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CHAMAS
Supervisão editorial
Marcos Simas
Capa
Oliverartelucas
Revisão
Carlos Buczynski
Diagramação
Pedro Simas
Blaise Pascal
Editado por
James M. Houston
Introdução
Os Guinness
Brasília
2007
Título original
The Mind on Fire
Impressão
Imprensa da Fé, SP
1ª Edição brasileira
Abril de 2007
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida sem o consentimento prévio,
por escrito, dos editores, exceto para breves citações, com indicação da fonte.
384p.; 21cm.
Obra publicada originalmente em inglês sob o título: Real Christianity : discerning true
faith from false beliefs.
ISBN 978-85-60387-12-0
I. Introdução ....................................................................... 51
Série Clássicos da
Espiritualidade Cristã
Editando os clássicos
James M. Houston
Sua vida
O pensamento de Pascal
teórico, não o ser pessoal com o qual ele podia desfrutar um re-
lacionamento eterno e que ele havia acabado de descobrir. Foi
isso que lhe proporcionou “alegria, alegria, alegria, lágrimas de
alegria”. Naquele instante, a alma de Pascal foi inundada com
“certeza, alegria indizível e paz”. Ele entendeu que ao homem
foi concedida a dádiva de uma nova dimensão de conheci-
mento, o ingresso em um novo nível de existência.
Foi durante os últimos oito anos de sua vida que sua
obra, Pensées (Pensamentos), foi produzida. Pascal enxergou
claramente que por intermédio apenas da razão ninguém se-
ria capaz de compreender toda a realidade. O conhecimento
não pode esquadrinhar o todo, mas somente pode substituir a
totalidade com uma pretensão para o todo. De fato, o todo é
substituído pela redução. Pascal desafiou o reducionismo que
viu nos escritos de homens como Montaigne. Ele percebeu
que havia diferentes níveis de conhecimento, infinitamente
distantes entre si. Assim como a inteligência do homem é
infinitamente distinta da matéria, também a sua alma está
infinitamente distante de Deus. Em Pensées (Pensamentos),
Pascal enxerga com inequívoca clareza a necessidade de ha-
ver formas de conhecimento apropriadas. Ele afirma:
O sofrimento de Pascal
James M. Houston
NOTAS
Da vida e da
época de Pascal
(1623–1662)
A família de Pascal
1646 compromete-se com a fé
cristã.
A primeira estada de
Pascal em Port-Royal. Ele
1655
leva o duque de Roannez
a Cristo.
Edições de PENSÉES
Os Guinness
O Memorial
Fogo
Introdução
teja diante de seus olhos, elas não fazem o mínimo esforço para
descobrir se os argumentos são válidos ou não. As pessoas não
fazem a menor idéia se deveriam ou não encarar esta questão.
Que forma lastimável de agir (12-195).
Pensamentos
Porém, o sentimento não age assim. Antes, age com mais es-
pontaneidade e sempre está pronto a entrar em ação. Portanto,
nós devemos confiar em nossos sentimentos, pois ao não agir
assim nossa fé irá vacilar (7-252).
dos homens são tão infinitamente variados que ela não existe.
Portanto, roubo, incesto, infanticídio, parricídio, em al-
gum momento da história, têm sido considerados como virtu-
des. Assim, pode haver algo mais absurdo que um homem deter
o direito de me matar pelo simples fato de viver em outro lado
do oceano, e de seu príncipe ter decidido brigar comigo, embora
eu jamais tenha tido qualquer relacionamento com ele?
Sem sombra de dúvida, existem leis naturais, porém, uma
vez que nossa depurada razão é corrompida, ela corrompe tudo o
mais. Tudo parece ser relativo em função das convenções (como
Cícero mencionou em De Fin, 5.21). É pela virtude dos decre-
tos do Senado e votos da população que crimes são cometidos
(como Sêneca bem demonstrou, Ep. 95). Assim como costumá-
vamos sofrer com nossos vícios, agora sofremos com nossas leis
(como Tácito observou, Ann., 3.25).
A conseqüência dessa confusão é que alguns dirão que
a essência da justiça é a autoridade dos legisladores, enquanto
outros argumentarão que é a conveniência dos soberanos, ou
outros mais dirão que os costumes atuais é que são confiáveis.
Se todas as coisas são tão racionalizáveis assim, nada possui um
valor intrínseco que permaneça imutável ao longo do tempo.
