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II CURSO INTENSIVO AVANÇADO PARA O XLVIII CONCURSO DA

MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – TJ/RJ

DIREITO DAS SUCESSÕES


Professor Sandro Gaspar

AULA 1 – CONCEITO. TEMPO E LUGAR DA SUCESSÃO. NORMA JURÍDICA APLICÁVEL À SUCESSÃO.


SITUAÇÕES ANÔMALAS. ESPÉCIES DE SUCESSÕES. NATUREZA JURÍDICA DA HERANÇA. CESSÃO DE
DIREITOS HEREDITÁRIOS. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA.

1. TEMPO DA SUCESSÃO
Morte é o momento da abertura da sucessão, pois com ela ocorre o fim da personalidade jurídica do
titular de determinado patrimônio (universalidade de direitos).
Assim, a sucessão nada mais é do que a transmissão da titularidade dessa universalidade de direitos.
Princípio de Saisine: art. 1784, CC – transmissão da propriedade e da posse no exato momento da
morte, ainda que a pessoa desconheça a qualidade que ostenta (ficção jurídica);

2. NORMA JURÍDICA APLICÁVEL À SUCESSÃO


Norma vigente: art. 1787, CC – tempus regit actum
ATENÇÃO! Cuidado com a data do óbito e a recepção constitucional. STF entendeu que, se a morte
ocorreu antes da Constituição e à época vigia norma que tratava filhos adotados de maneira
discriminatória, essa norma será aplicada.

3. LUGAR DA SUCESSÃO
Lugar: art. 1785, CC – último domicílio;
Inventário judicial x Inventário extrajudicial:
1. Inventário judicial:
Competência:
REGRA: deverá ser distribuído no juízo do último domicílio do falecido (art. 48, CPC);
OBS: Último domicílio no exterior, mas bens imóveis no Brasil  art. 23, II, CPC
(competência brasileira);
Nesse caso, qual será a lei aplicada? art. 5º, XXI, CR; art. 10 e §1º, LINDB
REGRA: lei estrangeira do último domicílio para inventário e partilha (art. 1785, CC);
EXCEÇÃO: lei brasileira, se a aplicação da lei estrangeira prejudicar filhos ou cônjuge
brasileiros.
EXCEÇÃO: inexistente o último domicílio, será é competente (art. 48, p.u., CPC): I - o foro
de situação dos bens imóveis; II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer
destes; III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.

2. Inventário extrajudicial (art. 610, CPC):


Competência: qualquer tabelionato (Resolução 35, CNJ)
Não é compulsório; trata-se de uma escolha, mas só é possível se todos os herdeiros: a)
forem acordantes; b) forem capazes; c) estiverem assistidos por advogado; d) não
tiverem testamento (havendo testamento, haverá judicialização da questão);
OBS: Cumprimento de testamento é resultado de um procedimento de jurisdição
voluntária. A competência para exame desse processo é do mesmo juízo competente
para o inventário, de modo que há duas situações:
1. Inventário ajuizado antes: cumprimento ficará no mesmo juízo por dependência;
2. Cumprimento ajuizado antes: o inventário estará prevento;
ATENÇÃO! Enunciado 600, VII Jornada Direito Civil - Após registrado judicialmente o
testamento e sendo todos os interessados capazes e concordes com os seus termos,
não havendo conflito de interesses, é possível que se faça o inventário extrajudicial 
entendimento aplicado pela Corregedoria do TJRJ e pelos Tribunais de outros Estados.

4. SITUAÇÃO ANÔMALA
Há direitos sucessórios que não são tratados pela legislação sucessória (ex1: art. 551, p.u., CC).

5. ESPÉCIES DE SUCESSÃO
5.1. Quanto à origem:
a) Lei  Sucessão legítima:
Na sucessão legítima os herdeiros podem ser:
 Necessários (art. 1845, CC): descendentes, ascendentes e cônjuge;
OBS: No CC 16, o cônjuge era herdeiro facultativo.
OBS2: A lei assegura a metade da universalidade de direitos para a sucessão apenas para os
herdeiros necessários (art. 1846, CC). A legítima (metade garantida) dos herdeiros necessários
não pode estar incluída em testamento (art. 1857, §1º, CC).
 Facultativos: todos aqueles que não estiverem elencados no art. 1845, CC.
A sucessão legítima é suplementar à sucessão testamentária, ou seja, aplica-se nas hipóteses em
que não ocorrer a sucessão testamentária (art. 1788, CC)  “princípio da sobra”.
OBS: Sobra tem que ser de, pelo menos, 50% se os herdeiros forem necessários; se forem
facultativos, a lei autoriza que nem exista sobra (art. 1789, CC)
ATENÇÃO! Companheiros continuam a ser herdeiros facultativos.
b) Vontade  Sucessão testamentária

