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República de Angola

Ministério da Saúde
Hospital Sanatório do Lubango

HEMOPTISE
Definição, Etiologia, Classificação e Conduta a seguir
perante a uma hemoptises

Dr. Marciaro Rodrigues Ernesto Kumbuessa


Objetivos

■ Geral:
1. Dotar os colegas de alguns conhecimentos teóricos sobre
hemoptise e sua abordagem na pratica medica.
■ Específicos:
1. Conhecer o conceito de hemoptise
2. Saber de forma breve o contexto no mundo em relação a
hemoptise
3. Distinguir as diferentes causas etiológicas da hemoptise
4. Saber atuar perante um caso na urgência de hemoptise
Introdução
■ A hemoptise é frequentemente encontrada na
prática clínica, sendo uma manifestação presente
em numerosas doenças. Pode ser uma
emergência respiratória com potencial risco de
morte, podendo indicar grave doença
intratorácica.
Epidemiologia
■ Por anos, a hemoptise foi considerada patognomónica da
tuberculose pulmonar, mas graças do efetivo controle da
tuberculose pulmonar em países do ocidente mais bem
desenvolvidos, tornou-se uma causa menos comum de
hemoptise, hoje a bronquectasia , o câncer do pulmão e a
bronquite são causas maiores de hemoptise em países
desenvolvidos.
■ Em Angola apesar da pequena quantidade de estudos
etiológicos, pode-se afirmar que a tuberculose, seja como
doença em actividade, seja por sequelas é a principal causa
de tuberculose.
Definição
■ Hemoptise é a expulsão pela boca de sangue do
aparelho respiratório misturado ou não com
expectoração, decorrente de hemorragia em qualquer
parte das vias aéreas, desde a laringe até as
estruturas parenquimatosas do pulmão, embora
geralmente o sangue venha do trato inferior: traqueia,
brônquios e pulmões.
■ Devido a maneira como se apresenta uma hemoptise
é primordial saber diferenciar com uma hematémese
Hematémese
■ Hematémese à saída pela boca de sangue com origem no
sistema gastrointestinal, habitualmente do esófago ou do
estômago. É também referido como "vómito de sangue".
Classificação etiológica
■ Os processos patológicos fundamentais que produzem hemoptise podem ser
classificados, de acordo com sua etiologia, como:
■ Inflamatórias:
1. Tuberculose pulmonar.
2. Bronquiectasia
3. Pneumonia (Pneumococos, Staphylococcus, Klebsiella,
Pseudomonas, devido a anaeróbios e vírus).
4. Abscesso pulmonar e gangrena.
5. Bronquite aguda e crônica.
6. Micoses pulmonares (histoplasmose, coccidiodomicose e
aspergilose).
7. Espiroquetose pulmonar.
8. Infecções parasitárias (ascaridíase e doença hidática).
Classificação etiológica
■ Neoplásicas:
1. Primários: laringe, traqueia, pulmões e mediastino.
2. Secundário: metástases pulmonares (excepcional).
■ Vasculares:
1. Tromboembolismo com infarto pulmonar.
2. Estenose mitral.
3. Aneurisma da aorta.
4. Edema agudo de pulmão.
5. Hipertensão pulmonar primária.
6. Aneurismas e fístulas arteriovenosas.
7. Vasculite (lúpus eritematoso, granulomatose de Wegener, poliarterite nodosa e
síndrome de Goodpasture).
8. Hemossiderose pulmonar idiopática.
Classificação etiológica
■ Hematológicas:
1. Púrpura trombocitopênica imune.
2. Hemofilia.
3. Leucemia aguda.
4. Agranulocitose.
5. Tratamento anticoagulante.
■ Traumáticos
1. Hematomas e feridas broncopulmonares.
2. Corpos estranhos endobrônquicos.
3. Como consequência da broncoscopia.
4. Fazendo uma biópsia brônquica ou pulmonar, transtorácica ou endobrônquica.
5. Aspiração transtraqueal.
Classificação etiológica
■ Outras:
1. Adenoma brônquico.
2. Endometriose pulmonar.
3. Broncolitíase.
4. Fibrose cística.
5. Doença pulmonar cística.
6. Pneumoconiose.
7. Fístula broncovascular.
Classificação etiológica
■ Embora a hemoptise possa surgir como manifestação
clínica ou complicação de qualquer uma das
condições citadas, nem todas são comuns.
Geralmente é causada por bronquiectasia, carcinoma
broncogênico, tuberculose pulmonar,
tromboembolismo com infarto pulmonar e pneumonia,
particularmente Klebsiella pneumoniae.
■ Há um pequeno número de pacientes nos quais não é
possível determinar a causa do sangramento, apesar
da investigação mais cuidadosa. Nesses casos, a
hemoptise é considerada essencial ou primária.
Patogenia
■ Ruptura dos vasos sanguíneos, por erosões,
lacerações ou ulcerações da parede durante a
formação de cavernas; por dilatação e ruptura dos
bronquíolos, traumas.
■ Hiperemia pulmonar.
■ Dilatação, shunts, malformações vasculares
arteriovenosas e circulação colateral broncopulmonar.
■ Discrasias sanguíneas e ruptura de um aneurisma da
aorta em um brônquio ou traquéia.
Diagnóstico positivo
■ Baseia-se principalmente na observação pelo médico,
quando possível, do episódio hemorrágico. Caso
contrário, a história referida pelo paciente e
corroborada pelo exame físico serão os elementos que
permitirão confirmar o diagnóstico.
■ A expulsão pela boca, por meio de esforços de tosse,
de sangue vermelho, espumoso, seguida nos dias
posteriores pela emissão de escarro com sangue
escuro, a chamada "cauda da hemoptise ", constituem
os elementos essenciais para o diagnóstico.
