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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

LIONY SENA PEREIRA

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS NO


MUNDO DO TRABALHO

Palhoça
2019
LIONY SENA PEREIRA

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS NO


MUNDO DO TRABALHO

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao Curso de Ciências
Econômicas em graduação, da Universidade
do Sul de Santa Catarina, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. João Antolino Monteiro

Palhoça
2019
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 3
1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ............................................................ 3
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 5
1.2.1 Objetivo geral .............................................................................................. 5
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................... 5
1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 6
1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS................................................................ 7

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 9


2.1 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................. 9
2.1.1 Histórico ...................................................................................................... 9
2.1.2 A 1ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ................................. 11
2.2 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ............................................................... 12
2.2.1 Histórico .................................................................................................... 12
2.2.2 A 2ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ................................. 13
2.3 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL................................................................ 15
2.3.1 Histórico .................................................................................................... 15
2.3.2 A 3ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ................................. 16
2.4 TRABALHO ..................................................................................................... 18
2.4.2 Conceito ..................................................................................................... 18
2.4.3 Trabalho ao longo da história até a atualidade ........................................ 20
2.5 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL .............................................................. 23

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ................................................................. 32


3.1 OS IMPACTOS DA QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO TRABALHO .............. 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 39

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 41
3

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização o ser humano tem criado novas formas de


sobrevivência, de modo a facilitar a sua própria existência. À medida que as sociedades
foram se desenvolvendo, as dinâmicas produtivas tiveram o mesmo destino, com
técnicas e formatos de produção que se moldaram às novas realidades e necessidades
criadas. Inicialmente essas transformações demoravam séculos ou até mesmo milênios
para se concretizarem.
A partir da Primeira Revolução Industrial (1760) o acúmulo de técnicas foi se
avolumando de tal forma, que acabou por desembocar na Segunda (1850) e na
Terceira (1950). Com o avanço tecnológico experimentado nas últimas décadas, as
mudanças em todas as áreas são cada vez mais rápidas e intensas, que podem
caracterizar uma nova fase, a Quarta (SCHWAB,2016). Esse estágio exige também
novas formas de se perceber e compreender o mundo, em especial no âmbito do
trabalho, que tem relevância fundamental em como os seres humanos se relacionam
com a natureza e entre si.
Nesse contexto, compreender a Quarta Revolução Industrial é de suma
importância para haver um melhor entendimento dos possíveis impactos, positivos ou
negativos, que ela pode gerar nos processos de produção e, consequentemente, no
mundo do trabalho.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

A sociedade, ao longo de sua evolução, teve inúmeras formas de se relacionar


com a natureza e de extrair aquilo que lhe conviesse para sua própria sobrevivência e
reprodução. Existiram, no decorrer do tempo, muitos arranjos distintos entre as
capacidades produtivas e as formas de trabalho.
Para compreender a Quarta Revolução Industrial é preciso entender o contexto
histórico dessa evolução. Houve o período em que não havia o domínio da agricultura
nem da pecuária, o que tornava a relação do homem e da natureza muito direta, em
4

sociedades basicamente nômades, baseadas na caça, pesca e na coleta. (REBOLLAR,


2010)
Posteriormente, a criação da agricultura e da pecuária, cerca de 10.000 anos
atrás, provocou uma sedentarização dos povos. Estes fixados e com maior
disponibilidade de alimentos, resultaram em um aumento dos grupos, que
anteriormente eram de centenas, para milhares. (REBOLLAR,2010).
A Primeira Revolução Industrial, ocorrida inicialmente em solo inglês, por volta
de 1760, mudou drasticamente a estrutura demográfica, fazendo uma transição dos
povos que viviam essencialmente nos campos, para as cidades que concentravam as
indústrias. A mecanização da produção ocasionou um aumento na oferta de produtos
nunca antes visto, especialmente no setor têxtil. (HOBSBAWN, 2000)
A Segunda Revolução Industrial já foi mais abrangente e ocorreu em mais
países simultaneamente, como a Alemanha e Estados Unidos, tendo início em meados
do século XIX, com a introdução da energia elétrica e uso do petróleo, além do fordismo
e taylorismo que otimizaram os sistemas de produção, em termos quantitativos. (SAES,
SAES, 2013)
A Terceira Revolução Industrial começou por volta de meados do século XX e
teve destaque no aprimoramento da informática e robótica que começou a ser
introduzida na produção, assim como na mudança da estrutura econômica, com o setor
terciário (bens e serviços) aumentando consideravelmente. (REZENDE, 2010)
Posto isso, chega-se ao processo que alguns autores denominam como Quarta
Revolução Industrial, que, assim como as outras fases na história, tem características e
peculiaridades próprias. Essa nova fase é caracterizada pelo aumento tecnológico em
níveis nunca antes presenciados, com o crescimento exponencial das capacidades de
computação, a internet permeando todo o tecido social de maneira intensa, facilitando
as comunicações e entrando na produção e circulação de mercadorias, a inteligência
artificial ganhando contornos inimagináveis, assim como o aprendizado das máquinas,
que pode ter consequências fantásticas. (SCHWAB,2016)
A partir daí inúmeras novas descobertas ocorreram simultaneamente nas mais
variadas áreas, como o sequenciamento genético, nanotecnologia, energias renováveis
e computação quântica (SCHWAB,2016). Com todos esses aspectos pode-se entender
5

que, assim como as outras fases elencadas, essa também terá influências direta na
forma como a sociedade evolui. A internet, por exemplo, já mudou, em grande medida,
a forma como as pessoas se relacionam entre si. Independentemente dos juízos
emitidos pelos analistas, se essas mudanças são boas ou ruins, elas são
incontestáveis.
O trabalho, por fazer parte dessa nova realidade, também será impactado
diretamente, pois tanto os tipos existentes, quanto a maneira como são estruturados,
derivam das tecnologias empregadas no processo produtivo. No século XVIII, por
exemplo, a indústria se tornou tão importante quanto a agricultura, assim como influiu
no surgimento de novas profissões, tecnologias, e até mesmo conflitos.
(REBOLLAR,2010).
Dessa forma, surge uma pertinente pergunta que não quer calar. Quais serão as
possíveis consequências, oriundas da Quarta Revolução Industrial, no mundo do
trabalho?

1.2 OBJETIVOS

Tomando como base o problema de pesquisa, apresentam-se, na sequência, os


objetivos a serem alcançados no trabalho de conclusão de curso.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do trabalho de conclusão de curso é verificar quais serão as


possíveis consequências, oriundas da Quarta Revolução Industrial, no mundo do
trabalho.

1.2.2 Objetivos específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral, apresentam-se alguns


objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho:
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 Descrever as formas de trabalho até a atualidade;


 Apresentar as características da Quarta Revolução Industrial;
 Identificar as possíveis consequências da evolução da Quarta Revolução
Industrial;
 Identificar as novas profissões que surgirão ou desaparecerão a partir da
Quarta Revolução Industrial.

1.3 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho se mostra relevante pela atualidade do tema, pois é algo


que possui consequências incertas e algumas poucas análises, pelo menos até o
presente momento. A extinção de algumas formas de trabalhos, conhecidos até então,
em decorrência do aumento tecnológico, serão supridos pela criação de novos em
outros ramos? Todas as possíveis consequências a essa indagação são de grande
relevância e impactam diretamente na forma como as sociedades vivem.
No âmbito acadêmico, sua importância se dá em entender uma nova realidade
que está em andamento, aparentemente incontestável, com vistas a relacioná-la às
outras áreas do conhecimento e servir de subsídios a outros pesquisadores que
queiram entender e contribuir para solucionar os impasses criados, que são de várias
naturezas.
O tema possui certa abrangência e se relaciona a áreas como: Economia,
Direito, Sociologia e Filosofia.
No âmbito governamental, podem ser criadas políticas públicas que utilizem
esses conhecimentos gerados para antever os problemas e ajudar a criar soluções,
com vistas a diminuir ou até mesmo eliminar seus possíveis defeitos, assim como a
antecipar as consequências benéficas para potencializá-las, de forma a extrair os
principais pontos.
Para o autor, a importância é aplicar os conhecimentos adquiridos em anos de
estudos, com o intuito de contribuir e auxiliar a desbravar um terreno do conhecimento,
que, por enquanto, é pouco povoado.
7