5.2. Quanto à extensão do direito sucessório:


a) Sucessão a titulo universal (herança): sucessor (herdeiro) tem direito a todo o monte em
porcentagem; aplica-se à sucessão legítima e à sucessão testamentária;
OBS: Herança é a universalidade de direitos transmitida em razão da morte;
b) Sucessão a titulo singular (legado): sucessor (legatário) somente tem um direito certo, determinado
pelo testador; somente se aplica à sucessão testamentária;

6. NATUREZA JURÍDICA DA HERANÇA


A natureza jurídica da herança é de bem imóvel
 Art. 80, CC: bem imóvel por ficção jurídica;
 Art. 80, II, CC: direito sucessório é sempre bem imóvel;
 Art. 1791, CC: universalidade de direitos em sucessão (herança) é bem unitário;
 Art. 1791, p.u., CC: até a partilha, é indivisível; coerdeiros são assemelhados aos condôminos;

7. CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS:


Conceito: negócio jurídico translativo de direito imobiliário (herança é considerada bem imóvel);
Espécies: a) total ou parcial; b) onerosa ou gratuita;
Pagamento de ITCMD:
 Morte (transmissão direito imobiliário)  ITCMD;
 Cessão de direitos hereditários (transmissão direito imobiliário)  ITCMD;
Direito de preferência em relação aos demais coerdeiros (art. 1794, CC):
 Cessão gratuita: não há direito de preferência em relação aos demais coerdeiros;
 Cessão onerosa: há direito de preferência
OBS: O coerdeiro preterido poderá tomar para si a quota cedida a estranho (art. 1795, CC), desde
que preenchidos os seguintes requisitos:
a) Ficar comprovado que o direito de preferência não foi observado;
b) Respeito ao prazo decadencial de 180 dias, a contar da alienação;
c) Depósito do valor da quota;
OBS2: Trata-se de uma adaptação do art. 504, CC (direito de preferência dos condôminos), tendo
em vista a natureza jurídica de bem imóvel da herança.
Formalidade: deve ser feito o contrato de cessão por escritura pública (art. 1793, CC);
Vênia conjugal (art. 1647, CC):
REGRA: deve haver vênia conjugal, sob pena de anulabilidade do contrato de cessão de direitos
hereditários;
EXCEÇÃO: não se exige a vênia conjugal: 1) separação absoluta; 2) participação final dos
aquestos, se houver disposição expressa afastando a necessidade de vênia conjugal
Cessão de bens singulares: é ineficaz, pois o monte em sucessão forma um único imóvel indivisível (art.
1793, §2º, CC)
ATENÇÃO! Não confundir os §§ 2º e 3º:
 Art. 1793, §2º, CC: ineficácia da cessão singular de direitos hereditários; cessionário deve se
qualificar como tal para requerer habilitação do inventário; trata-se de contrato aleatório;
não altera o monte;
 Art. 1793, §3º, CC: ineficácia da disposição de bem individual do acervo, sem prévia
autorização judicial; altera o monte (ex: automóvel que está se desvalorizando ao longo do
tempo poderá ser alienado, desde que haja autorização judicial)
Cobrança dupla de imposto:
Na hipótese de acordo amigável, no bojo de um processo judicial de inventário, é possível que a divisão
de partes da herança não seja igual para cada herdeiro.
Nesse caso, deve-se considerar que houve uma “cessão de direitos hereditários” para fins de cobrança
do ITCMD, incidente sobre a diferença entre cada quinhão.
Assim, seria cobrado o imposto com a transmissão pela morte e pela “cessão”.

8. VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
Trata-se da identificação do direito de suceder (art. 1798, CC)

8.1. Sucessão testamentária


Vocação hereditária é direito personalíssimo (art. 1858, CC)
OBS: No caso de morte do legatário, o legado não vai para seus descendentes, pois, com a
caducidade do testamento, aplica-se o “princípio da sobra”, sendo direcionados para a
sucessão legítima (art. 1788, CC).

