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Licenciatura em História
Professor Auxiliar da Unidade Curricular: Doutor João Ramalho dos Santos Cosme;
Introdução
1
CAPELA, José Viriato e MATOS, Henrique, As freguesias do Distrito da Guarda nas Memórias
Paroquiais de 1758. Memórias, História e Património. Colecção Portugal nas Memórias Paroquiais de
1758, Braga, Minhografe - Artes Gráficas, 2013, pp. 9-10.
1
[Um contributo para o conhecimento historiográfico da vila de Gouveia na Época Moderna (segundo as "Memórias Paroquiais")]
2
[Um contributo para o conhecimento historiográfico da vila de Gouveia na Época Moderna (segundo as "Memórias Paroquiais")]
da vila precedente, logo pela manhã jurando ter sido consumida a água depois da meia-
noite. Além disso, teriam de levar consigo a quantia de duzentos e cinquenta réis, para
que pudessem pastar com o gado nas partes limítrofes dos dois concelhos serranos,
ficando livres de qualquer punição. O próprio pároco confirma que a celebração deste
contrato é recorrente e é uma prática muito antiga 2.
Concentremos as nossas atenções na freguesia de São Pedro. As características
ligadas ao foro administrativo mantêm-se, porém, o pároco introduz um novo elemento:
a sua localização geográfica - Beira Alta e associação ao Mosteiro de Santa Clara de
Coimbra. Na sua datação histórica, somos confrontados com a informação de que São
Pedro remonta aos princípios do século XVII, cento e cinquenta anos antes da
realização do inquérito3. A vila está sob a alçada do rei (refere-se concretamente a D.
José I) e nela existe a tradição de que os marqueses de Gouveia foram donatários. Nas
questões populacionais, o agregado é representado por duzentos e quarenta vizinhos e
novecentas e vinte pessoas. Geograficamente, está situada na zona montanhosa da Serra
da Estrela através da qual é possível observar as demais freguesias que compõem o
concelho gouveense. A Igreja paroquial está situada no centro da cidade e o padroeiro
da mesma é o Apóstolo São Pedro. O sacerdote refere a necessidade de uma intervenção
premente no edifício religioso, os planos de restauração estão delineados e orçados em
nove ou dez mil réis, pagos pela população local.
Na parte sul existe um convento de religiosos que pertencem à Ordem de São
Francisco, também designado por Convento do Espírito Santo e cujos aspectos
arquitectónicos estão ligados aos Templários, não tem orago e é muito antigo, contudo,
sofreu algumas obras para conservação patrimonial. A Nascente fica situado o Colégio
da Companhia de Jesus, em perfeitas condições e que terá sido fundado por António de
Figueiredo Pereira. Nele habitam alguns professantes, não há um valor exacto sobre as
rendas, mas estas poderão chegar aos sete ou oito mil réis anuais. Possui um hospital
sob a orientação do provedor da Santa Casa da Misericórdia de Gouveia que tem mais
de duzentos anos, todos os anos é cobrada uma renda no valor de cem mil réis. Podem
ser encontradas indicações a várias capelas dentro da freguesia de São Pedro,
nomeadamente, Nossa Senhora de Vera Cruz, São Lázaro, Senhora do Porto, Santa
Cruz, São Mamede, São Miguel e São João Baptista. No interior da Igreja de São Pedro
estão três capelas particulares: Santo António, Senhora dos Prazeres e Senhora da
Alegria.
2
Cf. Ibidem, Idem, p. 308-309.
3
Tendo em conta que as "Memórias Paroquiais" começaram a ser redigidas em 1758, é provável que São Julião tenha
sido constituída como freguesia em 1608. As datas que os párocos apresentam em cada documento são distintas.
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Ibidem, Idem, pp. 310-311.
5
NETO, Margarida Sobral, "A vida económica e social de Gouveia na Época Moderna. Um contributo
para o seu estudo", Revista Portuguesa de História, t. XXXV, Coimbra, 2001-2002, p. 248.