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem por escopo entender a relação entre um novo formato
de produção, que alguns autores caracterizam por Quarta Revolução Industrial, e seus
reflexos nos domínios do trabalho. O procedimento adotado para a consecução desse
objetivo se dará por meio de pesquisa bibliográfica. Para Marconi e Lakatos (1992,
p.43-44) “Trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de
livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita”. Dessa forma, segundo Gil
(2002), ao utilizar essas fontes secundárias, o pesquisador precisa ficar atento para não
utilizar informações de dados que foram processados ou coletados de forma enviesada,
e não perpetuar ou aprofundar certos erros, utilizando critérios de análise para
descobrir incoerências ou contradições.
Como o intuito é descrever certos fenômenos e contextualizá-los a uma certa
realidade, em relação a abordagem da pesquisa, ela é qualitativa. Nessa abordagem, o
pesquisador “Explora uma metodologia predominantemente descritiva, deixando em
segundo plano modelos matemáticos e estatísticos.” (CASARIN, CASARIN, 2012,
p.32). Desse modo, a narração é feita de acordo com os as visões e impressões do
autor, que utiliza argumentos próprios com vistas a convencer o leitor de suas
convicções (CASARIN, CASARIN, 2012). A subjetividade é um fator inconteste, na
pesquisa qualitativa, tanto é que pode gerar também uma multiplicidade de ideias sobre
um mesmo tema entre pesquisadores distintos.
Todas as pesquisas buscam atingir certos objetivos. O que se entende por
objetivo está intimamente associado aos fins a que se quer chegar. Pode ser “a busca
para a solução de um problema, a explicação para um determinado fenômeno ou,
simplesmente, novos conhecimentos que venham a enriquecer os já existentes sobre
determinado tema.” (CASARIN, CASARIN, 2012, p. 40).
Basicamente, pela novidade do tema, o foco será em uma abordagem
introdutória, sem a pretensão de exaurir o tema, com a perspectiva de iniciar e
contribuir ao debate. Isso posto, a pesquisa, em relação aos objetivos é de caráter
exploratória, pois, como ensina Gil (2002, p. 41) “pode-se dizer que estas pesquisas
têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.”
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No que tange a natureza da pesquisa, ou seja, sua aplicabilidade, a pesquisa é


do tipo aplicada. De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 51) esse tipo de pesquisa
“objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas
específicos. Envolve verdades e interesses locais.” O estudo se preocupa em explicitar
pontos relevantes e prováveis aplicações, tendo por natureza aplicação prática.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A história fornece elementos de estudo que dão coerência a muitos fatos


presentes. Sem entender as Revoluções Industriais e as relações de trabalho pretéritas
fica difícil compreender o que é a Quarta Revolução e como se dá sua relação com o
trabalho. Não se conseguiria traçar paralelos para defini-la, nem para entender
prováveis implicações dela decorrentes. Para isso, um breve histórico é feito, com
vistas a uma melhor assimilação do conteúdo a ser apresentado.

2.1 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.1.1 Histórico

A primeira revolução industrial tem um espaço primordial na história, em especial


na história econômica, por tudo aquilo que ela representa. Ocorrida inicialmente na Grã-
Bretanha por volta de 1760, foi a partir dela que se viu mudanças profundas nas
estruturas sociais e econômicas, em decorrência, principalmente, do aumento
quantitativo e qualitativo da capacidade de produção.
Mesmo tendo sido a primeira, isso não quer dizer que começou do zero, nem
que a tecnologia só se desenvolveu nesse período e não existia nos outros. Na
verdade, como ensina Hobsbawn, “a tecnologia da manufatura do algodão era pois
bastante simples, e, como veremos, também era simples a maioria das restantes
mudanças, que, coletivamente, constituíram a “Revolução Industrial”.
(HOBSBAWN,2000, p.56).
Percebe-se então, nesta primeira fase, que não há nada de excepcional nas
técnicas produtivas. Até havia tecnologias mais avançadas, mas não eram utilizadas
pelo desinteresse em usá-las, pois seus resultados na produção não pareciam
evidentes para a maioria das pessoas. Como perceberam que algumas ideias e
dispositivos simples e acessíveis podiam gerar bons resultados, começaram a se
beneficiar. Outro aspecto a ser ressaltado, era que não precisava de grandes níveis de
capacitação, gerencial ou educacional para levar um negócio qualquer adiante, visto
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que, como ressaltado anteriormente, os métodos eram muito simples, por vezes
primitivos. (HOBSBAWN, 2000)
Uma mudança drástica, do ponto de vista demográfico, foi sentida. Um número
que impressiona é o do crescimento populacional das cidades. Manchester, por
exemplo, tinha em 1760 uma população de 17.000. Em 1830 esse número passou para
180.000, ou seja, dez vezes mais. Se em 1750 haviam apenas duas cidades na Grã-
Bretanha acima de 50.000 habitantes, em 1801 já eram 8, e 1851 eram 29.
(HOBSBAWN,2000)
Como a produção era insuficiente para suprir as crescentes demandas externas
e internas, precisava-se aumentar as quantidades produzidas. Não era mais possível
manter o ritmo anterior. Para isso, não era a produção artesanal que iria suprir essas
necessidades, e sim as fábricas, com suas produções em escala. Iglésias afirma,
impõe-se mostrar quais os setores que se desenvolveram e caracterizaram a
Revolução Industrial. Esquematicamente, pode-se dizer que foram três: a
máquina a vapor, tecidos de algodão, com novas formas de fiação e tecelagem,
e, por fim, a indústria pesada, com a mineração e a metalurgia. (IGLÉSIAS,
1986, p.51)

O setor têxtil apresentou a maior relevância do período por diversos aspectos.


Não que outros setores não tenham crescido e contribuído tecnologicamente para o
progresso da revolução, como os da farinha de trigo e os das bebidas alcoólicas, mas
pela relação que o ramo têxtil tinha com o comércio exterior e com o governo
(HOBSBAWN, 2000).
O governo exercia um papel fundamental, pois produzia guerras com o intuito de
expandir os mercados, e o principal produto exportado eram desse setor. O mercado
interno crescia bastante em função do aumento populacional, mas o mercado externo
crescia em ritmos muito maiores, justamente por causa dessa influência estatal de
expansão comercial. Isso mostra-se tão evidente, que boa parte da matéria-prima
necessária a indústria têxtil, que foi o algodão, era essencialmente importada, ou seja,
no território britânico não havia produção de algodão (IGLÉSIAS,1986).
Além do mais, as guerras contribuíam para a inovação tecnológica e
industrialização, pois o mercado de ferro, por exemplo, estava intimamente ligado aos
anseios da Marinha de Guerra, para a produção de artefatos bélicos, como materiais de
11

artilharia. Algumas das inovações ocorreram justamente por causa de vultosos


contratos do governo que precisavam ser cumpridos em determinados prazos.
(HOBSBAWN, 2000)

2.1.2 A 1ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Alguns fatos chamam atenção nesse período histórico. O trabalho industrial era
muitas das vezes realizado por crianças, em condições insalubres e jornadas de
trabalho desgastantes, de 12 a 15 horas de trabalho por dia. A alimentação oferecida
era das piores possíveis, além de haverem muitos acidentes sérios de trabalhos, em
que havia a perda de membros. A situação dos adultos que trabalhavam também era
muito precária, em termos de jornadas, desgaste físico, mental e insalubridade, embora
não passassem por algumas dificuldades que as crianças passavam. (SAES, SAES,
2013)
Algo a ser salientado são as profundas mudanças que ocorreram entre o período
industrial e o pré-industrial. No pré-industrial, o que predominava eram trabalhos
basicamente rurais, onde as relações com os superiores, embora complexas eram mais
próximas; enquanto que, as relações de trabalho nas fábricas se fundavam
basicamente na hierarquia, com grande distanciamento entre o assalariado e o seu
superior, pois o salário era seu único vínculo (SAES,SAES,2013).
Alguns fatos chamam a atenção,
a disciplina do trabalho na fábrica é rígida, o trabalho repetitivo e monótono, o
relógio dita o ritmo não permitindo ao operário qualquer autonomia; já o trabalho
pré-industrial admitia variações em tarefas não tão especializadas e mesmo
alguma liberdade para o empregado realizar suas tarefas escapando do rígido
controle do seu patrão(SAES, SAES, 2013, p.203).

A condição de vida das cidades onde os trabalhadores viviam é um caso à parte.


Tinham muitos problemas sanitários, doenças das mais variadas se espalhavam
rapidamente, habitações indignas de sobrevivência e falta completa de ações de saúde
públicas. (HOBSBAWN,2000)
12

O padrão de vida dos trabalhadores era muito baixo, mas com o passar do
tempo, as condições materiais e trabalhistas melhoraram um pouco. Como ensina
Iglésias,
em meados do século XIX – na aurora do industrialismo, pois -, havia proteção
e interesse por melhores condições de trabalho, em parte pela pregação liberal
e sobretudo socialista e pela organização dos próprios trabalhadores em defesa
de seus interesses. (IGLÉSIAS, 1986, p.108).

A organização dos trabalhadores foi fundamental para a melhoria de sua própria


qualidade de vida. Foi tão importante que posteriormente, as conquistas
previdenciárias, assistencialistas e a noção de Estado de bem-estar (Welfare State),
são derivados justamente dessa organização. (IGLÉSIAS, 1986)

2.2 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.2.1 Histórico

Historicamente, por vezes, é difícil a especificação de determinados períodos em


datas rígidas e específicas. Pode-se dizer que a Segunda Revolução Industrial se situa
em meados do século XIX, com o início por volta de 1850-1860, representado, da
mesma forma que a primeira, por um salto qualitativo nas formas e maneiras de se
produzir.
Se a Grã-Bretanha foi a precursora da primeira e esteve em evidência por cerca
de um século, seu protagonismo nessa época foi sendo dividido com outros países, em
especial, Alemanha e Estados Unidos.
Cabe salientar quais foram os principais destaques deste novo ciclo. Pode-se
citar novos materiais e novas formas de energia que surgiram ou foram aprimoradas,
além de novos produtos que apareceram no dia a dia das pessoas.
Em termos de energia, se a máquina a vapor foi útil para a primeira revolução,
os combustíveis líquidos (petróleo e derivados) e a eletricidade, foram propulsoras
dessa nova era. Alguns materiais como o aço, que substituiu o ferro em diversas
aplicações e o alumínio, foram sendo utilizados cada vez mais. A indústria química
também se desenvolveu para atender a indústria têxtil. (SAES, SAES,2013)
13

Para os indivíduos deve-se levar em consideração


o impacto da Segunda Revolução Industrial sobre o quotidiano das pessoas por
meio da introdução de novos bens: telefone, gramofone, lâmpada elétrica,
pneus, maquinas de escrever, radiotelegrafia e já um pouco adiante o
automóvel e o cinema dão uma ideia da ampla mudança que se processou no
dia a dia de grande parte da população mundial. (SAES, SAES, 2013, p.225)

Um processo que foi observado nessa fase, foi o de concentração do capital. O


capitalismo “concorrencial”, com pequenas e médias empresas, se transformou em
capitalismo “monopolista”. Isso quer dizer que houveram muitas fusões, aquisições,
formações de cartéis, tudo isso para garantir o monopólio de determinados ramos
econômicos e com isso manter maior margem de lucro. (REZENDE, 2010)
Algo que necessita de certa ênfase é a diferença entre as técnicas produtivas.
Na primeira revolução, os métodos eram simples, por vezes até primitivos, em que não
haviam grandes necessidades de inovações nem de capacidades gerenciais. Foi
essencialmente desenvolvida por homens práticos, que poderiam utilizar até certo
ponto seu conhecimento comum e conseguir êxito considerável.
Na segunda revolução o caráter científico já estava mais latente e isso acabava
por exigir
conhecimento científico mais aprofundado, sendo muitas vezes o fruto de
pesquisas em laboratório. A dimensão da empresa passou a ser importante
também nesse sentido porque a realização de pesquisas demanda recursos
financeiros e técnicos não acessíveis à pequena empresa. (SAES, SAES, 2013,
p.225).

