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Diagnóstico da tuberculose
DIAGNÓSTICO DA TUBERCULOSE.
The diagnosis of tuberculosis.
Hisbello S. Campos1
Neste módulo, será abordado o diagnóstico da tu- como os novos métodos que vêm sendo avaliados e
berculose sob diferentes perspectivas: como passo inicial seus rendimentos. Será abordada também a impor-
importante para a redução do problema na comunida- tância do diagnóstico da resistência bacteriana, para a
de e como uma das etapas para diminuir o sofrimento definição terapêutica com maior potencial de cura. O
do doente. Serão apresentados os exames complemen- diagnóstico radiológico não será comentado já que ele
tares habitualmente realizados e suas indicações, bem será objeto de um módulo próprio.
Diagnosticar um doente tuberculoso, particular- A maior parte dos doentes tuberculosos tem lesão
mente um bacilífero (doente que, ao tossir, elimina baci- no pulmão e tosse. Denomina-se sintomático respirató-
los no ar ambiente), e tratá-lo corretamente, curando-o, rio (SR) aquele indivíduo que apresenta tosse produtiva
é eliminar uma fonte de infecção. Reduzir as fontes de por quatro semanas ou mais. Em regiões com alta pre-
infecção quebra a cadeia de transmissão da doença e valência da doença, o SR é o principal alvo do sistema
diminui o problema da tuberculose na comunidade. A de busca de casos, já que é grande a possibilidade de
efetividade das ações de controle da tuberculose é dire- ele ser um bacilífero. Idealmente, todo SR identificado
tamente proporcional à participação de todos, profissio- deve ser submetido ao exame direto do escarro, bus-
nais de saúde, governos e comunidades. É fundamental cando identificar o bacilo álcool ácido resistente.
que os profissionais de saúde tenham participação ativa, Pode-se aumentar o rendimento da busca de
não apenas na busca ativa de doentes tuberculosos em casos de tuberculose examinando, também, ou-
suas Unidades de Saúde, como capacitando membros tros grupos nos quais a probabilidade de sucesso é
das comunidades de forma a torná-los capazes de iden- maior: contatos de doentes tuberculosos, pessoas
tificar os suspeitos e encaminhá-los para exame. Deve-se HIV+, trabalhadores de saúde, albergados e pesso-
lembrar que quanto mais precoce o diagnóstico menor a as que vivem em instituições fechadas (presídios,
chance de disseminação da doença. por exemplo).
Assim como em qualquer outra doença infecto- Por ser uma doença infecciosa, a confirmação
contagiosa, a suspeita clínica da tuberculose começa na diagnóstica é dada pela identificação do BK em mate-
presença de um quadro clínico arrastado de febre baixa, rial da lesão. Até pouco tempo atrás, isso só era possível
geralmente vespertina, sudorese noturna, indisposição, por meio de exames bacteriológicos, particularmente
adinamia e perda de peso. Dependendo da localização a cultura. Hoje, com o desenvolvimento de técnicas
da doença, podem surgir outros sinais e sintomas. Quan- imunológicas e de métodos de imagem, outros recur-
do a lesão é pulmonar, pode haver tosse produtiva e sos podem ser usados para legitimar o diagnóstico.
sangramento respiratório. Nas formas extrapulmonares, Globalmente, os métodos diagnósticos dividem-se
os sinais e os sintomas dependerão do órgão afetado. em bacteriológicos, histopatológicos, imunológicos
Endereço para correspondência: Hisbello S. Campos. Rua do Catete, 311 / 708, CEP -22220-001, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. e-mail: hisbello@globo.com
Recebido em 29/03/2006 e aceito em 17/05/2006, após revisão.
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Uma outra perspectiva que vem sendo buscada é altamente purificados ou recombinantes, a especifi-
o diagnóstico sorológico da tuberculose. Inicialmente, cidade aumentou, mas a sensibilidade diminuiu. Ob-
tentou-se usar antígenos parcialmente purificados que servou-se, também, que o grau da resposta humoral à
permitissem a detecção de anticorpos anti-micobacte- tuberculose é heterogêneo, fazendo com que passas-
riano em suspeitos da doença. Entretanto, a especifi- se a ser proposto o emprego de misturas de múltiplos
cidade era baixa. Quando se passou a usar antígenos antígenos do M. tuberculosis. De qualquer modo, até o
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momento nenhum dos testes sorológicos mostrou-se O método radiológico passou a ter ainda mais
preditivo o suficiente para ser usado rotineiramente. valor com o advento da tomografia computadorizada
O exame histopatológico permite identificar a le- de alta resolução (TCAR). Determinadas apresenta-
são granulomatosa, a necrose de caseificação e outras ções radiográficas na TCAR podem ser consideradas
apresentações da lesão tecidual causada pelo BK. No diagnósticas de tuberculose.
