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Atividade Avaliativa A1

Nota:______

6º Semestre | Turma: DIR3BN-BUB | Sala: 312

Disciplina: DIREITO ECONÔMICO

Professor: DANIEL CLAYTON MORETI

Componentes do grupo (entre dois ou três):

LARISSA DICCMAN BALLO | RA. 81713559;


MATHEUS DUTINE DE MELO | RA. 817115281;
NATANAEL RODOLFO PIAUHY DE OLIVEIRA | RA. 817115773.
QUESTÕES SOBRE O CASO PRÁTICO

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1. A previsão da possibilidade de a empresa monopolizar a produção e o
comércio de alimentos na região Norte e Nordeste do país viola os
princípios da concorrência e da livre iniciativa?

Sim, visto que a atividade outrora exercida não pode ser


configurada como de monopólio, pois não se encontra elucidada no rol taxativo do
artigo 177 e respectivos incisos e parágrafos da Constituição Federal, ferindo de
morte, dessa maneira, o princípio da livre iniciativa e da livre concorrência que estão
expressamente previstos no artigo 170, inciso IV (livre concorrência) e no § único do
mesmo diploma legal (livre iniciativa). Ademais, vale ressaltar que no caso em
comento trata-se de um enquadramento do caso concreto a hipótese do artigo 173
de nossa Carta Magna, visto que há empresa de economia mista exercendo
atividade econômica – produção e comercialização de alimentos, a qual encontra
respaldo fático legal na existência de relevante interesse coletivo na questão, devido
à seca existente na região.

Na mesma linha, já foi discorrido tal assunto pelo STF, nos


autos do Recurso Extraordinário com Agravo: ARE 121157 SP – SÃO PAULO,
senão vejamos:

“as sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos não podem


receber o mesmo tratamento dispensado às exploradores de atividades econômicas,
a despeito de ambas serem classificadas como pessoas jurídicas de direito privado.
Ao proibir que as sociedades de economia mista gozem de privilégios fiscais não
extensivos às do setor privado, a Carta Magna teve como desiderato impedir a
concorrência desleal entre elas. Logo, o comando constitucional é dirigido
apenas àquelas que exploram atividade econômica e, por conseguinte, estão
sujeitas ao regime próprio das empresas privadas, que tem como princípios,
dentre outros, a livre iniciativa e a livre concorrência (art. 170, IV, CF). Já as
sociedades de economia mista que substituem as pessoas políticas na prestação de
serviços públicos essenciais previstos na Constituição Federal como é o caso da
construção de moradias populares/melhoria das condições habitacionais não estão
sujeitas às normas que regulam a livre iniciativa. Conforme Odete Medauar, ‘ incide
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sobre elas grande carga de normas do direito público, abrangendo prerrogativas e
sujeições características dos órgãos públicos (Direito Administrativo Moderno,
11ª, edição, pág.91).”.

Ora, a partir de uma breve análise do trecho da decisão do


Excelso e Augusto Ministro Ricardo Lewandowski, é possível notarmos que a ideia
disseminada no começo de nosso raciocínio faz-se correta. Na mesma linha, o STJ
já decidiu nos autos do RECURSO ESPECIAL Nº 1.704.982 - DF (2017/0274928-5),
Ministro Mauro Campbell Marques:

“as empresas estatais que desempenham serviço público ou executam obras


públicas recebem um influxo maior das normas de direito público. Quanto a elas, não
incide a vedação constitucional do art. 173, § 2º, justamente porque não atuam em
região onde vige a livre concorrência, mas sim onde a natureza das atividades exige
que elas sejam desempenhadas sob o regime de privilégios.
7. Pode-se dizer, sem receios, que o serviço público está para o estado, assim como
a atividade econômica em sentido estrito está para a iniciativa privada. A prestação
de serviço público é atividade essencialmente estatal, motivo pelo qual, as empresas
que a desempenham sujeitam-se a regramento só aplicáveis à Fazenda Pública.”.

Com isso, fica evidente, aplicando a lógica ao caso contrário,


que por tratar-se sociedade de economia mista que exerce atividade econômica em
sentido estrito, e não serviço público, não há que se falar na possibilidade de
monopólio da atividade pela mesma.

Em conformidade com o exposto, o ilustre professor Eros


Roberto Grau explana em sua obra literária:

“O art. 173, §1º, nada tem a ver com a desapropriabilidade ou indesapropriabilidade


de bens de empresas públicas ou sociedades de economia mista; seu endereço é
outro; visa a assegurar a livre concorrência, de modo que as entidades públicas que
exercem ou venham a exercer atividade econômica não se beneficiem de tratamento
privilegiado em relação a entidades privadas que se dediquem a atividade
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econômica na mesma área ou em área semelhante.”. (GRAU, Eros Roberto, A
ordem econômica na constituição de 1988, 15º ed., São Paulo: Malheiros
editores, 2012, p. 119).

2. A atuação da empresa estatal caracteriza qual (quais) forma (formas) de


intervenção do Estado no domínio econômico? Para responder,
apresente todas as formas de intervenção do Estado no domínio
econômico.

Eros Roberto Grau nos ensina que Intervenção indica, em


sentido forte, atuação estatal em área de titularidade do setor privado; atuação
estatal, simplesmente, ação do Estado tanto na área de titularidade própria quanto
em área de titularidade do setor privado. Isto é, teremos que intervenção conota
atuação estatal no campo da atividade econômica em sentido estrito; atuação
estatal, ação do Estado no campo da atividade econômica em sentido amplo.
(GRAU, Eros Roberto, A ordem econômica na constituição de 1988, 15º ed.,
São Paulo: Malheiros editores, 2012, p. 90 e 91).

