Michel Foucault, na aula ministrada em 21 de março de 1.

979 no Collège
de France, passa a falar sobre a forma como os neoliberais estadunidenses
passaram a analisar fenômenos sociais a partir da economia de mercado.

Contextualizando o tema, Foucault conta que os ordoliberais alemães

buscaram a reformular a sociedade segundo o modelo de empresa, fazendo do
modelo econômico um modelo existencial. No modelo neoliberal estadunidense
o que ocorre é uma generalização do modelo de economia de mercado para
todo o âmbito social.

Nesse sentido, o neoliberalismo dos EUA irá generalizar a forma

econômica de mercado de modo a fazer com que essa seja o critério de
inteligibilidade das relações sociais e dos comportamentos individuais, como,
por exemplo, as relações parentais, problemas de natalidade e
relacionamentos (casamentos). Toda as análises seguirão conforme critérios
de custos de transação. Além disso, esse critério também será utilizado para
analisar as ações governamentais.

Esses elementos servirão de base para a análise neoliberal acerca da

criminalidade e do funcionamento da justiça penal, sobre a qual Foucault se
debruça no restante de sua aula. Em suma, a análise será nos termos dos
custos da ação criminosa (pelo criminosos) e dos custos da prática judiciária de
repressão a essa ação.

Foucault pondera que, em que pese ser concebida para reprimir os atos,
a lei penal recai sobre indivíduos. Disso decorre uma análise sobre a questão
do próprio crime que se assemelha àquela anteriormente trazida acerca do
trabalho, no tocante ao capital humano.

A reflexão é conduzida ao fato de que o criminoso age na lógica do

investimento, visando obter lucro e levando em conta o risco da perda
decorrente da ação do sistema penal. O sistema penal, por sua vez, deve
reagir à oferta de determinado crime, levando em conta os custos inerentes a
isso. A lógica, portanto, seguirá em termos econômicos, uma vez que a busca
será não pela eliminação completa da criminalidade, mas sim na limitação de
sua oferta dentro de critérios até o limite dos custos que tal ação implicará,
custos esses que não deverão ultrapassar os próprios custos da criminalidade.