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A LIDERANÇA PODE SER APRENDIDA?

Na semana passada, em um grupo de discussão na Internet, houve um debate


sobre se a liderança poderia ser aprendida.

A liderança pode ser ensinada e aprendida. Mas...

O meu posicionamento particular sobre o assunto fica mais parecendo uma


posição do mineirinho, em cima do muro. Mas eu vou me permitir explicar
essa minha posição ou percepção.

O primeiro ponto é que liderança não é um conjunto fechado de


características, havendo uma série de nuances.

A principal característica dos líderes é a existência de liderados. Se não há


liderados, não há líderes, como já dissemos em Boletins anteriores, não é
mesmo?

Para haver liderados é necessário transmitir e obter confiança, pois ninguém


segue pessoas nas quais não se deposita confiança.

OS "CHA"
Na área de treinamento há um hábito de se separar os objetivos de
treinamento segundo a taxionomia de Bloom: os famosos CHA:

- Conhecimentos,
- Habilidades e
- Atitudes.

As habilidades são facilmente transmitidas e incorporadas pelo treinamento.


O conhecimento também é relativamente fácil de ser transmitido e
incorporado. Nas atitudes é que residem os problemas difíceis de ser
adquiridos...

E nas atitudes é que se forma e se identifica um líder. Para moldar ou eliciar


uma atitude, ou conjunto de atitudes, uma sala de aula é um espaço físico e
temporal muito pequeno para a transmissão e a incorporação. Nós
costumamos dizer que as atitudes vêm do berço. Mas elas não são imutáveis e
podem ser aprendidas, conforme veremos a seguir.

COACHING
A resposta da área de RH para a mudança e incorporação de atitudes vem
sobre a forma de "treinamento" constante, onde a sala de aula é transferida
para o teatro da vida e o professor é o líder, que prepara o líder de amanhã.
Nascia ai o "coaching", ou o líder como orientador e indicador de caminhos
para a construção da liderança de amanhã. A construção do líder de amanhã é
a segunda maior e mais importante tarefa de um líder.

O líder, como "coaching", pode inclusive indicar terapia a um liderado,


buscando lapidá-lo para o futuro. A terapia é também uma das formas de se
mudar atitudes.

AVALIAÇÕES 360º E A SÍNDROME DE TÁSSIA


As avaliações 360º são um forte instrumento que confere aos participantes
uma sintonia fina entre como eles se percebem (autopercepção) e a percepção
dos outros sobre a minha pessoa (heteropercepção). Este tipo de avaliação e
confrontação de percepções ajuda e fomenta a mudança de atitudes quando
focada como instrumento de acompanhamento de evolução e negociação de
desempenhos futuros, inclusive de atitudes. O mais baixo nível deste tipo de
avaliação evita a "síndrome de Tássia". Várias pessoas navegam na maionese,
se achando por cima da carne seca, quando outros os vêem como aquela
pessoa que "Tá Se Achando”... Risos, muitos risos!

Por estas razões eu diria que a liderança pode ser aprendida. Não somente
pode ser aprendida, mas deve ser estimulada. E, como tudo na vida, há que
ter uma base sobre a qual é erigida, como todos os outros aspectos e atitudes
necessárias a outras atividades e papéis que apresentamos e desempenhamos
na sociedade.

Esta idéia de que liderança pode ser aprendida é baseada na obra de vários
autores, entre eles, Benjamin S. Bloom, já citado acima, e Howard Gardner,
talvez o maior estudioso da inteligência humana do século XX.

Howard Gardner, professor de Harvard, fez um estudo dos líderes, diferente


de outros estudos. Ao invés de se focar na personalidade dos líderes, focou as
estruturas mentais ativadas nos líderes e nos seus seguidores, com resultados,
no mínimo, interessantes.

Vamos citar os dois autores a seguir:

 
... a ênfase em um domínio (*) pode tender a expulsar o outro.
Novos cursos, muitas vezes começam com uma análise cuidadosa,
tanto de objetivos cognitivos, como afetivos. Mas nos sentimos
mais à vontade, ensinando em razão dos objetivos cognitivos do
que de afetivos. Nosso esforço para o domínio da matéria de
ensino e a sempre crescente quantidade de conhecimento
disponível nos proporciona cada vez mais matéria para incluir.
Além disso, a nossa preferência pelo acesso à realização afetiva,
através da consecução de objetivos cognitivos, tende a focalizar a
atenção sobre estas metas cognitivas com fins em si mesmo, sem
determinarmos se, de fato, servem como meio para um fim
afetivo. Esta erosão tende a ser inevitável, mas poderia ser
diminuída ou interrompida, se estivéssemos cônscios de sua
ação. ..."

