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Introdução
matrizes teóricas assumidas por esses autores? E quais as práticas de leitura produzidas
pelos alunos a formação inicial de professores com relação a disciplina de avaliação?
Compreendendo que todo documento é um elemento histórico, que parte de
determinado contexto, carregado de subjetividade e intencionalidades, cuja escrita nem
sempre fala por si só, mas é preciso ser interrogada para assim chegar a conclusão da sua
real finalidade, nesse caso, tanto as bibliografias como as narrativas dos alunos
constituem fontes para uma análise crítico documental.
Portanto, nesse estudo dialogamos com as bases teóricas do campo da Educação
referenciadas nos planos de disciplinas das Universidades e por meio de uma pesquisa
narrativa, nos propomos a identificar as práticas de leituras produzidas pelos alunos na
formação inicial de professores, tentando compreender de que maneira essas leituras tem
ajudado a pensar as práticas avaliativas para o ensino na educação básica.
Trabalhamos neste caso com alguns conceitos de autores franceses, como
apropriação (CERTEAU, 1994) práticas de leitura (CHARTIER, 1991) e crítica
documental (BLOCH, 2001). Utilizamos também o autor italiano Carlo Ginzburg (1989)
para falar de campo cientifico, pistas e indícios.
Investigamos nesse caso quais os discursos das bases teóricas que tem sido
utilizada nos cursos de Licenciatura de oito Universidades Federais Brasileiras, o que
exigiu um exercício minucioso de busca pelo que não estava visível a nossa leitura. Por
se tratar de um estudo envolvendo as bibliografias referenciadas nas disciplinas de
avaliação dos cursos de Licenciatura em Educação Física de Universidades Federais
Brasileiras, demandou o uso da técnica de fichamentos das obras, onde as informações
primordiais eram separadas em categorias que posteriormente facilitaram a análise e a
própria escrita do objeto.
Nesse caso partimos da análise das bibliografias, o que nos levou a constatar uma
proximidade dos referenciais utilizados entre as Universidades, assim como uma
semelhança no que se refere as matrizes teóricas que tem fundamentado os seus discursos.
Ainda ressaltamos no decorrer desse estudo o modo como é concebida a avaliação
de ensino e da aprendizagem, que embora seja muito discutida no sentido dicotômico,
decidimos por utilizar o conceito de avaliação da aprendizagem com base em Luiz Carlos
Freitas (2014), devido aos estudos que tem realizado para discutir as diferentes vertentes
da avaliação educacional.
Efetuaremos também uma pesquisa narrativa que tem como objetivo compreender
as práticas de leitura discente, ou seja, com base na análise dos discursos sobre avaliação
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que são apresentados pelos autores tanto do campo da Educação nas diferentes
Universidades, tentaremos identificar por meio das narrativas autobiográficas as
implicações das bases teóricas utilizadas na disciplina e por meio das narrativas tentamos
perceber as apropriações que os alunos tem feito referente ao que àquilo que tem sido lido
e discutido durante a formação inicial referente a avaliação da aprendizagem.
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O estudo de Souza (1995) entre a década de 1930 e 1970 fez uma análise da produção acadêmica sobre
avaliação da educação básica com base em teses e dissertações entre o período de 1970 a 1990. Já Santos
(2002) fez um estudo do estado do conhecimento sobre avaliação educacional com base em análise de
periódicos entre 1930 a 2000. Frossard (2015) atualiza esse mapeamento o estendendo a 2014. Melo et.al.
mapeou artigos nas décadas de 1990 a 2010, em revistas da Educação Física.
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aquilo que era necessário romper sobre avaliação, no caso, uma avaliação classificatória
e somativa que se limitava a produzir nota ao aluno. Os autores evidenciam que no início
da década de 1990, mediante ao tencionamento desse debate, surgem propostas e
perspectivas de avaliação que se respaldavam em uma matriz teórica crítica de educação.
Essas propostas anunciavam a necessidade de se compreender, primeiramente avaliação
como prática política, e que ao mesmo tempo anunciava uma nova visão de sociedade.
Desse modo, são anunciadas as perspectivas de avaliação diagnóstica, formativa e
somativa, que se predispunham a entender o processo avaliativo não apenas como ação
classificatória para gerar nota, mas como instrumento de análise do como, para que e
para quem se avalia?