Como a inovação com bases técnico-científicas se torna essencial, isso explica,


em partes, a mudança da estrutura do mercado, que somente grandes empresas
conseguiriam fazer frente a essa crescente necessidade.

2.2.2 A 2ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Como citado anteriormente, o período foi de aumento do tamanho das


organizações. Esse fato exigia também uma mudança nos métodos organizacionais,
visto que os métodos anteriores, por serem muito mais movidos pela prática que pela
técnica não comportavam essas alterações. Da mesma maneira que o período exigiu
14

um conhecimento científico mais apurado para as inovações, os processos de


manufatura precisavam ser otimizados e os operários mais qualificados. Com isso, a
abordagem clássica da administração, representadas pela Administração Científica
(Taylor) e Teoria Clássica (Fayol), surgem na esteira desses acontecimentos,
justamente para tentar reparametrizar a estrutura das organizações frente aos novos
problemas.
Para efeitos deste trabalho, talvez o maior expoente dessas mudanças
organizacionais no campo da produção seja Henry Ford, que utilizou a Administração
Científica para ressignificá-la.
Entre 1905 e 1910, Ford promoveu a grande inovação do século XX: a
produção em massa. Embora não tenha inventado o automóvel nem mesmo a
linha de montagem, Ford inovou na organização do trabalho: a produção de
maior número de produtos acabados com a maior garantia de qualidade e pelo
menor custo possível. E essa inovação teve maior impacto sobre a maneira de
viver do homem do que muitas das maiores invenções do passado da
humanidade. (CHIAVENATO, 2003, p.65).

Também introduziu algumas outras mudanças “estabeleceu o salário mínimo de


cinco dólares ao dia e jornada diária de oito horas, quando, na época, a jornada variava
entre dez e doze horas.” (CHIAVENATO, 2003, p.65).
A produção em massa, com o advento da linha de produção reduziu os custos
da produção e possibilitou grande especialização do trabalho, ao mesmo tempo que, ao
aumentar o salário, propiciou o consumo abrangente ao trabalhador, que antes era
restrito somente a classes mais abastadas. Os trabalhadores possuíam certa
estabilidade nos empregos e o futuro, tanto das empresas, quanto dos trabalhadores
parecia ser muito certo e livre de incertezas.
Mesmo reconhecendo os benefícios desse novo jeito de produzir, é preciso
reconhecer outros aspectos. Também há críticas à Administração Científica. Ao colocar
a maximização da produtividade como a única finalidade de uma empresa, o
trabalhador se transforma em mero executor de tarefas, pois o seu único interesse, por
essa concepção, seria maximizar o seu ganho material e financeiro. Essas ideias
deixam de levar em consideração os inúmeros aspectos psicológicos e intangíveis do
trabalho. (CHIAVENATO, 2003)
15

2.3 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.3.1 Histórico

A Terceira Revolução Industrial iniciou aproximadamente em meados do século


XX, em 1950, sendo caracterizada pela utilização da informática e da robótica que
passaram a integrar os processos produtivos, ocasionando certa automação destes.
Seu início também coincidiu com a chamada Era de Ouro do capitalismo, que foi de
1945 até 1973. (SAES, SAES, 2013; REZENDE,2010)
A automação, nas palavras de Cyro Rezende seria “a utilização de máquinas ou
de processos automáticos que executam tarefas com uma reduzida supervisão
humana, ou que produzem habilidades específicas além da capacidade do homem”
(REZENDE, 2010, p.302). Esse novo fato possibilitou um aumento produtivo
substancial, em especial no período de 1945 a 1973, que foi refletido no crescimento do
PIB em diversos países, assim como na diminuição da distância entre eles, como:
Japão, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e França.
O processo de expansão da produção aliado ao aumento de salários em todos
esses anos, ocasionou algo denominado consumo de massas em todos os países
centrais do sistema. A disponibilidade de inúmeros produtos se mostrou evidente. O
automóvel, por exemplo, que surgiu na Segunda Revolução, transformou-se em um
objeto relativamente trivial. Aparelhos eletrodomésticos, que antes eram restritos a uma
pequena parte da população, começam a fazer parte do cotidiano de grande
contingente populacional. (SAES, SAES, 2013)
O processo de concentração de capital (capital monopolista), que se iniciou na
Segunda Revolução, ganhou contornos internacionais (capital monopolista
internacional). A figura da empresa multinacional se dissemina com o intuito de
expandir os lucros, aproveitando-se de uma série de conjuntos, como salários baixos,
isenções fiscais, financiamento ao consumo e ampliação de infraestrutura de países
periféricos. (REZENDE,2010)
O estado agiu de maneira ativa nessa internacionalização do capital, para
continuar garantindo os lucros privados e mantendo os países periféricos dependentes.
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As pesquisas estatais, nas mais diversas áreas, acabaram por beneficiar inúmeras
empresas. Empresas pequenas e familiares continuavam sem ter muito espaço, visto
que as pesquisas para criação de novos produtos e tecnologias exigiam vultosas
quantias que só grandes empresas e governos conseguiam dispor. As supostas “ajudas
financeiras” feitas dos países centrais aos periféricos, nada mais foram que formas de
benefício próprio, pois enquanto davam de um lado, tiravam pelo outro. (REZENDE,
2010)
A partir da década de 1990 um processo conhecido como Globalização dita os
rumos da economia em todas as partes do mundo. O barateamento no preço dos
transportes, o uso das novas tecnologias da informação e da comunicação e a
desregulamentação financeira iniciada na década 1980 possibilitaram um maior fluxo de
capitais e de mercadorias ao redor do globo. Esse processo acabou por intensificar a
internacionalização de capital, iniciada de maneira mais comum na década de 1950.
Os estados nacionais acabaram por perder um pouco do seu poder interventor,
que foi bastante relevante na Era de Ouro, com o processo de globalização. Ao
desregulamentar as finanças, o comércio e as novas tecnologias “encurtando
distâncias”, cria-se um processo em que o capital das empresas não tem mais tanto
vínculo com um país em específico, que são as transnacionais. Ao mesmo tempo, por
ter tido uma desregulamentação, o estado acaba perdendo importante instrumento de
intervenção, deixando o mercado “livre”. (REZENDE,2010)

2.3.2 A 3ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Um interessante movimento econômico começou a ser processado. Se antes da


Primeira Revolução a economia era essencialmente agrária, com o seu surgimento
passou a ser industrial. Ou seja, o setor primário continuou existindo, mas empregando
um contingente de trabalhadores cada vez menor, dando um espaço cada vez maior ao
setor secundário. Processo similar começou a ocorrer nessa nova fase da Revolução
Industrial. A indústria produzia cada vez mais, com uma quantidade de trabalhadores
cada vez menor. Dada essa conjuntura,
17

a opção óbvia, tanto para drenar o excedente de mão-de-obra, como para


transformar em consumo a crescente produção, foi a expansão do setor
terciário, com sua enorme capacidade de induzir a novas necessidades de
consumo e mesmo de incorporar e desenvolver atividades econômicas novas,
como, por exemplo, o setor de telecomunicações(REZENDE, 2010, p.304)

Esse movimento do setor secundário ao terciário, foi sentido em todos os países.


