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BENS RECEBIDOS EM DEVOLUÇÃO

Considerações e Contabilização do Crédito de Pis/Cofins

ROTEIRO

1. INTRODUÇÃO
2. RECONHECIMENTO DO FATO GERADOR
3. CONCEITOS
3.1. Venda cancelada
3.2. Bens recebidos em devolução
4. CRÉDITO DE PIS/COFINS DE PERÍODOS ANTERIORES
4.1. Escrituração na EFD-Contribuições
5. CONTABILIZAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

Conforme as Leis n° 10.637/2002 e n° 10.833/2003, é definido que as bases de cálculo das contribuições
para o PIS e da COFINS para o regime não cumulativo, incidindo sobre o total das receitas auferidas no
mês pela pessoa jurídica, conforme disposto no artigo 12 do Decreto-Lei n° 1.598/77.

Desse valor apurado, a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a bens
recebidos em devolução, cuja receita de venda tenha integrado faturamento e tributada conforme o
disposto nestas Leis, na qual será tema dessa matéria. (Inciso VIII, artigo 3° da Lei n°
10.637/2002 e inciso VIII, artigo 3° da Lei n° 10.833/2003).

2. RECONHECIMENTO DO FATO GERADOR

O fato gerador da Contribuição para o PIS e a COFINS no regime de apuração não cumulativo é a receita
obtida pelas pessoas jurídicas. (Inciso I do artigo 5° da Instrução Normativa RFB n° 1.911/2019)

Sendo a base de cálculo das contribuições o valor das receitas auferidas, que corresponde a totalidade
das receitas obtidas pela pessoa jurídica, independentemente da atividade exercida e da classificação
contábil adotada para a escrituração das receitas, desde que tais receitas sejam consideradas realizadas.
(Artigo 26 da Instrução Normativa RFB n° 1.911/2019)

Isto posto, convém mencionar que conforme os requisitos estabelecidos na NBC TG 47/2016, letra
“e” do item 9, a receita deve ser reconhecida quando for provável que a entidade receberá a
contraprestação à qual terá direito em troca dos bens ou serviços que serão transferidos ao cliente.

Sendo assim, de acordo com essa norma, basta ser provável o recebimento do pagamento pela venda de
bens ou de serviços, para que a empresa possa reconhecer a correspondente receita. Observe-se que, o
compromisso pelo pagamento, por parte do contratante, não implica, necessariamente, que este ocorrerá.
Em outras palavras, o pagamento não é elemento indispensável para o reconhecimento das receitas.
(Item 9 da NBC TG 47).

Dito isto, convém transcrever, quanto ao reconhecimento da receita, o trecho da ementa da Solução de
Consulta n° 9.018/2018 da 9ª Região Fiscal:

FATO GERADOR - MOMENTO DA OCORRÊNCIA. RECONHECIMENTO DA RECEITA.

O fato gerador da Contribuição para o PIS/Pasep no regime de apuração não cumulativa é o


auferimento de receitas pelas pessoas jurídicas, o que ocorre quando as receitas são
consideradas realizadas. A receita é considerada realizada e, portanto, passível de registro pela
Contabilidade, quando produtos ou serviços produzidos ou prestados pela entidade são
transferidos para outra entidade ou pessoa física com a anuência destas e mediante pagamento
ou compromisso de pagamento especificado perante a entidade produtora.

No que diz respeito à prestação de serviços, no regime de competência, a receita é considerada


realizada e, portanto, auferida quando um serviço é prestado com a anuência do tomador e com o
compromisso contratual deste de pagar o preço acertado, sendo irrelevante, nesse caso, a
ocorrência de sua efetiva quitação.
3. CONCEITOS

Antes de analisar a possibilidade do creditamento das contribuições para o PIS e a COFINS, relativo aos
bens recebidos em devolução é importante identificar a diferença existente entre bens recebidos em
devolução (que gera o direito ao crédito) e as vendas canceladas (cujos valores podem ser excluídos da
base de cálculo das contribuições), para evitar a confusão na hora de diferenciar ambas, tendo em vista
não somente a questão contábil, como também a tributária. (Artigos 1° e 3° da Lei n°
10.637/2002 e artigos 1° e 3° da Lei n° 10.833/2003)

3.1. Venda cancelada

Embora os efeitos práticos de vendas canceladas e dos bens recebidos em devolução sejam exatamente
os mesmos, do ponto de vista contábil e tributário, os conceitos são diferentes.

