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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

COLEGIADO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: TEORIA POLÍTICA IV

PROFESSOR: Marcelo Henrique Pereira dos Santos

DEMÉTRIO CARDOSO DA SILVA

AS TEORIAS DEMOCRÁTICAS EM ROBERT DAHL E JOSEPH SCHUMPETER

JUAZEIRO – BA

ABRIL – 2013
AS TEORIAS DEMOCRÁTICAS EM ROBERT DAHL E JOSEPH SCHUMPETER

Demétrio Cardoso da Silva*1

INTRODUÇÃO

A democracia sempre foi uma temática recorrente nas ciências sociais e na


sociologia em todos os debates políticos no pensamento clássico e na
contemporaneidade. O conceito e a concepção de democracia nas ciências
políticas contemporâneas têm merecido reflexões muito intensivas no âmbito
das academias de ciências sociais, considerando as peculiaridades e divergências
teóricas entre as diferentes correntes das teorias sobre a democracia dos tempos
modernos.

Tentar compreender os diferentes liames teóricos e concepções para o


desenvolvimento do conceito na atualidade, perpassa a simples definição de
democracia e envolve complexidades epistemológicas entre as diferentes
ciências sociais, quando exige uma maior profunidade nos estudos sobre direitos
civis, sociais e políticos, intimamente relacionados ao desenvolvimento da
democracia.

Na abordagem das diferentes concepções, haverá sempre uma necessária


discussão sobre a democracia nas civilizações, em particular nos pais latino
americanos, a exemplo do Brasil, que vem amadurecendo seu processo político
democrático, assinalado como Estado Democrático de Direito, numa perspectiva
de uma nova cultura política, especialmente nas nações em desenvolvimento
econômico. Neste particular, as bases para a concepção da democracia estão
naturalmente vinculadas aos ideais liberdade e igualdade, frontalmente
combatíveis a processos de desigualdade em Estados ditatoriais ou absolutistas,
aos quais estão envoltos membros participantes dos processos de cidadania,
desde a Grécia e Roma antigas até os dias atuais.

Apesar dos muitos contrastes, a difusão do sufrágio universal nos últimos


séculos e a emergência de sistemas políticos democráticos, com economias de
mercado, reforçam os debates teóricos, colocando em questão a aplicação dos

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Aluno do Curso de Ciências Sociais, 5º Período, turno noturno, texto para avaliação, II Unidade, disciplina
Teoria Política V, do Professor Marcelo Henrique Pereira dos Santos.
ideais democráticos fomentados na sociedade contemporânea, principalmente
entre estudiosos, a exemplo de Robert Dahl e Joseph Schumpeter.

As preocupações teóricas desses autores vão no sentido de instituir parâmetros e


métodos conformáveis ao viés metodológico entre a teoria da democracia
participativa e os teóricos do governo representativo. Nota-se na atualidade
diferentes versões de constituições democráticas, com características
semelhantes, entretanto, na prática, funcionam de maneira distinta.

A TEORIA DE ROBERT DAHL

Robert Dahl procura diferenciar os termos democracia e poliarquia, a fim de


evitar confusões semânticas. O conceito de poliarquia verte no sentido de
compreender os regimes relativamente democratizados, dotados de
características inclusivas e abertas à contestação pública. Neste sentido, o termo
democracia é entendido como um sistema político que apresenta, em suas
particularidades, a qualidade de ser inteiramente envolvido em torno de
respostas a todos seus cidadãos. A democracia, então, representa o tipo ideal e o
termo poliarquia se refere aos regimes democráticos efetivamente existentes
com todos os seus enigmas.

Para o teórico, a democratização tem as dimensões de contestação pública e


inclusividade, ao que ele define como elementos democratização. O direito de
voto, em sistema de eleições livres, participa dessas dimensões, a considerar o
direito estimulante da contestação pública e ao mesmo tempo torna o regime
inclusivo com a proporção significativa de pessoas votantes. Assim, essas duas
dimensões decompõe-se em dois critérios para a classificação dos regimes
políticos. Quando regimes políticos hegemônicos caminham em direção a uma
poliarquia, com precária contestação, significa que aumentaram as
possibilidades de efetiva contestação e inclusão.

Segundo Dahl, na poliarquia o numero de indivíduos é maior, grupos e


interesses devem ser levadas em consideração nas decisões políticas por causa
da maior participação das pessoas. A oposição entra em conflito com os grupos
do governo para ver seus interesses atendidos nas políticas de Estado, enquanto
os governantes tentam barrar qualquer substituição dos seus objetivos. Quanto
maior o conflito entre governo e oposição, mais provável o esforço de cada parte
para negar uma efetiva oportunidade de participação à outra nas decisões
políticas.
Dahl acresce os custos de tolerância e custos de repressão como elementos
importantes na compreensão dos conflitos políticos. A probabilidade de um
governo tolerar uma oposição aumenta com a diminuição dos custos de
tolerância e com o crescimento dos custos de repressão. A segurança mútua do
governo e da oposição aumenta as possibilidades de contestação pública e
poliarquia. O autor defende a ideia e trabalha para convencer o leitor acerca da
importância dos efeitos da poliarquia. Dentre os efeitos desse regime pode se
falar na prática das liberdades liberais clássicas. Outro efeito consiste no
desenvolvimento das organizações partidárias oriundo da competição pelo
poder, o que estimula a participação dos cidadãos.

