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EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE FORQUILHINHA/SC

Distribuição por dependência: autos de origem nº. 030254- 52.2018.8.24.0166

MARILENE ARAÚJO, brasileira, solteira,


desempregada, portadora do CPF nº X , RG nº X,
residente e domiciliada na rua Pedro Ivo, nº 33, Bairro
da Xiquinho, forquilhinha, CEP nº 88804-230,
endereço eletrônico tainhaemuitovinho@gmail.com,
vem por intermédio de seu procurador infra-assinado
com base no art. 914, do Código de Processo Civil,
interpor EMBARGOS À EXECUÇÃO em face de
BRENO SOUZA, brasileiro, solteiro, frentista, CPF nº
X, RG nº X, endereço eletrônico
bruninho@yahoo.com, residente e domiciliado na
Rua Próspera, nº 44, bairro Joaquina, em
Forquilhina/SC, CEP nº 8803-30, conforme os fatos
a seguir aduzidos:
I – DOS FATOS
No dia 15 de março de 2019 a embargante recebeu Mandado de Citação
e Intimação referente à ação de execução de título extrajudicial ajuizada pelo
embargado, em que o mesmo suscita pretensão a satisfação de crédito de R$
15.000,00 (quinze mil reais), consubstanciado em instrumento particular de
confissão de dívida, subscrito por Marilene e duas testemunhas, e vencido há
mais de um mês.

Ainda relativo ao processo que tramita na comarca de forquiliha/SC, o


embargado indicou à penhora valores que Marilene tem em três contas
bancárias, um carro e o imóvel em que reside com sua família. Inclusive,
sugerindo que a embargante estaria se desfazendo dos bens com pretensão de
fraudar a execução.

Todavia, acontece que a partir da verdade dos fatos exposta pela


embargante, uma releitura há de ser feita em toda a história. Na época, a
embargante foi ludibriada pelo embagado – seu companheiro em relacionamento
sério na ocasião – que utilizou-se da intimidade com aquela para fraudar o
processo e faze-la crer estar assinando documento diverso daquele, que em tese
seriam para que o embargado pudesse gozar de benefícios junto a providência.

Não só as testemunhas podem comprovar a fraude e a manipulação a


embargante, como também os itens embargados encontram-se impenhoráveis
face as circunstâncias da embargante, o que enseja não só a liberdade de seus
bens como também a anulação de todo o processo.

II – DOS FUNDAMENTOS

Primeiramente cabe destacar o cabimento dos embargos e sua função


enquanto instrumento de defesa e proteção do direito, visando assegurar sempre
a verdade real no processo e evitando causar danos injustos e desnecessários,
conforme CPC:

Art. 914. O executado, independentemente de penhora,


depósito ou caução, poderá se opor à execução por meio de
embargos.
§ 1º Os embargos à execução serão distribuídos por
dependência, autuados em apartado e instruídos com cópias
das peças processuais relevantes, que poderão ser declaradas
autênticas pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade
pessoal.
§ 2º Na execução por carta, os embargos serão
oferecidos no juízo deprecante ou no juízo deprecado, mas a
competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se
versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da
avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo
deprecado.

Exposto o instrumento e seu respectivo embasamento legal, a lei também


orienta as possíveis alegações por parte do embargado quando na utilização de
tal instrumento, conforme CPC:

Art. 917. Nos embargos à execução, o executado


poderá alegar:
I - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da
obrigação;
II - penhora incorreta ou avaliação errônea;
III - excesso de execução ou cumulação indevida de
execuções;
IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos
casos de execução para entrega de coisa certa;
V - incompetência absoluta ou relativa do juízo da
execução;
VI - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir
como defesa em processo de conhecimento.(gn)

O presente embargo insere-se então no bojo do inciso ´VI´ do artigo 917


do Código de Processo Civil, espaço em que verifica-se a anulabilidade do
negócio jurídico que ensejou a ação de execução.

Ná época, o embargado tinha relacionamento sério com a embargante, e


utilizando-se da confiança oriunda da relação, fez com que a embargante
assinasse documentos com teor diverso daquele que acreditava ter.

Alegando estar requerendo benefícios do INSS, o embargante ludibriou e


e insistiu reiteradamente para que a embargante assinasse o documento em
questão, dizendo que lhe traria um benefício de R$ 15.000,00 (quinze mil reais)
e que ela apenas precisaria assinar para atestar.

