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Direito Civil - Aula 02 PDF
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DIREITO CIVIL
AULA 02
= PESSOAS JURÍDICAS
Aula 02
Pessoas Jurídicas
Sumário
INTRODUÇÃO E CONCEITO ................................................................. 03
Natureza Jurídica ........................................................................... 05
Pressupostos de Existência ............................................................ 05
Representação ............................................................................... 06
CLASSIFICAÇÃO GERAL ...................................................................... 08
Pessoa Jurídica de Direito Público .................................................. 09
Pessoa Jurídica de Direito Privado .................................................. 17
Organizações Sociais de Interesse Público (OSCIP) ....................... 23
Início da Existência Legal. Constituição ............................................. 32
Registro .......................................................................................... 33
INTRODUÇÃO
O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se
agrupar para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de
circulação de riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se
estabelecessem nas sociedades grupos de atuação conjunta na busca de
objetivos semelhantes. E o Direito, ante a necessidade crescente de agilidade
nas negociações, não ignorou estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa
jurídica é fruto desta evolução histórica-social.
CONCEITO
De forma técnica Pessoa Jurídica pode ser definida como a união de
pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas
finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e
obrigações. Assim, como sujeito de relações jurídicas, possui personalidade
jurídica individual e própria (autônoma), independente da personalidade das
pessoas naturais que a compõe, principalmente quanto ao patrimônio.
CARACTERÍSTICAS
São características essenciais das pessoas jurídicas: a) existência
distinta da de seus membros; b) patrimônio próprio e diverso do de seus
integrantes; c) responsabilidade civil e criminal: as pessoas jurídicas são
civilmente responsáveis pelos atos de seus empregados e prepostos (art.
932, III, CC), bem como por crimes ao meio ambiente (art. 225, CF/88); d)
ilegitimidade para certos atos, como fazer testamento, adotar, etc.
REPRESENTAÇÃO
Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser
representada por uma pessoa física, ativa e/ou passivamente,
exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Prevê o art. 46,
III, CC que no registro da pessoa jurídica se declarará o modo porque se
administra e representa, ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente.
Pelo art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo representante, dentro
dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a
pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. No entanto, se o representante
extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a
sociedade fica isenta de responsabilidade perante terceiros pelo ato do
administrador que extrapolar os limites do ato constitutivo (exceto se foi
beneficiada com a prática do ato, quando então passará a ter responsabilidade
na proporção do benefício auferido). A doutrina chama isso de teoria ultra
vires societatis (além do conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso de
poder do administrador, ocasionando violação do objeto social lícito para o qual
foi constituída a empresa. Isso funciona como uma forma de proteção da
pessoa jurídica, responsabilizado apenas o sócio.
1. Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno → são representadas em
juízo, ativa e passivamente (art. 75, incisos I a IV, do Código de Processo Civil
de 2015):
a) União → pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante
órgão vinculado.
b) Estados e Distrito Federal → por seus Procuradores.
c) Municípios → por seu Prefeito ou Procurador.
I. DIREITO PÚBLICO
A) Interno (art. 41, CC)
1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, Territórios
e Municípios.
2) Administração Indireta: autarquias, associações e demais
entidades criadas por lei (são as fundações públicas de direito público).
B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas regidas
pelo direito internacional público.
AUTARQUIAS
São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade
administrativa típica, com capacidade de autoadministração nos limites
estabelecidos em lei. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa
ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS
O art. 241, CF/88 autorizou a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios a realizarem mediante lei os chamados consórcios públicos e os
convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão
associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de
encargo, serviços, pessoal e bem bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos. A Lei n° 11.107/05 regulou os consórcios públicos, cumprindo o
disposto na Constituição sendo uma nova forma de se prestar um serviço
público. Essa lei optou por atribuir personalidade jurídica aos consórcios
públicos, dando-lhes a forma de uma associação, podendo ser de pessoa
jurídica de direito público (associação pública) ou de direito privado.
Quando o consórcio público for pessoa jurídica de direito privado,
assumirá a forma de “associação civil”, sendo que aquisição da personalidade
ocorre com a inscrição dos atos constitutivos no registro civil das pessoas
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jurídicas. Mesmo assim, estes consórcios estão sujeitos às normas de direito
público no que diz respeito à realização de licitação, celebração de contratos,
prestação de contas, admissão de pessoal, etc.
