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Bom, deveríamos então começar essa análise apelidando carinhosamente o filme de “Uma

estranha no ninho”. Brincadeiras à parte, o filme dirigido por Sofia Copolla mostra um lado
interessante sobre uma faceta da Revolução Francesa, mas, ao invés de focar nas disputas
políticas que estavam sendo alimentadas mundo afora, o filme se dispõe a explorar a intimidade
de uma figura muito importante dessa época tão conturbada: A Jovem Maria Antonieta. A
despeito do comentário da Paty S., esse é claramente um filme-biografia que foca na intimidade,
na visão da Maria e especialmente sobre seus sentimentos sobre tudo o que aconteceu em sua
vida, logo, é compreensível que seja um trabalho mais intimista.

O filme tem uma pegada jovem, se utilizando de uma trilha sonora moderna o que foi uma
decisão inteligente da diretora, até mesmo para aproximar uma figura histórica do público atual
e também, em mais uma decisão inteligente, fazer uma relação com a juventude dela, visto que
ela foi para a França ainda pré-adolescente.

O filme se inicia com Maria Antonieta (Kirsten Dunst) já sendo enviada da Áustria para a França,
pois a mesma foi prometida para o filho do Rei Luís XV (Rip Torn), o príncipe Luís XVI (Jason
Schwartzman). Já aí vemos o primeiro choque de gerações e de costumes. Aparentemente, a
jovem Maria vivia em um ambiente sem muitas formalidades e teve que deixar seu amado
cachorro para trás, além de todas suas roupas, o filme discorre e foca muito bem o fator da
pressão das duas famílias já que, foi um casamento arranjado, em cima da jovem Maria para ter
logo um herdeiro ao trono da França. O embate de culturas também é demonstrado no ritual
de vestimenta matinal da nova princesa, o que ela taxa de ridículo. Nesse aspecto, o filme sabe
muito bem explorar as mentalidades da época, a vida maçante e entediante da monarquia, com
suas fofocas, mentiras e intrigas (coisa que parecia ser muito corriqueira). Misturado com um
tom jovem e descontraído, explora muito bem e até diverte com a inabilidade de seu novo
marido (ou falta de interesse) do mesmo em consumar os laços carnais, coisa que demora muito
a acontecer, o que leva a jovem Maria à frustração e à tristeza profunda, especialmente quando
sua cunhada concebe um filho antes mesmo dela. Assim, Maria se volta aos excessos das festas,
comida e glamour, tentando preencher esse vazio afetivo tanto pelas saudades de casa quanto
pela tristeza da culpa de não conseguir despertar interesse sexual em seu marido. Quanto aos
fatores externos, o filme é mais demonstrativo-visual, ou seja, os excessos e modo de vida da
monarquia servem apenas como palco de fundo, como cenário para a estória principal, que é
focada muito nas intimidades da Maria e trata de assuntos externos com mais superficialidade,
apenas para contextualizar.

Nos momentos próximos à sua primeira “consumação”, ela conhece um conde pelo qual se
afeiçoa e inicia uma breve paixão que deixa algumas saudades, mas, mesmo assim, ela
conseguiu ter uma vida consideravelmente feliz ao lado de seu marido, mesmo após a perda de
um filho e de todos os comentários ofensivos por parte da imprensa, fator que não é dado muita
importância no filme. Esse fator do descontentamento do povo vai aparecendo aos pedaços, no
plano de fundo, de maneiras muito sutis apenas para justificar o trágico desfecho que, ao invés
de apostar no trágico-violento, aposta mais no trágico-sugestivo.

No geral, é um filme-biografia muito bem executado, apostando em uma linguagem jovem e


dando uma visão mais intimista de uma personagem histórica que envolve várias controvérsias.
Poderia sim ter dado mais atenção à sua má fama e como aquilo a afetou, mas preferiu falar
disso na ótica da pressão da família, inexperiência, choque de culturas, no qual Kirsten Dunst faz
com competência. É um filme que serve de referência para futuras pesquisas sobre o assunto e
dá uma visão bastante feminina sob a ótica da própria Maria Antonieta.

REFERÊNCIA

COPOLLA, Sofia. Maria Antonieta. - Drama/Romance. EUA, 2006, 2h 7 min.

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