Até hoje em dia, os países conhecidos como mais desenvolvidos são aqueles que
concentram a maior parte de seu PIB no setor terciário.
A internacionalização do capital representou investimento direto em unidades
produtivas nos países periféricos, o que possibilitou, em menor grau, que trabalhadores
de países periféricos também fizessem parte do tão propalado “consumo de massas”.
Essa consequência não ocorreu por benevolência dos países centrais, e sim porque
havia excedente de capital neles. Seu reinvestimento interno poderia ocasionar uma
produção excessiva e até produzir crises profundas, o que diminuiria a capacidade de
lucros futuros. Com essa exportação de capitais, eles mantinham a periferia
dependente, ao mesmo tempo que os lucros se mantinham elevados. (REZENDE,
2010)
Durante a Era de Ouro havia certo pacto entre “capital e trabalho”, o que
acabava por manter certo equilíbrio nessas relações. Os empregos mantinham-se
estáveis, taxas de desemprego controladas e tinham ainda ganhos reais de renda aos
trabalhadores. Os sindicatos possuíam maior relevância. Esse quadro mudou a partir da
década de 1970, em que havia uma redução da taxa de lucros das empresas.
Alternativas a isso surgiram por parte das empresas, como inovações
tecnológicas e desregulamentações.
[...] nas novas condições, a relação de trabalho típica da época fordista –
trabalho especializado e emprego estável – foi, em grande medida, substituída
por formas identificadas pela noção de trabalho precarizado que permitiam a
redução dos custos legais: terceirização, subcontratação, trabalho em tempo
parcial, trabalho temporário ou por tempo determinado, trabalho informal
(SAES, SAES, 2013, p.544)

As empresas foram para regiões mais pobres, justamente para se aproveitar dos
baixos salários e poucas regulamentações nessas localidades. Aos trabalhadores das
regiões mais ricas, além de perda de direitos e do poder de negociação, viram seus
salários ficar estagnados. O desemprego entre os jovens e idosos aumentou. No geral,
18

diferente da Era de Ouro, a nova conjuntura da década de 1980 e 1990 deterioraram as


condições dos trabalhadores. (SAES, SAES, 2013)

2.4 TRABALHO

2.4.2 Conceito

A palavra trabalho tem inúmeros significados existentes. Ela possui seu


significado próprio em diferentes meios. Para um físico o trabalho tem conceitos
específicos, que são expressos em uma fórmula. Para um estudante, os trabalhos são
exercícios que demandarão certo tempo e esforço para serem feitos e servirão de
requisito para obtenção de conhecimentos e notas em matérias do seu curso, seja ele
de graduação, mestrado ou doutorado. Outras áreas do conhecimento possuem
interpretações diversas e não serão objetos de análise no presente estudo. A definição
que será abordada se restringe ao campo econômico.
Da maneira como a maioria das pessoas percebe, o trabalho é interligado ao
exercício de uma atividade profissional, com o objetivo de se obter uma remuneração
mensal, semanal ou diária e poder adquirir os bens necessários à sua sobrevivência.
Nessa perspectiva o trabalho se torna essencial para os indivíduos, pois se é a partir
dele que as suas necessidades são satisfeitas, também é sobre ele que boa parte da
vida social é estruturada. Mas essa definição convencional é um tanto quanto
incompleta, pois apenas analisa uma consequência para definir o objeto.
Marx, em sua grande obra, O Capital, dá uma definição acurada e digna de
reflexão sobre o trabalho.
Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um
processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu
metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural
como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes
a sua corporalidade, braços e pernas, cabeças e mãos, a fim de apropriar-se da
matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse
movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modifica-la, ele modifica ao
mesmo tempo sua própria natureza. (MARX, 1996, p.297)
19

Essa concepção mostra-se correta com a própria análise da realidade. O ser


humano utiliza seu próprio corpo para fazer utilização da matéria natural de acordo com
suas necessidades, sejam elas ligadas à sua biologia (a sua própria sobrevivência),
sejam elas sociais. Ao mesmo tempo que ele atua sobre a natureza, atua sobre si
mesmo, pois as suas necessidades e impressões da realidade irão mudando à medida
que vão sendo supridas ou superadas. Assim, cria-se um processo de acúmulo de
conhecimento, que possibilita avanços a partir de bases já sedimentadas.
Como exemplo, pode-se citar o advento da agricultura. Anteriormente a ela, os
grupos eram pequenos e nômades. Ela possibilitou o aumento da disponibilidade de
alimentos, consequentemente houve uma aglutinação dos povos em lugares fixos, em
localidades próximas à produção. Essa mudança que o ser humano exerceu sobre a
natureza, graças a sua capacidade intelectiva, transformou drasticamente as relações
dele mesmo, pois novas formas de organizações societárias e obtenção de novos
conhecimentos, adaptados a essa nova realidade, foram possíveis, e eram distintas das
necessárias aos grupos pequenos e nômades. Portanto, pensar na dimensão do
trabalho somente como o alcance de necessidades imediatas, é correto, porém
incompleto, pois o lado mediato precisa ser levado em consideração para análises mais
profundas.
Marx prossegue e define processo de trabalho, como sendo a “a atividade
orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus
meios” (MARX, 1996,p.298). O meio de trabalho, seria o conjunto de coisas entre o
trabalhador e o objeto, que o auxilia no atingimento de seu objetivo, utilizando a
propriedade deles de acordo com suas intenções. No encadeamento de
consequências, chega-se a um ponto de grande relevância.
A mesma importância que a estrutura de ossos fósseis tem para o
conhecimento da organização de espécies de animais desaparecidas, os restos
dos meios de trabalho têm para a apreciação de formações socioeconômicas
desaparecidas. Não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se
faz, é o que se distingue as épocas econômicas. (MARX, 1996, p.298)

Se o ser humano muda a si próprio através do trabalho, que é a sua relação


entre sua própria natureza e a externa a ele próprio que possui uma finalidade
específica, é completamente razoável chegar na conclusão de que uma alteração dos
20

meios de trabalho, que são o conjunto de coisas entre o trabalhador e o objeto que o
fazem alcançar seus objetivos, implicariam também em uma mudança em si mesmo e
na estrutura societária.

2.4.3 Trabalho ao longo da história até a atualidade

O trabalho, que é esse processo dinâmico entre o homem e a natureza, como


explicitado anteriormente, possuiu algumas formas ao longo da história humana. Essas
distintas formas contêm elementos que podem ser analisados sob diversas óticas, seja
das relações de poder, da política, da cultura e do próprio grau de evolução da
economia.
Talvez a forma mais básica de trabalho é o relacionado à subsistência. Nele, o
objetivo central é a obtenção de recursos naturais para a própria sobrevivência. Os
grupos nesse período são basicamente nômades. Pode-se dizer que “[...] a divisão do
trabalho ocorria de maneira natural de acordo com sexo e a idade. Homens, mulheres e
crianças assumiam naturalmente a sua função na divisão de tarefas.” (SILVA, SANTOS,
DURÃES, 2017, p.743)
O desenvolvimento de algumas habilidades, possibilitou que os grupos, antes
nômades, se fixassem em determinados territórios. Dessa forma foi possível melhorar
as técnicas de cultivo, domesticação de animais e habilidades com metais. Essas novas
habilidades acabavam exigindo uma divisão de tarefas mais especializada, mesmo que
ainda houvesse divisão de tarefas por sexo e idade. (SILVA, SANTOS, DURÃES, 2017)
O trabalho compulsório foi uma forma que algumas sociedades encontraram
para se estruturar, com destaque para as civilizações hidráulicas. Nas civilizações
hidráulicas já existia o trabalho escravo, mas seu uso não era tão abrangente. O
trabalho compulsório era muito mais utilizado, em razão de necessidade coletiva,
associado a construção e manutenção das mais variadas obras relacionadas a
irrigação, dentre elas: diques, barragens, canais e reservatórios. Era limitado em tempo
e regular, fazendo parte, de certa forma, de um rito religioso. Nesse tipo de trabalho, os
homens continuavam a ser livres, independentemente se fossem camponeses ou
artesãos. (REZENDE, 2010)
21

Outra forma de trabalho que teve relevância, por causa de sua abrangência e
seu intenso uso que perpassou séculos, foi a escravidão. Como ensina Cyro Rezende,

Foram as cidades-Estados gregas que, pela primeira vez na história, tornaram a


escravidão absoluta na forma e dominante em extensão, transformando-a, de
forma de trabalho auxiliar e complementar, em um sistemático modo de
produção. Alguns séculos mais tarde, o Estado Romano, dominando e unindo
política e economicamente o “mundo civilizado” da Antiguidade Clássica, que se
estendia ao redor do mar mediterrâneo, tendo como eixo a península Itálica,
desenvolveu, no limite, o modo de produção escravista, pioneiramente tornado
preponderante pelas cidades gregas. (REZENDE, 2010, p. 24)

A escravidão era baseada na ideia de que o escravo era apenas uma coisa, que
não era dotado de direito nenhum. O trabalho além de possuir sentido pejorativo não
possuía nenhum significado de realização pessoal. O trabalho duro, que eram os
serviços relacionados a força física e manuais, eram feitos pelos escravos, enquanto
outras atividades consideradas mais nobres, como a política, eram realizadas pelos
homens livres. (MARTINS, 2000)
Cabe ressaltar, para fins desse trabalho, que tanto na Grécia, quanto em Roma,
por mais que a escravidão fosse predominante e garantisse certa “prosperidade
econômica” para uma parcela da população(a simples condição de cidadão romano
garantia uma vida na ociosidade), as técnicas produtivas continuavam atrasadas e
rudimentares, não havendo mudanças significativas na esfera da produção.
(REZENDE,2010)
Na Idade Média a servidão merece considerações. Segundo Martins,
Era a época do feudalismo, em que os senhores feudais davam proteção militar
e política aos servos, que não eram livres, mas, ao contrário, tinham de prestar
serviços na terra do senhor feudal. Deveriam os servos entregar parte da
produção rural aos senhores feudais em troca da proteção que recebiam e do
uso da terra. Evidenciava-se também a continuidade do trabalho até que o
servo falecesse ou deixasse de ter essa condição. (MARTINS, 2000, p.169).