8.2. Sucessão legítima

Modos de suceder
 Por direito próprio: partilha por cabeça;
 Por representação: partilha por estirpe;
Art. 1829, I, CC  art. 1833, CC;
 Filhos sempre sucederão por direito próprio, partilhando por cabeça;
 Netos e demais descendentes poderão suceder:
REGRA: por representação, partilhando por estirpe (ex: descendente pré-morto pode ser
representado por descendentes (art. 1851, CC));
ATENÇÃO! Só haverá representação se houver alguém de grau mais próximo
concorrendo, na herança, com alguém de grau mais distante (ex: filhos e netos).
EXCEÇÃO: por direito próprio, partilhando por cabeça (ex: se não existirem descendentes de 1º
grau (filhos), os descendentes de 2º grau sucederão por direito próprio, com partilha por
cabeça.
Art. 1798, CC – vocação hereditária se estende aos concebidos no momento da sucessão (aguardar o
nascimento para a aquisição do direito – art. 2º, CC)
OBS: Reprodução assistida

CASO: Eduardo e Monica, em 2014, procuram uma clínica de reprodução assistida (embrião
foi formado na proveta e congelado para preservação); em 2016, Eduardo morre; em 2018,
nasce do Dudu, filho do casal (que, pela data, não podia ter sido concebido no momento da
sucessão). Dudu teria direito hereditário?

Três correntes:
 1ª corrente (Maria Helena Diniz): Não, a concepção se refere ao desenvolvimento
gestacional;
 2ª corrente (posição majoritária): Sim, para os embriões formados à época do óbito
(Flávio Tartuce + Enunciado 267, III Jornada de Direito Civil) – posição majoritária;
 3ª corrente (Maria Berenice Dias): Sim, em qualquer hipótese:
a) para não haver discriminação entre filhos – art. 227, §6º, CR;
b) se o filho havido por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido, é
considerado presumidamente concebido na constância do casamento – art. 1597, III, CC –
ainda mais o havido de reprodução assistida
OBS: Nesse caso, deve ser ajuizada ação de petição de herança (art. 1824 a 1828, CC) para
que o filho tenha reconhecido o seu direito à vocação hereditária.

8.2.1. Petição de herança


 Prazo prescricional: 10 anos – prazo geral do Código Civil (art. 205, CC); não é imprescritível
(Súmula 149, STF);
 Termo a quo do prazo: três correntes:
1ª corrente (posição majoritária): abertura da sucessão (morte);
2ª corrente (Carlos Roberto Gonçalves):
REGRA: abertura da sucessão (morte);
EXCEÇÃO: ação de investigação de paternidade;
3ª corrente (João Otávio de Noronha – Min. STJ – Informativo 583, STJ):
REGRA: trânsito em julgado da partilha;
OBS: Se o inventário ainda não foi encerrado, não caberá ação de petição de
herança, mas sim habilitação (art. 628, CPC). Por outro lado, se o inventário já foi
encerrado (com a partilha), caberá ação de petição de herança, e não habilitação.
EXCEÇÃO: ação de investigação de paternidade;
 Enunciado 633, VIII Jornada de Direito Civil.

AULA 2 – PETIÇÃO DE HERANÇA. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA. EXCLUSÃO E INDIGNIDADE.

1. PETIÇÃO DE HERANÇA (continuação)


1.1. Continuação da análise do caso...

CASO: Eduardo e Monica, em 2014, procuram uma clínica de reprodução assistida (embrião
foi formado na proveta e congelado para preservação); em 2016, Eduardo morre; em 2018,
nasce do Dudu, filho do casal (que, pela data, não podia ter sido concebido no momento da
sucessão). Dudu teria direito hereditário?

Para analisar se ele teria ou não direito hereditário, deve-se verificar o prazo prescricional:
 2016 a 2018: 2 anos – corre a prescrição, pois ainda não nasceu (apenas contra absolutamente
incapaz que não corre a prescrição – art. 198, I, CC;
 2018 a 2034 – suspensão da prescrição;
 2034 – volta a correr a prescrição, pois Dudu completa 16 anos; faltam mais 8 anos para a
prescrição, pois já decorreram 2 anos antes da suspensão;
 2042 – completam-se 10 anos e prescreve, para Dudu, o direito de reclamar a herança de
Eduardo;

1.2. Continuação da ação de petição de herança


Legitimidade: Quem propõe é alguém que deveria ter participado do inventário para recolher o seu
quinhão da herança, mas essa oportunidade não lhe foi concedida;
OBS: Não é necessário requerer a anulação.
OBS2: É necessário pagar os frutos, nos termos do art. 1826, CC, proporcionalmente.
 Até a citação da ação de petição de herança – presunção (relativa) de ser possuidores de
boa-fé (frutos pertencem a eles) – art. 1826, CC
 A partir da citação – possuidores de má-fé.
OBS3: Informativo 524, STJ.
OBS4: Deve incluir todos os herdeiros (mas não é litisconsórcio necessário). A cada um deles
cabe a porcentagem que coube.
Segunda categoria de petição de herança: utilizada quando as pessoas não estão na mesma classe
(descendente que requer em face do ascendente); nesse caso, não haverá uma nova divisão, mas uma
adjudicação.