(*) - Os domínios são: cognitivo, psicomotor ou afetivo, ou os já conhecidos


CHA (Comportamentos, Habilidades e Atitudes), nasta ordem.

De Benjamin S. Bloom, em "Taxiomia De Objetivos Educacionais - 2 Domínio


Afetivo", pg. 56, Editora Globo, 1972.
 
 
"... Um líder provavelmente só terá sucesso se:

- puder criar e comunicar convincentemente sua estória clara e


persuasiva;

- avaliar a natureza da(s) audiência(s), incluindo outras categorias


mutantes; 

- investir sua energia (ou canalizar a dos outros) na criação e


manutenção    de uma organização;

- corporificar em sua vida os principais contornos da estória;

- proporcionar liderança direta ou encontrar uma maneira de


conseguir    influência através de meios indiretos; e, finalmente,

- encontrar uma maneira de compreender e utilizar o


conhecimento cada    vez mais técnico, sem ser esmagado por ele.

Estas considerações devem ser parte do treinamento dos líderes.


Devem ser monitoradas pelo líder e seus associados ao longo da
sua gestão."

De Howard Gardner, em "Mentes Que Lideram: uma anatomia da liderança",


pg. 253, Artes Médicas Editora, 1996.
 
Eu tomei a liberdade de colocar em tópicos este último texto, no original não
está assim. Eu o reproduzi assim, para destacar o que o autor chama de
"aspectos permanentes da liderança".

É também interessante e esclarecedor um conjunto de frases, no prefácio


deste último livro citado:

“... Na verdade, exceto pelos indivíduos que se tornam peritos em


domínios específicos e passam a pensar de uma maneira
fundamentalmente diferente sobre o mundo, a maioria dos
adultos continua a teorizar como se fosse uma criança pequena.

As implicações dessa conclusão são surpreendentes de um ponto


de vista societal. Se um líder ousa falar às massas de uma nação ou
através da dialética de diferentes domínios, então, com efeito, ele
deve começar dirigindo-se ao que eu chamo de "a mente de uma
criança de cinco anos". O líder precisa aceitar a mente da criança
como um dado ou, como um educador determinado, tentar
remodelar essa mente.

Conforme detalhado em A Criança Pré-escolar, a tarefa de orientar


os indivíduos além do limite da mente de uma criança pré-escolar
é formidável."

LÍDERES, POUCOS LÍDERES


Então, dado o exposto de que liderança pode e deve ser aprendida, a última
colocação apresentada, de Howard Gardner, coloca a base de possíveis líderes
como restrita a um número pequeno de pessoas na sociedade, o que é
essencialmente diferente de que a liderança não pode ser aprendida.

Eu, então, confirmo: a liderança pode ser ensinada e aprendida.


Mas isso é para poucos, concluo.

"Um líder forma e partilha uma visão,


que dá sentido ao trabalho dos outros."
Charles Handy
 
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RESUMO:
"O principal objetivo da liderança empresarial é a obtenção de resultados. A
necessidade da liderança perseguir e obter resultados é pouco divulgado,
pairando sobre a área mitos e crenças e "achismos".
Aqui você encontra quais os resultados esperados da liderança empresarial, de
forma real, sistêmica e abrangente, sem fantasias."
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Há uma verdadeira maré de debates sobre liderança, todos querendo ser


líderes, chegando ao endeusamento dos líderes. Alguns conceitos de liderança
estão se popularizando, muito embora nem sempre suportados pela realidade
empresarial.
O líder empresarial é, e sempre será, cobrado por resultados. E não quaisquer
resultados, somente os resultados acordados e negociados.
O que se deve primeiro discutir é quais são ou deveriam ser os resultados
cobrados e esperados de um líder?
Aqui há outra polarização, pois uma maioria míope enxerga, ou pelo menos é
o aspecto dos resultados o mais divulgado, o resultado financeiro, o lucro com
o principal resultado.
Nada contra o lucro, é essencial à sobrevivência de quaisquer empresas, mas
enxergar o resultado financeiro como único, é uma visão míope do que está
envolvido tanto na liderança como na perenidade de uma empresa.
Todas e quaisquer empresas trabalham com 4 públicos distintos:
- os acionistas ou proprietários;