Já que nas vendas canceladas ocorrerá a anulação do negócio antes mesmo da saída dessas
mercadorias do seu estabelecimento, conforme disposto no item 4.1 da Instrução Normativa SRF n°
51/78:

4.1 - Vendas canceladas correspondem a anulação de valores registrados como receita bruta de
vendas e serviços; eventuais perdas ou ganhos decorrentes de cancelamento de venda, ou de
rescisão contratual, não devem afetar a receita líquida de vendas e serviços, mas serão
computados nos resultados operacionais.

Nesse caso, como a mercadoria não saiu, a transação comercial não se concretizou e por consequência
não haverá lançamentos contábeis, nem fato gerador de tributos e contribuições.

Mesmo que de acordo com o artigo 1° da Lei n° 10.637/2002 e artigo 1° da Lei n° 10.833/2003, as
contribuições para o PIS e a COFINS, no regime não-cumulativo, incide sobre o total das receitas
auferidas no mês pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil.
Contudo, nos termos do § 3°, alínea “a” dos mesmos artigos, cita que não integram a base de cálculo às
referidas receitas decorrentes de vendas canceladas.

Desta forma, as vendas canceladas são receitas que deverão ser excluídas da base de cálculo das
contribuições para o PIS e a COFINS, correspondendo à extinção dos valores registrados como receita
bruta nos termos do artigo 12 do Decreto-Lei n° 1.598/77.

3.2. Bens recebidos em devolução

As receitas relativas aos bens recebidos em devolução, diferentemente das vendas canceladas, não
devem ser abatidas da base de cálculo do PIS e da COFINS, pois subentende-se que houve a efetivação
do negócio, ou seja, houve a transferência de produtos para outra entidade, e num momento posterior,
retornam a pessoa jurídica remetente. (Solução de Consulta Cosit n° 114/2014)

Logo, deverão ser realizados os lançamentos contábeis dessa operação, bem como o reconhecimento
dos fatos geradores dos tributos e contribuições tanto em relação às vendas quanto a sua devolução.

Nesse sentido, de acordo com o artigo 3°, inciso VIII da Lei n° 10.637/2002 e o artigo 3°, inciso VIII, da Lei
n° 10.833/2003, os bens recebidos em devolução podem ser creditados pelo contribuinte quando ainda
não tenham sido considerados para a redução da base de cálculo em outro momento.

A legislação fiscal, mais precisamente no § 1° do artigo 3° da Lei n° 10.637/2002 e § 1° do artigo 3° da Lei


n° 10.833/2003, determina que, o crédito será determinado mediante a aplicação das alíquotas incidentes
no regime não cumulativo 1,65% para o PIS e 7,6% para a COFINS, sobre o valor dos produtos vendidos
e depois devolvidos no mês.

4. CRÉDITO DE PIS/COFINS DE PERÍODOS ANTERIORES

De acordo com o disposto no artigo 3°, § 4° da Lei n° 10.637/2002 e no artigo 3°, § 4° da Lei n°
10.833/2003 as empresas do regime não-cumulativo das contribuições, que em determinado período,
possuir mais operações com crédito do que débito das contribuições poderá utilizar esse crédito
excedente nos meses subsequentes.
Os créditos devem ser determinados mês a mês, de forma isolada e não, por saldos acumulados. Sendo
assim o contribuinte é obrigado a discriminar o crédito pelo seu mês de apuração, de sua constituição, e
não, pleitear o seu uso em função dos saldos acumulados. Perguntas e Respostas EFD-Contribuições,
atualizado em 03.12.2019, em seu item 109.

Dito isto, de acordo com o § 18 do artigo 3° da Lei n° 10.637/2002 e § 18 do artigo 3° da Lei n°


10.833/2003, no caso de devolução de vendas efetuadas em períodos anteriores, o crédito calculado
deverá ser apropriado no mês do recebimento da devolução.

