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a Análise Financeira

Uma vez apresentados os documentos contabilísticos e a sua preparação para a análise,


podemos interpretar o equilíbrio financeiro, relacionando os recursos definidos com as
aplicações de fundos.

A análise e o equilíbrio financeiros podem ser tratados recorrendo às teorias


tradicional e funcional.

51. Equilíbrio Financeiro


O equilíbrio financeiro pode ser estudado segundo:

E A análise patrimonial ou tradicional

Esta análise tem por objectivo detectar a capacidade que a empresa tem de satisfazer as suas
obrigações de pagamento nas datas exigíveis e que se encontram registadas no Balanço.
Esta análise permite-nos ajuizar se a estrutura está equilibrada, visto que a empresa terá
de liquidar as origens de fundos que se vão tornando exigíveis com as aplicações de fundos
que se vão tornando disponíveis.

 A análise funcional

Esta análise baseia-se no Balanço funcional e no ciclo financeiro da actividade da empresa


das necessidades de financiamento do ciclo de exploração, os recursos cíclicos que lhe
podem fazer face, o fundo de maneio e a tesouraria líquida são alguns dos temas a
abordar.

5.1.1. Análise patrimonial do equilíbrio financeiro

Os elementos patrimoniais activos podem ser financiados por capital próprio e por capital
alheio. A concepção tradicional decompõe o Balanço em:

— Activo
— Passivo
— Capital próprio
Os elementos patrimoniais activos são agrupados e ordenados segundo o grau de liquidez
e os valores passivos, segundo o grau de exigibilidade.

Deste modo temos:

 Activo

Circulante

— Disponibilidades: Caixa, Depósitos à ordem e Títulos negociáveis


— Dívidas a c/p: Clientes e Outros devedores
— Existências: Mercadorias

Apresentam um elevado grau de liquidez. Fixo

Inclui o Imobilizado corpóreo e incorpóreo e os Investimentos financeiros apresentam


um baixo grau de liquidez.

 Capitais permanentes

Capital próprio — O grau de exigibilidade é nulo.


Capital alheio a mil prazo — Grau de exigibilidade superior a um ano.

Capitais alheios a c/p ou Passivo circulante


Inclui as dívidas a terceiros a c/p: Fornecedores, Estado, Outros credores.
Apresentam um elevado grau de exigibilidade.

5. 1. 1. 1. Fundo de maneio
". " "

A análise tradicional considera que o equilíbrio financeiro é alcançado sempre que o


Activo circulante superior ao Passivo de curto prazo.

Activo circulante > Passivo circulante


ou
Activo circulante — Passivo circulante > O
A regra do equilíbrio financeiro representa-se graficamente da seguinte forma:
Capitais permanentes
Activo fixo

} Fundo de maneio

Activo circulante
Passivo circulante

A diferença entre o Activo circulante e o Passivo circulante designa-se por Fundo de


Maneio Patrimonial, que tem um significado diferente do Fundo de Maneio calculado na análise
funcional.

O Fundo de Maneio Patrimonial (FMP) pode ser calculado por: Óptica

da liquidez

FMP = Activo circulante — Passivo circulante

Óptica estrutural

EME' = Capitais permanentes — Activo fixo

Não haverá equilíbrio financeiro se a empresa tiver mais obrigações a curto prazo do
que bens e direitos a receber a curto prazo, ou seja, quando:

Passivo — Activo circulante > O

Nestas condições a empresa tem capitais exigíveis a curto prazo a financiarem


elementos patrimoniais do Activo fixo, cuja capacidade de gerarem dinheiro é lenta, excepto
em caso de alienação.

Qual o valor ideal para o Fundo de maneio?

O fundo de maneio é uma margem de segurança para que a empresa possa fazer face
aos seus compromissos a curto prazo.
Porque é que se considera a situação de equilíbrio:

Activo circulante — Passivo circulante > O

e não

Activo circulante — Passivo circulante = O

Segundo a regra de equilíbrio financeiro mínimo:

Os capitais utilizados pela empresa para financiar uma imobilização, um stock ou


qualquer outro valor activo devem ficar à disposição da empresa durante um prazo que
corresponda pelo menos à duração do valor activo adquirido com esses capitais.