Quando criado com personalidade de direito público, o consórcio
público se apresenta como uma associação pública. O consórcio público será
constituído por contrato, cuja celebração dependerá de prévia subscrição de
protocolo de intenções. As questões de prova em concurso têm entendido que
as associações públicas são uma espécie de autarquia (e não uma nova
espécie de entidade da administração indireta).
FUNDAÇÕES PÚBLICAS
Fundação, de uma forma geral, é uma instituição do direito privado. Sua
criação resulta da iniciativa de uma pessoa (física ou jurídica), que destina um
acervo de bens particulares (que adquirem personalidade jurídica) para a
realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional,
assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade.
No entanto, as fundações também podem ter personalidade jurídica de
direito público, segundo dispõe a sua norma instituidora. Ultimamente o Poder
Público tem instituído fundações para a execução de algumas atividades de
interesse coletivo, sem finalidade lucrativa (assistência social, assistência
médica e hospitalar, educação e ensino, pesquisa científica, atividades culturais,
proteção ao meio ambiente, etc.). Elas integram a administração pública
indireta no nosso sistema jurídico, pois uma pessoa política faz a dotação
patrimonial e destina recursos orçamentários para a manutenção da entidade.
No entanto, como suas atividades não são exclusivas do Poder Público costuma-
se dizer que elas exercem atividades atípicas do Poder Público.
As fundações públicas se assemelham às fundações particulares, mas
se diferenciam nos seguintes aspectos: enquanto a fundação privada é criada a
partir de um ato (inter vivos ou causa mortis) de um particular e com
patrimônio deste, a fundação pública é criada mediante uma lei específica, a
partir de um patrimônio público. Ex.: FUNASA (Fundação Nacional da Saúde),
FUNARTE (Fundação Nacional das Artes), FUNAI (Fundação Nacional do Índio),
FBN (Fundação Biblioteca Nacional), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), FUB (Fundação
Universidade de Brasília), etc.
Se observarmos o art. 41, CC, que arrola as pessoas jurídicas de direito
público, vamos concluir que ele não menciona a “fundação”, como sendo uma
de suas espécies. No entanto, segundo a doutrina, as fundações públicas
estariam implícitas na expressão “demais entidades de caráter público criadas
AUTARQUIAS FUNDAÇÕES
Atividades típicas (exclusivas) Atividades atípicas da
Atribuições
ou atípicas da Administração. Administração.
Apenas Direito Público. Direito Público ou Privado.
Regime Jurídico
Observações
01) Segundo a doutrina os sindicatos entram no item associação, pois o
Enunciado 142 das Jornadas de Direito Civil do CJF afirma que o sindicato possui
natureza associativa.
2. PARTIDOS POLÍTICOS
Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias
comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para a
consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no
interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e
defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo
com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora
tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas
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jurídicas de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos
devem ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas
Jurídicas da Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95).
3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado,
formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada força
(ou forças) sobrenatural, por meio de doutrina e ritual próprios, envolvendo
preceitos éticos. Atualmente a Lei n° 10.825/03 (que alterou o Código Civil)
deixou bem claro que elas são pessoas jurídicas de direito privado, tendo
também natureza de associação civil. É vedado ao poder público negar-lhe o
reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos necessários a seu
funcionamento (art. 44, §1°, CC). Tal dispositivo está em consonância com o
texto constitucional (art. 5°, VI, CF/88).
TERCEIRO SETOR
Trata-se de uma terminologia sociológica que dá significado a todas as
iniciativas privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil. A
expressão é uma tradução do inglês third sector, vocábulo muito utilizado nos
Estados Unidos para definir as diversas organizações sem vínculos diretos com
o Primeiro Setor (setor público, o Estado) e o Segundo Setor (setor privado, o
mercado). Em outras palavras, o terceiro setor é o conjunto de entidades da
sociedade civil com fins públicos e não lucrativos. Ex.: ONG e OSCIP.