Os costumes são o todo da eqüidade simplesmente porque são
aceitáveis. Esta é a base mítica da autoridade que exercem. As-
sim, aquele que retrocede ao seu princípio fundamental apenas
o destrói. Nada é mais defeituoso do que as leis que buscam
corrigir defeitos. Todos os que as obedecem porque são justas o
fazem em obediência a uma lei imaginária, não à essência da lei,
que é intrínseca. É uma lei e nada mais. Qualquer um que deseje
examinar a razão dela descobrirá algo trivial e sem fundamentos
sólidos e, exceto se estiver familiarizado com a complexidade da
imaginação humana, ficará surpreso que tal lei tenha adquirido
tanta importância e reverência ao longo de um século.
É arte da subversão e revolução desafiar costumes estabele-
cidos, pesquisando suas origens a fim de mostrar como lhes faltam
O vazio do homem
64. Por que será que um homem coxo não nos incomoda
da mesma forma que uma mente coxa? Não é devido ao fato de
um homem coxo reconhecer que estamos andando de forma
ereta, enquanto uma mente coxa compreende que todos nós
coxeamos ao andar? Não fosse por esta distorção nos compade-
ceríamos dele ao invés de ter raiva.
Epíteto consegue ir muito além quando indaga: Por que
não sentimos raiva se alguém nos diz que estamos com dor de
cabeça, mas ficamos enfurecidos se alguém afirma que estamos
raciocinando de maneira tola e ilógica?
Porque podemos ter absoluta certeza de que não estamos
com dor de cabeça e que não somos mancos, mas não podemos
ter a mesma certeza de que estamos fazendo a escolha certa ou
expressando um argumento correto. Uma vez que nossa certeza
repousa apenas no que nossos olhos vêem, quando alguém vê
algo diferente do que vemos, sentimo-nos surpresos e descon-
fortáveis. Isso é reforçado quando mil outras pessoas ridiculari-
zam nossa decisão, pois somos inclinados a preferir nossa pró-
pria visão em detrimento da visão dos outros e isso é uma coisa
tanto ousada quando difícil de se fazer. No entanto, no caso do
homem manco, nossos sentidos não geram tal contradição (98,
99a-80, 536b).
Contradições humanas
95. O homem tem desprezo por sua própria vida, morrerá por
nada e terá ódio até mesmo de sua própria existência (123-157).
Distrações humanas
A busca da felicidade
pelos filósofos
122. Se o homem não foi criado por Deus, por que é feliz
apenas nEle? Se o homem foi criado por Deus, por que se opôs
a Ele? (399-438).
Introdução: Sobre a
contraditória natureza humana
132. Tanto a grandeza quanto a miséria do homem
são evidentes. A verdadeira religião deve nos ensinar que o
homem possui em seu íntimo algum princípio fundamental
de sua grandeza, assim como um princípio, com raízes pro-
fundas, sobre a sua miséria. Pois, para realmente examinar
a nossa natureza em toda a sua extensão, a verdadeira reli-
gião deve levar em conta tais contradições extraordinárias.
Para garantir satisfação ao homem, ela deve mostrar-lhe que
existe um Deus a quem somos compelidos a amar. Deve tam-
bém demonstrar que a nossa verdadeira felicidade é para ser
encontrada nEle, e que nossa fonte fundamental de miséria
é nossa separação dEle. Ainda, deve relatar a grande escuri-
dão que nos incapacita a conhecê-Lo e amá-Lo, mostrando,
assim, que quando falhamos em amar a Deus pela cobiça so-
mos preenchidos com injustiça. Deve explicar as razões pelas
quais justificamos nossa oposição a Deus, que é contrária ao
nosso próprio bem-estar. Deve mostrar a cura para o nos-
so desamparo e os meios de alcançá-la. Portanto, vamos dar
uma olhada e examinar todas as religiões do mundo sobre
esse aspecto e ver se alguma outra além da fé cristã pode sa-
tisfazer tais condições.
fé. Então, eles saem a propagar que buscaram em vão, seja pela
leitura de livros seja pelo debate com outras pessoas sobre o
tema. De fato, eu deveria lhes dizer o que digo com freqüência:
Tal negligência com respeito à verdade é intolerável. O que está
em questão aqui não é um simples e frívolo interesse de algum
estrangeiro a sugerir este comportamento; é uma questão sobre
nós mesmos e tudo o que possuímos.
Pois a imortalidade da alma é de fundamental importância
para nós, afetando-nos tão profundamente que devemos estar
fora de nosso juízo se não nos importamos mais com isso. Todas
as nossas ações e pensamentos seguirão por caminhos distintos,
conforme houver esperança de bênção. Esta é a única maneira
sábia de agir, com discernimento, se for para decidir nossa linha
de ação sobre este ponto, já que isso deveria receber o máximo
de nossa atenção.
