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TESTE DE AVALIAÇÃO 3B | CAMINHOS DO ROMANTISMO | Camilo Castelo Branco | Amor de Perdição

GRUPO I
A
Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

Lê, atentamente, o seguinte texto.

[…] Na semana adiante, quando soube que o senhor Baltasar (raios o partam!) tinha saído de Viseu, fui
falar com o senhor corregedor, e contei-lhe tudo como se passara. O senhor corregedor esteve a cismar
um pouquinho, e disse-me, e vossa senhoria há de perdoar por eu lhe dizer o que seu pai me disse, tal e
qual.
– Diga.
– Seu pai começou a esfregar o nariz, e disse-me: – “Eu sei o que é isso. Se aquele brejeiro de meu filho
Simão tivesse honra, não olharia para a prima desse assassino. Cuida o patife que eu consentia que meu
filho se ligasse a uma filha de Tadeu de Albuquerque!…” Ainda disse mais coisas que me não lembram;
mas eu fiquei sabendo tudo. Ora aqui tem o que houve. Agora apareceu- me aqui vossa senhoria, e a
noite passada foi a Viseu. Perdoará a minha confiança: mas vossa senhoria foi falar com a tal menina; e
eu estive vai e não vai a segui-lo; mas, como ia meu cunhado, que é homem para três, fiquei descansado.
Ele contou-me um encontro que vossa senhoria teve à porta do quintal da menina. Se lá torna, senhor
Simão, vá preparado para alguma coisa de maior. Eu bem sei que vossa senhoria não é medroso; mas
duma traição ninguém se livra. Se quer que eu vá também, estou às suas ordens; e a clavina que deu
polícia ao almocreve ainda ali está, e dá fogo debaixo de água, como diz o outro. Mas, se vossa senhoria
dá licença que eu lhe diga a minha opinião, o melhor é não andar nessas encamisadas. Se quer casar com
ela, vá pedir a seu pai licença, e deixe o resto cá por minha conta; ponto é que ela queira, que eu, num
abrir e fechar de olhos, atiro com ela para cima duma égua de chupeta, que ali tenho, e o pai e mais o
primo ficam a ver navios.
– Obrigado, meu amigo – disse Simão – aproveitarei os seus bons serviços quando me forem necessários.
Esta noite hei de ir, como fui a noite passada, a Viseu. Se houver novidade, então veremos o que se há
de fazer. Conto com vossemecê, e creia que tem em mim um amigo.
Mestre João da Cruz não replicou. Dali foi examinar mudamente a fecharia da clavina, e entender-se com
o cunhado sobre cautelas necessárias, enquanto descarregava a arma, e a carregava de novo com uns
zagalotes especiais, que ele denominava “amêndoas de pimpões”. Neste intervalo, Mariana, a filha do
ferrador, entrou no sobrado, e disse com meiguice a Simão Botelho:
– Então sempre é certo ir?
– Vou; porque não hei de ir?!
– Pois Nossa Senhora vá na sua companhia – tornou ela, saindo logo para esconder as lágrimas.

Camilo Castelo Branco. Amor de Perdição. 2015. Porto: Porto Editora.

1. Comenta a perspetiva do pai de Simão sobre o seu filho.

2. Compara o posicionamento de Joao da Cruz e de Mariana sobre um possível novo encontro de Simão
com Teresa.

3. Apresenta três traços caracterizadores de Simão, fundamentando a tua resposta com expressões
textuais.
B
4. Escreve uma exposição de centro e trinta palavras a cento e setenta palavras sobre o “Amor de
Perdição como cronica da mudança social”, tendo em conta os seguintes tópicos:
✓ família;
✓√igreja;
✓ justiça.

GRUPO II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Escreve, na folha de respostas, o numero do tem e a letra que identifica a opção escolhida.

Lê o texto seguinte.