4
[Um contributo para o conhecimento historiográfico da vila de Gouveia na Época Moderna (segundo as "Memórias Paroquiais")]
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Vide COSTA, Carvalho da, "Corografia Portuguesa e Descripçam do Reyno de Portugal", Lisboa,
1706-1712, p. 373 cit. in. NETO, Margarida Sobral.
7
Sobre estas questões, veja-se AMARAL, Abílio Mendes do, "Os pastores da Serra da Estrela -
Etnografia - Foro - Transumância", Beira Alta, Vol. XXIX, Fasc. III, Viseu, A.D.V., 1970, pp. 355-399.
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[Um contributo para o conhecimento historiográfico da vila de Gouveia na Época Moderna (segundo as "Memórias Paroquiais")]
8
POLÓNIA, Amélia, "Vida quotidiana e cultura material no concelho de Gouveia na Época Moderna",
Jornadas Históricas do Concelho de Gouveia, Gouveia, C.M.G., 2001, pp. 9-11.
9
NETO, Margarida Sobral, Ob.Cit., pp. 249-251.
10
Idem, Ibidem, pp. 252-254.
6
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Não é conveniente confundir estas deslocações com a "transumância". O primeiro elemento integra
uma norma emanada pelo poder local que surgiu pelas circunstâncias apontadas. O último aspecto
reporta-se a uma tradição que está relacionada com a climatologia regional. Cf. nota 7.
12
POLÓNIA, Amélia, Ob.Cit., pp. 7-8.
7
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NETO, Margarida Sobral, Ob.Cit., p. 257.
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14
POLÓNIA, Amélia, Ob.Cit., p. 13.
15
NETO, Margarida Sobral, Ob.Cit., pp. 260-265.
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NETO, Margarida Sobral, Ob.cit., pp. 266-268.
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POLÓNIA, Amélia, Ob.cit., pp. 18-22.
18
SÁ, Isabel dos Guimarães, "A Misericórdia de Gouveia na Época Moderna", [s.n], Lisboa, 2006, pp. 4-
8. Este artigo, pelo facto de não ter sido publicado em livro, encontra-se disponível online.
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mesários fá-lo-ia pagar uma coima no valor de 500 réis. As procissões ocorriam durante
a Semana Santa, porém, as missas por alma eram sujeitas à definição de um calendário,
este era mais um dos assuntos debatido em assembleia. Os dias santos eram
privilegiados, nesta altura as populações interrompiam a sua actividade campestre,
situação que não se verificaria no decurso da semana de trabalho. As dificuldades
económicas também eram notórias, os sacerdotes eram insuficientes e sem dúvida que a
razão principal que os votou a essa decisão se prende com o fraco rendimento que
auferiam. O número de Eucaristias começou a diminuir, os pedidos para breves de
perdão aumentaram exponencialmente junto da Sé Apostólica, a Misericórdia de
Gouveia deparou-se com os mesmos problemas que as suas semelhantes já haviam
enfrentado. A eficiência nos empréstimos era verdadeiramente nula, os registos não
eram feitos com precisão e rigor, a cobrança era deficitária e, consequentemente, o
dinheiro ia escasseando nos cofres. Para resolver este problema, foram aprovadas
medidas que procurassem regularizar a saúde financeira da casa.
A intervenção do Marquês de Pombal nestas questões não passou desapercebida,
a vontade do ministro de D. José I era a de aproximar estas instituições de assistência
com o poder central. Um dos primeiros impactos foi sentido no facto de os provedores
passarem a ser eleitos pelo rei. Ainda dentro do seu período de regência, a Misericórdia
de Gouveia não escapou a uma auditoria, foi efectuada uma inspecção à contabilidade.
As receitas advinham sobretudo dos créditos concedidos, das propriedades e das multas
pelo não cumprimento de certas demandas. No que concerne às despesas, os gastos
recaíam sobre as actividades caritativas, o pagamento de missas e celebrações litúrgicas.
Perante os pressupostos e os características supra citadas, podemos admitir que a
Misericórdia de Gouveia não apresentava qualquer relevância, o seu papel resumia-se à
organização de ritos processionais e fúnebres e à actividade de empréstimo a juros,
ficando aquém dos objectivos a que se propunha 19.