Portanto, nosso interesse primordial e nosso dever primá-
rio deve ser buscar esclarecimento nesta matéria, da qual de-
pende todo o curso de nosso destino. Eis porque, entre os que
não estão convencidos, inferi uma importante distinção entre
os que se esforçam com todas as forças para obter tal esclareci-
mento e os que gozam a vida sem se preocupar ou mesmo pensar
sobre o assunto.
Eu consigo sentir compaixão apenas por aqueles que
sinceramente estão perturbados com suas dúvidas e que as
consideram seu maior infortúnio. Os tais não poupam es-
forços para escapar dessa situação, e consideram essa busca
seu mais importante e sério negócio. No entanto, sinto-me
completamente diferente com relação aos que vivem suas
vidas sem ter um pensamento sequer a respeito do fim da
vida, e pelos descrentes que estão satisfeitos com o pouco
esclarecimento que possuem e se esquecem de olhar em ou-
tros lugares. Estes não formam suas opiniões com base em
uma reflexão madura, mas simplesmente aceitam opiniões de
simplória ingenuidade ou aquelas que, apesar de obscuras,
É por não ter provas que eles mostram que não lhes falta bom
senso.
“Sim, porém mesmo que isso justifique os que apresentam
tal argumento e os absolva das críticas de expor isso sem dar
razões, isso não justifica os que o aceitam.”
Vamos, então, examinar esta questão e dizer: “Deus existe
ou não”. Mas, qual das duas alternativas nós devemos escolher?
A razão não pode decidir nada. O caos infinito nos separa. Ao
fim desta distância, uma moeda está sendo lançada ao alto e
logo cairá com a cara ou a coroa voltada para cima. Como você
irá apostar? A razão não pode determinar o que irá escolher,
tampouco a sua escolha pode ser defendida de forma racional.
Portanto, não acuse de falsidade os que escolheram a sua
opção simplesmente porque você não conhece como tal esco-
lha foi feita.
“Não”, talvez você argumente, “eu não os acuso pela es-
colha feita, mas por terem feito uma escolha. Pois tanto o que
escolhe cara quanto o que escolhe coroa são culpados do mes-
mo erro. Ambos estão equivocados. A coisa certa a fazer é não
apostar”.
“Sim”, talvez você argumente, “nós temos de apostar,
pois você não é um agente livre. Você tem o compromisso de
fazer uma escolha. Qual delas, então, escolherá? Vá em frente.
Já que você tem que escolher, permita-nos ver o que lhe é de
menor interesse, pois você pode perder duas coisas: a verdade
e o bem. E há duas coisas que você está colocando em risco:
a sua razão e a sua vontade; o seu conhecimento e a sua feli-
cidade. Por sua natureza, há duas coisas das quais você deve
escapar: o erro e a infelicidade. Já que você tem de fazer uma
escolha, a sua razão não é mais afrontada por escolher uma
opção ou outra. Este é um ponto esclarecido. Mas, e quanto
a sua felicidade? Vamos pesar as conseqüências presentes em
escolher que Deus existe. Vamos avaliar as duas situações. Se
você ganhar, leva tudo, mas se perder, não precisa abrir mão
Submissão:
O correto uso da razão
cristã e descubro que suas profecias não são algo que qualquer
um possa cumprir (198-693).
A INICIATIVA DIVINA
A transição do
conhecimento humano para
o conhecimento de Deus
183. A verdadeira natureza do homem – seu bem e sua
virtude –, bem como a verdadeira religião, não podem ser co-
nhecidas separadamente (393-442).
Fundamentos da fé e
respostas às objeções
208. O Deus eterno existe para sempre, uma vez que Ele
sempre existiu (440-559b).
222. Jesus veio para cegar os que tinham plena visão e dar
visão aos que eram cegos. Ele veio para curar os enfermos, mas
também para deixar os sãos morrerem. Cristo veio para concla-
mar os pecadores ao arrependimento, justificando-os, porém, ao
mesmo tempo, veio para levar os justos aos seus pecados. Ele
veio para saciar os famintos com coisas boas, como também,
esvaziar os ricos (235-771).
223. Jesus jamais nega ter vindo de Nazaré, nem que seja
filho de José. Isto tem como objetivo manter os perversos em
sua cegueira (233-796).
ías, Ele veio para ser “um santuário, mas também uma pedra
de tropeço” (Isaías 8.14). Portanto, não podemos convencer os
incrédulos e, tampouco eles são capazes de nos convencer. Mas
nós não os convencemos por causa desse fato, uma vez que sa-
bemos que todo o comportamento deles também não nos prova
nada convincente (237-795).
