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De acordo com o Bruno Snell, θεορειν, à época de Homero, era olhar algo com critérios.

Na
forma clássica evoluiu para modo de ver.

Isso são duas acepções de teoria? Olhar algo com critérios. Pensei aqui, os critérios podem vir
de superstição, da observação experimental bruta mesmo, de um monte de coisas, mas devem
vir também de acordos. No final das contas, há que se ter um acordo sobre os critérios. Os
postulados são um tipo de acordo: postular significa "eu peço que você aceite"; e o
interlocutor aceita os postulados -- tal qual em matemática aceitam-se os axiomas -- e, ao fim
da explanação de quem pede, de quem postula, o interlocutor pode então argumentar contra
tudo aquilo que foi fundado nos postulados. E pode fazer isto até mesmo com o propósito de
negar os postulados, provar sua inviabilidade.

Então, de acordo com Snell, θεορειν significava olhar com critérios, em uma época e, muito,
muito, muito depois evoluiu para "o olhar" (modo de ver).

Modo de ver

Essa época clássica seria a dos pré-socráticos como Parmênides e Heráclito, quase a mesma de
Sócrates e Platão: θεορειν muda de "vamos estabelecer critérios nessa zorra" para "como nós
percebemos o funcionamento dessa confusão cósmica, semi-caos”.

O estabelecimento de critérios continua na época que vai de Parmênides a Aristóteles.


Continua no procedimento do postulado, por exemplo. Está presente também na dialética, na
forma como dialogavam Parmênedes, Sócrates, Zenão e Aristóteles. Para argumentar, um dos
lados perscruta, primeiro, e define os conceitos e teses do outro: "Então, Parmênides,
acreditas que o uno etc etc"

Mas o termo θεορειν passa a veicular outro conceito, o conceito do "modo de ver". Eu quero
ler esse cara, Bruno Snell. Filologia e etimologia são tão incríveis quanto frágeis, especialmente
a etimologia. E ele parece trabalhar a vontade com a etimologia e seus campos semânticos. Só
lendo.

Modo de ver poderia ser considerado no sentido de cultura? Será? A teoria é um modo de ver.
Incluído aí a explicação a outrem deste modo, visto que, naturalmente, Snell localiza o
significado da palavra em uma parte do processo: o teórico vê de um certo modo, mas ele
também precisa explicar este modo. Caso contrário, teríamos um pensamento fechado na
jaula da mente do sujeito que viu de tal modo.

Por essas e outras, é que tenho que ler esse cabuquim, esse tal de Snell. Nome bacaba, stile,
da hora!

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