Em Gouveia, o edifício dos Paços do Concelho é um lugar cheio de História.
Aqui nasceu um importante estabelecimento religioso, falamos do Colégio dos Jesuítas.
O século XVIII não foi fácil para esta congregação, os diferendos com a monarquia
eram cada vez maiores e a sua presença incomodava o Marquês de Pombal. Na vila
gouveense mereceram alguma atenção, Dona Maria Ferreira pertencia a uma ilustre
família e aquando da sua morte, deixou em testamento o desejo de ser criada uma
Fundação, caso o filho não assegurasse descendência, deveria pertencer aos Padres
Jesuítas e na ausência deles a outros movimentos (Dominicanos, Arrábidos). 1733
19
SÁ, Isabel dos Guimarães, Ob.cit., pp. 8-12.
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marca o início dos trabalhos, doze anos mais tarde vieram a habitar o novo espaço.
Catorze anos depois, e conforme a ordem de acontecimento e peripécias da História
Moderna de Portugal, o Marquês de Pombal expulsou os Jesuítas de Gouveia, mandou
extinguir o colégio e confiscar todos os bens que lhes pertenciam. Após o seu
encerramento, veio lentamente a ganhar outras finalidades. O edifício em si passou para
as mãos da Coroa, fez uma doação em nome do Colégio dos Meninos Órfãos. Voltou a
ficar inutilizável num curto espaço de tempo, em 1763 foi usado a título precário pelas
Freiras de Almeida. Uma das últimas utilizações foi a serventia de Hospital Militar, na
Guerra Peninsular. Aqui ficaram alojados elementos do exército anglo-luso, a ofensiva
era realizada no vale do Mondego, as localidades limítrofes estavam submetidas a um
domínio invariável, em determinados momentos sob alçada dos franceses, em períodos
de paz operava o Quartel General20.
20
GUERRINHA, José, "Capítulo IV - Cidade de Gouveia" in «Gouveia (Serra da Estrela)», Coimbra,
Gráfica de Coimbra, 2005, pp. 106-116.
21
Idem, "Conhecer Gouveia (Serra da Estrela)", Gouveia, Gráfica de Gouveia, 1985, p. 68.
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Conclusão
FONTE IMPRESSA:
MACEDO, Jorge Borges de, "A situação económica no tempo de Pombal - Alguns
aspectos", Lisboa, Publicações Gradiva Limitada, 1989, pp. 141-187.
SÁ, Isabel dos Guimarães, "A Misericórdia de Gouveia na Época Moderna", [s.n],
Lisboa, 2006, pp. 4-12.
Online: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4819/1/gouveia.pdf.
AMARAL, Abílio Mendes do, "Os pastores da Serra da Estrela - Etnografia - Foro -
Transumância", Beira Alta, Vol. XXIX, Fasc. III, Viseu, A.D.V., 1970, pp. 355-399.
NETO, Margarida Sobral, "A vida económica e social de Gouveia na Época Moderna.
Um contributo para o seu estudo", Revista Portuguesa de História, t. XXXV, Coimbra,
I.U.C., 2001-2002, pp. 248-268.
FERRO, João Pedro, "A população portuguesa no final do Antigo Regime (1750-
1815)", Lisboa, Edições Presença, 1985.
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4 - Capela da Misericórdia
6 - Vista panorâmica sobre a cidade de Gouveia, a partir do Monte Calvário. Ao fundo, podemos
contemplar parte da Cordilheira Central da Serra da Estrela.
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7 - Apesar das dificuldades sentidas na regeneração desta actividade, ainda subsistem alguns
pastores, bem como a raça do Cão "Serra da Estrela", como podemos observar por esta fotografia.
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de cinquenta mil réis ou mais. E à vista do pároco não restam os duzentos mil réis que
Sua Santidade o Senhor Benedito Décimo Quarto (Bento XIV) arbitrou aos párocos
pelo cento pro rectore, por quanto o pé de altar é muito ténue. Trago litígio com o dito
colégio sobre a instrução desta posse. Esta Igreja tem uma ermida com a invocação de
São Mamede, um só altar, e nele o santo com sua irmandade no arrabalde da vila em um
bairro chamado São Mamede. No dia do mesmo santo a 17 do mês de Agosto, dia em
que se lhe faz a sua festa, acode em romaria alguma gente do termo ainda que pouca.
