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2/4/2020 Ex-presidente do TJ da Bahia, desembargadora completa dois meses na Papuda - Brasil

Ex-presidente do TJ da Bahia, desembargadora


completa dois meses na Papuda
Maria do Socorro Barreto foi presa pela acusação de envolvimento em
esquema de venda de sentenças no oeste baiano. Correio teve acesso
exclusivo a transcrição de ligação que levou a magistrada para a cadeia

RS Renato Souza (mailto:renatoradioeacao@gmail.com)

postado em 03/02/2020 14:54 / atualizado em 03/02/2020 16:39

Maria do Socorro é a única que está encarcerada, em decorrência de uma ligação


que realizou para o seu gabinete
(foto: Reprodução/TJBA)

Há dois meses, a desembargadora Maria do Socorro Barreto trocou o


seu gabinete, no Tribunal de Justiça da Bahia, e as salas de audiência da
Corte, onde tinha poder para definir o futuro de acusados e mediar
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conflitos, por uma cela no sistema penitenciário brasileiro. Atualmente,


ela está detida no Batalhão de Polícia Militar localizado no Complexo
Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal. No local, ela aguarda
análise de seu processo, onde ela é acusada de se envolver em um
esquema de venda de sentenças judiciais. 

A desembargadora é a primeira mulher neste tipo de cargo a ser presa


preventivamente no exercício da função que se tem notícia no país. A
defesa de Maria do Socorro ingressou com um pedido de liberdade há
dois meses no Superior Tribunal de Justiça (STJ). No entanto, o
presidente da Corte, João Otávio Noronha, responsável pelos pedidos
de urgência no plantão do Judiciário, enviou a petição para o relator do
caso, ministro Og Fernandes. 

Ela foi presa em 29 de novembro do ano passado, acusada de


envolvimento em um esquema de venda de sentenças judiciais. Maria
do Socorro foi afastada do cargo, assim como outros colegas do
Tribunal. Mas é a única que está encarcerada, em decorrência de uma
ligação que realizou para o seu gabinete, quando estava proibida pela
Justiça de manter contato com servidores do tribunal. O Correio teve
acesso com exclusividade a transcrição da conversa que levou a
magistrada para a cadeia. No telefonema, ela fala com funcionárias do
gabinete e pergunta se um aparelho de celular foi levado pela Polícia
Federal - que havia realizado buscas no gabinete dela e de outros
desembargadores.

No diálogo, Maria do Socorro é informada por Ana Cláudia dos Santos,


uma funcionária da corte baiana, que está impedida de manter contato
com os servidores do Tribunal. Quem faz a ligação é a filha da
desembargadora, que em seguida passa o telefone para a mãe. Ao ser
informada que está proibida de manter contato com funcionários do TJ
da Bahia, a ligação é encerrada.

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Leia a transcrição da conversa:

Joenne (secretária): Gabinete, bom dia.

Mariana (filha da desembargadora): Bom dia. Um momentinho só, viu?


É Mariana, filha de Socorro.

(Ao fundo, chamando outra servidora ao telefone): Ana, Mariana.

Mariana: Fala aí com ela. Você vai falar, mãe, com Ana. Mãe, consegue
falar com Ana?

Socorro: Ana?

Joenne: Oi. Doutora?

Socorro: A Polícia Federal teve aqui, né?

Joenne: Doutora, é Joenne. A gente tá sabendo já viu? Aqui também,


viu? Como é que a senhora tá?

Socorro: O celular que tá aí, aquele meu.

Joenne: O aparelho anterior?

Socorro: Sim, o anterior.

Joenne: Que tem a foto de Lucas?

Socorro: Sim.

Joenne: Levou, viu?, doutora.

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Socorro: Levou esse? Era pra pegar esse.

Joenne: Foi. Levou, viu? A senhora tá onde agora?

Socorro: Eu tô?

Joenne: Ham.

Socorro: É, é, é… Ainda bem que, eu acho, que menino tirou algumas


coisas, não foi?

Joenne: Não sei, doutora, Não sei lhe dizer. A senhora quer falar com
Ana (Ana Cláudia dos Santos Freitas, assistente judiciário do gabinete
de Maria do Socorro)?