CASO: Orlando e Regina dividiram, mas surge um neto: Kinder. E ele terá direito a tudo, por ser
descendente. Ocorre que eles eram os “herdeiros aparentes”, de modo que eles não tinham a
propriedade, mas tinham a posse.

Art. 1827, CC – expressão do art. 1228, CC


OBS: Se o terceiro de boa-fé adquiriu onerosamente é eficaz a alienação e respondem os
herdeiros aparentes – são dois os requisitos: a) boa-fé; b) onerosidade.

2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA (continuação)


Art. 1799, CC – apenas para a sucessão testamentária (legado ou herança), e não para a legítima.
 Incisos II e III: Pessoa jurídica;
OBS: Fundação: a) preexistente à abertura da sucessão (inciso II); b) constituída em razão do
testamento (inciso III).
 Inciso I: “Prole eventual”;
Concepção ocorrida até 2 anos da abertura da sucessão (art. 1800, §4º, CC);
Cabe ao testador indicar quem será o curador; na omissão, administração tocará ao genitor (na
condição de curadora), salvo se o testador dispuser diferente (art. 1800 e §1º)

CASO: Testamento com nomeação do primogênito de Adriana para receber um


imóvel a título de legado.
Morte do testador: 02/10/16; Adriana está viva, mas não tem filho e não está
grávida. Nascimento do filho: 24/12/2018.
O imóvel pode ser alugado e os alugueis serão administrados pela curadora. Quando
houver a concepção tempestiva, a propriedade será do nascituro e os alugueis serão
da genitora. Os alugueis depositados na época da curatela seguirão o principal; art.
1689, I, CC – caso o imóvel seja alugado, os alugueis caberão à curadora (genitora)

OBS: Nome “prole eventual”: art. 227, §6º, CR – não pode haver discriminação entre filhos.
OBS2: O filho adotado já está concebido. Se a sentença de adoção ocorre depois do prazo de 2
anos, mas já há estado de convivência, pode-se entender que houve “posse do estado de filho”,
pois era mãe socioafetiva.

3. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA


Vocação hereditária dá o direito de suceder, ou seja, o poder de dispor: aceitar ou renunciar.

3.1. Características comuns entre “aceitação” e “renúncia”:


a) Retroatividade
a) Aceitação (art. 1804, CC);
b) Renuncia (art. 1804, p.u., CC);
b) Irrevogabilidade (art. 1812, CC)
c) Infragmentabilidade (não pode se aceitar ou renunciar em parte – art. 1808, CC)
OBS: Art. 1808, §1º, CC – para cada direito sucessório há uma aceitação e uma renúncia;
OBS2: art. 1808, §2º c/c 1809, CC

3.2. Aceitação (art. 1805, CC):


a) Expressa: declaração escrita
b) Tácita;
OBS: Não importa aceitação os atos oficiosos: a) funeral; b) atos meramente conservatórios; c)
atos de administração; d) atos de guarda provisória (art. 1805, §1º, CC)
OBS2: Após 20 dias da abertura da sucessão (nojo), é possível requerer ao juízo sucessório um
prazo para manifestação – art. 1807, CC (não pode ser maior do que 30 dias)  se não
responder, ocorre a aceitação presumida.

3.3. Renúncia (art. 1806, CC):


Apenas cabe a expressa  (i) instrumento público; (ii) termo judicial
É possível vênia conjugal?
1ª corrente (Maria Berenice Dias): apenas regime de comunhão parcial;
2ª corrente (Resolução 35, CNJ – art. 17): só dispensa a vênia a separação absoluta (art. 1647,
I, + 1656 (1674), CC);
OBS: art. 1275, II, CC – é sempre essa renúncia: ato dispositivo e unilateral.

CASO: Herança de R$12 milhões. Leonora (aceita), Laura (aceita) e Leonardo (renuncia).
Nesse caso, a renúncia é abdicativa. Monte será dividido por 2, ao invés de 3.
Se Leonardo renuncia em favor da Laura, há a cessão de direitos hereditários
(alienação), que será ato bilateral.
Espécies:
a) Abdicativa (não há pagamento de imposto, pois não sucedeu);
OBS: Se a renúncia do Leonardo foi abdicativa, se aparecesse Kinder, ele teria 1/3.
b) Translativa (há pagamento de imposto) – art. 1805, §2º, CC.
OBS: Não é aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança aos demais coerdeiros
(art. 1805, §2º, CC)  logo, é renúncia.
OBS2: Se a renúncia do Leonardo foi abdicativa, se aparecesse Kinder, ele teria 1/4.

