Você está na página 1de 18

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

DEPARTAMENDO DE CIÊNCIA EXATAS E TECNOLÓGICAS


FÍSICA LICENCIATURA

EXPERIMENTO DE STERN-GERLACH

RONILDO LOPES D’ AJUDA (201610656),

ILHÉUS – BAHIA
2020
RONILDO LOPES D’ AJUDA (201610656),

EXPERIMENTO DE STERN-GERLACH

Relatório apresentado como parte dos critérios de


avaliação da disciplina CET 187 – Laboratório de Física
Moderna. Turma T01 / P01.
Professor: Dr. Fernando Remigio Tamariz Luna

ILHÉUS – BAHIA
2020
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 4

2 REFERENCIAL TEÓRICO 5

2.1 Momento angular orbital .......................................................................................... 5

2.2 Momento dipolo magnético orbital ........................................................................... 7

2.3 Momento Angular de Spin ..................................................................................... 12

2.4 Momento Magnético de Spin ................................................................................. 12

3 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO 14

4 ANALISE DO EXPERIMENTO 15

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 17

REFERÊNCIAS 18
4

1 INTRODUÇÃO

O experimento de Stern-Gerlach foi proposto originalmente por Otto Stern para testar
a quantização espacial, ou seja, se o momento angular de átomos neutros era ou não
quantizado, na presença de um campo magnético externo. Em 1913 Niels Bohr propôs o seu
modelo semi-clássico" para o átomo, introduzindo, para isto, algumas regras de quantização.
Ele propõe o modelo planetário para o átomo, mas postula que apenas algumas órbitas
(circulares e coplanares) são permitidas aos elétrons, a saber, aquelas nas quais o momento
angular 𝐿 do elétron é um múltiplo inteiro da constante de Planck ℎ (𝐿 = 𝑛ℎ = 2𝜋, 𝑛 =
1, 2, 3, . ..). Assim os elétrons seriam estáveis nessas órbitas, emitindo radiação somente
quando ocorresse a mudança de uma para outra órbita. A partir deste modelo, Bohr, entre
outros cientistas, lançou-se ao desafio de descrever corretamente o espectro discreto do
átomo de hidrogênio.
Em 1916, Arnold Sommerfeld introduziu um “aperfeiçoamento” do modelo de Bohr,
incluindo efeitos relativísticos e considerando que os elétrons poderiam mover-se em órbitas
elípticas e não apenas num mesmo plano, mas em diversos planos orbitais. Assim as órbitas
dos elétrons em torno do núcleo seriam quantizadas não apenas em relação ao tamanho e
forma, mas também na sua orientação espacial, em relação, por exemplo, a direção de um
campo magnético (quantização da direção ou espacial). Dessa forma Sommerfeld introduziu,
além dos dois números quânticos, principal e angular, que eram responsáveis pela
quantização da magnitude do vetor momento angular 𝐿, um terceiro número quântico azimutal
(𝑚), que estava relacionado à quantização da direção de 𝐿 no espaço. É importante salientar
que este número quântico azimutal não é o mesmo da moderna mecânica quântica (𝑚𝑙).
Sommerfeld previu que deveriam existir 2𝑚 valores (𝑚 inteiro) para os planos das órbitas dos
elétrons, incluindo as posições horizontal e vertical.
Com este conjunto de hipóteses, Sommerfeld, e independentemente Peter Debye,
conseguiam explicar um fenômeno observado por Zeeman em 1896 acerca do
comportamento de átomos em campos magnéticos. O efeito Zeeman (normal), como ficou
conhecido, consiste no desdobramento, devido a um campo magnético externo, das linhas
espectrais de um átomo previamente excitado. No entanto, a teoria clássica de Lorentz-
Larmor fornecia uma explicação tão consistente quanto esta nova " teoria quântica " para esta
explicação clássica. Mas em uma variante do efeito Zeeman (o efeito anômalo), ambas as
teorias fracassavam. Este efeito foi uma das principais motivações que levaram Otto Stern a
propor o seu experimento. Assim, a quantização espacial ainda não havia sido testada
diretamente, ou seja, não havia implicações experimentais específicas da teoria que
houvessem sido medidas. Por conta disso, vários físicos eminentes não acreditavam na
existência real da quantização espacial.
5

