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Resumo: Muitos dos problemas presentes no campo da engenharia são governados por
equações diferenciais. O Método das Diferenças Finitas (MDF) é um método numérico para
solução de equações diferenciais em que as derivadas são aproximadas por fórmulas de
diferenças finitas. Trata-se, portanto, de um método baseado num processo de discretização.
Sua abordagem, entretanto, é bem mais simples e direta se comparado a outros métodos
numéricos mais famosos, como os MEF e MEC. A carga crítica de flambagem de um pilar é
determinada através da solução de uma equação diferencial que envolve derivadas de
segunda e quarta ordens. A vantagem do uso do MDF nesse tipo de problema é que a
equação governante é transformada em um sistema de equações algébricas que pode ser
interpretado como um problema de autovalor. Este artigo aborda o problema linearizado de
estabilidade elástica de pilares, ou seja, a flambagem de pilares através do uso do MDF.
Com essa abordagem, acredita-se na facilidade do aprendizado deste tema por alunos das
Engenharias Civil e Mecânica que pretendem iniciar os estudos na área de métodos
numéricos. Primeiramente, é feita a dedução detalhada da equação governante do problema
de estabilidade. Em seguida, é mostrada a aplicação numérica em pilares com diferentes
condições de contorno, detalhando todo o procedimento da aplicação do MDF. A
convergência do método é ilustrada por meio de gráficos para mostrar a forte dependência
da discretização na qualidade da aproximação da solução. Uma fórmula de extrapolação é
utilizada como solução alternativa aos gráficos de convergência.
1. INTRODUÇÃO
Muitos dos problemas presentes no campo da engenharia são governados por equações
diferenciais. A complexidade na solução analítica desses problemas está diretamente ligada à
dificuldade em se resolver essas equações, que podem ser de primeira, segunda, terceira
ordem ou de ordem superior. Nesse contexto, destaca-se a importância dos chamados métodos
numéricos. WROBEL et al. (1989) afirmam que os métodos numéricos se baseiam na
redução de um problema físico e contínuo, com um número infinito de incógnitas, a um
problema discreto com um número reduzido de incógnitas, através de um processo de
discretização. Dentre os métodos numéricos mais utilizados na engenharia destacam-se o
Método dos Elementos Finitos (MEF), Métodos dos Elementos de Contorno (MEC) e o
Método de Diferenças Finitas (MDF). Desses três métodos citados, o MDF é o mais simples
em termos de implementação computacional.
O MDF é um método aproximado utilizado na solução de equações diferenciais
(WROBEL et al., 1989). Isso faz do MDF um recurso computacional útil para qualquer
problema de engenharia governado por equações diferenciais. A fundamentação teórica do
método iniciou-se em 1928, com a publicação de Courant, Friedrichs e Lewy sobre a solução
de problemas físicos utilizando-se diferenças finitas, mas obteve um grande desenvolvimento
durante e após a segunda guerra mundial, com um grande número de aplicações práticas do
MDF após o surgimento dos computadores (THOMÉE, 2001).
A formulação do método consiste na substituição das derivadas por fórmulas de
diferenças finitas, as quais podem ser obtidas através da expansão truncada em série de
Taylor. Na formulação do método, é necessário que o domínio do problema seja discretizado
no que se chama de malha de diferenças finitas. Essa malha é composta por uma série de nós
(ou pontos) onde as variáveis têm seus valores relacionados através das fórmulas de
diferenças finitas. BUBACH et al. (2014) destacam que os pontos das malhas geralmente são
igualmente espaçados, já que o uso de malhas irregulares envolve complicações adicionais
para a implementação matemática e computacional do método.
O MDF mostra-se bem eficaz no estudo da flambagem elástica de pilares, placas e
cascas. A flambagem de pilares, em particular, é um problema de estabilidade de equilíbrio
linearizado em que as cargas a partir das quais o pilar torna-se instável são chamadas de
cargas de flambagem (BADKE-NETO & FERREIRA, 2016). A menor carga de flambagem é
denominada carga crítica. A determinação dessa carga crítica do pilar pode ser feita através da
solução de uma equação diferencial que envolve derivadas de segunda e quarta ordens. A
vantagem do uso do MDF nesse tipo de problema é que a equação governante é transformada
em um sistema de equações algébricas que pode ser interpretado como um problema de
autovalor. O menor autovalor encontrado será a carga crítica do pilar e o seu autovetor
correspondente mostra o modo de instabilidade do pilar.
Este artigo faz uma abordagem didática do uso do MDF no estudo da flambagem
elástica de pilares. Primeiramente, é feita a dedução detalhada da equação governante do
problema. Em seguida, são mostradas aplicações numéricas em pilares com diferentes
condições de contorno, detalhando todo o procedimento da aplicação do MDF nesse tipo de
problema. A convergência do método é abordada através de gráficos para mostrar a forte
dependência da discretização na qualidade da aproximação da solução. Uma fórmula de
extrapolação sugerida por REIS & CAMOTIM (2001) é utilizada como solução alternativa
aos gráficos de convergência.