Os olhos que nos veem lá do fundo


Nos nossos rostos estavam já os traços deste rosto que o espelho reflete com nitidez humana. Nas nossas
vozes, antes de ilusões e desilusões, antes da erosão, estava já esta voz.
É muito fácil esquecermo-nos de quando podíamos ser tudo.
Fazíamos escolhas entre o que esperavam e o que não esperavam de nós. À nossa frente, estavam todas
as possibilidades, apreciávamos essa distância. Aquilo que já estava definido impedia-nos de muito pouco.
E aconteceu o que as escolhas sempre pressupõem: tivemos de responder por elas e tivemos de viver
com elas. O tempo foi marcado por esses dois tempos. Ao responder pelas escolhas que fizemos, fomos
tecendo uma longa manta de autojustificações.
Primeiro, precisámos de defender as nossas escolhas; depois, precisámos de defender o argumento que
usámos para justificá-las; depois, precisámos de defender o argumento que usámos para justificar esse
argumento; depois, um longo etc., tão longo que, a partir de certa altura, deixámos de ser capazes de
identificar onde começou.
Por outro lado, na passagem dos dias e das estações, ao vivermos com as escolhas que fizemos, fomo-
nos convencendo de que éramos apenas aquilo, de que somos apenas isto. Fomos rejeitando possibilidades
até deixarmos de considerá-las.
Ainda assim, lá do fundo, há uns olhos que nunca deixaram de nos ver. Interrogam-nos em silêncio,
observam-nos com a mesma pureza do seu presente. O brilho que sustentam não se extinguiu, apenas
deixámos de reparar nele.
Sem o medo de perder o que julgamos ter alcançado, ainda podemos tudo. Não é fácil voltar a acreditar
depois de todos os erros que cometemos e que, por autopreservação, atribuímos à ingratidão do mundo.
Ainda assim, ao longo destes anos, o planeta mudou muito menos do que queremos imaginar quando
repetimos que não há nada a fazer.
Há tudo a fazer. Esta é a constatação que mais nos desanima porque, debaixo dos gestos e das palavras,
temos muito medo. Quando não suportamos sequer considerar esse medo, preferimos negá-lo. No
entanto, não é dessa maneira que conseguimos fazê-lo desaparecer.
E assim, lá do fundo, no silêncio a que o tempo os obriga, há esses olhos que continuam a ver-nos.
Seguem cada pensamento, respiram sempre que enchemos o peito de ar. No nosso rosto, na nitidez crua
e fria deste espelho, estão ainda os traços desses rostos, faces de pele lisa, sem rugas ou cicatrizes. Nesta
voz, naquilo que tem de mais limpo, estão ainda essas vozes que quase deixámos de reconhecer.
José Luís Peixoto. “Os olhos que nos veem lá no fundo”. In Notícias Magazine, 20-12-2015.

1. O tema do texto “Os olhos que nos veem la do fundo” e


(A) a importância das escolhas individuais no nosso crescimento.
(B) a cobardia que nos impede de fazer as escolhas apropriadas.
(C) o impedimento social perante a liberdade de escolha individual.
(D) a ausência de responsabilidade perante as escolhas que fazemos.

2. De acordo com a leitura do texto, o titulo “Os olhos que nos veem la do fundo” representa a
(A) a consciência de cada de um de nos.
(B) a forma como a sociedade nos vê.
(C) aquilo que a família espera de nos.
(D) as nossas origens.

3. Na oração “Aquilo […] impedia-nos de muito pouco” (ll. 7-8), o pronome pessoal desempenha a
função sintática de
(A) sujeito.
(B) complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D) complemento oblíquo.

4. Na afirmação “Ao responder pelas escolhas que fizemos, fomos tecendo uma longa manta de
autojustificações” (ll. 11-12) está presente
(A) hipérbole.
(B) metonímia.
(C) anáfora.
(D) metáfora.

5. Os elementos linguísticos “Primeiro” (l. 13) e “depois” (ll. 13, 14 e 15) contribuem para assegurar a
coesão textual
(A) frásica.
(B) temporal.
(C) interfrásica.
(D) lexical.

6. Quanto ao seu processo de formação, a palavra “autopreservação” (l.24) e formada por


(A) derivação.
(B) parassíntese.
(C) amálgama.
(D) composição.

7. Nas frases “quando repetimos que não há nada a fazer” (l. 26) e “Esta e a constatação que mais nos
desanima” (l. 27), a palavra “que” pertence, respetivamente, a classe
(A) dos pronomes relativos.
(B) das conjunções subordinativas causais e completivas.
(C) das conjunções subordinativas completivas e dos pronomes relativos.
(D) das conjunções subordinativas.