Os frutos em que mais abundância recolhem os fregueses desta paróquia são
milho, feijão e centeio. Desta vila se diz fora natural o Padre [Mestre] Inácio Martins, da
Companhia que compôs a Instrução da Doutrina Cristã, e a reduziu a método fácil para
se aprender. E também da mesma consta foi natural o Doutor Pinheiro que escreveu De
Testamentis. Não me consta tenha esta vila privilégios ou antiguidades mais que serem
obrigados os moradores da Vila de Manteigas, que dista desta três léguas, e é do
Bispado da Guarda, depois da meia-noite do dia de São João Baptista encherem um
púcaro de água na fonte da vila de Manteigas, chamada a de São Pedro e trazerem-no a
esta vila, às escadas do Pelourinho dela, com duzentos e cinquenta réis pela manhã,
antes de nascer o sol, jurando foi a dita água tomada logo depois da meia-noite, e isto
para os moradores da dita vila poderem pastar com os seus gados no limite desta vila,
nas partes da serra, por confinarem os limites um com o outro, e não poderem ser
acoimados (?). É muito antigo este contrato. Não padeceu ruína esta vila no Terramoto
do ano de 755, mas fizeram em pedaços pelo meio as cruzes que estavam sobre a casa
da Misericórdia desta vila, colégio da Companhia e convento dos religiosos de São
Francisco, e uma quinta da minha igreja que mostrou barriga. Dos mais interrogatórios
em que não falto, como também dos que dizem respeito à serra e ao rio, deles dará
notícia e relação o reverendo vigário de São Pedro desta vila por ser a primeira igreja
que a minha, e ser a sua freguesia mais extensa duas partes que a minha.
pertence exporá o reverendo prior dela, como também se lhe ordena. Está esta vila
situada em monte e nas faldas da Serra das Estrela. E dela se avistam as mais de
povoações que ficam fronteiras na distância de duas léguas para a parte do Norte. Tem
esta vila seu termo, que compreende onze léguas, a saber, parte do lugar de Vila Cortês
que tem trinta vizinhos, o lugar de Nabainho que tem sessenta e nove, o lugar de Nabais
que tem cento e quatro, o lugar de São Paio que tem cento e quarenta, o lugar de
Nespereira que tem noventa, o lugar de Arcozelo que tem cento e noventa e seis, o lugar
de Rio Torto que tem cento e um, o lugar de Vinhó que tem cento e doze, o lugar de
Moimenta que tem duzentos e dois, o lugar de Mangualde que tem setenta, os lugares de
São Cosmade e Alrote cento e doze.
A Igreja paroquial de São Pedro está dentro da vila, e a freguesia consta somente
da maior parte dos vizinhos dela, e tem duas igrejas anexas dela que são S. Cosme de
Alrote e Nossa Senhora da Graça do lugar de Nespereira, cujos párocos ou curas
apresentam anualmente os vigários da dita paroquial de São Pedro. O orago da Igreja
principal é São Pedro Apóstolo. Tem quatro altares, a saber, o altar mor que é o do
santo patrono, o altar do SS. que tem uma irmandade e o altar de Santa Catarina, virgem
e mártir, e o altar de São Sebastião. Esta igreja está muito antiga, com pouca decência e
alguma finalidade, por cuja razão de presente se intenta reedificar de novo, e está já
obra ajustada que finda e acabada poderá importar nove ou dez mil cruzados que os
paroquianos dela liberalmente pagam. O pároco dela é vigário, como dito fica, e sendo
priorado esta igreja, no tempo do Pontífice João XXII, passou a ser vigairaria, porque
este Pontífice concedeu uma bula de união de metade dos frutos dela ao Real Mosteiro
de Santa Clara extra muros da cidade de Coimbra, da qual este é padroeiro e pároco
ficou com só meios dízimos que se assinaram por congrua. E de presente tem somente a
de cento e quarenta mil réis, porque o dito mosteiro padroeiro no ano de 738 impetrou
da Sagrada Congregação os ensinamentos cardeais, outro breve da união dos ditos
meios dízimos que tinha para sua congrua o vigário.
