minucioso de kriyās, bandhas e
mudrās. Os dois últimos possuem uma abordagem mais ou menos direta no
sistema neurovegetativo. Nos centros de saúde de Kaivalyadhama procura-se
utilizar uma combinação equilibrada de ambos os sistemas. No exercício des-
sas atividades, notou-se que o procedimento combinado acelera os resultados.
O Yoga de Patañjali demanda uma abordagem mais ou menos individual. Os
exercícios do Haṭha Yoga, por outro lado, podem ser ministrados em aulas
com maior número de praticantes, ajudando a desfazer as tensões nervosas
de várias pessoas de uma só vez. Estando as tensões nervosas desfeitas, fica
fácil pôr para fora as repressões profundamente enraizadas e lidar com elas
apropriadamente, com a cooperação do paciente. Minha experiência tem de-
monstrado que qualquer tentativa de exteriorizar tais repressões, sem que an-
tes as tensões tenham sido relaxadas, acarreta grandes riscos, algumas vezes,
até mesmo à vida do paciente. De outra maneira, demandaria um processo
de psicanálise profunda, que levaria um tempo considerável para ter sucesso
na produção de uma catarse que fosse suficiente. Também se descobriu em
Kaivalyadhama que, sob a presença persistente de tensões, o paciente não
está em posição de cooperar, nem tem disposição para isso. É devido a esse
fato que se recorre mais às práticas do Haṭha Yoga na terapia do que às do
Yoga de Patañjali.
Ao se prescrever o tratamento yogin é preciso ter em mente os requisitos
de cada caso individual. É claro que isto é uma verdade, qualquer que seja a
terapia, e é por isso que se deve primeiro conhecer seus princípios básicos.
Ainda que a Yogaterapia possua em geral muito poucas contraindicações, a
não ser aquelas indicadas anteriormente, suas práticas e procedimentos in-
dividuais deverão ser prescritos com a devida cautela e atenção, tendo em
mente os efeitos fisiológicos de cada uma delas. Assim, para a hérnia de disco,
por exemplo, devem ser evitados todos os exercícios que produzam aumento
da pressão intra-abdominal. Para a espondilólise, a maioria dos exercícios de
Apêndice A
Antes de dar início a essas práticas, sugere-se novamente a leitura das se-
ções sobre os āsanas, mudrās e bandhas e prānāyāma. Aprenda a sentar de
maneira relaxada e a experimentar a sensação oceânica, até que tudo aconteça
naturalmente sem muito esforço. Isso ajudará muito a tornar essas práticas
eficazes.
I. Prática fácil
1. Bhujaṅgāsana (cobra)
2. Ardha-śalabhāsana (meio gafanhoto)
3. Ardha-halāsana (meio arado)
4. Yoga-mudrā (símbolo do Yoga)
5. Paścimatānāsana (postura do alongamento posterior – pinça)
6. Ujjāyī (prática respiratória)
3. Dhanurāsana (arco)
4. Halāsana (arado)
5. Ardha-matsyendrāsana (meia postura de matsyendra)
6. Paścimatānāsana (postura do alongamento posterior – pinça)
7. Mayūrāsana (pavão)
8. Yoga-mudrā (símbolo do Yoga)
9. Śīrṣāsana (pouso sobre a cabeça)
10. Sarvāṅgāsana (postura da ação total – vela)
11. Matsyāsana (peixe)
12. Śavāsana (cadáver – relaxamento)
13. Uḍḍiyāna (voo do pássaro – trava do abdome)
14. Nauli (prática de massagem e limpeza abdominal)
15. Ujjāyī (prática respiratória)
Limitações
Atenção!
Qualquer pessoa que sofra de fraqueza considerável em qualquer parte
de seu corpo deve consultar um especialista que lhe aconselhe os exercícios
necessários e não iniciar a prática sem a orientação devida.
Cuidados
4. Seja ousado com cautela, este é o conselho que repetimos a nossos apren-
dizes de cultura física yogin.
5. Caso haja uma interrupção considerável na prática desses exercícios, o
reinício deve ser feito numa escala mais modesta, ainda que a medida
completa possa ser alcançada rapidamente.
6. Após doenças graves, os exercícios só devem ser retomados depois que
o paciente recuperar energia suficiente para a sua prática. Como medida
de cautela, é desejável preceder o início da prática desses exercícios com
uma caminhada moderadamente longa todos os dias, por aproximada-
mente uma semana.
7. Os exercícios yogins nunca devem começar antes que decorra ao menos
uma hora e meia após a ingestão de alimento sólido (mesmo que em
quantidade moderada), ou depois de beber muito líquido. Meia xícara de
alimento líquido permite que os exercícios se iniciem em meia hora. No
mínimo, quatro horas devem se passar após uma refeição pesada.
8. Não haverá prejuízo em se alimentar em quantidade moderada meia hora
após os exercícios yogins.
Duração e sequência
Local
Qualquer local que seja bem ventilado poderá ser usado para as práticas
yogins. O único cuidado a tomar é não expor o corpo a uma forte corrente
de ar.
