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Rio de Janeiro
Março de 2018
USO DE SISTEMAS UNITÁRIOS DE ESGOTO E DRENAGEM COMO
ESTRATÉGIA ALTERNATIVA E ESCALONADA NO TEMPO PARA O
SANEAMENTO AMBIENTAL
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Marcelo Gomes Miguez, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Paulo Canedo de Magalhães, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Paulo Luiz da Fonseca, Ph.D.
________________________________________________
Prof. Marcelo de Miranda Reis, Ph.D.
iii
O retorno do espírito e de uma correta
metodologia de planejamento em países do Terceiro
Mundo é uma condição inadiável para garantir o
futuro. Um futuro pensado em diversas
profundidades de Tempo.
Aziz Ab’Sáber
iv
Agradecimentos
Gostaria de agradecer aos meus orientadores, Professor Marcelo Gomes Miguez e
Professor Paulo Canedo de Magalhães pelo entusiasmo em sala de aula e pelo estímulo
e suporte dado a mim durante todo esse período.
Aos Professores Paulo Luiz da Fonseca e Marcelo de Miranda Reis pela
disponibilidade de integrar a banca de avaliação e pelas contribuições realizadas.
Ao Professor José Paulo Azevedo pelas sugestões e incentivo ao meu trabalho.
Aos colegas do Laboratório de Hidráulica Computacional, em especial à Laurent
Feu Grancer pela ajuda dada no desenvolvimento do modelo da bacia do rio Dona
Eugênia.
À Ianic Bigate e Professora Aline Pires Veról por fornecerem todas as
informações essenciais ao avanço desta pesquisa.
Ao Programa de Engenharia Civil e à COPPE pela oportunidade de fazer parte de
um dos melhores programas de pós-graduação do Brasil.
Aos Engenheiros Luiz Fernando Orsini Yazaki e José Stelberto Porto Soares pelo
compartilhamento de experiência profissional, conselhos e informações.
Aos funcionários da CEDAE, em particular ao Engenheiro Sérgio Pinheiro de
Almeida, pela receptividade e dados fornecidos.
Aos funcionários da ETE Ponte dos Leites pelo suporte dado na visita às
instalações da ETE e da wetland e por dispor de todas as informações solicitadas.
Aos colegas e amigos que me auxiliaram direta e indiretamente no decorrer dos
anos.
À minha família pelo constante apoio, e por sempre investirem e valorizarem
minha educação.
Ao meu esposo Marcelo Duarte por seu companheirismo, confiança e paciência.
Seu amparo foi fundamental para a conclusão desta jornada, obrigada.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Março/2018
March/2018
The separated sewer system is considered by many to be the ideal choice for the
transport of wastewater, mainly in tropical climate countries. Unfortunately, in many
Brazilian cities this solution presents serious failures and poor performance. In this
context, it is necessary to seek for long-term evolutionary strategies, which can lead to
adequate sanitary conditions. For this reason, the use of dry weather structures and
combined sewer systems for wastewaters collection is proposed as a first step in an
evolutionary strategy. This study makes an economic comparison between separated
and combined sewer systems designed to work at Dona Eugênia River watershed, in
Rio de Janeiro (Brazil). Six situations were compared, and after the analysis of the
present value, it was revealed that the scenarios related to the combined sewer
alternative would bring more economic advantage. At last, MODCEL, a pseudo-
bidimensional hydrodynamic model, was used to evaluate the hydraulic and
environmental performance of two of the designed situations. The results shows that, if
used as a first step, combined sewer networks can promote environmental sanitation, as
they can amend drainage systems misuses, applying dry weather structures; attenuate
the lack of financial resources to execute the separated system in all urban area and
offer some protection to the receiving water bodies, except for the combined sewer
overflows.
vii
Índice
1 Introdução ................................................................................................................. 1
1.1 Considerações iniciais ............................................................................. 1
2.1.1.2 Período entre a segunda metade do século XIX até 1910 ............ 8
viii
2.3.1 Tipos de sistemas .............................................................................. 31
3 Metodologia ............................................................................................................ 62
3.1 Alternativas propostas ........................................................................... 62
ix
3.3.3 Estação de tratamento de esgoto ....................................................... 68
x
4.5 Avaliação econômica .......................................................................... 118
xi
Índice de Figuras
Figura 2.1– Índices e investimentos relativos ao sistema de esgotamento brasileiro..... 13
Figura 2.2 – Córrego Tenente Rocha antes das intervenções. ........................................ 15
Figura 2.3– Córrego Tenente Rocha depois das intervenções........................................ 15
Figura 2.4 – Obra de fundo de vale executada pela Sabesp. .......................................... 15
Figura 2.5 – Tipos de sistema de saneamento. ............................................................... 21
Figura 2.6 – Fluxograma para identificação dos diferentes tipos de sistema de
esgotamento. ................................................................................................................... 22
Figura 2.7 – Consequências da urbanização na hidrologia urbana................................. 41
Figura 2.8 – Hidrograma e polutograma representativos de um evento chuvoso. ......... 42
Figura 2.9 – Reservatório de retenção. ........................................................................... 43
Figura 2.10 – Jardim de chuva........................................................................................ 43
Figura 2.11 – Pavimento permeável. .............................................................................. 43
Figura 2.12 – Reservatório de detenção. ........................................................................ 43
Figura 2.13 – Trincheira de infiltração. .......................................................................... 44
Figura 2.14 – Reservatório de lote.................................................................................. 44
Figura 2.15 – Planta esquemática do sistema de captação em tempo seco. ................... 47
Figura 2.16 – Gráfico da Vazão X Tempo no SU em um evento chuvoso. .................... 51
Figura 2.17 – Configuração esquemática da WFS. ........................................................ 54
Figura 2.18 – Configuração esquemática da WFSS. ...................................................... 55
Figura 2.19– Área de pré-tratamento da ETE Ponte dos Leites ..................................... 60
Figura 2.20 – Lagoa aerada da ETE Ponte dos Leites .................................................... 60
Figura 2.21 – Lagoa de sedimentação da ETE Ponte dos Leites .................................... 61
Figura 2.22 – Wetland da ETE Ponte dos Leites ............................................................ 61
Figura 2.23 – Estrutura de saída da wetland da ETE Ponte dos Leites .......................... 61
Figura 2.24 – Configuração esquemática da wetland na ETE Ponte dos Leites. ........... 61
Figura 3.1 – Ligações domiciliares feitas do modo convencional. ................................ 64
Figura 3.2 – Ligações feitas do modo condominial. ...................................................... 64
Figura 3.3 – Esquema de funcionamento de CTS com canaleta de fundo. .................... 66
Figura 3.4 – Esquema de funcionamento de CTS com vertedouro. ............................... 66
Figura 3.5 – Etapas de modelagem de uma área hipotética. .......................................... 77
Figura 4.1 – Localização do município de Mesquita...................................................... 78
Figura 4.2 – Bairros do município de Mesquita. ............................................................ 79
xii
Figura 4.3–Limite do município de Mesquita e da bacia do rio Dona Eugênia. ............ 80
Figura 4.4 – Localização das sub-bacias da bacia do rio Iguaçu-Sarapuí. ..................... 81
Figura 4.5 – Mapa geomorfológico da bacia do rio Dona Eugênia. ............................... 82
Figura 4.6– Mapa geológico da bacia do rio Dona Eugênia. ......................................... 82
Figura 4.7– Mapa de solos da bacia do rio Dona Eugênia. ............................................ 83
Figura 4.8– Mapa de vegetação e uso do solo da bacia do rio Dona Eugênia. .............. 84
Figura 4.9– Mapa de suscetibilidade à erosão da bacia do rio Dona Eugênia. .............. 85
Figura 4.10 – Cobertura do sistema de esgotamento do município de Mesquita. .......... 89
Figura 4.11 – Investimentos realizados pela CEDAE no estado e no município. .......... 89
Figura 4.12 – Quantidade das ligações ativas da CEDAE no estado e no município. ... 90
Figura 4.13 – Índice IN024 da CEDAE no estado e no município. ............................... 91
Figura 4.14 – Índice IN046 da CEDAE no estado e no município. ............................... 92
Figura 4.15 – Regiões paisagísticas para a bacia do rio Dona Eugênia. ........................ 99
Figura 4.16 – MDT da bacia do rio Dona Eugênia. ..................................................... 101
Figura 4.17 – Sub-bacias de microdrenagem do rio Dona Eugênia. ............................ 102
Figura 4.18 – Configuração da rede de drenagem do SSA. ......................................... 103
Figura 4.19 – Configuração da rede de esgotamento do SSA. ..................................... 104
Figura 4.20 – Configuração do SU-I. ........................................................................... 104
Figura 4.21 – Configuração do SU-II e SM. ................................................................ 105
Figura 4.22 – Localização da ETE. .............................................................................. 107
Figura 4.23 – Gráfico utilizado na determinação da área da ETE do SSA-ES. ........... 111
Figura 4.24 – Gráfico utilizado na determinação da área da ETE do SU..................... 112
Figura 4.25 – Localização da wetland projetada. ......................................................... 115
Figura 4.26 – Modelo hidrológico adotado na bacia do rio Dona Eugênia. ................. 133
Figura 4.27 – Localização dos pontos de controle. ...................................................... 135
Figura 4.28 – Mapa de alagamentos para a situação atual com TR = 10 anos. ............ 136
Figura 4.29– Mapa de alagamentos para a situação atual com TR = 25 anos. ............. 137
Figura 4.30– Mapa de alagamentos para a situação atual com TR = 100 anos. ........... 138
Figura 4.31 – Hidrogramas da situação atual no ponto de controle 1. ......................... 138
Figura 4.32 – Hidrogramas da situação atual no ponto de controle 2. ......................... 139
Figura 4.33 – Hidrogramas da situação atual no ponto de controle 3. ......................... 139
Figura 4.34 – Hidrogramas da situação atual no ponto de controle 4. ......................... 140
Figura 4.35 – Mapa de alagamentos para o SSA-DR com TR = 10 anos. ................... 141
Figura 4.36 – Mapa de alagamentos para o SM com TR = 10 anos. ............................ 142
xiii
Figura 4.37 – Mapa de alagamentos para o SSA-DR com TR = 25 anos. ................... 143
Figura 4.38 – Mapa de alagamentos para o SM com TR = 25 anos. ............................ 144
Figura 4.39 – Mapa de alagamentos para o SSA-DR com TR = 100 anos. ................. 145
Figura 4.40 – Mapa de alagamentos para o SM com TR = 100 anos. .......................... 146
Figura 4.41 – Hidrogramas no ponto de controle 1. ..................................................... 147
Figura 4.42 – Hidrogramas no ponto de controle 2. ..................................................... 148
Figura 4.43 – Hidrogramas no ponto de controle 3. ..................................................... 149
Figura 4.44 – Hidrogramas no ponto de controle 4. ..................................................... 150
Figura 4.45 – Localização das CTS analisadas. ........................................................... 154
Figura 4.46 – Extravasamentos no ponto H.18. ........................................................... 154
Figura 4.47 – Extravasamentos no ponto I.5. ............................................................... 155
Figura 4.48 – Extravasamentos no ponto E.5. .............................................................. 155
Figura 4.49 – Afogamento e extravasamentos no ponto F.6. ....................................... 156
Figura 4.50 – Vazões no interceptor no ponto I.5. ....................................................... 157
Figura 5.1 – Variação da tensão trativa em função do diâmetro e velocidade nos
coletores, considerando Y/D = 0,5 e n = 0,013. ........................................................... 160
xiv
Índice de Tabelas
Tabela 2.1 – Equações para a declividade mínima. ........................................................ 30
Tabela 2.2 – Tempo de concentração para áreas urbanizadas. ....................................... 35
Tabela 2.3 – Tempo de recorrência conforme tipo de dispositivo. ................................ 35
Tabela 2.4–Coeficientes de deflúvio. ............................................................................. 37
Tabela 2.5 – Comparação qualitativa entre água pluviais, residuais e combinadas. ...... 51
Tabela 2.6 – Vantagens e desvantagens da wetland construída. .................................... 54
Tabela 2.7 – Tipos de mecanismos de remoção de poluentes em wetlands construídas.56
Tabela 2.8 - Parâmetros para dimensionamento de wetlands segundo a EPA. .............. 57
Tabela 2.9 – Parâmetros para dimensionamento de wetlands segundo Reed et al. ........ 57
Tabela 2.10 – Desempenho das wetlands brasileiras ..................................................... 59
Tabela 3.1 – Vantagens e desvantagens do sistema condominial de ligações prediais. . 65
Tabela 3.2 – Descrição dos itens da tabela SINAPI utilizados no quantitativo dos
sistemas dimensionados.................................................................................................. 69
Tabela 4.1 – Informações gerais das redes para cada sub-bacia. ................................. 106
Tabela 4.2 – Parâmetros utilizados no projeto de drenagem do SSA. ......................... 108
Tabela 4.3 – Dados para estudo populacional da bacia do rio Dona Eugênia. ............. 109
Tabela 4.4 – Projeção da população da bacia do rio Dona Eugênia. ............................ 109
Tabela 4.5 – Parâmetros utilizados no projeto de esgotamento do SSA. ..................... 110
Tabela 4.6 – Vazões de águas residuais do SSA-ES. ................................................... 110
Tabela 4.7 – Vazões de águas residuais do SU. ........................................................... 112
Tabela 4.8 – Parâmetros utilizados no projeto do SU-I. ............................................... 113
Tabela 4.9 – Parâmetros utilizados no projeto do SU-II. ............................................. 113
Tabela 4.10 – Possíveis vazões para a wetland projetada. ........................................... 115
Tabela 4.11 – Custos de implantação das redes. .......................................................... 116
Tabela 4.12 – Custo unitário da ligação predial. .......................................................... 117
Tabela 4.13 – Custos das ETE. ..................................................................................... 117
Tabela 4.14 – Custo das EEE. ...................................................................................... 117
Tabela 4.15 – Custo das CTS. ...................................................................................... 117
Tabela 4.16 – Custo total de implantação de cada cenário. .......................................... 118
Tabela 4.17–Financiamento SSA. ................................................................................ 119
Tabela 4.18 – Financiamento do SU-I caso (A). .......................................................... 120
Tabela 4.19 – Financiamento do SU-I caso (B). .......................................................... 121
xv
Tabela 4.20 – Financiamento do SU-II caso (A). ......................................................... 122
Tabela 4.21 – Financiamento do SU-II caso (B). ......................................................... 123
Tabela 4.22 – Financiamento do SM. ........................................................................... 124
Tabela 4.23 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SSA. .............................................. 126
Tabela 4.24 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-I caso (A). ............................... 127
Tabela 4.25 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-I caso (B). ............................... 128
Tabela 4.26 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-II caso (A)............................... 129
Tabela 4.27 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-II caso (B). .............................. 130
Tabela 4.28 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SM................................................. 131
Tabela 4.29 – Taxa interna de retorno das situações comparadas. ............................... 132
Tabela 4.30 – Rendimento da caderneta de poupança no ano de 2016. ....................... 132
Tabela 4.31 – Lâmina máxima nas regiões adjacentes aos pontos de controle ............ 151
Tabela 4.32 – Vazão de pico nos pontos de controle ................................................... 151
Tabela 4.33 – Redução da carga de DBO lançada no rio Dona Eugênia em tempo seco.
...................................................................................................................................... 152
Tabela 4.34 - Redução da carga de DBO lançada no rio Dona Eugênia em eventos de
chuvas intensas. ............................................................................................................ 153
Tabela 4.35 – Vazões de pico nos interceptores. .......................................................... 156
xvi
Índice de Siglas
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
AGENERSA: Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do
Rio de Janeiro
ASCE: American Society of Civil Engineers
BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD: Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BNH: Banco Nacional da Habitação
CDI: Certificado de Depósito Interbancário
CEDAE: Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro
CF: Coliformes Fecais
CIDE: Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro
CME: Concentração Média do Evento
CTS: Captação de Tempo Seco
DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio
DF: Distrito Federal
DNIT: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
DNOS: Departamento Nacional de Obras de Saneamento
DQO: Demanda Química de Oxigênio
EAC: Extravasamentos de Águas Combinadas
EEE: Estação Elevatória de Esgoto
EPA: Environmental Protection Agency
ETE: Estação de Tratamento de Esgotos
EUA: Estados Unidos da América
FGTS: Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FMI: Fundo Monetário Internacional
FUNASA: Fundação Nacional de Saúde
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICMS: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IDH: Índice de Desenvolvimento Humano
IPCA-E: Índice de Preços ao Consumidor Amplo Especial
IRC: Índice de Risco de Cheias
MODCEL: Modelo de Células para Escoamento
xvii
MDT: Modelo Digital de Terreno
PAC :Programa de Aceleração do Crescimento
PEAD: Polietileno de Alta Densidade
PEMAPES: Plano Estadual de Manejo de Águas Pluviais e Esgotamento Sanitário
da Bahia
PIB: Produto interno Bruto
PDBG: Programa de Despoluição da Baía de Guanabara
PLANASA: Plano Nacional de Saneamento
PMSM: Plano Municipal de Saneamento de Mesquita
PMSS: Programa de Modernização do Setor de Saneamento
PNSB: Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PROSAM: Plano de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana de Curitiba
PVC: Policloreto de Polivinila
REFLU: Índice de Risco de Cheias calculado por Veról (2013)
SABESP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAC: Sistema de Amortização Constante
SANEPAR: Companhia de Saneamento do Paraná
SEMASA: Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André
SESP: Serviço Especial de Saúde Pública
SINAPI: Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices
SM: Sistema Misto
SNIS: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
SS: Sólidos em Suspensão
SSA-DR: Sistema Separador Absoluto de Drenagem
SSA-ES: Sistema Separador Absoluto de Esgotamento
SU: Sistema Unitário
TIR: Taxa Interna de Retorno
TKN: Nitrogênio Total Kjeldahl
TMA: Taxa Mínima de Atratividade
VP: Método do Valor Presente
WFS: Wetlands de Fluxo Superficial
WFSS: Wetlands de Fluxo Subsuperficial
WPCF: Water Pollution Control Federation
xviii
1 Introdução
1.1 Considerações iniciais
A expansão da população urbana ocorrida no século XX estabeleceu grandes
conglomerados e cidades que, aliados à falta de planejamento, trouxe preocupações de
ordem ambiental e de bem-estar da população. O estresse gerado sob os recursos
hídricos é cada vez mais evidente e tornou-se um problema complexo, sendo um grande
desafio aos planejadores de recursos hídricos.
No Brasil, grande parte da poluição dos corpos hídricos ainda é resultante do
despejo de águas residuais. Apesar de ser geralmente considerado o sistema ideal sob o
ponto de vista de resultados ambientais, o sistema separador absoluto apresenta falhas
em muitas cidades, já que na maioria drenagem cobertura não é completa e, mesmo
onde existe por completo, mostra desempenho precário devido à dificuldade de realizar
a ligação domiciliar e às interconexões não projetadas entre os sistemas de drenagem e
esgotamento.
Com o intuito de lidar com este problema, pesquisadores brasileiros estão
começando a investigar aspectos relativos à implantação do sistema misto, onde são
feitas adaptações no sistema separador de drenagem a fim de captar e enviar para
tratamento as contribuições indevidas de águas residuais na rede de drenagem em tempo
seco. Além disso, a partir da criação da Lei nº 11.445/2007, este tipo de ação pôde ser
institucionalizado, através de planos de saneamento, em diversos municípios do país.
Esta lei, conhecida como a Lei de Saneamento, levanta a questão do saneamento
ambiental, um novo conceito de saneamento que visa trazer uma maior integração entre
a gestão e o planejamento das atividades de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, drenagem e manejo de águas pluviais e coleta de resíduos sólidos; bem como
inserir tais atividades em um contexto mais amplo, onde preservação de recursos
naturais, melhoria de qualidade de vida e saúde estão interligados.
Porém, mesmo com a Lei nº 11.445/2007, percebe-se que ações tradicionais de
saneamento têm sido consideradas de forma combinada, mas não necessariamente de
forma integrada. Sistemas de drenagem e manejo de águas pluviais e esgotamento
sanitário são projetados, construídos e geridos de forma separada. Acredita-se que este
modelo já não é mais suficiente para promover a valorização do espaço urbano e que é
necessária a adoção de uma visão holística dos problemas relacionados à salubridade
1
das cidades. Sendo assim, torna-se necessário enfrentar os problemas reais e buscar
estratégias evolutivas, de longo prazo, que garantam os objetivos da Lei de Saneamento.
Deve-se, portanto, elaborar soluções factíveis, tanto técnica como economicamente,
buscando novas alternativas, com metas bem definidas e partindo da correção das
distorções presentes. Esse último ponto é fundamental: estas distorções descaracterizam
a lógica original dos sistemas implantados e se constituem, talvez, no maior desafio
técnico do setor. O sistema separador, descaracterizado e conduzindo esgotos de
ligações indevidas na rede separada de drenagem, descarrega diretamente nos corpos
d’água, sem nenhuma proteção para estes últimos. Não é possível fechar os olhos para
esta situação e seguir trabalhando com a expansão do sistema separador, ainda que,
como conceito, este sistema seja capaz de produzir os melhores resultados ambientais.
Dessa maneira, o trabalho aqui apresentado visa contribuir para esta discussão,
incluindo uma comparação econômica entres diferentes configurações de sistemas de
drenagem e esgotamento, buscando uma solução funcional, de longo prazo, que se
inicie pelo reconhecimento da necessidade de corrigir o funcionamento dos sistemas
hoje já implantados. Assim, além do sistema convencional – separador absoluto – serão
considerados o sistema misto – que é aquele que recebe contribuições de águas
combinadas, mas não foi projetado para desempenhar tal função – e o sistema unitário –
que é aquele que foi projetado para transportar e tratar águas combinadas em tempo
chuvoso e águas residuais em tempo seco. Além disso, será utilizado o MODCEL, um
modelo hidrodinâmico pseudobidimensional, para avaliar o desempenho – em situação
de chuvas intensas – das redes do sistema separador absoluto e do misto.
A ideia central da dissertação é mostrar que sistemas não convencionais de
drenagem e esgotamento devem ser incorporados na fase de planejamento dos serviços
de saneamento dos municípios. Este poderia ser o primeiro passo de uma solução
gradual e progressiva, onde o sistema separador é o objetivo final de longo prazo,
quando então o sistema unitário ou misto poderia passar a tratar a própria drenagem e o
problema de poluição difusa.
Como consequência desta abordagem, espera-se obter soluções globalizantes de
curto, médio e longo prazo que sejam economicamente viáveis e apresentem um melhor
resultado ambiental tanto sob o ponto de vista de preservação natural, como de melhoria
da qualidade de vida no ambiente construído.
