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Capítulo 13 – Coleta de dados

A linguagem é objeto de difícil estudo por não poder ser separada e isolada. Ela
tem de ser estudada em seu estado natural e espontâneo, e assim fornece informações
reais de uso da linguagem.
Para a coleta adequada de dados linguísticos existem algumas regras. Ao
penetrar em uma comunidade lingüística, o pesquisador a está invadindo. Com o
objetivo de minimizar o efeito da invasão na fala das pessoas, o pesquisdor não deve
explicitar que se trata de uma análise linguística e que ele advém de uma universidade,
fazendo isto evitará que os falantes dêem demasiada atenção à própria fala. Quanto ao
uso do gravador, este não deve ser escondido do falante, é uma norma ética do linguista.
Porém, o gravador pode ser posicionado de maneira que, durante a entrevista, seja
esquecido pelo falante, ou seja, deve ser posicionado o máximo possível fora do alcance
de visão do falante.
Depois de definida a comunidade em que se desenvolverá a pesquisa, deve ser
determinado o tamanho da amostra, ou seja, o número de pessoas que serão analisadas.
Este número depende de vários fatores: da homogeneidade da população; do número de
variáveis que se quer pesquisar; do fenômeno, ou seja, o fato de que a língua é mais
homogênea pra alguns fenômenos do que para outros; do método utilizado na pesquisa;
do orçamento e outras condições materiais.
Além do número de amostras deve ser determinado o método de seleção dos
falantes. Explicitaremos dois métodos:
1- Aleatório simples. Esse método consiste em colocar num recipiente uma
identificação de cada indivíduo da população e retirar cada identificação uma a uma até
completar o número desejado. Assim todos os indivíduos têm iguais chances de serem
sorteados. Este método é aplicado quando existe uma grande homogeneidade na
população, caso contrário não fornecerá resultados satisfatórios. Como por exemplo, se
quisermos pesquisar a diferença de comportamento linguístico pelo grau de instrução da
população do Rio de Janeiro, em que a maioria esmagadora tem apenas o grau primário,
as amostras iriam ser apenas de pessoas do grau primário.
2 – Aleatória estratificada. Para proceder a esse método, divide-se a população
em “células” compostas, cada uma, de indivíduos com as mesmas características
sociais.
Depois de sabermos quantos e quais são os indivíduos que irão compor cada
célula, devemos saber onde selecioná-los. É indispensável entrar em contato com o
IBGE e / ou com a prefeitura, e é desejável o apoio de um sociólogo ou um antropólogo
que conheça bem a comunidade, a fim de ajudar a escolher a região a ser pesquisada.
Para a realização da coleta de dados é necessária a definição do tipo de contato
com o pesquisado e quantos serão precisos. Existem basicamente três tipos de contato:
interações livres, entrevistas e teses.
O primeiro tipo de contato consiste na gravação de dois interlocutores
interagindo. Tem a vantagem de ser uma conversação bastante real e espontânea, porém,
é de difícil gravação e dificílima transcrição devido a superposição de fala.
O segundo consiste em entrevistas. São mais eficientes quando se quer analisar
aspectos morfo-sintáticos e/ou sintáticos. Existe mais facilidade de gravação, porém é
mais difícil de obter a espontaneidade do entrevistado. O tempo de entrevista deve ser o
mesmo para todos os falantes, quanto maior é o tempo da entrevista, maior é a
espontaneidade do entrevistado, e isto causa diferenças indesejadas para uma boa
pesquisa.
Para qualquer tipo de contato o entrevistador deve conhecer o falante o melhor
possível. Constrói-se pois, um questionário social de acordo com a pesquisa e a
comunidade pretendida. O questionário além de fornecer informações importantes para
a pesquisa também serve de “quebra-gelo” IMFORMAÇÕES QUE DEVEM
CONSTAR NO QUESTIONÁRIO, possibelitando a interação mais próxima do natural,
em um diálogo.
Há também a necessidade de se elicitar formas não muito usuais nesse gênero de
discurso. De acordo com o interesse da pesquisa, poderão ser elicitados outras formas,
mas de maneira que a elicitação não seja sentida pelo falante. O gênero mais
frequentemente elicitado é a narrativa, porém podem ser elicitados o gênero
argumentativo, receitas, discurso indireto hipotético e outros.
É necessário que o entrevistador tenha sensibilidade (que se adquire com prática)
para notar se o falante hesita porque não gosta do assunto, se é por hesitação de modo
geral, ou por ser um tema bom mas delicado.
Para uma boa pesquisa é indispensável uma grande dose de bom senso.

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