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1. Autora:
Ilse Losa nasceu na Alemanha, em Bauer, em 1913 acabando por falecer, muito recentemente em
Portugal, no Porto, em 2006. Frequentou o liceu em Osnabrück e Hildesheim e depois um instituto
comercial em Hannover. A sua qualidade de judia criou-lhe embaraços no seu país, de onde foi forçada a
sair. Na Inglaterra teve os primeiros contactos com escolas infantis e com os problemas das crianças.
Refugiando-se em Portugal, aqui casou, adquirindo a nacionalidade portuguesa.
A sua já variadíssima obra inclui romances, contos, crónicas, trabalhos pedagógicos e literatura para
crianças. Colaborou em diversos jornais e revistas alemães e portugueses, está representada em várias
antologias de autores portugueses e ela própria cooperou na organização e traduziu antologias de obras
portuguesas publicadas na Alemanha. Traduziu em alemão alguns dos mais consagrados autores.
Principais Prémios/Acontecimentos
Principais Obras
1949 – O Mundo em que Vivi;
1950 – Histórias Quase Esquecidas;
1952 – O Rio sem Ponte;
1955 – Aqui Havia uma Casa;
1962 – Sob Céus Estranhos;
1964 – Encontro no Outono;
1979 – O Barco Afundado;
1984 – Estas Searas;
1991 – Caminhos sem Destino.
2. A Obra:
Texto: Literário.
Género Literário: Narrativo romance
Tema:
Este romance de Ilse Losa, publicado em 1949, evoca memórias da sua infância na Alemanha,
perturbada pelos ecos de tempos difíceis, até ao momento da sua partida, deixando para trás o mundo em
que viveu: amigos, familiares, ruas e casas conhecidas. A narrativa baseia-se no confronto entre o olhar
ingénuo da criança, reforçado pela simplicidade linguística e a imagem de um mundo divido por motivos
raciais. (Outra Época)
Resumo sintético:
Rose é narradora autodiegética de “O Mundo em que Vivi”, texto publicado em 1949. A evocação
autobiográfica de Rose remonta há primeira infância, numa aldeia conturbada da Alemanha, pelos finais da
Primeira Guerra Mundial, e desenvolve-se até ao segundo conflito mundial, descrevendo alguns dos
momentos mais críticos desses anos difíceis, desde a crise económica e social até à ascensão do nazismo.
A memória da infância dessa menina frágil, de cabelo loiro, de feições infantilmente lisas é marcada
pelo amor e admiração que tinha pelo avô “Markus”, mas também por questões sem resposta como os
motivos que levam os adultos a envolverem-se em guerras.
O crescimento de Rose, é marcado pela impressão de que era uma criança diferente das outras por
ser judia, mas como tantas outras na sua maneira de ser, na perspetiva que tinha acerca do Mundo que a
rodeava, apenas o que a diferenciava era mesmo ser judia. Rose, sendo então uma criança como tantas
outras, caracterizava-se pela sua curiosidade, imaginação, ingenuidade e sensibilidade. As crianças veem o
Mundo de uma forma muito particular, sem pensar em perigos ou dificuldades, por isso a perspetiva que
têm é ingénua. A curiosidade de Rose revela-se pelo desconhecimento que tem do mundo em geral e da
guerra em particular. Além disso, é muito curiosa, querendo conhecer os membros da família que vê nos
álbuns, tentando também perceber por que razão não usa meias como as dos colegas ou qual o problema
de ser judia, entre outros aspetos.
A sensibilidade de Rose está intimamente ligada aos seus avós, tendo dois irmãos, que não viviam
com ela mas com os seus pais (“Bruno” e “Rudi”). A relação que estabelece com eles é diferente. Para ela,
o avô é uma figura terna, paterna, que lhe dá força e ânimo, que lhe dá mimos, que lhe faz surpresas, ou
seja, o avô é o adulto que mais importância tem na sua vida. Verifica-se que tem uma dependência afetiva
do seu avô. O avô para Rose representa conforto. Por outro lado, Rose associa a avó “Ester” à figura de
autoridade pois ela é bastante rigorosa, é ela que castiga e que repreende, sendo por essa razão que Rose
age com timidez muitas das vezes que fala sobre algo ou em algumas circunstâncias em que se relaciona
com a avó.