Tendo isto em mente, Otto Stern propôs o experimento, que possuía a vantagem de
não envolver nenhuma medida espectroscópica. E como ele acreditava na teoria, o resultado
esperado era que o feixe de átomos se dividisse em duas componentes ao atravessar um
campo magnético externo, o que foi de fato obtido. Por isso, aos olhos dos experimentadores
da época, o resultado do experimento pareceu um perfeito sucesso.
O experimento de Stern-Gerlach busca estabelecer a quantização direcional do spin
do elétron; investigar os possíveis valores do momento de dipolo magnético 𝜇 de um átomo
de prata; explorar a dinâmica do dipolo magnético formado pelo átomo na presença de um
campo magnético externo, 𝑩 , não uniforme. Outros objetivos podem sem alcançados, como
por exemplo, o valor do momento magnético de spin 𝜇𝑠 , do magnéton de Bohr 𝜇𝐵 ou do fator
giromagnético de spin 𝑔𝑠 podem ser determinados de acordo com a quantidade tomada como
conhecida.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Momento angular orbital

Uma partícula em órbita possui um momento angular 𝑳 e (como o movimento da


partícula equivale a uma corrente elétrica) um momento magnético 𝝁. Como indicado na Fig.
1, os vetores 𝑳 e 𝝁 são perpendiculares ao plano da órbita e, como a carga é negativa, têm
sentidos opostos. O modelo da Fig.1 é estritamente clássico e não representa corretamente
um elétron em um átomo. Na física quântica, as órbitas eletrônicas foram substituídas por
densidades de probabilidade, que podem ser visualizadas por meio de gráficos de pontos.
Mesmo assim, continua a ser verdadeiro o fato de que cada estado de um elétron em um
átomo possui um momento angular e um momento magnético, orientados em sentidos
opostos. Dizemos que as duas grandezas vetoriais estão acopladas. Isto foi verificado por
Albert Einstein e o físico holandês W. J. de Haas em 1915, antes do advento da física quântica.
O resultado mostrou que o momento angular e o momento magnético de um átomo estão
acoplados e tendem a apontar em direções opostas. Além disso, o experimento demonstrou
que os momentos angulares associados aos estados quânticos dos átomos podem se
manifestar por meio de rotações visíveis de objetos de dimensões macroscópicas.

FIGURA 1 – Modelo clássico de uma partícula, de massa 𝑚 e carga – 𝑒, que se move


com velocidade 𝑣 em uma órbita circular de raio 𝑟.
6

A cada estado quântico dos elétrons de um átomo estão associados um momento


angular orbital e um momento magnético orbital. Além disso, todo elétron, livre ou não, possui
um momento angular de spin e um momento magnético de spin, que são grandezas tão
intrínsecas quanto a massa e a carga do elétron. A tabela 1 apresenta os números quântico
que representa os estados quânticos dos elétrons.

TABELA 1 – Estados Quânticos de um Elétron Atômico.

Classicamente, uma partícula em movimento possui um momento angular em relação


a qualquer ponto de referência arbitrariamente escolhido. O momento angular é definido por
meio da equação vetorial
𝑳 = 𝒓 × 𝒑, (1)

em que é um vetor posição 𝒓, que liga a partícula ao ponto de referência, 𝒑 é o momento


linear 𝑚𝒗 da partícula, com o núcleo como ponto de referência. Ao contrário do que acontece
com uma partícula clássica, o momento angular orbital de um elétron atômico é quantizado,
isto é, pode ter apenas certos valores. No caso do elétron de um átomo de hidrogênio,
podemos determinar os valores permitidos do momento angular resolvendo a equação de
Schrödinger. Nesse caso e em qualquer outro, podemos também determinar os valores
permitidos usando a matemática apropriada para o produto vetorial na física quântica. Usando
um dos dois métodos, descobrimos que os valores permitidos de são dados por

𝐿 = √ℓ(ℓ + 1) ℏ, 𝑝𝑎𝑟𝑎 ℓ = 1, 2, 3 , . . , 𝑛 − 1 (2)

em que ħ = ℎ/2𝜋, ℓ é o número quântico orbital, e 𝑛 é o número quântico principal do elétron.