Para a aplicação da comparação supracitada foi escolhida a bacia hidrográfica do
Rio Dona Eugênia, uma bacia que encontra inserida na bacia do rio Iguaçu-Sarapuí;
2
uma região da Baixada Fluminense que apresenta problemas crônicos de saneamento
ambiental, sendo por isso beneficiada por diversos programas estaduais e federais.
Outro motivo para a escolha da bacia do rio Dona Eugênia foi o fato de que toda a
área urbana que margeia o rio está inserida em um único município: o município de
Mesquita. Esta cidade, apesar de possuir recursos hídricos extremamente degradados,
apresenta uma boa estrutura legislativa para implementar a gestão integrada no
saneamento ambiental.
Por fim, propõem-se o estudo desta bacia como uma forma de complementar os
estudos realizados em trabalhos anteriores; como o de Britto et al. (2011), o de
Lourenço (2013) e o de Veról (2013). No primeiro trabalho, Britto et al. (2011, p. 1) se
basearam na análise do Plano Diretor Municipal de Desenvolvimento Urbano de
Mesquita, em pesquisas de campo e aplicação de questionários para “[...] avaliar os
resultados concretos do governo municipal no âmbito do planejamento urbano e
ambiental [...]”. Lourenço (2013) visou demonstrar a importância do projeto
paisagístico no processo de requalificação fluvial. Veról (2013, p. 11) objetivou
construir uma nova abordagem na definição de soluções para o controle de cheias
urbanas, “[...] considerando as necessidades da cidade propriamente ditas e a
revitalização e valorização do espaço urbano, bem como a utilização de conceitos de
requalificação fluvial, garantindo ganhos de qualidade para o ambiente do rio.” A autora
utilizou índices de risco de cheia e uma escala de resiliência para avaliar cenários
contendo diversas propostas para o controle de cheias, desde a implantação de uma
barragem até medidas de drenagem sustentável e de requalificação fluvial.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
1.4 Escopo
Feita a introdução, será apresentado no Item 2 a Revisão Bibliográfica. O Item 2.1
contextualizará a evolução histórica do saneamento clássico brasileiro, bem como a
descrição da situação atual dos sistemas de drenagem e de esgotamento no país. A
metodologia tradicional de cálculo dos sistemas de esgotamento e de microdrenagem
também será brevemente descrita nos Itens 2.2 e 2.3, respectivamente. Finalmente, no
Item 2.4 serão abordados temas relacionados à poluição difusa e drenagem sustentável,
bem como pesquisas relacionas ao sistema unitário no Brasil e no mundo.
O Item 3 descreverá a Metodologia aplicada no estudo de caso, que por sua vez,
será apresentado no Item 4.
A caracterização econômica, física, histórica e institucional da região, o
diagnóstico da situação dos sistemas de esgotamento e drenagem e o detalhamento dos
estudos já realizados na bacia do rio Dona Eugênia são apresentados no Item 4.1. As
considerações feitas para o traçado e dimensionamento das soluções propostas serão
apresentadas nos Itens 4.2 e 4.3. No Item 4.4 se encontram as composições dos custos,
5
que foram utilizados no Item 4.5 para a avaliação econômica. A etapa da avaliação de
desempenho das redes, feita com o Modelo de Células de Escoamento para Bacias
Urbanas (MODCEL), constará no Item 4.6.
Finalmente, no Item 5, serão apresentadas as considerações finais, com as
conclusões e recomendações para futuros estudos.
6
2 Revisão Bibliográfica
2.1 O saneamento no Brasil
Até 2007, quando foi promulgada a Lei do Saneamento – Lei Federal nº 11.445 –
o saneamento básico se constituía nas atividades e serviços relacionados aos sistemas de
abastecimento de água e de esgotamento sanitário. Dessa maneira, ao longo dos anos, o
sistema de drenagem pluvial, foi tratado de maneira separada, possuindo divisão e
evolução histórica própria, que não será abordada nesse item. Sendo assim, um breve
histórico do saneamento clássico será descrito a seguir.
7
exploração colonial, não houve incentivo para a implantação de políticas de saúde, o
que fez com que grande parte das ações de saneamento fossem realizadas de forma
individualizada (REZENDE; HELLER, 2002).
Com a descoberta do ouro muitos imigrantes estrangeiros foram atraídos para o
Brasil, levando ao crescimento de muitas cidades e vilas. Surge a necessidade de ações
coletivas no âmbito do abastecimento e destinação dos dejetos, que por sua vez, foram
solucionadas com a construção de chafarizes e com o uso do trabalho escravo para a
coleta das excretas humanas. A transferência da corte portuguesa para o Brasil e a
abertura dos portos trouxe um aumento expressivo da população – especialmente no Rio
de Janeiro. Infelizmente, esse crescimento populacional não foi acompanhado por um
aumento proporcional da infraestrutura de saneamento, porque a centralização dos
serviços foi impulsionada apenas nas atividades que forneciam suporte à economia
portuária, deixando as políticas públicas, ainda, sob responsabilidade local. Por
conseguinte, a insalubridade crescente das cidades em meados do século XIX fez o país
passar por diversas epidemias (REZENDE; HELLER, 2002).
8
sanitarista brasileiro, sendo o pioneiro nesta especialidade no país (TOCHETTO;
FERRAZ, 2015). É a partir de sua orientação que se passou a utilizar o sistema
separador absoluto (TSUTIYA; BUENO, 2005).
Além disso, destaca-se na sua atuação profissional o fato de sempre ter defendido
a necessidade da elaboração de planos diretores para as cidades, pois entendia que eles
são um meio de garantir o crescimento bem proporcionado das mesmas. Ele propôs
planos e projetos de saneamento em cidades como Petrópolis (RJ), Paraíba do Sul (RJ),
Itaocara (RJ), Campos (RJ), Santos (SP), Campinas (SP), Rio Grande (RS), Recife (PE),
Paraíba do Norte (PB), etc. (TOCHETTO; FERRAZ, 2015).
Brito já defendia, antes mesmo de se ter uma lei que regulamentasse o espaço
urbano, o planejamento das cidades como um processo contínuo e desenvolvido
independentemente das administrações municipais:
“A atuação de Brito no campo do urbanismo moldou o processo de
planejamento urbano no país. Com Brito, inicia-se um modo mais abrangente
de ver e tratar o espaço urbano, o que resulta na necessidade de um plano
geral para prever e gerenciar a expansão da cidade, as formas ideais de
traçado urbano de acordo com as necessidades, artístico ou xadrez, o
urbanismo sanitarista e as medidas legais para estruturar e implantar o
plano.” (TOCHETTO; FERRAZ, 2015, p. 100).
Esta época também foi um período de grande articulação entre a saúde e o
saneamento, já que surge uma teoria científica sobre o contágio das doenças, dando
início às campanhas de vacinação. Assim, a institucionalização do setor da saúde e a
necessidade de adequar as cidades brasileiras à nova realidade política e econômica,
possibilitaram o desenvolvimento de ações sanitárias de caráter público, especialmente
no próximo período (REZENDE; HELLER, 2002).
9
positiva do trabalho realizado por este órgão na região. Outro exemplo é o Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP), criado em 1942 a partir do estabelecimento de uma
cooperação entre a Fundação Rockfeller e profissionais brasileiros (REZENDE;
HELLER, 2002).
10
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) (BORJA, 2004). A partir
da segunda metade de década de 1990, inicia-se um contingenciamento de crédito ao
setor público já que o governo brasileiro firma um acordo com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) onde se compromete a acelerar e ampliar o programa de
privatização dos serviços de água e esgoto (REZENDE; HELLER, 2002).
Em 2007 foi promulgada a Lei nº 11.445, que estabelece diretrizes nacionais para
o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico. Essa lei define, em
seu artigo 3º, saneamento básico como sendo o conjunto de serviços, infraestruturas e
instalações operacionais de: abastecimento de água potável, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais.
Dentre seus pontos principais podemos destacar (BRASIL, 2007):
Os diversos serviços de saneamento devem estar integrados com a gestão
de recursos hídricos e com as políticas de desenvolvimento urbano e
regional;
As tecnologias adotadas devem considerar a capacidade de pagamento dos
usuários e a adoção de soluções graduais e progressivas;
A existência de plano de saneamento e de estudo comprovando a
viabilidade técnica e econômico-financeira da prestação universal e
integral dos serviços são essenciais para a validação dos contratos;
O plano de saneamento deverá ser compatível com o plano da bacia
hidrográfica em que estiver inserido e deverá abranger no mínimo:
o Diagnóstico da situação e de seus impactos nas condições de vida
da população;
o Objetivos e metas de curto, médio e longo prazo para
universalização, admitidas soluções graduais e progressivas;
o Programas, projetos e ações necessárias para atingir os objetivos e
metas, identificando possíveis fontes de financiamento;
o Ações para emergências e contingências;
o Mecanismos e procedimentos para avaliação sistemática da
eficiência das ações programadas.
O serviço de manejo de águas pluviais poderá ser cobrado por meio de
taxa e deve levar em conta, em cada lote urbano, os percentuais de
11
impermeabilização e a existência de dispositivos de amortecimento e
retenção;
A autoridade ambiental estabelecerá metas progressivas para que a
qualidade dos efluentes provenientes da Estação de Tratamento de Esgotos
(ETE) atendam aos padrões das classes dos corpos hídricos em que forem
lançados, a partir dos níveis presentes de tratamento e considerando a
capacidade de pagamento dos usuários.
O entendimento de uma atuação progressiva favorece a utilização de captações de
tempo seco para a correção de sistemas separadores que não funcionam
apropriadamente, bem como propicia base legal para que o projeto do sistema unitário
possa ser desenvolvido como uma etapa de curto ou médio prazo para se chegar à
situação ideal.
A Lei nº 11.445 também serviu para alavancar o desenvolvimento de políticas
estaduais e municipais de saneamento através de seu Decreto de Regulamentação nº
7.217 de 2010 que, em seu artigo 26, parágrafo 2º, estabelece que a existência de um
plano de saneamento básico será condição para o acesso a recursos orçamentários e
financeiros da União.
12
Figura 2.1– Índices e investimentos relativos ao sistema de esgotamento brasileiro.
Fonte: Elaborado com base nos dados de SNIS (1999, 2000, 2001, 2002, 2004a, 2004b, 2005, 2006,
2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014a, 2014b, 2016, 2017).
Com relação aos índices IN024 e IN046, os dados apresentados na Figura 2.1
mostram um cenário de crescimento muito lento. Em relação ao IN024, ao longo dos 18
anos em que ele foi quantificado houve um crescimento de apenas 21,60% do índice de
atendimento urbano de esgoto. Esse valor corresponde a um crescimento médio anual
de 1,27%. O mesmo ocorre com o IN046: ao longo dos 15 anos de quantificação, houve
um crescimento de somente 17,10% do índice de tratamento de esgoto, correspondendo
a um crescimento médio anual de 1,22%.
Curiosamente, como é possível observar no mesmo gráfico, a evolução dos
investimentos por habitante na área não segue o mesmo padrão dos índices IN024 e
IN046. Nota-se que, a partir do ano de 2006, houve um aumento considerável do
montante investido. Entre os anos de 2005 e 2006 esse aumento foi de 32,79%, no
período entre 2008 e 2009 o aumento chegou ao seu valor máximo de 43,80%. Ressalta-
se também, que entre os anos de 2014 e 2015 houve uma queda de 6,52% nos
investimentos, o que pode estar sinalizando o início de um período de retração do setor
devido à crise econômica do país. De forma geral, o crescimento porcentual médio
anual dos investimentos per capita ficou em torno de 7,20%.
O cenário expresso pela Figura 2.1 é paradoxal. O significativo aumento dos
investimentos em esgotamento sanitário impactou muito pouco no aumento dos índices
de atendimento com rede coletora e tratamento. Este fato é corroborado quando vemos
13
diversos planos de despoluição falhando sistematicamente. O município de Curitiba
passou pela implantação do Plano de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana
(PROSAM) e pelo Plano de Despoluição Hídrica da Bacia do Alto Iguaçu e mesmo
assim não alcançou os resultados desejados (MARIN et al., 2007). Na cidade de São
Paulo, houve um investimento de mais de 1,5 bilhões de dólares em estações de
tratamento e melhorias nos sistemas de interceptores na bacia do rio Tietê; porém, os
resultados foram insignificantes (YAZAKI; HAUPT; PORTO, 2007). No estado do Rio
de Janeiro, foram investidos cerca de 1,2 bilhões de dólares no Programa de
Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG), que também teve resultados melancólicos
(ALENCAR, 2016). O Programa Baía Azul, realizado na região metropolitana de
Salvador, contou com um investimento de US$ 600 milhões – sendo 57,25% deste valor
investido no sistema de esgotamento sanitário – e também não atingiu todas as metas
propostas (BORJA, 2004).
Apesar disso, há casos de sucesso, ainda que presentes em uma escala muito
menor. Como exemplo podemos citar o Programa Córrego Limpo, que foi uma parceria
entre os governos estadual e municipal de São Paulo e despoluiu 152 córregos ao longo
de 6 anos. Entre 2007 e 2013 foram investidos R$ 900 milhões – desse total R$ 220
milhões foram investidos pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo (SABESP) – beneficiando cerca de 2 milhões de pessoas e retirando 1350 l/s de
águas residuais dos corpos hídricos. Para isso foram realizadas obras complexas e não
convencionais como: construção de redes com o método não destrutivo, construção de
redes coletoras em fundos de lotes e construção de redes dentro dos córregos para serem
feitas ligações de soleiras negativas (MASSONE, 2014). As Figura 2.2 e Figura 2.3
ilustram os efeitos da despoluição em um dos córregos abrangidos pelo programa e a
Figura 2.4 mostra como foram realizadas as obras de ligações prediais nas habitações
informais que margeavam os córregos.
14
Figura 2.2 – Córrego Tenente Rocha antes das Figura 2.3– Córrego Tenente Rocha depois das
intervenções. intervenções.
Fonte: Massone (2014). Fonte: Massone (2014).
15
Outro caso de sucesso foi o da despoluição da Lagoa de Araruama, que banha os
municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e
Arraial do Cabo, no estado do Rio de Janeiro. No final da década de 1990 a lagoa se
encontrava altamente eutrofizada, devido, principalmente, ao lançamento de águas
residuais sem tratamento. Em 2002, o Ministério Público, em conjunto com a agência
reguladora e outras entidades, definiram mudanças no contrato de concessão, aprovando
a utilização provisória dos sistemas de drenagem pluvial como coletores. Estes seriam
direcionados através de tomadas de tempo seco para estações elevatórias e estações de
tratamento de esgotos, permitindo uma redução imediata da carga orgânica que chegava
à lagoa (PROLAGOS, 2018).
Muito pode ser discutido sobre os motivos do insucesso dos diversos programas
citados anteriormente. Além dos óbvios déficits de redes coletoras e de tratamento de
águas residuais, há também que se considerar as interconexões clandestinas entre as
redes dos sistemas de esgotamento sanitário e drenagem pluvial. No Reino Unido, por
exemplo, este problema é considerado uma prioridade pelas agências ambientais. Ellis e
Butler (2015) apontam que os principais fatores que contribuem para o aumento destas
interconexões são:
Falta de planejamento urbano;
Falta de fiscalização de obras e consequente descontrole sobre as ligações
prediais;
Ausência de planos de manutenção e conservação;
Utilização de sistemas antigos e obsoletos.
De fato, Borja (2004) apontou diversos problemas na realização das obras de
esgotamento sanitário no Programa Baía Azul:
Não conclusão de obras;
Obras de má qualidade;
Uso de materias de qualidade inferior;
Obras que necessitaram ser refeitas diversas vezes;
Falta de fiscalização;
Execução de ligações domiciliares em quantidade insufuciente.
O problema das ligações clandestinas se faz presente em todo o mundo. Parker,
McIntyre e Noble (2010) detectaram presença ilícita de águas residuais em sistemas de
drenagem pluvial na região costeira da Carolina do Norte (EUA).
16
Deffontis et al. (2013) realizaram um estudo para quantificar o impacto destas
contribuições em corpos receptores de duas bacias diferentes na cidade de Toulouse
(França) e concluíram que os despejos irregulares de águas residuais na rede de
drenagem chegaram a representar entre 65% e 89% da carga poluidora total anual.
Krein et al. (2007) ao analisarem a Concentração Média do Evento1 (CME) de
diferentes poluentes em duas redes separadoras de drenagem observaram que na rede
em que foi detectada presença de lançamento irregular de águas residuais o fenômeno
de first-flush2 ocorreu em 87% das chuvas, enquanto que a rede em que não se detectou
presença de contribuições clandestinas o fenômeno aconteceu em apenas 29% das
chuvas.
No Brasil o problema é agravado, pois, segundo Fadel e Dornelles (2015) algumas
prefeituras do Rio Grande do Sul estão permitindo o lançamento de águas residuais no
sistema de drenagem devido à falta de capacidade financeira para a expansão da rede
separadora. Além disso, a NBR 9649/86 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) afirma que:
“A rede coletora não deve ser aprofundada para atendimento de economia
com cota de soleira abaixo do nível da rua. Nos casos de atendimento
considerado necessário, devem ser feitas análises da conveniência do
aprofundamento, considerados seus efeitos nos trechos subsequentes e
comparando-se com outras soluções.” (ABNT, 1986b, p. 3)
A recomendação supracitada teve sua origem em um estudo realizado pela
SABESP na região metropolitana de São Paulo em 1980. Nesta época a política de
esgotamento previa o atendimento de todos os lotes. No estudo foram levantados 307
quilômetros de rede e os valores de profundidades de 45.000 ligações prediais. Deste
levantamento concluiu-se que 92% dessas ligações estavam a uma profundidade menor
do que 1,5 metros. Além disso, constatou-se que 20% da extensão total de rede se
encontrava a mais de 3 metros de profundidade, sendo que o custo unitário médio destes
20% foi 50% maior do que o custo unitário médio dos 80% restante, levando a
conclusão de que o custo com o aprofundamento da rede não justificava a pequena
parcela de atendimento (TSUTIYA; SOBRINHO, 1999). De modo complementar, a
NBR 8160/99 – que trata do projeto e execução de sistemas prediais de esgoto sanitário
– determina que caso existam aparelhos sanitários instalados em nível inferior ao do
logradouro, os efluentes dos mesmos devem ser recalcados para o coletor público.
1Corresponde a carga poluidora total que é lançada no corpo hídrico, sendo a razão entre a massa total do
poluente em determinado evento chuvoso pelo volume total escoado (SÃO PAULO, 2012b).
2 Ver definição no Item 2.4.1.
17
Apesar dos benefícios econômicos, esse ponto da NBR 9649/86 não detalha a
metodologia e os critérios que devem ser utilizados na análise de conveniência de
aprofundamento da rede. Isso pode incentivar o descaso com as ligações domiciliares
quando da elaboração de projetos e obras de coletores públicos, já que a
responsabilidade da ligação acaba sendo repassada inteiramente para o usuário. Em
muitas regiões, pode ocorrer que uma significativa parcela das edificações seja
descartada, sem que seja feito qualquer análise. A consequência disso é a
admissibilidade de que a ligação domiciliar de águas residuais seja feita no sistema de
drenagem, o que nos leva a perguntar se as interconexões são de fato “clandestinas”.
Fora dos EUA, Austrália e Reino Unido, não existem muitos programas de
combate a estas irregularidades, apesar de seu alto potencial poluidor. Dados coletados
sugerem uma taxa de 3% de ligações ilícitas no Reino Unido, com uma variação de 1%
e 5%. Também foram identificadas regiões isoladas com taxas elevadas, entre 20% e
30%. Nos EUA e Europa os valores ficam entre 3% e 4%. Os custos com o combate às
ligações ilícitas no Reino Unido foram estimados em £235 milhões por ano (ELLIS;
BUTLER, 2015).
No município do Rio de Janeiro, estima-se que apenas 35% da área física seja
contemplada com um sistema separador absoluto funcionando adequadamente (PCRJ,
1999 apud ROSSO; DIAS; GIORDANO, 2011). Não existem muitas pesquisas
quantificando a magnitude e extensão do problema das interconexões no Brasil, bem
como ações que visam combatê-las. Há, portanto, uma grande necessidade de
aprofundamento no tema, com medidas que aumentem o debate tanto no nível da
pesquisa, quanto no meio institucional e da sociedade como um todo; que incentivem a
coleta de dados e que otimizem os investimentos na área, de forma que os valores
gastos se transformem em melhorias sanitárias e ambientais.
18
O IBGE apresentou dados referentes à drenagem em manejo de águas pluviais em
2011, na publicação Atlas de Saneamento, que reuniu informações da Pesquisa
Nacional de Saneamento Básico (PNSB 2008), realizada em parceria com o Ministério
das Cidades, bem como estatísticas do Censo Demográfico 2010 e de fontes
provenientes de outros órgãos e entidades.
Os dados levantados mostram que 95% dos os municípios brasileiros realizam
manejo de aguas pluviais. Dentre estes, apenas 11,4% utilizam informações
fluviométricas e 28,3% utilizam informações pluviométricas. Cerca de 30% informaram
a existência de processos erosivos na área urbana. O assoreamento do sistema de
drenagem atinge 40% dos municípios que fazem manejo. Quanto à manutenção, foi
constatado que 85,8% dos municípios realizam esta tarefa (IBGE, 2011).
O PNSB 2008 também mostrou que 40,8% dos municípios sofreram com
inundações na área urbana. As inundações ocorreram com maior predominância em
áreas naturalmente inundáveis por cursos d’água – 61% dos casos. As principais causas
associadas às inundações foram obstrução de bueiros e bocas de lobo e ocupação
intensa e desordenada do solo (IBGE, 2011).
Baptista, Nascimento e Barraud (2005) afirmam que os danos globais
relacionados às inundações elevaram-se a 250 bilhões de dólares no período entre os
anos de 1988 e 1997 e passaram a constituir o mais impactante fator de risco natural. Os
autores ainda estimam um valor anual médio de 2 bilhões de dólares em despesas e
prejuízos com inundações no Brasil. Além de prejuízos econômicos, dados do PNSB
2008 indicam que cerca de 12% dos municípios brasileiros apresentaram casos
confirmados de leptospirose e, em 3%, ocorreram óbitos, sendo os maiores números –
de casos e de óbitos – verificados nas regiões metropolitanas.
19
em áreas com concentração de população e em desenvolvimento. O projeto, construção,
operação e manutenção deste sistema envolve grandes investimentos de capital apesar
de ser pouco visto e reconhecido pelo público em geral (ASCE; WPCF, 1982).
O sistema de esgotamento sanitário pode ser classificado em (ASCE; WPCF,
1982; TSUTIYA; SOBRINHO, 1999):
Sistema de esgotamento combinado ou unitário (SU): é aquele projetado para
receber tanto águas residuais e de infiltração como águas pluviais.
Sistema de esgotamento separador absoluto (SSA): é aquele projetado para
receber somente águas residuais e de infiltração.
