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PARTE 2: ENSAIOS
português cria uma disjunção caótica entre o sujeito e o objeto de representação colonial,
gerando um campo aparentemente vazio de representações (mas, de fato, cheio de
representações subcodificadas) que, do ponto de vista do colonizado, constitui um espaço
de manobra adicional para tentar sua auto-representação para além da representação de
sua subalternidade.
A especificidade do colonialismo português assenta basicamente em razões de
economia política — a sua condição semiperiférica5 —, o que não significa que esta tenha
se manifestado apenas no plano econômico. Ao contrário, manifestou-se igualmente nos
planos social, político, jurídico, cultural, no plano das práticas cotidianas de convivência
e sobrevivência, de opressão e resistência, de proximidade e distância, no plano dos
discursos e narrativas, do senso comum e dos outros saberes, das emoções e afetos, dos
sentimentos e ideologias. A grande assimetria entre o colonialismo inglês e o português
foi o fato de que o primeiro não teve de romper com um passado descoincidente de
seu presente: foi desde sempre o colonialismo-norma porque protagonizado pelo
país que impunha a normatividade do sistema mundial. No caso português, uma vez
criada a possibilidade de um colonialismo retroativo, como discurso de dessincronia
e ruptura, este pôde ser manipulado ao sabor das exigências e conjunturas políticas.
Tanto se ofereceu a leituras inquietantes — e.g.: o subdesenvolvimento do colonizador
produziu o subdesenvolvimento do colonizado, uma dupla condição que só poderia
ser superada por uma política colonialista desenvolvida — como reconfortantes — e.g.:
o lusotropicalismo, “Portugal, do Minho a Timor”, colonialismo cordial —, mas quase
todas as leituras tiveram elementos inquietantes e reconfortantes. A negatividade do
colonialismo português foi sempre o subtexto de sua positividade e vice-versa.
O pós-colonialismo
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Notas:
5. Sobre a inserção de Portugal no ciclo colônial africano, cf. Fortuna, Carlos. O fio da meada: o algodão
de Moçambique, Portugal e a economia-mundo (1860-1960). Porto: Afrontamento, 1993, pp. 31-41.
6. Bhabha. Homi K. The location of culture. Londres: Routledge. 1994, p. 50
7. Ibidem.
8. Idem. „Dissemination: time, narrative, and the margins of the modem nation“. In: idem (org.). Nation
and narration, Londres/Nova York: Routledge, 1990, p. 293.
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(Des)colonização na literatura portuguesa contemporânea
Atividades:
1. Esclareça qual é, segundo o autor do ensaio, a posição de Portugal, enquanto
potência colonial, relativamente a outros poderes imperiais.
2. Faça uma reflexão sobre a especificidade da colonização portuguesa.
3. Comente a política sexual na colonização portuguesa, discutindo o princípio de
miscigenação.
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