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Resumo: o presente trabalho tem como intuito verificar se a interpretação do Supremo Tribunal
Federal sobre as prerrogativas parlamentares, encontradas no art. 53 do texto constitucional, respeita
os limites do exercício da jurisdição constitucional. O método de abordagem do trabalho será o
dedutivo e o método de procedimento a ser adotado será o monográfico e histórico. Para verificar
empiricamente se a supramencionada Corte está aplicando adequadamente as imunidades
parlamentares, serão analisadas decisões proferidas pelo Tribunal, no lapso temporal de seis meses,
sendo o período adotado o de 01/01/2017 a 01/06/2017. A pesquisa será realizada por meio da
ferramenta "pesquisa de jurisprudência", disponibilizada no site do Supremo Tribunal Federal, sendo
as palavras utilizadas para a pesquisa "prerrogativa parlamentar". Com o resultado da pesquisa, notou-
se que o Supremo Tribunal Federal, dentro do aludido marco temporal, aplicou as prerrogativas
parlamentares adequadamente, ou seja, respeitando os limites do exercício da jurisdição
constitucional.
1 Introdução
O presente trabalho tem como tema a interpretação utilizada pelo Supremo Tribunal Federal
sobre as prerrogativas constitucionais dos parlamentares. Com a promulgação da Constituição Federal
de 1988, houve substancial mudança no modo de se olhar o papel desempenhado pela jurisdição
constitucional no ordenamento jurídico pátrio. Levando em conta que o Supremo Tribunal Federal é
quem por último interpreta o texto constitucional, bem como da importância do princípio da separação
dos poderes, mormente em Estados Constitucionais, mostra-se extremamente pertinente verificar
como a cúpula do Poder Judiciário vem interpretando as garantias inerentes aos membros do
Congresso Nacional.
Para justificar a elaboração desse trabalho, é preciso ter como premissa a importância das
prerrogativas parlamentares para o exercício regular da atividade legiferante no contexto jurídico
arquitetado pela Constituição, bem como da sua relevância para haver harmonia entre os poderes
estatais, dando eficácia ao princípio da separação dos poderes.
Para analisar a interpretação da Suprema Corte sobre a aplicação das prerrogativas
parlamentares, será realizada pesquisa empírica dos julgamentos da citada Corte dentro de
determinado lapso temporal, verificando se as suas fundamentações estão de acordo com as bases
teóricas desenvolvidas no trabalho e, ao final, será verificado se o Supremo Tribunal Federal está
aplicando as imunidades dos congressistas em consonância com o princípio da separação dos poderes
e se está respeitando os limites do exercício da jurisdição constitucional.
Além disso, o método de abordagem do trabalho será o dedutivo, ou seja, serão estabelecidas
premissas maiores que serão aplicadas às premissas menores. Portanto, serão conceituados os limites
da jurisdição constitucional e, posteriormente, serão analisadas as decisões do Supremo Tribunal
Federal. Ademais, será verificado se as decisões estão dentro dos limites do exercício da jurisdição
constitucional. O método de procedimento a ser adotado pelo trabalho será o monográfico e histórico e
a técnica de pesquisa será feita por documentação indireta.
Assim, o trabalho será composto por quatro tópicos. O primeiro tópico é destinado ao novo
modo de compreender o exercício da jurisdição constitucional, especificadamente a importância da
Constituição Federal de 1988; o segundo tópico trabalhará com as prerrogativas parlamentares e sua
umbilical ligação com os princípios da separação dos poderes e soberania popular. Por outro lado, o
terceiro momento é destinado aos limites da jurisdição constitucional, precisamente trabalhando com o
conceito do princípio da separação dos poderes e suas imbricações com a atividade judicante,
enquanto, por fim, no último tópico serão analisadas as decisões proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal verificando se elas estão dentro dos limites do exercício da jurisdição constitucional.
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Como pode-se perceber nos seguintes julgados do STF: HC 115.397, INQ 3.932, INQ. 1.958, AO 2.002 e INQ
2.332 (rol exemplificativo).
prerrogativa de função perante a Corte Suprema do país, bem como a garantia de não ser preso, salvo
nos casos de flagrante delito por crime inafiançável (imunidade formal).
Importa lembrar que as imunidades só são aplicáveis quando o parlamentar estiver no
exercício do mandato legislativo ou em razão dele, ou seja, fora dessas hipóteses os parlamentares
respondem como qualquer cidadão pelos seus atos. Assim sendo, como já salientado, a Constituição
tem como propósito garantir o regular funcionamento dos trabalhos legiferantes, evitando que os
membros das casas legislativas sofram interferências externas dos demais poderes e da sociedade. Ou
seja, as imunidades não são privilégios, pois são concedidas ao parlamento em consonância com o
princípio da separação dos poderes, da soberania popular e com a própria democracia. Nesta senda,
salientam Osmar Veronese e Marsal Cordeiro Machado:
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Optou-se pelo lapso temporal em destaque em razão do momento vivenciado pelo Parlamento brasileiro que se
vê desacreditado e desprestigiado, diante das várias denúncias e investigações criminais envolvendo deputados
federais e senadores, principalmente na operação "lava-jato".