Sistema de esgotamento separador parcial (SSP): é aquele projetado para receber
águas residuais e de infiltração, e águas pluviais provenientes de pátios e
telhados.
Sistema de esgotamento misto (SM): é aquele que foi projetado para receber
somente águas residuais e de infiltração, mas recebe, não intencionalmente,
águas pluviais. Vale ressaltar que, no sistema misto também pode ocorrer o
contrário, ou seja, ele também pode ser caracterizado como aquele que foi
projetado para receber águas pluviais e recebe, não intencionalmente, águas
residuais.
O sistema separador absoluto é considerado o mais preconizado, pois tem a
vantagem de otimizar custos com a construção e operação das a estações de tratamento.
O sistema de esgotamento unitário foi desenvolvido para países com menor índice
pluviométrico e são usualmente encontrados em cidades mais antigas, onde é
extremamente difícil e caro prover sistemas separados. O sistema de esgotamento misto
é bastante frequente e se deve principalmente a ligações clandestinas e interconexões
entre as redes separadoras absolutas de esgotamento sanitário e drenagem pluvial
(ASCE; WPCF, 1982; TSUTIYA; SOBRINHO, 1999). Alguns autores, como Rosso,
Dias e Giordano (2011), definem o sistema misto como sendo equivalente ao sistema
separador parcial, porém esta classificação não será adotada neste trabalho.
Artina et al. (1997) classificam os sistemas de saneamento em 5 tipos, conforme
ilustrado na Figura 2.5:
Sistema separador absoluto convencional: as águas residuais são
encaminhadas para a estação de tratamento e as águas pluviais são
lançadas diretamente no corpo receptor;
20
Sistema separador com desvio: as vazões de tempo seco e uma parte das
vazões combinadas são encaminhadas para a rede de esgotamento e
tratadas na estação. Os desvios atuam como captações de tempo seco,
deslocando para a rede de esgotamento lançamentos ilícitos de águas
residuais e uma parte da carga difusa. A vazão desviada deve ser calculada
com base na capacidade da estação de tratamento e a rede de esgotamento
deve ser dimensionada para transportar tais vazões por gravidade;
Sistema separador com desvio e reservatório: uma parte das vazões
desviadas é armazenada para, posteriormente, ser encaminhada para a rede
de esgotamento e tratada na estação;
Sistema unitário com extravasor: as águas residuais e uma parte das
pluviais são encaminhadas para a estação de tratamento. Em eventos
extremos há lançamento das águas combinadas diretamente no corpo
receptor;
Sistema unitário com extravasor e reservatório: as águas residuais e uma
parte das pluviais são encaminhadas para a estação de tratamento. Em
eventos extremos ocorre armazenamento e, caso não seja suficiente,
lançamento das águas combinadas diretamente no corpo receptor.
21
No Brasil, o sistema de esgotamento sanitário do tipo separador absoluto se
consolidou tanto tecnicamente – a ABNT normatizou os elementos de concepção e
projeto destes sistemas nas NBR 9648/86 e NBR 9649/86 – como legalmente, já que
este tipo de sistema é condicionante ao licenciamento ambiental.
Bernades e Soares (2004) dividiram os sistemas de esgotamento sanitário
brasileiro em quatro configurações distintas: desde a situação de total ausência de
infraestrutura, passando pelas soluções individuais e sistema unitário, até a condição
ideal, correspondente ao sistema separador absoluto. A Figura 2.6 apresenta as
diferentes configurações supracitadas.
Figura 2.6 – Fluxograma para identificação dos diferentes tipos de sistema de esgotamento.
Fonte: Adaptado de Bernades e Soares (2004).
Merece destaque no fluxograma da Figura 2.6 o fato de que o autor não separa o
caso em que o sistema de drenagem recebe águas residuais do caso em que o sistema de
esgotamento recebe águas pluviais. Nesta configuração sem distinção, parece haver
implicitamente a consideração de que esta é uma situação de falha. De fato, dadas as
diferenças de porte, se as águas pluviais adentram o sistema de esgotamento – que
possui dimensões mais restritas – esta configura uma situação de falha e haverá
espalhamento de águas residuais por largas extensões, além de dificuldade – ou
impossibilidade – do tratamento devido à diluição. Porém, se as águas residuais entram
no sistema de drenagem, esta situação só configura falha se não foi prevista. As
dimensões necessárias para a condução das águas pluviais podem, com facilidade,
conduzir também as águas residuais, quando da ocorrência de chuvas. Se esta rede não
foi prevista, porém, para trabalhar com um sistema unitário, as águas combinadas, bem
como o escoamento das águas residuais em tempo seco se direcionarão para o corpo
receptor, sem que este tenha nenhuma defesa. Por outro lado, se o sistema foi
22
formalmente projetado para receber ambas as contribuições, espera-se que, em tempo
seco, todo o efluente seja direcionado para tratamento antes de descarregado no corpo
receptor. Além disso, quando em concomitância com as chuvas, as águas residuais que
não puderem ser tratadas serão descarregadas com algum nível de diluição no corpo
receptor, sendo essa diluição um tratamento já suficiente, em termos de preservação do
meio ambiente, para as chuvas de maior porte.
24
Equação 2.1
( )
Equação 2.2
( )
( )
Método geométrico: pressupõem que o logaritmo da população varia
linearmente com o tempo, com taxa de crescimento geométrico (kg) e
também considera no cálculo da população futura (Pf) dados do penúltimo
censo (ano t1/ população P1), e dados do último censo (ano t2/ população
P2).
Equação 2.3
( )
Equação 2.4
Equação 2.7
( )
( ) ( )
Equação 2.8
25
2.2.2.1.3 Método de extrapolação gráfica:
Consiste no traçado de uma curva arbitrária que se ajusta aos dados observados. A
estimativa da população futura é obtida no prolongamento da curva (TSUTIYA;
SOBRINHO, 1999).
A vazão de águas residuais domésticas varia com o consumo de água, sendo que
este é afetado por diversos fatores como tempo e clima. Para representar estas variações
são utilizados os coeficientes de máxima vazão diária (K1) e horária (K2). O primeiro
expressa a relação entre a vazão média do dia de maior consumo e a vazão média diária
anual, enquanto que o segundo expressa a relação entre a maior vazão horária do dia de
maior consumo e a vazão média horária do dia. Quando não houver medições de vazão
para a determinação dos coeficientes, recomenda-se o valor de 1,2 para K1 e 1,5 para K2
(TSUTIYA; SOBRINHO, 1999; ABNT, 1986b).
26
2.2.2.2.5 Coeficiente de retorno:
Equação 2.10
Equação 2.11
Equação 2.12
Onde:
Qi = vazão máxima inicial (l/s);
Qf = vazão máxima final (l/s);
Qd.i = vazão média inicial de águas residuais domésticas (l/s);
Qd.f = vazão média final de águas residuais domésticas (l/s);
K1 = coeficiente de máxima vazão diária;
K2 = coeficiente de máxima vazão horária;
Qinf.i = vazão de infiltração inicial (l/s);
Qinf.f = vazão de infiltração final (l/s);
Qc.i = vazão concentrada inicial (l/s);
Qc.f = vazão concentrada final (l/s);
Pi = população inicial (hab);
Pf = população final (hab);
q = consumo de água efetivo per capita (l/hab.dia);
C = coeficiente de retorno.
27
2.2.2.2.7 Taxas de contribuição linear:
Equação 2.14
Onde:
Tx.i = taxa de contribuição linear inicial (l/s.km);
Tx.f = taxa de contribuição linear final (l/s.km);
Tinf = taxa de infiltração3;
L = comprimento total da rede coletora (km).
3
A ABNT (1986b) recomenda a adoção de valores entre 0,05 e 1,0 l/s.km.
28
2.2.2.3.2 Diâmetro mínimo:
Onde:
σ = tensão trativa crítica (Pa);
γ = peso específico do líquido (N/m³);
RH = raio hidráulico (m);
I = declividade da tubulação (m/m).
A partir da equação acima e da equação de Manning – Equação 2.16 – é possível
escrever a declividade em função da vazão, da tensão trativa e do coeficiente de
Manning:
Equação 2.16
⁄ ⁄
29
Onde:
n = coeficiente de Manning;
Q = vazão (m³/s);
A = área do escoamento (m²).
Recomenda-se utilizar, em qualquer trecho da rede coletora, uma tensão trativa
mínima de 1,0 Pa – no caso de interceptores o valor sobe para 1,5 Pa. Dessa forma,
fixando-se o valor mínimo de 1,0 Pa, limitando-se o valor da lâmina a 0,75 Y/D,
considerando diâmetros variando entre 100 e 400 mm e variando-se o coeficiente de
Manning, pode-se aproximar diferentes fórmulas para a declividade mínima, conforme a
Tabela 2.1 (ABNT, 1986b; TSUTIYA; SOBRINHO, 1999).
Onde:
Imín = declividade mínima (m/m);
Q = vazão (l/s).
A declividade também deve garantir o recobrimento mínimo de 0,90 metros nos
casos de assentamento de tubulação no leito da via e de 0,65 metros nos casos de
assentamento no passeio (ABNT, 1986b). Além disso, quando a declividade for inferior
a 0,001 m/m, o greide deve ser determinado por meio de instrumento topográfico ou por
aparelho emissor de raio laser (ABNT, 1987).
30
2.2.2.3.6 Velocidade crítica de emulsificação:
√
Onde:
Vc = velocidade crítica (m/s);
g = aceleração de gravidade (m²/s);
RH = raio hidráulico (m).
Recomenda-se que quando a velocidade de final de plano for maior do que a
velocidade crítica a lâmina seja reduzida para 50% do diâmetro do coletor (ABNT,
1986b).
31
conduzida para seu sistema de drenagem natural e, ao contrário do que ocorre com o
sistema de esgotamento sanitário, o escoamento das águas pluviais ocorrerá
independentemente de existir ou não um sistema construído de drenagem (SÃO
PAULO, 2012a; RAMOS et al., 1989).
Torna-se fundamental o conhecimento das características fisiográficas e
hidrológicas da bacia, pois estes dois elementos impactam diretamente na magnitude
das vazões e na resposta da bacia hidrográfica (SÃO PAULO, 2012b; RAMOS et al.,
1989).
32
Galerias: são tubulações utilizadas para conduzir os escoamentos advindos
das bocas-de-lobo e das edificações.
Ao contrário das redes de esgotamento sanitário, ainda não existe uma
padronização por meio de normas da ABNT que estabeleçam critérios para a concepção
e dimensionamento de sistemas de drenagem. Por outro lado, diversos órgãos
municipais, estaduais e federais acabam elaborando suas próprias normas, em forma de
manuais de drenagem.
Em geral, a metodologia destes manuais envolve a utilização de modelos de
transformação chuva-vazão, associando a intensidade da precipitação à sua duração e
seu tempo de recorrência.
( )
Onde:
i = intensidade pluviométrica (mm/h);
t = tempo de duração da chuva (min);
TR = tempo de recorrência (anos);
a, b, c, d = parâmetros de ajuste.
Quando não há dados pluviográficos, pode-se recorrer aos estudos de Otto
Pfafstetter, que desenvolveu equações para 98 postos espalhados pelo país. As equações
têm o seguinte formato (SÃO PAULO, 2012b; DNIT, 2005):
Equação 2.21
[ ( )]
Equação 2.22
( )
33
Onde:
P = precipitação total (mm);
a, b, c, = parâmetros locais;
α, β = parâmetros que dependem da duração.
34
Tabela 2.2 – Tempo de concentração para áreas urbanizadas.
O Tempo de Recorrência (TR) tem relação com o risco de um evento chuvoso ser
igualado ou superado, ou seja, representa sua probabilidade de ocorrência. Dependendo
do grau de segurança e da importância da obra de drenagem serão adotados valores
maiores ou menores para o tempo de recorrência, pois quanto maior seu valor, maior
será a vazão e, consequentemente, mais onerosa será a obra. Normalmente são
utilizados períodos de recorrência entre 2 e 10 anos para obras de microdrenagem e
entre 20 e 50 anos para macrodrenagem (DNIT, 2005; SÃO PAULO, 2012b).
Os valores estabelecidos para o município do Rio de Janeiro são:
Os métodos para o cálculo das vazões estão relacionados com a área da bacia
hidrográfica, de acordo com os limites fixados abaixo (DNIT, 2006a):
Bacias com área até 4 km² (40 ha): Método Racional;
Bacias com áreas entre 4 até 10 km² (40 até 100 ha): Método Racional
Corrigido;
Bacias com áreas superiores a 10 km² (100 ha): Método do Hidrograma
Unitário Triangular (HUT).
Fica evidenciado que no caso do dimensionamento de sistemas de
microdrenagem, os métodos usuais serão o Racional e o Racional Corrigido.
35
2.3.2.2.1 Método Racional:
Onde:
Q = vazão máxima (m³/s);
c = coeficiente de deflúvio;
i = intensidade da chuva (mm/h);
A = área da bacia hidrográfica (km²);
P = altura da chuva precipitada (mm);
tc= tempo de concentração (h).
O coeficiente de deflúvio é função de uma série de fatores, como tipo de
ocupação, tipo de solo, umidade antecedente, dentre outros. Pode ser conveniente obter
o coeficiente de deflúvio através da média ponderada das diferentes superfícies que
compõem a bacia, sendo os pesos proporcionais às áreas dessas superfícies (DNIT,
2005; SÃO PAULO, 2012b).
A Tabela 2.4 ilustra uma comparação entre os coeficientes adotados pela
prefeitura do municipal do Rio de Janeiro e pelo DNIT.
36
Tabela 2.4–Coeficientes de deflúvio.
Coeficiente de Deflúvio Coeficiente de Deflúvio
Descrição
“ ” – DNIT “ ” - SMO
Comércio
Áreas centrais 0,70 a 0,95 0,70 a 0,95
Áreas da periferia do centro 0,50 a 0,70 0,50 a 0,70
Residencial
Áreas de uma única família 0,30 a 0,50 0,35 a 0,50
Multi-unidades, isoladas 0,40 a 0,60 0,40 a 0,60
Multi-unidades, ligadas 0,60 a 0,75 0,60 a 0,75
Residencial (suburbana) 0,25 a 0,40 0,25 a 0,40
Área de apartamentos 0,50 a 0,70 0,50 a 0,70
Industrial
Áreas leves 0,50 a 0,80 0,50 a 0,80
Áreas densas 0,60 a 0,90 0,60 a 0,90
Parques, cemitérios 0,10 a 0,25 -
Playgrounds 0,20 a 0,35 -
Pátio e espaço de serviços de estrada de ferro 0,20 a 0,40 -
Terrenos baldios 0,10 a 0,30 -
Ruas
Asfalto 0,70 a 0,95 0,70 a 0,95
Concreto 0,80 a 0,95 0,80 a 0,95
Tijolos 0,70 a 0,85 -
Trajetos de acesso a calçadas 0,75 a 0,85 -
Telhados 0,75 a 0,95 0,75 a 0,95
Blocket - 0,70 a 0,89
Paralelepípedo - 0,58 a 0,81
Solo compactado - 0,59 a 0,79
Solos arenosos
Gramado; plano, declividade 2% 0,05 a 0,10 0,05 a 0,10
Gramado; médio, declividade 2 a 7% 0,10 a 0,15 0,10 a 0,15
Gramado; íngreme, declividade 7% 0,15 a 0,20 0,15 a 0,20
Plano, declividade 2% - 0,05 a 0,10
Médio, declividade 2 a 7% - 0,10 a 0,15
Íngreme, declividade 7% - 0,15 a 0,20
Solos argilosos
Gramado; plano, declividade 2% 0,13 a 0,17 0,13 a 0,17
Gramado; médio, declividade 2 a 7% 0,18 a 0,22 0,18 a 0,22
Gramado; íngreme, declividade 7% 0,15 a 0,35 0,15 a 0,35
Plano, declividade 2% - 0,15 a 0,20
Médio, declividade 2 a 7% - 0,20 a 0,25
Íngreme, declividade 7% - 0,25 a 0,30
Florestas
Declividade < 5% - 0,25 a 0,30
Declividade 5 a 10% - 0,30 a 0,35
Declividade > 10% - 0,45 a 0,50
Capoeiras e pastos
Declividade < 5% - 0,25 a 0,30
Declividade 5 a 10% - 0,30 a 0,36
Declividade > 10% - 0,35 a 0,42
Fonte: Adaptado de DNIT (2005) e Rio de Janeiro (2010).
37
2.3.2.2.2 Método Racional Modificado por Ulysses M. Alcântara:
Equação 2.25
( ) ⁄
Equação 2.26
Onde:
Q = vazão máxima (m³/s);
n = coeficiente de distribuição (somente quando A>1 ha);
f = coeficiente de Fantoli;
c = coeficiente de deflúvio;
i = intensidade da chuva (mm/h);
A = área da bacia hidrográfica (ha);
tc= tempo de concentração (min).
Onde:
h = profundidade mínima admissível (m);
Ø = diâmetro do tubo (m).
40
Figura 2.7 – Consequências da urbanização na hidrologia urbana.
Fonte: Adaptado de São Paulo (2012b).
Além dos problemas com inundações, as águas pluviais são fontes não pontuais/
difusas de poluição e podem apresentar impacto significativo nos corpos d’água. A
origem deste tipo de poluição é diversa e pode ter como fontes a abrasão e desgaste de
pavimentos, deposição atmosférica, resíduos orgânicos de animais, atividades de
construção, resíduos de combustíveis, óleos e graxas, resíduos sólidos e ligações
clandestinas de águas residuais. Os principais tipos de poluentes carregados pelas águas
pluviais são sedimentos, matéria orgânica, microrganismos patogênicos, metais – cobre,
zinco, manganês, ferro e chumbo – hidrocarbonetos de petróleo, etc. (JORDÃO;
PESSÔA, 2017; SÃO PAULO, 2012b).
Por estar relacionada a eventos hidrológicos, a poluição por cargas difusas é um
fenômeno difícil de mapear, sendo que as concentrações de poluentes variam ao longo
do tempo. Grande parte dos estudos voltados para esse problema avalia o impacto do
41
lançamento das águas pluviais no corpo receptor e tenta prever a distribuição temporal
dos poluentes, conforme ilustrado na Figura 2.8, incluindo a discussão do fenômeno
first-flush – também denominado carga de lavagem – que seria a remoção inicial do
material acumulado entre os eventos chuvosos e apresenta pico de concentração anterior
ao pico das vazões (SÃO PAULO, 2012b). Em sistemas unitários, esse fenômeno é
mais frequente em bacias com tempos de concentração mais curtos (SZTRUHÁR et al.,
2002). De acordo com Metcalf e Eddy (1991 apud BERNADES; SOARES, 2004) o
aumento de vazão que ocorre nos sitemas unitários provoca a suspensão dos sedimentos
depositados na tubulação durante o período seco, caracterizando a carga de lavagem.
Para controlar a poluição difusa, foi necessária a adoção de uma nova abordagem
do sistema de drenagem urbano. Desta maneira, os preceitos higienistas que
recomendavam a rápida captação e evacuação das águas pluviais estão sendo
complementados com alternativas que buscam neutralizar os efeitos da urbanização
sobre os processos hidrológicos, bem como promover uma maior interação entre a
gestão das águas pluviais e o planejamento urbano (BAPTISTA; NASCIMENTO;
BARRAUD, 2005).
Nesse tratamento integrado, podem ser citadas medidas estruturais e não
estruturais de solução. As medidas não estruturais são aquelas relativas à prevenção e
controle, como controle do uso do solo, regulamentação para áreas em construção,
fiscalização de ligações clandestinas, educação ambiental, etc. As medidas estruturais
são aquelas construídas para reduzir o volume e/ ou os poluentes das águas pluviais,
42
como faixas e valetas gramadas, pavimento poroso, jardins de chuva, reservatórios de
detenção, reservatórios de retenção, reservatórios de lote, poços de infiltração, alagados
construídos, dentre outros (SÃO PAULO,2012b, 2012c). Algumas medidas estruturais
estão ilustradas na Figura 2.9 até Figura 2.14.
43
Figura 2.14 – Reservatório de lote.
Fonte:
<https://br.pinterest.com/hollyhocksgirl/rainwater-
Figura 2.13 – Trincheira de infiltração. harvesting/>. Acesso em 17 nov. 2016.
Fonte:
<http://www.nwrm.eu/measure/infiltration-
trenches>. Acesso em 17 nov. 2016.
44
2.4.2 O sistema unitário
45
Gupta e Saul (1996) desenvolveram, para bacias hidrográficas inglesas, uma
metodologia para prever a carga de Sólidos em Suspensão (SS) em fenômenos de first-
flush de sistemas unitários com o objetivo de melhor dimensionar reservatórios de
armazenamento.
Na Itália, Todeschini, Papiri e Ciaponi (2012) e Calabrò e Viviani (2005)
avaliaram, por meio de modelagem, reservatórios instalados em sistemas unitários com
diferentes configurações e condições operacionais. A avalição foi feita com relação ao
desempenho na captura de poluentes e na redução de EAC.
Na Espanha, Montserrat et al. (2014) utilizaram sensores de baixo custo para
monitorar um grande número de estruturas de EAC e, a partir dos dados coletados
desenvolveram uma metodologia para prever se uma determinada estrutura iria
extravasar ou não, dada uma chuva de entrada. Na cidade de Santiago de Compostela –
com chuva anual de 1600 mm – pesquisadores monitoraram EAC para análise da
ocorrência do fenômeno de first-flush, chegando à conclusão de que ele não foi muito
evidente e que, por isso, em alguns casos seria melhor utilizar a carga total para avaliar
os impactos ambientais dos escoamentos (DIAZ-FIERROS T et al., 2002).
Riechel et al. (2016), após um programa de monitoramento de 2 anos,
desenvolveram um estudo com o intuito de avaliar os impactos dos EAC na
concentração de oxigênio dissolvido de um rio da cidade de Berlim (Alemanha). Eles
integraram o uso de 2 tipos de modelos: os de drenagem urbana e os de qualidade de
água, concluindo que o aumento do armazenamento e a redução da área impermeável
trariam excelentes resultados. Os autores também observaram que a maioria das
situações críticas de poluição poderia ser resolvida com o controle de pequenas vazões
de extravasamento, com período de retorno menores do que 1 ano.
Sztruhár et al., (2002) também estudaram eventos com período de retorno
menores do que 1 ano. Em seu trabalho foram monitorados 8 eventos de EAC em 4
cidades Eslovacas com o intuito de caracterizar os poluentes para o melhor
dimensionamento de medidas corretivas.