Ainda na Idade Média, mas nas cidades, tanto o artesanato, quanto o comércio
eram estruturados nas corporações de ofício. Para cada ofício havia uma corporação
para definir as suas regras, sendo que a hierarquia era bem específica, com mestres,
companheiros e aprendizes. Os mestres estavam autorizados a manter lojas ou oficinas
na cidade e para alcançar esse nível, precisavam comprovar perante as corporações
22

suas capacidades. As corporações, dependendo da situação, poderiam impor limites


para o número de mestres e até mesmo ao volume da produção, estabelecendo o
monopólio. Os aprendizes eram jovens que trabalhavam para o mestre com o intuito de
aprender o ofício. Os companheiros já tinham concluído o período de aprendizado e
sabiam exercer o ofício, mas ainda trabalhavam para o mestre. (SAES, SAES, 2013)
Por fim chega-se à forma de trabalho predominante nos dias atuais, que é o
trabalho assalariado, e se consolidou desde o início da Primeira Revolução Industrial.
Os antigos vínculos, como já citados no capítulo 2.1.2, deram lugar a uma nova
racionalidade econômica, fruto do capitalismo industrial, que acabou por dissolver e
transformar a estrutura social anterior. Essas mudanças não se restringiram somente ao
campo econômico de troca de bens e serviços, pois se espalharam para as mais
diferentes relações sociais. (SERRA NETO, KOURY, 2015)
O trabalhador, nessas novas relações, precisa vender a sua força de trabalho,
podendo ser trocado por qualquer outro e a qualquer tempo, se assemelhando a uma
mercadoria, tudo isso com base na nova racionalidade econômica que precisava saber
com exatidão o custo da mão de obra e sua produtividade, dando a previsibilidade para
conseguir mensurar o quanto cada um poderia render. Tudo isso não levava em
consideração as motivações e os anseios do trabalhador. Além do mais, o trabalho
ganhou ritmo e cadência típicos de máquina, em uma lógica de constante maximização
da produção, consequentemente do lucro, o que subverteu as percepções anteriores. (
SERRA NETO, KOURY, 2015)
Essa racionalidade econômica permeando todas as esferas da vida pode ser
entendida como
[...]uma revolução, uma subversão do modo de vida, dos valores, das relações
sociais e das relações com a natureza, uma invenção, no sentido pleno do
termo, de algo que jamais existira. A atividade produtiva desfazia-se de seu
sentido original, de suas motivações e de seu objeto para tornar-se simples
meio de ganhar um salário. Deixava de fazer parte da vida para tornar-se o
meio de “ganhar a vida”. O tempo de trabalho e o tempo de viver foram
desconectados um do outro; o trabalho, suas ferramentas, seus produtos,
adquiriram uma realidade separada do trabalhador e diziam agora respeito a
decisões estranhas a ele. A satisfação em “fazer uma obra” comum e o prazer
de “fazer” foram suprimidos em nome das satisfações que só o dinheiro pode
comprar. (GORZ, 2003, p.30 apud SERRA NETO; KOURY, 2015, p. 145)
23

2.5 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Quarta Revolução Industrial, assim como as Revoluções Industriais anteriores,


é uma maneira de caracterizar, com o intuito de simplificar a análise de determinados
períodos bastante heterogêneos. Ou seja, não quer dizer que as possíveis mudanças,
algumas em curso, ocorrerão da mesma maneira em todos os lugares do mundo e com
a mesma intensidade. Quer dizer que algumas alterações, pelo seu potencial intrínseco,
podem se tornar irreversíveis e fazer parte da nova realidade, mesmo que demorem um
pouco a ganhar abrangência.
Como já citados no capítulo 2, uma série de tecnologias e especificidades
definiram as outras Revoluções Industriais. A primeira pode ser lembrada pelas
invenções que foram sendo aperfeiçoados para o uso na indústria, de forma a dar maior
dinamismo à produção, em especial no setor têxtil. Todo esse aumento na quantidade
de produtos foi possível pelo crescimento populacional e pelo governo britânico da
época, que exercia papel fundamental na expansão dos mercados consumidores.
A segunda foi marcada pela expansão de novas formas de energia, com
destaque para os combustíveis líquidos e eletricidade, além do avanço da indústria
química que possibilitou inúmeros novos compostos e processos. Novos bens e
serviços foram introduzidos no dia a dia das pessoas, o que foi uma grande mudança.
A terceira, com a utilização da informática e da robótica nos processos
produtivos, acarretou mudanças em várias indústrias e possibilitou certa automação,
aumentando a produtividade industrial com cada vez menos trabalhadores nesse setor.
O setor terciário ganhou força nos países centrais e um maior fluxo de mercadorias e
capitais foi possível por causa das novas tecnologias da informação, barateamento no
custo dos transportes e desregulamentação da década de 80.
Segundo Soares,
A Quarta Revolução Industrial já está acontecendo. O presidente do Fórum
Econômico Mundial, Klaus Schwab, no ano de 2016, foi quem apresentou pela
primeira vez esse termo como uma revolução tecnológica que alterará
profundamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, com
grandeza, amplitude e multiplicidade. (SOARES, 2018, p.4)
24

Mesmo alguns acadêmicos e profissionais acreditando que essas inovações


tecnológicas sejam meros aspectos da Terceira Revolução Industrial, alguns fatores
levam a crer que se caminha a uma nova Revolução, distinta das anteriores. Esses
fatores são: velocidade; amplitude e profundidade; impacto sistêmico. A velocidade se
refere às mudanças que tendem a ocorrer em níveis exponenciais e não lineares. Sua
amplitude e profundidade, pois a combinação de várias tecnologias pode quebrar
paradigmas na área econômica, nos negócios e na vida social. O seu impacto
sistêmico, que deriva justamente da sua amplitude e profundidade, com o potencial de
alterar sistemas inteiros em níveis regionais e globais. (SCHWAB, 2016)
Para Klaus Schwab,
A Quarta Revolução Industrial é uma forma de descrever um conjunto de
transformações em curso e iminentes dos sistemas que nos rodeiam; sistemas
que a maioria de nós aceita como algo que sempre esteve presente. Mesmo
que não pareça importante para aqueles cuja vida passa diariamente por uma
série de pequenos mas significativos ajustes, a Quarta Revolução Industrial não
consiste em uma pequena mudança – ela é um novo capítulo do
desenvolvimento humano, no mesmo nível da primeira, da segunda e da
Terceira Revolução Industrial e, mais uma vez, causada pela crescente
disponibilidade e interação de um conjunto de tecnologias extraordinárias.
(SCHWAB, 2018, p. 35)

Ela utiliza os elementos criados pelas outras revoluções, especialmente as da


terceira relacionadas aos recursos digitais e suas redes, que por sua vez só foram
possíveis graças a eletricidade, fruto da segunda. “É um período caracterizado por
integração de tecnologias, agregando os domínios físico, digital e biológico, com
internet móvel onipresente mais em conta e disponível a todas as pessoas.” (SOARES,
2018, p. 5)
Esse é o ponto central para entender esse novo período. Em nenhuma das
outras revoluções, houve a possibilidade de integração tão profunda entre as novas
tecnologias e os mais diferentes domínios. Suas tecnologias serviam e eram voltadas,
na maioria das vezes, para a produção de bens e/ou serviços. O objetivo se
concentrava na otimização desse processo produtivo.
Diante do exposto, surge a natural pergunta, quais serão as tecnologias da
quarta revolução industrial com todo esse potencial disruptivo, capazes de integrar os
mais distintos domínios? Dentre elas estão: a Inteligência Artificial; a Internet das
25

Coisas; Blockchain; as novas tecnologias da computação; os materiais modernos;


Fabricação aditiva e Impressão multidimensional; Neurotecnologias; Biotecnologias.
(SCHWAB, 2018)
É de extrema relevância ressaltar que todas essas tecnologias aqui expostas
implicam em problemas éticos muito abrangentes e de difícil mensuração. Neste
trabalho o objetivo é simplesmente apresentar os seus aspectos gerais, focando mais
na descrição das características delas, sem fazer análises complexas das
potencialidades negativas ou positivas.
Elas serão brevemente explanadas a seguir

Internet das Coisas

A Internet das Coisas, conhecida pela sua sigla em inglês IoT (Internet of
Things), seria a interconexão entre vários tipos de objetos à internet. Basicamente
sensores acoplados a quaisquer tipos de aparelhos, que teriam a capacidade de captar
informações acerca do mundo real, como temperatura, umidade, horário, ou outras
informações de interesse, podendo se conectar e enviar essas informações coletadas a
outros objetos e dispositivos, tudo isso com vistas a utilizá-los com algum propósito.
(MAGRANI, 2018)
Obviamente esses novos dispositivos e as coletas de informações abrangentes
geram inúmeras controvérsias. Para citar apenas duas, o lixo que pode ser gerado por
alguns objetos inúteis com capacidade de se conectar à Internet das Coisas,
aumentando a quantidade de resíduos e as informações abundantes que podem estar
sujeitas a hackers, tendo o potencial de deixar as pessoas sob constante vigilância dos
seus hábitos e gostos. Ao mesmo tempo que é importante saber os seus malefícios e
riscos, cabe destacar os aspectos positivos. A quantidade de dados existentes sobre o
mundo ao nosso redor e sua correta análise, que é tão ou mais importante que a
simples coleta de dados, possibilita a obtenção de informações importantes para
aplicação. Como exemplo, pode-se citar o uso e emissão de energia em determinada
localidade, que pode ser otimizado por meio de incentivos em tempo real aos cidadãos
para que alterem seus hábitos, de modo a alcançar um consumo ideal. Inúmeros outros
26

propósitos conseguem ser adaptados para otimização de processos em diferentes


níveis, seja individual, empresarial ou governamental. (MAGRANI, 2018; SCHWAB,
2018)