O cumprimento desta regra pode não ser o suficiente, porque para muitas empresas verifica-
se que não basta a igualdade entre o Activo circulante e o Passivo circulante. É necessário
que o Activo circulante exceda o Exigível a curto prazo, pois é possível existirem naqueles
valores cuja rotação é lenta e aleatória e em que o seu baixo grau de liquidez não permite
fazer face às dívidas de curto prazo. Por sua vez, os valores do Passivo circulante têm um
prazo certo que deve ser cumprido e os valores a cobrar dos clientes podem não ser
realizados nos prazos previstos.

É necessário então que o fundo de maneio exceda o valor das dívidas a curto prazo,
constituindo assim uma margem de segurança. Contudo, há actividades em que o fundo
de maneio é negativo e não origina problemas na exploração (Ex.: os supermercados recebem
a pronto e pagam a prazo).

Geralmente, quando o fundo de maneio é negativo, nulo ou de um valor positivo baixo,


pode tornar-se insuficiente para fazer face aos compromissos a curto prazo.

Um fundo de maneio em excesso é_ prejudicial, visto que origina custos de expio-ação


para a empresa. Assim, do ponto de vista da empresa, o fundo de maneio deve ser o mínimo
possível. Uma boa gestão do fundo de maneio implica o seguinte:
— As disponibilidades devem ter um valor reduzido:

 A cobrança de dívidas deve ser rápida;

— As existências devem estar sujeitas a uma gestão eficiente e conduzir a um montante de


stocks reduzidos sem provocar ruptura na actividade;
— O alargamento do prazo médio de pagamento a fornecedores sem pôr em causa a imagem
da empresa.
Tendo em conta estes parâmetros, o fundo de maneio pode, ainda, calcular-se de modo a
evidenciar a importância de cada uma das componentes:

FMP = (Activo circulante — Existências) — Passivo

circulante FMP = Disponibilidades — Passivo

circulante

A regra de equilíbrio financeiro visa fundamentalmente defender os interesses dos credores a


curto prazo. Na óptica dos credores. o ideal seria a empresa ter activos de c/p muito superiores
aos passivos a c/p, garantindo assim o reembolso do capital cedido.
O fundo de maneio, como medida absoluta, apresenta alguns defeitos, pelo
que podemos tirar conclusões complementares através dos rácios de
liquidez.

5.1.1.2. Rácios de liquidez

Estes rácios medem a capacidade de a empresa solver os seus


compromissos a curto prazo. Quanto maior for o valor que apresentar maior será
probabilidade de reembolsar o crédito obtido dos fornecedores e de outros
credores a curto prazo.

Há a considerar três rácios de liquidez:


Activo circulante
Rácio de liquidez geral = ____________
Débitos a c/p

Este indicador mede a capacidade de fazer face aos débitos a c/p utilizando
os montantes das disponibilidades, clientes e existências. O nível normal deste
indicador situa-se entre 1,5 e 2.

Este nível depende de vários factores:

 Do sector onde a empresa exerce a sua actividade


Em empresas cuja actividade exige stocks avultados, por exemplo, o nível médio
sobe. É o contrário para as empresas que vendem com baixos stocks.
 Da política de vendas da empresa, que, para aumentar a quota de mercado,
aumenta o crédito a clientes.
 Do carácter sazonal da actividade

Um indicador inferior pode originar dificuldades de tesouraria se a rotação


das existências for baixa e se os débitos dos clientes forem de difícil cobrança.

Um valor elevado deste rácio justifica-se com valores elevados de existências,


clientes e de disponibilidades. Este facto é sinónimo de investimentos pouco
rentáveis, apesar de não haver qualquer dificuldade de fazer face aos
compromissos a curto prazo.
Activo circulante - Existências
Rácio de liquidez reduzida
Débitos a c/p

Este rácio mede a capacidade de a empresa solver as dívidas a c/p com o recurso às
disponibilidades e aos créditos concedidos de c/p.

O nível médio aceitável é de 1,1 dependendo igualmente dos factores anteriores.