Os trabalhos citados anteriormente mostram que, ao contrário do Brasil, águas
residuais e escoamento superficial são tratados de forma integrada, mesmo quando são
transportados em tubulações diferentes. Além do mais, há uma tendência para a
utilização de modelos matemáticos e são muitos os autores que fazem medições em
campo e coletam amostras. Um último aspecto muito importante das pesquisas é o fato
de que as redes são estudadas com o propósito de investigar seus efeitos na qualidade do
46
rio/ canal em que deságuam, ou seja, o foco é sempre o recurso hídrico e não o sistema
de transporte em si.
47
unitários – como reservatórios e desvios da vazão de tempo seco para tratamento
(MORIHAMA et al., 2012).
Yazaki, Haupt e Porto (2007) avaliaram a utilização de reservatórios de água de
primeira chuva4 na bacia de um afluente do rio Tietê, onde o coeficiente de diluição de
esgoto5 era igual a 5,4. Foi considerado um reservatório que capturasse os primeiros 5
mm de chuva, sendo para isso necessário um volume de 33.375 m³ – equivalente a 50
m³ por hectare de área urbanizada. A utilização de reservatório forneceu uma redução
em massa de DBO na faixa de 40% a 80%.
D'Alcantara, Rosso e Giordano (2005), por meio de modelagem hidráulica,
realizaram um estudo da vulnerabilidade do sistema de esgotamento sanitário de uma
das sub-bacias – conhecida por José Mariano – que contribuem para a Lagoa Rodrigo de
Freitas, no Rio de Janeiro. A sub-bacia estudada possui, em seu entorno, 6 CTS,
localizadas próximas às áreas de favelas. As simulações foram baseadas em 3 cenários,
onde o primeiro considerava o sistema de esgotamento separador absoluto ideal, o
segundo considerava uma contribuição de 6 l/s.km de águas pluviais na rede de
esgotamento e o terceiro considerava a contribuição das CTS. Os resultados revelaram
um pior desempenho para o último cenário, com 20% da rede trabalhando sob pressão.
Mesmo com impactos no sistema, para evita-los, os autores propõem que no projeto de
redes de águas residuais seja incluída no cálculo da vazão uma taxa similar a existente
para projetos de interceptores.
Dentro os municípios brasileiros com população acima de 20.000 habitantes, os
que mais utilizam sistemas mistos ou unitários estão nos estados do Rio Grande do Sul e
Bahia, com respectivamente, 21% e 18% do total (BERNADES; SOARES, 2004).
Na Bahia, podemos citar o Plano Estadual de Manejo de Águas Pluviais e
Esgotamento Sanitário (PEMAPES) como inovador e ao mesmo tempo polêmico. Este
plano, que tem como área de atuação 404 municípios do estado – exceto a Região
Metropolitana de Salvador – é inovador porque incorpora num mesmo plano os
sistemas de drenagem pluvial e esgotamento sanitário e é polêmico porque considera,
com base no artigo 2º da Lei 11.445, a utilização de sistemas mistos com dispositivos de
captação de tempo seco como forma de estratégia para o saneamento ambiental:
4
Os reservatórios de águas de primeira chuva têm como objetivo armazenar temporariamente o volume
gerado no início das chuvas, impedindo que a parcela mais poluída do escoamento atinja o corpo hídrico
(YAZAKI; HAUPT; PORTO, 2007).
5
Razão entre a vazão de águas combinadas e a vazão média de águas residuais em tempo seco (YAZAKI;
HAUPT; PORTO, 2007).
48
“Considera-se que deverão ser avaliadas as possibilidades e as vantagens de
utilização da infraestrutura coletora existente, ao tempo em que a destinação
de recursos poderá ser focada no tratamento, minimizando as condições de
degradação dos corpos receptores. Estratégias dessa ordem poderão vir a ser
empregadas até que se tenham condições de ampliar e adequar a rede
coletora, otimizando os sistemas de saneamento, buscando-se a melhoria
gradual dos serviços como um conjunto de ações que visa atender a uma
coletividade.” (BAHIA, 2011a, p. 5).
Apesar disso, é frisado no plano que o ideal seria propor soluções por meio de
sistemas separadores, principalmente onde as condições sanitárias são críticas, como por
exemplo, em áreas onde há lançamento de águas residuais in natura ou escoando a céu
aberto. O sistema misto com CTS é recomendado nos setores urbanos que apresentarem
dificuldades para a efetivação das ligações domiciliares e/ou com ocupação desordenada
(BAHIA, 2011b).
Fadel e Dornelles (2015) compararam, com base no modelo chuva-vazão SCS-
6
HUT , o total de carga estimada de DBO lançada em um corpo receptor na bacia do
córrego Capivara, em Porto Alegre (RS), com e sem as CTS. Foram estipulados 4
cenários que variavam a vazão interceptada pelas captações e o grau de urbanização da
bacia. Em todos os cenários, a utilização das interceptações de águas residuais trouxe
reduções próximas a 85% da carga total que seria lançada sem as captações. Apesar de
não considerarem a eficiência do tratamento dos efluentes captados e a carga orgânica
presente nas águas pluviais, os resultados mostram que a utilização das CTS pode
contribuir significativamente para a redução da poluição hídrica.
Outros trabalhos, como os de Tourinho (2001), Portz (2009) e Madeira (2012),
realizaram estudos técnicos sobre a viabilidade de se adaptar o sistema de drenagem de
pequenos municípios para sistema misto, sendo esta adaptação uma etapa progressiva e
provisória entre a situação atual e o sistema separador absoluto. Todos concluem que
essa abordagem favorece a aceleração da recuperação da qualidade dos cursos d’água,
além de envolverem menores custos iniciais de implantação. Ferreira (2013), no
entanto, ao comparar 4 tipos de sistemas: (1) separador absoluto, (2) misto, (3) unitário
com capacidade para uma vazão 4 vezes maior do que a de águas residuais e (4) unitário
com capacidade para uma vazão de águas pluviais estimada por uma determinada
intensidade e período de recorrência; observou que o sistema separador seria o mais
vantajoso economicamente.
6
SCS: SoilConservation Service, hoje Natural ResourcesConservation Service; HUT: Hidrograma
Unitário Triangular.
49
Bernardes e Soares (2004) reuniram em seu livro alguns exemplos de cidades
brasileiras que adotam o sistema unitário ou misto. São elas: Caxias do Sul (RS), Nova
Hamburgo (RS), Porto Alegre (RS), Distrito Federal (DF), Jundiaí (SP), Santo André
(SP) e Cachoeira de Itapemirim (ES).
Nos casos de Caxias do Sul e Nova Hamburgo, o sistema de drenagem já foi
implantado em uma grande parte da área urbana e recebe praticamente todas as ligações
domiciliares. Como uma forma de minimizar custos, em uma primeira fase, serão
aproveitados os sistemas mistos com a implantação de coletores troncos e CTS.
Ressalta-se que as ETE estão sendo dimensionadas para tratar o efluente combinado
(BERNADES; SOARES, 2004).
Nos casos de Porto Alegre e Cachoeira de Itapemirim, foram analisadas as
eficiências de remoção de poluentes em ETE que tratam águas combinadas. Os valores
obtidos foram de 54,8% para DBO e 99,2% para Coliformes Fecais (CF) na ETE de
Porto Alegre e 83% para DBO e 76% para Demanda Química de Oxigênio (DQO) na
ETE de Cachoeira de Itapemirim (BERNADES; SOARES, 2004).
Por fim, nos casos de Jundiaí, Santo André e DF, apesar de estas cidades terem
adotado o sistema separador, foram constatados problemas operacionais nas ETE em
função do aumento da vazão em épocas de chuvas. No DF a concentração de DQO
chegou a ser 2 vezes menor do que em tempo seco, enquanto que em Jundiaí ela chegou
a até a 3 vezes menor. Em Santo André foram encontradas vazões até 6 vezes maiores
que a vazão máxima de tempo seco (BERNADES; SOARES, 2004).
Podemos concluir que apesar de existirem poucas referências sobre este tema no
país, as discussões acerca da utilização das captações de tempo seco e da adaptação de
sistemas mistos são crescentes. Após a Lei nº 11.445/2007 muitos municípios passaram
a considerar sua implantação devido à, principalmente, aspectos econômicos. Essa
iniciativa por parte dos municípios pode permitir que mais estudos sejam realizados,
talvez até, com medições mais detalhadas.
Apesar dos aspectos promissores da pesquisa brasileira no âmbito do sistema
misto, a utilização do sistema unitário ainda não é cogitada. Parece ser consenso entre
os diversos autores citados o fato de as adaptações no sistema misto trazerem benefícios
ambientais e possuírem custo muito menor do que o sistema separador absoluto, mesmo
que, em termos de projeto, o dimensionamento dos sistemas mistos não seja o
apropriado.
50
2.4.2.3 Impactos do sistema unitário
51
2.4.2.3.1 Impactos na ETE
52
de lodo e com a diminuição do grau de estabilização dos sólidos, devido à redução do
tempo de residência celular (BERNADES; SOARES, 2004).
Para Geiger (1998) a escolha do tipo de tratamento é essencial para se garantir
uma eficiência de remoção de poluentes confiável. Além disso, para que se possam
minimizar os efeitos das oscilações de vazão e concentração deve-se utilizar opções
centralizadas e descentralizadas de armazenamento. Uma última medida extremamente
importante é o controle de escoamentos na fonte (WELKER; LEINWEBWR;
KLEPISZEWSKI, 1999; GEIGER, 1998).
Outro impacto dos sistemas unitários, desta vez nas redes, é a formação de
sulfetos. A principal fonte de sulfeto de hidrogênio (H2S) em tubulações é a redução
bacteriana anaeróbia do íon sulfato (SO42-). O sulfeto de hidrogênio presente na fase
líquida escapa para a atmosfera local, causando mau odor. Além do mais, pode ser
convertido em ácido sulfúrico por bactérias aeróbias e reagir com o cimento dos
condutos de concreto, causando corrosão. É devido a este problema que se utiliza os
valores de tensão trativa mínima de 1,0 Pa para coletores e, 1,5 Pa para interceptores em
redes de sistemas separadores absolutos. Estes valores evitam a formação de limo
biológico nas paredes das tubulações e consequentemente diminuem a formação de
sulfeto de hidrogênio (H2S). Além disso, pode-se prolongar a vida útil das tubulações de
concreto através da adoção de cimentos mais resistentes ao ácido sulfúrico (H2SO4), da
adoção de critérios mais rígidos relativos à permeabilidade e à absorção de água do
cimento e da adoção de uma camada de sacrifício. É possível ainda promover a
aplicação de oxigênio puro ou de outras substâncias que possuem o oxigênio combinado
como: hipoclorito de sódio (NaClO), peróxido de hidrogênio (H2O2), nitrato de sódio
(NaNO3) e nitrato de amônio (NH4NO3) (TSUTIYA; SOBRINHO, 1999).
53
A construção de wetlands pode promover a melhoria da qualidade da água, o
armazenamento de águas pluviais, o ciclo de nutrientes e outros compostos, o habitat
para fauna, a recreação, a pesquisa, a educação ambiental e o aprimoramento e melhoria
estética da paisagem (DAVIS L., [199-]a). Ademais, estes sistemas são muito efetivos
em regiões de clima mais quente, já que uma maior incidência de radiação solar
promove o crescimento das plantas (KYAMBADDE et al., 2004 apud MACHADO et
al., 2017). Algumas vantagens e desvantagens das wetlands estão listadas na Tabela 2.6.
Vantagens Desvantagens
Baixo custo de construção Requerem áreas extensas
Baixo consumo de energia Eficiência varia sazonalmente
Baixo custo de manutenção Vegetação é sensível a substâncias tóxicas
Habilidade de tolerar flutuações de vazão Não resistem às secas
Facilitam o reuso da água
Fonte: Adaptado de Davis L. ([199-]a).
54
direção horizontal ou vertical. Elas são geralmente utilizadas no tratamento de águas
residuais, principalmente pela minimização de odores e pragas (DAVIS L., [199-]a).
55
Tabela 2.7 – Tipos de mecanismos de remoção de poluentes em wetlands construídas.
Onde:
Ce = concentração efluente de DBO (mg/l);
Co = concentração afluente de DBO (mg/l);
KT = constante de reação da cinética de primeira ordem, dependente da
temperatura (d-1);
t = tempo de detenção hidráulico (d).
56
Onde:
Equação 2.29
( )
Equação 2.30
Onde:
K20 = constante de reação a 20°C;
T = temperatura de operação da wetland (°C);
n = porosidade do material filtrante (m³ vazios/m³ material);
V = volume do filtro (m³);
Q = vazão a tratar (m³/d).
Para o cálculo, a US-EPA (1988) recomenda a adoção dos parâmetros expressos
na Tabela 2.8.
De acordo Geiger e Wong (1997) o uso de wetlands foi introduzido no início dos
anos 1970, no tratamento de águas residuais. Porém, no final da década de 1990, o uso
para tratamento de águas pluviais começa a ser introduzido.
Em wetlands de águas pluviais, o nível de estocasticidade aumenta devido à
variabilidade da altura e duração da chuva, e de sua distribuição temporal e espacial.
57
Além disso, a natureza da concentração de poluentes também é influenciada pelos
motivos anteriores, além do acúmulo de poluentes durante o tempo seco. Sendo assim, o
modelo utilizado em wetlands de águas residuais pode ser adaptado para tratar águas
pluviais, se as seguintes considerações forem feitas (GEIGER; WONG, 1997):
Vazão equivalente para regime uniforme: devem ser utilizadas estruturas
de controle de fluxo na entrada e na saída;
Concentração de poluentes: uma abordagem realista seria a de adotar a
concentração média do evento como representativa;
A efetividade do tratamento depende do nível d´água anterior ao evento,
que por sua vez, varia de acordo com o volume de armazenamento, a taxa
de esvaziamento e o período entre eventos.
A Equação 2.31 e a Equação 2.32 representam o modelo adaptado desenvolvido
por Geiger e Wong(1997).
Equação 2.31
Equação 2.32
( )
Onde:
Qeq = vazão equivalente (m³/d);
V = volume da wetland (m³);
Td = tempo de detenção (d);
h = altura acima do nível permanente (m);
k = constante de área;
Ci = concentração inicial (mg/l);
Co = concentração final (mg/l);
C* = concentração na wetland (mg/l).
2.4.3.3 Desempenho
58
Fósforo (P); 15% de Carbono Orgânico e 75% de Chumbo (Pb). Outra pesquisa
realizada com wetlands que tratam águas residuais do Canadá, EUA e Austrália mostrou
remoções de SS variando entre 93% e 73% e remoções de DBO5 variando entre 86% e
64%(US-EPA, 1988).
Em Enfield (Inglaterra), um sistema de 6 wetlands interligadas que foi projetado
para receber os primeiros 15 mm de chuva teve eficiência de remoção de 67% para
Amônia (NH3), 68% para Nitrato (NO3-), 55% para Nitrogênio Total (NT), 23% para
Fosfato (PO43-) e 61% para DQO (SUSDRAIN, 2017).
Apesar de ser prática comum em países com maior desenvolvimento econômico, a
construção de wetlands ainda é tímida no Brasil. As primeiras experiências com esses
sistemas no país datam do início dos anos 1980 e se intensificaram a partir dos anos
2000, sendo que as maiores aplicações são para tratamento de águas residuais
(SEZERINO et al., 2015).
Machado et al.(2017) compilaram informações de 39 wetlands brasileiras, todas
utilizadas para tratamento de águas residuais (domésticas, industriais ou agrícolas),
datando de 1999 a 2015. Segundo os dados coletados pelos autores, a eficiência de
remoção das WFSS atingiu os valores médios entre 61% e 76,5% para DQO e 67,6% e
81,5% para DBO5. As porcentagens de remoção de diversos tipos de poluentes estão
apresentadas na Tabela 2.10.
Tabela 2.10 – Desempenho das wetlands brasileiras
59
quando passou a incluir o tratamento terciário por meio de wetlands construídas e
aumentou sua capacidade nominal para 200 l/s.
No dia 01 de outubro de 2016, foi realizada uma visita técnica a essa ETE com o
objetivo de obter maiores informações sobre seu funcionamento, capacidade, atividades
de monitoramento e manutenção e dimensionamento. Na visita, um questionário com as
informações desejadas foi respondido, sendo este apresentado no Apêndice A do CD-
ROM anexado na dissertação.
O efluente que chega à ETE Pontes dos Leites passa primeiramente por um pré-
tratamento – conforme ilustrado na Figura 2.19 – constituído de caixa de gordura, caixa
de areia e gradeamento. Depois desse processo, ele é encaminhado para lagoas aeradas
– apresentadas na Figura 2.20 – e, em seguida, lagoas de sedimentação – vide Figura
2.21. Finalmente, segue para o sistema de wetlands, que é dividido em 3 células com
áreas de 9500 m², 15500 m² e 15600 m². Em todas as células, o fluxo é superficial, com
uma lâmina d’água de cerca de 5 cm de altura. A Figura 2.22 e a Figura 2.23 ilustram a
configuração das células e a Figura 2.24 apresenta um corte esquemático das mesmas.
Figura 2.19– Área de pré-tratamento da ETE Figura 2.20 – Lagoa aerada da ETE Ponte dos
Ponte dos Leites Leites
60
Figura 2.21 – Lagoa de sedimentação da ETE Figura 2.22 – Wetland da ETE Ponte dos Leites
Ponte dos Leites
61
3 Metodologia
A metodologia desenvolvida parte de um conceito genérico, associado à
percepção que os sistemas separadores de esgotamento funcionam de forma inadequada,
em virtude de conexões indevidas entre as redes separadoras de esgoto e drenagem
pluvial, levando à descarga de esgoto in natura nos rios, lagos e corpos receptores, em
geral, sem nenhuma proteção. Nesse contexto, propõe-se, como procedimento de
projeto, a consideração de uma alternativa que contemple o escalonamento das soluções
de esgotamento no tempo, considerando a implantação de captação em tempo seco e a
adoção de sistemas unitários, como primeira solução – provisória – dentro desta lógica
escalonada. Nessa situação, o projeto deste tipo de solução precisa ser incorporado à
rotina de avaliação preliminar de desempenho econômico e ambiental das alternativas
de projeto.
Neste trabalho, esse procedimento foi desenvolvido através de uma
experimentação prática, considerando a bacia do rio Dona Eugênia, em Mesquita, como
caso de estudo. Esse estudo considerou diversas alternativas de projeto, desde a
convencional adoção do sistema separador absoluto, até composições diversas e
arranjos alternativos com sistemas mistos e unitários, permitindo avaliações e análises
comparativas.
62
2) Etapa intermediária: implantação de uma wetland construída para o
tratamento terciário de efluentes;
3) Etapa final: implantação do sistema separador absoluto e realização de
adaptações na wetland para que a mesma possa tratar poluentes das águas
pluviais.
A comparação econômica, que será descrita no Item 4.5, foi feita entre as ações da
etapa inicial da solução não convencional e da etapa única da solução convencional. As
etapas intermediária e final não foram consideradas na avaliação econômica, já que são
sugestões sobre o que poderia ser executado na bacia em um horizonte de planejamento
mais longo.
63
sistema separador composto de tubulação de águas pluviais em concreto e tubulação de
águas residuais em policloreto de polivinila (PVC), e um sistema unitário em PEAD (o
que seria possível, mas aumentaria o número de variáveis para avaliação, o que se
desejava evitar, neste primeiro momento).
Vantagens Desvantagens
Diminuição da extensão entre as ligações prediais e os Operação e manutenção dependem do acesso
coletores públicos às habitações
Diminuição de custos de construção e operação
Demanda treinamento ao usuário
Maior participação dos usuários
Fonte: Tsutiya; Sobrinho(1999).
65
Figura 3.3 – Esquema de funcionamento de CTS com canaleta de fundo.
No estudo de caso, foram consideradas CTS do tipo ilustrado pela Figura 3.4, pois
o diâmetro da tubulação que faz a ligação entre o poço-de-visita de drenagem e o de
esgoto poderia ser calculado de maneira simples.
As Estações Elevatórias de Esgoto (EEE) foram locadas nos pontos mais baixos
de cada sub-bacia, de forma a receber toda a contribuição de águas residuais das
mesmas e encaminhá-las para a ETE.
66
3.2.4 Estação de tratamento de esgoto
O tipo de processo de tratamento foi definido como sendo por lodos ativados. A
localização da ETE foi definida com base em áreas do município que não se
encontravam urbanizadas, com o objetivo de evitar custos com desapropriações.
3.3 Dimensionamento
3.3.1 Redes
67
3.3.2 Captações de tempo seco
O diâmetro da tubulação das CTS foi dimensionado como um tubo curto com
descarga livre, seguindo as equações descritas por Porto (2006).
A área requerida para a construção da ETE foi determinada pelo ábaco de Jordão
e Pessôa (2017), com base nos valores obtidos para a vazão máxima de águas residuais
de final de plano. No caso dos SU-I e SU-II, como o coeficiente de retorno adotado foi
diferente, a vazão máxima de fim de plano obtida foi maior do que no SSA-ES e SM.
Adicionalmente, para os casos de sistema unitário, recomenda-se que a
capacidade da ETE seja entre 2 a 4 vezes maior do que a vazão máxima de fim de plano
(BERNARDES; SOARES, 2004). Por conseguinte, foi considerado uma configuração
extra, onde a capacidade da ETE seria o dobro da vazão máxima de final de plano. Em
suma, foram definidas 3 configurações de ETE:
1. ETE dos SSA-ES e SM com capacidade normal;
2. ETE do SU-I e SU-II com capacidade 25% maior;
3. ETE do SU-I e SU-II com capacidade 150% maior.
68
Tabela 3.2 – Descrição dos itens da tabela SINAPI utilizados no quantitativo dos sistemas
dimensionados.
Código Descrição
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 400 mm, junta rígida, instalado
92210
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 500 mm, junta rígida, instalado
92211
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 600 mm, junta rígida, instalado
92212
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 700 mm, junta rígida, instalado
92213
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 800 mm, junta rígida, instalado
92214
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 900 mm, junta rígida, instalado
92215
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 1000 mm, junta rígida, instalado
92216
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 1200 mm, junta rígida, instalado
92816
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de concreto para redes coletoras de águas pluviais, D 1500 mm, junta rígida, instalado
92818
em local com baixo nível de interferências - fornecimento e assentamento.
7759 Tubo concreto armado, classe PA-1, PB, DN 2000 mm, para águas pluviais (NBR 8890).
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 150 mm, junta elástica,
90695
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 200 mm, junta elástica,
90696
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 250 mm, junta elástica,
90697
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 300 mm, junta elástica,
90698
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 350 mm, junta elástica,
90699
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Tubo de PVC para rede coletora de esgoto de parede maciça, DN 4000 mm, junta elástica,
90700
instalado em local c/ nível baixo de interferências - fornecimento e assentamento.
Junta argamassada entre tubo DN 150 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90725
em redes de esgoto.
Junta argamassada entre tubo DN 2000 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90726
em redes de esgoto.
Junta argamassada entre tubo DN 250 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90727
em redes de esgoto.