Diagnóstico etiológico
■ Sempre tente descobrir a causa da hemoptise.
■ Classicamente, a mais comum é a tuberculose
pulmonar, mas atualmente a bronquiectasia e as
neoplasias pulmonares são as causas mais comuns.
Classificação da Hemoptises
segundo a intensidade do
sangramento
■ Pequena: <100ml de sangue. O escarro fica
manchado de sangue ou com estrias e é expelido com
a tosse.
■ Mediana: de 100 à <200 mL é o mais comum. A
expulsão pela tosse de sangue vermelho espumoso e
nos dias seguintes, apresenta escarro corado com
sangue escuro ou enegrecido.
Classificação da Hemoptises
segundo a intensidade do
sangramento
■ Grande: É a expulsão de sangue cintilante, boca cheia.
Sua gravidade é condicionada:
1. Devido ao volume da hemorragia (entre 200-600 mL), já
que uma perda abundante de sangue pode ser súbita e
causar a morte em poucos instantes, mais do que por
hipovolemia aguda, pois o paciente “se afoga no próprio
sangue”. Quando a perda de sangue é igual a 600 mL em
24 horas ou mais, alguns a definem como hemoptise
maciça.
2. Devido à repetição de pequenos sangramentos, mas cuja
repetição pode levar a anemia aguda.
■ Deve-se avaliar imediatamente a intensidade do
sangramento e o estado hemodinâmico. É muito
provável que, em sua excitação, o paciente exagere a
quantidade de sangue que emitiu, mas a medida da
pressão e do pulso, e a busca por palidez cutâneo-
mucosa, sudorese e frialdade, são os elementos que
ajudam a determinar sua quantidade.
Tratamento
■ O tratamento do paciente com hemoptise compreende
dois aspectos: etiológico e sintomático. As manobras
diagnósticas devem ser simultâneas às medidas
terapêuticas: o início da medicação sintomática de
emergência nunca deve ser retardada para tentar
identificar a origem do sangramento.
■ A primeira coisa que deve ser definida é a magnitude
da hemorragia, pois o tratamento da hemoptise como
tal depende de sua quantidade.
Tratamento
■ Na hemoptise de pequena intensidade, o mais
importante é a aplicação de medidas gerais: repouso
físico e mental, sedativo ou ansiolítico e psicoterapia
de suporte para ajudar a tranquilizar o paciente. Este
último é sempre indicado, independentemente da
magnitude da hemorragia.
Tratamento
■ Na hemoptise de mediana intensidade, o seguinte deve
ser feito:
1. Repouso no leito na posição Fowler.
2. Mantenha as vias areias permeáveis .
3. Sedativos ou ansiolíticos (fenobarbital ou diazepam) por
via i.m.
4. Administrar Codeína como antitússico e sedativo (devido
ao seu leve efeito opioide), em doses de 15-60 mg/dose,
i.m. 6/6h dose máxima 360mg/dia
5. M o r f i n a : s o m e n t e n o s c a s o s e m q u e a c a u s a d a
hemoptise o permite, como tuberculose e câncer de
pulmão, pois reduz a expectoração e deprime o centro
respiratório
Tratamento
■ Na hemoptise de alta intensidade, o seguinte será
indicado:
1. Repouso absoluto no leito, na posição mais adequada
para favorecer a drenagem do sangue dos brônquios.
2. Permeabilizar e monitorar as vias aéreas pois o risco de
asfixia é grande e se necessário aspirar com técnicas
especializada.
3. Por meio da fibroendoscopia, a instalação brônquica de
precursores de fibrina ou fotocoagulação a laser também
pode ser realizada, uma vez identificado o local do
sangramento; Se um broncoscópio rígido for usado, a
lavagem com solução salina gelada é recomendada.
Tratamento
4. Administração de oxigênio.
5. Transfusões de sangue total pequenas e repetidas.
6. Administrar Acido Aminocaproico (2,5g/10ml) diluído
em 10ml de SSF 0,9% IV lento que de acordo com a
evolução pode ser repetido a cada 4-6 h.
7. Medicamento de coagulação apenas quando há
distúrbios hemorrágicos.
8. Sedativos, ansiolíticos, depressores da tosse e do
centro respiratório são contraindicados nessa situação.
Tratamento
■ Se o sangramento continuar, apesar das medidas
tomadas, as seguintes medidas são impostas:
■ Pneumotórax hemostático, quando o lado do sangramento
é conhecido.
■ Pneumoperitôneo, caso não tenha sido possível
determinar o local do sangramento.
■ A persistência da hemoptise fará com que seja avaliada
uma cirurgia de emergência, geralmente lobectomia.
■ E s t a c i r u rg i a é c o n t r a - i n d i c a d a n a D P O C g r a v e ,
neoplasias extensas, lesões difusas ou bilaterais e em
infecções concomitantes com insuficiência da função
pulmonar.
Atitude geral em relação à hemoptise
de forma pratica
■ Atendendo a gravidade e a urgência de uma hemoptise de forma pratica
na nossa sala de urgência perante a um caso semelhante devemos:
■ Manter o paciente em repouso no leito
■ Verificar as vias aéreas
■ Fazer a reposição volêmica com Lactato de Ringer (500ml) IV 2000ml
nas primeiras horas
■ Administrar Acido Aminocaproico (2,5g/10ml) diluído em 10ml de SSF
0,9% IV lento
■ Requisitar Hemoglobina e Grupo e Factor RH de urgência e em
dependência do valor da HB optar pela hemotransfusão de sangue total
450ml.
■ Administrar Codeína como antitússico e sedativo (devido ao seu leve
efeito opioide), em doses de 15-60 mg/dose, i.m. 6/6h dose máxima
360mg/dia
Conclusão