E com a dita congrua o pé de altar poderá hoje render a dita vigairaria duzentos e
cinquenta mil réis. Tem esta vila nos seus arrabaldes para a parte do Sul um convento de
religiosos observantes de S. Francisco, denominado convento do Espírito Santo, o qual
não tem padroeiro e é muito antigo, pois a sua erecção mostrava ser de Templários, e
hoje se acha de novo reformado com bons edifícios, tem também junto à mesma vila e a
Nascente um colégio da Companhia de Jesus, que se acha quase completo, de admirável
edifício e proporcionada grandeza, que foi fundado e dotado pelo mestre de campo desta
Vila António de Figueiredo Pereira, de menos de trinta anos a esta parte, em o qual
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habitam já alguns religiosos, e não consta com certeza das suas rendas, mas há
presunção de que chegarão anualmente a sete ou oito mil réis.
Tem hospital e o administra o provedor da misericórdia desta vila, pelas poucas
rendas que ela tem, tem casa de misericórdia erecta há mais de 200 anos, e terá ainda de
renda cem mil réis anualmente. Tem esta vila as capelas seguintes: a de Nossa Sra. de
Vera Cruz, a de S. Lázaro, a da Sra. do Porto, a de Santa Cruz, a de S. Mamede, a de S.
Miguel, a de S. João Baptista, todas na vila e da freguesia de S. Pedro, menos a de S.
Mamede que é de S. Julião e fora da vila e no monte do Aljão. Tem mais duas capelas,
uma da Sra. dos Linhares e outra da Sra. das Celas junto do rio Mondego. E a nenhuma
delas acorre romagem de grande concurso. Dentro da mesma Igreja estão mais 3 capelas
particulares, uma de Santo António, outra da Sra. dos Prazeres e outra da Sra. da
Alegria. Os frutos que com maior abundância recolhe são milhos e centeios, e a maior
parte dos seus moradores vivem de fabricarem (panos) da (saregação) e sapeis para
vestuário de toda a Província Franciscana.
Tem esta vila juiz de fora e câmara, com sujeição somente aos corregedores da
cidade da Guarda, e tem também candeia e conserva a mesma câmara a regalia de a da
vila de Manteigas lhe mandar todos os anos no dia de S. João Baptista antes de nascer o
sol entregar duzentos e cinquenta réis de feudo e um púcaro de água tomada na fonte de
S. Pedro da dita vila de Manteigas depois de dada a meia-noite, e não o fazendo assim
os moradores dela ficaram impedidos e perdendo a direito que têm de pastarem com
seus gados até o alto da Serra no limite desta vila de Gouveia, o que exactamente se
observa e pratica com todas as cautelas necessárias.
Tem esta vila um mercado em todas as quintas-feiras e é livre, tem correio que
da cidade de Viseu chega a esta vila no Domingo e para a dita cidade parte com as
cartas no Sábado de manhã, e nela se lançam sexta-feira até à meia-noite. Dista esta vila
da cidade capital do bispado, catorze léguas, e quarenta e oito de Lisboa, capital do
Reino, tem esta vila por regalia o monte chamado do Aljão de uma légua de longitude e
meia de latitude que confina com o Rio Mondego, e dista desta vila meia légua, mercê
que os antigos reis de Portugal lhe fizeram, cujo monte é próprio dos moradores desta,
repartido em tantas courelas quantos são os moradores da mesma. E de três em três anos
sabem e se repartem por sortes, e cada um desfruta a que lhe acontece, e por todos
chegam a render cada ano quase de duas mil medidas de centeio, e os pastos rendem
para o conselho, calçadas da vila e para as fábricas das duas igrejas e misericórdia delas.
Nela três léguas distante desta vila para a parte do Sul nascem os três grandes rios
Mondego, Alva e Zêzere que está na serra chamada dos Cântaros, que é memorável e
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