• As ONGS (Organizações Não Governamentais) são grupos organizados,
sem fins lucrativos, constituídas formal e autonomamente, caracterizadas
por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo
exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das
condições da cidadania. Por não terem finalidade econômica, organizam-se
como fundações ou associações.
• OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público): é um
título fornecido pelo Ministério da Justiça, cuja finalidade é facilitar o
aparecimento de parcerias e convênios com todos os níveis de governo e
órgãos públicos (federal, estadual e municipal), permitindo que doações
realizadas por empresas possam ser descontadas no imposto de renda. Na
realidade OSCIPs são ONGs criadas por iniciativa privada, que obtêm um
certificado emitido pelo poder público federal ao comprovar o cumprimento
de certos requisitos, especialmente aqueles derivados de normas de
transparência administrativas. Em contrapartida, podem celebrar com o
poder público os chamados termos de parceria, desde que os seus
objetivos sociais e as normas estatutárias atendam os requisitos da lei. Esses
termos também preveem sanções e penalidades em caso de descumprimento
das obrigações assumidas. Elas são reguladas pela Lei n° 9.790/1999 (com
5. SOCIEDADES
Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica
própria e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato
constitutivo), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar
lucros. Assim, duas ou mais pessoas, visando realizar negócios lucrativos,
resolvem criar uma entidade e aplicar nela dinheiro e serviço, formalizando por
escrito o ato constitutivo; ao se tornarem sócias elas passam a ter o direito de
participar dos resultados econômicos da entidade criada. Ela está prevista em
outro tópico do Código Civil, dentro do Livro II da Parte Especial (Do Direito de
Empresa), a partir do art. 981. Prevê este dispositivo: Celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens
ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si,
dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de
um ou mais negócios determinados.
Características das Sociedades em Geral
• Pluralidade: devem ser formadas por duas ou mais pessoas. A lei admite
exceções, as chamadas sociedades unipessoais que veremos adiante, as
quais possuem apenas um sócio.
Observações Importantes
01) Sociedade Simples e Sociedade Empresária não são tipos societários,
mas sim naturezas de sociedades. A sociedade simples possui regras próprias de
funcionamento (arts. 997/1.038, CC). Já a sociedade empresária não possui
regras próprias, mas pode assumir algum dos tipos societários (arts. 1.039 a
1.092, CC).
02) A Sociedade Simples também pode optar por adotar qualquer dos tipos
societários previstos na lei, inclusive as sociedades por ações.
03) Toda Sociedade por Ações (S/A e C/A) é uma sociedade empresária,
independentemente de seu objeto (seja ele de natureza simples ou de natureza
empresária).
04) Desta forma, se uma Sociedade Simples adotar o tipo societário
Sociedade Anônima (que é sociedade por ações) será considerada
automaticamente como Sociedade Empresária por força de lei (primeira parte do
parágrafo único do art. 982, CC), estando sujeita às regras de registro
empresarial próprio, à escrituração própria e obrigatória do empresário, à Lei
das S/A e de Falências, etc.
Observações
01) Embora haja uma dualidade no objeto (exploração de atividade
econômica ou prestação de serviços públicos), segundo posicionamentos
doutrinários modernos, as empresas públicas e as sociedades de economia
mista, qualquer que seja o objeto, não estão sujeitas à falência, por força da
nova lei de falências (Lei n° 11.101/2005) que em seu art. 2°, I, afirma: “Esta
lei não se aplica a: I. empresa pública e sociedade de economia mista (...)”.
Outro ponto é que ainda que ambas estejam sujeitas ao regime das empresas
privadas (quando exploram atividade econômica), continuam obrigadas à
licitação.
02) O Supremo Tribunal Federal considera impenhoráveis os bens das
empresas públicas e das sociedades de economia mista, sempre que seu objeto
de atuação seja a prestação de serviço público de prestação obrigatória pelo
Estado.
Empresas Públicas: são pessoas jurídicas de personalidade de direito
privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo Poder
Público, mediante autorização de lei específica a se constituir com capital
próprio e exclusivamente público, para exploração de atividade
econômica ou prestação de serviços públicos ou coordenadora de obras
públicas, podendo se revestir de qualquer das formas de organização
empresarial (Ltda., S/A, etc.). Ex.: Empresa Brasileira de Correios de
Telégrafos (EBTC), Caixa Econômica Federal (CEF), Casa da Moeda, Serviço
de Processamento de Dados (SERPRO), EMURB, etc.
