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Capítulo de Livro O BRASIL O FUTURO DO PRETÉRITO 2018 PDF
Capítulo de Livro O BRASIL O FUTURO DO PRETÉRITO 2018 PDF
II
Brasil: o futuro do pretérito - notas sobre as perspectivas do trabalho no século
XXI
Giovanni Alves
Stephen Zweig
Francisco de Oliveira
1 Introdução
criação da grande imprensa nacional e internacional, num período em que as elevadas taxas de
crescimento econômico verificadas aqui contrastavam com a concorrência de recessões e crises na
balança de pagamentos em numerosos países capitalistas desenvolvidos". Assim foi o período do
crescimento sui generis de nossa economia, com taxas de expansão superando as marcas de 9% e 10% de
crescimento do PIB ao ano. Existia grande liquidez do mercado financeiro de 1962 a 1973 com a
dilatação dos prazos de pagamentos dos empréstimos e diminuição das taxas de juros. A
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desde os anos de 1950 e que foi adotado pelos militares (1964-1973). O ponto de
inflexão histórica é a recessão mundial de 1973-1975 que abriu no núcleo orgânico do
capital a grande transição para o capitalismo global (ALVES, 2018) e no Brasil, a longa
agonia do modelo desenvolvimentista instaurado nos anos de 1950 (1973-1989).
internacionalização e desnacionalização foi o que ocorreu com a economia. Esses fatores facilitaram o
grande crescimento da economia. O milagre foi consequência das empresas multinacionais com grandes
acumulações e o peso do capital local diminuiu em comparação ao das estatais e multinacionais. A crise
do milagre foi a de endividamento e esgotamento do fôlego do Estado na manutenção do ritmo de
crescimento.
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Crise da dívida externa foi uma sucessão de problemas econômicos que atingiu a América Latina após
a declaração de moratória da dívida externa pelo governo do México em 1982. Foi a mais grave da
história da América Latina com queda de renda, diminuição do emprego e aumento da inflação. Em razão
da crise, a maioria das nações abandonou a política de substituição de importações e adotou outras
voltadas para a exportação, estratégia de fundo neoliberal encorajada pelo FMI, exceto Chile e Costa Rica
que preferiram estratégias reformistas. A taxa de crescimento real do PIB para a região foi de apenas 2,3
por cento de 1980 a 1985, mas, em termos per capita, a América Latina experimentou um crescimento
negativo de quase nove por cento. De 1982 a 1985, a América Latina pagou empréstimos de 108 bilhões
de dólares. Em 1989, foi elaborado o Plano Brady, geralmente apontado como o que levou ao fim da
crise. Durante os anos de 1970 o Brasil aproveitou a abundância de crédito para realizar um grande plano
de investimento. A crença na continuidade das condições favoráveis e no aumento dos fluxos de comércio
internacional deixou o País vulnerável. A elevação do serviço da dívida em decorrência do aumento da
taxa de juros pelo Federal Reserve em 1980 e a dificuldade na obtenção de divisas pela diminuição das
exportações, levaram a uma séria crise de liquidez que paralisou a economia brasileira nos anos de 1980.
O Plano Brady e o Consenso de Washington se colocaram como a saída no interior da ordem para a
América Latina no cenário de transição para o capitalismo global dos anos de 1990. Adotaram-se nos
novos governos eleitos no Continente as ideias que nortearam as políticas de liberalização da economia
elaboradas nos Estados Unidos, por meio de reuniões entre funcionários do governo e de organismos
financeiros e de desenvolvimento internacionais (FMI e Bird-o Banco Mundial), e ficaram conhecidas
como Consenso de Washington. Salientamos que os eventos-chave para a irrupção do capitalismo global
nos anos de 1990 foram a Queda do Muro, fim da URSS e Consenso de Washington/Plano Brady.