Junta argamassada entre tubo DN 300 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90728
em redes de esgoto.
69
Código Descrição
Junta argamassada entre tubo DN 350 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90729
em redes de esgoto.
Junta argamassada entre tubo DN 400 mm e o poço de visita/ caixa de concreto ou alvenaria
90730
em redes de esgoto.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1x1x1,40 m coletor D=40 a 50 cm parede e=15 cm base
74124/001
conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 incl forn de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,1x1,1x1,40 m coletor D=60 cm parede e=15 cm base
74124/002
conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 incl forn de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,20x1,20x1,40 m coletor D=70 cm parede e=15 cm base
74124/003
conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 incl forn de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,30x1,30x1,40 m coletor D=80 cm parede e=15 cm base
74124/004
conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,40x1,40x1,50 m coletor D=90 cm parede e=15 cm base
74124/005
conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,50x1,50x1,60 m coletor D=100 cm parede e=15 cm
74124/006
base conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 de todos os materiais.
Poço de visita ag. pluv: conc. arm. 1,70x1,70x1,80 m coletor D=120 cm parede e=15 cm
74124/008
base conc. fck=10 Mpa revest. c/ arg. cim/ areia 1:4 de todos os materiais.
Poço de visita em alvenaria, para rede D=1,5 m, parte fixa c/ 1,0 m de altura e uso de
83713
escavadeira hidráulica.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=1,20 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/028 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=1,40 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/029 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=1,50 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/030 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=1,60 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/031 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=1,70 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/032 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=2,000 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/033 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=2,30 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/034 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
73963/035 Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=2,60 m c/ tampão FF articulado, classe
B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
70
Código Descrição
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=2,90 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/036 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=3,20 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/037 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=3,50 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/038 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=3,80 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/039 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=4,10 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/040 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=4,40 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/041 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=4,70 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/042 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
Poço de visita esg. sanit. anel conc. pré-mold. prof=5,00 m c/ tampão FF articulado, classe
73963/043 B125 carga máx. 12,5 t, redondo tampa 600 mm, rede pluvial/ esgoto/ rejuntamento anéis/
revest. liso calha interna c/ arg. cim./ areia 1:4 base/ banqueta em conc. fck=10 Mpa.
71
Código Descrição
Carga, manobras e descarga de areia, brita, pedra de mão e solos c/ caminhão basculante 6 m³
72888
(descarga livre).
72900 Transporte de entulho c/ caminhão basculante 6 m³, rodovia pavimentada, dmt 0,5 a 1 km
94097 Preparo de fundo de vala c/ largura < 1,5 m, em local com nível baixo de interferência.
72
Código Descrição
Preparo de fundo de vala c/ largura >1,5 m e <2,5 m, em local com nível baixo de
94099
interferência.
Demolição de pavimentação asfáltica c/ utilização de martelo perfurados, espessura até 15
92970
cm, sem carga e transporte.
73
Setor Público: contrapartida de 5% do valor do investimento, exceto
abastecimento de água, que é 10%;
Carência: corresponde ao prazo previsto para a execução de todas as
etapas, limitado a 48 meses;
Amortização: contados a partir do término da carência até 240 meses;
Juros: taxa nominal de 6% a.a., exceto para a modalidade Saneamento
Integrado, que possui taxa nominal de 5% a.a.;
Remuneração Caixa: 2% sobre o saldo devedor;
Taxa de risco de crédito: conforme análise cadastral do solicitante,
limitado a 1% a.a.
O SAC foi popularizado em financiamentos de compra de casa própria e,
atualmente, é muito utilizado em financiamentos de longo prazo. Nele, o valor da
amortização é constante e os juros decrescem ao longo do tempo. Após a determinação
das parcelas do financiamento ano a ano para cada tipo de sistema, foi realizada uma
comparação pelo Método do Valor Presente (VP) e pela Taxa Interna de Retorno (TIR).
O VP consiste na determinação do valor presente dos demais termos do fluxo de caixa
para somá-los ao investimento inicial, enquanto que a TIR é a taxa para a qual o valor
presente do fluxo é nulo e é calculada para depois ser comparada a Taxa Mínima de
Atratividade (TMA), que é uma taxa de juros que representa o percentual mínimo de
retorno que um projeto deve gerar para ser aceito e depende do custo de oportunidade,
da liquidez e do risco do projeto (FILHO; KOPITTKE, 1994).
Para a determinação do fluxo de caixa foram levados em conta, no cálculo das
despesas, além da contrapartida inicial e do pagamento das parcelas do financiamento,
os custos anuais com manutenção. No âmbito das receitas foram considerados o
orçamento municipal e a arrecadação com a tarifa de tratamento de águas residuais.
74
(2001) e permite representar uma bacia hidrográfica por células – cada uma com suas
características pré-definidas – que por sua vez são conectadas por meio de ligações –
definidas como equações hidráulicas unidimensionais – formando um sistema
bidimensional, já que o escoamento pode ocorrer em várias direções nas zonas de
inundação.
Na aplicação do modelo, Miguez (2001) elenca diversas hipóteses que devem ser
observadas:
1. A planície e seus rios podem ser subdivididos em células;
2. Cada célula comunica-se com células vizinhas;
3. As características de uma célula são associadas a um ponto de referência
na mesma, chamado de centro da célula. Este centro, não é,
necessariamente igual ao centro geométrico. A ligação de todos os centros
determina o padrão geral de escoamento;
4. O escoamento entre células pode ser calculado através de leis hidráulicas
conhecidas, como, por exemplo, a equação dinâmica de Saint Venant, a
equação de escoamento sobre vertedouros, livres ou afogados, a equação
de escoamento através de orifícios, entre outras;
5. Em uma célula, o perfil da superfície livre é considerado horizontal e a
área desta superfície depende da elevação do nível d'água no interior da
mesma;
6. O volume de água contido em cada célula está diretamente relacionado
com o nível d'água de seu centro;
7. A vazão entre duas células adjacentes, em qualquer tempo, é apenas
função dos níveis d'água no centro dessas células.
Os tipos de células disponíveis no modelo são:
Rio ou Canal: caracterizando o escoamento a céu aberto;
Galeria: caracterizando os trechos de escoamento subterrâneo;
Planície Urbanizada: dado um padrão de urbanização, representa planícies
alagáveis e áreas de armazenamento, ligadas entre si por ruas;
Planície Natural: assim como as planícies urbanas, representa o
escoamento em superfície livre, porém, neste tipo de célula nenhum tipo
de urbanização é considerado.
75
Reservatório: através de uma curva Cota versus Área Superficial,
caracteriza o armazenamento temporário da vazão.
As ligações existentes no modelo são dos seguintes tipos:
Rio: considera a equação dinâmica de Saint Venant com seus termos de
inércia;
Planície: considera a equação dinâmica de Saint Venant sem seus termos
de inércia;
Vertedouro de soleira espessa;
Orifício;
Galeria: considera escoamento livre ou pressurizado;
Entrada de galeria: considera a contração do escoamento;
Saída de galeria: considera a expansão do escoamento;
Descarga de galeria em rio;
Microdrenagem: faz a conexão entre as células de planície com as de
galeria;
Bombeamento;
Comporta flap;
Curva Cota X Descarga: para estruturas especiais calibradas em
laboratório.
Assim, a divisão da bacia em células, as condições de contorno e o
estabelecimento das interações entre as células, são integrados e traduzidos no chamado
esquema topológico, que faz parte da entrada de dados do modelo. No esquema
topológico, cada linha representa um grupo, sendo que cada célula pode se ligar com
outras de seu próprio grupo ou de um grupo posterior ou anterior. A Figura 3.5 ilustra as
etapas de modelagem descritas anteriormente.
76
Figura 3.5 – Etapas de modelagem de uma área hipotética.
Fonte: Miguez (2001).
77
4 Estudo de Caso
4.1 A bacia do Rio Dona Eugênia e o município de Mesquita
4.1.1 Caracterização da região
78
Segundo o Plano Municipal de Saneamento de Mesquita (PMSM), 78% das
receitas municipais provêm da União e do Estado, por meio de mandamento
constitucional, pelo Fundo de Participação dos Municípios e pela cota-parte do ICMS e
os demais 22% são provenientes de recursos próprios – impostos, receita patrimonial,
etc. Ainda segundo diagnóstico levantado pelo PMSM, o município vêm reduzindo os
gastos com investimentos, custeio e pessoal. Os investimentos no ano de 2016
correspondem apenas a um terço do ano de 2014. Felizmente, a Lei Orçamentária de
2017 prevê superávit possibilitando a retomada dos investimentos. A área de urbanismo,
que engloba como sub-área o saneamento básico, concentra em média 10% dos gastos
municipais, com recursos de R$ 41 mi em 2014, R$ 31 mi em 2015 e R$ 14 mi em 2016
(MESQUITA, 2017b).
O município se divide em 17 bairros, localizados no mapa da Figura 4.2
(MESQUITA, 2017b).
79
O rio Dona Eugênia nasce na área de proteção ambiental Gericinó-Medanha em
Nova Iguaçu, a cerca de 300 metros de altitude e percorre 10 quilômetros, passando por
todo o município de Mesquita até desaguar no rio Sarapuí (VERÓL, 2013). A Figura
4.3 ilustra o limite municipal e da bacia.
A bacia do rio Dona Eugênia possui 1833 hectares de área e constitui uma das
sub-bacias do rio Iguaçu-Sarapuí, uma importante bacia da Baixada Fluminense e que
foi objeto de diversas intervenções do Governo do Estado. A Figura 4.4 apresenta um
mapa com as sub-bacias e municípios integrantes da bacia do rio Iguaçu-Sarapuí.
80
Figura 4.4 – Localização das sub-bacias da bacia do rio Iguaçu-Sarapuí.
Fonte: <http://www.aquafluxus.com.br/bacia-do-rio-iguacu-uma-velha-conhecida/>. Acesso em:
27/11/2016.
O clima se caracteriza por ser quente e úmido, com estação chuvosa no verão. A
temperatura média anual da bacia é de 22°C e a precipitação média anual é de 1.700
mm (COPPETEC, 2009 apud VERÓL, 2013).
Quanto à geomorfologia, apresentada no mapa da Figura 4.5, a bacia apresenta
serras alongadas, que possuem solos rasos e com textura argilosa; e planícies fluvio-
81
marinhas, que são terrenos planos próximos ao nível do mar, resultantes de ciclos de
processos de erosão e deposição (RIO DE JANEIRO, 1996, v.1).
82
Os grupos de solos encontrados na bacia são: podzólico, encontram-se sob relevo
ondulado e apresentam alta suscetibilidade à erosão; brunizem avermelhado, que
ocorrem sob condições de relevo forte ondulado e apresentam moderada suscetibilidade
à erosão e cambissolo, com relevo forte ondulado a escarpado e associados a
afloramentos rochosos (RIO DE JANEIRO, 1996, v.1). A Figura 4.7, abaixo, apresenta
o mapa de solos da bacia.
83
Na vegetação, representada pelo mapa da Figura 4.8, predominam florestas,
compostas por Mata Atlântica; campos antrópicos, que são áreas modificadas pela ação
humana, cobertas por vegetação herbácea, utilizadas ou não pela pecuária e capoeiras e
capoeirinhas, que são coberturas arbustivas extremamente frágeis. A bacia também
apresenta dois níveis de densidade urbana – média, com 171 hab/ha e muito baixa, com
45 hab/ha – e áreas de expansão urbana (RIO DE JANEIRO, 1996, v.1).
Figura 4.8– Mapa de vegetação e uso do solo da bacia do rio Dona Eugênia.
Fonte: Adaptado de Rio de Janeiro (1996, v.1).
84
Finamente, no que diz respeito à suscetibilidade à erosão, apresentada na Figura
4.9, foram elaboradas classes a partir da interação entre a erodibilidade dos solos, o
relevo e a cobertura vegetal, sendo que na bacia em questão encontram-se as classes
muito alta; média e muito baixa (RIO DE JANEIRO, 1996, v.1):
A classe muito alta é a mais crítica por possuir pouca vegetação, solos
erodíveis e relevo acidentado. Nestas áreas é indicado o reflorestamento
ecológico, sem fins econômicos;
As áreas de classe média têm alta erodibilidade dos solos, relevo
montanhoso e cobertura vegetal densa, devendo ser destinada à
preservação;
A classe muito baixa apresenta áreas com pouco potencial a erosão,
encontram-se em relevo plano e podem ser mantidas no seu estado atual.
85
para fazer frente à demanda de tropeiros e carroceiros que por ali passavam e
abasteciam-se na cachoeira.
Com a expansão do sistema ferroviário, na época do Brasil República, foram
implantadas várias estações sendo que uma delas ficou localizada próxima ao Engenho
da Cachoeira, o qual logo mudou de nome para Jerônymo de Mesquita e posteriormente
simplificado para Mesquita (IBGE, 2017a). Inicia-se dessa maneira, o declínio do ciclo
da cana.
Inicialmente, a construção da estrada de ferro não significou ocupação imediata,
pois a mesma havia sido construída para escoar a produção cafeeira do Vale do Paraíba
(SILVA L. H., 2014). A estrada também agravou os problemas com alagamentos da
região, contribuindo para a formação de pântanos e com a proliferação de mosquitos
transmissores de malária (RIO DE JANEIRO, 1996, v.1). Entre 1889 e 1900, uma
comissão de saneamento foi instituída pelo Estado para intervir na região da Baixada
Fluminense. A comissão partia da visão de que as áreas pantanosas eram foco de
doenças e de que deveriam trazer desenvolvimento econômico para a região, sendo sua
função era entregar terras férteis e salubres para a população (SILVA L. H., 2014).
Dessa maneira, o barro das regiões alagadas foi transformado em tijolos e telhas,
servindo de base para a instalação da Companhia Material de Construção Ludolf &
Ludolf, junto à margem direita da estação de Mesquita (IBGE, 2017a).
Entre as décadas de 1930 e 1940 houve um apogeu da cultura de laranja, porém,
com a Segunda Guerra Mundial, as exportações caíram drasticamente, levando ao
declínio da citricultura. A região passa a sofrer um intenso êxodo rural, o que abre
espaço para a especulação imobiliária, com a criação de inúmeros loteamentos (RIO DE
JANEIRO, 1996; v.1), o que pôs fim aos grandes vazios resultantes da Fazenda da
Cachoeira e da Companhia Ludolf & Ludolf (IBGE, 2017a).
As primeiras ações em favor da emancipação de Mesquita começam a partir da
década de 1950 e geraram um processo encaminhado para a Assembleia Legislativa do
Estado para ser sancionado, mas, durante os trâmites foi perdido. Esse movimento só
voltará a se organizar mais 30 anos depois, com a instauração do primeiro plebiscito em
1987 (SILVA M. F., 2015).
Em 1993 e 1995 ocorreram mais dois plebiscitos, mas como o primeiro, não
obtiveram quórum e sua validade não foi alcançada. Como consequência do fracasso do
plebiscito de 1995, principia-se uma nova campanha, agora liderada pelo Comitê Pró-
Emancipação, que era mais organizado e mais influente politicamente. Finalmente, após
86
quatro anos, em 15 de setembro de 1999 o Comitê conseguiu votar o projeto de lei da
emancipação e em 25 de setembro, a lei foi sancionada, criando o município de
Mesquita (SILVA M. F., 2015).
A bacia do rio Iguaçu-Sarapuí, da qual a bacia do rio Dona Eugênia faz parte,
apresenta um processo de urbanização intenso e não organizado, com diversos
problemas de saneamento básico. Uma cheia ocorrida no ano de 1988, que causou
mortes e levou a região da Baixada Fluminense a um estado emergencial, motivou o
governo estadual a investir em diversas ações de combate às inundações, como obras de
macrodrenagem realizadas entre 1994 e 1995 e a elaboração do Plano Diretor de
Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu-Sarapuí, em 1996, e sua revisão em 2009.
Com relação à macrodrenagem, no Plano Diretor de 1996 foi constatado que
grande parte do centro de Mesquita sofria com inundações devido ao confinamento do
leito do rio Dona Eugênia entre as construções e da pequena capacidade de vazão da
travessia sob a Rede Ferroviária Federal S/A. As soluções propostas na época foram a
construção de uma barragem de amortecimento de cheias, limpeza e aprofundamento da
calha, substituição de travessias e construção de galerias de drenagem (RIO DE
JANEIRO, 1996, v.1). No relatório de 2009, apesar do cuidado em utilizar medidas que
estivessem de acordo com os conceitos de drenagem sustentável, a solução para o rio
Dona Eugênia continuou dependente da barragem, que foi ajustada para a situação atual.
A barragem apresenta um ótimo resultado, mas não resolve os problemas de ocupação
das margens e alagamentos urbanos gerados pela microdrenagem (VERÓL, 2013).
Quanto à microdrenagem, em questionários enviados a moradores, Britto et al.
(2011) obtiveram a confirmação de 60% dos entrevistados de que existe sistema de
drenagem em sua rua. O IBGE (2011) não possui dados do município no Atlas de
Saneamento. O SNIS também não possui dados desse município.
Dados levantados pelo PMSM revelam que 94% dos moradores informaram que a
rua de seu domicílio era asfaltada. Os bairros Vila Norma, Cosmorama e Alto Uruguai
apresentaram os menores índices de pavimentação. Quanto às bocas-de-lobo, 91%
atestaram sua existência. Além disso, 28% dos moradores relatou sofrer com problemas
de alagamentos, sendo que os bairros com maior percentual de ocorrências foram Edson
Passos, Jacutinga e Cosmorama. Finalmente, a drenagem pluvial foi o tema mais
87
apontado pelas representações comunitárias para melhoria de infraestrutura
(MESQUITA, 2017b).
As maiores deficiências encontradas no sistema de drenagem do município foram:
(1) falta de manutenção; (2) estrangulamentos de travessias e pontes subdimensionadas;
(3) ocupação das margens dos rios; (4) crescimento de vegetação nas calhas dos rios; (5)
assoreamento; (6) ocupação de áreas alagáveis; (7) ligações clandestinas de águas
residuais e (8) entupimentos na tubulação decorrentes de acúmulo de gordura, areia e
resíduos sólidos (MESQUITA, 2017b).
88
Figura 4.10 – Cobertura do sistema de esgotamento do município de Mesquita.
Fonte: Adaptado de Mesquita (2017b).
89
Os dados apresentados na Figura 4.11 indicam uma grande variabilidade dos
valores investidos no estado. Notam-se anos com valores muito baixos, como 1996,
2002 e 2013 e um ano, o de 2014, com valor extremamente maior do que a média. A
média anual dos investimentos é de aproximadamente R$ 98.630.000,00. O crescimento
médio anual dos investimentos é de 126,53%, mas se desconsiderarmos os anos
extremos citados anteriormente obtém-se um valor de -12,16%, valor muito inferior à
média brasileira, que, é de 9,9%.
No município, foram investidos cerca de R$ 5.000.000,00 por ano, o equivalente a
5,4% do valor investido no estado. Entre os anos de 2011 e 2014 houve um crescimento
de 139,10% dos investimentos e entre o período de 2005 a 2011 ocorreu um decréscimo
de 17,57%.
90
Figura 4.13 – Índice IN024 da CEDAE no estado e no município.
Fonte: Elaborado com base nos dados de SNIS (1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2004a, 2004b,
2005, 2006, 2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014a, 2014b, 2016, 2017).
91
Figura 4.14 – Índice IN046 da CEDAE no estado e no município.
Fonte: Elaborado com base nos dados de SNIS (1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2004a, 2004b,
2005, 2006, 2007, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014a, 2014b, 2016, 2017).
4.1.5.1 Planejamento
92
Título I – Dos princípios, objetivos e diretrizes.
Título II – Das políticas públicas.
o Capítulo I – Da política de saneamento ambiental.
o Capítulo II – Da política de conservação, recuperação e controle
ambiental.
o Capítulo III – Da política de transporte e mobilidade.
o Capítulo IV – Da política cultural.
o Capítulo V – Da política de acesso à moradia digna.
o Capítulo VI – Da política de desenvolvimento econômico social.
o Capítulo VII – Da política de educação.
o Capítulo VIII – Da política de saúde pública.
o Capítulo VX – Da política de esporte, turismo e lazer.
Título III – Das orientações para a integração regional e metropolitana.
Título IV – Do ordenamento territorial.
o Capítulo I – Do macrozoneamento.
o Capítulo II – Da subdivisão da macrozona de ocupação urbana.
o Capítulo III – Das áreas especiais.
Título V – Da legislação urbanística.
o Capítulo I – Do uso, ocupação e parcelamento do solo.
Título VI – Dos instrumentos da política urbana.
o Capítulo I – Do parcelamento, edificação e utilização
compulsórios.
o Capítulo II – Do IPTU progressivo no tempo.
o Capítulo III – Da desapropriação com títulos da dívida pública.
o Capítulo IV – Do direito de preempção.
o Capítulo V – Da outorga onerosa do direito de construir.
Título VII – Do sistema de planejamento participativo.
o Capítulo I – Das disposições gerais.
o Capítulo II – Da conferência da cidade de Mesquita.
o Capítulo III – Do conselho de cidade de Mesquita.
o Capítulo IV – Da obrigatoriedade de realização de audiências
públicas.
Título IX – Das disposições finais e transitórias.
93
Anexos.
Britto et al. (2011) apontam que o Plano Diretor é um avanço na efetivação da
gestão integrada das águas urbanas na escala municipal, pois destaca a importância de
medidas voltadas ao saneamento ambiental e sustentabilidade da drenagem urbana.
Dentre os pontos abordados, merecem destaque:
É posto como diretriz da política de saneamento ambiental a
implementação da gestão integrada dos serviços de saneamento básico
com os serviços de fiscalização ambiental, controle de vetores e defesa
civil;
Priorizam-se investimentos em saneamento ambiental nos assentamentos
precários, zonas de especial interesse social e regiões próximas ao Maciço
Gericinó-Mendanha;
A política de manejo de águas pluviais deve ser voltada para o combate à
alagamentos e doenças de veiculação híbrida;
Está previsto a elaboração do Plano Municipal de Saneamento Ambiental,
que deverá incluir, entre outras disposições, definição das obras
prioritárias, seleção de alternativas, planos de investimento e identificação
das fontes de financiamento;
São diretrizes da política de conservação, recuperação e controle ambiental
a prevenção da poluição e a despoluição dos corpos hídricos, a integração
da gestão de recursos hídricos com a gestão de ecossistemas;
É incentivado o apoio à cooperação metropolitana para a realização de
programas e ações dentro do Programa de Despoluição da Baía de
Guanabara;
Deverá ser promovida a criação de consórcios públicos e outras formas de
cooperação com municípios metropolitanos para a gestão dos serviços de
saneamento ambiental, especialmente se integrarem a mesma bacia
hidrográfica.