DISTINÇÕES
Associação X Sociedade
• Semelhanças: conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de
certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única.
• Distinções: Associação → não há fim lucrativo (ou de dividir resultados,
embora tenha patrimônio), formado por contribuição de seus membros para
a obtenção de fins culturais, esportivos, religiosos, etc. Sociedade → visa fim
econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios.
Associação X Fundação
• Semelhanças: ambas não visam finalidade lucrativa.
• Distinções: Fundação → atribuição de personalidade jurídica a um
patrimônio; possui objeto mais restrito. Fiscalização do MP. Associação →
aglomeração orgânica de pessoas (naturais ou jurídicas); possui um objeto
mais amplo para sua criação (admite também objeto recreativo, esportivo,
etc.).
REGISTRO
Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a
personalidade. Tal registro se dá no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. No
entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), sendo competente
para tais atos as Juntas Comerciais.
Art. 1.150, CC: O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao
Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas (...).
O registro é ato formal e solene, pois se trata de requisito essencial
para a validade do ato instituidor da pessoa jurídica. Segundo o art. 46, CC o
registro deve conter os seguintes elementos: a) a denominação, os fins, a
sede, o tempo de duração e o fundo social (quando houver); b) o nome e a
individualização dos fundadores ou instituidores e dos diretores; c) forma de
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administração e representação ativa e passiva, judicial e extrajudicial; d)
possibilidade e modo de reforma do estatuto social; e) previsão da
responsabilidade subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais; f) condições de
extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio. A ausência de algum
desses elementos é causa de anulabilidade do estatuto, cuja ação decai no
prazo de 03 (três) anos (art. 45, parágrafo único, CC).
Uma pessoa jurídica começa a existir no momento em que é efetuado o
seu registro, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações,
obtendo capacidade patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, não
se confundindo com a personalidade de seus membros. Dispõe o art. 45, CC:
“Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando
necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no
registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo”.
É interessante deixar claro que se uma sociedade que ainda não foi
registrada estiver praticando atos, nos termos do art. 986, CC, será regida pelas
normas da sociedade comum (que é uma espécie do gênero sociedade sem
personalidade jurídica) e subsidiariamente pelas normas da sociedade simples
(espécie do gênero sociedades personificadas). Isso quer dizer que a sociedade
existe de fato. Porém, nos termos do art. 990, CC não há separação de
patrimônio, ou seja, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente
pelas obrigações da sociedade.
Atenção
• Personalidade da Pessoa Natural: nascimento com vida. O registro
possui apenas efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de
pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação pré-
existente: o nascimento com vida.
• Personalidade da Pessoa Jurídica: registro. O registro neste caso possui
efeito constitutivo; é com ele que a pessoa jurídica “nasce” ou se
constitui juridicamente como ente autônomo.
• Observação importante para concursos: digamos que uma sociedade
funcionou durante cinco anos sem ser registrada. Após este prazo,
resolveram registrá-la. Pergunta-se: o registro retroage desde o início das
atividades da sociedade ou somente a partir do registro? Resposta: os
efeitos do registro da pessoa jurídica são sempre para o futuro (efeito ex
nunc); não se pode retroagir, legitimando o passado.
Observações
01) A doutrina e a jurisprudência de forma majoritária entendem que na
hipótese de uma conduta omissiva por parte do Estado, a sua
responsabilidade dependeria de demonstração de culpa da sua parte. Seria
então mais um caso de responsabilidade subjetiva do Estado. No entanto há
quem sustente, também nesse caso, de responsabilidade objetiva.
02) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que as ações fundadas na
responsabilidade objetiva só podem ser ajuizadas contra a pessoas jurídica. No
entanto, se o autor se dispõe a provar a culpa ou dolo do servidor
(responsabilidade subjetiva), abrindo mão de uma vantagem, poderá movê-la
diretamente contra o causador do dano. Isso pode ser mais vantajoso porque a
execução contra o particular é menos demorada (não há a expedição dos
famosos precatórios). E se preferir mover a ação contra ambos, deverá também
arcar com o ônus de provar a culpa do funcionário.
