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Estudo para aula


Hoje estou aqui para falar sobre a evolução epistemológica da teoria do delito.
Destaco de antemão que essa expressão, especificamente a expressão
"evolução do sistema lógico do Direito Penal", foi cunhada por Cézar Roberto
Bitencourt em seu tratado de Direito Penal. Mas o que é, afinal? É seguro
afirmar que ela constitui todo esse processo de sistematização, toda a
elaboração e estruturação das categorias jurídico-penais que orientam o
operador do direito na aplicação e interpretação da norma penal. Esse
processo, esse percurso de construção, passa por alguns momentos, por
algumas fases etapas bem definidas que costumeiramente são denominadas
de "escolas penais". Hoje, exclusivamente, vamos tratar das escolas penais: a
escola causalista, a neokantista, a finalista e, por fim, a escola funcionalista.
Quanto à escola causalista, seu principal expoente foi Franz Von Liszt, um
grande dogmático e sistematizador do Direito Penal alemão. Ele basicamente
se utiliza de um método descritivo classificatório e por meio dele constrói um
sistema de Direito Penal, uma complexa e completa estrutura cujos
componentes auxiliam o operador do direito na aplicação da lei penal. A
moderna teoria do delito nasce com Liszt, que ilustra o ilícito em virtude dessa
sistematização, tratando-se do conceito de crime sob a concepção clássica.
Ele entende que o crime é composto por dois aspectos: o objetivo e o
subjetivo. O aspecto objetivo abrange as figuras do fato típico, da
antijuridicidade e, mais próximo, o subjetivo, a figura da culpabilidade.
A contribuição de Liszt reside na elaboração da teoria causal da ação, por
meio da qual ele define a ação como todo movimento corporal que produz
modificação no mundo exterior. Esse resultado, para Liszt, deve ser perceptível
aos sentidos, sendo central na conduta. Sem resultado, não há fato típico, e
consequentemente, não há crime. No entanto, essa teoria possui uma série de
falhas, como a impossibilidade de aplicação de alguns institutos penais, como
a omissão, a tentativa e a modalidade culposa.
No contexto da escola neokantista, há uma perspectiva ontológica do Direito
Penal, valorizando o mundo e a natureza das coisas. A partir do neokantismo,
introduzem-se considerações axiológicas na seara penal, valorizando a

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dimensão valorativa do jurídico. Isso demanda do operador do direito não só a
assimilação da expressão exterior do fenômeno jurídico, mas também a
compreensão do conteúdo desses fenômenos e das categorias.
A escola finalista, difundida por Hans Welzel, elabora a teoria final da ação,
em oposição à teoria causal da ação. Para Welzel, a ação é um
comportamento humano voluntário dirigido a uma finalidade, podendo essa
finalidade ser lícita ou ilícita, o que determina se a conduta é culposa ou
dolosa. Esse modelo de ação promove o deslocamento do dolo e da culpa para
o fato típico, especificamente para o elemento conduta, mantendo a
consciência da ilicitude no âmbito da culpabilidade.
Por fim, a escola funcionalista, ou normativa funcionalista, traz uma
perspectiva teleológica, considerando os efeitos que o Direito Penal produz na
sociedade. Segundo Claus Roxin, a finalidade do Direito Penal é a proteção
subsidiária dos bens jurídicos, relacionando-se com os pressupostos do
garantismo penal. Essa abordagem funcionalista determina uma mudança
significativa na estrutura e configuração do sistema penal, introduzindo
elementos objetivos na antijuridicidade e elaborando uma concepção
normativa da culpabilidade.

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