3.4. Efeitos da aceitação e renúncia


 Art. 1809, CC – parte final do artigo se refere somente à sucessão legítima (condição suspensiva
é relativa a negócio modal – testamento)
 Art. 1810, CC – refere-se somente à sucessão legítima
 Art. 1811, CC – refere-se somente à sucessão legítima – lei não admite a representação de
renunciante, pois apenas se admite a representação de morto (art. 1851, CC)
Ex: 3 filhos. 2 renunciam e 1 é pré-morto; 5 netos. Os 5 netos sucederão por direito próprio e
por cabeça.
 Art. 1813, CC
ATENÇÃO! Deve haver o pagamento não da dívida toda, mas apenas do prejuízo (primeiro o
renunciante paga com o seu patrimônio penhorável)
Prazo: 30 dias do conhecimento do fato, e não da renúncia.

4. EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE


Art. 1814, CC – ofensa a bens jurídicos: I – vida; II – honra; III – liberdade;
Trata-se de punição  sentença – art. 1815, CC
Pedido: exclusão;
Causa de pedir: indignidade;
Legitimidade ativa:
ATENÇÃO! Alteração legislativa feita pela Lei 13.532/17
 Antes da Lei 13.532/17: Enunciado 116, I Jornada Direito Civil (aplicação do art. 1596, CC 16) –
benefício econômico + MP (quando houver interesse público);
 Depois da Lei 13.532/17: Enunciado 116, I Jornada Direito Civil (aplicado para os incisos II e III
do art. 1814, CC) + art. 1815, §2º, CC, incluído pela Lei 13.532/17 (aplicado para o inciso I do
art. 1814, I, CC)
AULA 3 – EXCLUSÃO DA SUCESSÃO. SUCESSÃO LEGÍTIMA. DESCENDENTES E ASCENDENTES,
CONCORRÊNCIA COM CÔNJUGE. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO.

1. EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE (continuação)


1.1. Hipóteses de não haver a exclusão
 1ª hipótese de não haver exclusão: não ter vocação hereditária (ex: morrer antes de suceder);
 2ª hipótese de não haver exclusão: decadência – transcurso do prazo de 4 anos (art. 1815, §1º,
CC);
 3ª hipótese de não haver exclusão: reabilitação (art. 1818, CC)
OBS: Não há mais reabilitação tácita, apenas expressa. Art. 1818, caput e p.u., CC

1.2. Suspensão do processo (art. 313, V, a, CPC)


Ainda que não tenha havido o deslinde no processo penal, deve ser proposta a ação de exclusão por
indignidade, sob pena de decadência
OBS: Com a citação, interrompe-se a decadência e depois de citado, ocorre a suspensão para
aguardar o deslinde do processo penal.

1.3. Efeitos da exclusão


a) Principal: perda do direito sucessório (equivale àquele que não teve vocação hereditária – ambos não
têm o direito de suceder)  haverá representação (art. 1816, CC)
ATENÇÃO! Os efeitos são diferentes para o excluído e para o renunciante. No primeiro caso, os
herdeiros herdam por representação; no segundo, os herdeiros não herdariam. Assim, esses
herdeiros teriam interesse em provar a indignidade do seu ascendente (ex: pai) para receber
herança de um avô, por exemplo.
b) Secundários
 Art. 1816, p.u., CC  não tem direito ao usufruto sobre esses bens (não se aplica o art. 1689,
CC)
OBS: Suspensão do poder familiar – art. 1637, p.u., CC, pois a condenação por homicídio foi
superior a 2 anos.
 Art. 1817, CC;
 Art. 1817, p.u, CC;
Art. 198, I, CC – não correu a decadência, pois são menores