Significados figurativos da
Lei do Antigo Testamento
232. Tudo que Jesus fez foi ensinar aos homens que se
amassem a si mesmos, que eles eram escravos, cegos, enfermos,
miseráveis, pecadores, e que Ele veio para resgatar, para esclare-
cer, para santificar e para curá-los. Esta condição seria alcança-
da por aqueles que odiassem a si mesmos e seguissem a Jesus por
intermédio de Sua miséria e Sua morte na cruz (271-545).
mesma coisa. Eles descobrem que o Messias não veio para eles,
mas os que estão buscando a Deus O encontram, sem qualquer
contradição, e descobrem que são ordenados a amar somente a
Ele, e que o Messias veio no tempo predito para lhes conceder
as bênçãos pelas quais ansiavam.
Assim, os judeus testemunharam os milagres e o cumpri-
mento das profecias. A fé deles lhes ensinou a adorar e amar so-
mente um único Deus. Esta foi uma ordem perpétua. Por con-
seguinte, isto possuía todas as características de uma verdadeira
religião, o que, de fato, era. No entanto, os ensinamentos dos ju-
deus devem ser diferenciados dos ensinos da lei judaica. O ensino
dos judeus não foi verdadeiro, apesar do testemunho dos milagres,
profecias e eternidade, porque lhes faltava o preceito adicional,
qual seja, o de adorar e amar somente a Deus (503-675).
246. Está claro que eles são um povo criado com o expres-
so propósito de serem testemunhas do Messias (Isaías 43.9,10;
247. Se isso foi tão claramente predito aos judeus, por que
não creram, ou por que não foram totalmente destruídos por
rejeitarem uma revelação tão óbvia? Minha resposta é esta: Pri-
meiramente, foi predito que eles rejeitariam a verdade previa-
mente revelada; e segundo, foi prenunciado que eles não seriam
exterminados. Nada contribui mais para a glória do Messias que
estas duas verdades. Não era suficiente apenas ter as profecias.
Elas também tinham que ser mantidas acima de qualquer sus-
peita (391-749).
Escritos rabínicos
Perpetuidade ou princípios
eternos da fé cristã
Provas de Moisés
266. Sem, que viu Lameque, que viu Adão, também viu
Jacó, que viu os que viram Moisés. [Com tal continuidade], eis
porque as histórias sobre o dilúvio e a criação são verdadeiras.
270. O zelo do povo judeu com respeito a sua lei era notá-
vel, especialmente a partir da ausência dos profetas (297-702).
276. O zelo dos judeus pela lei e pelo templo está bem evi-
denciado nos escritos de Josefo e Filo, o judeu. Que outro povo
demonstrou tal zelo? Talvez isso tenha sido necessário.
Profecias da Escritura
294. Porém, não foi apenas por essa razão que deveria
haver profecias. Elas tinham de ser comunicadas aos quatro
cantos do mundo e preservadas ao longo das gerações. Desta
forma, não poderia ser imaginado que, por mero acaso, houve
a profecia sobre a vinda do Messias. Assim, na verdade, foi
muito mais para a glória do Messias que os judeus tivessem
de ser os espectadores, e mesmo instrumentos de Sua glória,
em separado do fato de que Deus havia proposto isso para eles
(385-707).
Moralidade cristã
Ele não pode por seu próprio ser amar algo exceto por
razões egoístas e com o intuito de subjugar a si mesmo, porque
cada coisa ama a si mesma mais que tudo.
Mas, ao amar o corpo, o membro ama a si mesmo, porque
não há ser exceto no corpo, para o propósito do corpo e por
meio dele. “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com
ele” (1 Coríntios 6.17).
O corpo ama a mão, e se esta tivesse vontade amaria a si
mesma da mesma forma que a alma o faz. Qualquer amor que
vá além é errado.
“Aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”.
Isto é dizer: amamos a nós mesmos porque somos membros de
Cristo. Amamos a Cristo porque Ele é o corpo do qual somos
membros. Todos são um. Um está no outro como as três pessoas
da Trindade (372-483).
Conclusão
Fé
sos corações, embora muitas vezes Ele utilize a prova como ins-
trumento. “Conseqüentemente, a fé vem por se ouvir a men-
sagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo”
(Romanos 10.17). Assim, essa fé habita em nossos corações e
nos ajuda a dizer “Eu creio”, ao invés de “Eu sei” (7-248).
Disciplina
ral, aceitas com mais convicção, são aquelas criadas pelo hábi-
to. Assim, é o hábito que guia o autômato, que conduz a mente
de forma mecânica ou inconsciente. Se alguém provasse que irá
amanhecer amanhã ou que iremos morrer? O que é aceito mais
amplamente?