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Quais sejam, Agravo Regimental na Reclamação 25.497/RN, Ação Penal 912, Inquérito Policial 3.990/DF,
Agravo Regimental na Queixa-Crime 5.875/DF, Agravo Regimental no Inquérito Policial 4.183/DF e Ação
Direta de Inconstitucionalidade 1.197/RO.
parlamentar e que os fatos relacionados ao parlamentar não tinham nenhuma ligação com o objeto da
investigação e, mesmo assim, é inviável a análise do conjunto fático-probatório.
No caso acima narrado, nota-se que o Supremo Tribunal Federal entendeu que sua
competência não foi violada. Na ação, a Corte discutiu a aplicação do foro por prerrogativa de função,
visto que houve encontro fortuito de evidências capazes de ensejar a responsabilização penal do
congressista e, portanto, a discussão pautava-se na (in)competência do juízo (reclamado) para
determinar a gravação das interceptações telefônicas que envolviam autoridade com foro especial.
O tribunal respeitou seus precedentes (HC nº 82.647/PR, AP nº 933-QO/PB e Rcl nº
2.101/DF-AgR), assim como a prerrogativa parlamentar e, veladamente, a separação dos poderes, pois
toda a decisão que tutela a inviolabilidade parlamentar concomitantemente tutela a separação dos
poderes, é uma relação intrínseca, semelhante à relação regra-princípio, por de trás de toda regra há
um princípio e vice-versa. Como bem esclarecido na fundamentação da decisão, a simples menção ao
nome de autoridade com foro especial não possui o condão de atrair a competência do tribunal.
Percebe-se que nenhuma medida judicial foi empreendida contra o parlamentar, bem como não havia
nenhuma prova robusta de que o congressista teria auxiliado concretamente na prática delituosa.
Portanto, o foro por prerrogativa de função do parlamentar não foi violado, pois ele não estava sendo
investigado pelo juízo reclamado e tampouco era parte na ação penal.
De outra banda, a Ação Penal 912 e a Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.197 não serão
analisadas em razão dos seus conteúdos não guardarem relação com o objeto da pesquisa.
Já no Inquérito Policial 3.990/DF a Corte analisou a denúncia oferecida pelo Procurador-Geral
da República contra Deputados Federais, pelo possível cometimento dos crimes de corrupção passiva
majorada (art. 317, §1º do Código Penal) e de lavagem de dinheiro (art. 1º, §4º da Lei nº 9.613/1998)
na forma do art. 29 e 69 do Código Penal, assim como do crime de organização criminosa (art. 2º, §§
3º e 4º da Lei nº 12.850/2013).
No aludido julgamento, o tribunal analisou a questão do foro por prerrogativa de função; tendo
em vista que os denunciados são congressistas (deputados federais), o tribunal é o juízo natural para
processamento e julgamento do feito. Ademais, os acusados alegaram como causa de nulidade, entre
outras, que o desmembramento dos autos em relação a alguns investigados causaria prejuízo à defesa.
Contudo, a Corte Suprema repeliu a arguição, salientando que, de regra, só julga a autoridade com
foro por prerrogativa de função, não havendo no que se falar em prejuízo, pois foi possível
individualizar as condutas dos agentes e, portanto, eventuais crimes de corrupção ativa ficarão a cargo
do juízo de primeiro grau.
Ao final do julgamento, o Supremo Tribunal Federal recebeu a denúncia do Ministério Público
em relação apenas a três deputados, sendo a denúncia rejeitada quanto aos demais (art. 395, inciso III,
CPP).
Na aludida ação, a Corte respeitou a imunidade formal do parlamentar, qual seja, a do foro por
prerrogativa de função, visto que os congressistas gozam do referido foro especial. Portanto, o tribunal
respeitou o disposto nos artigos 53, §1º e 102, inciso I, 'b' da Constituição Federal de 1988.
Por outro lado, no que se refere à alegação de prejuízo à defesa em virtude do
desmembramento dos autos em relação aos demais agentes investigados, a Corte Suprema também
aplicou a sua jurisprudência, que é no sentido de que, de regra, só julga as autoridades com
prerrogativa de função, sendo que os eventuais coautores ou partícipes do delito ficam a cargo da
jurisdição ordinária. Ademais, excepcionalmente o Supremo Tribunal Federal julga também os
coautores e partícipes, quando a cisão dos fatos implique prejuízo ao julgamento, ou seja, prejudique a
elucidação dos fatos (Inq 2.560, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, DJe de
23.05.2016).