2. SUCESSÃO LEGÍTIMA. Descendentes e ascendentes e concorrência com cônjuge


Ordem da vocação hereditária (art. 1829, CC) – norma cogente, inafastável
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido
no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único);
ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
ATENÇÃO! Apenas haverá concorrência com o cônjuge se a data da abertura for posterior à
vigência do CC 2002.
REGRA: descendente em concorrência com o cônjuge
ATENÇÃO! Meação não se confunde com herança. Com a morte, extingue o
casamento, de modo que o cônjuge tem direito à meação (relaciona-se com o regime
de bens).
EXCEÇÃO: descendente sem concorrência com o cônjuge:
a) Comunhão universal de bens;
OBS: REGRA: tudo se comunica; EXCEÇÃO: bens dispostos no art. 1668, CC não se
comunicam.
OBS: Cláusula de inalienabilidade conduz à incomunicabilidade (Súmula 49,
STF e art. 1911, CC). Nesse caso, haveria bem particular, excluindo-o da
meação e o incluindo na herança (Informativo 576, STJ)
b) Separação obrigatória de bens;
OBS: Informativo 562, STJ: separação convencional há concorrência
c) Comunhão parcial sem bens particulares:
 1ª corrente – interpretação literal (art. 1829, I, CC) – havendo bens particulares, há
concorrência (interpretação a contrario sensu)  haveria concorrência de toda a
herança, e não só dos bens particulares;
 2ª corrente – Maria Berenice Dias – cônjuge sobrevivente não teria direito de herdar
bem particular – interpretação contra legem;
 3ª corrente – Informativo 418, STJ + Resp 1377084 (Nancy Andrighi) – aplicação do
regime de bens; não concorre com os bens particulares;
 4ª corrente (posição majoritária) – REsp 1472954 + Informativo 563, STJ – direito de
concorrência apenas quanto aos bens particulares + Enunciado 270, III Jornada de
Direito Civil;
OBS: Partilha
 Herdeiro;
OBS: Multiparentalidade – Enunciado 632, VIII Jornada de Direito Civil
 Cônjuge
OBS: Art. 1832, CC – se o cônjuge também for ascendente dos demais coerdeiros, deve
ficar com, no mínimo, ¼ da herança.
ATENÇÃO! Se houver filiação híbrida (ex: 4 filhos com o cônjuge sobrevivente e 1 filho
com outra pessoa), ainda que a maioria dos descendentes tenha como ascendente o
cônjuge sobrevivente, o benefício da quota mínima de ¼ não se aplica (Enunciado 527,
V Jornada de Direito Civil). Ademais, não é possível fazer diferenciação quanto à
herança entre filhos (art. 227, §6º, CR e art. 1834, CC).
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
ATENÇÃO! Ascendentes só sucedem por direito próprio, não sucedendo por representação 
art. 1836, caput e §2º e art. 1852, CC
OBS: A partilha ocorre por linha, e não por cabeça (ex: 1 avô paterno + 1 avó materna
e 1 avô materno  o avô paterno fica com 50%; a avó materna, com 25%; e o avô
materno, com 25%).
OBS: Mesmo raciocínio se aplica a casais homoafetivos e às hipóteses de
multiparentalidade (Enunciado 642, VIII Jornada de Direito Civil)
OBS: Sempre haverá concorrência entre ascendente e cônjuge, independentemente do regime
de bens. O cônjuge partilha por quota, nos termos do art. 1837.
ATENÇÃO! No caso de multiparentalidade, a quota mínima do cônjuge de 1/3 (art.
1837, 1ª parte, CC), fica inalterada, dividindo o restante entre os números de
ascendentes de 1º grau.
EXCEÇÃO: Art. 1837, parte final, CC - caber-lhe-á a metade desta se houver
um só ascendente, ou se maior for aquele grau.
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.

OBS: Art. 1810, CC + Enunciado 575, VI Jornada Direito Civil


Ex: Caso de cônjuge + 2 descendentes (1/3 para casa). Se um renunciasse, pela interpretação
literal, ficaria 2/3 para o descendente que permaneceu e apenas 1/3 para o cônjuge. Mas não
foi esse o raciocínio do Enunciado: a renuncia beneficiaria todos da mesma ordem: ½ para o
descendente e ½ para o cônjuge.

3. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO


Art. 1831, CC – direito real de habitação (art. 1414 a 1416, CC)
OBS: Dentre as disposições aplicáveis do usufruto (art. 1416, CC), aplica-se a extinção pela
morte, de modo que o direito real de habitação se extingue pela morte do beneficiário.
ATENÇÃO! Ainda que o cônjuge sobrevivente case de novo, ele permanecerá com o direito real
de habitação.
ATENÇÃO 2! Ainda que o cônjuge não concorra na herança com os descendentes (ex:
separação obrigatória de bens), haverá o direito real de habitação.

AULA 4 – DIREITO REAL DE HABITAÇÃO. SUCESSÃO DO CÔNJUGE. SUCESSÃO DOS COMPANHEIROS.