■ Hemoptise é a expulsão pela boca de sangue do


aparelho respiratório misturado ou não com
expectoração, de forma pratica deves saber como agir
perante uma hemoptise pois a mesma pode levar de
maneira fulminante a morte do pais, sendo a mesma
uma causa frequente de procura dos nossos serviços
tendo em conta a grande incidência de Tuberculose no
nosso pais.
Recomendações

■ Tendo em conta a grande quantidade de pacientes


que chegam ao nossos serviços com quadros de
hemoptise de variada intensidade, a equipa de
saúde, deve ser ágil e saber agir perante essa
situação e não deixar o paciente chegar a estados
críticos, pois a equipa dever tomar do CHA
(Conhecimento, Habilidade e Atitude), pois atuar de
forma rápida perante uma hemoptise é importante
para a sobrevivência do paciente.
Bibliografia

■ https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-
pulmonares/sintomas-de-doen%C3%A7as-
pulmonares/hemoptise Consultado dia 28/2/2021 as 17h
■ Reynaldo Rocca Goderich, et al. (2017). Temas de Medicina
interna, 5ª Edição, Pag 287.
■ Hemoptise: Etiologia, avaliação diagnóstica e tratamento | Batistella |
S a ú d e ( S a n t a M a r i a ) ( u f s m . b r )
https://periodicos.ufsm.br/revistasaude/article/view/6483/3937
Consultado dia 28/2/2021 as 17h
■ Harrison TR, et al (2020). Medicina interna de Harrison, 20ª
Edição.
■ Marsico GA, Guimarães CA, Montessi J, Costa AMM, Madeira L.
Controle da hemoptise maciça com broncoscopia rígida e soro
fisiológico gelado. J Pneumologia 2003;29:280-6.
OBRIGADO
Marciairo Rodrigues Ernesto Kumbuessa
Medico interno de especialidade

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