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renda, combate à desigualdade social, gasto público, orçamento público, política externa
e etc.). Enquanto o neoliberalismo navegou com a corrente hegemônica no capitalismo
global sob a dominância do capital financeiro, o neodesenvolvimentismo adotou uma
atitude contra-hegemônica no plano da questão nacional, embora se mantivesse
contraditoriamente - no leito comum da integração à mundialização do capital, não
confrontando a ordem hegemônica burguesa (o lulismo é a expressão maior da
estratégia política do neodesenvolvimentismo). A irresolução da questão democrática e
a da questão social, em razão da persistência do Estado neoliberal, herdeiro histórico do
Estado oligárquico-burguês que caracterizou a formação social brasileira, seriam os
limites estruturais do neodesenvolvimentismo (2003-2014).
O que explicou o golpe de 2016 no Brasil não foi o lulismo em crise, mas, sim,
os limites estruturais do neodesenvolvimentismo dado pela contradição entre governo
de programática neodesenvolvimentista e Estado neoliberal de matriz oligárquico-
política. Essa contradi
à institucionalidade democrática com a Constituição de 1988. Não se alterou o conteúdo
oligárquico-burguês do Estado brasileiro, sedimentado na ditadura civil-militar. Com a
vitória de Lula em 2002 e a persistência dos governos democrático-populares do PT,
mesmo imbuídos do reformismo fraco, abriu-se um campo de contradições no bloco no
poder.
central na qual se integrou o Brasil desde 1990 (a longa depressão do capitalismo global
obstaculizou a afirmação da inclusão social como programática política, expondo no
seio do bloco no poder a disputa pelo orçamento público); mas, pela questão histórica
de fundo dada pela irresolução das questão democrática, nacional e social.
Existe a lógica férrea do capital global: a riqueza capitalista era produzida pelo
contingente coberto pela proteção social da CLT. Por isso, para que se diminuísse mais
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Há pouco mais de cinquenta anos, o cineasta Glauber Rocha, nos seus delírios estéticos, expôs no filme
Deus e o Diabo na terra do sol (1964), uma teoria de mise-en-scène que funciona, de início, como
literatura de cordel e que pouco a pouco se transforma em ópera, expondo o contraste dialético profundo
mise-en-scène que
o próprio Glauber mais tarde chamou de trialética; ou seja, a solução dos problemas não aconteceria
somente na justaposição dos contrários e sim por via de sínteses, por outros caminhos na busca de uma
melhor apreensão da realidade social. O golpe civil-militar de 1964, ruptura histórica da civilização
brasileira, demonstrou que a trialética do baiano Glauber seria a dialética negativa do pernambucano
Ch nem por uma nova
num estágio inferior arcaico, precário, regressivo à própria contradição. Eis o vetor lógico (e
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LVES,
2013) diz respeito ao regime de acumulação e modo de produção, que não se altera (ou
supera) por decisão política de governo, mas de refundação (ou supressão) do Estado
político do capital que, no caso do Brasil, pelo contrário, nos governos
neodesenvolvimentistas (2003-2014), mantém-se integrado e cada vez mais, à lógica do
mercado mundial. É o mais desenvolvido o capitalismo global de hegemonia
neoliberal e sua crise estrutural - que explica o movimento reestruturativo do núcleo
orgânico da produção de mais-valia vinculado aos oligopólios hegemônicos na
economia brasileira e a constituição da nova (e velha) ordem neoliberal no Brasil de
Temer e a consolidação do novo (e precário) no Brasil.
Por outro lado, a nova morfologia do trabalho flexível delineada por parte de
Ricardo Antunes no seu novo (e interessante) livro (ANTUNES, 2018), tem impactos
candentes no sociometabolismo do trabalho estranhado, com a complexificação das
que significa aumentar as novas tecnologias nos nichos laborais de serviços e indústria.
Por exemplo, a longa depressão de 1873-1895 representou o imperialismo e a Segunda
Revolução Industrial e a longa depressão de 1929 significaram o protecionismo e a
Guerra Mundial meio para queimar capital fixo.
REFERÊNCIAS