Assento
54 N. T.: Na falta de uma esteira de palha kusha, uma esteira de qualquer outro tipo de pa-
lha servirá ao propósito. O nome científico desta gramínea com talos longos e pontudos é poa
cynosuroides, pertencente às verbenáceas, relacionadas à verbena hastata ou à verbena urticaefo-
lia, que, por sua vez, pode estar relacionada, aqui no Brasil, ao capim cidró ou cidreira da horta.
Talvez melissa (erva cidreira). É usado como assento por suas propriedades, pois é um poderoso
relaxante muscular.
• Toda pessoa deve procurar encontrar os alimentos que lhe sirvam melhor,
independentemente dos ditames do seu paladar.
• Mesmo pessoas que possuam saúde acima da média devem se restringir
ao uso das variedades de alimentos que lhe sejam propícias. Toda re-
feição deve ser de quantidade moderada, bem mastigada de modo a se
misturar livremente com a saliva para que sua digestão seja facilitada.
• Pessoas com digestão fraca devem adotar uma dieta baixa em proteínas.
Devem se satisfazer com duas refeições por dia ou mesmo com apenas
uma, substituindo a outra refeição por um lanche leve.
• Aqueles que sofrem de dispepsia, constipação ou possuem algum pro-
blema relacionado ao ácido úrico fariam bem em evitar todos os tipos de
grãos. Devem evitar também batata, berinjela e cebola.
• Recomenda-se para todas as pessoas que não tomem água antes de de-
correr meia hora após a refeição. As pessoas que possuem capacidade
digestiva livre poderão tomar água durante a refeição (1/2 copo).
• Todas as bebidas alcoólicas devem ser cautelosamente evitadas. Estimu-
lantes tais como café e chá não devem nunca ser tomados em excesso e,
de preferência, devem ser eliminados completamente. Para o homem que
se importa com sua saúde, não pode haver bebida mais rica do que água
pura.
• O fumo, excessivo ou não, invariavelmente destrói os nervos após uso
prolongado. Nervos fracos, tosse persistente, dor de garganta etc. sempre
assediam o fumante inveterado e podem atacar mesmo o fumante menos
frequente.
• Todos os atos sexuais desnaturais e ilegítimos são pecaminosos. Os ex-
cessos, mesmo os cometidos em atos sexuais naturais e legítimos, tam-
bém são contraindicados.
• Nenhum ato sexual é saudável, a menos que seja realizado como uma
questão de absoluta necessidade fisiológica.
• Todo o curso proposto pode ser praticado pelas mulheres, com exceção
de mayurāsana.
• As mulheres devem suspender todas as práticas de Yoga quando estive-
rem menstruadas ou grávidas.
• Meninos e meninas devem iniciar suas práticas pela breve, para realizar a
prática completa mais tarde.
• Um bom conselho para meninos e meninas menores de 12 anos é se limi-
tarem apenas a bhujaṅgāsana, ardha-śalabhāsana, dhanurāsana, paści-
matānāsana, halāsana e yoga-mudrā. Após os 12 anos, poderão realizar
os exercícios restantes da prática completa.
Atenção!
A prática completa e as sugestões apresentadas destinam-se a uma pessoa
de saúde mediana. Pessoas abaixo da média poderão tentar a prática breve
ou, preferivelmente, deverão procurar aconselhamento especializado para a
prescrição dos exercícios mais adequados.
Āsanas
Meditativos
Padmāsana
Siddhāsana
Culturais
Bhujaṅgāsana
Śalabhāsana
Ardha-śalabhāsana
Dhanurāsana
Halāsana
Paścimatānāsana
Ardha-matsyendrāsana
Mayūrāsana
Śavāsana
Mudrās e Bandhas
Viparīta karani
das pernas e dos quadris sobre as mãos. Depois de algum tempo, volta-se à
posição original para relaxar.
Sarvāngāsana
Matsyāsana
Śīrṣāsana
Yoga mudrā
Sentado, com as pernas cruzadas (realizando a trava dos pés, tal como
em padmāsana), segura-se o punho direito com a mão esquerda, por trás das
costas. Inclina-se para frente, por sobre os calcanhares, até tocar o solo com a
testa. Depois de algum tempo, volta-se à posição original para relaxar.
Uḍḍiyāna
Kriyā
Apêndice B
Glossário sânscrito
Apêndice C
sistema nervoso au- O sistema nervoso que promove e exerce uma influên-
tônomo (s.n.a.) cia regulatória sobre músculos involuntários, glândulas,
órgãos internos, etc. Este sistema se divide em sistema
simpático e sistema parassimpático (vide Sistema Ner-
voso Central)
sistema nervoso cen- A parte do sistema nervoso constituída pelo cére-
tral (s.n.c.) bro e pela medula espinhal (vide Sistema Nervoso
Autônomo)
solução hipertônica De concentração excedente, ou seja, com mais de 0,9 g
de sal para cada 100 ml de água
substrato postural Um sistema de reatividade mental, assim como física,
que determina e constitui o pano de fundo de todo o
comportamento do homem e de seus órgãos
Apêndice D
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