Tal é a verdade dos fatos que na ocasião da assinatura, uma das duas
testemunhas era sua vizinha e confirmar como o embargado gozou da confiança
de sua parceira para enganar não só a ela como também a própria testemunha,
ambas convictas que se tratava de fato de um benefício do INSS e não que
estaria se comprometendo com uma dívida de tal volume financeiro.

A situação é pura subsunção a abstração legal projetada no Código Civil:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na


lei, é anulável o negócio jurídico:
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de
perigo, lesão ou fraude contra credores.

Também como:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando


as declarações de vontade emanarem de erro substancial que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face
das circunstâncias do negócio

Acontece que sob a aparência de um negócio ficiticio, o embargado fez a


embargante assinar outro diverso e verdadeiro, claramente com intuito de
prejudica-la. Resta nítida a fraude, nas palavras de Venosa “ fraude nada mais
é do que o uso de meio enganoso ou ardiloso com o intuito de contornar a lei ou
um contrato, seja ele preexistente ou futuro”. (VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito
civil: parte geral, 11 ª edição, página 213 (Atlas, 2015).

Voltando ao artigo 917 do CC, inciso III, verifica-se no caso em questão


não só o excesso na execução como a impenhorabilidade dos itens requeridos.
Sendo a suposta dívida no valor de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), o embargado
requereu os valores contidos na caderneta de poupança da embargada, junto ao
seu carro e imóvel. A seguir se verificará a impenhorabilidade dos itens:

Sobre o imóvel, a lei 8.009/90 e o artigo 833 do CC declaram a


impenhorabilidade dos bens de família, conforme letra da lei:

Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade


familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de
dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza,
contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta
lei.
CC. Art. 833. São impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não
sujeitos à execução

A impenhorabilidade dos bens, conforme demonstrado acima,


torna impossível a penhora do imóvel da embargante, visto que é sua única
residência e que sem a mesma ficaria a deriva sem condição de subsistir. Não
obstante, tendo em vista que sua atividade profissional é de motorista de UBER,
sua única fonte de renda, fica impenhorável o veículo, conforme visto na
jurisprudência:

Embargos do devedor. Execução. Contrato de abertura de


crédito fixo. Penhora de veículo. Táxi. Instrumento de trabalho
utilizado como único sustento do devedor avalista e de sua
família. Impenhorabilidade. Código de Processo Civil, art. 649,
inc. VI. Recurso desprovido. (TJSC, Apelação Cível n.
2002.027298-7, de Santa Cecília, rel. Des. Nelson Schaefer
Martins, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 21-07-2005)
E também:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO.


CARÊNCIA DE AÇÃO. LIQUIDEZ, CERTEZA E
EXIGIBILIDADE DO TÍTULO. INSTRUMENTO DE CONFISSÃO
DE DÍVIDA. PRELIMINAR AFASTADA. Com a edição da
Súmula 300 do STJ, ficou consolidado que a obrigação contida
no instrumento de confissão de dívida, quando possui os
atributos necessários à executividade: a liquidez, a certeza e a
exigibilidade do crédito, é título executivo nos termos do artigo
586 do Código de Processo Civil. CONEXÃO. INEXISTÊNCIA.
IDENTIDADE DE PARTES. OBJETOS DIVERSOS. ARTIGO
103 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Conexão é o
fenômeno processual determinante da reunião de duas ou mais
ações, para julgamento em conjunto, com o fim de evitar
decisões conflitantes. Mas só haverá conexão quando duas ou
mais ações possuírem o mesmo objeto ou causa de pedir.
ENCARGOS CONTRATUAIS. JUROS E MULTA. COBRANÇA
SIMULTÂNEA. PATAMAR LEGAL. AUSÊNCIA DE
ABUSIVIDADE. Possível é a cobrança simultânea dos juros
moratórios e da multa quando aqueles são limitados à taxa de
1% (um por cento) ao mês, consoante a Súmula 379 do Superior
Tribunal de Justiça, e esta, em 2% (dois por cento). MULTA
COMPENSATÓRIA CUMULADA COM MULTA MORATÓRIA
DECORRENTE DO MESMO FATO GERADOR.
INVIABILIDADE . "[...] Inviável a cumulação da multa
compensatória e cláusula penal moratória quando decorrentes
do mesmo fato gerador e com o mesmo caráter punitivo [...]"
(TJSC, Apelação Cível n. 2009.062093-3, de Indaial, rel. Des.
Jairo Fernandes Gonçalves, DJe de 7-7-2011). PENHORA DE
VEÍCULO. TÁXI. INSTRUMENTO DE TRABALHO. ÚNICO
MEIO DE SUSTENTO. IMPENHORABILIDADE. INTELIGÊNCIA
DO ARTIGO 649, INCISO V, DO CPC. São absolutamente
impenhoráveis os livros, as máquinas, os utensílios e os
instrumentos necessários ao exercício de qualquer profissão,
nos termos da norma contida no art. 649, inciso V, do CPC. Essa
impenhorabilidade alcança o único táxi de motorista profissional.
SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. NECESSIDADE DE
REDISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS. (TJSC, Apelação Cível n.
2009.055763-0, de Indaial, rel. Des. Janice Goulart Garcia
Ubialli, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 25-04-2013).