COBENGE 2016
XLIV CONGRESSO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM ENGENHARIA
27 a 30 de setembro de 2016
UFRN / ABENGE
Considerando uma seção genérica a uma distância x do topo do pilar e sendo y a flecha
do pilar perturbado, o equilíbrio é alcançado se o momento das forças externas, Mext, (gerados
pelas cargas externas e reações de apoio) for igual ao momento fletor interno, Mint, gerado
pela distribuição de tensões na seção, ou seja, Mext = Mint. Sendo:
M ext Py M A Qx (1)
d2y
K (2)
dx 2
d2y
EI 2 Py M A Qx (3)
dx
d4y d2y
EI P 0 (4)
dx 4 dx 2
que é uma equação diferencial ordinária de quarta ordem que pode ser utilizada para encontrar
as cargas de flambagem ou a carga crítica de um pilar com qualquer condição de contorno.
y 4 yi 1 6 yi 4 yi 1 yi 2 y 2 yi yi 1
EI i 2 P i 1 0 (5)
4
h h2
Condições de contorno
Nos apoios tem-se a flecha igual a zero (condição de Dirichlet), que será representada
pela equação a seguir:
yi 0 (6)
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Observe, entretanto, que nos dois apoios o momento fletor é igual a zero, resultando
na expressão, de acordo com a Equação (7):
yi 1 2 yi yi 1 0 (8)
yi 1 yi 1 (9)
y 4 y1 6 y 2 4 y3 y 4 y 2 y 2 y3
EI 0 P 1 0 (10)
4
h h2
y 4 y 2 6 y3 4 y 4 y5 y 2 y3 y 4
EI 1 P 2 0 (11)
4
h h2
y 4 y3 6 y 4 4 y5 y 6 y 2 y 4 y5
EI 2 P 3 0 (12)
4
h h2
E utilizando as Equações (6) e (9), resultantes das condições de contorno, nos nós i = 1 e i =
5, escreve-se:
y1 0 (13)
y2 y0 (14)
y5 0 (15)
y6 y4 (16)
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Substituindo-se agora (13), (14), (15) e (16) nas Equações (10), (11) e (12), obtém-se
um novo sistema de equações, que pode ser escrito matricialmente da seguinte forma:
5 4 1 2 1 0 y 2 0
EI 4 6 4 P 1 2 1 y 0
4 h2 3 (17)
h 1 4 5 0 1 2 y 4 0
K .K E y 0 (18)
Agora, multiplicando toda a Equação (18) pela inversa da matriz KE, chega-se a:
K E
1
K I y 0 (19)
A Iy 0 (20)
Pcr
2 2 EI (21)
h2
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Por exemplo, para um pilar com E = 200 GPa, I = 387 cm4, L = 4 m (e portanto h = 1
m), conclui-se que a carga crítica encontrada é de aproximadamente Pcr 453,4 kN.
470
460
450
440
430
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
número de nós reais da malha
É possível verificar através da Figura 3 que a carga crítica converge para um valor de
aproximadamente 477,5 kN. Um valor em torno de 5,3% maior do que o encontrado no caso
da discretização com 5 nós reais. Esse valor é previsto pela fórmula de Euler dada por Pcr =
𝜋²EI/L², primeira carga crítica para pilar birrotulado.
REIS & CAMOTIM (2001) propõem outra maneira para obtenção de uma melhor
aproximação da carga crítica. Segundo esses autores, como o erro da aplicação do MDF na
Equação (4) é da ordem O(h²), pode-se concluir que o erro é proporcional a (1/η²), sendo η o
número de elementos da malha de diferenças finitas (número de nós reais subtraído de uma
unidade). Assim, eles sugerem uma “fórmula de extrapolação” para a carga crítica Pcr,
utilizando-se dois valores da carga crítica, Pcr1 e Pcr2, determinados através de discretizações
com η1 e η2 elementos, respectivamente, isto é:
Para o exemplo anterior, para os valores de cargas críticas Pcr1 e Pcr2 obtidos através
de discretizações com 4 nós reais (3 elementos) e 5 nós reais (4 elementos), respectivamente,
obtém-se, através da equação anterior, Pcr 476,5 kN. Esse valor difere em apenas 0,2% da
carga crítica obtida através do gráfico de convergência da Figura 3. Isso mostra que a
Equação (22) pode ser útil na obtenção de uma melhor aproximação de Pcr.