8. Identifica a função sintática do elemento “esta voz” em “antes da erosão, estava já esta voz” (l. 3).

9. Divide e classifica as orações presentes em “O brilho que sustentam não se extinguiu” (ll. 21-22).
10. Indica o antecedente do pronome pessoal que ocorre em ≪No entanto, não e dessa maneira que
conseguimos faze-lo desaparecer≫ (l. 29).

GRUPO III

Algumas pessoas pensam que a influencia mais importante na vida dos jovens e a família. Outras
pensam que são os amigos.

Apresenta o teu ponto de vista sobre este assunto, num texto de opinião de duzentas a duzentas e
cinquenta palavras.

FIM

CENÁRIOS DE RESPOSTA
Grupo I A
1. O pai de Simão apelida o filho de “brejeiro” (agarotado, imaturo) e considera-o sem “honra”. Não
respeita a relação afetiva do seu filho, pois é instigado pelas inimizades familiares (“Cuida o patife que eu
consentia que meu filho se ligasse a uma filha de Tadeu de Albuquerque!…”).
2. Embora João da Cruz reconheça o valor de Simão (“Eu bem sei que vossa senhoria não é medroso”),
alerta-o para os perigos
(“mas duma traição ninguém se livra”). Tenta demovê-lo, propõe-lhe, inclusive, alternativas e oferecendo-
lhe a sua ajuda incondicional. Mariana, pelo contrário, ao reconhecer a determinação de Simão, fica
atormentada, como prevendo uma desgraça, pede a proteção de Nossa Senhora.
3. Simão é determinado e inflexível, pois reafirma que irá, como sempre, a Viseu (“Esta noite hei de ir,
como fui a noite passada, a Viseu”), reconhecido (“e creia que tem em mim um amigo”), mostra uma
certa dignidade e até maturidade, porque aceita a ajuda de João da Cruz, prevendo um futuro difícil
(“aproveitarei os seus bons serviços quando me forem necessários).
Grupo I B
4. Camilo Castelo Branco denuncia a hipocrisia de uma sociedade, na opinião de Óscar Lopes, ainda
“aristocrática e fradesca”.
– Critica os preconceitos aristocráticos evidenciados nas atitudes dos pais de Teresa e Simão, que
subalternizam a dimensão humana ao poder social e económico. Critica a prepotência e a tirania, presente,
por exemplo, na clausura de Teresa num convento e na escolha de Baltasar para seu marido.
– A Igreja é uma instituição atingida pelo olhar severo do autor, pois ela atua de acordo com a sociedade,
movida por interesses mundanos e promovendo a clausura das jovens mais rebeldes. Exemplos: Teresa
e o episódio da deslocação de Mariana ao mosteiro (cap. X).
– A Justiça e a sua arbitrariedade são também criticadas por Camilo, através da parcialidade revelada nos
julgamentos – intercessão dos pais de Simão e o tratamento de favor pelos polícias.

Grupo II
1. (B); 2. (A); 3. (B); 4. (D); 5. (B); 6. (D); 7. (C).
8. Sujeito.
9. Oração subordinante – “O brilho não se extinguiu”; oração subordinada adjetiva relativa restritiva –
“que sustentam”.
10. muito medo.

Grupo III
Sugestão
Introdução
Explicitação do ponto de vista que vai ser defendido; tanto a família como os amigos exercem uma
influência importante nos jovens.
Desenvolvimento
– A influência dos pais: a família é um espaço de conforto e de segurança, mas também abre os horizontes,
possibilitando o conhecimento e a experimentação; os pais orientam os filhos na definição de objetivos,
incentivam a persegui-los, contribuem para o seu desenvolvimento afetivo,…
– A influência dos amigos: “Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és” – o provérbio reforça a ideia de
que o grupo de amigos é muito importante, mas é preciso saber escolhê-los; as qualidades que eles
possuem criam afinidades e desenvolvem novas aprendizagens, …
Conclusão
A influência de ambos pode e deve coexistir harmoniosamente, pois, quer a família, quer os amigos têm
papéis diferentes e, como, tal, contribuem distintamente para o crescimento intelectual e moral do jovem.

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