Com relação a esse mesmo momento histórico, Santos (2005) no campo da
Educação Física, sinaliza igual panorama da discussão acadêmica a partir da década de
1980 quando os estudos sobre avaliação referentes ao campo começam a ganhar destaque.
Houve nesse período, uma intensificação de produções que denunciam avaliação em
Educação Física Escolar para além da medida, e anunciam possibilidades de se pensar
avaliação como processo e prática política sob uma matriz teórica crítica.
No entanto, mesmo os estudos do campo da educação, como da Educação Física,
apontam desde o final da década de 1990 aos dias atuais, a necessidade de pesquisas com
práticas avaliativas centradas na aprendizagem em diálogo com os docentes no cotidiano
escolar, tanto na Educação Básica, como no Ensino Superior. A justificativa seria o fato
de muitas produções acadêmicas ao partir da conjuntura posta de constatações e
denúncias já ofereceram sua parcela de contribuição ao campo da avaliação, e com isso,
urge a necessidade de se avançar na realização de pesquisas que visem analisar, divulgar
e produzir iniciativas de construção de práticas avaliativas comprometidas com a
aprendizagem dos alunos, com o desenvolvimento dos professores e da escola brasileira
(CANDAU; OSWALD, 1995; BARRETO et. al, 2001; SANTOS, 2005; MELLO et.al,
2014; FROSSARD, 2015).
Além disso, os estudos do estado conhecimento em avaliação de aprendizagem,
sinalizam a necessidade de maior discussão da temática na Formação Inicial das
Licenciaturas do Ensino Superior Brasileiro. No campo da Educação, já há uma
expressiva produção sobre avaliação da aprendizagem no âmbito do ensino superior, ou
seja, referente a pesquisas que investigam como são ensinadas práticas avaliativas à
futuros docentes que necessitam aprender como proceder no uso de instrumentos
avaliativos em sua futura prática profissional. Os autores sinalizam que a importância
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Ferreira; Reis e Tubino (1979); Dieckert (1981); Fensterseifer (1981); Vandevelde (1981); Vukotic
(1981); Capinussú (1984); Reis (1985); Costa et al. (1997); Fensterseifer (1998); Rombaldi e Canfield
(1999); Batista (1999/2000); Mendes et al. (2006); Mendes, Nascimento e Mendes Junior (2007);
Fernandes e Greenville (2007); Fuzii, Neto e Benites (2009); Salles et al (2013); Santos, Souza e Barbosa
(2013); Santos e Maximiano (2013).
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Fensterseifer (1981); Vandevelde (1981); Dieckert (1981); Reis (1985); Mendes, Nascimento, Nahas,
Fensterseifer e Jesus (2006); Fuzii, Neto e Benites (2009); Salles, Farias, Egerland e Nascimento (2013).
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Ferreira; Reis; Tubino (1979); Vukotic 1981; Capinussú (1984); Costa et al (1997); Fensterseifer (1998);
Rombaldi e Canfield (1999); Batista (1999/2000); Mendes, Nascimento e Mendes Junior (2007); Fernandes
e Greenville (2007); Santos, Souza e Barbosa (2013); Santos e Maximiano (2013);
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Revista Estudos em Avaliação Educacional da Fundação Carlos Chagas, trata-se de um periódico
quadrimestral criado em 1990 como desenvolvimento da revista Educação e Seleção (1980-1990). Publica
trabalhos direta ou indiretamente relacionados com a questão da avaliação educacional.
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Dissertação de mestrado que voltou seus estudos para os processos de avaliação presentes na formação
inicial e suas implicações para a docência.
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Dissertação de mestrado que partiu do mapeamento de sete Universidades Federais brasileiras e trabalhou
com narrativas dos alunos sobre avaliação e formação inicial.
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Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, criado em 1951, tem como uma das
suas principais atribuições fomentar a pesquisa científica e tecnológica, e tem incentivado a formação de
pesquisadores brasileiros.
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Trabalho de iniciação cientifica que traz como tema: experiências de práticas avaliativas vivenciadas na
Educação Física Escolar: diálogos com os alunos das universidades federais.
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Instituições de Ensino Superior, termo aqui utilizado para substituir Universidades Federais.
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nas fichas avaliativas, prova oral, trabalho individual e trabalhos de grupo correspondem
a 12,5 % das indicações.