Todavia, a sua vida é marcada pela diferença. Rose não vive com os pais, a família é afetada pela
guerra e, acima de tudo, pelo facto de ser judia. A religião desempenha um papel fundamental na sua vida
devido às regras e princípios que ela e os avós têm de seguir. Congregam-se numa igreja diferente
(sinagoga), o dia do culto religioso é o sábado (sabat) e há vários rituais que têm de cumprir.
Rose vivia numa aldeia bastante pequena, tão pequena que nem sequer estava assinalada no mapa.
Comparando-a com Nova Iorque onde os seus tios viviam (tia “Jertrud” e tio “Josef”), era como uma mosca
em relação com um elefante: era insignificante. Tinha apenas três ruas principais.
O espaço atrás da casa continha pereiras, macieiras e entre elas um poço onde vivia a ninfa “Raquel”
amaldiçoada por “Stefanie Kahn”. Ao lado do poço havia um lavadouro onde a avó de Rose lavava a roupa
às quartas-feiras, e por detrás do lavadouro, havia um salgueiro com os ramos pendentes sobre o ribeiro,
sendo aí o lugar preferido de Rose.
Rose imaginava Kaiser, num castelo azul, numa sala azul, com mobília azul, no seu trono azul
segurando um ramo de miosótis e, por isso, ela não conseguia associa-lo a guerras. Mas pouco tempo
depois, passou a vê-lo como um fugitivo, no seu cavalo preto, galopando por florestas negras, sendo
extremamente fácil de o associar a prantos e matanças, devido à sua face torcida e desfigurada.
Rose via as guerras como jogos para onde os soldados eram obrigados a ir, onde se podia matar sem
se ser castigado. Mais tarde, ainda reforçou mais a ideia que já tinha anteriormente, associando as guerras
a um jogo por se poder ganhar ou perder.
O pai de Rose estava doente, conseguindo a doença do pai “Leo” quebrar a dificuldade de
comunicação, a tristeza dominava-a por completo. Havia falta de amor entre Rose e os seus pais (pai “Leo”
e mãe “Selma”), tendo em conta que passou a maioria da sua infância com os seus avós, estando muito
ligada a eles. Não tinha muita intimidade com o pai embora ele lhe “comprasse o carinho”: o pai de Rose
comprava presentes para os seus filhos para compensar o tempo perdido no seu trabalho.
Mais tarde, após a morte dos avós, do pai e de outros familiares e amigos, desfeito o sonho de poder
tirar um curso, tendo em conta que as suas qualidades financeiras não o permitiam, Rose vai trabalhar
para Berlim, onde consegue uma colocação modesta numa companhia de seguros, mantendo viva a
lembrança daquele que foi o seu primeiro amor, “Paul”. Aceitou esse emprego para ter uma vida melhor e
para a sua mãe não ter que trabalhar tanto, ajudando-a assim, a sustentar a família. É então que, ao ver-se
procurada por dois polícias da G.E.S.T.A.P.O. com o objectivo de a questionarem acerca do seu chefe de
trabalho, abandona assim o seu país rumo a um longo exílio da terra natal e um tempo de felicidade
ensombrada, com medo de matarem ou de prenderem, devido ao facto de ser judia.
Comentário:
Valeu a pena ler esta obra. Fez-me reflectir sobre a vida de antigamente, sobre a ingenuidade de
muitas pessoas, pois eram pessoas com uma mentalidade diferente das pessoas da nossa sociedade
contemporânea. O contexto histórico e social que serve de fundo a esta obra vai condicionar algumas
decisões de algumas personagens, tendo em conta que é no decorrer da Primeira Guerra Mundial. Estas
personagens vão construindo a sua vida a partir da concretização de projectos. A sua religião vai influenciar
as suas vidas, o facto de serem judeus e judias vai influenciar as suas crenças, os seus valores, os seus
rituais e as suas formas de estar perante o Mundo que as rodeia, pois são estas potencialidades e
capacidades apreendidas e interiorizadas através do modo de como se relacionam nesse determinado
contexto histórico e social. Além de lhes permitir dar um sentido ao universo que as rodeia, são também
importantes condicionadores do modo que as personagens têm de ver realidade, estando os seus
actos/acções dependentes dos seus valores. Concluindo então, que o facto de serem judeus vai prejudicar
autenticamente a inserção das personagens na sociedade em que estão inseridas, nomeadamente “Rose”
que foi forçada a abandonar o seu país para que não fosse encontrada.