Está claro, então, que o hábito nos persuade do fato. É
o hábito que torna a maioria dos cristãos, assim como faz aos
turcos ou pagãos, trabalhadores, soldados e assim por diante. A
fé recebida no batismo é a vantagem que os cristãos possuem
sobre o mundo pagão. Em resumo, devemos apelar à fé quan-
do a mente tiver visto onde a verdade reside, a fim de saciar a
nossa sede e absorver aquela crença que sempre iludiu a nossa
compreensão. Pois é difícil ter provas sempre à mão. Portanto,
devemos adquirir uma crença mais fácil, ou seja, aquela que for
transmitida pelo hábito, que gentil, simples e intuitivamente
alimenta a crença, inclinando assim todas as nossas faculdades e
poderes de modo que nossa alma possa aceitá-la naturalmente.
Isto não é suficiente quando a nossa crença tem de ser estimu-
lada pela convicção, embora o autômato ainda esteja inclinado
a crer o contrário. Nós devemos, portanto, reunir as duas partes
de nossa natureza e integrá-las em uma única crença – a mente
por razões que sejam suficientes ver uma única vez em toda a
vida, e a máquina pelo hábito, não permitindo que se incline ao
contrário. “Inclina o meu coração”, (Salmos 119.36).
A mente trabalha vagarosamente, observando com freqüên-
cia muitos e diferentes princípios, que sempre devem ser conside-
rados em conjunto. Assim, a mente está sempre concordando ou
questionando porque todos os princípios não estão presentes. Já o
sentimento não trabalha desta forma, mas imediatamente, e sem-
pre está alerta. Portanto, devemos colocar a nossa fé em nosso sen-
timento, caso contrário ela estará sempre vacilando (821-252).
O estilo de Pascal
A natureza do homem
A vida cristã
Senhor,
mas eles não lhe informarão que isto é poder adjacente. Este é
o ponto”.
Este termo era totalmente novo e absurdo para mim. Eu
imaginei que havia compreendido toda a situação, mas agora
tudo havia ficado obscuro novamente. Quando solicitei alguma
explicação, ele fez disso um grande mistério e despediu-se sem
me dar qualquer satisfação, de modo a inquirir os jansenistas
sobre se eles admitiam este poder adjacente.
Para não me esquecer disso, corri ao encontro de meu
amigo jansenista, e, após os primeiros cumprimentos, pergun-
tei-lhe: “Você admite o poder adjacente?”.
Ele começou a rir e, friamente, respondeu: “Você me diz
o que isso significa e então estarei preparado para lhe revelar o
que creio”.
Porém, como não fazia a menor idéia, não consegui res-
ponder. Vagamente, eu disse: Eu compreendo isso no mesmo
sentido dos molinistas.
“Ah, e a qual dos molinistas você se refere?”
“Todos eles”, disse eu, “já que eles compreendem um mes-
mo corpo e compartilham um mesmo espírito”.
“Você sabe muito pouco a respeito deste assunto”, ele
disse. “Eles são tão desunidos entre si que a única coisa com
a qual todos concordaram foi em arruinar o Sr. Arnauld. Por-
tanto, eles estão determinados de comum acordo em utilizar o
termo adjacente com o objetivo de enfraquecê-lo e arruiná-lo,
muito embora eles o compreendam de diversas maneiras.”
Esta resposta me deixou perplexo. Mas eu não estava dis-
posto a receber uma impressão dos motivos ilegítimos dos mo-
linistas sobre a palavra de um indivíduo e, assim, minha única
preocupação tornou-se descobrir em que diferentes maneiras
eles empregavam o termo poder adjacente.
Ele estava desejoso de me explicar isso, mas observou:
“Você verá tamanha contradição e inconsistência que isso o
confundirá e fará com que suspeite de minha própria veraci-
Eu sou, et cetera.
Sobre o objetivo
da graça suficiente
Senhor,
mesmo para tornar as suas ações eficazes. Por esta razão, ela é ca-
racterizada pela palavra suficiente. Em contraste, os jansenistas
afirmam que nenhuma graça é suficiente a não ser que também
seja eficaz. Isto é, todos aqueles princípios que não determinam
a vontade de agir de maneira eficaz são insuficientes para a ação
porque, dizem eles, ninguém pode agir sem a graça eficaz.
A seguir, como desejasse estar informado sobre a doutrina
dos novos tomistas, eu lhe perguntei a respeito deles.