entanto, nenhuma das apresentações histopatológicas Finalmente, a dosagem da adenosina deami-
é patognomônica da tuberculose, já que podem ser nase (ADA) é uma técnica diagnóstica não-micro-
observadas em outras etiologias, como, por exemplo, biológica, que auxilia no diagnóstico da tuberculo-
outras granulomatoses, sarcoidose e micose. Para asse- se. É um método barato, simples e rápido, que tem
gurar que determinada lesão granulomatosa é tuber- particular importância na investigação do derrame
culosa, é necessário identificar o BK em seu interior. Em pleural. No entanto, não parece ser adequado para
algumas formas paucibalares (como a pleura) tem sido o diagnóstico da meningoencefalite tuberculosa ou
aceito como critério definidor da doença. em teste sorológico.
A prova tuberculínica (PPD) indica se o orga- período de tempo, quando já teria sido perdida a
nismo foi infectado pelo BK. Embora não permita “memória imunológica”. A reação fraca pode repre-
distinguir entre infecção e doença tuberculosa, sentar infecção pelo BK ou por micobactérias não
em algumas situações, como na criança, ajuda na tuberculosas, ou vacinação com BCG. A reação for-
definição diagnóstica. Em áreas onde a vacinação te tanto pode espelhar infecção tuberculosa ou va-
BCG é feita rotineiramente, sua interpretação pode cinação com BCG recentes, como doença em ativi-
ser prejudicada. Seu valor diagnóstico é maior em dade. Nos infectados pelo HIV, uma medida >5mm
pessoas não vacinadas com BCG ou naquelas vaci- é considerado reatora. Diversos fatores, como ne-
nadas há longa data, já que a memória linfócitária oplasias (principalmente linfoma de Hodgkin), tu-
diminui com o tempo. berculose disseminada, derrame pleural tubercu-
A tuberculina utilizada no Brasil (PPD-Rt23) é loso, meningoencefalite tuberculosa, sarcoidose,
aplicada segundo técnica e material preconizados viroses (sarampo, febre amarela), amiloidose, hi-
pela Organização Mundial de Saúde, por via intra- potiroidismo, lepra lepromatosa, aids, desnutrição,
dérmica, na parte anterior do antebraço esquerdo, uso de corticosteróides, citostáticos e vacinas virais
na dose de 0,1ml equivalente a 2UT (unidade tu- (sarampo, pólio, febre amarela), uso de contracep-
berculínica). A leitura da prova tuberculínica é rea- tivos orais, entre outros, podem ser causa de dimi-
lizada de 72 a 96 horas após a aplicação, devendo- nuição da reação ao PPD.
se medir o diâmetro transverso da área endurecida Como a vacinação BCG, realizada em massa no
no local da aplicação em milímetros, desprezando- Brasil há muitas décadas, interfere na resposta ao
se o eritema circundante. Com base nessa medida, PPD, outros métodos imunes vêm sendo refinados
o indivíduo é classificado como “não-reator”, se o e seu rendimento vem sendo aprimorado; porém a
tamanho da área endurecida estiver entre 0 e 4mm; complexidade e o custo elevado são os maiores obs-
reator fraco, se estiver entre 5 e 9mm e em reator táculos para sua implementação, na investigação
forte se o diâmetro for igual ou superior a 10mm. rotineira, na maior parte do mundo. Ainda há muito
Ser “não-reator” pode ser interpretado como não que desenvolver nessa área, certamente, com papel
infectado pelo BK, anérgico ou infectado há longo de destaque no futuro próximo.
Em determinadas situações, identificar o indiví- sentes no BCG, nem na maior parte das outras mico-
duo infectado pelo BK é importante. Para isso, usa-se bactérias, não é afetado pela vacinação BCG, o que o
o teste tuberculínico (PPD) rotineiramente. No en- torna mais acurado que o PPD. Outros métodos para
tanto, devido à vacinação em massa com BCG, o PPD a detecção da infecção tuberculosa que vêm sendo
tem sensibilidade e especificidade limitadas. Por desenvolvidos baseiam-se no fato de que células T
isso, há investigações buscando identificar um novo sensibilizadas por antígenos tuberculosos produzi-
método que possa substituir a prova tuberculínica. rão IFN-γ, quando forem novamente expostas aos
O conhecimento sobre o papel do linfócito T e do in- antígenos. Os kits de IFN-γ usados atualmente usam
terferon-gama (IFN-γ) na patogenia da tuberculose antígenos específicos do BK, tais como o ESAT6 e
levou ao desenvolvimento de um teste in vitro para o CFP10, mais específicos que o PPD, já que esses
detectar a infecção tuberculosa, o ELISPOT. Como antígenos não existem no BCG e na maior parte das
ele se baseia no uso de antígenos do BK não pre- demais micobactérias.