Além do Plano Diretor, em 2009, o município instituiu sua Política Municipal de
Saneamento Básico (MESQUITA, 2009). Esta lei reitera o exposto pela Lei nº
11.445/2007, com alguns pontos complementares, conforme descrito a seguir:
Em seu artigo 7º, reforça a competência do município para organizar e
prestar direta ou indiretamente os serviços de saneamento básico.
94
Como objetivos da Política Municipal de Saneamento Básico, o artigo 10
estabelece:
o Contribuir para a redução das desigualdades locais, a geração de
emprego e de renda e a inclusão social;
o Dotar de mecanismos próprios de planejamento, regulação e
fiscalização da prestação dos serviços;
o Promover alternativas de gestão que viabilizem a sustentabilidade
econômica e financeira dos serviços, com ênfase na cooperação
com os governos estadual e federal;
o Promover o desenvolvimento institucional do saneamento básico,
estabelecendo meios para a unidade e articulação das ações dos
diferentes agentes, bem como do desenvolvimento de sua
organização, capacidade técnica, gerencial, financeira e de recursos
humanos;
o Fomentar o desenvolvimento científico e tecnológico e a adoção de
tecnologias apropriadas.
Dentre as principais diretrizes para a formulação, implantação,
funcionamento e aplicação dos instrumentos da política, tem-se:
o Valorização do processo de planejamento e decisão sobre medidas
preventivas ao crescimento caótico de qualquer tipo, objetivando
resolver problemas de drenagem e disposição de esgoto;
o Adoção de critérios objetivos de elegibilidade e prioridade,
levando em consideração fatores como nível de renda e cobertura,
grau de urbanização, concentração populacional, disponibilidade
hídrica, riscos sanitários, epidemiológicos e ambientais;
o Coordenação e integração das políticas, planos, programas e ações
governamentais de saneamento, saúde, meio ambiente, recursos
hídricos, desenvolvimento urbano e rural, habitação, uso e
ocupação do solo;
o Os bairros deverão ser considerados como unidade de
planejamento para fins de elaboração do Plano Municipal de
Saneamento Básico.
De acordo com Britto et al. (2011) a prefeitura de Mesquita possui uma boa
estrutura em termos de legislação urbana e ambiental e está provido de instrumentos
95
regulatórios para atuar na gestão integrada. Ademais, os conceitos de requalificação
fluvial e saneamento ambiental estão incorporados no Plano Diretor e na Política de
Saneamento e parece haver espaço nos meios institucionais para a discussão sobre a
utilização de sistemas unitários e wetlands, o que fornece um respaldo maior ao
desenvolvimento deste trabalho. Mesmo assim, a estrutura institucional e regulatória
não é suficiente para garantir a gestão integrada. Ela depende da existência de um corpo
técnico permanente e qualificado e da capacidade de arrecadação fiscal e financeira do
município e do estado (BRITTO; et al. 2011).
4.1.5.3 Gerenciamento
96
instituída a gestão compartilhada, a titularidade desses serviços caberá, ao mesmo
tempo, ao Estado e aos municípios integrantes dessas regiões (MESQUITA, 2017b).
Contudo, segundo diagnóstico levantado pelo Plano Municipal de Saneamento de
Mesquita (PMSM):
“O Município, por meio da Lei Municipal nº 440/2008, promoveu a
ratificação legal do Convênio de Cooperação subscrito. Por outro lado, não
foi dado a saber se o Estado do Rio de Janeiro possui legislação específica
que disponha sobre o conteúdo mínimo do convênio de cooperação ou, pelo
menos, se a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) promoveu a
ratificação legal do convênio de cooperação formalizado. Caso isso não tenha
ocorrido, é possível sustentar, salvo melhor juízo, que o convênio de
cooperação subscrito resta gravado de ilegalidade quanto à forma, e,
portanto, é nulo desde o seu nascedouro.” (MESQUITA, 2017b, p. 120).
Além do questionamento sobre a legalidade do convênio de cooperação e do
contrato de programa, em seu conteúdo encontram-se falhas pois nenhum dos
documentos é pautado nos planos municipais de saneamento básico. Como se não
bastasse, ainda está em vigor um Decreto Estadual que delega ao presidente da CEDAE
competência para promover a fixação da tarifa dos serviços, o que pode ser interpretado
como uma invasão da competência do titular dos serviços de saneamento básico no
processo de gestão dos mesmos, interferindo em sua sustentabilidade financeira
(MESQUITA, 2017b).
Desse modo, sem o aperfeiçoamento da relação jurídica travada entre o Estado, os
Municípios e a CEDAE não será possível promover uma boa governança do serviço de
esgotamento sanitário, seja ele separador absoluto, unitário ou misto.
97
valor para a sociedade, e permite a preservação da natureza e da
biodiversidade. A requalificação pretende que rios mais naturais demandem
menos intervenções e sejam também economicamente mais viáveis, além de
proverem soluções mais sustentáveis, ao longo do tempo, para importantes
problemas das bacias hidrográficas, como o controle de cheias e a redução do
risco hidráulico.” (VERÓL, 2013, p. 45).
Lourenço (2013) desenvolveu, na bacia do rio Dona Eugênia, um projeto
paisagístico, visando demonstrar sua importância para a requalificação fluvial e para a
recuperação de áreas urbanas. Dentre suas premissas estava a de que “... o ambiente
natural e urbano são reconhecidos enquanto uma única paisagem a ser trabalhada de
forma sistêmica, tendo suas diferentes faces reconhecidas e respeitados no processo”.
Utilizando-se de técnicas como parques urbanos, corredores verdes, bacias de detenção
e wetlands, a autora criou diferentes zonas, ilustradas na Figura 4.15:
Trecho I – Parque urbano de borda: com o objetivo de conter a expansão
urbana em direção à área de proteção, contaria com espécies frutíferas para
consumo;
Trecho II –Parque urbano de transição: funcionaria como um braço da área
de proteção na zona urbana e teria um caráter residencial de baixa
densidade;
Trecho III –Espaços livres urbanos: seriam áreas residenciais e comerciais
integradas com corredores verdes e bacias de detenção;
Trecho IV – Área marginal crítica: em uma área onde há ocupação
irregular, esse trecho contaria com a relocação de habitações e
requalificação das margens do rio;
Trecho V –O rio sob novo ângulo: possui a proposta de requalificação das
margens e conexão com os espaços livres;
Trecho VI –Parque urbano de zona úmida – wetlands: localizada em uma
área de várzea, contaria com áreas de fitodepuração e teria as habitações
relocadas.
98
Figura 4.15 – Regiões paisagísticas para a bacia do rio Dona Eugênia.
Fonte: Lourenço (2013)
Considerando que a requalificação fluvial pode ser uma alternativa para projetos
de drenagem sustentável e ao controle de cheias, Veról (2013) utilizou: (1) a
modelagem matemática por meio do MODCEL; (2) a adaptação do IRC – um índice de
risco de cheias; (3) a constução de uma Escala de Resiliência (ER) e (4) a criação do
REFLU – um índice de requalificação fluvial urbana elaborado pela autora; para avaliar
os impactos comparativos da implantação de diferentes alternativas de projeto na bacia
do rio Dona Eugênia. Assim, os índices são utilizados como ferramenta de comparação
de diferentes soluções de projeto em cenários futuros distintos.
A princípio, foi realizado o diagnóstico da situção atual da bacia em termos de
alagamentos. Em seguida, se estabeleceu um cenário passado de referência, quando a
bacia encontrava-se em fase inicial de urbanização e um outro cenário hipotético caso o
crescimento urbano da bacia obedecesse as diretrizes do desenvolvimento sustentável.
Finalmente, construiram-se cenários com a abordagem da drenagem tradicional, da
drenagem sustentável e da requalificação fluvial, que foi compatibilizado com o projeto
paisagístico de Lourenço (2013) (VERÓL, 2013).
Os resultados da autora indicaram que, em termos de redução da mancha de
alagamento, o cenário de desenvolvimento sustentável obteve os melhores resultados.
Porém, quando levados em consideração os índices de risco, o cenário que considerava
a conjugação da requalificação fluvial com a drenagem urbana sustentável se mostrou
mais vantajoso em termos globais, já que promoveu a redução dos alagamentos
99
conjuntamente com a redução do risco, o aumento de resiliência7 e o resgate das
características fluviais naturais.
Com o objetivo de complementar os trabalhos de Veról (2013) e Lourenço (2013),
a presente dissertação visa mostrar que a requalificação fluvial pode ser utilizada como
uma ferramenta do saneamento ambiental e vice-versa.
Enquanto que o saneamento básico se preocupa mais com a questão do acesso aos
serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e
manejo de águas pluviais, o saneamento ambiental tem uma aplicação muito mais
ampla, pois se constitui em ações socioeconômicas que objetivam alcançar a
salubridade ambiental, ou seja, medidas que sejam capazes de prevenir a ocorrência de
doenças veiculadas pelo meio ambiente, promover condições favoráveia à saúde da
população, assegurar a preservação ambiental e a sobrevivência da biodiversidade e
cooperar para o desenvolvimento sustentável (FUNASA, 2004).
Fica evidente que, se o desejo é promover a salubridade ambiental da bacia do rio
Dona Eugênia, as ações saneamento básico e requalificação fluvial não devem ser
tratadas separadamente, pelo contrário, devem ser aplicadas associadamente. Somente
desta maneira os resultados de cada ação poderá ser maximizado e os benefícios serão
sentidos pela população.
7
Capacidade de reação e retorno ao estado de referência.
100
Figura 4.16 – MDT da bacia do rio Dona Eugênia.
101
Figura 4.17 – Sub-bacias de microdrenagem do rio Dona Eugênia.
Definidas as sub-bacias e o sentido dos escoamentos, o traçado das redes foi feito
de forma conceitual e obedeceu a seguinte ordem:
1. Delimitação das microbacias de drenagem do SSA;
2. Lançamento dos poços de visita e das tubulações da rede de drenagem do
SSA;
3. Numeração dos poços de visita;
4. Lançamento dos poços de visita e das tubulações da rede de esgotamento
sanitário do SSA;
5. Lançamento dos poços de visita e das tubulações da rede do SU;
6. Lançamento dos poços de visita e das tubulações da rede do SM.
102
Para o traçado do SM, foram feitas adaptações no SSA-DR, inserindo as CTS de
forma a desviar as vazões antes dos pontos de deságue e traçando um interceptor para
transportar as vazões desviadas às EEE.
Já no traçado do SU, conforme descrito no Item 3.2.1 - Concepção dos sistemas:
Redes, foram determinadas duas possíveis configurações de traçado: SU-I e SU-II,
sendo a que a primeira conta com apenas uma CTS para cada sub-bacia e a segunda
possui traçado semelhante ao do SM – com CTS em cada ponto de deságue.
A Figura 4.18, a Figura 4.19, a Figura 4.20 e a Figura 4.21 representam o recorte
de uma mesma área para demonstrar a diferença entre as redes dos SSA-ES, SSA-DR,
SU-I, SU-II e SM. O traçado completo das redes de cada sub-bacia pode ser encontrado
nos Apêndices C, D, E, F, G, H, I, J e K.
103
Figura 4.19 – Configuração da rede de esgotamento do SSA.
104
Figura 4.21 – Configuração do SU-II e SM.
105
Tabela 4.1 – Informações gerais das redes para cada sub-bacia.
106
Segundo já exposto no Item 3.2.4 - Concepção dos sistemas: Estação de
tratamento de esgoto, a ETE foi localizada na região mais baixa da bacia – vide Figura
4.22 – onde ainda existem regiões não ocupadas e também onde o deságue do efluente
tratado poderá ser lançado com maior facilidade no Rio Sarapuí.
4.3 Dimensionamento
Uma vez traçada as redes e delimitadas as áreas de contribuição para cada poço de
visita e definidas a localização das CTS, EEE e da ETE, deu-se inicio a etapa de
dimensionamento, que teve suas diretrizes metodológicas descritas no Item 3.3.
107
As áreas de ocupação da bacia foram classificadas em: (1) área de floresta; (2)
faixa de domínio da Light; (3) área de desapropriação; (4) cemitério; (5) campo de
futebol; (6) área não urbanizada e (7) área urbanizada. Uma planta contendo a
delimitação das áreas citadas anteriormente pode ser encontrado no Apêndice B do CD-
ROM.
Os coeficientes de runoff definidos para cada área de ocupação foram os
equivalentes à área central, área de floresta com declividade maior do que 10% e área de
grama, em solo argiloso, com inclinação menor do que 2%; conforme indicado na
Tabela 2.4. O coeficiente de deflúvio total foi calculado em função do percentual de
cada tipo de cobertura presente em cada área de contribuição.
O tempo de recorrência empregado foi de 10 anos e o tempo de concentração
inicial adotado para cada microbacia de contribuição foi de 10 minutos, conforme
expresso na Tabela 2.3 e Tabela 2.2, respectivamente. A Tabela 4.2 a seguir resume os
parâmetros e critérios utilizados. A planilha com o dimensionamento completo da rede
está disponível no Apêndice L.
108
Tabela 4.5 com os parâmetros e critérios utilizados. A planilha com o
dimensionamento completo da rede está disponível no Apêndice L.
Tabela 4.3 – Dados para estudo populacional da bacia do rio Dona Eugênia.
109
Tabela 4.5 – Parâmetros utilizados no projeto de esgotamento do SSA.
Coeficiente de retorno1 0,80
Consumo per capita 200 l/(hab.dia)
Coeficiente de vazão máxima diária (K1)1 1,20
1
Coeficiente de vazão máxima horária (K2) 1,50
Taxa de infiltração1 0,0001 l/(s.m)
1
Coeficiente de manning 0,013
Diâmetro mínimo 150 mm
1
Recobrimento mínimo 0,90 cm
1
Lâmina máxima 75%
Vazão mínima1 1,50l/s
1
Tensão trativa crítica 1 Pa
Notas:
1
Conforme norma ABNT (1986b).
As vazões de projeto encontram-se na Tabela 4.6. Por fim, como foi descrito no
Item 3.3.3 - Dimensionamento: Estação de tratamento de esgoto, através do gráfico da
Figura 4.23 foi estipulada, de forma preliminar, uma área de 3 hectares para a ETE com
base na vazão máxima de final de plano.
110
Figura 4.23 – Gráfico utilizado na determinação da área da ETE do SSA-ES.
Fonte: Jordão e Pessôa (2017).
111
Tabela 4.7 – Vazões de águas residuais do SU.
112
Tabela 4.8 – Parâmetros utilizados no projeto do SU-I.
2
Tempo de recorrência 10 anos
2
Tempo de concentração no início da linha 10 minutos
Coeficiente de deflúvio
Área central 0,80
Área de floresta com declividade maior do que 10% 0,50
Área de grama, em solo argiloso, com inclinação menor do que 2% 0,15
2
Coeficiente de Manning 0,013
12
Diâmetro mínimo 400 mm
113
Recobrimento mínimo (PVC) 3 0,90 m
114
para um substrato de 50 cm e nos casos de serem utilizadas areia média, areia grossa ou
brita. Os resultados são apresentados na Tabela 4.10.
Além dos custos de implantação das redes, também foram considerados os custos
com a implantação das ligações prediais, das ETE e das EEE e, no caso do SU e SM,
com a implantação das CTS. No fim de plano, estima-se 26847 ligações prediais, com
custo unitário apresentado na Tabela 4.12. Com relação às ETE, como exposto no Item
3.4, foi utilizada a curva de custo proposta por Jordão e Pessôa (2017) para tratamento
por lodos ativados, sendo que os valores obtidos podem ser encontrados na Tabela 4.13.
O custo das EEE foi calculado com base nas curvas de custo elaboradas por Pacheco
(2011) e são expressos na Tabela 4.14. Finalmente, as CTS foram consideradas
116
semelhantes ao item de código 813713 da Tabela 3.2, tendo custo apresentado na
Tabela 4.15.
Total R$ 1.472,54
Fonte: CAIXA; IBGE (2017)
Desse modo, considerando o custo das ligações prediais, CTS, ETE e EEE em
conjunto com o custo das redes, obtemos os custo total de implantação de cada cenário,
conforme apresentado na Tabela 4.16. Resumidamente, foram comparadas 6 situações:
1. Sistema separador absoluto convencional: SSA;
117
2. Sistema unitário com apenas uma captação de tempo seco por sub-bacia e
ETE com capacidade de tratamento igual à vazão máxima de final de
plano: SU-I caso (A);
3. Sistema unitário com apenas uma captação de tempo seco por sub-bacia e
ETE com capacidade de tratamento igual ao dobro vazão máxima de final
de plano: SU-I caso (B);
4. Sistema unitário com uma captação de tempo seco por deságue e ETE
com capacidade de tratamento igual à vazão máxima de final de plano:
SU-II caso (A);
5. Sistema unitário com uma captação de tempo seco por deságue e ETE
com capacidade de tratamento igual ao dobro vazão máxima de final de
plano: SU-II caso (B);
6. Sistema misto: SM.
SSA R$ 159.868.736,14
SU-I – caso (A) R$ 159.296.502,26
SU-I – caso (B) R$ 178.720.618,91
SU-II – caso (A) R$ 139.330.946,96
SU-II – caso (B) R$ 158.755.063,61
SM R$ 134.433.617,21
Notas:
Caso (A): capacidade igual a vazão máxima de final de plano.
Caso (B): capacidade igual ao dobro da vazão máxima de final de plano.
118
Tabela 4.17–Financiamento SSA.
119
Tabela 4.18 – Financiamento do SU-I caso (A).
2018 0 - - - R$ 151.331.677,15 -
2019 1 R$ 9.079.900,63 - R$ 9.079.900,63 R$ 151.331.677,15 R$ 3.026.633,54
2020 2 R$ 9.079.900,63 - R$ 9.079.900,63 R$ 151.331.677,15 R$ 3.026.633,54
2021 3 R$ 9.079.900,63 - R$ 9.079.900,63 R$ 151.331.677,15 R$ 3.026.633,54
2022 4 R$ 9.079.900,63 - R$ 9.079.900,63 R$ 151.331.677,15 R$ 3.026.633,54
2023 5 R$ 16.646.484,49 R$ 7.566.583,86 R$ 9.079.900,63 R$ 143.765.093,29 R$ 2.875.301,87
2024 6 R$ 16.192.489,45 R$ 7.566.583,86 R$ 8.625.905,60 R$ 136.198.509,43 R$ 2.723.970,19
2025 7 R$ 15.738.494,42 R$ 7.566.583,86 R$ 8.171.910,57 R$ 128.631.925,58 R$ 2.572.638,51
2026 8 R$ 15.284.499,39 R$ 7.566.583,86 R$ 7.717.915,53 R$ 121.065.341,72 R$ 2.421.306,83
2027 9 R$ 14.830.504,36 R$ 7.566.583,86 R$ 7.263.920,50 R$ 113.498.757,86 R$ 2.269.975,16
2028 10 R$ 14.376.509,33 R$ 7.566.583,86 R$ 6.809.925,47 R$ 105.932.174,00 R$ 2.118.643,48
2029 11 R$ 13.922.514,30 R$ 7.566.583,86 R$ 6.355.930,44 R$ 98.365.590,15 R$ 1.967.311,80
2030 12 R$ 13.468.519,27 R$ 7.566.583,86 R$ 5.901.935,41 R$ 90.799.006,29 R$ 1.815.980,13
2031 13 R$ 13.014.524,23 R$ 7.566.583,86 R$ 5.447.940,38 R$ 83.232.422,43 R$ 1.664.648,45
2032 14 R$ 12.560.529,20 R$ 7.566.583,86 R$ 4.993.945,35 R$ 75.665.838,57 R$ 1.513.316,77
2033 15 R$ 12.106.534,17 R$ 7.566.583,86 R$ 4.539.950,31 R$ 68.099.254,72 R$ 1.361.985,09
2034 16 R$ 11.652.539,14 R$ 7.566.583,86 R$ 4.085.955,28 R$ 60.532.670,86 R$ 1.210.653,42
2035 17 R$ 11.198.544,11 R$ 7.566.583,86 R$ 3.631.960,25 R$ 52.966.087,00 R$ 1.059.321,74
2036 18 R$ 10.744.549,08 R$ 7.566.583,86 R$ 3.177.965,22 R$ 45.399.503,14 R$ 907.990,06
2037 19 R$ 10.290.554,05 R$ 7.566.583,86 R$ 2.723.970,19 R$ 37.832.919,29 R$ 756.658,39
2038 20 R$ 9.836.559,01 R$ 7.566.583,86 R$ 2.269.975,16 R$ 30.266.335,43 R$ 605.326,71
2039 21 R$ 9.382.563,98 R$ 7.566.583,86 R$ 1.815.980,13 R$ 22.699.751,57 R$ 453.995,03
2040 22 R$ 8.928.568,95 R$ 7.566.583,86 R$ 1.361.985,09 R$ 15.133.167,71 R$ 302.663,35
2041 23 R$ 8.474.573,92 R$ 7.566.583,86 R$ 907.990,06 R$ 7.566.583,86 R$ 151.331,68
2042 24 R$ 8.020.578,89 R$ 7.566.583,86 R$ 453.995,03 R$ - R$ -
120
Tabela 4.19 – Financiamento do SU-I caso (B).