Rácio de liquidez imediata =


D
Disponibilidades
débitos a c/p

Este rácio mede a capacidade de a empresa solver os seus compromissos a curto prazo,
recorrendo somente às disponibilidades. Regra geral, o nível 0,9 é normal em empresas
bem geridas. Contudo. depende, igualmente, do tipo de actividade da empresa e da
rotação das mercadorias e da cobrança dos montantes dos clientes.

5.1.1.3. Críticas á metodologia tradicional

Segundo a regra de equilíbrio financeiro, conclui-se que o FMP tem de ser positivo para que
a empresa esteja em equilíbrio. Como já foi referido, em muitas actividades, até pode ser
negativo, o que significa dizer que fundo de maneio, na abordagem tradicional, é um
indicador estático, porque é calculado num determinado momento, sem levar em conta o
dinamismo e o tipo de actividade. Esta abordagem patrimonial do fundo de maneio não
considera natureza e 6 volume da actividade da empresa, nem as características dos activos
e passivos a curto prazo.

O fundo de maneio é a parte do capital necessária para financiar o ciclo de exploração, mas
o respectivo montante não está correctamente calculado pela abordagem tradicional. A diferença
entre o Activo circulante e o Passivo circulante não representa efectivamente as necessidades
de financiamento do ciclo de exploração, porque não há uma distinção correcta entre os vários
ciclos dá empresa (financeiro, investimento e exploração) e nem uma distribuição de
elementos patrimoniais activos e passivos por esses ciclos, tal como é feito na abordagem
funcional, que relaciona o equilíbrio financeiro com as decisões ligadas ao ciclo financeiro.

5.1.2. Análise funcionai do equilíbrio financeiro


De acordo com esta abordagem é elaborado um Balanço funcional com base no Balanço
contabilístico, de forma a identificar claramente:
 Os ciclos financeiros da empresa: ciclo de exploração, ciclo de financiamento (ciclo
de operações de capital e ciclo de operações de tesouraria) e ciclo de investimento;
 As aplicações em activos fixos resultantes das decisões de investimento;
 As necessidades e os recursos de exploração;
 Os recursos estáveis ou capitais permanentes decorrentes do financiamento por
capitais próprios e alheios a m/l prazo;
 A situação de tesouraria.

Devido às críticas e limitações evidenciadas pela abordagem tradicional, a maioria


dos analistas recorre à abordagem funcional.

O Balanço funcional resulta de um conjunto de correcções a efectuar no Balanço


contabilístico, agregando as contas numa perspectiva financeira, o que permite pôr em
evidência a estrutura financeira de uma empresa, e apresenta a seguinte estrutura e
compreensão:

CICLOS RECURSOS
APLICAÇOES

Operações
de Investimento De Investimento Próprios
(Activo fixo) e alheios estáveis
Operações
de Exploração Necessidades Recursos
cíclicas cíclicos
Operações
de Tesouraria
Tesouraria activa Tesouraria passiva

A análise do equilíbrio financeiro tem como suporte os grupos previamente definidos para o
Balanço funcional, tendo como base os três ciclos: de investimento, de exploração e
financeiro. Contudo, no conjunto dos indicadores propostos, iremos dar ênfase aos relacionados
com o cicio de exploração.

DE FORMA GERAL, OS TRÊS GRANDES INDICADORES DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO SÃO:

DEFORMAGERAL,OSTRÊSGRANDESINDICADORESDOEQUILÍBRIOFINANCEIROSÃO:

Fundo de Maneio Líquido (FML) ou Fundo de Maneio Funcional (FMF);


 Necessidades em Fundo de Maneio (ou Fundo de Maneio Necessário) (NFM);
 Tesouraria Líquida (TRL).

Nesta análise funcional, o equilíbrio financeiro resulta da comparação entre duas


grandezas: O FMF e as NFM.
5.1.2.1. Fundo de maneio funcional (FMF)

O Fundo de Maneio Patrimonial que, anteriormente, foi determinado por:

FMP = Activo circulante — Débitos a curto prazo


ou

FMP = Capitais permanentes — Activos fixos

Nesta abordagem é calculado comparando os recursos estáveis com o Activo fixo:


FMF = Recursos estáveis (capitais permanentes) — Activos fixos

De investimento Próprios
(Activo fixo) e alheios estáveis

Fundo de maneio
funcional (FMF)

O fundo de maneio funcional expressa o diferencial entre os recursos estáveis da


empresa e as aplicações. Com diferencial positivo evidencia uma margem de segurança
do financiamento sobre as aplicações permanentes.