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Essa é uma situação freqüente, na qual pode-se mente nessa situação, é a tomografia computadoriza-
lançar mão do escarro induzido ou da broncoscopia. da do tórax. Determinadas características das imagens
O rendimento de ambos os métodos é equivalente, são muito sugestivas de tuberculose. Em outro capítu-
tornando desnecessária a realização da broncoscopia lo desse curso será apresentado o emprego da radiolo-
na maior parte dos casos. Outro exame útil, particular- gia no diagnóstico da tuberculose.
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o comprometimento é articular, pode-se notar perda bra tende a forma de uma cunha, sendo acompanhada
da sombra da cortical na superfície de sustentação de pelo restante da coluna, com formação da cifose, carac-
peso e posterior diminuição dos espaços articulares. terística do mal de Pott. A dor é um sintoma importante,
Com a progressão da doença, surgem imagens líticas aparecendo sobretudo nos momentos de relaxamento
nas superfícies articulares, destruição óssea subcon- da musculatura paravertebral. Assim, é característico, na
dral e da articulação, sobrevindo a fusão óssea. Deve-se espondilite tuberculosa, o “grito noturno”, que aconte-
sempre buscar examinar o líquido sinovial, para auxiliar ce durante o sono. Para o diagnóstico, a lesão deve ser
o diagnóstico das formas articulares. Habitualmente, a biopsiada e o material colhido levado para exames bac-
concentração de proteínas é alta e a de glicose é baixa teriológico e histopatológico.
(em média 40mg abaixo da concentração sérica). A baci- Na tuberculose oftálmica, o diagnóstico é presun-
loscopia costuma ser positiva em 20% das vezes e a cul- tivo e leva em consideração o aspecto granulomatoso,
tura, em 90%. Quando a coluna vertebral é acometida, observado ao fundo de olho, e o PPD, que é reator for-
as vértebras dorsais baixas e lombares altas são as mais te. O diagnóstico diferencial deve ser feito com toxo-
freqüentemente lesadas. Caracteristicamente, a vérte- plasmose, lues, sarcoidose, brucelose e toxocaríase.
A suspeita diagnóstica na criança passa pela histó- tir dos 5 ou 6 anos. Dependendo da situação, podem
ria de contágio (que é tão mais presente quanto mais ser tentados outros métodos de coleta de material
jovem é a criança, já que o círculo de contatos cresce para diagnóstico, tais como lavado gástrico, broncos-
junto com a idade) e pela sintomatologia. Quando a copia e biópsia pulmonar por toracotomia. Por isso,
doença acomete o pulmão, as manifestações clínicas quando o exame bacteriológico não é possível ou é
podem ser variadas, mas o sinal que mais chama a negativo, um sistema de score é habitualmente usado
atenção é a febre, habitualmente moderada, persisten- para o diagnóstico da tuberculose pulmonar em crian-
te por mais de 15 dias e, freqüentemente, vespertina. ças (quadro 1).
Pode haver, também, irritabilidade, tosse, perda de A radiografia do tórax deve ser feita sempre que
peso e sudorese noturna. houver suspeita clínica de tuberculose. Os achados ra-
Ainda hoje, os métodos bacteriológicos e radio- diográficos mais sugestivos da tuberculose pulmonar
lógicos são os habitualmente empregados na rotina são: adenomegalias hilares e/ou paratraqueais (gânglios
das Unidades de Saúde. No entanto, é mais difícil obter mediastínicos aumentados de volume); pneumonias
material da lesão para estudo bacteriológico entre as com qualquer aspecto radiológico, de evolução lenta,
crianças menores. O exame de escarro para realização às vezes associadas a adenomegalias mediastínicas, ou
de baciloscopia e cultura, em geral, só é possível a par- que cavitam durante a evolução; infiltrado micro nodu-
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lar difuso (padrão miliar). Sempre deve ser feito o diag- muns, sem apresentar melhora após duas semanas. Em
nóstico diferencial com tuberculose, em crianças com adolescentes, na maioria das vezes, os achados são se-
pneumonia de evolução lenta, isto é, quando o paciente melhantes aos dos adultos: infiltrados pulmonares nos
vem sendo tratado com antibióticos para germes co- terços superiores, cavidades e disseminação brônquica.
