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Aula 1 – Caracterização quantitativa

das águas residuárias


Caracterização quantitativa das águas residuárias

Carga

▪ Em vários cálculos, a quantificação dos poluentes é


representada em termos de carga.

▪ A carga é expressa em termos de massa por unidade de tempo,


podendo ser calculada por diferentes métodos, dependendo do
tipo de problema em análise, da origem do poluente e dos
dados disponíveis.

▪ A unidade mais utilizada é kg/dia.


Caracterização quantitativa das águas residuárias

 Relação dimensional entre carga e concentração:

𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 = 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑥 𝑣𝑎𝑧ã𝑜

𝑔 𝑚³
𝑘𝑔 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎çã𝑜 𝑥 𝑣𝑎𝑧ã𝑜
𝑚3 𝑑𝑖𝑎
𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 =
𝑑𝑖𝑎 𝑔
1000
𝑘𝑔

Obs.: g/m³ = mg/L.


Caracterização quantitativa das águas residuárias

 Exclusivamente para esgotos domésticos:

𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 = 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑥 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎

𝑔
𝑘𝑔 𝑝𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 ℎ𝑎𝑏 𝑥 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎
𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 = ℎ𝑎𝑏. 𝑑𝑖𝑎
𝑑𝑖𝑎 𝑔
1000
𝑘𝑔
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão doméstica

▪ Engloba os esgotos oriundos dos domicílios, bem como


atividades comerciais e institucionais normalmente
componentes de uma comunidade.

▪ Calculada com base no consumo de água de respectiva


localidade.

▪ O consumo é calculado em função da população de projeto e de


um valor atribuído para o consumo médio diário de água por
cada habitante – Quota per capita (QPC).
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ A produção de esgotos corresponde aproximadamente ao


consumo de água.

▪ A fração da água fornecida que adentra na rede de coleta na


forma de esgoto é denominada coeficiente de retorno (R).

▪ Os valores típicos de R variam de 40% a 100%, sendo um valor


usualmente adotado o de 80% (R = 0,8).
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ O calculo da vazão média doméstica de esgotos é dada por:

𝑃 . 𝑄𝑃𝐶 . 𝑅 𝑃 . 𝑄𝑃𝐶 . 𝑅
𝑄𝑑𝑚é𝑑 = 𝑄𝑑𝑚𝑒𝑑 =
1000 86400
(em m³/dia) (em L/s)

Onde:
Qdméd = vazão domestica média de esgotos (m³/dia ou L/s);
QPC = quota per capita de água (L/hab.dia);
P = população (habitantes);
R = coeficiente de retorno esgoto/água
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ Faixas típicas de consumo per capita de água (QPC):

▪ Estes valores podem variar de localidade para localidade.


Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ Consumo de água típico de alguns estabelecimentos


comerciais:
Caracterização quantitativa das águas residuárias
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ Consumo de água típico de alguns estabelecimentos


institucionais:
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos


▪ Fatores que influenciam o consumo médio de água:
▪ Disponibilidade de água;
▪ Clima;
▪ Porte da comunidade;
▪ Condições econômicas;
▪ Grau de industrialização;
▪ Medição do consumo residencial;
▪ Custo da água;
▪ Pressão da água.
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ Deve-se destacar que a vazão de água a ser considerada é a


vazão REALMENTE consumida, e não a vazão produzida pela
Estação de Tratamento de Água (ETA).

▪ As vazões de água produzidas são superiores as consumidas,


em virtude das perdas, que variam tipicamente numa faixa de
30% a 50%.
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão média de esgotos

▪ Por exemplo: numa localidade onde a perda seja de 40% para


cada 100 m³/dia de água produzida

✓ 40 m³/dia são perdidos


✓ 60 m³/dia são consumidos
✓ Dos 60 m³/dia consumidos  48 m³/dia retornam na forma de
esgoto (R = 80%)
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazões máximas e mínimas

▪ O consumo de água e a geração de esgotos em uma localidade


variam em determinados períodos de tempo:

▪ ao longo do dia (variações horárias);

▪ ao longo da semana (variações diárias);

▪ ao longo do ano (variações sazonais).


Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazões máximas e mínimas


▪ Hidrograma típico da vazão afluente em uma Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE):

Dois picos principais:


Início da manhã (mais pronunciado);
Início da noite (mais distribuído)
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazões máximas e mínimas


▪ Tem sido prática corrente a adoção dos seguintes coeficientes
de variação da vazão média de água:
▪ K1 = 1,2 (coeficiente do dia de maior consumo);
▪ K2 = 1,5 (coeficiente da hora de maior consumo);
▪ K3 = 0,5 (coeficiente da hora de menor consumo).

▪ Assim, as vazões máximas e mínimas de água podem ser dadas


por:
▪ Qmáx = Qméd . K1 . K2 = 1,8 . Qméd
▪ Qmín = Qméd . K3 = 0,5 . Qméd
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazões máximas e mínimas

▪ Ao se pensar em termos das variações horárias das vazões de


esgoto, deve-se levar em consideração que as flutuações são
amortecidas ao longo da rede coletora.