Na perspectiva do modelo de sociedade, ele defende o baixo índice de


desigualdade, pois que a desigualdade extrema torna vulnerável a poliarquia,
uma vez que provoca um descomprometimento dos grupos com o regime. Para
ele, o pluralismo subcultural baixo deve prevalecer, porém é possível garantir a
poliarquia sob as condições de que nenhuma subcultura pode ficar
indefinidamente privada de participação no governo, os engajamentos capazes
de proporcionar um alto grau de segurança às diversas subculturas e um regime
que atenda as reivindicações relativas aos principais problemas da nação.

A TEORIA DE JOSEPH SCHUMPETER

Na perspectiva teórica de Schumpeter, a democracia se afasta tanto da crença


democrática do século XVIII, quanto do projeto marxista. Schumpeter rejeita a
ideia de “Bem Comum” propagada pela doutrina clássica da democracia e ao
mesmo tempo recusa o argumento marxista do socialismo indissoluvelmente
ajustado aos valores democráticos.

Ele enfatiza a democracia enquanto método político e não como um rol de


ideais. Aprimora a definição de método político ou democrático acrescentando
que os indivíduos adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva
pelos votos livres da população. Isto consiste na chamada competição pela
liderança que é o critério usado para distinguir os governos democráticos.

A função do eleitorado nestes regimes é produzir um governo e desapossá-lo, o


que significa a aceitação de um líder ou grupo de líderes, enquanto a função de
desapossar é a retirada da aceitação nas urnas. As habenas do governo, por sua
vez, devem ser dadas àqueles que têm mais apoio na competição pelos votos.
O autor assevera que a única garantia efetiva de obter políticos de qualidade está
na existência de um estrato social já ligado à política como atividade por
vocação. A condição, então, para o sucesso da democracia é limitar o alcance
efetivo da decisão política, pois caso o governo tenha o direito de tratar de todas
as questões concernentes à sociedade corre-se o sério risco de produzir o que ele
chama de “aberrações legislativas”. Outra condição é dispor dos serviços de uma
burocracia de tradição, bem-treinada e de boa posição, dotada de forte senso de
dever.

Ele também assinala que o método democrático só pode funcionar


adequadamente se todos os grupos importantes da sociedade estiverem dispostos
a aceitar as medidas governamentais pautadas nas leis, para que se tenha o
autocontrole democrático. Eleitores e parlamentares não devem assumir uma
postura intransigente de oposição a toda e qualquer medida vinda do governo,
pois que é apontada a necessidade de certa tolerância por parte dos atores
políticos principais.

Schumpeter compreende a democracia como um regime no qual o povo tem a


oportunidade de aceitar ou recusar as pessoas designadas para governar.
Segundo ele, não há qualquer incompatibilidade entre democracia e socialismo
ou capitalismo. Também sinaliza que forças capitalistas vêm gerando sérios
adversidades ao método democrático. Alguns desvios do princípio da
democracia estão atrelados, então, à presença de interesses capitalistas
organizados. Os padrões do capitalismo impelem vários grupos da sociedade a
recusar as regras do jogo democrático, colocando-se em risco o método político.
Para o autor, o socialismo que funcionasse de forma a manter certa unidade no
coletivo poderia se utilizar do método democrático de maneira mais eficaz do
que é praticado no capitalismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dois autores não trabalham nas suas teorias com classes sociais. Na
perspectiva liberal, a compreensão dos arranjos políticos prevalece nas
contribuições de Dahl e Schumpeter. O que aparece para fazer referência aos
coletivos componentes das sociedades são expressões: “povo”, “maiorias”,
“minorias”, “indivíduos”, “grupos”, “quem vai decidir”. Contudo, esta e outras
eventuais lacunas não retira o mérito das obras discutidas na perspectiva das
teorias desses dois grandes nomes das ciências políticas.

Robert Dahl e Joseph Schumpeter contribuíram fundamentalmente para um


profundo debate, através de suas teorias, no sentido de tratar a democracia em
sua versão empírica, a qual sobreviveu ao mundo real. Neste caso, a democracia
representativa guarda as devidas diferenças nos dois autores, surgindo como
método eficaz de resolução dos conflitos nas sociedades modernas, muito
embora este modelo não contemple a todos os anseios da sociedade, acredita-se,
entretanto, que se devem empenhar esforços no sentido de tornar a democracia
capaz de atender as verdadeiras demandas da sociedade moderna,
essencialmente âmbito social, político e cultural, com enfoque na participação
ou representatividade. Ou seja: permitir que se construa um regime
democraticamente ideal.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

DAHL, Robert. (1989). Um Prefácio à Teoria Democrática. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Editor.

SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Capítulo 21:


A Doutrina Clássica da Democracia. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura,
1961.

MOREIRA, Marcelo Sevaybricker. Poliarquia em debate: limites e


contribuições da teoria democrática dahlsiana. II Seminário Nacional de
Sociologia e Política. UFPR – Tendências e Desafios. 15, 16 e 17 de setembro
de 2010.

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