“É ridículo”, ele exclamou, “pois eles concordam com
os jansenistas na admissão de uma graça suficiente concedida a
todos os homens, mas insistem que jamais podem agir somente
com ela. Pois ainda há a necessidade de Deus lhes conceder
uma graça eficaz de modo a influenciar a vontade, e essa graça
não é concedida a todos”.
Então, eu disse: “Essa graça é, ao mesmo tempo, suficiente
e insuficiente”.
“É verdade”, ele respondeu. “Pois se for suficiente nada
mais se requer para produzir uma ação, e se não for, não pode ser
chamada de suficiente”.
“Então, qual é a diferença entre eles e os jansenistas?”
Ele replicou: “Eles diferem no fato de os dominicanos
pelo menos reconhecerem que todos os homens possuem a gra-
ça suficiente”.
“Eu compreendo, mas você diz isso sem pensar assim, por-
que eles são rápidos em afirmar que, para agir, devemos possuir a
graça eficaz que, no entanto, não é concedida a todos. Portanto,
embora eles concordem com os jesuítas na utilização dos mes-
mos termos ilógicos, eles se contradizem no significado substan-
cial, e concordam com os jansenistas”.
“É verdade.”
Assim, eu perguntei: “Como é que os jesuítas e esses ho-
mens são tão unidos, e por que eles não lhes fazem oposição,
assim como aos jansenistas, pois sempre os considerarão opo-
nentes poderosos. Embora afirmem a necessidade da graça eficaz
Eu sou, et cetera.
Senhor,
safio a ela que ele salta todas as barreiras, como padre Bauny
argumenta? Este é um tipo curioso de heresia, por certo! Eu
costumo deduzir que um homem é condenado por ser destituí-
do de todos os bons pensamentos, mas ser condenado por não
acreditar que todos os demais os possuem, isto eu jamais havia
imaginado antes. Portanto, padre, sinto que devo em sã consci-
ência tentar abrir-lhe os olhos e insistir que há milhares que não
possuem tais desejos e que pecam sem sentir qualquer remorso.
Na verdade, eles até se gabam de seus crimes. Pode alguém es-
tar mais consciente disso que vocês mesmos? Por certo, não é
ao encontro de vocês que eles vêm para se confessarem e que
isto acontece entre pessoas da mais alta distinção? Assim, eu
o advirto, meu bom padre, das perigosas conseqüências de sua
doutrina. Você está ciente do que essa doutrina produzirá entre
os libertinos, que estão ávidos para aproveitar-se de qualquer
forma de desacreditar a religião?”.
Nesse instante, meu amigo interpôs-se para apoiar as mi-
nhas observações, dizendo: “Padre, você promoveria melhor as
suas idéias se evitasse uma afirmação tão clara como a que tem
feito sobre o significado do termo graça real. Pois, como pode
acreditar tão piamente que ‘ninguém pode cometer pecado sem
previamente ser alertado de sua maldade e pelo médico, desen-
volvendo um desejo de ser curado e pedindo a ajuda de Deus
para alcançar essa cura?’” “Realmente, você pensa que a simples
afirmação basta para convencer o mundo de que os mesquinhos,
os impuros, os que proferem blasfêmias ou toleram vinganças
homicidas, roubos e sacrilégios desejam de verdade ter castida-
de, humildade e outras virtudes cristãs? É crível acreditar que
aqueles filósofos, que eram tão otimistas quanto ao poder da na-
tureza humana, igualmente conheciam suas fraquezas e o remé-
dio para elas? Pode afirmar que os tais confiantemente afirmam
esta máxima – que ‘Deus não concede a virtude e, tampouco,
ninguém jamais solicitou isso dele’ – realmente pensaram em
pedir para si mesmos? Quem pode imaginar que os epicuristas,
Eu sou, et cetera
Senhor,
Eu sou, et cetera.
Paris, 2 de Agosto de 1656
Senhor,
são, faça uma confissão geral e inclua o seu mais recente pecado
junto aos outros. Pois o confessor, exceto em alguns casos que
raramente ocorrem, não tem o direito de inquirir se o pecado do
qual o indivíduo se culpa é habitual, tampouco pode forçá-lo a
confessar pecados, evitando a vergonha de expor suas recaídas
e quedas freqüentes.”
“Como algo assim é possível, padre? É como dizer que
um médico não tem o direito de perguntar ao seu paciente por
quanto tempo ele está sentindo febre. Os pecados não diferem
entre si de acordo com as circunstâncias? Então, um genuíno
penitente não deveria revelar ao seu confessor a condição real
de sua consciência, com a mesma sinceridade e transparência
como se estivesse falando a Jesus Cristo, cujo lugar é assumido
pelo padre? Tal pessoa não está longe de possuir uma disposição
verdadeira ao esconder suas recaídas freqüentes com o intuito
de disfarçar a seriedade de suas transgressões?”