▪ Quanto maior a rede (ou a população), menores serão as


chances de vazões de pico se superporem simultaneamente na
entrada da ETE.

▪ Assim, o tempo de residência na rede coletora tem uma grande


influência no amortecimento dos picos de vazão.
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazões máximas e mínimas

▪ Baseados neste conceito, alguns autores desenvolveram


fórmulas para correlacionar os coeficientes de variação com a
população, ou com a vazão média:

Notas: P = população, em milhares de habitantes


A fórmula de Gifft é indicada para P < 200 (população < 200.000 hab)
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão de infiltração

▪ A infiltração pode ocorrer através de tubos defeituosos,


conexões, juntas ou paredes de poços de visita

▪ A quantidade de água infiltrada depende de diversos fatores,


como: extensão da rede coletora, diâmetro das tubulações, área
servida, tipo de solo, topografia, densidade populacional,
profundidade do lençol freático.

▪ Não se computam, neste caso, as vazões advindas de ligações


clandestinas de águas de chuva na rede de esgoto.
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão de infiltração

▪ Valores aproximados de taxas de infiltração em sistemas de


esgotamento:
Caracterização quantitativa das águas residuárias

Vazão de infiltração
▪ ABNT NBR 9.649  faixa de 0,05 a 1,00 L/s.km.

▪ Metcalf e Eddy (1991)  0,01 a 1,00 m³/dia.km por mm (em


função do diâmetro da tubulação).

▪ Taxa de infiltração por extensão de rede e extensão per capita


de rede  8 a 150 L/hab.dia.

▪ Em termos de área de drenagem  0,2 a 20 m³/dia por hectare


de área drenada.
Estudos populacionais

▪ A população contribuinte à ETE é aquela situada dentro da área


de projeto, servida pela rede coletora, e ligada à mesma.

▪ Portanto, a população de projeto é uma fração da população


total da cidade ou da bacia contribuinte à ETE.

▪ Esta fração (população servida/população total) é denominada


índice de atendimento (ou cobertura).

▪ É determinada (condições atuais) ou estimada (condições


futuras).
Estudos populacionais

▪ Na estimativa da projeção de vazões e cargas, os cálculos são


feitos tendo por base a população servida (população urbana
total x índice de atendimento)
▪ Ano zero  valor igual ou próximo ao índice atual;
▪ Final de plano  valor elevado, entre 90 e 100%.

▪ Entre o ano zero e o final de plano, adotam-se incrementos no


índice de atendimento, coerentes com o planejamento da
companhia de saneamento.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Crescimento aritmético

𝑑𝑃
= 𝐾𝑎
𝑑𝑡

dP/dt = taxa de crescimento da população em função do tempo


Crescimento com taxa constante.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Crescimento aritmético

𝑃2 − 𝑃0
𝑃𝑡 = 𝑃0 + 𝐾𝑎 . (𝑡 − 𝑡𝑜 ) 𝐾𝑎 =
𝑡2 − 𝑡0

Pt = população estimada no ano t (hab)


P0, P2 = populações nos anos t0 e t2 (hab)
Ka = coeficiente (razão da taxa de crescimento da população em função do tempo)

Utilizado para estimativas de menor prazo.


Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Crescimento geométrico

𝑑𝑃
= 𝐾𝑔 . 𝑃
𝑑𝑡

dP/dt = taxa de crescimento da população em função do tempo


Crescimento em função da população existente a cada instante.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Crescimento geométrico

𝐾𝑔 .(𝑡−𝑡0 )
𝑙𝑛𝑃2 − 𝑙𝑛𝑃0
𝑃𝑡 = 𝑃0 . 𝑒 𝐾𝑔 =
𝑡2 − 𝑡0

Pt = população estimada no ano t (hab)


P0, P2 = populações nos anos t0 e t2 (hab)
Kg = coeficiente (razão da taxa de crescimento da população em função do tempo)

Utilizado para estimativas de menor prazo.


Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Taxa decrescente de crescimento

𝑑𝑃
= 𝐾𝑑 . (𝑃𝑠 − 𝑃)
𝑑𝑡

dP/dt = taxa de crescimento da população em função do tempo

Na medida em que a cidade cresce, a taxa de crescimento torna-se


menor.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Taxa decrescente de crescimento

𝑃𝑡 = 𝑃0 + 𝑃𝑠 − 𝑃0 . 1 − 𝑒 −𝐾𝑑 .(𝑡−𝑡0 )

2. 𝑃0 . 𝑃1 . 𝑃2 − 𝑃12 . (𝑃0 + 𝑃2 ) (𝑃𝑠 −𝑃2 )


− ln
𝑃𝑠 = (𝑃𝑠 − 𝑃0 )
𝑃0 . 𝑃2 − 𝑃12 𝐾𝑑 =
𝑡2 − 𝑡0

Pt = população estimada no ano t (hab) Ps = população de saturação (hab)


P0, P1, P2 = populações nos anos t0, t1 e t2 (hab)
Kg = coeficiente (razão da taxa de crescimento da população em função do tempo)

A população tende assintoticamente a um valor de saturação.


Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Curva logística

𝑑𝑃 𝑃𝑠 − 𝑃
= 𝐾1 . 𝑃 .
𝑑𝑡 𝑃𝑠

dP/dt = taxa de crescimento da população em função do tempo

População segue uma curva em forma de S e tende assintoticamente


a um valor de saturação.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos matemáticos


▪ Curva logística

𝑃𝑠 2. 𝑃0 . 𝑃1 . 𝑃2 − 𝑃12 . (𝑃0 + 𝑃2 )
𝑃𝑡 = 𝑃𝑠 =
1 + 𝑐 . 𝑒 𝐾1 .(𝑡−𝑡0 ) 𝑃0 . 𝑃2 − 𝑃12

(𝑃𝑠 − 𝑃0 ) 1 𝑃0 . 𝑃𝑠 − 𝑃1
𝑐= 𝐾1 = . ln
𝑃0 𝑡2 − 𝑡1 𝑃1 . 𝑃𝑠 − 𝑃0

Pt = população estimada no ano t (hab) Ps = população de saturação (hab)


P0, P1, P2 = populações nos anos t0, t1 e t2 (hab)
Kg e c = coeficientes (razão da taxa de crescimento da população em função do tempo)

Os dados devem ser equidistantes no tempo.


Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos indiretos


▪ Comparação gráfica entre cidades similares
▪ Dados passados da população em estudo.

▪ Dados populacionais de cidades similares, porém maiores,


são plotados de tal maneira que as curvas sejam coincidentes
no valor atual da população em estudo.

▪ Curvas utilizadas como referência na projeção futura da


cidade em questão.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos indiretos


▪ Método da razão e correlação
▪ Assume-se que a população tem a mesma tendência da região
na qual se encontra.

▪ Base nos registros censitários.

▪ Razão “população da cidade/população da região”.

▪ A população é obtida a partir da projeção populacional da


região (efetuada por algum órgão) e da razão projetada.
Estudos populacionais

Projeção populacional – métodos indiretos


▪ Previsão com base nos empregos

▪ Previsão de empregos efetuada por algum outro órgão.

▪ Com base nos dados passados de população e pessoas


empregadas, calcula-se a relação “emprego/população”, a
qual é projetada para os anos futuros.

▪ A população é obtida a partir da projeção do número de


empregos da cidade.
Estudos populacionais

População flutuantes

▪ Localidades turísticas e de veraneio.

▪ Variação da população ao longo do ano, atingindo valores mais


elevados durante férias e feriados.

▪ É importante o conhecimento do acréscimo populacional


advindo desta população flutuante, pois esta gerará esgoto que
pode resultar em problema de sobrecarga à ETE.
Estudos populacionais

População flutuantes

▪ Em sistemas compactos  efluentes retidos por apenas


algumas horas  grande impacto dos picos populacionais.

▪ Em sistemas com longo tempo de detenção hidráulica  picos


de feriados curtos podem ser absorvidos.

▪ No caso de férias  aumento de carga por um ou dois meses


 mesmo os sistemas com tempo de detenção hidráulica maior
poderão ser afetados  dimensionamento da ETE.
Estudos populacionais

População flutuantes
Exercícios

1. Calcule a vazão média, a vazão mínima e a vazão máxima de


esgotos gerados em uma cidade de médio porte que tem
70.000 habitantes. Adotar R = 0,8.

𝑄𝑚á𝑥 14
𝑃𝑜𝑝 . 𝑄𝑃𝐶 . 𝑅 = 1+
𝑄𝑑𝑚é𝑑 = (𝑚3 /𝑑𝑖𝑎) 𝑄𝑚é𝑑 4 + 𝑃0,5
1000
𝑃𝑜𝑝 . 𝑄𝑃𝐶 . 𝑅
𝑄𝑑𝑚é𝑑 = (𝐿/𝑠) 𝑄𝑚í𝑛
86400 = 0,2 . 𝑃0,16
𝑄𝑚é𝑑
Exercícios

2. Considere uma tubulação de 30 km, formada por tubos de


diâmetro menor que 400 mm, com junta elástica, com lençol
freático acima das tubulações, e com permeabilidade do solo
alta. Calcule a vazão de infiltração.
Exercícios

3. Considerando os resultados obtidos nos exercícios 1 e 2, qual


é a vazão total afluente à estação de tratamento de esgoto?

4. Considere uma cidade com 34.000 habitantes, que gera uma


vazão média de esgoto de 62 L/s, e onde a contribuição
doméstica per capita de DBO é de 50 g/hab.dia. Calcule a carga
e a concentração de DBO que chega na ETE deste cidade.

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