- os empregados;

- os clientes, e

- a sociedade que cerca o empreendimento, a sociedade composta pela


vizinhança da empresa, vizinhança essa não somente geográfica.
Todas e quaisquer lideranças empresariais obrigam-se ou precisam ser
medidas por alcançar os resultados acordados, junto a estes quatro públicos
diferentes.
RESULTADOS JUNTO AOS ACONISTAS OU PROPRIETÁRIOS
Os seus acionistas ou proprietários devem obter a justa remuneração pelo
capital investido, na forma de dividendos ou lucro. Este é um resultado que
garante até o ingresso de capital de fora, caso o resultado seja ótimo. Investir
para crescer é uma necessidade, pois se sua empresa não cresce, o
concorrente está crescendo e sua empresa diminuindo.
RESULTADOS JUNTO AOS EMPREGADOS
Os resultados para os seus empregados são:
- ter um bom ambiente de trabalho,
- dar um significado para os esforços individuais e coletivos,
- sentir-se pertencente a um grupo que faz a diferença;
- sentir que o seu trabalho ajuda a sociedade a melhorar e crescer, e
- ter o seu desenvolvimento como pessoa e como profissional, dentro da
empresa.
RESULTADOS JUNTO AOS CLIENTES
Os seus clientes precisam sentir que:
- a troca com a sua empresa (dinheiro por serviço ou produto) é vantajosa
para eles, e
- a sua empresa é séria e ética em seus diversos relacionamentos.
RESULTADOS JUNTO À SOCIEDADE
A sociedade circundante espera que a sua empresa seja participante da
construção de uma sociedade mais justa, onde toda a forma de vida seja
respeitada e onde as pessoas tenham oportunidades de realização de acordo
com suas potencialidades.
Estas são as quatro áreas de resultados que todos e quaisquer líderes têm que
trabalhar, inclusive você.
Obter estes resultados é como andar em uma corda bamba.
O líder tem que servir a agrupamentos de pessoas que têm desejos e
necessidades que se opõem, exigindo um conjunto de competências para o
balanceamento entre os resultados demandados pelos quatro públicos
distintos, difícil de ser obtido. Por isso o líder é tão raro e caro.
E já dissemos, apesar de haver uma corrente quase religiosa, pois beira a
crença, e não suportada por fatos observados e científicos, a liderança pode
ser aprendida, mas somente por um número reduzidíssimo de pessoas.
Leia:
"A LIDERANÇA PODE SER APRENDIDA?"
"LIDERANÇA E PREVISIBILIDADE"
Encarar o líder como servidor é só enxergar um meio. O líder serve aos quatro
agrupamentos de pessoas mencionados acima.
A liderança empresarial, na realidade, é um realizador, uma pessoa de ação
que conduz a empresa aos múltiplos resultados acordados e balanceados,
junto aos seus quatro públicos-alvos.
A pragmática empresarial exige uma desvinculação de teoria,
conceitos, proposições e cenários.
A pragmática empresarial está umbilicalmente conectada à
obtenção de resultados.
A pragmática empresarial exige resultados.
Liderança empresarial é definida e marcada por alcançar resultados. Se a
liderança não realizar os resultados acordados e negociados, não é liderança
empresarial, mesmo e apesar de ter servido a Deus, ou ao diabo.
Liderança empresarial é a liderança que apresenta resultados.
Servir é o meio, meio de coesão, forma de aglutinar as forças, não somente as
disponíveis, mas as necessárias e suficientes, e as dirigir, orientar para
alcançar os resultados acordados e negociados.
A semana que vem trataremos da amplitude dos resultados da liderança, que
no fim é como a liderança empresarial pode e deve ser medida.
Através dessas medidas poderemos ter uma idéia de quais são as
competências da liderança empresarial, que contém a liderança servidora,
mas é bem maior do que esta.
Você é um líder na sua empresa. Você está capacitado para exercer a liderança
no seu conceito pragmático de resultados, atendendo os 4 públicos distintos
citados acima, através de:
- repartição de recursos e

- condução de esforços
na obtenção de resultados esperados e acordados?
E na celebração e compartilhamento do sucesso?

A Merkatus pode ajudá-lo a desenvolver a sua liderança pragmática voltada


aos resultados que precisam ser obtidos. Contate-nos:
calfaria@merkatus.com.br ou
0 XX 47 3369-2465

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