SUCESSÃO DOS COLATERAIS. ENTES PÚBLICOS. HERDEIROS NECESSÁRIOS: CLÁUSULAS RESTRITIVAS

1. DIREITO REAL DE HABITAÇÃO (continuação)


Direito real de habitação impede que o cônjuge tenha que pagar fração ideal relativa ao aluguel do
imóvel.
Art. 2019, CC – condomínio é expressão de vontade, não podendo ninguém ser compelido a constitui-lo
 desse modo, é determinado o leilão;
REGRA: Quando não houver acordo, a partilha terá que ser solucionada pelo Judiciário. Nesse
caso, não sendo possível a divisão cômoda, haverá leilão.
EXCEÇÃO: art. 1831, CC – quando houver direito real de habitação. Se ela depositar o valor
correspondente ao quinhão dos coerdeiros, ela perderá o direito real de habitação (pois o
imóvel será dela).
ATENÇÃO! Data da abertura da sucessão:
 Antes da vigência do CC 2002 (11/01/2003):
REGRA: art. 1611, CC 16 – herança será do cônjuge sobrevivente, na ausência de
descendente ou ascendente. Se houver descendente ou ascendente, o cônjuge não
concorre com a herança; terá direito a “usufruto vidual”: a) 25% - descendente; b) 50% -
ascendente  nova família, haveria perda/extinção do usufruto
EXCEÇÃO: Se o regime fosse o da separação universal, o cônjuge não teria direito à
herança, mas teria direito real de habitação (não usufruto)  nova família, haveria
perda/extinção do direito real de habitação.
 Depois da vigência do CC 2002  aplica-se o CC 2002.
OBS: Informativo 541, STJ – viúva não pode opor direito real de habitação aos irmãos do
falecido cônjuge na hipótese em que eles forem, desde antes da abertura da sucessão,
coproprietários do imóvel em que ela residia com o marido

2. SUCESSÃO DO CÔNJUGE
- Art. 1829, III c/c art. 1838, CC
ATENÇÃO! Jamais haverá concorrência entre cônjuge e colaterais do falecido, na herança
legítima.
- Art. 1830, CC – cônjuge não tem direito hereditário (inclusive direito real de habitação):
a) ao tempo da morte do outro, estavam separados judicialmente;
OBS: Ainda que o artigo não preveja a separação extrajudicial, esse caso deve ser
estendido a essa hipótese, pois a sociedade conjugal foi dissolvida, ainda que
extrajudicialmente.
c) ao tempo da morte do outro, estavam separados de fato:
a. Há mais de dois anos;
b. Culpa do cônjuge sobrevivente.
OBS: Informativo 573, STJ – presunção relativa de culpa do cônjuge sobrevivente.
OBS2: Enunciado 525, V Jornada Direito Civil

3. SUCESSÃO DOS COMPANHEIROS


ATENÇÃO! Companheiros sobreviventes passam a ter os mesmos direitos sucessórios dos cônjuges
sobreviventes – RE 646721 e 878694  inconstitucionalidade do art. 1790, CC.
ATENÇÃO! Não houve revogação, mas apenas declaração de inconstitucionalidade.
Informativo 622, STJ
Enunciado 641, VIII Jornada de Direito Civil – não há equiparação absoluta entre união estável
e casamento (ex: companheiro não é herdeiro necessário)
ATENÇÃO 2!
 STJ: REsp 1357117 e 1337420 equiparou, mas foi julgado antes dos embargos de
declaração dos REs.
 STF: ED em RE 646721 e 878694 – não equiparou.

4. SUCESSÃO DOS COLATERAIS


- Art. 1829, IV, CC – se não houver descendentes, ascendentes ou cônjuges, herdam os colaterais;
- Art. 1839, CC – herdam os colaterais até o 4º grau (2º - irmãos; 3º - sobrinhos e tios; 4º - primos,
sobrinhos-netos e tios-avós)
- Art. 1840, CC c/c art. 1853, CC
- Art. 1841, CC e art. 1842, §2º, CC – discriminação entre irmãos e sobrinhos – cada unilateral recebe a
metade que tocar a cada bilateral;
ATENÇÃO! Não há discriminação entre primos, tios ou sobrinhos-netos.
- Art. 1853, CC – representação limitada (somente os filhos de irmãos)
OBS: Sobrinhos-netos só sucederiam se não houvesse colaterais de 2º e 3º graus.
- Art. 1843, CC – sobrinhos têm preferência com os tios.