03) Cabe ação contra o Estado ainda quando não se identifique o funcionário
causador do dano (“culpa anônima da administração”).
04) A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na hipótese
de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n° 9.605/98).
Curiosidade Histórica
Anteriormente não havia no Brasil uma previsão expressa na lei. Quem
primeiro tratou do tema no Brasil foi o Prof. Rubens Requião. Relata a doutrina
que o primeiro caso na história abordando o tema ocorreu na Inglaterra em
um famoso processo que ficou conhecido como “Salomon versus Salomon & Co.
Ltd.”, julgado pela House of Lords (Câmara dos Lordes), em 1897. Uma pessoa
chamada Aaron Salomon constituiu uma sociedade com seis sócios, todos eles
membros de sua família, cedendo uma ação para cada e reservando outras vinte
mil para si. A empresa (pessoa jurídica), que passava por dificuldades
financeiras, emitiu títulos privilegiados, sendo que o próprio Salomon (pessoa
física) os adquiriu. A pessoa jurídica Salomon & Cia. Acabou falindo... No
entanto, antes disso, pagou seu débito para com a pessoa física Aaron Salomon
Por esse dispositivo civil permite-se ao Juiz (somente ele e não uma
autoridade administrativa ou mesmo o Ministério Público), de forma
fundamentada (não pode agir de ofício, ou seja, sem ser provocado por um
interessado), ignorar os efeitos da personificação da sociedade, para atingir e
vincular também as responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a
consumação de fraudes e abusos, desde que causem prejuízos e danos a
terceiros. Os sócios e administradores serão então incluídos no polo passivo do
processo, respondendo com seus bens particulares nos negócios jurídicos
praticados em nome da pessoa jurídica pelos danos causados a terceiros.
Uma pessoa lesada por uma empresa pode ser ressarcida por meio das
próprias pessoas que constituíram a empresa. Neste caso específico e
determinado, o Juiz não leva em consideração a pessoa jurídica (daí o termo
“desconsideração da pessoa jurídica”), decidindo como se a própria pessoa física
tivesse realizado o negócio. No entanto, o Juiz deve agir com cautela ao decidir
pela desconsideração. Deve examinar cada caso em particular, se foram
preenchidos todos os requisitos legais para decretação da medida.
Segundo entendimento jurisprudencial a desconsideração não depende
de ação específica e autônoma, podendo ser incidental ao processo que se
cobra o cumprimento das obrigações da empresa. Pela corrente majoritária
referente ao art. 50, CC, dispensa-se a prova do dolo específico do sócio ou
administrador.
REQUISITOS. O art. 50, CC exige, de forma alternativa, os seguintes
requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica: a) desvio de
finalidade; b) confusão patrimonial.
a) Desvio de Finalidade: realização de atividades fora das autorizadas no
contrato social para a pessoa jurídica; exercício de atividades ilícitas;
utilização da pessoa jurídica para o fim de enriquecimento de seus sócios em
detrimento da saúde administrativa da empresa (retirada de capital financeiro
fazendo com que o patrimônio deixe de ser capaz de suprir as obrigações),
etc.
b) Confusão Patrimonial: quando não se distingue os bens do sócio e os da
empresa (ex.: bem imóvel utilizado para os interesses da pessoa jurídica é
adquirido e colocado em nome do sócio).
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
a) Vontade humana criadora (affectio societatis); b) Licitude dos objetivos; c)
Obediência aos requisitos legais (existência e capacidade reconhecidas pela lei).
NATUREZA JURÍDICA
Corrente majoritária → Teoria da Realidade Técnica (a pessoa jurídica existe
de fato e não como mera abstração).
CARACTERÍSTICAS
a) existência distinta da de seus membros; b) patrimônio próprio e diverso do de
seus integrantes; c) responsabilidade civil e criminal; d) ilegitimidade para certos atos
(ex.: fazer testamento).
CLASSIFICAÇÃO PRINCIPAL
A) Pessoas Jurídicas de Direito Público
1. Externo (art. 42, CC) → a) Estados estrangeiros; b) outras pessoas regidas
pelo Direito Internacional Público (ONU, OEA, uniões aduaneiras como o
MERCOSUL, Santa Sé, etc.