O elétron pode ter um valor definido de 𝐿 dado pela Eq. 2, mas o vetor 𝑳 do elétron não tem
uma direção definida. Por outro lado, é possível medir (detectar) valores definidos de uma
7

componente 𝐿𝑧 do vetor 𝑳 em relação a um eixo escolhido (chamado, em geral, de eixo 𝑧),


que são dados por
𝐿𝑧 = 𝑚ℓ ℏ, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚ℓ = −ℓ, −ℓ + 1, … , 0, … , ℓ − 1, + ℓ (3)

em que 𝑚ℓ é o número quântico magnético orbital. Se o elétron tem um valor definido de 𝐿𝑧 ,


ele não pode ter valores definidos de 𝐿𝑥 e 𝐿𝑦 .

2.2 Momento dipolo magnético orbital

Considere um elétron de massa m e carga −𝑒 movendo-se com velocidade de módulo 𝑣 numa


órbita circular de Bohr de raio 𝑟 como mostra a fig. 3. A carga que circula numa órbita constitui
uma corrente de intensidade
𝑒 𝑒𝑣
𝑖= = (4)
𝑇 2𝜋𝑟

onde 𝑇 é o perfodo orbital do elétron cuja carga vale 𝑒 em módulo. Mostra-se, na teoria
eletromagnética elementar, que urna tal corrente produz um campo magnético equivalente, a
grandes distânciæ da órbita, a um campo produzido por um dipolo magnético localizado em
seu centro e orientado perpendicularmente a seu plano. Para uma corrente í numa órbita de
área 𝐴 o módulo do momento de dipolo magnético orbital 𝜇ℓ do dipolo equivalente é dado por

𝜇ℓ = 𝑖𝐴 (5)

e a direção do momento de dipolo magnético é perpendicular ao plano da órbita, no sentido


indicado pela figura 8-1. A fig. 2. mostra o campo magnético produzido pelo anel de corrente.

FIGURA 2 – O momento angular orbital 𝑳 e o momento de dipolo magnético orbital 𝝁𝓵 de um elétron −𝑒 que se move
numa órbita de Bohr. O campo magnético 𝑩 produzido pela carga que circula aparece indicado pelas
linhas curvas. O dipolo magnético fictício que produziria um campo idêntico, longe da orbita, aparece
indicado por seus polos 𝑁 e 𝑆.
8

A grandeza 𝜇ℓ especifica a intensidade do dipolo magnético e é igual ao produto da


intensidade dos polos pela distância que os separa. Como o elétron tem uma carga negativa,
seu momento de dipolo magnético 𝝁𝓵 é antiparalelo a seu momento angular orbital 𝑳, cujo
módulo é dado por 𝐿 = 𝑚𝑣𝑟𝑠𝑒𝑛𝜃, onde 𝜃 é o ângulo entre 𝒗 e 𝒓, que são perpendiculares, e
𝑚𝑒 a massa do elétron sendo assim:
𝐿 = 𝑚𝑒 𝑣𝑟 (6)

Calculando 𝑖 da eq. 4 e 𝐴 de uma órbita circular de Bohr, a eq. 5 escreve-se

2𝑒 𝑒𝑣𝑟
𝜇ℓ = 𝑖𝐴 = 𝜋𝑟 2 = (7)
2𝜋𝑟 2

Devindo pela eq. 6, obtém -se


𝜇ℓ 𝑒𝑣𝑟 𝑒
= = (8)
𝐿 𝑚𝑒 𝑣𝑟 2𝑚𝑒

Vemos que a razão entre o módulo 𝜇ℓ do momento de dipolo magnético orbital e o módulo 𝐿
do momento angular orbital do elétron é uma combinação de constantes universais. Usa-se
essa razão como
𝜇ℓ 𝑔ℓ 𝜇𝑏
= (9)
𝐿 ℏ

onde,
𝑒ℏ
𝜇𝑏 = = 0,927 × 10−23 𝐴 ∙ 𝑚2 (10)
2𝑚𝑒

e
𝑔ℓ = 1 (11)

A grandeza 𝜇𝑏 , chamada magnéton de Bohr, constitui uma unidade natural de medida do


momento de dipolo magnético atômico. A grandeza 𝑔ℓ é denominada a fator giromagnético
orbital. Essa grandeza, introduzida aqui de forma aparentemente redundante, é importante
para preservar a simetria com equações que serão desenvolvidas posteriormente ao se tratar
casos envolvendo fatores 𝑔 diferentes de um. A eq. 9 pode ser reescrita, em termos das
grandezas acima, como uma equação vetorial que especifica não só o modulo de 𝝁𝓵 como
também sua orientação em relação a 𝑳. O seja
9

𝑔ℓ 𝜇𝑏
𝝁𝓵 = − 𝑳 (12)