Ainda, importa enfatizar que as imunidades não devem ser estendidas aos agentes que não
exercem função pública com foro especial, pois como alhures esclarecido o foro por prerrogativa de
função é outorgado a instituição garantindo o regular exercício do múnus público atribuído ao agente,
não se trata, portanto, de privilégio pessoal.
Portanto, o Supremo Tribunal Federal respeitou a imunidade formal dos parlamentares, assim
como decidiu constitucionalmente pela manutenção da cisão processual, pois como demonstrado na
decisão foi possível identificar as condutas dos agentes possibilitando o desmembramento do feito.
Por outro lado, no Agravo Regimental da Queixa-Crime 5.875/DF, a Corte Suprema apreciou
o agravo regimental interposto contra decisão do Ministro Relator Celso de Mello, o qual julgou
extinta a queixa crime oferecida em face de Deputada Federal pelo cometimento de crime contra a
honra. Alegava a agravante que as pronúncias da parlamentar não guardavam conexão com o exercício
do mandato popular, pois vinculada à propaganda partidária divulgada em rede social (Twitter),
proferida em ambiente externo ao do parlamento, o que descaracteriza o debate parlamentar.
Na ocasião, a Corte aplicou a imunidade material, prevista no caput do artigo 53 da
Constituição Federal. Entendeu que a manifestação da congressista se deu propter officium em meio
de comunicação social, assim como não sofre condicionamentos normativos que subordinem a
inviolabilidade material a critérios de espacialidade, sendo irrelevante que ato por ela amparado seja
proferido nas dependências do Congresso Nacional. Ademais, foi ressaltado que os atos dos
parlamentares em função do seu mandato não se restringem ao recinto das Casas Legislativas.
De outra banda, o relator alertou que as inviolabilidades parlamentares devem ser interpretadas
em consonância com a exigência de preservação da independência do congressista no exercício do
mandato. No julgamento, foi mantida a decisão recorrida e negado provimento ao recurso.
No aludido julgamento, a Corte Suprema aplicou a imunidade material, prevista no caput do
artigo 53 da Constituição Federal de 1988. O tribunal refutou a Queixa-Crime oferecida pela
querelante e, corretamente, entendeu que os fatos eram atípicos em razão da imunidade material
concedida aos parlamentares, pois, embora as pronúncias tenham sido vinculadas a rede social, a
incidência da norma não se restringe às pronúncias proferidas no recinto parlamentar.
Na fundamentação da decisão, fica claro que os pronunciamentos do congressista se deram em
razão da sua função (prática propter officium), se a Corte tivesse decidido de maneira diferente poderia
ter criado um precedente perigoso, pois seria uma decisão ocasional (ad hoc), não respeitando a
coerência dos seus próprios julgados (Inq2.330/DF, RTJ155/396-397, Inq2.874-AgR/DF) e,
consequentemente, criando constrangimentos inconstitucionais aos mandatários do povo.
Já no Agravo Regimental do Inquérito nº 4.183 Distrito Federal, o tribunal analisou a alegação
de usurpação da sua competência, pois a investigação criminal teria encontrado elementos indiciários
sobre prática delitiva por parte de parlamentar.
A Suprema Corte rechaçou a alegação, em suas razões afirmou que houve mero encontro
fortuito de elementos indiciários da prática, em tese, de ilícitos penais por parte de autoridade com
prerrogativa de função. Ainda, entendeu que a simples circunstância do parlamentar ser sócio da
empresa investigada não possui o condão de fixar a competência da corte. Ao final, foi negado
provimento ao recurso.
A decisão acima narrada é semelhante à primeira decisão analisada no trabalho (Agravo
Regimental na Reclamação 25. 497/RN), a Corte acertadamente manteve coerência entre os julgados,
reforçou a ideia de que o simples fato de haver menção ao nome do parlamentar não possui o condão
de atrair a jurisdição da Suprema Corte.
6 Considerações finais
7 Referências
LORENCINI, Bruno César. Garantias da magistratura na Constituição Federal brasileira. In: LEITE,
George S.; STRECK, Lenio L.; JUNIOR, Nelson N. (Coords). Crise dos Poderes da República:
Judiciário, Legislativo e Executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2017.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. São Paulo. Revista dos Tribunais. 2012.
STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 4.ed. São Paulo. Revistas dos
tribunais. 2014.
STRECK, Lenio Luiz; CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade; NUNES, Dierle; Comentário
aos artigos 53 a 56. In: CANOTILHO,J.J. Gomes, MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W. (Coords).
Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo:Saraiva/Almedina, 2013.
VEROSE, Osmar; MACHADO, Marsal C. Inviolabilidade dos parlamentares. In: LEITE, George S.;
STRECK, Lenio L.; JUNIOR, Nelson N. (Coords). Crise dos Poderes da República: Judiciário,
Legislativo e Executivo. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2017.