2018 0 - - - R$ 169.784.587,97 -
2019 1 R$ 10.187.075,28 - R$ 10.187.075,28 R$ 169.784.587,97 R$ 3.395.691,76
2020 2 R$ 10.187.075,28 - R$ 10.187.075,28 R$ 169.784.587,97 R$ 3.395.691,76
2021 3 R$ 10.187.075,28 - R$ 10.187.075,28 R$ 169.784.587,97 R$ 3.395.691,76
2022 4 R$ 10.187.075,28 - R$ 10.187.075,28 R$ 169.784.587,97 R$ 3.395.691,76
2023 5 R$ 18.676.304,68 R$ 8.489.229,40 R$ 10.187.075,28 R$ 161.295.358,57 R$ 3.225.907,17
2024 6 R$ 18.166.950,91 R$ 8.489.229,40 R$ 9.677.721,51 R$ 152.806.129,17 R$ 3.056.122,58
2025 7 R$ 17.657.597,15 R$ 8.489.229,40 R$ 9.168.367,75 R$ 144.316.899,77 R$ 2.886.338,00
2026 8 R$ 17.148.243,38 R$ 8.489.229,40 R$ 8.659.013,99 R$ 135.827.670,38 R$ 2.716.553,41
2027 9 R$ 16.638.889,62 R$ 8.489.229,40 R$ 8.149.660,22 R$ 127.338.440,98 R$ 2.546.768,82
2028 10 R$ 16.129.535,86 R$ 8.489.229,40 R$ 7.640.306,46 R$ 118.849.211,58 R$ 2.376.984,23
2029 11 R$ 15.620.182,09 R$ 8.489.229,40 R$ 7.130.952,69 R$ 110.359.982,18 R$ 2.207.199,64
2030 12 R$ 15.110.828,33 R$ 8.489.229,40 R$ 6.621.598,93 R$ 101.870.752,78 R$ 2.037.415,06
2031 13 R$ 14.601.474,57 R$ 8.489.229,40 R$ 6.112.245,17 R$ 93.381.523,38 R$ 1.867.630,47
2032 14 R$ 14.092.120,80 R$ 8.489.229,40 R$ 5.602.891,40 R$ 84.892.293,98 R$ 1.697.845,88
2033 15 R$ 13.582.767,04 R$ 8.489.229,40 R$ 5.093.537,64 R$ 76.403.064,59 R$ 1.528.061,29
2034 16 R$ 13.073.413,27 R$ 8.489.229,40 R$ 4.584.183,88 R$ 67.913.835,19 R$ 1.358.276,70
2035 17 R$ 12.564.059,51 R$ 8.489.229,40 R$ 4.074.830,11 R$ 59.424.605,79 R$ 1.188.492,12
2036 18 R$ 12.054.705,75 R$ 8.489.229,40 R$ 3.565.476,35 R$ 50.935.376,39 R$ 1.018.707,53
2037 19 R$ 11.545.351,98 R$ 8.489.229,40 R$ 3.056.122,58 R$ 42.446.146,99 R$ 848.922,94
2038 20 R$ 11.035.998,22 R$ 8.489.229,40 R$ 2.546.768,82 R$ 33.956.917,59 R$ 679.138,35
2039 21 R$ 10.526.644,45 R$ 8.489.229,40 R$ 2.037.415,06 R$ 25.467.688,20 R$ 509.353,76
2040 22 R$ 10.017.290,69 R$ 8.489.229,40 R$ 1.528.061,29 R$ 16.978.458,80 R$ 339.569,18
2041 23 R$ 9.507.936,93 R$ 8.489.229,40 R$ 1.018.707,53 R$ 8.489.229,40 R$ 169.784,59
2042 24 R$ 8.998.583,16 R$ 8.489.229,40 R$ 509.353,76 R$ - R$ -
121
Tabela 4.20 – Financiamento do SU-II caso (A).
2018 0 - - - R$ 132.364.399,61 -
2019 1 R$ 7.941.863,98 - R$ 7.941.863,98 R$ 132.364.399,61 R$ 2.647.287,99
2020 2 R$ 7.941.863,98 - R$ 7.941.863,98 R$ 132.364.399,61 R$ 2.647.287,99
2021 3 R$ 7.941.863,98 - R$ 7.941.863,98 R$ 132.364.399,61 R$ 2.647.287,99
2022 4 R$ 7.941.863,98 - R$ 7.941.863,98 R$ 132.364.399,61 R$ 2.647.287,99
2023 5 R$ 14.560.083,96 R$ 6.618.219,98 R$ 7.941.863,98 R$ 125.746.179,63 R$ 2.514.923,59
2024 6 R$ 14.162.990,76 R$ 6.618.219,98 R$ 7.544.770,78 R$ 119.127.959,65 R$ 2.382.559,19
2025 7 R$ 13.765.897,56 R$ 6.618.219,98 R$ 7.147.677,58 R$ 112.509.739,67 R$ 2.250.194,79
2026 8 R$ 13.368.804,36 R$ 6.618.219,98 R$ 6.750.584,38 R$ 105.891.519,69 R$ 2.117.830,39
2027 9 R$ 12.971.711,16 R$ 6.618.219,98 R$ 6.353.491,18 R$ 99.273.299,71 R$ 1.985.465,99
2028 10 R$ 12.574.617,96 R$ 6.618.219,98 R$ 5.956.397,98 R$ 92.655.079,73 R$ 1.853.101,59
2029 11 R$ 12.177.524,76 R$ 6.618.219,98 R$ 5.559.304,78 R$ 86.036.859,75 R$ 1.720.737,19
2030 12 R$ 11.780.431,57 R$ 6.618.219,98 R$ 5.162.211,58 R$ 79.418.639,77 R$ 1.588.372,80
2031 13 R$ 11.383.338,37 R$ 6.618.219,98 R$ 4.765.118,39 R$ 72.800.419,78 R$ 1.456.008,40
2032 14 R$ 10.986.245,17 R$ 6.618.219,98 R$ 4.368.025,19 R$ 66.182.199,80 R$ 1.323.644,00
2033 15 R$ 10.589.151,97 R$ 6.618.219,98 R$ 3.970.931,99 R$ 59.563.979,82 R$ 1.191.279,60
2034 16 R$ 10.192.058,77 R$ 6.618.219,98 R$ 3.573.838,79 R$ 52.945.759,84 R$ 1.058.915,20
2035 17 R$ 9.794.965,57 R$ 6.618.219,98 R$ 3.176.745,59 R$ 46.327.539,86 R$ 926.550,80
2036 18 R$ 9.397.872,37 R$ 6.618.219,98 R$ 2.779.652,39 R$ 39.709.319,88 R$ 794.186,40
2037 19 R$ 9.000.779,17 R$ 6.618.219,98 R$ 2.382.559,19 R$ 33.091.099,90 R$ 661.822,00
2038 20 R$ 8.603.685,97 R$ 6.618.219,98 R$ 1.985.465,99 R$ 26.472.879,92 R$ 529.457,60
2039 21 R$ 8.206.592,78 R$ 6.618.219,98 R$ 1.588.372,80 R$ 19.854.659,94 R$ 397.093,20
2040 22 R$ 7.809.499,58 R$ 6.618.219,98 R$ 1.191.279,60 R$ 13.236.439,96 R$ 264.728,80
2041 23 R$ 7.412.406,38 R$ 6.618.219,98 R$ 794.186,40 R$ 6.618.219,98 R$ 132.364,40
2042 24 R$ 7.015.313,18 R$ 6.618.219,98 R$ 397.093,20 R$ - R$ -
122
Tabela 4.21 – Financiamento do SU-II caso (B).
2018 0 - - - R$ 150.817.310,43 -
2019 1 R$ 9.049.038,63 - R$ 9.049.038,63 R$ 150.817.310,43 R$ 3.016.346,21
2020 2 R$ 9.049.038,63 - R$ 9.049.038,63 R$ 150.817.310,43 R$ 3.016.346,21
2021 3 R$ 9.049.038,63 - R$ 9.049.038,63 R$ 150.817.310,43 R$ 3.016.346,21
2022 4 R$ 9.049.038,63 - R$ 9.049.038,63 R$ 150.817.310,43 R$ 3.016.346,21
2023 5 R$ 16.589.904,15 R$ 7.540.865,52 R$ 9.049.038,63 R$ 143.276.444,91 R$ 2.865.528,90
2024 6 R$ 16.137.452,22 R$ 7.540.865,52 R$ 8.596.586,69 R$ 135.735.579,39 R$ 2.714.711,59
2025 7 R$ 15.685.000,28 R$ 7.540.865,52 R$ 8.144.134,76 R$ 128.194.713,87 R$ 2.563.894,28
2026 8 R$ 15.232.548,35 R$ 7.540.865,52 R$ 7.691.682,83 R$ 120.653.848,34 R$ 2.413.076,97
2027 9 R$ 14.780.096,42 R$ 7.540.865,52 R$ 7.239.230,90 R$ 113.112.982,82 R$ 2.262.259,66
2028 10 R$ 14.327.644,49 R$ 7.540.865,52 R$ 6.786.778,97 R$ 105.572.117,30 R$ 2.111.442,35
2029 11 R$ 13.875.192,56 R$ 7.540.865,52 R$ 6.334.327,04 R$ 98.031.251,78 R$ 1.960.625,04
2030 12 R$ 13.422.740,63 R$ 7.540.865,52 R$ 5.881.875,11 R$ 90.490.386,26 R$ 1.809.807,73
2031 13 R$ 12.970.288,70 R$ 7.540.865,52 R$ 5.429.423,18 R$ 82.949.520,74 R$ 1.658.990,41
2032 14 R$ 12.517.836,77 R$ 7.540.865,52 R$ 4.976.971,24 R$ 75.408.655,21 R$ 1.508.173,10
2033 15 R$ 12.065.384,83 R$ 7.540.865,52 R$ 4.524.519,31 R$ 67.867.789,69 R$ 1.357.355,79
2034 16 R$ 11.612.932,90 R$ 7.540.865,52 R$ 4.072.067,38 R$ 60.326.924,17 R$ 1.206.538,48
2035 17 R$ 11.160.480,97 R$ 7.540.865,52 R$ 3.619.615,45 R$ 52.786.058,65 R$ 1.055.721,17
2036 18 R$ 10.708.029,04 R$ 7.540.865,52 R$ 3.167.163,52 R$ 45.245.193,13 R$ 904.903,86
2037 19 R$ 10.255.577,11 R$ 7.540.865,52 R$ 2.714.711,59 R$ 37.704.327,61 R$ 754.086,55
2038 20 R$ 9.803.125,18 R$ 7.540.865,52 R$ 2.262.259,66 R$ 30.163.462,09 R$ 603.269,24
2039 21 R$ 9.350.673,25 R$ 7.540.865,52 R$ 1.809.807,73 R$ 22.622.596,56 R$ 452.451,93
2040 22 R$ 8.898.221,32 R$ 7.540.865,52 R$ 1.357.355,79 R$ 15.081.731,04 R$ 301.634,62
2041 23 R$ 8.445.769,38 R$ 7.540.865,52 R$ 904.903,86 R$ 7.540.865,52 R$ 150.817,31
2042 24 R$ 7.993.317,45 R$ 7.540.865,52 R$ 452.451,93 R$ - R$ -
123
Tabela 4.22 – Financiamento do SM.
2018 0 - - - R$ 127.711.936,35 -
2019 1 R$ 7.662.716,18 - R$ 7.662.716,18 R$ 127.711.936,35 R$ 2.554.238,73
2020 2 R$ 7.662.716,18 - R$ 7.662.716,18 R$ 127.711.936,35 R$ 2.554.238,73
2021 3 R$ 7.662.716,18 - R$ 7.662.716,18 R$ 127.711.936,35 R$ 2.554.238,73
2022 4 R$ 7.662.716,18 - R$ 7.662.716,18 R$ 127.711.936,35 R$ 2.554.238,73
2023 5 R$ 14.048.313,00 R$ 6.385.596,82 R$ 7.662.716,18 R$ 121.326.339,53 R$ 2.426.526,79
2024 6 R$ 13.665.177,19 R$ 6.385.596,82 R$ 7.279.580,37 R$ 114.940.742,71 R$ 2.298.814,85
2025 7 R$ 13.282.041,38 R$ 6.385.596,82 R$ 6.896.444,56 R$ 108.555.145,90 R$ 2.171.102,92
2026 8 R$ 12.898.905,57 R$ 6.385.596,82 R$ 6.513.308,75 R$ 102.169.549,08 R$ 2.043.390,98
2027 9 R$ 12.515.769,76 R$ 6.385.596,82 R$ 6.130.172,94 R$ 95.783.952,26 R$ 1.915.679,05
2028 10 R$ 12.132.633,95 R$ 6.385.596,82 R$ 5.747.037,14 R$ 89.398.355,44 R$ 1.787.967,11
2029 11 R$ 11.749.498,14 R$ 6.385.596,82 R$ 5.363.901,33 R$ 83.012.758,63 R$ 1.660.255,17
2030 12 R$ 11.366.362,33 R$ 6.385.596,82 R$ 4.980.765,52 R$ 76.627.161,81 R$ 1.532.543,24
2031 13 R$ 10.983.226,53 R$ 6.385.596,82 R$ 4.597.629,71 R$ 70.241.564,99 R$ 1.404.831,30
2032 14 R$ 10.600.090,72 R$ 6.385.596,82 R$ 4.214.493,90 R$ 63.855.968,17 R$ 1.277.119,36
2033 15 R$ 10.216.954,91 R$ 6.385.596,82 R$ 3.831.358,09 R$ 57.470.371,36 R$ 1.149.407,43
2034 16 R$ 9.833.819,10 R$ 6.385.596,82 R$ 3.448.222,28 R$ 51.084.774,54 R$ 1.021.695,49
2035 17 R$ 9.450.683,29 R$ 6.385.596,82 R$ 3.065.086,47 R$ 44.699.177,72 R$ 893.983,55
2036 18 R$ 9.067.547,48 R$ 6.385.596,82 R$ 2.681.950,66 R$ 38.313.580,90 R$ 766.271,62
2037 19 R$ 8.684.411,67 R$ 6.385.596,82 R$ 2.298.814,85 R$ 31.927.984,09 R$ 638.559,68
2038 20 R$ 8.301.275,86 R$ 6.385.596,82 R$ 1.915.679,05 R$ 25.542.387,27 R$ 510.847,75
2039 21 R$ 7.918.140,05 R$ 6.385.596,82 R$ 1.532.543,24 R$ 19.156.790,45 R$ 383.135,81
2040 22 R$ 7.535.004,24 R$ 6.385.596,82 R$ 1.149.407,43 R$ 12.771.193,63 R$ 255.423,87
2041 23 R$ 7.151.868,44 R$ 6.385.596,82 R$ 766.271,62 R$ 6.385.596,82 R$ 127.711,94
2042 24 R$ 6.768.732,63 R$ 6.385.596,82 R$ 383.135,81 R$ - R$ -
124
No que concerne aos custos de manutenção, os mesmos foram divididos em:
Custo de manutenção de ETE: equivalente a R$0,34 por m³ tratado. Este
valor foi divulgado pela Companhia de Saneamento do Paraná
(SANEPAR) em 2013 e corrigidos pelo índice IPCA-E;
Custo anual de manutenção da rede de drenagem: de acordo com Tucci
(2005), corresponde a 5% do valor da implantação;
Custo de manutenção de rede de esgotamento sanitário: equivalente a R$
0,51 por m³ coletado. Este valor foi divulgado pela SANEPAR em 2013 e
corrigidos pelo índice IPCA-E.
O valor do orçamento municipal, igual a R$ 6.346.350,00, considera a utilização
de 47,01% do orçamento anual da Secretaria Municipal de Obras, Serviços Públicos e
Defesa Civil, sem considerar os gastos administrativos (MESQUITA, 2017a). Esse
percentual representa os habitantes da bacia em relação à população municipal. O valor
arrecadado com a tarifa foi fornecido pela CEDAE no último Diagnóstico dos Serviços
de Água e Esgoto, e é igual a R$ 4,59 por m³ coletado (SNIS, 2017). Por fim, foram
definidas as etapas de implantação dos sistemas, tendo como meta a conclusão de 5%
do empreendimento a cada ano.
As Tabela 4.23 a Tabela 4.28 contém os dados de fluxo de caixa e VP para cada
um dos cenários supracitados. Os valores das TIR estão dispostos na Tabela 4.29.
125
Tabela 4.23 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SSA.
Percentual de População Investimento Pagamento do
Ano Despesas totais Receitas totais Fluxo de caixa VP
implantação atendida Inicial Financiamento
2018 0% 0 R$ 7.993.436,81 R$ - R$ 7.993.436,81 R$ 6.346.350,00 -R$ 1.647.086,81 -R$ 1.647.086,81
2019 5% 4051 R$ - R$ 12.150.023,95 R$ 12.516.491,14 R$ 7.432.223,91 -R$ 5.084.267,23 -R$ 4.887.760,06
2020 10% 8123 R$ - R$ 12.150.023,95 R$ 12.884.004,07 R$ 8.523.744,80 -R$ 4.360.259,27 -R$ 4.029.724,29
2021 15% 12216 R$ - R$ 12.150.023,95 R$ 13.252.566,81 R$ 9.620.934,68 -R$ 3.631.632,13 -R$ 3.226.609,28
2022 20% 16330 R$ - R$ 12.150.023,95 R$ 13.622.183,46 R$ 10.723.815,66 -R$ 2.898.367,80 -R$ 2.475.594,64
2023 25% 20466 R$ - R$ 19.591.913,61 R$ 21.434.747,79 R$ 11.832.409,92 -R$ 9.602.337,88 -R$ 7.884.688,33
2024 30% 24623 R$ - R$ 18.984.412,42 R$ 21.198.983,40 R$ 12.946.739,70 -R$ 8.252.243,69 -R$ 6.514.200,20
2025 35% 28802 R$ - R$ 18.376.911,22 R$ 20.964.285,27 R$ 14.066.827,36 -R$ 6.897.457,91 -R$ 5.234.312,24
2026 40% 33002 R$ - R$ 17.769.410,02 R$ 20.730.657,56 R$ 15.192.695,28 -R$ 5.537.962,29 -R$ 4.040.192,61
2027 45% 37224 R$ - R$ 17.161.908,82 R$ 20.498.104,44 R$ 16.324.365,96 -R$ 4.173.738,48 -R$ 2.927.243,29
2028 50% 41467 R$ - R$ 16.554.407,63 R$ 20.266.630,09 R$ 17.461.861,96 -R$ 2.804.768,12 -R$ 1.891.089,39
2029 55% 45732 R$ - R$ 15.946.906,43 R$ 20.036.238,68 R$ 18.605.205,94 -R$ 1.431.032,75 -R$ 927.568,90
2030 60% 50020 R$ - R$ 15.339.405,23 R$ 19.806.934,45 R$ 19.754.420,59 -R$ 52.513,85 -R$ 32.722,92
2031 65% 54329 R$ - R$ 14.731.904,04 R$ 19.578.721,60 R$ 20.909.528,74 R$ 1.330.807,14 R$ 797.213,69
2032 70% 58660 R$ - R$ 14.124.402,84 R$ 19.351.604,37 R$ 22.070.553,25 R$ 2.718.948,88 R$ 1.565.821,22
2033 75% 63014 R$ - R$ 13.516.901,64 R$ 19.125.587,02 R$ 23.237.517,08 R$ 4.111.930,07 R$ 2.276.503,71
2034 80% 67389 R$ - R$ 12.909.400,44 R$ 18.900.673,81 R$ 24.410.443,28 R$ 5.509.769,47 R$ 2.932.497,02
2035 85% 71787 R$ - R$ 12.301.899,25 R$ 18.676.869,02 R$ 25.589.354,95 R$ 6.912.485,93 R$ 3.536.876,71
2036 90% 76208 R$ - R$ 11.694.398,05 R$ 18.454.176,95 R$ 26.774.275,30 R$ 8.320.098,35 R$ 4.092.565,42
2037 95% 80651 R$ - R$ 11.086.896,85 R$ 18.232.601,90 R$ 27.965.227,59 R$ 9.732.625,69 R$ 4.602.340,02
2038 100% 85116 R$ - R$ 10.479.395,65 R$ 18.012.148,21 R$ 29.162.235,19 R$ 11.150.086,98 R$ 5.068.838,39
2039 100% 85116 R$ - R$ 9.871.894,46 R$ 17.404.647,01 R$ 29.162.235,19 R$ 11.757.588,18 R$ 5.138.424,07
2040 100% 85116 R$ - R$ 9.264.393,26 R$ 16.797.145,82 R$ 29.162.235,19 R$ 12.365.089,38 R$ 5.195.058,81
2041 100% 85116 R$ - R$ 8.656.892,06 R$ 16.189.644,62 R$ 29.162.235,19 R$ 12.972.590,58 R$ 5.239.639,77
2042 100% 85116 R$ - R$ 8.049.390,86 R$ 15.582.143,42 R$ 29.162.235,19 R$ 13.580.091,77 R$ 5.273.014,10
126
Tabela 4.24 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-I caso (A).
127
Tabela 4.25 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-I caso (B).
128
Tabela 4.26 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-II caso (A).
129
Tabela 4.27 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SU-II caso (B).
130
Tabela 4.28 – Fluxo de caixa e Valor Presente do SM.
131
Tabela 4.29 – Taxa interna de retorno das situações comparadas.
Cenário TIR
SSA 4,02%
SU-I caso (A) 11,22%
SU-I caso (B) 4,97%
SU-II caso (A) 19,52%
SU-II caso (B) 10,22%
SM 14,28%
8
Rendimento descontado da inflação.
132
4.6.1 Modelagem hidrológica
A caracterização hidrológica feita por Veról (2013) – que pode ser visualizada de
forma esquemática na Figura 4.26 – e as premissas consideradas no cálculo das vazões
foram mantidas, sendo feita apenas a inclusão do tempo de recorrência de 10 anos. Em
seu trabalho, a autora considerou os dados contidos no Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do rio Iguaçu-Sarapuí (COPPETEC, 2009 apud VERÓL, 2013) e
adotou as seguintes proposições:
As condições de contorno de entrada de vazão nos rios Sarapuí, Peri-Peri e
Socorro foram consideradas equivalentes ao tempo de recorrência das
chuvas de projeto;
Tempo de recorrência de 25 anos para a chuva precipitada sobre a bacia,
determinada a partir da interpolação das chuvas calculadas para os tempos
de recorrência de 5, 10, 20, 50 e 100 anos, obtidas no estudo hidrológico
da Bacia do rio Iguaçu-Sarapuí (COPPETEC, 2009 apud VERÓL, 2013);
Tempo de duração da precipitação igual ao tempo de concentração da
bacia;
Vazão de base na nascente do rio Dona Eugênia igual 1 m³/s;
A condição de contorno de jusante, que fecha o modelo, foi tomada como
uma descarga livre, considerando a extensão final do Rio Sarapuí, de
modo virtual.
133
4.6.2 Modelagem hidrodinâmica
Veról (2013) já havia utilizado diferentes tipos de células para representar a bacia
em suas condições atuais, porém a configuração da área e dos centros da maioria das
células foi modificada para que fosse compatibilizado com a divisão de microbacias
realizado no dimensionamento das redes de microdrenagem. Além disso, as células de
canais que representam o rio Dona Eugênia foram subdivididas, sendo que as cotas de
fundo das novas células foram interpoladas linearmente com os dados do modelo
anterior. Devido a estas modificações, antes da introdução do sistema de
microdrenagem, uma nova calibração foi realizada, com o objetivo de assegurar que os
resultados obtidos no cenário atual fossem compatíveis com os obtidos por Veról
(2013).
Uma vez compatibilizado com o estudo anterior, as células e ligações que
representam o sistema de microdrenagem puderam ser inseridas no modelo. No caso do
SSA foram usadas células do tipo planície natural para a representação dos poços de
visita. As ligações adotadas foram:
Entre as áreas da bacia e os poços de visita: ligação do tipo
microdrenagem (M2);
Entre poços de visita: ligação do tipo galeria (G2);
Entre os poços de visita e o rio: ligação do tipo galeria (G2).