A razão entre 𝜇ℓ e 𝐿 não depende do tamanho da órbita nem da frequência do movimento


orbital. O fato dessa razão ser totalmente independente dos detalhes da órbita sugere, como
realmente ocorre, que seu valor não depende dos detalhes da teoria mecânica usada para
determina-lo. Determinado 𝜇ℓ a partir da mecânica quântica pela expressão quântica da
eq. 2, obtém-se o mesmo valor obtido acima para a razão entre 𝜇ℓ e 𝐿. A partir daí
podemos definir as expressões quânticas corretas para a intensidade e componente 𝑧 do
momento de dipolo magnético orbital

𝑔ℓ 𝜇𝑏
𝜇ℓ = √ℓ(ℓ + 1) ℏ = 𝑔ℓ 𝜇𝑏 √ℓ(ℓ + 1) (13)

e

𝑔ℓ 𝜇𝑏 𝑔ℓ 𝜇𝑏
𝜇ℓ𝑧 = − 𝐿𝑧 = − 𝑚ℓ ℏ = −𝑔ℓ 𝜇𝑏 𝑚ℓ (14)
ℏ ℏ

O sinal de menos da eq.14 refere-se ao fato do vetor 𝝁𝓵 ser antiparalelo ao vetor 𝑳.


A teoria eletromagnética elementar mostra que, quando o momento de dipolo
magnético 𝝁𝓵 , está sujeito a um campo magnético aplicado 𝑩, o dipolo fica submetido a um
torque
𝝉 = 𝝁𝓵 × 𝑩 (15)

Que tende a alinha o dipolo com o campo e que associado ao toque há uma energia potencial
de orientação
∆𝐸 = −𝝁𝓵 ∙ 𝑩 (16)

A energia potencial orientacional ∆𝐸 deverá permanecer constante se, para um sistema


consistindo de um momento de dipolo magnético 𝜇ℓ num campo magnético 𝑩, se não existir
nenhum meio de dissipação de energia. Nesæ caso, 𝜇ℓ não poderá se orientar na direção de
𝑩. Em vez disso, 𝜇ℓ vai precessionar em torno de 𝑩 de forma que o ângulo entre esses dois
vetores permaneça constante, bem como o módulo de ambos os vetores. O movimento de
precessão é consequência do fato que, segundo a eq.12 e 15, o torque que age sobre o dipolo
é sempre perpendicular a seu momento angular. A precessão e sua explicação estão
ilustradas na figura 4. É fácil mostrar que a frequência angular de 𝜇ℓ em torno de 𝑩 é dada
por
𝑔ℓ 𝜇𝑏
𝜔= 𝑩 (17)

10

Além do valor de 𝜔 esta equação indica que o sentido de precessão é o sentido de 𝑩.

FIGURA 3 – fenômeno da precessão, onde torque 𝝉 aparece quando o momento dipolo magnético de um
átomo 𝝁𝓵 interage com o campo aplicado 𝑩. Este toque da origem a uma variação 𝑑𝑳 do
momento angular durante o tempo 𝑑𝑡 sob a forma 𝑑𝑳/𝑑𝑡 = 𝝉. A variação dL faz com que 𝑳
precessione de um ângulo 𝜔𝑑𝑡 , onde 𝜔 é a velocidade angular de precessão.

A eq. 17 foi obtida através de um tratamento clássico. Mas um tratamento quântico


leva ao mesmo resultado, isto é, os valores esperados das componentes perpendiculares ao
campo magnético de um momento de dipolo magnético quântico variam de forma cíclica no
tempo, de forma análoga às componentes perpendiculares ao campo de um momento de
dipolo magnético clássico.
Se o campo magnético for uniforme espacialmente, não haverá força resultante de
translação agindo sobre o dipolo magnético (embora haja certamente um torque). Se o campo
não for uniforme, porém, haver, uma força de translação (além do torque). O que ocorre nesse
caso aparece ilustrado na figura 4. Essa figura mostra que um elétron descrevendo uma órbita
circular com velocidade 𝒗, numa região do espaço onde o campo 𝑩 é convergente, sofre a
ação de uma força proporcional a −𝒗 × 𝑩, força esta que tem sempre uma componente na
direção onde o campo torna-se mais intenso.
11

FIGURA 4 – Numa região onde o campo aplicado 𝑩 converge, um elétron se move numa órbita de Bohr com
velocidade 𝒗. e o campo exerce uma força 𝑭 sobre o elétfon. Como a carga do elétron é negativa,
𝑭 𝛼 − 𝒗 × 𝑩. Independentemente da posição do elétron na órbita, essa força tem uma componente
radial, dirigida para fora, e uma componente na direção onde 𝑩 é mais intenso. Numa média feita
sobre uma órbita a componente radial se cancela e a força média tem essa direção (Para cima).

