Michel Foucault, na aula ministrada em 07 de março de 1.
979 no Collège de France, aborda essencialmente a questão do neoliberalismo na França, discutindo sobre a existência de um modelo alemão.
De início Foucault contextualiza sua discussão falando acerca da
característica expansionista do Estado (ilimitada em direção a sociedade civil) e sobre como as várias facetas do Estado se geram a partir umas das outras de forma dinâmica. O autor também discorre sobre as críticas ao Estado, apresentando as características de um movimento de suspeita em relação ao Estado, ao que denomina fobia do Estado.
O contraponto apresentado as críticas ao Estado, conta o autor, reside
na ideia de Estado de bem-estar. Paralelamente a essa noção, Foucault também apresenta a teoria de que estaria havendo, à época, um decrescimento da governamentalidade de Estado em contrapartida ao crescimento da governamentalidade de partido.
Todas essas questões são relacionadas à problemática da difusão do
modelo alemão, ou seja, de uma governamentalidade neoliberal. Explica o autor que essa difusão estaria se dando em um cenário de crises econômicas, todavia, os paradigmas estadunidense e francês seriam diferentes. Nesse sentido, o autor explica que nesta aula irá se debruçar exclusivamente sobre o neoliberalismo na França.
Foucault explica que na França, por razões históricas, chegou-se a um
modelo político-econômico que adotou políticas sociais voltadas ao consumo coletivo. O problema decorrente seria se tais política social não interferiria na política econômica.
O autor evidencia que estudos demonstraram que de fato o modelo de
seguridade social francês teve repercussão na economia. Essa repercussão decorre do custo do trabalho, que se torna mais caro devido aos encargos relativos a contribuição social. Disso decorrem efeitos sobre a concorrência internacional e sobre as taxas de desemprego, levando a concentração das indústrias (incluindo aqui as multinacionais) e ao monopólio. Além disso, haveria efeitos relativos a concentração de renda em benefício dos mais ricos. Tem-se então a problemática de como manter a seguridade social neutra em relação à economia, o que leva, por sua vez, a criação de um terreno fértil para o desenvolvimento dos propósitos da política social ordoliberal alemã. A questão passa a girar sobre a relação entre a redistribuição, alocação e regulação, funções econômicas do Estado.
A lógica que se segue para tentar dissociar a política econômica da
social diz respeito à garantia das condições mínimas para aqueles que, em algum momento, dentro do jogo econômico, ficam sem recursos para competir, ou seja, aqueles que porventura se tornem economicamente pobres. Parte-se então para a proposta do chamado imposto negativo, ou seja, assistência somente para aqueles que estão abaixo de um liminar de renda, restando a lógica empresarial para os demais.
A política, portanto, não visaria eliminar as causas da pobreza (aqui
entendida dinâmica e variável dependendo do parâmetro local), ou seja, não buscaria trabalhar no nível das determinações da pobreza, mas sim agir sobre suas consequências visando reinserir a pessoa pobre no jogo econômico. Como objetivos, buscar-se-ia oferecer assistência afastando as características do socialismo ao mesmo passo que se permitiria a livre concorrência, tendo como ganho inclusive a criação de uma reserva de mão-de-obra.