Agora que nos resta claro o conceito de Intervenção, passemos


a expor as formas de se realizar a mesma. Existem três formas de Intervenção do
Estado no Domínio Econômico, estando todas elas relacionadas com os princípios
da ordem econômica. São elas: (i) Intervenção Direta; (ii) Intervenção por
Direção/Ordenação e a (iii) Intervenção por Indução/Fomento.

Passemos a discorrer brevemente sobre cada uma delas:

i. Aqui, o Estado age como agente econômico, intervindo no domínio


econômico (atividade econômica em sentido estrito, como a empresa no caso
em comento);

Essa Intervenção Direta possui duas classificações:

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a) Absorção  Estado atua em regime de monopólio;
b) Participação  Estado atua em regime de competição com empresas
privadas que permanecem a exercitar suas atividades nesse mesmo setor
(sendo esta a hipótese em que se enquadra perfeitamente o caso concreto
em tela).

ii. Aqui, o Estado cria regras para o funcionamento do mercado, estabelecendo


mecanismos e normas de comportamento para os sujeitos privados;

iii. Aqui, o Estado visa a estimular ou desestimular a prática de atividades


econômicas, manipulando os instrumentos de intervenção em consonância e
na conformidade das leis que regem o funcionamento dos mercados.

Para entendermos melhor a Intervenção do Estado por Indução, passemos a


expor acórdão que ilustra a questão, in verbis:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.737/2004, DO


ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. GARANTIA DE MEIA ENTRADA AOS
DOADORES REGULARES DE SANGUE. ACESSO A LOCAIS PÚBLICOS
DE CULTURA ESPORTE E LAZER. COMPETÊNCIA CONCORRENTE
ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O DISTRITO FEDERAL PARA
LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO. CONTROLE DAS DOAÇÕES
DE SANGUE E COMPROVANTE DA REGULARIDADE. SECRETARIA DE
ESTADO DA SAÚDE. CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E
ORDEM ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA
ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170 E 199, § 4º DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL. 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988
define opção por um sistema no qual joga um papel primordial a livre
iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de
que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais.
Muito ao contrário. 2. Mais do que simples instrumento de governo, a
nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem
realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação
global normativo para o Estado e para a sociedade, informado pelos
preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170. 3. A livre iniciativa
é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas
também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita
também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem
pertinente apenas à empresa. 4. A Constituição do Brasil em seu artigo
199, § 4º, veda todo tipo de comercialização de sangue, entretanto
estabelece que a lei infraconstitucional disporá sobre as condições e
requisitos que facilitem a coleta de sangue. 5. O ato normativo
estadual não determina recompensa financeira à doação ou estimula a
comercialização de sangue. 6. Na composição entre o princípio da livre
iniciativa e o direito à vida há de ser preservado o interesse da
coletividade, interesse público primário. 7. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente. 6

(STF - ADI: 3512 ES, Relator: EROS GRAU, Data de Julgamento:


15/02/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 23-06-2006 PP-
00003 EMENT VOL-02238-01 PP-00091 LEXSTF v. 28, n. 332, 2006, p.
69-82).

Agora que discorremos sobre os tipos de Intervenção,


passemos a expor o motivo de o caso concreto em tela adequar-se à Intervenção
Direta – Participação.

A empresa explora atividade econômica em sentido estrito, não


tendo como objeto algo que configure atividade de monopólio elencada no artigo 177
da Carta Magna, nem mesmo algo que se configure como serviço público. Assim
resta claro e evidente o fato de que o Estado estará competindo com as demais
empresas privadas do ramo de produção e comercialização de alimentos. Nesses
termos, o Exmo Ministro Eros Roberto Grau discorreu sobre a Intervenção Direta por
Participação no Acórdão da ADI 3512/ES, in verbis:

“Quando o faz por participação, o Estado assume o controle de parcela dos meios
de produção e/ou troca em determinado setor da atividade econômica em sentido
estrito; atua em regime de competição com empresas privadas que permanecem a
exercitar suas atividades nesse mesmo setor”.

Por fim, ainda sobre a Intervenção Direta do Estado no


Domínio Econômico, ensina o ilustre professor João Bosco Leopoldino da Fonseca:

“Através da atuação direta o Estado passa a atuar como empresário,


comprometendo-se com a atividade produtiva, quer sob a forma de empresa pública
quer sob a de sociedade de economia mista. Sob estas duas formas pode ele atuar
em regime concorrencial, em que se equipara com as empresas privadas, ou em
regime monopolístico. Como exemplos do primeiro caso (regime concorrencial)
podem ser apontados o da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, a
primeira, como empresa pública federal, e o segundo, como sociedade de economia
mista, atuam em regime de concorrência com as demais entidades bancárias do
País. Como exemplos do segundo caso (regime monopolístico), devem-se
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considerar a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e a Petróleo Brasileiro S.A.
– Petrobras–, a primeira como empresa pública federal, e a segunda como
sociedade de economia mista. O monopólio da primeira está consagrado no art. 21,
X, e o da segunda no art. 177, I, II e III, da Constituição Federal.”. (Fonseca, João
Bosco Leopoldino da, Direito econômico, 9º ed., Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2016, p. 179).

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