Já para o SM foram introduzidas mais células de planície natural para representar
as CTS e as EEE. As ligações adotadas foram:
Entre as áreas da bacia e os poços de visita de drenagem: ligação do tipo
microdrenagem (M2);
Entre poços de visita de drenagem: ligação do tipo galeria (G2);
Entre os poços de visita de drenagem e o rio: ligação do tipo vertedouro
(V);
Entre os poços de visita de drenagem e as CTS: ligação do tipo orifício
(O1);
Entre as CTS: ligação do tipo galeria (G2);
Entre a CTS e a EEE: ligação do tipo galeria (G2);
Entre a EEE e o rio: ligação do tipo vertedouro (V).
134
4.6.3 Resultados
135
3. Modelo com SM:
a. TR = 10 anos;
b. TR = 25 anos;
c. TR = 100 anos.
136
No tempo de recorrência de 25 anos, ilustrado pela Figura 4.29, encontram-se
alagamentos de até 0,80 metros na foz do rio Dona Eugênia e ao longo da Rede
Ferroviária Federal as lâminas estão entre 0,80 e 1,80 metros. Neste caso, 97 células de
planície possuem nível máximo acima de 0,50 metros.
137
Figura 4.30– Mapa de alagamentos para a situação atual com TR = 100 anos.
139
A Figura 4.34 ilustra os hidrogramas no ponto de controle 4. A vazão de pico
neste ponto é 41,50 m³/s para tempo de recorrência de 10 anos, 44,90 m³/s para tempo
de recorrência igual a 25 anos e 50,30 m³/s para tempo de recorrência igual a 100 anos.
140
No SSA-DR com tempo de recorrência de 10 anos, ilustrado pela Figura 4.35,
encontram-se alagamentos de até 0,90 metros na foz do rio Dona Eugênia e de 0,60
metros em seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da linha férrea é possível
encontrar lâminas entre 0,30 e 0,60 metros. Destaca-se a região entre os rios Dona
Eugênia e Sarapuí, com alagamentos de até 1,00 metro. Cerca de 38% da rede de
microdrenagem funciona com lâmina superior a 85%, possivelmente devido ao
afogamento de alguns pontos de deságue e consequente remanso gerado ao longo da
tubulação.
141
No mapa do SM com tempo de recorrência de 10 anos – Figura 4.36 – encontram-
se alagamentos de até 0,90 metros na foz do rio Dona Eugênia e de até 0,50 metros em
seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da Rede Ferroviária Federal é possível
encontrar lâminas entre 0,30 e 0,70 metros. A região entre os rios Dona Eugênia e
Sarapuí apresenta alagamentos de até 1,00 metro. Cerca de 39% da rede funciona com
lâmina superior a 85%.
142
No SSA-DR com tempo de recorrência de 25 anos, ilustrado pela Figura 4.37,
encontram-se alagamentos de até 1,00 metros na foz do rio Dona Eugênia e de 0,75
metros em seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da Rede Ferroviária Federal é
possível encontrar lâminas entre 0,30 e 0,75 metros. Destaca-se a região entre os rios
Dona Eugênia e Sarapuí, com alagamentos acima de 1,00 metro. Cerca de 41% da rede
de microdrenagem funciona com lâmina superior a 85%.
143
No mapa do SM com tempo de recorrência de 25 anos – Figura 4.38 – encontram-
se alagamentos de até 1,00 metros na foz do rio Dona Eugênia e de até 1,10 metros em
seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da Rede Ferroviária Federal é possível
encontrar lâminas entre 0,40 e 0,90 metros. A região entre os rios Dona Eugênia e
Sarapuí apresenta alagamentos de até 1,20 metros. Cerca de 43% da rede funciona com
lâmina superior a 85%.
144
No SSA-DR com tempo de recorrência de 100 anos, ilustrado pela Figura 4.39,
encontram-se alagamentos de até 1,25 metros na foz do rio Dona Eugênia e de até 0,90
em seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da Rede Ferroviária Federal é possível
encontrar lâminas entre 0,30 e 1,00 metros. Destaca-se a região entre os rios Dona
Eugênia e Sarapuí, com alagamentos acima de 1,20 metros. Cerca de 47% da rede de
microdrenagem funciona com lâmina superior a 85%.
145
No mapa do SM com tempo de recorrência de 100 anos – Figura 4.40 –
encontram-se alagamentos de até 1,20 metros na foz do rio Dona Eugênia e de até 1,00
metros em seu cruzamento com a Via Light. Ao longo da Rede Ferroviária Federal é
possível encontrar lâminas entre 0,30 e 1,10 metros. A região entre os rios Dona
Eugênia e Sarapuí apresenta alagamentos de até 1,30 metros. Cerca de 48% da rede
funciona com lâmina superior a 85%.
146
TR = 10 anos TR = 25 anos
TR = 100 anos
Figura 4.41 – Hidrogramas no ponto de controle 1.
147
TR = 10 anos TR = 25 anos
TR = 100 anos
Figura 4.42 – Hidrogramas no ponto de controle 2.
148
TR = 10 anos TR = 25 anos
TR = 100 anos
Figura 4.43 – Hidrogramas no ponto de controle 3.
149
TR = 10 anos TR = 25 anos
TR = 100 anos
Figura 4.44 – Hidrogramas no ponto de controle 4.
150
A Tabela 4.31 e a Tabela 4.32 apresentam, de forma sintetizada, os dados
apresentados nos Itens 4.6.3.1 e 4.6.3.2.
Tabela 4.31 – Lâmina máxima nas regiões adjacentes aos pontos de controle
151
4.6.3.2.1 Avaliação ambiental do Sistema Misto
Tabela 4.33 – Redução da carga de DBO lançada no rio Dona Eugênia em tempo seco.
9
Foi considerado o valor de 350 mg/l para o a DBO das águas residuais e 30 mg/l para águas
pluviais.
152
A partir dos hidrogramas obtidos para o Ponto de Controle 4, foram calculados os
volumes de águas pluviais produzidos para cada tempo de recorrência. Se for
considerado o volume médio de águas residuais produzido no mesmo período, é
possível estimar a DBO das águas combinadas de cada evento. Deste modo, de acordo
com os dados apresentados na Tabela 4.34, temos que, os tempos de recorrência
estudados na modelagem promoveram reduções da carga de DBO nos valores de
90,85% para tempo de recorrência igual a 10 anos, 90,95% para tempo de recorrência
igual a 25 anos e 91,00% para tempo de recorrência igual a 100 anos.
Tabela 4.34 - Redução da carga de DBO lançada no rio Dona Eugênia em eventos de chuvas
intensas.
DBO das
Volume de Volume de Eficiência
Tempo de Volume águas
águas pluviais águas residuais da diluição
recorrência total (m³) combinadas
(m³) (m³) (%)
(mg/l)
10 anos 410.363,33 2.624,44 412.987,77 32,03 90,85
25 anos 498.328,66 2.624,44 500.953,10 31,68 90,95
100 anos 553.015,11 2.624,44 555.639,54 31,51 91,00
Notas:
DBO das águas pluviais = 30 mg/l;
DBO das águas residuais = 350 mg/l;
Vazão média de águas residuais = 197,03 l/s;
Duração do pico = 216 minutos.
153
Figura 4.45 – Localização das CTS analisadas.
No ponto H.18, a vazão extravasada foi cerca de 210 vezes maior do que a vazão
de águas residuais. A redução de carga de DBO ocasionada pela diluição foi de 89,66%
para tempo de recorrência igual a 10 anos, 89,86% para tempo de recorrência igual a 25
anos e 90,21% para tempo de recorrência igual a 100 anos. Neste deságue, a tubulação
funciona com seção plena, o que gera maior distribuição temporal nos hidrogramas,
conforme ilustra o gráfico da Figura 4.46.
No ponto I.5, a vazão extravasada foi cerca de 230 vezes maior do que a vazão de
águas residuais. A redução de carga de DBO ocasionada pela diluição foi de 90,64%
para tempo de recorrência igual a 10 anos, 90,87% para tempo de recorrência igual a 25
154
anos e 91,06% para tempo de recorrência igual a 100 anos. Os hidrogramas desta CTS
estão apresentados no gráfico da Figura 4.47.
No ponto E.5, a vazão extravasada foi cerca de 100 vezes maior do que a vazão de
águas residuais. O percentual de redução de carga de DBO ocasionada pela diluição foi
de 89,98% para tempo de recorrência igual a 10 anos, 90,28% para tempo de
recorrência igual a 25 anos e 90,50% para tempo de recorrência igual a 100 anos. Neste
deságue, assim como no H.18, a tubulação funciona com seção plena, o que gera
achatamento nos hidrogramas, conforme ilustra o gráfico da Figura 4.48.
No ponto F.6, houve afogamento do deságue, como pode ser visto pelos
hidrogramas da Figura 4.49. Porém, nos momentos onde ocorreram extravasamento, a
155
vazão foi cerca de 70 vezes maior do que a vazão de águas residuais. O percentual de
redução de carga de DBO ocasionada pela diluição foi de 88,31% para tempo de
recorrência igual a 10 anos, 89,26% para tempo de recorrência igual a 25 anos e 89,60%
para tempo de recorrência igual a 100 anos.
QIN (l/s)
Ponto Analisado QAR (l/s)
TR=10 TR=25 TR=100
E.5 5,975 9,750 9,77 8,21
F.6 1,500 39,610 42,84 44,01
H.18 1,790 34,510 34,51 35,89
I.5 31,238 224,93 238,26 251,71
Notas:
QAR = vazão de águas residuais calculada;
QIN = vazão máxima de águas combinadas entrando na rede de esgotamento.
156
Figura 4.50 – Vazões no interceptor no ponto I.5.
Também foi observado que há extravasamentos das EEE para o rio Dona Eugênia.
Possivelmente ocorreu pressurização da rede, indicando que o dimensionamento destas
estruturas deve levar em consideração a contribuição de águas pluviais decorrentes de
chuvas intensas e não somente as vazões de esgoto. Uma última questão se refere ao
próprio mau funcionamento da macrodrenagem, com o rio afogando as galerias de
microdrenagem que nele chegam, o que causa reflexos no funcionamento dos
interceptores que levam as águas combinadas para a EEE.
157
5 Considerações finais
Este trabalho teve como principal objetivo avaliar se a adoção de sistemas mistos
e unitários pode ser benéfica para a promoção do saneamento ambiental em bacias
hidrográficas altamente urbanizadas. Foi escolhida a bacia do rio Dona Eugênia para se
realizar um estudo de caso envolvendo o dimensionamento e comparação econômica de
6 cenários:
1. SSA: Sistema separador absoluto convencional;
2. SU-I caso (A): Sistema unitário com apenas uma captação de tempo seco
por sub-bacia e ETE com capacidade de tratamento igual à vazão máxima
de final de plano;
3. SU-I caso (B): Sistema unitário com apenas uma captação de tempo seco
por sub-bacia e ETE com capacidade de tratamento igual ao dobro vazão
máxima de final de plano;
4. SU-II caso (A): Sistema unitário com uma captação de tempo seco por
deságue e ETE com capacidade de tratamento igual à vazão máxima de
final de plano;
5. SU-II caso (B): Sistema unitário com uma captação de tempo seco por
deságue e ETE com capacidade de tratamento igual ao dobro vazão
máxima de final de plano;
6. SM: Sistema misto.
Com exceção do SSA, os cenários acima descritos fariam parte de uma Etapa
Inicial, onde a solução completa envolveria mais duas etapas: a intermediária e a final.
A Etapa Intermediária contaria com a implantação de uma wetland construída – que foi
dimensionada de forma preliminar – para o tratamento terciário de efluentes da ETE. A
Etapa Final se daria através da implantação do sistema separador de águas residuais e de
adaptações na wetland para que a mesma possa tratar poluentes das águas pluviais.
Além disso, foi utilizado o MODCEL para avaliar, além da situação atual, o
desempenho de dois dos cenários propostos: o SSA e o SM. Foram considerados os
tempos de recorrência de 10, 25 e 100 anos e o desempenho foi quantificado por meio
de mapas de alagamento, hidrogramas nos pontos de controle e lâminas d’água no
interior das tubulações. Também foi realizada uma avaliação ambiental simplificada do
SM.
158
Dentre as diversas configurações de rede consideradas neste estudo, destaca-se
que: (1) o SSA foi o mais caro e menos vantajoso economicamente e (2) o SM, apesar
de ser o mais barato, não obteve o maior retorno, ficando em segundo lugar, atrás do
SU-II caso (a).
Com relação aos cenários de sistema unitário, a utilização de uma única CTS por
sub-bacia levou ao aumento significativo dos diâmetros da tubulação, o que encareceu
seus custos. Adicionalmente, nos cenários onde a capacidade de tratamento da ETE foi
dobrada a desvantagem foi mais relevante do que gerada pela redução das CTS. Dessa
forma, aumentar o diâmetro das tubulações de forma a criar reservatórios lineares pode
ser uma melhor opção do que incrementar a capacidade da ETE.
Além dos benefícios econômicos, a adoção de sistemas unitários pode ser útil em
localidades ultra urbanizadas ou de habitação informal – que são muito adensadas e
possuem sistema viário estreito, o que dificulta o lançamento das tubulações do sistema
separador absoluto. Projetos de esgotamento sanitário do tipo separador demonstraram
que, em áreas de ocupação desordenada, apenas 30% das águas residuais produzidas são
coletadas, enquanto que a adoção de CTS possibilitou a coleta de 60% das mesmas,
com o investimento reduzido pela metade (FADEL; DORNELLES, 2015).
No caso dos sistemas projetos para a bacia do rio Dona Eugênia, foi possível
coletar 100% das águas residuais em tempo seco, porém, não foi possível estimar o
percentual das águas residuais que seria extravasado em um ano hidrológico, por
exemplo. Uma sugestão para trabalhos futuros envolve a simulação de anos
hidrológicos sucessivos, para a avaliação continuada de longo prazo – seguindo a linha
de pesquisa feita por Fadel e Dornelles (2015).
Em tempo seco, os escoamentos dos sistemas unitário e misto não atendem ao
critério da velocidade mínima – utilizado no dimensionamento de redes de drenagem –
porém, com relação à tensão trativa mínima – utilizado no dimensionamento de redes de
esgotamento – ela é atendida em toda a tubulação do sistema unitário e em 82% da
tubulação do sistema misto. Esse fato chama a atenção para a discussão sobre qual seria
o melhor critério para se adotar no dimensionamento de sistemas unitários.
Como é possível observar pelo gráfico da Figura 5.1 um dos motivos da adoção
do critério da tensão trativa mínima em tubulações de esgoto é que para uma velocidade
fixa a tensão trativa diminui na medida em que o diâmetro da tubulação aumenta. Deste
modo, se o critério da velocidade for utilizado, a ação de autolimpeza seria menos
efetiva para diâmetros maiores (TSUTIYA; SOBRINHO, 1999).
159
Figura 5.1 – Variação da tensão trativa em função do diâmetro e velocidade nos coletores,
considerando Y/D = 0,5 e n = 0,013.
Fonte: Tsutiya e Sobrinho (1999).
Pelo gráfico da Figura 5.1 também é possível notar que quanto maior for a
velocidade mínima estipulada, maior terá de ser o valor da tensão trativa mínima, e
consequentemente, maiores serão as declividades da tubulação, levando a um
aprofundamento da rede.
Entende-se que, para que se possa normatizar e padronizar a execução de projetos
de sistemas unitários é necessário que haja um consenso maior sobre quais seriam os
parâmetros mais adequados. Recomenda-se que mais estudos sejam realizados tanto no
sentido determinar a influência de baixas velocidades de escoamento em tempo seco nas
redes unitárias, como no de mensurar o impacto do aprofundamento da rede na
avaliação econômica de tais sistemas.
Outro critério importante que influenciou a avaliação econômica dos cenários foi
o valor adotado para o coeficiente de retorno. Como nas situações de sistema unitário
foi adotado a valor de 1, o volume médio anual de águas residuais que seria coletado e
enviado para tratamento foi 20% maior do que nos sistemas separador e misto. Esse
aumento influenciou diretamente os valores arrecadados com a tarifa, o que tornou as
receitas do sistema unitário maiores do que os demais.
Finalmente, uma última ressalva à metodologia utilizada na avaliação econômica
deve ser feita. No cálculo das receitas foram considerados, conjuntamente, aportes por
160
parte da Secretaria Municipal de Obras, Serviços Públicos e Defesa Civil
(SEMOSPDEC) e por parte da CEDAE. Dessa maneira, a sustentabilidade financeira
dos empreendimentos fica vinculada ao estabelecimento de uma governança
compartilhada entre os poderes municipal e estadual. Como a relação entre a CEDAE e
o município acontece pela prestação contratada de programa antecedido de convênio de
cooperação, pode-se afirmar, em um primeiro momento, que legalmente, a governança
foi instituída:
“Todavia não se percebe uma atuação consensual e coordenada entre essas
instâncias de governança, para que possam promover, de forma articulada e
coerente, a consecução de ações em prol do setor de saneamento básico.”
(MESQUITA, 2017b, p. 103).
Como solução, no próprio Plano Municipal de Saneamento de Mesquita é
recomendado que seja nomeada uma instância administrativa específica para o setor de
saneamento (MESQUITA, 2017b). Ela, sendo integrada com as demais secretarias
municipais e com a CEDAE, poderia conferir maior segurança jurídica, transparência,
eficiência e eficácia à gestão dos serviços de esgotamento sanitário e drenagem de águas
pluviais. Além disso, a gestão centralizada dos dois sistemas reduziria os empecilhos
institucionais e legais para a implantação do sistema unitário e, provavelmente,
diminuiria o número de ligações irregulares entre as redes do sistema separador.
Um exemplo de gestão integrada em saneamento ambiental é o realizado pelo
Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André (SEMASA). Inicialmente,
o órgão administrava apenas os serviços de abastecimento de água e esgotamento
sanitário, porém, no ano de 1997, é incorporado o serviço de drenagem e manejo de
águas pluviais. No ano seguinte a autarquia passa a executar a gestão dos serviços
relacionados à fiscalização ambiental e emissão de licenças. Em 1999 a gestão dos
serviços de coleta e manejo de resíduos sólidos foi entregue à SEMASA e finalmente,
em 2001, foram incorporados os trabalhos da Defesa Civil (SEMASA, 2017).
Também merecem ser discutidas as questões sobre a aprovação do financiamento
e do licenciamento ambiental das obras, já que órgãos fiscalizadores não aprovam
projetos fora das normas vigentes. Os estudos de caso apresentados por Bernardes e
Soares (2004) indicam que os municípios estão contornando esse tipo de problema, na
medida em que – com base na Lei de Saneamento, que permite a "utilização de
tecnologias apropriadas, considerando a capacidade de pagamento dos usuários e a
adoção de soluções graduais e progressivas" (BRASIL, 2007) – inserem a utilização de
captações de tempo seco nos Planos Diretores de Saneamento.
161
A ideia de se realizar o planejamento de uma bacia através de uma abordagem
ampla e integrada no tempo e no espaço é a principal característica de um Plano Diretor.
Ele deve orientar o processo decisório a respeito dos problemas da região que abrange,
sendo que para isso devem levados em consideração aspectos institucionais, legais,
fiscais, políticos, dentre outros (SÃO PAULO, 2012a). Os Planos Diretores podem ser
utilizados como ferramenta para promover o estudo de sistemas unitários,
principalmente se forem realizados segundo o modelo do PEMAPES, onde drenagem e
esgotamento sanitário são tratados no mesmo plano. Além disso, por serem mecanismos
legais, podem facilitar os processos de licenciamento e financiamento.
Ao contrário do ocorrido na avaliação econômica, quando da utilização do
MODCEL, o desempenho do sistema separador é um pouco melhor do que o sistema
misto, porém ambos apresentam os mesmo efeitos sob a bacia. Há uma significativa
redução de pontos de alagamento que antes se encontravam distribuídos, mas novos
pontos surgiram nas regiões a jusante, inclusive com lâminas maiores, demonstrando
que as intervenções clássicas não são suficientes para sanar os problemas da região.
Além disso, houve muita dificuldade em compatibilizar as cotas dos deságues com as
cotas de fundo do rio Dona Eugênia. Como não foram consideradas intervenções na
macrodrenagem, muitos pontos de deságue sofreram afogamento mesmo na chuvas de
tempo de recorrência de 10 anos. No contexto do avanço para soluções integradas,
percebe-se que é fundamental equacionar os problemas de macrodrenagem, para
garantir funcionalidade aos sistemas de microdrenagem e esgotamento sanitário – no
caso unitário e misto, de forma direta, e no caso do separador, de forma indireta, quando
águas de inundação podem acessar o sistema a fazê-lo falhar.
Nesse contexto fica evidente a necessidade de ações na calha do rio, bem como a
aplicação medidas que visem mitigar os impactos do processo de impermeabilização,
facilitando dos processos de infiltração e retenção das águas pluviais, com o objetivo de
recuperar as condições hidrológicas antes da urbanização. Por esse motivo, a wetland
proposta pode ser uma medida interessante – tanto no ponto de vista do armazenamento
como no de melhoria da qualidade das águas – de ser aplicada na bacia. Um
dimensionamento mais detalhado da mesma e levantamentos de custos podem ser
incentivados em estudos futuros.
Com relação à analise ambiental do sistema misto, os efeitos da diluição para
tempos de recorrência a partir de 10 anos mostram eficiência equivalente ao tratamento
secundário. Sob o ponto de vista do funcionamento da ETE, essa diluição pode ter
162
impactos negativos, principalmente devido à sobrecarga hidráulica, entretanto, se forem
levados em consideração os impactos no corpo d’água, as consequências podem ser
positivas. Certamente, esta é uma análise superficial, pois não considera os valores reais
de DBO, tampouco os demais poluentes existentes nas águas residuais, como nutrientes
e patógenos, mas levanta a possibilidade para que mais pesquisa seja desenvolvida
nessa área. Recomenda-se que sejam realizadas modelagens de chuvas com tempos de
recorrência menores – conforme sugerem Sztruhár et al. (2002) e Riechel et al. (2016) –
para que se possa verificar com maior detalhe eventos onde o efeito da diluição seria
menor.
Diversos são os desdobramentos deste trabalho. É razoável afirmar que os
questionamentos acerca do uso de sistemas unitários no Brasil carecem de mais
pesquisa, todavia, a desconfiança em torno da utilização de tais sistemas pode atrasar a
agenda de despoluição de corpos hídricos pelo país.
Deseja-se, com isso, incentivar mais estudos e avaliações, principalmente quando
forem elaboradas alternativas de saneamento nos Planos Diretores das cidades
brasileiras. Este tipo de solução pode ser planejada de forma intermediária, e ajuda a
atenuar o problema da falta de recursos financeiros para a realização do sistema
separador em toda a área urbana. Porém, mais do que implementar novas alternativas,
independentemente do tipo de solução selecionada, espera-se que o corpo técnico adote
uma abordagem conjunta no tratamento de projetos relacionados a esgotamento
sanitário e drenagem e manejo de águas pluviais, já que, na prática, eles se mostram
indissociáveis.
163
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