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Condições de contorno
No bordo simplesmente apoiado e no engaste têm-se a flecha igual a zero (condição de
Dirichlet), ou seja:
yi 0 (23)
yi 1 yi 1 (24)
dy y yi 1
i 1 (25)
dx i 2h
escreve-se que no engaste, a rotação é igual a zero (condição de Neumann), resultando em:
yi 1 yi 1 (26)
5 4 1 2 1 0 y 2 0
EI 4 6 4 P 1 2 1 y 0
4 h2 3 (27)
h 1 4 7 0 1 2 y 4 0
Assim, tal como o sistema da Equação (17), a Equação (27) também representa um
problema de autovalor generalizado.
Para um pilar com E = 200 GPa, I = 387 cm4, L = 4m (e portanto h = 1 m), tem-se
que, para a malha adotada, a carga crítica é Pcr 859,70 kN.
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970
930
890
850
810
770
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
número de pontos reais da malha
Através da Figura 4, verifica-se que a carga crítica converge para um valor próximo de
976,5 kN, que é em torno de 13,6% maior do que o encontrado no caso da discretização com 5
nós reais. Esse valor é previsto pela fórmula de Euler dada por Pcr = 𝜋²EI/(0,7L)², primeira
carga crítica para pilar rotulado-engastado. No caso do emprego da Equação (22), para
discretização do pilar com 4 e 5 nós reais, chega-se numa carga crítica Pcr 966,07 kN. Esse
resultado difere em apenas 1,1% do valor da carga crítica obtida através do gráfico anterior.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A flambagem de pilares é um tema que está no dia a dia de engenheiros estruturais. A
simplicidade do uso do MDF em flambagem dessas estruturas torna-o um método bem viável
para o estudo desse assunto. Buscou-se neste artigo mostrar detalhadamente a utilização do
MDF para determinação da carga crítica. Foi possível também abordar o conceito de carga
crítica, problemas de autovalor e solução de equações diferenciais via MDF.
Além da sua fácil implementação computacional, o MDF mostrou-se efetivo como
método numérico para a determinação das cargas de flambagem (ou da carga crítica) de
pilares. Não houve dificuldade para a convergência da solução esperada. Neste trabalho, além
da determinação da carga crítica realizada através de um gráfico de convergência, pode-se
também empregar uma fórmula sugerida por REIS & CAMOTIM (2001) para se aproximar
Pcr. Ambos procedimentos forneceram valores da carga crítica bem próximos. Pelo gráfico
de convergência, foi demonstrada a dependência da qualidade da solução com o número de
nós da malha; já através da fórmula de extrapolação, foi possível obter uma boa aproximação
da carga crítica utilizando-se resultados obtidos com malhas menos discretas.
Por fim, vale enfatizar que este trabalho cumpriu o objetivo de apresentar de forma
didática, para estudantes das engenharias, a formulação da flambagem de pilares pelo MDF.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), à Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES), à Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e à UFOP.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUBACH, C.R; FERREIRA, W.G; AZEVEDO, M.S; SILVEIRA, R.A.M; CAMARGO, R.S.
Resgatando o método das diferenças finitas nas soluções numéricas da engenharia estrutural.
COBENGE – Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia. Juiz de Fora, 2014.
REIS, António; CAMOTIM, Dinar. Estabilidade Estrutural. Lisboa: Ed. McGraw-Hill, 2001.
470 p.
THOMÉE, V. From finite differences to finite elements: A short history of numerical analysis
of partial differential equations. Journal of computational and applied mathematics, v.1,
n.128, p. 1-54, 2001.
WROBEL, Luiz Carlos; IEGER, Sérgio; ROSMAN, Paulo César; TUCCI, Carlos Eduardo;
CIRILLO, José Almir; CABRAL, Jayme Pereira. Métodos numéricos em recursos hídricos.
Rio de Janeiro: Ed. ABRH, 1989. 380 p.
Abstract: Many of the problems from the engineering field are governed by differential
equations. The Finite Difference Method (FDM) is a numerical method for solving
differential equations in which the derivatives are approximated by using finite difference
formulas. Thus, the FDM is a method based on a discretization process. Its formulation is
even simple and easier than other known numerical methods, as FEM and BEM. The critical
load of a column is determined by solving a differential equation which involves second and
fourth order derivatives. The advantage of the usage of FDM for this kind of problem is the
fact that the governing equation, which can be interpreted as an eigenvalue problem,
becomes an algebraic system of equations. This paper shows the topic about buckling of
columns using the FDM in order to make it easier the learning by Civil and Mechanical
Engineering students who intend to work on this engineering field. Firstly, it is explained in
details how to deduce the governing equation of the problem. After that, numerical examples
are shown using a variety of boundary conditions, detailing all the procedure of the FDM
application on this problem. The convergence of the method is discussed by presenting
graphics, showing the strong dependence of the discretization in the quality of the solution
approximation. Also, an extrapolation formula is utilized as an alternative solution to the
convergence graphics.