Esse efeito pode também ser visualizado através da analogia com um dipolo magnético fictício
em um campo magnético não uniforme ou um dipolo elétrico em um campo elétrico não
uniforme, como está ilustrado na figura 5. Usando esta analogia, é fácil mostrar que a força
média que age sobre o dipolo magnético é

𝜕𝐵
𝐹𝑧 = 𝜇ℓ𝑧 (18)
𝜕𝑧

onde z é o eixo de coordenadas na direção do aumento da intensidade de campo e 𝜕𝐵⁄𝜕𝑧,


é a rapidez com a qual ele cresce. Em resumo, um dipolo magnético em um campo magnético
não uniforme sofre um torque, que produz uma precessâo. e sofre uma força que produz um
deslocamento.

FIGURA 5 – As forças 𝐹𝑁 e 𝐹𝑆 agem nos pólos do dipolo magnético fictício, equivalente ao elétron em órbita
circula¡ da figura 4, situado numa região onde o campo aplicado 𝑩 é convcr8eile Como 𝐹𝑁 é mais
intensa do que 𝐹𝑆 , a força resultante atuanào sobre o dipolo tem a direção onde B torna-se mais
intenso. Essa situação talvez seja familiar para o estudante no caso em que o campo e o
momento de dipolo são elétricos e não magnéticos
12

2.3 Momento Angular de Spin

Todo elétron, livre ou não, possui um momento angular intrínseco 𝑺 que não tem um
equivalente clássico (não é da forma 𝒑 × 𝒓). Esse momento é chamado de momento angular
de spin ou, simplesmente, spin. O módulo de 𝑺 é quantizado e só pode ter um valor:

1
𝑆 = √𝑠(𝑠 + 1) ℏ, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑠 = (19)
2

em que 𝑠 é o número quântico de spin. Como o número quântico de spin do elétron só pode
ter o valor 1/2, costuma-se dizer que o elétron é uma partícula de spin 1/2. (Os prótons e
nêutrons também são partículas de spin 1/2.) A terminologia nesse caso é um pouco
ambígua, já que tanto como 𝑠 são chamados normalmente de spin.
Como o momento angular orbital, o momento angular intrínseco tem um módulo
definido, mas não tem uma direção definida. O melhor que podemos fazer é medir a
componente em relação a um eixo 𝑧, cujo valor é dado por

1
𝑆𝑧 = 𝑚𝑠 ℏ, 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑚𝑠 = ±𝑠 = ± (20)
2

em que 𝑚𝑠 é o número quântico magnético de spin, que pode ter apenas dois valores: 𝑚𝑠 =
+𝑠 = +1/2 (caso em que dizemos que o spin do elétron está para cima) e 𝑚𝑠 = – 𝑠 =
– 1/2 (caso em que dizemos que o spin do elétron está para baixo). Como a Fig. 40-5, a Fig.
40-6 não deve ser interpretada literalmente, pois sugere (de forma incorreta) que 𝑺 tem uma
orientação definida, mas ajuda a relacionar as duas componentes permitidas ao módulo
ℏ √3⁄2 do vetor.
A existência do spin do elétron foi postulada por dois alunos de doutorado holandeses,
George Uhlenbeck e Samuel Goudsmit, a partir de observações de espectros atômicos. A
base teórica para a existência do spin foi estabelecida alguns anos depois pelo físico inglês
P. A. M. Dirac, que formulou uma teoria quântica relativística para o elétron.