No que se refere as corretes teóricas predominantes há um destaque para os autores
que se amparam no materialismo histórico dialético (MARX e ANGEL), destaque
também para as correntes estruturalista (BOURDIEU), construtivista (JEAN PIAGET),
libertadora (JOÃO BATISTA FREIRE), sócio interacionista (LEV VYGOTSKY) e o
paradigma comportamentalista (BENJAMIM BLOOM). Após análise das bibliografias
chegamos à conclusão de que esse ecletismo teórico tem circulado nas diferentes
Universidades o que não nos permite afirmar qual matriz teórica tem fundamentado o
próprio curso de Educação Física.
Um elemento complementar da nossa pesquisa, refere-se ao modo como os alunos
dos cursos de Licenciatura em Educação Física tem se apropriado dos debates sobre
avaliação a partir das bibliografias referenciadas, e de que modo eles têm produzido novas
leituras a partir desses referencias para pensar a própria prática avaliativa.
Ao analisarmos as narrativas autobiográficas dos alunos que foram produzidas por
meio de grupos focais organizados dentro das Universidades durante os estudos de
Frossard (2015), que teve como objetivos discutir e analisar os processos envolvidos na
formação inicial de professores de Educação Física, fomos desafiados a corroborar com
as ideias de Certeau (1994), ou seja, através das narrativas nos é permitido analisar a
construção da realidade social dando atenção às táticas dos indivíduos no cotidiano
(CERTEAU, 1994), onde o que está em jogo é a ordenação e a hierarquização da própria
estrutura social.
Desse modo, o autor apresenta como uma sociedade se utiliza de táticas e não se
reduz aos dispositivos de dominação, neste caso, os alunos dos cursos de Licenciatura em
Educação Física de oito Universidades, apesar de algumas limitações, possuem maneiras
de fazer, práticas das quais se (re) apropriam em seu cotidiano e produzem cultura. Assim,
o que mais interessa para o autor não são as estatísticas, mas “[...] as operações e os usos
individuais, suas ligações e as trajetórias variáveis dos praticantes” (CERTEAU, 1994, p.
15).
Apesar da possibilidade apresentada tanto por Certeau (1994), como por Chartier
(2002, 2011) de apropriação do leitor, não podemos desconsiderar as intencionalidades,
ou melhor, as estratégias e táticas presentes na materialidade dos objetos escritos.
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“Uma história das leituras e dos leitores (populares ou não) trata, portanto, da
historicidade do processo de apropriação dos textos. Ela considera que o
mundo dos textos é um mundo de objetos ou de formas cujas estruturas,
dispositivos e convenções sustentam e constrangem a produção de sentido.
Considera, igualmente, que o mundo do leitor é constituído pela comunidade
de interpretação a que ele pertence, que se define por um mesmo conjunto de
competências, usos códigos e interesses. Daí a necessidade de uma dupla
atenção: à materialidade dos objetos escritos e aos gestos dos sujeitos leitores”
(CHARTIER, 2002, p. 124).
“Acho que teria que ter a disciplina de avaliação I e depois avaliação II, tipo,
se não fosse prática de ensino agente não teria lido artigos sobre avaliação,
então eu acho que tem que ter mais um caminho assim. Se propõe até três
meses de avaliação antropométrica e outros três sobre como avaliar na
educação física, porque se não fosse a matéria práticas de ensino agente não
teria visto o que a gente viu de avaliação, então eu acho que, a gente deu sorte
de ter um professor que nos ofereceu isso” (L. Grupo focal UFMS).
Assim como base nas narrativas, dos alunos, percebemos um pouco o modo como
se deu o processo de apropriação das práticas de leitura na formação inicial de professores
nos cursos de Licenciatura em Educação Física nas Universidades Federais no que se
refere aos instrumentos avaliativos, as concepções de avaliação, assim como a
importância de haver uma discussão uma continuidade de uma disciplina que se preocupe
em discutir práticas avaliativas que visem a promoção do ensino e da aprendizagem.
Considerações finais
Esta pesquisa que constitui uma metodologia de abordagem qualitativa, por meio
da análise crítico documental (BLOCH, 2001), buscou interpretar as bibliografias e as
narrativas autobiográficas, nesse caso não nos interessamos em julgar, mas, interrogar
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Referencias:
ANASTASIOU, L.G.C., ALVES, L.P. Processos de ensinagem na universidade:
pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinvile/SC: UNIVILLE, 2005.
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