4. AUSÊNCIA DE PARENTE SUCESSÍVEL


Art. 1.844. Não sobrevivendo cônjuge, ou companheiro, nem parente algum sucessível, ou tendo eles
renunciado a herança, esta se devolve ao Município ou ao Distrito Federal, se localizada nas respectivas
circunscrições, ou à União, quando situada em território federal.
- Jacência: há patrimônio certo, mas há incerteza quanto à existência de herdeiros (art. 738, a 743, CPC
e arts. 1819, a 1823, CC)
OBS: Não se pode cogitar jacência enquanto estiver transcorrendo o prazo de 2 meses do art.
611, CPC (prazo de 2 meses para abertura do inventário, sob pena de multa).
- Herança jacente – processo de jurisdição:
1) Jacência  nomeação de curador: arrecadação + administração + bens inventariados;
2) Publicação de editais  após a fase da jacência, há a fase de publicação de editais (despacho
saneador) – art. 741, CPC – para procurar eventuais herdeiros:
a. Pedido de habilitação de herdeiro: deferimento da habilitação  encerramento do
procedimento de jurisdição voluntária de “herança jacente” com a conversão no
procedimento de jurisdição contenciosa “inventário”;
b. Pedido de habilitação de herdeiro: indeferimento da habilitação  agravo;
OBS: 3 editais, com intervalo de 3 meses entre cada um; no final de um ano, haverá 4
editais.
- Herança vacante – se, após 1 ano da publicação do 1º edital, não houve deferimento de pedido de
habilitação, será proferida sentença (herança vacante)
OBS: Enquanto houver habilitação pendente, não é possível declarar a vacância.
OBS2: Habilitação só pode ser requerida antes da prolação da sentença de vacância. Com o
trânsito em julgado da sentença que declarou a vacância, deve haver o ajuizamento de ação
própria para reclamar os seus direitos.
ATENÇÃO! Prazo para ação de petição de herança: 5 anos – art. 1822, CC
Art. 1822, CC - mas, decorridos cinco anos da abertura da sucessão, os bens
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados
nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União quando situados
em território federal.
ATENÇÃO! Se for colateral, não pode promover por petição de herança, pois ele só
pode requerer por habilitação – art. 1822, §2º, CC
Art. 1844, CC  pessoa jurídica de direito público sucede (assume a propriedade do que era da pessoa
falecida), mas se trata de “sucessão lato sensu”; não há falar em “saisine”, pois não é herdeira nem
legítima, nem testamentária.
A sentença de vacância não retroage à data de abertura da sucessão, uma vez que não há falar em
“saisine”.
OBS: A propriedade só será definitiva com o decurso do prazo de 5 anos de abertura da
sucessão.
Se o prazo prescricional vencer antes da data da prolação da sentença, será do possuidor
usucapiente. Se o prazo prescricional vencer depois, não haverá usucapião.
- Declaração de vacância direta (sem jacência): art. 1823 c/c art. 1810, CC

5. HERANÇA NECESSÁRIA
Arts. 1845 a 1850, CC
Herança necessária é interseção entre sucessão legítima e sucessão testamentária;
Aproximação à sucessão testamentária;

5.1. Cláusulas restritivas


Art. 1848, CC – cláusulas restritivas de propriedade (art. 1.228, CC – há restrição na faculdade de
dispor):
 Inalienabilidade;
 Impenhorabilidade;
 Incomunicabilidade
REGRA: Não se pode inserir cláusula restritiva sobre os bens da legítima.
EXCEÇÃO: Existência de justa causa admite a inclusão de cláusula restritiva pelo testador (art. 1857,
§1º, CC).
OBS: Validade x Eficácia:
 Exame de validade do testamento: data que foi escrito;
 Exame da eficácia do testamento: data do óbito.
ATENÇÃO! Art. 2.042. Aplica-se o disposto no caput do art. 1.848, quando aberta a sucessão no
prazo de um ano após a entrada em vigor deste Código, ainda que o testamento tenha sido feito na
vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916; se, no prazo, o testador não aditar o
testamento para declarar a justa causa de cláusula aposta à legítima, não subsistirá a restrição.
- A inalienabilidade implicará na impenhorabilidade e na incomunicabilidade, mas a recíproca não é
verdadeira.
- Cláusulas restritivas são intuito personae.
- Inalienabilidade pode ser mitigado – art. 1848, §2º, CC –, mas haverá sub-rogação;
- Só precisa haver justo motivo para a legítima dos herdeiros necessários. Caso diga respeito à
disponível, é possível a cláusula de inalienabilidade sem justo motivo.

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