Eu pude perceber que o bom padre ficou embaraçado. Ele
tentou evitar a pergunta ao me apressar para considerar outra
de suas regras que apenas mostrava uma nova desordem sem ao
menos lidar com a anterior.
Enfim, disse: “Admito que o hábito aumenta a seriedade
do pecado, mas isso não muda a natureza dele. Por esta causa,
o penitente não é obrigado a confessar de acordo com a lei es-
tabelecida pelos antigos Pais e mencionada por Escobar: ‘Nin-
guém está obrigado a confessar mais do que as circunstâncias
que alteraram a natureza de seu pecado, não aqueles detalhes
que conferem a ele mais ódio’.” [Aqui, ele citou mais].
“Muito conveniente. De fato, são dispositivos de devoção
adaptáveis”, comentei.
“Sim, mas tudo isso nada significaria se não tentássemos
mitigar a severidade da penitência que é oposta à confissão. Mas
agora o mais sensível não tem o que temer, uma vez que te-
mos insistido em nossas teses no College de Clermont que: ‘se
o confessor impõe uma penitência conveniente e apropriada,
“Eu sei muito bem que não são as suas próprias palavras”,
repliquei, “mas você as expressa sem qualquer sinal de desa-
provação. Na verdade, demonstra grande apreço por elas, ao
pronunciá-las. Você não tem consciência de que a sua apro-
vação o torna cúmplice dos crimes por eles praticados? Ignora
que o apóstolo Paulo julga digno de morte não apenas os que
originam a perversidade, mas também os que a consentem? Po-
rém, vocês têm ido muito longe, e a liberdade que adotam para
corromper as mais sagradas regras da conduta cristã abrange até
mesmo a total subversão das leis de Deus. Vocês violam os gran-
des mandamentos que contêm tanto a lei quanto os profetas,
apunhalando a piedade em seu próprio coração. Removem e
extinguem o espírito que gera a vida. Vocês afirmam que o amor
a Deus não é necessário para a salvação. Chegam até mesmo a
afirmar que ‘esta isenção de amar a Deus é um grande benefício
que Cristo trouxe ao mundo’. Tudo isso é o ápice e o cúmulo da
impiedade.”
“O quê! O preço do sangue de Cristo concede a isenção de
amá-Lo! Antes da encarnação, o homem era obrigado a amar a
Deus, mas desde que Ele amou o mundo de tal maneira que deu
o Seu único Filho, deve o mundo redimido ser desobrigado do
dever de amá-Lo? Que teologia estranha temos em nossos dias!
Vocês ousam remover o anátema que o apóstolo Paulo expressa
contra os que não amam ao Senhor Jesus Cristo. Destroem o
que foi dito pelo apóstolo João, que o que ama não permanece
na morte! Retiraram até mesmo a declaração do próprio Cristo:
‘Se me amais, guardais os meus mandamentos’. Desta forma,
vocês tornam os que jamais amaram a Deus em toda a vida dig-
nos de desfrutar de Sua presença para sempre! Certamente, este
é o mistério da iniqüidade, trazido agora ao seu mais completo
grau.
“Meu bom padre, pelo menos abra os seus olhos. Se você
ainda não estiver totalmente influenciado pelas outras doutrinas
absurdas de seus casuístas, permita que estes últimos exemplos
Eu sou, et cetera.
mite, Ó meu Deus, que a Tua graça eficaz possa conferir à Tua
disciplina um caráter benéfico. Se o meu coração flertou com o
mundo quando gozava de plena saúde, destrói o meu vigor de
modo a promover a minha salvação. Quer seja pela debilida-
de do corpo quer pelo zelo de Teu amor, torna-me incapaz de
desfrutar dos ídolos deste mundo, para que o meu deleite possa
estar somente em Ti.
pensa dos santos, mas para que não seja abandonado às dores da
natureza sem o conforto de Teu Espírito. Pois esta é a cura para
os que conhecem a Ti somente. Oro não para desfrutar a pleni-
tude do conforto sem o sofrimento, pois esta é a vida de glória.