Os conceitos FMP e FMF são distintos. O valor do FMF é o resultado das


políticas de investimento e de financiamento a médio e a longo prazo.

Do PONTO DE VISTA FINANCEIRO, O FMF TEM MUITO MAIS INTERESSE QUE O FMP:

 Quando o FMF > O, existe uma parte de fundos estáveis que financiam o ciclo de
exploração
 Quando o FMF < O, os recursos estáveis são insuficientes face às necessidades
de financiamento do Activo fixo. Torna-se um factor de risco
O FMF é um instrumento de avaliação do impacto da estratégia financeira sobre o
nível de segurança da empresa.

Tradicionalmente, considerava-se que a empresa estava numa situação financeira


equilibrada se o seu fundo de maneio fosse positivo. Contudo, tal não é verdade porque
o fundo de maneio positivo não constitui, hoje em dia, condição nem necessária nem
suficiente para que se verifique uma situação de equilíbrio financeiro.
Para que se verifique essa situação é necessário que o valor do fundo de maneio
esteja adequado às necessidades em fundo de maneio.

5.1.2.2. Necessidades de fundo de maneio (NFM)

As NFM comparam as necessidades cíclicas ou de exploração com os recursos


cíclicos ou de exploração:

Necessidades Recursos
cíclicas cíclicos

Necessidades de Fundo
de Maneio
(FMF)
NFM = Necessidades cíclicas — Recursos cíclicos

A noção de NFM está relacionada com a necessidade de financiar o cicio de


exploração que se desenrola para uma empresa industrial, desde a compra de
matérias-primas até à sua transformação, venda e cobrança de clientes. Este exige
meios financeiros necessários para fazer face às despesas operacionais com
fornecedores, pessoal e outros credores, sem contar com os valores a receber dos
clientes. O montante das NFM é para fazer face às primeiras despesas antes que a
empresa receba dos seus clientes.

As necessidades em fundo de maneio, que constitui o principal indicador do ciclo


de exploração, reflectem os impactos do negócio (prazos médios de recebimentos e
pagamentos, rotação das existências), bem como a forma como os gestores opera-
cionais executam as suas actividades.

As necessidades em fundo de maneio, uma das grandes determinantes da política


financeira da empresa, são importantes para fazer face:

 Às necessidades estruturais do fundo de maneio relacionadas com a actividade


normal da empresa;
 Às necessidades temporárias relacionadas com a actividade sazonal de muitas
empresas.
Consideremos dois níveis de grandeza para as NFM:

 NFM > O, indica que a empresa tem de conseguir recursos cíclicos para fazer face
às necessidades cíclicas;
 NFM < O, indica que há excedentes financeiros do ciclo de exploração. Este tem
capacidade para libertar fundos.

O valor deste indicador depende do tipo de negócio, das práticas de gestão, da


capacidade negociai e de gestão da empresa e dos seus responsáveis. Por exemplo,
nos hipermercados este indicador é frequentemente negativo, enquanto que na indústria
é bastante positivo.

 As indústrias metalúrgicas com ciclos de exploração longos exigem elevados montantes para as
NFM;
 As pastelarias com ciclos de exploração curtos e com vendas a pronto têm, naturalmente, menores
NFM;
 Empresas bem organizadas e com melhor tecnologia podem ter mais eficiência na produção e na
gestão dos stocks e que se traduz em menores NFM;
 A organização e a administração das compras e vendas com baixos PMR e com prazos
dilatados de PMP têm reflexos nas NFM.

Poderá então dizer-se que as NFM são um meio de avaliação financeira da gestão
executada na actividade operacional. As NFM constituem uma das grandes determi-
nantes da política financeira da empresa.

Qual o montante óptimo do FMF?

A empresa necessita de fundo de maneio, mas o seu montante custa dinheiro à


empresa.

5.1.2.3. Tesouraria líquida (TRL)

A diferença entre os recursos libertos pelas decisões de investimento e financia-


mento a m/l prazo (FMF) e as NFM indica-nos a posição da Tesouraria líquida.