Socorro: Quero falar com Ana.

Joenne: Vou passar. Estamos todos aqui, viu doutora? Vou passar pra
Ana.

Socorro: Tá.

Ana: Doutora?

Socorro: Oi, Ana.

Ana: Oi. Deixa eu lhe dizer. A gente recebeu aqui, fez uma busca e
apreensão, e a gente recebeu uma ordem de não entrar em contato
com a senhora.

Ligação interrompida...

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A defesa de Maria do Socorro nega que ela tenha tentado intervir nas
investigações, como aponta o ministro Og Fernandes. O advogado
André Callegari, que faz defesa da desembargadora, afirma que a
cliente não tinha conhecimento de que estava proibida de conversar
com os servidores do tribunal. "Ela recebeu uma decisão de
afastamento dela e de outros desembargadores. Essa decisão contava
com aproximadamente 70 laudas. Ao receber, ela não tinha ciência da
parte final, que vedava o contato com seu gabinete. Ela ligou para o
gabinete, e quando foi comunicada que não poderia manter contato, a
ligação foi imediatamente interrompida", afirma o defensor. 

Venda de sentenças
De acordo com as investigações da Polícia Federal, existe um esquema
criminoso envolvendo magistrados e servidores do Tribunal de Justiça
da Bahia, advogados e produtores rurais para legitimar a grilagem de
terras na região do oeste baiano. As acusações já estavam sendo
apuradas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 

Em março do ano passado, o CNJ derrubou uma portaria do TJBA para


anular centenas matrículas de terras baianas ocupadas por agricultores
de soja e subnstituí-las por apenas uma que pertence a José Valter Dias.
Ele alega ser o dono de 300 mil hectares de terra na região. “Borracheiro
de profissão, José Valter Dias foi alçado à condição de maior
latifundiário do Oeste baiano após a suposta atuação da organização
criminosa”, escreveu Og Fernandes na decisão que autorizou a
operação Faroeste.

 Em 2017, uma liminar emitida pelo juiz Sérgio Humberto de Quadros
Sampaio, determinou que os produtores deixassem o região. Temendo
perder suas terras e plantações, os produtores firmaram um acordo,
mediado pelo bacharel em Direito Adailton Maturino dos Santos,
apontado como idealizador do suposto esquema de grilagem no Oeste
pelo MPF e que se diz cônsul de Guiné-Bissau. 

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Na tratativa, os produtores repassariam a Valter parte do que


produziam. Em troca, poderiam ficar nas terras, em um esquema
parecido com o que ocorria no feudalismo, sistema político, econômico
e social que predominou na Europa Ocidental entre os séculos V e X e
consistia na exploração de pequenos produtores por donos de grandes
extensões de terra (senhores feudais).

As investigações apontam que teriam sido repassadas entre 20 e 80


sacas por hectare de produção, em parcelas, durante seis anos. O
Ministério Público Federal (MPF) aponta que os produtores teriam
pagos R$ 1 bilhão. Entre os investigados, estão os desembargadores
Gesivaldo Brito (presidente do TJ-BA), Maria do Socorro, José Olegário
Caldas e Maria da Graça Osório Pimentel Leal e os juízes Sérgio
Humberto de Quadros Sampaio e Marivalda Almeida Moutinho. Todos
foram afastados dos cargos por determinação do STJ por 90 dias e
chegaram a ser presos, mas soltos após cinco dias, por se tratar de
prisão temporária.

Apenas Maria do Socorro permanece presa. Ela nega envolvimento em


esquema de venda de sentenças. Na casa dela, no dia das buscas feitas
pela PF, em novembro, foram encontrados R$ 100 mil em espécie, "uma
centenas de joias" e obras de arte, que de acordo com o Ministério
Público, revelam um padrão de vida "acima do que seria esperado para
uma servidora pública". O advogado André Callegari afirma que não
existe motivo plausível para manter a prisão. "Ao se olhar a legislação,
não se encontra fundamento para esta prisão. Ela é uma senhora que
não vai fujir. Todas as testemunhas de acusação são delegados da
Polícia Federal. Não me parece crível que ela possa ameaçar
delegados", completa o defensor.

(https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/01/29/interna_cidadesdf,73388
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