2.4 Momento Magnético de Spin

Como o momento angular orbital, o momento angular de spin também tem um


momento magnético associado:
𝑔𝑠 𝜇𝑏
𝝁𝒔 = − 𝑺 (21)

em que o sinal negativo significa que os dois vetores têm sentidos opostos; isso se deve ao
13

fato de que a carga do elétron é negativa. O momento magnético 𝝁𝒔 é uma propriedade


intrínseca de todos os elétrons. O vetor 𝝁𝒔 não têm uma orientação definida, mas tem um
módulo definido, dado por

𝑔𝑠 𝜇𝑏
𝜇𝑠 = √𝑠(𝑠 + 1) ℏ (22)

Se considerarmos o componente 𝑆𝑧 do spin em uma determinada direção 𝑧, o sistema


possui duas orientações possíveis diferentes, caracterizadas pelos números quânticos

1
𝑚𝑠 = ± (23)
2

Pela eq. 20, podemos definir um componente vetor 𝝁𝒔 também tem em relação a um
eixo 𝑧, dada por
𝑔𝑠 𝜇𝑏 𝑔𝑠 𝜇𝑏
𝜇𝑠𝑧 = − 𝑆𝑧 = − 𝑚𝑠 ℏ = −𝑔𝑠 𝜇𝑏 𝑚𝑠 (24)
ℏ ℏ

O momento magnético associado na direção 𝑧 leva o valor

𝑒ℏ
𝜇𝑠𝑧 = − 𝑚 = −𝜇𝐵 𝑚 (25)
2𝑚𝑒

em que
𝑚 = 𝑚𝑠 𝑔𝑠 . (26)

O valor da literatura do fator g é

𝑔𝑠 = 2,0024. (27)

Portanto,

𝑚 = ±1,0012 ≈ ±1 (28)
14

3 DESCRIÇÃO DO EXPERIMENTO

Um pequeno forno elétrico, a uma temperatura de ≈ 1300 ℃, contem uma pequena


quantidade de prata cuja temperatura de fusão é ≈ 961 ℃. A esta temperatura produz-se no
interior do forno uma pressão de vapor suficientemente grande para permitir que muitos
átomos escapem por um pequeno orifício feito numa das paredes. Um feixe estreito de
átomos, que se movimenta com velocidades térmicas (≈ 500 𝑚⁄𝑠 ; ≈ 600 𝑚⁄𝑠) é colimado
por pequenas fendas (≈ 0,1 𝑚𝑚) e ingressa em uma região entre dois magnetos que
produzem um campo magnético não homogêneo (com gradiente de ≈ 103 𝑇⁄𝑚 ; ≈ 102 𝑇⁄𝑚)
para finalmente alcançar um anteparo de vidro (resfriado com gelo de dióxido de carbono,
acetona ou ar líquido) sobre o qual se condensa formando uma mancha. O campo magnético
gerado também tem uma componente homogênea (≈ 1 𝑇). Todo aparelho fica no interior de
um recipiente onde se mantem um alto vácuo. A fig. 6 mostra o esquema geral do dispositivo
original Stern-Gerlach.

𝑧
𝑦

𝑃𝑙𝑎𝑐𝑎
𝑑𝑒𝑡𝑒𝑐𝑡𝑜𝑟𝑎
Í𝑚ã

𝐹𝑒𝑖𝑥𝑒𝑠 𝑑𝑒
á𝑡𝑜𝑚𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑎𝑡𝑎
𝐹𝑜𝑟𝑛𝑜

𝐹𝑒𝑛𝑑𝑎𝑠
𝑐𝑜𝑙𝑖𝑚𝑎𝑑𝑜𝑟𝑎𝑠

FIGURA 6 – Aparelho de Stern-Gerlach. O campo entre os dois polos do ímã aparece indicado pelas linhas de
campo desenhadas em uma das extremidades do ímã. A intensidade do campo aumenta na
direção 𝑧 positiva (para cima).

𝑓𝑒𝑖𝑥𝑒 𝑃𝑙𝑎𝑐𝑎
𝑑𝑒𝑓𝑙𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑐𝑡𝑜𝑟𝑎

𝐹𝑜𝑟𝑛𝑜

FIGURA 7 – Esquema do aparelho de Stern-Gerlach em vista longitudinal.


15

FIGURA 8 – Esquema do aparelho de Stern-Gerlach em vista transversal.

4 ANALISE DO EXPERIMENTO

De acordo com a fig. 9 dois perfis de resultado clássico e um perfil de resultado quântico eram
esperados

FIGURA 9 – Em cima temos o perfil do resultado previsto pela física clássica e


abaixo o perfil obtido.
Bruno Felipe

Os átomos de prata (Z=47) permitiram o estudo das propriedades magnéticas de um


único elétron, pois esses átomos têm um único elétron “exterior” que se move em um potencial
coulombiano produzido por 47 prótons do núcleo, blindados por 46 elétrons de caroço.
Como o elétron externo tem momento angular orbital nulo (ℓ = 0), esperava-se que a
16

interação com um campo magnético externo só seria possível se existisse o momento de spin.