Tesouraria Líquida (TRL)


TRL = Tesouraria Activa — Tesouraria Passiva
ou
TRL = Fundo de Maneio — Nec. Fundo de Maneio

Esta relação quantifica e caracteriza de uma forma mais objectiva o equilíbrio


financeiro. Como as NFM são investimentos de carácter permanente e o FMF é a parte
dos capitais permanente que ficam disponíveis para investimentos de longo prazo,
então, podemos dizer que existe equilíbrio financeiro se o FMF for suficiente para
financiar as NFM:

Fundo de Maneio Funcional — Nec. Fundo de Maneio > O

Como Tesouraria Líquida = Fundo de Maneio Funcional Nec. Fundo de Maneio


ou

Tesouraria Líquida = Tesouraria Activa — Tesouraria Passiva

O equilíbrio financeiro é tesouraria líquida > = 0

Tradicionalmente, diz-se que a empresa está em equilíbrio quando ❑ FMF cobre as


NFM e os riscos da actividade da empresa. Esta situação é do agrado dos credores
da empresa. Os gestores podem preferir outra situação com maior endividamento, ou
seja, FML > O e TL = FML — NFM < O, dado o aumento do risco e esta estrutura
corresponder a maior rendibilidade.

A tesouraria constitui o indicador de equilíbrio financeiro.

• Se o seu saldo se aproxima do zero significa que o fundo de maneio está adequado às
necessidades em fundo de maneio.

TRL FMF NFM = O

• Se o saldo é muito positivo pode significar a existência de excedentes ociosos de


tesouraria com impacto negativo sobre a rendibilidade.

TRL FMF—NFM > O


• Se for negativo, défice de tesouraria, poderá representar dificuldades ou impossi-
bilidade em cumprir os compromissos financeiros a curto prazo. A empresa pode
recorrer a determinadas acções financeiras para manter o normal funcionamento
da empresa (negociação de descobertos, de apoios à caixa, de créditos sobre
facturas, etc.).

TR1 = FMF < O

5.2. Indicadores do Ciclo de Exploração


Passemos ao estudo dos indicadores do ciclo de exploração geralmente utilizados
na análise financeira e enquadrados na gestão do fundo de maneio.

1 — Prazo médio de recebimentos (PMR)

Clientes x 365
PMR = -----------------------------------------
Volume de negócios com 1VA

2 — Prazo médio de pagamentos (PMP)

Fornecedores x 365
PMP = ------------------------------
Compras com 1VA

3 — Indicadores de existências

É o conjunto de indicadores sobre os prazos de rotação de existências (de merca-


dorias, matérias-primas, produtos em curso, e produtos acabados e semiacabados),
as margens brutas de vendas e consumos e as cadências de venda ou consumo,
tendo como base os valores das existências em armazém na data a que reportam as
demonstrações financeiras, bem como os custos e proveitos, durante o período,
directamente relacionados com as vendas e as prestações de serviços.

Poderiam ser considerados os saldos médios das referidas existências em armazém


durante o período em análise. Como o IVA é dedutível, é excluído da análise, visto que
não afecta o valor do stock nem dos custos e proveitos.

■ Prazos de rotação de existências


Estes indicadores evidenciam o montante das existências em armazém, expresso
em número de dias, face aos seus consumos ou utilizações.
Mercadoria x 365
Prazo médio de mercado = -----------------------------------------
Custo das mercadorias vendidas

Matérias-primas x 365
Prazo médio de matérias-primas = -----------------------------------------------
Custo das matérias consumidas

EF de P. acab. X 365
Prazo médio de matérias-primas = -----------------------------------------------
Custo industrial dos produtos vendidos

Apura o número de dias de vendas de mercadorias (Consumo de matérias-primas) que podem ser
assegurados com as existências em armazém.

■ Custos e margens (em %)


Custo das mercadorias vendidas
MB das mercadorias = 1 - ----------------------------------------
Vendas de mercadorias

Este indicador evidencia a margem bruta (comercial) praticada. calculada sobre o valor das
vendas líquidas de mercadorias.

