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A LINGUÍSTICA, E O ENSINO DA LÍNGUA MATERNA

A falta de habilidade com a língua portuguesa em todos os seus aspectos,


manifestados em alunos pertencentes aos diversos níveis, continua provocando
preocupações e discussões entre professores e estudiosos da língua materna. Discursos
que se baseiam no seguinte questionamento: por que falantes da língua materna não têm
familiaridade com a mesma?
... a questão da transformação das práticas, métodos e conteúdos escolares estão
em pauta desde de que a escola deixou de ser, no plano do embate político, ainda que não
de fato, um privilégio de um segmento social para se tornar um direito de todos. (Brito,
1997:99) Durante algum tempo, atribuiu-se à dificuldade de compreensão e produção, a
falta de domínio em relação às regras gramaticais de uso da língua; priorizou-se o ensino
gramatical mas o problema continuou existindo.
Em 2003, o Brasil ficou em último lugar em avaliação de leitura realizada pelo
programa Internacional da Avaliação de Alunos, entre os trinta e dois países avaliados
em relação à capacidade de leitura, assimilação e interpretação de textos. Tal resultado
não condiz com os objetivos de ensino, preconizado nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (Brasil,1998) que prevêem a formação de eficientes leitores e usuários
competentes da escrita.
O ensino da língua portuguesa destina-se a preparar o aluno para lidar com a
linguagem e suas diversas situações de uso e manifestações, inclusive a estética, após o
domínio da língua materna revela-se fundamental ao acesso às demais áreas do
conhecimento.
O desenvolvimento do saber lingüístico implica, leitura compreensiva e críticas de textos
diversos: produção escrita em linguagem padrão; análise e manipulação da organização
estrutural da língua e percepção das diferentes linguagens (literária, visual, etc.) como
forma de compreensão do mundo.
A língua portuguesa é um instrumento de trabalho de todo profissional que
trabalha a língua materna no Brasil e, como afirma Dacanal (1987), a língua é
essencialmente um fenômeno social e político. A língua também é uma convenção e uma
imposição da classe economicamente favorecida; ela varia de acordo com a localização
geográfica e varia também, em função dos estrangeirismos (palavras originadas, de outros
países que se incorporam ao léxico da língua portuguesa).
Piaget (1995) afirma que o meio social é muito importante para assimilação
cognitiva e o aluno só alcança a acomodação, ou seja, a fixação do conteúdo se estiver
motivado, interessado verdadeiramente na aula, quer por motivos profissionais, quer por
motivos pessoais. De outra forma, o aluno irá decorar somente a matéria para uma prova,
por exemplo, e em seguida irá esquecer.
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Cabe a escola a orientação do “bom uso” lingüístico intensificando uma reflexão
cotidiana sobre a linguagem de cada aluno, observando e mantendo as relações entre uso
dessa linguagem e atividades de análise lingüísticas e de explicitação da gramática. Como
também aplicações distintas das variantes lingüísticas, com valores e funções de uso
adequado, visto que não há comunidades, lingüisticamente, homogêneas.
A heterogeneidade é inevitável e toda e qualquer camada social é aceita de bom
grado na interação do conjunto, haja controvérsias ou não. Logicamente a prescrição das
gramáticas normativas não deve ser simplesmente desprezada, como se não fizesse parte
da realidade.
O dever de combater a atitude prescritiva fica sob a responsabilidade do
lingüística, conhecedor que é dos desvios e das variações, refletindo sobre os fatos, que
ocorrem.
A gramática como disciplina escolar, e a lingüística, não podem ser avaliadas como
estranhas, certa e errada. São áreas que não devem fazer parte do pensamento de que uma
poderia substituir a outra, são campos que se nutrem de modo recíproco. Sabemos que a
lingüística é inovação no ensino da gramática e a ausência de reflexão na sala de aula
sobre a linguagem e seu uso, pode atrapalhar o progresso da ciência lingüística, e a
eficiência da escola no bom desempenho lingüístico dos estudantes.
Em relação ao ensino da língua portuguesa, cremos que se possa avançar bastante
em termos de abordagem, fugindo de estratégias que não desafiam nem animam os alunos
a ler e escrever com significados para as suas vidas.
Os estudos dialetológicos e sociolingüísticos não nos permitem ignorar as
modalidades dialetais do Português do Brasil, as quais evidenciam uma língua não
uniforme, de modo que um ensino exclusivista da variante culta seria politicamente
incorreto e contraproducente, que para muitos professores ainda continua sendo a maneira
mais fácil de ministrar suas aulas, já que estas estão prontas e basta seguir um simples
sumário.
Portanto, espera-se que os profissionais responsáveis pela aplicação da
metodologia de ensino estejam conforme versam os conceitos lingüísticos, sempre em
busca de atualização e aperfeiçoamento.

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