A configuração eletrônica para o átomo de prata é

1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 4d10 5s1.

O momento angular total dos orbitais internos:

1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d10 4p6 4d10

é zero. Assim o átomo de prata pode ser aproximado para um átomo de um elétron, logo

𝜕 𝜕𝐵𝑧
𝐹𝑧 ≈ (𝝁 ∙ 𝑩) = 𝜇𝑧 . (29)
𝜕𝑧 𝜕𝑧

𝑒
Como 𝜇𝑧 =− 𝐿 𝑐𝑜𝑠𝜃, então
2𝑚

𝑒 𝜕𝐵
𝐹𝑧 ≈ − − 𝐿 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑧 . (30)
2𝑚 𝜕𝑧

Assim, segundo a teoria clássica, deveríamos observar uma mancha contínua na placa
fotográfica, mas o resultado do experimento está na fig. 10:

FIGURA 10 – Manchas obtidas num experimento real de Stern-Gerlach. Na ausência de campo magnético, só
uma linha é formada sobre o anteparo. Quando aplicado um campo magnético não homogêneo,
surge duas linhas distintas, no lugar de uma única mancha.
Bruno Felipe
17

FIGURA 11 – Esquema. representando a deflexão de feixe do átomo de prata.


Bruno Felipe

2
1 1𝐹 𝑙 𝜇𝑠𝑧 𝑙 2 𝜕𝐵𝑧
𝑧 = 𝑎𝑡 2 = ( ) = (30)
2 2𝑚 𝑣 4𝐸𝐾 𝜕𝑧

Onde 𝐸𝐾 é a energia cinética dos átomos de prata.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como se vê, o experimento de Stern-Gerlach era aparentemente simples, mas repleto


de sutilezas. Talvez a principal delas seja a suposição de que o momento magnético do átomo
seria advindo do movimento orbital do elétron de valência. Isto se revelou, posteriormente, um
equívoco. Segundo Friedrich e Herschbach, o que ocorreu foi uma afortunada coincidência.
A prata possui 47 elétrons, dos quais 46 formam uma camada fechada e o último elétron
ocupa o nível 5s1. Isto significa que o momento angular orbital do elétron de valência e zero e
não uma unidade como presumido pelo modelo de Bohr. O momento magnético medido por
Stern e Gerlach era, na verdade, o momento angular de spin do elétron. Assim eles
acreditavam ter confirmado a teoria de Bohr-Sommerfeld, mas na verdade eles trataram do
único caso em que a teoria (da época) e os resultados experimentais coincidiam. Spin é o
momento magnético intrínseco das partículas, e parece não haver, até hoje, nenhum análogo
clássico para esta propriedade fundamental da matéria. Foi proposto por Goudsmit e
Uhlenbeck em 1925. Um fato curioso é que, mesmo após o surgimento do conceito de spin,
transcorreu algum tempo até que o experimento de Stern-Gerlach fosse reinterpretado à luz
deste conceito. O primeiro trabalho a relacionar o spin a esse experimento apareceu em 1927
devido a Fraser.
18

REFERÊNCIAS

HALLIDAY, David, RESNICK, Robert, WALKER, Jearl. Fundamentos de física, volume 4:


óptica e física moderna. Tradução Ronaldo Sérgio de Biasi. - 10. ed. - Rio de Janeiro: LTC,
2016

TIPLER, Paul A; LLEWELLYN, Ralph A. Física Moderna. Tradução de Ronaldo Sérgio de


Biasi. 6.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

EISEBERG, R, RESNICK, R., Física Quântica: Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e


Partículas. Tradução de Paulo Costa Ribeiro, Enio Frota da Silveira e Marta Feijó
Barroso. Rio de Janeiro: Campus, 1979

GOMES, Gerson G., PIETROCOLA, Maurício. O experimento de Stern-Gerlach e o spin do


elétron: um exemplo de quasi-história. Revista Brasileira de Ensino de Física. São Paulo:
v. 33, n. 2, 2604

BULNES, Juan J. Díaz Construção de soluções exatas e aproximadas para o efeito


Stern-Gerlach. Tese (Mestrado em Física) – Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas –
CBPF. Rio de Janeiro, p. 93. 2000.

Você também pode gostar