Quadro1 - Diagnóstico de tuberculose pulmonar em crianças e adolescentes negativos à baciloscopia
Fontes: Stegen G., Jones K., Kaplan P. (1969) Pediatr 42:260-3; Tijidani O et al (1986 Tubercle 67:269-81; Crofton J et al (1992), Londres. Macmillan p;
29., adaptado por Sant´Anna C. C.
Estamos presenciando o aumento das taxas de (RMP), à isoniazida (INH) e à estreptomicina (SM), reve-
resistência do BK aos quimioterápicos, em diversas lou que a resistência primária a todas as drogas era de
regiões. No Brasil, um inquérito nacional, realizado no 8,5%. A resistência foi maior à INH (4,5%) do que à RMP
período 1995-1997 nas Unidades de Saúde ambulato- (1,3%) ou à SM (0,2). A resistência primária associada
riais das capitais, avaliando a resistência à rifampicina de INH com RMP (multidroga-resistência - MDR) foi
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de 1,1%. A resistência adquirida foi de 21% para todas almente, diversas técnicas que vêm sendo desenvol-
as drogas e de 7,9% para a MDR. Possivelmente, esses vidas, seja tomando por base o DNA amplificado pela
percentuais baixos refletem uma seleção de doentes, PCR ou sistemas como o MGIT®, o E-test®, o MB/BacT®
uma vez que a maior parte dos doentes resistentes po- e o ESP II®, vêm mostrando bons resultados na pesqui-
dem estar sendo tratada em hospitais ou em serviços sa da resistência do BK e estão se tornando o padrão-
que não entraram na amostra estudada. ouro, nas regiões mais desenvolvidas.
O diagnóstico da resistência é fundamental para Há três outros grupos de métodos de pesquisa de
a definição e o sucesso do esquema medicamentoso. resistência sendo avaliados: 1) kits baseados em fagos;
Os exames para testar a susceptibilidade incluem o 2) métodos colorimétricos e 3) kit de redução do nitrato.
método das proporções, o da concentração absoluta e O primeiro, usado para detectar a resistência do BK à ri-
o da taxa de resistência. Esse conjunto constitui o pa- fampicina, tanto diretamente do escarro como da cultu-
drão ouro, na maior parte das regiões. Recentemente, ra, permite o resultado em dois dias, em média. Os mé-
o BACTEC foi adaptado para testar a sensibilidade. No todos colorimétricos são baseados na redução de um
entanto, todos são trabalhosos e demorados, o que indicador colorido, adicionado ao meio de cultura após
vem incentivando a busca por outras técnicas. Dessa a exposição do BK a diferentes antibióticos. A resistência
forma, surgiram os métodos genotípicos, que buscam é detectada pela mudança na cor do indicador, a qual é
os determinantes genéticos da resistência, em vez do diretamente proporcional ao número de micobactérias
fenótipo resistente. Eles têm duas etapas básicas: a am- viáveis no meio. O kit de redução do nitrato é uma téc-
plificação do ácido nucléico, para aumentar seções do nica simples, baseada na capacidade do BK de reduzir o
genoma do BK conhecidas por estarem alteradas em nitrato a nitrito, o qual é detectado pela adição de um
cepas resistentes, e a busca, no material amplificado, reagente químico ao meio de cultura. Nesse método,
das mutações específicas correlacionadas com resis- o BK é cultivado na presença do quimioterápico e sua
tência conhecidas. Dentre as vantagens desse método, capacidade de reduzir o nitrato é medida, após 10 dias
pode-se citar a velocidade para saber o resultado (dias de incubação. As cepas resistentes reduzirão o nitrato, o
em vez de semanas), o fato de não precisar do cresci- que é revelado pela cor rosa avermelhado no meio de
mento do bacilo, a possibilidade de aplicação direta no cultura, enquanto as sensíveis perderão essa capacida-
material clínico, a maior biossegurança e a possibilida- de, por serem inibidas pelo antibiótico, deixando o meio
de de automação. Como desvantagem, há problemas incolor. Como vantagem agregada, pode-se citar o fato
com os inibidores usados no material examinado. Atu- de usar o mesmo meio de cultura convencional.
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