Muito menos oro pela plenitude do sofrimento sem o conforto,
pois esta é a condição dos judeus. Porém, eu oro, Ó Senhor,
para que eu sinta, ao mesmo tempo, tanto as dores da natureza
pelos meus pecados, quanto as consolações do Teu Espírito, por
intermédio de Tua graça; pois esta é a verdadeira condição do
cristão. Que eu jamais sinta a dor sem o conforto! Mas que eu
possa sentir a dor e a consolação em conjunto e, mais tarde,
possa lograr sentir apenas o Teu conforto sem qualquer dor! Pois
deixaste o mundo definhar em sofrimentos naturais sem con-
solação até a vinda de Teu único Filho. Mas, agora, consolas e
amenizas os sofrimentos de Teus fiéis servos pela graça de Jesus
Cristo, e enches os Teus santos com a alegria pura na glória de
Teu Filho. Estes são maravilhosos passos pelos quais Tu tens
feito a Tua obra. Tu me levantaste do primeiro. Ó leva-me ao
segundo, de modo que possa eu alcançar o terceiro! Ó Senhor,
imploro por esta misericórdia de todo o meu coração.
especialmente quando foi para Oxford pela primeira vez como es-
tudante. Ele achou os estudos ali “uma interrupção ociosa e inútil
de estudos proveitosos, horrível e intensamente superficial.”9
Mas Wesley ficou encantado com o Discurso sobre a Simpli-
cidade, do Cardeal Fenélon; a obra deu a ele a percepção de que
a simplicidade é “aquela graça que força a alma a deixar todas as
reflexões desnecessárias e voltar-se para si mesma.”10 Em férias, sua
amiga e guia espiritual, Sally, deu a ele uma cópia do livro de Jere-
my Taylor, Regra e Exercício do Santo Viver e Morrer. Ele admite que
essa obra “selou definitivamente minha prática diária de registrar
minhas ações (que eu tenho fielmente continuado até o presente
momento), e que me levou, mais tarde, a prefaciar aquele primeiro
Diário com as regras e resoluções de Taylor. Isso me ajudou a desen-
volver um estilo de introspecção que me manteria em constante
contato com a maioria de meus sentimentos.”11 É de se questionar
o quanto teriam Fenélon e Jeremy Taylor contestado as convic-
ções de um jovem confuso.
Aproximadamente naquela mesma ocasião, Sally também
encorajou Wesley a ler a obra de Thomas à Kempis, Imitação de
Cristo. Essa obra também deixou sua marca nele, de modo a fazê-
lo decidir-se por pertencer a Deus ou perecer. Essas obras, no en-
tanto, em certo sentido, somente prolongaram por treze anos a
necessidade de John Wesley de reconhecer que deveria “nascer de
novo” e aceitar Deus como seu próprio Salvador. Elas, ao mesmo
tempo, deixaram marcas indeléveis em seu caráter e ministério.
Finalmente, pensamos em C. H. Spurgeon e na profunda
influência que os autores puritanos tiveram sobre toda a sua vida
e ministério. Ele tinha uma coleção de 12.000 livros, aproximada-
mente 7.000 deles de escritores puritanos. Spurgeon leu por vezes
incontáveis Maçãs de Ouro, de Thomas Brooks. Ele também de-
dicou muito tempo à obra de Brooks, Remédios Preciosos Contra
os Artifícios de Satanás. Ele tinha enorme prazer em todas as doces
obras devocionais de Brooks.
Mas livros de Thomas Goodwin, John Owen, Richard Char-
nock, William Gurnall, Richard Baxter, John Flavell, Thomas
Watson, e, é claro, John Bunyan, também eram companheiros
de Spurgeon.12 Ele então confessa em seu Conversa sobre Comen-
tários que a obra Comentário de Matthew Henry sobre as Escrituras
portanto, lê-la de tal modo que ela nos ajude a estarmos inspirados
e afinados com Deus no “homem interior”. Pois é a escrita que nos
coloca em sintonia com o Céu e molda o nosso caráter em Cristo.
James M. Houston
NOTAS
1. Eclesiastes 3:11.
2. C. S. Lewis, Peso de Glória (São Paulo, SP: Edições Vida
Nova, 1993).
3. C. S. Lewis, God in the Dock, Walter Hooper, ed. (Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1970), 200-207.
4. Citado em G. F. Barbour, The Life of Alexander White
(New York: George H. Doran Co., 1925), 117-118.
5. Citado em Richard L. Greeves, John Bunyan (Grand Ra-
pids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1969), 16.
6. F. J. Sheed, ed., The Confessions of St. Augustine (New
York: Sheed & Ward, 1949), 164.
7. Ibid.
8. Steven Ozment, The Age of Reform, 1250-1550 (New Ha-
ven, CT: Yale University Press, 1980), 239.
9. Robert G. Tuttle, John Wesley: His Life and Theology
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1978), 58.
10. Ibid., 100.
11. Ibid., 65.
12. Earnes W. Bacon, Spurgeon: Heir of the Puritans (Grand
Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1968), 108.