Custo das matérias-primas vendidas


Intensidade custo matéria-prima = 1 - ---------------------------------------------
Custo de produção

Este indicador evidencia o peso do custo das matérias-primas no total do custo de


produção, ou seja, a intensidade da matéria-prima no total do custo do produto e,
consequentemente, o grau de dependência daquela e, em consequência, dos fornecedores.
Custo industrial produtos vendidos
MB produtos acabados= 1 - -------------------------------------------------
Vendas de produtos

Indica, em relação aos produtos acabados, a margem bruta (comercial) praticada, calculada
sobre o valor das vendas líquidas de produtos.

4— Outros indicadores do ciclo de exploração

O ciclo de exploração representa a quantidade necessária de dias de volume de negócios


para cobrir as necessidades em fundo de maneio, ou seja, o n' de dias em que a empresa
está a vender apenas para suprir as suas necessidades internas. Este indicador deve ser
reduzido.
■ Necessidades financeiras (em dias de volume de negócios)

Necessidades Cíclicas
Volume de Negócios diário

Indica o n' de dias necessários para que as vendas e prestações de serviços


cubram as necessidades financeiras decorrentes do ciclo de exploração.

■ Recursos financeiros (em dias de volume de negócios)

Recursos Cíclicos
Volume de Negócios diário

Indica o n' de dias de vendas e prestações de serviços cobertos pelos créditos


decorrentes do ciclo de exploração.

■ Ciclo de exploração (NFM em dias de volume de negócios)

Necessidades em Fundo de Maneio ----


Volume de Negócios diário

OU
Necessidades Financeiras - Recursos Financeiros

Indica o n' de dias de vendas e prestações de serviços necessários para cobertura


das necessidades em fundo de maneio.

■ Activo Económico
AE = Activo Fixo + Necessidades em Fundo de Maneio

O Activo económico representa o valor do investimento líquido afecto ao negócio e


é uma base de apoio para as decisões de financiamento da empresa, dado que no Activo
económico já foi deduzido o financiamento normal da actividade operacional (crédito
de fornecedores e outros de exploração).

Utiliza-se também para análise das taxas de rendibilidade operacional ou de retorno


do investimento, visto que representa o verdadeiro investimento do negócio, e não o
valor do activo líquido, utilizado numa abordagem tradicional.
A gestão do fundo de maneio consiste em acelerar os fluxos de entrada em caixa e atrasar os
fluxos de saída, como gerir o ciclo de caixa ou de cash flow, por forma a que os capitais
investidos na empresa se mantenham de preferência sob a forma de dinheiro em caixa.

Para gerir o fundo de maneio, o gestor financeiro tem de dominar o ciclo de


exploração, ou seja, o tempo que o dinheiro em caixa leva a fluir desde as contas de
mercadorias e clientes. O ciclo começa quando a empresa paga os activos e despesas
e termina quando a empresa recebe dos clientes após as vendas efectuadas.

O Ciclo de Cash How define-se por:


Período médio de existências + Período médio de recebimento dos clientes e outros devedores
— Período médio de pagamento a fornecedores e outros credores:

Existências médias Clientes médios Fornecedores médios


- x 365
Custo das vendas + Vendas Compras

Indicadores sobre os prazos médios de recebimentos e pagamentos e o período


médio das existências são de muita utilidade, quer para a análise financeira quer para
a gestão, pelo facto de serem facilmente comparáveis com valores normativos ou padrões.
O PMR e o PMP têm como base os valores a receber de clientes e a pagar a fornecedores,
respectivamente, na data a que reportam as demonstrações financeiras. Podiam ser
considerados os saldos médios das contas referidas durante o período em análise.

Os indicadores do ciclo de exploração são de grande utilidade não apenas para a


análise financeira mas também para o acompanhamento e controlo do crédito
concedido a clientes, controlo das dívidas para com os fornecedores e na regularização
da rotação das existências.

5.3. Exercícios
Resolução
PMR = 100 000,00 x 365
600 000,00
= 60 dias

A empresa demorou em média 60 dias a cobrar os valores a receber com as vendas


realizadas.

É desejável que os fornecedores concedam à empresa um PMP o mais dilatado


possível sem agravamento dos preços e dos encargos financeiros.