Inteligência Artificial

Inteligência Artificial, em inglês AI (Artificial Intelligence), é uma forma de


inteligência que guarda certa similaridade a humana, mas que é reproduzida por
máquinas. Tarefas que normalmente exigiriam capacidade humana para serem
solucionadas, são realizadas por máquinas previamente programadas. Como ensina
Soares,
Da mesma maneira que o cérebro humano, a máquina também precisa ser
instruída, classificar e qualificar coisas, fazer relacionamentos, aprender com
tentativa e erro, praticar para aprender. Esse aprendizado é alcançado com a
sinergia das informações dos computadores em rede e sua comunicação.
Softwares inteligentes analisam e tratam os dados, buscando solução para as
necessidades humanas. (SOARES, 2018, p.8)

Cenários utópicos e distópicos pairam sob a imaginação das pessoas,


materializado em filmes, séries e livros de ficção científica quando o assunto é
Inteligência artificial. Em um cenário distópico, as máquinas se tornariam mais
evoluídas e assim teriam o controle dos humanos, podendo escravizá-los ou serviriam
de meios para governos autoritários controlarem a sociedade. Em um cenário utópico
as máquinas serviriam plenamente aos anseios humanos e proporcionariam resultados
fantásticos, com viagens interplanetárias e tudo mais.
Sem entrar no mérito de qual prevalecerá, se é a utopia, a distopia ou ainda uma
mescla dos dois, o que é interessante de se notar na Inteligência Artificial é a
capacidade de armazenamento, processamento e análise de dados da máquina, capaz
de replicar a inteligência humana em escala muito superior à que um humano
conseguiria fazer. Isso pode fazer com que muitas áreas substituam humanos por
robôs, para fazer um trabalho que tem finalidades humanas. Veículos autônomos já são
realidade, assim como robôs industriais e humanoides com aplicações específicas.
(SCHWAB,2018)
27

Blockchain

De acordo com Soares,


Protocolo de confiança, como é denominado, Blockchain são arquivos de
registros e informações descentralizados e partilhados que objetiva gerar um
índex universal para as movimentações que acontecem num negócio
específico. Essa tecnologia, baseada em nuvem, pretende buscar segurança
lógica por meio de desconcentração das ações de seus clientes.
(SOARES,2018, p.10)

O Blockchain seria uma maneira digitalizada de se criar registros e contratos, de


forma descentralizada, sem a intermediação de um órgão único, ao mesmo tempo em
que é confiável e válido para as partes envolvidas. A própria forma da tecnologia
Blockchain garante que não existam várias cópias desses registros que precisam ser
exclusivos por sua natureza, sendo de fácil verificação a sua autenticidade e fazendo
com que o valor do objeto digital ou das informações sejam preservados. Um contrato
inteligente feito sob essa tecnologia, modelado para determinada situação, poderia ser
cumprido ou descumprido automaticamente se um conjunto de circunstâncias
especificadas fossem identificados e satisfeitos. As áreas e setores de possível uso
dessa tecnologia seriam: registros de saúde; votação; registros imobiliários; combate à
falsificação; moedas digitais; bancos; bolsa de valores; seguradoras; dentre outras.
(SOARES, 2018; SCHWAB,2018)

Novas tecnologias da computação

As tecnologias computacionais vieram em um desenvolvimento exponencial


significativo durante algumas décadas. Os computadores ficaram menores e mais
baratos, ao mesmo tempo em que melhoraram sua capacidade de armazenamento e
processamento. Acabou chegando-se em um ponto em que os limites físicos podem
impedir avanços substanciais, como no caso dos tamanhos dos transistores.
(SCHWAB, 2018)
Progressos na física e na engenharia de materiais podem alterar esses supostos
limites conhecidos atualmente. Uma nova forma de computação altamente promissora
28

seria a computação quântica. Como o nome já faz referência, esse tipo de computação
utiliza as leis da mecânica quântica. Como explica Schwab,

Em vez de usarem transistores projetados em torno das unidades binárias que


representam 1 ou 0 (bit), que os computadores clássicos usam para armazenar
e executar operações, os computadores quânticos empregam bits quânticos, os
qubits. Ao contrário dos bits, que somente podem ter os valores 1 ou 0, os
qubits existem em sobreposição e têm a probabilidade de estar em qualquer um
dos estados até ser mensurados; isso lhes permite simular vários estados
simultaneamente. (SCHWAB, p.124).

Alguns problemas que demorariam muito tempo ou seriam impossíveis de


serem solucionados por computadores clássicos, poderiam ser solucionados em menos
tempo por computadores quânticos. Problemas matemáticos com números grandes e
que envolvem inúmeras variáveis, como conseguir melhorar a eficiência logística e
operacional de um sistema seriam um exemplo. Embora os computadores quânticos
ainda precisem ser melhorados, já que os existentes ainda estão com capacidade
limitada de poucos qubits, a evolução deles está em ritmo considerável. (SCWHAB,
2018)
Computadores e sensores cada vez menores farão parte da vida cotidiana das
pessoas. Microchips poderão ser implantados no corpo para descobrir doenças e até
mesmo melhorar tratamentos ao propor soluções individualizadas de acordo com cada
organismo. (SCHWAB, 2018)

Materiais modernos

Os novos materiais ou compostos que forem sendo descobertos ou aprimorados,


tendem a ter um enorme impacto em todos os outros setores da Quarta Revolução
Industrial. Como mostrado no tópico sobre as novas tecnologias da computação, muitos
problemas estão alcançando o seu limite físico conhecido. Esses limites podem ter
mudanças se novos materiais forem introduzidos para solucionar essas questões.
Como explicado no início do capítulo 3.2, o que distingue essa revolução das
outras é a interconexão entre os mais distintos domínios. Isso pode ser entendido
claramente no progresso dos materiais modernos. “As plataformas que usam a IA e os
29

grandes bancos de dados materiais unidos à robótica prometem um processo


globalizante e acelerado para a descoberta de materiais.” (SCHWAB, 2018, p. 198).
Isso mostra o domínio digital, da IA, se unindo ao domínio físico, dos materiais e
compostos químicos, de modo a poder produzir resultados incríveis.
Como exemplo, pode-se citar que melhorias nos materiais poderiam aumentar
ainda mais a produção de energia a partir de fontes renováveis. Também poderia
facilitar o armazenamento massivo das baterias, mitigando o problema da produção de
energia por meios renováveis, que tem uma intermitência característica e precisariam
de um grande armazenamento em determinados períodos. (SCHWAB, 2018)
Cabe ressaltar que esse processo de evolução dos materiais e das tecnologias
existentes, no âmbito das energias renováveis, não é abstrato e ocorreu nas últimas
décadas em níveis exponenciais. De acordo com Jeremy Rifkin, “Nos últimos 25 anos, a
produtividade das turbinas eólicas aumentou em 100 vezes, e a capacidade média por
turbina em mais de 1000%.” (RIFKIN, 2016, p.105). Os preços das células fotovoltaicas
despencaram nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que a eficiência delas
disparou. Se as tendências atuais de redução dos custos e melhoria da produtividade
se mantiverem, em pouco tempo há a possibilidade de alteração da matriz energética
baseada em combustíveis fósseis para as energias renováveis. (RIFKIN, 2016)
Energia barata e abundante retroalimentaria todo o sistema que engloba as
tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Percebe-se um ciclo virtuoso gerado pelo
progresso dos materiais modernos.

Fabricação aditiva e multidimensional

A fabricação aditiva ou impressão 3D, descreve a criação de objetos por meio da


adição constante, camada a camada, de determinado material. Difere da produção
tradicional, que geralmente remove e desperdiça uma grande quantidade de materiais
ou recursos para a criação de objetos. Ao desperdiçar e utilizar menos material, se
torna muito mais eficiente e produtiva. Embora exista há mais de 25 anos, cada vez
mais essas tecnologias se tornam mais baratas, práticas e úteis podendo imprimir os
30

mais diversos materiais, dos metais a materiais biológicos. (SCHWAB, 2018; RIFKIN,
2016)
O detalhe desse tipo de fabricação que merece destaque é o seu caráter de
descentralização da produção, o que alteraria sobremodo as cadeias convencionais de
logística e a centralização da produção atual em determinadas localidades. Não haveria
necessidade de imensos centros urbanos com indústrias produzindo objetos em larga
escala, uma vez que cada residência, bairro ou cidade, teria a capacidade de produzir
um ou vários produtos, de acordo com a necessidade de cada grupo ou pessoa, além
de poderem ser totalmente personalizados sem aumentar o custo por isso, justamente
por causa da capacidade da fabricação aditiva. (SCHWAB, 2018; RIFKIN, 2016)

Neurotecnologias

De acordo com Schwab,

A categoria “neurotecnologias” descreve um amplo conjunto de abordagens que


oferecem poderosos insights sobre o funcionamento do cérebro humano, que
nos permitem extrair informações, expandir nossos sentidos, alterar
comportamentos e interagir com o mundo. Isso pode parecer ficção científica,
mas não é. (SCHWAB, 2018, p.237)
As novas tecnologias, que são os sensores pequenos, aprimorados e baratos,
juntamente com o progresso da aprendizagem automática, que é capaz de analisar e
identificar padrões de uma grande quantidade de dados, facilitarão a compreensão do
cérebro, ajudando na captação, mensuração e na análise dos sinais químicos e
elétricos existentes. Esse entendimento possibilita a criação de mecanismos efetivos
para curar ou evitar doenças, ao mesmo tempo que pode ajudar a melhorar as
capacidades cerebrais de acordo com determinados interesses. (SCHWAB,2018)