4.1. Escrituração na EFD-Contribuições

Para demonstrar a escrituração na EFD-Contribuições no caso de que ocorra o excedente das


contribuições iremos exemplificar da seguinte forma:

No mês 10/2019, foi identificado que o valor do crédito era superior ao débito daquele período, ocorrendo
assim um excedente de PIS no valor de R$ 1.275,00 e da COFINS no valor de R$ 11.400,00, esse saldo
deve ser lançado nos registros 1100 (PIS/Pasep) e 1500 (COFINS) na EFD-Contribuições.

Em nosso caso hipotético esse saldo excedente será utilizado para compensar as contribuições do
período da escrituração 11/2019. Devendo ser registrado da seguinte forma:

Importa mencionar que, no campo “Valor do Crédito Apurado no Período a que se refere este registro”,
deverá ser informado o valor total apurado inicialmente.

Considerando que no caso hipotético será utilizado todo o valor do crédito nesse período, no campo
“Valor do Crédito descontado neste período de escrituração” deverá ser informado a totalidade desse
valor, não restando assim um saldo de créditos a utilizar em períodos de apuração futura.
Isto posto, no registro M200, será confrontado o valor do debito daquele período e os créditos
correspondentes assim como o excedente de períodos anteriores informados no registro 1100.

Nesse caso, será informado o saldo excedente de PIS e COFINS no campo “Valor do Crédito
Descontado, Apurado em Período de Apuração Anterior”, no valor de R$ 1.275,00, restando assim um
valor de contribuição devida de R$ 1.525,00. Observe:

Estas mesmas orientações aplicam-se para os valores apurados na COFINS. Contudo, deverá ser
informado nos seus registros correspondentes, 1500 (Controle de Créditos), M500 (Crédito de COFINS
relativo ao período) e M600 (Consolidação da Contribuição).

5. CONTABILIZAÇÃO

A empresa poderá receber a devolução de mercadorias anteriormente vendidas pelas seguintes razões:
má-qualidade, demora na entrega, divergência de pedido, etc.

Com a publicação do Ato Declaratório Interpretativo SRF n° 003/2007, a Receita Federal do Brasil, deixa
expresso seu entendimento de que os créditos das contribuições não podem constituir-se
simultaneamente em custo de aquisição de insumos mercadorias e ativos permanentes e direito de
crédito, recomendando seu registro como ativo fiscal.

Desta forma, os créditos em questão de bens recebidos em devolução é um estorno da despesa do PIS e
da COFINS, por isso, o crédito do mesmo recai sobre a própria conta de resultado onde foi contabilizado
o PIS e a COFINS sobre as vendas.

Dito isto, exemplificaremos os lançamentos contábeis de acordo com os dados abaixo, nas operações de
devolução total e parcial da mercadoria vendida.

Considerando que a empresa ALPHA LTDA realizou a seguinte operação:

- Unidades vendidas: 1.000

- Valor unitário: R$ 150,00


- Custo médio unitário: R$ 100,00

Situação 01 - devolução total das mercadorias vendidas:

D- Devoluções de Vendas (Conta de Resultado) R$ 150.000,00

C- Clientes (Ativo Circulante) R$ 150.000,00

D- PIS a Recuperar (Ativo Circulante) R$ 2.475,00

C- PIS sobre a Receita (Conta de Resultado) R$ 2.475,00

D- COFINS a Recuperar (Ativo Circulante) R$ 11.400,00

C- COFINS sobre a Receita (Conta de Resultado) R$ 11.400,00

D- Estoques (Ativo Circulante) R$ 100.000,00

C- Custo da Mercadoria Vendida - (CMV (Conta de Resultado) R$ 100.000,00

Situação 02 - devolução parcial da mercadoria vendida:

Em determinado período posterior à venda a empresa ALPHA LTDA recebeu parte (30%) dos bens
vendidos em devolução, por estarem fora dos padrões exigidos.

D- Devoluções de Vendas (Conta de Resultado) R$ 45.000,00

C- Clientes (Ativo Circulante) R$ 45.000,00

D- PIS a Recuperar (Ativo Circulante) R$ 742,50

C- PIS sobre a Receita (Conta de Resultado) R$ 742,50

D- COFINS a Recuperar (Ativo Circulante) R$ 3.420,00

C- COFINS sobre a Receita (Conta de Resultado) R$ 3.420,00

D- Estoques (Ativo Circulante) R$ 30.000,00

C- Custo da Mercadoria Vendida - CMV (Conta de Resultado) R$ 30.000,00

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