31/12/2003 31/12/2004
Fornecedores 350 000,00 380 000,00
Compras com IVA 1600 000 00 , 1 700 000,00

Qual o prazo médio de pagamento?

Resolução
PMR = Saldo médio dos fornecedores x 365
compras

PMP = (350 000,00 + 380 000,00)/2 x 365


1 700 000,00

= 78 dias

A empresa demorou em média 78 dias a pagar as dívidas aos fornecedores.

31/12/2003 31/12/2004
Existências 100 000,00 120 000,00
Custo das vendas 400 000,00
Existências médias
Prazo médio de existências — __________________ 365
Custo vendas

1 1 0 000,00 365

400 000,00
= 100 dias

O Ciclo de Cash Flow ou de Caixa seria:

= Período médio de existências + PMR — PMP


= 100 + 60 — 78
= 82 dias

Entre a compra da mercadoria e o recebimento do cliente decorrem 82 dias.


O fornecedor concede crédito por 78 dias, mas no final deste prazo a empresa tem
de lhe pagar sem ter ainda recebido os valores de clientes. Há necessidade de obter
financiamento para os 4 dias. O ideal seria que o PMP fosse maior do que os 82 dias,
conduzindo a excedentes de tesouraria provenientes da exploração e a um ciclo de caixa
negativo (Ex.: Supermercados).

No caso de uma actividade sazonal, o PMR, calculado anualmente com base no saldo final do Balancete do mês 12,
pode conduzir a conclusões erradas sobre a situação dos clientes; e necessário, neste caso, calcular o PMR mensal e
trimestral.

2003 2004
Clientes 50 000,00 65 000.00
Vendas 140 000,00 150 000,00

É preciso ter cuidado ao trabalhar com saldos finais, uma vez que estes podem corresponder a situações
pontuais. Podemos considerar os saldos inicial e final do ano.

Resolução

(50 000,00 + 65 000,00)/2


PMR ______________________ x 365
150 000,00
= 140 dias

O PMR varia de sector para sector. Nos supermercados o PMR é nulo e na


construção civil é elevado.
1 4 1 1 d 1 1 b e I F 1 1 1 0 1 1 1 b c i l a

3 — Empresa Aliaz

BALANÇO 2003 (Euros)

Activo
Imobilizado
Imobilizado corpóreo 5000,00
Imobilizado incorpóreo 1500,00
Investimentos financeiros 500,00
Circulante
Existências 5000,00
Créditos a curto prazo 4600,00
Depósitos bancários e caixa 1000,00
Total 17 600,00
Capital próprio
Capital social 9000,00
Reservas 480,00
Resultado líquido 1720,00
Total 11 200,00
Passivo
Provisões 100,00
Fornecedores 5000,00
Outros débitos a c/p 1000,00
Acréscimos e deferimentos 300,00
Total 6400,00
Capital próprio + Passivo 17 600,00

Resolução

Com base na situação anterior, vamos calcular alguns indicadores financeiros:

FML = 11 200,00 — 7000,00


= 4200,00 euros

NFM = (5000,00 + 4600,00) — 6400,00 3200,00 ouros

Tesouraria Líquida = FML — NFM


= 4200,00 — 3200,00 = 1000,00
ouros
Os montantes do fundo de maneio, das necessidades em fundo de maneio e da
tesouraria líquida caracterizam estaticamente a empresa e permitem concluir que a
empresa tem solvabilidade (capacidade de pagar as dívidas) e liquidez (tesouraria
líquida positiva).

Os rácios de liquidez indicam, contudo, que a empresa pode ter dificuldade em pagar
as dívidas se tiver baixa rotação das existências ou se houver atrasos na cobrança das dívidas
aos clientes.

10 600,00
Rácio de liquidez geral -
6400,00
= 1,65

5600,00
Rácio de liquidez reduzida =
6400,00

= 0,87

00
Rácio de liquidez imediata =
1000
6400,00
= 0,15

Os rácios de liquidez reduzida e imediata estão abaixo do normal, logo a empresa


enfrenta dificuldades de tesouraria se a rotação de existências for baixa.

138 © LIDEL EDIÇÕES TÉCNICAS

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