Biotecnologias

A biotecnologia seriam as tecnologias relativas à biologia. Como explica Schwab


“[...] os avanços das tecnologias digitais e os novos materiais permitiram grandes saltos
31

em áreas como a compreensão de genomas, engenharia genética, diagnóstico e


desenvolvimento farmacêutico.” (SCHWAB, 2018, p.226)
As aplicações desse ramo são muito diversas e intrigantes. No âmbito da saúde,
a Medicina de Precisão, poderia estipular tratamentos exatos para uma pessoa, pois os
seus dados e suas características biológicas intrínsecas seriam levadas em
consideração. No âmbito da agricultura, ajudaria a aumentar a produtividade alimentar
e estimá-la com maior exatidão, integrando informações do solo e do clima em
determinada localidade. No âmbito ecológico, fábricas celulares inteligentes poderiam
ser programadas para inúmeras tarefas, transformando algo completamente danoso ao
meio ambiente em algo inofensivo. Todas essas áreas tendem a evoluir em função da
capacidade de análise de dados. (SCHWAB, 2018)
32

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

3.1 OS IMPACTOS DA QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO TRABALHO

Como já demonstrado neste estudo, cada período histórico possuiu


particularidades que influenciaram diretamente na maneira como o trabalho era
executado e estruturado. Uma alteração nos meios de trabalho, aliado a uma
conjuntura específica da Primeira Revolução Industrial propiciou que uma sociedade
essencialmente agrária do período feudal se aglomerasse nos centros urbanos para
trabalhar na indústria nascente. O aumento no tamanho das empresas na Segunda
Revolução Industrial, possibilitou novas formas de estrutura organizacional,
materializados nos conceitos de Administração Científica. O início da automação na
produção da Terceira Revolução Industrial transferiu os trabalhadores da indústria
(setor secundário) para o setor de bens e serviços (setor terciário).
Com todos esses exemplos expostos, fica mais simples perceber que as
mudanças potenciais da Quarta Revolução Industrial também reordenarão toda a
esfera produtiva, seja em uma mudança na estrutura do trabalho, os tipos e as formas
das empresas exigidas para o novo período serão distintos, assim como os trabalhos
necessários serão diferentes.
A Inteligência Artificial pode replicar o processo de aprendizagem humana em
níveis muito superiores ao que um humano conseguiria fazer. Isso significa que
atividades que possuem finalidades humanas tem a possibilidade de serem feitas por
máquinas programadas, pois o mesmo processo que seria feito por várias pessoas,
pode ser realizado por apenas uma máquina.
De acordo com Rifkin
Automação, robótica e inteligência artificial estão eliminando o trabalho
rapidamente tanto no setor de serviços quanto no de manufatura e logística.
Secretárias, arquivistas, telefonistas, agentes de viagens, caixas de banco e de
lojas e inúmeras outras atividades tendem a desaparecer à medida que a
automação leva o custo marginal de mão de obra para próximo de zero.
(RIFKIN, 2016, p. 153)
33

Um detalhe importantíssimo a ser considerado, é que essa substituição do


trabalho não está ocorrendo ao mesmo tempo em que a produtividade dos setores
diminui. Pelo contrário, a produtividade está aumentando bastante, mesmo com uma
redução drástica dos trabalhos. “Entre 1997 e 2005, a produção industrial aumentou
60% nos Estados Unidos enquanto 3,9 milhões de postos de trabalho eram eliminados
aproximadamente no mesmo período, entre 2000 e 2008.” (RIFKIN,2016, p 148)
Este fato só foi possível por causa das novas tecnologias, como a robótica e
computadores, que foram implementadas no chão de fábrica, gerando aumento da
produtividade e redução dos postos de trabalho. Inicialmente os custos fixos iniciais
para se implementar esses processos de automação eram muito elevados, ficando
restritos a grandes indústrias, mas com o passar do tempo, cada vez mais há a redução
desses custos, se tornando acessíveis a pequenas e médias empresas. (RIFKIN, 2016)
A fabricação multidimensional, como já apresentado neste estudo, está se
tornando acessível e conseguindo produzir uma vasta gama de objetos e produtos dos
mais diferentes materiais e personalizados. Embora os efeitos dessa tecnologia possam
ficar somente como auxiliares nos mais diferentes estágios de produção, podem
também suprimir a necessidade de indústrias gigantescas produzindo um único tipo de
produto, sendo que a produção poderia ser descentralizada (intra e interpaíses) e de
pequena escala, além de ser personalizável, podendo enfraquecer algumas cadeias de
valor existentes atualmente. Dessa forma, toda a cadeia de logística atual poderia ser
amplamente afetada, assim como países que tem por método de industrialização se
beneficiar de uma manufatura de baixo custo. Isso implicaria em milhões de
trabalhadores desempregados em inúmeras áreas. (SCHWAB, 2018)
Veículos autônomos estão sendo aperfeiçoados e podem retirar o trabalho de
milhões de motoristas pelo mundo. Ademais, importante perceber que a própria
produção dos veículos pode gerar desemprego, pois a indústria automotiva é uma das
maiores compradoras de robôs automatizados. Drones podem ser usados com os mais
distintos propósitos, um deles é o de entrega de mercadorias, retirando a função dos
atuais entregadores. Robôs de conversação (chatbots) eliminariam postos no ramo do
telemarketing e do atendimento ao público. Atividades repetitivas de variadas espécies
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podem ser automatizadas por robôs, como trabalhos fabris, repositores de estoques,
caixas de banco ou de lojas, dentre outros. (RIFKIN, 2016; SCHWAB, 2018)
Suponham-se as seguintes situações hipotéticas para melhor visualização
dessa “troca” do ser humano por máquinas. Ao invés de alocar um trabalhador para
entregar uma pequena mercadoria, que atualmente é um serviço feito por meio de
bicicleta, motocicletas ou pequenos automóveis, um drone conectado à internet das
coisas pode fazer o mesmo serviço com uma rapidez maior e um custo menor. O
mesmo exemplo pode ser expandido para grandes mercadorias, um caminhão
autônomo ao se conectar à internet das coisas, seria capaz de escolher um melhor
trajeto de modo a reduzir o tempo de entrega, consumo de combustíveis ou energia e
sempre estar carregado com mercadorias, pois os diferentes fornecedores dos produtos
ou os receptores dos bens colocariam suas necessidades em um sistema todo
interligado entre si e modelos baseados em Pesquisa Operacional seriam ajustados
com base nelas. Não seria só o transporte de cargas que seria afetado. O transporte
urbano de pessoas, seja através de ônibus, táxis, bicicletas ou automóveis próprios,
também propiciariam exemplos parecidos, com redução do tempo de deslocamento,
diminuição dos engarrafamentos e menor emissão de poluentes na atmosfera pelo
menor uso de combustíveis, decorrentes da otimização de todo o processo.
De maneira alguma é correto imaginar que somente os trabalhadores mais
manuais, que exercem atividades repetitivas e de baixa instrução formal serão os
únicos atingidos pelo avanço das tecnologias. Atividades que envolvem processos
relacionados ao conhecimento, que antes pareciam inatacáveis, também serão
impactadas. (RIFKIN, 2016)
Segundo Schwab,
A IA já está avançando em profissões baseadas no conhecimento, como o
direito, a medicina, a contabilidade e o jornalismo. Mesmo que ela não substitua
completamente advogados ou médicos, os aplicativos de IA que podem
sintetizar e analisar estudos de caso e diagnósticos de imagens vão mudar
essas profissões. (SCHWAB, 2018, p. 185)

Para Rifkin,
Muito poucas especialidades estão sendo poupadas pelo alcance da TI e da
análise de megadados e algoritmos. Trabalhadores do conhecimento de todas
as áreas, como radiologistas, contadores, gerentes, designers gráficos e
inclusive profissionais de marketing – já estão sentindo desconforto conforme
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softwares de reconhecimento de padrões começam a invadir cada campo


profissional. (RIFKIN, 2014, p.157)

Um software chamado eDiscovery consegue identificar padrões


comportamentais, linhas de raciocínio e muito mais, através de uma grande base de
dados legais, com uma rapidez e análises capazes de superar os melhores advogados.
O que torna atrativo na utilização do software é que ele consegue fazer o trabalho de
uma equipe inteira de advogados, com um custo menor, em menos tempo e com maior
precisão. Softwares já conseguem identificar padrões de sucessos com grande acerto,
seja na indústria fonográfica ou na cinematográfica. Megadados aliados a algoritmos
podem criar histórias originais logo após partidas de um determinado esporte,
dispensando a necessidade de redatores humanos. A Inteligência artificial também
pode ajudar médicos a diagnosticar os pacientes, posto que examinariam milhões de
dados, em prontuários eletrônicos ou periódicos, com capacidade de análise e síntese
muito adequadas. (RIFKIN, 2016)
Talvez essa mudança ou substituição que pode chegar aos trabalhadores do
conhecimento, seja um dos pontos de maior indefinição em relação às implicações
tecnológicas no mundo do trabalho. Não era difícil a percepção, atualmente, do fim de
vários postos de trabalho na indústria, já que o processo de automação começou a
ocorrer por volta de 1960 e veio se consolidando gradativamente. Mas ainda é de difícil
intuição que alguns tipos de trabalho que envolvem criatividade, inovação,
conhecimento, associação de ideias e conceitos, todas estas atividades que parecem
tipicamente humanas, sejam reproduzidas com perfeição e maestria por máquinas.
Por meio do exposto, percebe-se que essa tendência não será facilmente
interrompida, uma vez que mexe no âmago da racionalidade econômica vigente. Um
processo que reduz o custo da mão de obra, ao mesmo tempo em que mantém ou até
mesmo aumenta a produtividade e a eficiência, não será de modo algum colocado em
segundo plano, só para ajudar na manutenção dos empregos atuais.
Com o exame da situação exposta, duas perguntas se mostram oportunas.
Todas essas mudanças que estão ocorrendo implicam em fim do trabalho como
conhecemos hoje? As consequências desse processo tendem a ser boas ou ruins?
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Para a primeira pergunta, a melhor resposta é que todas as mudanças expostas