Ainda sobre a impenhorabilidade, o artigo 833do CC dispõe sobre a


caderneta de poupança:

CC. Art. 833. São impenhoráveis:


X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite
de 40 (quarenta) salários-mínimos;

Sendo que a embargada não possui valor acima de 40 (quarenta)


salários mínimos, tal vedação legal torna essa quantia também impenhorável.
Novamente, é tema pacífico na jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. DECISÃO AGRAVADA QUE RECONHECEU
A IMPENHORABILIDADE DO MONTANTE BLOQUEADO EM
CONTA DA EXECUTADA E DETERMINOU SUA LIBERAÇÃO.
INSURGÊNCIA DO BANCO EXEQUENTE. BLOQUEIO
REALIZADO EM CONTA COM INVESTIMENTO EM LCI -
LETRAS DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO. ENTENDIMENTO DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO SENTIDO DE QUE A
IMPENHORABILIDADE DO ART. 833, X, DO CPC ALCANÇA
NÃO SÓ VALORES POUPADOS EM CADERNETA DE
POUPANÇA, MAS TAMBÉM EM FUNDOS DE
INVESTIMENTO, CONTA CORRENTE OU DINHEIRO EM
ESPÉCIE, ATÉ O LIMITE DE 40 (QUARENTA) SALÁRIOS
MÍNIMOS. IMPENHORABILIDADE RECONHECIDA EM
RELAÇÃO A ESSE MONTANTE. DECISÃO MANTIDA NESSE
PONTO. ACOLHIMENTO DA INSURGÊNCIA, NO ENTANTO,
PARA MANTER O BLOQUEIO SOBRE A QUANTIA QUE
EXCEDE O LIMITE DO ART. 833, X, DO CPC. RECURSO
CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJSC, Agravo de
Instrumento n. 4026865-22.2018.8.24.0000, de Fraiburgo, rel.
Des. Soraya Nunes Lins, Quinta Câmara de Direito Comercial, j.
14-03-2019).

Sendo assim, verifica-se não só a fraude por parte do embargado,


mas como também a impossibilidade da penhora dos itens suscitados por ele.

III – DOS PEDIDOS

a) Requer a procedência completa do presente embargos à execução, de acordo


com o art. 914, do CPC, por entender ser nulo o contrato que ensejou a dívida;

b) Seja atribuído efeito suspensivo aos presentes embargos, suspendendo a


execução autuada sob o n. ............., nos termos do artigo 919, parágrafo
primeiro, do Código de Processo Civil;

c) Seja intimado o embargado para querendo apresentarmanifestação no prazo


legal;

d) Seja dispensada a realização de audiência de conciliação, na forma do artigo


319, inciso VII, do Código de Processo Civil;

e) Sejam julgados procedentes estes embargos à execução, com a consequente


extinção da ação de execução uma vez a inexigibilidade do título executivo
extrajudicial;

f) Alternativamente, sejam declarados impenhoráveisos bens acima descritos;

g) Seja o embargado condenado ao pagamento dos honorários advocatícios, no


valor de 20% (vinte por cento) do valor da causa, de acordo com o artigo 85,
parágrafo 2º, do Código de Processo Civil;

f) A produção dos meios de prova admitidos em direito.


Valor da Causa: R$ 15.000,00 (quinze mil reais)

Nestes termos pede deferimento

Alex da Rosa

OAB/SC XXX

Criciúma, 20/03/2019

IV- ROL DE DOCUMENTOS

- Procuração de Marilene em nome de Alex;

-Comprovante de Residência;

-Certidão de Automóvel;

- Extrato UBER

V- TESTEMUNHAS

-Joaquina dos santos

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