2. Interno (art. 41, CC) → O Estado.
a) Administração Direta ou Centralizada → União, Estados Membros,
Distrito Federal, Territórios e Municípios.
b) Administração Indireta ou Descentralizada → autarquias comuns ou
especiais (agências reguladoras); associações públicas (consórcios: Lei n°
11.107/05); demais entidades de caráter público criadas por lei (fundações
públicas de direito público).
B) Pessoas Jurídicas de Direito Privado (art. 44, CC)
1. Espécies
a) Fundações Particulares: universalidades de bens personificados em
atenção ao fim que lhes dá unidade (arts. 62/69, CC). Registro da escritura
pública ou testamento. Elementos Fundamentais: a) patrimônio (dotação
de bens livres que passam a ser inalienáveis); b) finalidade: especificação dos
objetivos (em regra imutáveis e sem finalidade lucrativa, previstos no
parágrafo único, do art. 62, CC). Fiscalização pelo Ministério Público.
b) Partidos Políticos (Lei n° 10.825/03).
c) Organizações Religiosas (Lei n° 10.825/03).
d) Associações: união de pessoas, sem finalidade lucrativa (seu objetivo
pode ser moral, cultural, esportivo, beneficente, etc.). Liberdade de associação
para fins lícitos (art. 5°, XVII, CF/88). Entre os associados não há direitos e
obrigações recíprocas. Registro do Estatuto. Incluem-se os sindicatos.
e) Sociedades: pessoas naturais que formalizam por escrito uma união de
esforços, aplicando dinheiro e serviço para a realização de negócios
lucrativos. Natureza: simples ou empresárias → ambas visam finalidade
lucrativa; no entanto a diferença está no seu objeto: exercício (ou não) de
atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no art. 967, CC. As
sociedades simples são constituídas em geral por profissionais liberais ou
RESPONSABILIDADE
1. Responsabilidade Contratual: tanto as pessoas jurídicas de direito público
como as de direito privado são responsáveis pelo que estiver disposto no contrato
firmado, respondendo com seus bens pelo eventual descumprimento de cláusulas
contratuais (art. 389, CC). Nos termos do CDC, têm responsabilidade objetiva por fato
e vício do produto. Obs.: ambas também possuem responsabilidade penal (atividade
lesiva ao meio ambiente: art. 3°, da Lei n° 9.605/98).
2. Responsabilidade Extracontratual:
a) Pessoa Jurídica de Direito Privado. Regra → Responsabilidade indireta, ou
seja, a pessoa jurídica deve reparar o dano causado pelo seu representante que
agiu de forma contrária ao direito. Além disso, é solidária, pois em razão do
vínculo entre a pessoa jurídica e seus funcionários, a vítima pode reclamar os
danos tanto da pessoa jurídica como do agente causador do dano. Não há
presunção de culpa (in eligendo ou in vigilando): arts. 931, 932, III, 933, CC.
b) Pessoa Jurídica de Direito Público. Regra → Responsabilidade objetiva.
Deve indenizar todos os danos que seus funcionários, nessa qualidade, por atos
comissivos, causem aos direitos de particulares. O Estado, como regra, responde
independentemente de culpa (em sentido amplo), tendo direito a ação de
regresso contra o funcionário causador do dano, se provada a culpa deste. Art.
37, §6°, CF/88 e art. 43, CC. Teoria do risco administrativo: permite-se que a
responsabilidade seja afastada em algumas hipóteses (ex.: ausência de nexo de
causalidade entre a conduta e o dano, culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou
força maior, etc.).
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
Exercícios Comentados
Fundação Carlos Chagas
01) (FCC – Ministério Público de Contas do Estado do Mato Grosso –
Analista de Contas – Direito – 2013) União de pessoas que se organizam
para fins não econômicos é conceito que se aplica às
(A) associações.
(B) sociedades anônimas.
(C) sociedades empresariais.
(D) fundações.
(E) sociedades simples.
COMENTÁRIOS. Estabelece o art. 53, CC: “Constituem-se as associações pela
união de pessoas que se organizem para fins não econômicos”. Gabarito: “A”.