implicam em uma transformação do trabalho. Como abordado por Soares, “Essa
metamorfose digital deverá abalar seriamente as relações trabalhistas. Primeiro, pela
própria automação e, em seguida, pela necessidade de os profissionais buscarem
novos conhecimentos e habilidades advindos desse ambiente.” (SOARES, 2018, p.20)
Como já observado por esse estudo, algumas atividades podem simplesmente
desaparecer, especialmente as que são repetitivas e manuais, isso sem desconsiderar
as da área do conhecimento. Também se espera uma alteração em alguns tipos de
trabalhos, que contarão cada vez mais com o auxílio de máquinas para serem
exercidos. Mas provavelmente outros irão surgir ou ampliar sua relevância, exigindo
novas habilidades dos profissionais. Um desses casos pode ser nas áreas relacionadas
à programação, que serão peça chave na criação e no desenvolvimento de boa parte
das tecnologias mencionadas. Outro fator abordado foi sobre a grande quantidade de
dados gerados por esses “sistemas inteligentes”. Especialistas em análise de dados,
como por exemplo, os estatísticos, matemáticos, engenheiros também serão essenciais
nesse cenário, para extrair informações relevantes do excesso de dados existentes.
De acordo com Jeremy Rifkin,
a automação do trabalho em todos os setores da economia de mercado já está
liberando a mão de obra humana para migrar para a economia social em
evolução. Na próxima era, participar ativamente de comunidades colaborativas
será tão importante quanto foi o trabalho duro na economia de mercado, e o
acúmulo de capital social será tão valioso quanto o acúmulo de capital de
mercado. (RIFKIN, 2016, p.160)

Essa pode ser uma das principais transformações decorrentes desse processo.
Existem algumas características que as máquinas não podem exercer. Elas podem
fazer as mais diversas atividades, em variados setores, a fim de produzir bens e
serviços úteis à sobrevivência, mas não podem criar empatia nem criar vínculos
profundos com outros seres humanos. Esse aspecto é capaz de aproximar as pessoas
para sociedades mais cooperativas.
No médio e no curto prazo, espera-se até um aumento da mão de obra
assalariada, a fim de construir toda essa infraestrutura inovadora ao redor do mundo.
Por exemplo, só a mudança da matriz energética baseada em combustíveis fósseis
para as energias renováveis, de maneira direta ou indireta, exigirá muita mão de obra
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para se desenvolver, visto que os veículos, as construções, o gerenciamento do fluxo


de energia, dentre outros aspectos, necessitariam estar em conformidade com uma
infraestrutura adequada para comportar esse novo tipo de produção de energia.
(RIFKIN, 2016)
A tendência no longo prazo é que toda a infraestrutura inteligente criada, seja
capaz de exercer “grande parte da atividade econômica da civilização com uma
pequena força de trabalho profissional e de supervisão.” (RIFKIN, 2016, p.308).
Processo similar ao que ocorreu na Segunda Revolução Industrial pode
acontecer. É bem possível também que haja uma revisão da quantidade de horas
fundamentais de trabalho por pessoa, por causa dessa pequena necessidade de
trabalho profissional e de supervisão, assim como nas estruturas atuais das
organizações e na forma de executar esse trabalho. Formas de trabalho à distância
tendem a ganhar força.
A segunda pergunta se torna bastante complexa. Talvez a resposta mais
adequada a ela seja que depende do observador, da maneira como as próprias
tecnologias irão se desenvolver e principalmente da forma como a sociedade se
comportará.
Para alguns é intrigante e interessante essa substituição das máquinas pelos
trabalhadores, pois poderia liberar os humanos para atividades que realmente lhe
interessassem, deixando-os com mais tempo livre para se dedicarem a mais lazer e
atividades realmente recompensadoras, já que teriam sua subsistência garantida.
Diferentemente do trabalho atual em muitas profissões que é meramente desgastante e
sem um significado mais profundo, sendo por vezes empecilho para alcançar o real
bem-estar.
Para outros essas mudanças podem ser perniciosas, uma vez que os benefícios
dessas tecnologias não serão compartilhados adequadamente por todos, com apenas
uma pequena minoria usufruindo deles. Isso deixaria a grande maioria com restritas
possibilidades, uma vez que o trabalho é a principal forma de se conseguir recursos
para a sobrevivência, e uma diminuição na quantidade dele, aliado a uma não
adequação dessa mão de obra considerada desqualificada pelas recentes mudanças,
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implicaria em dificuldades para o sustento de muitos, criando cenários potencialmente


perturbadores.
Para o autor, a diferença entre um ou outro cenário é da organização da
sociedade perante essas metamorfoses. Mutações econômicas e sociais vieram
ocorrendo desde os primórdios da civilização, como já demonstrado ao longo de todo o
estudo, e o que elas produziram, se foram coisas boas ou ruins, foi simplesmente
consequência da mentalidade daquela sociedade, em determinado período, que
acabava por normalizar algumas atitudes e criminalizar outras. A escravidão já foi
normalizada, do mesmo jeito que uma jornada de 14 horas para crianças em condições
insalubres. Uma baixa carga horária de trabalho e uma intensa automação dos
processos beneficiando a todos e sendo igualmente repartida, através de uma
organização social mais cooperativa e colaborativa também podem ser normalizadas, a
fim de que todos possam viver dignamente. Por isso é de inteira responsabilidade das
pessoas, enquanto coletividade, se organizarem para conduzir a melhor de maneira
como essas tecnologias irão produzir seus efeitos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo procurou mostrar algumas das possíveis consequências da Quarta


Revolução Industrial no âmbito do trabalho.
O objetivo de descrever o trabalho até a atualidade foi alcançado. O trabalho foi
conceituado de uma maneira geral. As relações de trabalho ao longo da história foram
apresentadas, sendo elas: o trabalho de subsistência, o trabalho compulsório, a
escravidão, a servidão e o trabalho assalariado. Este último foi o mais destacado no
estudo, pois a partir da Primeira Revolução Industrial até os dias atuais é o mais
predominante.
As outras Revoluções Industriais preexistentes, que foram a Primeira, a Segunda
e a Terceira foram abordadas, assim como suas respectivas relações com o trabalho.
Foram apresentadas as motivações e as características pelas quais se
denomina esse período como Quarta Revolução Industrial, que também foi objetivo do
trabalho, e o que são algumas das tecnologias que o representam, como: a Inteligência
Artificial; a Internet das Coisas; o Blockchain; as novas tecnologias da computação; os
Materiais modernos; Fabricação Aditiva e Impressão Multidimensional;
Neurotecnologias; Biotecnologias.
Em todas as tecnologias apresentadas foi feita uma breve apresentação de suas
características mais gerais. Algumas das possíveis consequências delas foram
abordadas, mas outras foram deixadas de lado, como as inúmeras implicações éticas,
que acabariam por fugir do escopo do estudo. Embora todas elas se relacionem de uma
forma ou de outra com o trabalho, as que mais possuem impacto direto perceptível,
dado os seus atributos inerentes, são: a Inteligência Artificial, a Internet das Coisas e a
Fabricação Aditiva e Multidimensional.
O objetivo de identificar profissões que surgirão e outras que desaparecerão
também foi atingido. Ficou evidente que essas tecnologias tem o potencial de eliminar e
criar inúmeros postos de trabalho ao redor do mundo. À princípio, os que são de baixa
instrução formal, bem como os que têm propriedades repetitivas e manuais, estão na
linha de frente para serem automatizados. Dentre eles, pode-se citar: arquivistas,
atendentes de telemarketing, caixas de bancos e de lojas, entregadores, dentre outros.
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Mas as modificações não ficam restritas a esses e atingem os mais variados


trabalhadores do conhecimento, podendo eliminá-los em alguns setores ou alterar
drasticamente a forma como são exercidas suas profissões, como os médicos e os
advogados.
Também fica evidente que um novo perfil de trabalhador será exigido e que em
algumas áreas haverá a necessidade de mão de obra extremamente qualificada, em
trabalhos relacionados à programação e à análise da dados como um todo. É esperado
que haja um aumento da mão de obra dentro dos próximos 40 anos, que justamente
atuarão no desenvolvimento dessas tecnologias e nas alterações decorrentes delas.
Posteriormente a isso, grande parte da atividade econômica necessitará de uma
pequena força de trabalho profissional e de supervisão.
Foi demonstrado que algumas atividades, principalmente as de caráter social
associadas à criação de vínculos e empatia, não podem ser exercidas por máquinas, o
que pode fazer as pessoas desenvolverem uma economia social, que já está em curso,
em que alguns ativos sociais se mostrariam mais importantes que ativos econômicos.
Se as consequências dessas tecnologias serão boas ou ruins depende, de maneira
decisiva, da atuação da sociedade.
Todos esses objetivos que foram realizados, juntamente com as argumentações
apresentadas, conseguem responder o objetivo central do trabalho, que foi entender e
dar algumas intuições sobre as possíveis consequências da Quarta Revolução
Industrial no mundo do trabalho
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